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Leishmaniose Leishmaniose Termo que se refere às doenças causadas pelo protozoário do gênero Leishmania. Transmitida pela picada da fêmea do mosquito flebótomo. As manifestações clínicas da leishmaniose variam de acordo com a patogenicidade do parasita (que difere entre espécies) e a resposta imune celular geneticamente determinada pelo hospedeiro humano, podendo variar de assintomáticas e autolimitadas à comprometimento da pele e mucosas. PRINCIPAIS SÍNDROMES DA LEISHMANIOSE DOENÇA CLASSIFICAÇÃO LOCAIS ACOMETIDOS Leishmania Tegumentar Cutânea Mucosa Visceral Baço Fígado Medula óssea LEISHMANIOSE TEGUMENTAR Doença infecciosa, não contagiosa, causada por protozoário, de transmissão vetorial, que acomete pele e mucosas. Agente etiológico: Protozoário do gênero Leishmania. No Brasil, foram identificadas sete espécies, sendo seis do subgênero Viannia e uma do subgênero Leishmania. As três principais espécies são: • Leishmania (Leishmania) amazonensis. • Leishmania (Viannia) guyanensis. • Leishmania (Viannia) braziliensis. Reservatórios Infecções por leishmanias que causam a leishmaniose tegumentar (LT) foram descritas em várias espécies de animais silvestres (roedores, marsupiais, edentados e canídeos silvestres), sinantrópicos (roedores) e domésticos (canídeos, felídeos e equídeos). Com relação a esses últimos, seu papel na manutenção do parasito no meio ambiente ainda não foi esclarecido. Apesar de ocorrer infecção em animais domésticos, não há evidências científicas que comprovem o papel desses animais como reservatórios das espécies de leishmanias, sendo considerados hospedeiros acidentais da doença. A LT nesses animais pode apresentar-se como uma doença crônica, com manifestações semelhantes às da doença humana. Vetores: São insetos denominados flebotomíneos, pertencentes à ordem Diptera, família Psychodidae, subfamília Phlebotominae, gênero Lutzomyia, conhecidos popularmente como mosquito palha, tatuquira, birigui, entre outros, dependendo da localização geográfica. Incubação: No ser humano, em média de dois a três meses, podendo apresentar períodos mais curtos (duas semanas) e mais longos (dois anos). A suscetibilidade à infecção é comumente observada em seres humanos, e em animais sinantrópicos e/ou silvestres. A infecção e a doença não conferem imunidade ao paciente. Manifestações clínicas 2 formas de manifestação: • Leishmaniose cutânea • Leishmaniose mucosa Cutânea: lesões cutâneas podem ser únicas, múltiplas, disseminada ou difusa. A úlcera típica da forma cutânea é geralmente indolor, com formato arredondado ou ovalado, com bordas bem delimitadas e elevadas, fundo avermelhado e granulações grosseiras. Mucosa: caracteriza-se pela presença de lesões destrutivas localizadas na mucosa, em geral nas vias aéreas superiores. Complicações Na evolução da doença, podem surgir intercorrências que exijam cuidados, a saber: • Infecção secundária das úlceras (mais comum): ` o lesão em mucosa nasal, que pode levar à rinite purulenta e a complicações, como sinusite até broncopneumonia causada pela secreção aspirada da faringe. A complicação com broncopneumonia é a principal responsável por óbitos, nos casos de forma mucosa; ` o lesão extensa no centro da face, que pode levar à trombose de seio cavernoso. • Eczema de contato ao redor da lesão devido à aplicação de medicamentos tópicos pode ser tratado com corticoides tópicos, associados ou não a antibióticos tópicos ou sistêmicos, no caso de infecção secundária. • Lesões nasais, orais e da faringe podem causar sialorreia e dificuldade na deglutição, levando à desnutrição. • Em lesões avançadas da laringe, pode haver perda da voz e obstrução da passagem do ar, causada pelo edema ou pela cicatriz retrátil, obrigando a realização de traqueostomia de urgência. • Alterações vocais que persistem após a cura clínica em pacientes com a forma mucosa, mesmo na ausência de lesão na laringe, necessitando de reabilitação vocal. 805 Leishmaniose Tegumentar • Perda auditiva sensorioneural bilateral de início precoce, que pode ser causada pelo tratamento com antimoniato de meglumina, na maioria das vezes irreversível e, a princípio, não dose- dependente, principalmente em mulheres, idosos e em indivíduos com perda auditiva prévia. • Lesões conjuntivais podem levar a distorções da fenda ocular e, raramente, à perda do olho. • Miíase pode surgir como complicação de úlceras. • Meningite pode ser uma complicação da disseminação da infecção de uma úlcera da face para a base do crânio. Diagnóstico Clínico: A apresentação clínica exibe polimorfismo, e o espectro de gravidade dos sinais e dos sintomas também é variável, embora exista certa relação entre as distintas apresentações clínicas e as diferentes espécies do parasito. Na ocorrência de lesões sugestivas de leishmaniose, o diagnóstico presuntivo pode ser baseado em critérios clínicos e epidemiológicos. Entretanto, o diagnóstico clínico-epidemiológico deve ser complementado por métodos laboratoriais e, eventualmente, pela prova terapêutica. Tendo em vista o número de doenças que faz diagnóstico diferencial com a LT, nos casos em que o diagnóstico não for conclusivo pelos métodos anteriores, o paciente deverá ser investigado por outros métodos de diagnóstico. Laboratorial: Constitui-se pelos exames: