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22/09/2016 1 CALAZAR (Leishmaniose Visceral) PARASITOLOGIA CLÍNICA DESCRIÇÃO As manifestações clínicas da leishmaniose visceral refletem o equilíbrio entre a multiplicação dos parasitos nas células do sistema fagocítico mononuclear (SFM), a resposta imunitária do indivíduo e as alterações degenerativas resultantes desse processo. Observa-se que muitos infectados apresentam forma inaparente ou oligossintomática da doença, e que o número de casos graves ou com o cortejo de sintomatologia manifesta é relativamente pequeno em relação ao de infectados. Para facilitar o estudo pode-se classificar o Calazar da seguinte forma: INAPARENTE Paciente com sorologia positiva, ou teste de leishmanina (IDRM) positivo ou encontro de parasito em tecidos, sem sintomatologia clínica manifesta. CLÁSSICA Cursa com febre, astenia, adinamia, anorexia, perda de peso e caquexia. A hepatoesplenomegalia é acentuada, micropoliadenopatia generalizada, intensa palidez de pele e mucosas, conseqüência de severa anemia. Observa-se queda de cabelos, crescimento e brilho dos cílios e edema de membros inferiores. Os fenômenos hemorrágicos são de grande monta: Gengivorragias, epistaxes, equimoses e petéquias. As mulheres freqüentemente apresentam amenorréia. A puberdade fica retardada nos adolescentes e o crescimento sofre grande atraso nas crianças e jovens. Os exames laboratoriais revelam anemia acentuada, leucopenia, plaquetopenia (pancitopenia), hiperglobulinemia e hipoalbuminemia. OLIGOSSINTOMÁTICA A febre é baixa ou ausente, a hepatomegalia está presente, esplenomegalia quando detectada é discreta. Observa-se adinamia. Ausência de hemorragias e caquexia. 22/09/2016 2 AGUDA O início pode ser abrupto ou insidioso. Na maioria dos casos, a febre é o primeiro sintoma, podendo ser alta e contínua ou intermitente, com remissões de uma ou duas semanas. Observa-se hepatoesplenomegalia, adinamia, perda de peso e hemorragias. Ocorre anemia com hiperglobulinemia. Geralmente não se observa leucopenia ou plaquetopenia. REFRATÁRIA Na realidade é uma forma evolutiva do Calazar Clássico que não respondeu ao tratamento, ou respondeu parcialmente ao tratamento com antimoniais. É clinicamente mais grave, devido ao prolongamento da doença sem resposta terapêutica. Os pacientes com Calazar, em geral, têm como causa de óbito as hemorragias e as infecções associadas em virtude da debilidade física e imunológica. AGENTE ETIOLÓGICO Protozoário da família tripanosomatidae, gênero Leishmania, espécie Leishmania chagasi. Apresenta duas formas: Amastigota (intracelular em vertebrados) e Promastigota (tubo digestivo dos vetores invertebrados). RESERVATÓRIOS Cão (Canis familiaris), a raposa (Dusycion vetulus), que agem como mantenedores do ciclo da doença. O homem, também, pode ser fonte de infecção. 22/09/2016 3 MODO DE TRANSMISSÃO Transmitida pelo inseto hematófago flebótomo Lutzomia longipalpis. Não há transmissão pessoa a pessoa, nem animal a animal. PERÍODO DE INCUBAÇÃO Varia de 10 dias a 24 meses, sendo, em média, 2 a 4 meses. PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE A principal transmissão se faz a partir dos reservatórios animais, enquanto persistir o parasitismo na pele ou no sangue circulante. COMPLICAÇÕES Várias complicações são citadas por autores brasileiros e estrangeiros, as mais frequentes: Afecções pleuropulmonares, geralmente precedidas de bronquites; Complicações intestinais; Hemorragias; Traqueobronquites agudas; Anemia aguda em fase adiantada da doença, podendo levar o doente ao óbito. 22/09/2016 4 DIAGNÓSTICO Clínico-epidemiológico e laboratorial. Esse último baseia-se em: a) Exame sorológico: É o de detecção mais fácil para o diagnóstico do calazar (imunofluorescência e ELISA). b) Parasitológico: Realizado em material retirado preferencialmente do baço e da medula óssea, o que exige profissional treinado para praticá-lo. c) Exames inespecíficos: São importantes devido às alterações que ocorrem nas células sanguíneas e no metabolismo das proteínas; Orientam o processo de cura do paciente. Hemograma: Pode evidenciar uma pancitopenia: Diminuição de hemácias, leucopenia, com linfocitose relativa, e plaquetopenia. A anaeosinofilia é achado típico, só desaparecendo quando há associação com outras patologias, como a esquistossomose ou a estrongiloidiase. Dosagem de proteínas: Há uma forte inversão da relação albumina/globulina, com padrões tão acentuados quanto no mieloma múltiplo. Reação do tormol-gel: positiva. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Muitas entidades clínicas podem ser confundidas com o calazar, destacando-se, entre elas, a enterobacteriose de curso prolongado (associação de esquistossomose com salmonela ou outra enterobactéria), cujas manifestações clinicas se superpõem perfeitamente ao quadro da leishmaniose visceral. Em muitas situações, esse diagnóstico diferencial só pode ser concluído através de provas laboratoriais, já que as áreas endêmicas se superpõem em grandes faixas do território brasileiro. Soma-se a essa entidade outras patologias: Malária, brucelose, febre tifóide, esquistossomose hepatoesplênica, forma aguda da doença de Chagas, linfoma, mieloma múltiplo, etc. TRATAMENTO A primeira escolha são os antimoniais pentavalentes (antimoniato N-metil- glucamina), na dose 20mg/Sb/Kg/dia, IV ou IM, com limite máximo de 4 ampolas/dia, por no mínimo 20 e no máximo 40 dias consecutivos. Fazer acompanhamento clínico e com exames complementares para detecção de possíveis manifestações de intoxicação (hemograma e ECG). EFEITOS COLATERAIS Artralgias, mialgia, adinamia, anorexia, náuseas, vômitos, plenitude gástrica, pirose, dor abdominal, prurido, febre, fraqueza, cefaléia, tontura, palpitação, insônia, nervosismo, choque pirogênico, edema, herpes zoster, insuficiência renal aguda e arritmias. Quando houver resistência, a droga de segunda linha é a anfotericina B, usada sob orientação e acompanhamento médico em hospitais de referência, em virtude da sua toxicidade. Outro medicamento disponível é a pentamidina, porém sua eficácia é bastante variável e pode causar efeitos colaterais severos. Os casos graves de calazar devem ser internados e tratados em hospitais de referência. Os casos leves ou intermediários podem ser tratados em ambulatório. 22/09/2016 5 CONTRA-INDICAÇÕES As drogas não podem ser administradas em gestantes, portadores de cardiopatias, nefropatias, hepatopatias, doença de Chagas. CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS A Leishmaniose Visceral é, primariamente, uma zoonose que afeta outros animais além do homem. Sua transmissão, inicialmente silvestre ou concentrada em pequenas localidades rurais, já está ocorrendo em centros urbanos de médio porte, em área domiciliar ou peri-domiciliar. É um crescente problema de saúde pública no país (encontra-se distribuída em 17 estados) e em outras áreas do continente americano, sendo uma endemia em franca expansão geográfica. Tem-se registrado cerca de 2.000 casos, por ano, no país, com letalidade em torno de 10%. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA CALAZAR OBJETIVOS Reduzir o risco de transmissão, por meio do controle das populações de reservatórios e de insetos vetores; Diagnosticar e tratar precocementeos doentes, visando diminuir a letalidade. NOTIFICAÇÃO A Leishmaniose Visceral é uma doença de notificação compulsória e que requer investigação epidemiológica, visando identificar novos focos da Doença. 22/09/2016 6 DEFINIÇÃO DE CASO a) Suspeito: Todo indivíduo proveniente de área endêmica ou áreas onde esteja ocorrendo surto, com febre há mais de duas semanas. Com ou sem outras manifestações clínicas da doença. b) Confirmado: Todo paciente com exame sorológico ou parasitológico positivo, com ou sem manifestações clínicas. De acordo com a sintomatologia, o caso é classificado em uma das formas clínicas (clássica, oligossintomática, inaparente e aguda). MEDIDAS DE CONTROLE a) Investigação epidemiológica procurando definir ou viabilizar os seguintes aspectos: Se a área é endêmica, procurar verificar se as medidas de controle estão sendo sistematicamente adotadas. Se for um novo foco, comunicar imediatamente aos níveis superiores do sistema de saúde e iniciar as medidas de controle pertinentes: Iniciar busca ativa de casos visando a delimitação da real magnitude do evento; Verificar se o caso é importado ou autóctone. Caso seja importado, informar ao serviço de saúde de onde se originou; Acompanhar a adoção das medidas de controle, seguindo os dados da população canina infectada, existência de reservatórios silvestres, densidade da população de vetores, etc.: Acompanhar a taxa de letalidade para discussão e melhoria da assistência médica prestada aos pacientes. MEDIDAS DE CONTROLE b) Eliminação dos reservatórios: A eliminação dos cães errantes e domésticos infectados, que são as principais fontes de infecção. Os cães domésticos têm sido eliminados, em larga escala, nas áreas endêmicas, após o diagnóstico, através de técnicas sorológicas (ELISA e lmunofluorescência). Os errantes e aqueles clinicamente suspeitos podem ser eliminados sem realização prévia de sorologia. MEDIDAS DE CONTROLE c) Luta antivetorial: A borrifação com inseticidas químicos deverá ser efetuada em todas as casas com casos humanos ou caninos autóctones. d) Tratamento: O tratamento se constitui em um fator importante na queda da letalidade da doença e, conseqüentemente, é um importante item na luta contra esse tipo de leishmaniose. Secundariamente, pode haver também um efeito controlador de possíveis fontes humanas de infecção. MEDIDAS DE CONTROLE e) Educação em Saúde: De acordo com o conhecimento dos aspectos culturais, sociais, educacionais, das condições econômicas e da percepção de saúde de cada comunidade, ações educativas devem ser desenvolvidas no sentido de que as comunidades atingidas aprendam a se proteger e participem ativamente das ações de controle do Calazar. f) Busca ativa: Para tratar precocemente os casos, a instalação das medidas citadas podem ser úteis no controle da doença em áreas endêmicas. 22/09/2016 7 Fragmento de baço onde se nota hipoplasia da polpa branca e intensa hiperplasia da polpa vermelha, com espessamento dos cordões de Billroth. Estes contêm muitos macrófagos, em cujo citoplasma se observam numerosas leishmânias como um pontilhado basófilo. São muito pequenas (2 micra) e só bem observadas com objetiva de imersão. Não confundi-las com o pigmento de formol. Este é um artefato histológico comum em todos os órgãos e locais ricos em sangue, e se deve à modificação da hemoglobina pelo formaldeído para meta-heme livre ou hematina. O pigmento de formol tem cor negra (não roxa) e é maior e mais grosseiro que as leishmânias. A leishmaniose visceral é também conhecida como donovanose ou calazar (kala-azar, do hindu febre negra). O parasita, a Leishmania donovani, é transmitido pela picada de um mosquito do gênero Lutzomya (nas Américas) ou Phlebotomus (África, Oriente Médio, Índia, China, Rússia). Há extensa parasitose dos órgãos do sistema retículo endotelial. O baço pode atingir até 3 kg, sendo esta, juntamente com a leucemia mielóide crônica e com a doença de Gaucher, causa de uma das maiores esplenomegalias conhecidas. 22/09/2016 8
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