Parasitológico: • demonstração direta do parasito, de acordo com os seguintes procedimentos: escarificação da borda da lesão, biópsia com impressão do fragmento cutâneo em lâmina por aposição e punção aspirativa; • isolamento em cultivo in vitro (meios de cultivo): permite a posterior identificação da espécie de leishmania envolvida. Os fragmentos são obtidos geralmente por biópsia da borda da úlcera; • isolamento in vivo (inoculações animais): o material é obtido por biópsia ou raspado da lesão. Em função da complexidade e do alto custo, é um método pouco utilizado, apesar de apresentar elevada sensibilidade entre os demais métodos parasitológicos. Molecular: • reação em cadeia de polimerase (PCR): baseado na amplificação do DNA do parasito em diferentes tipos de amostras, é um método considerado de alta sensibilidade e especificidade. Imunológico: intradermorreação de Montenegro (IDRM). Histopatológico: o quadro histopatológico típico da LT é uma dermatite granulomatosa difusa ulcerada. Diagnóstico diferencial O diagnóstico diferencial com outras doenças sempre deve ser considerado, de acordo com a forma clínica e as características da lesão. Seguem os principais diagnósticos diferenciais, de acordo com a forma clínica: • Forma cutânea localizada: tuberculose, micobacterioses atípicas, paracoccidioidomicose cutânea, úlceras de estase venosa, úlceras decorrentes da anemia falciforme, picadas de insetos, granuloma por corpo estranho, ceratoacantoma, carcinoma basocelular, carcinoma espinocelular, histiocitoma, linfoma cutâneo, esporotricose, cromoblastomicose, piodermites e trauma local. • Forma cutânea disseminada: criptococose cutânea e micobacteriose disseminada. • Forma cutânea difusa: hanseníase virchowiana. • Leishmaniose mucosa: paracoccidioidomicose, carcinoma epidermoide, carcinoma basocelular, linfomas, rinofima, rinosporidiose, entomoftoromicose, hanseníase virchowiana, sí"lis terciária, perfuração septal traumática ou por uso de drogas, rinite alérgica, sinusite, sarcoidose, granulomatose de Wegener, entre outras. Coinfecção Leishmania-HIV Nos pacientes com coinfecção Leishmania-HIV, o espectro de lesão tegumentar é variado. As lesões cutâneas variam de pápulas a úlceras, sendo únicas ou múltiplas; lesões atípicas caracterizadas por máculas ou pápulas disseminadas podem ser encontradas, mas as úlceras são mais comuns. O diagnóstico da coinfecção Leishmania-HIV pode ter implicaçõesna abordagem da leishmaniose quanto à indicação terapêutica, ao monitoramento de efeitos adversos, à resposta terapêutica e à ocorrência de recidivas. Portanto, deve-se oferecer a sorologia para HIV a todos os pacientes com LT, independentemente da idade, conforme as recomendações do Ministério da Saúde. Ressalta-se a importância de obter o resultado da sorologia para HIV o mais rapidamente possível, para orientar a conduta clínica específica. Tratamento O tratamento da LT deve ser indicado de acordo com a forma clínica, com o apoio do diagnóstico laboratorial e obedecendo aos critérios estabelecidos para cada situação. Inicialmente, deve-se checar o estado de saúde atual do paciente, avaliando as condições clínicas, com o objetivo de indicar a melhor terapêutica, levando-se em consideração as recomendações gerais e especiais para cada droga. OBS.: Em decorrência do perfil de toxicidade do medicamento a ser utilizado, deve ser realizada avaliação e a monitorização das funções renal, cardíaca e hepática. Forma cutânea localizada: o tratamento pode ser feito de forma sistêmica com a administração parenteral ou intralesional do antimoniato de meglumina. Para as áreas onde há predomínio de Leishmania guyanensis, recomenda-se preferencialmente o uso de isetionato de pentamidina como medicamento de primeira escolha. Forma cutânea disseminada: o medicamento de primeira escolha é o antimoniato de meglumina, porém a resposta ao tratamento pode variar de acordo com a região de ocorrência. Na leishmaniose cutânea difusa, considerando tratar-se de uma forma clínica rara e grave, com difícil resposta terapêutica e cura clínica, o tratamento deve ser realizado nos centros de referência, sendo o isetionato de pentamidina o medicamento de primeira escolha. Em 2020, foi incorporado ao SUS, para tratamento da leishmaniose tegumentar, a miltefosina, possibilitando o tratamento via oral das formas cutâneas da doença, principalmente daquelas causadas pela Leishmania braziliensis. Forma mucosa: deve ser realizado preferencialmente nos centros de referência com avaliação otorrinolaringológica, devendo ser indicado, como primeira escolha para pacientes acima de 12 anos, o antimoniato de meglumina associado à pentoxifilina, sempre que possível. Quanto aos pacientes com idade superior a 50 anos de idade, aqueles com insu"ciência renal, cardíaca ou hepática, transplantados renais ou gestantes, quando não for possível adiar o tratamento para após o parto, recomenda-se, como primeira escolha, anfotericina B lipossomal. Antimonial pentavalente: Formulações: antimoniato de meglumina e o estibogluconato de sódio. A dose desse antimonial seja calculada em miligramas de antimônio pentavalente (Sb+5) por quilograma de peso corporal por dia (mg Sb+5/kg/dia). O antimoniato de meglumina apresenta-se comercialmente em frascos de 5 ml, que contêm 1,5 g do antimoniato bruto, correspondendo a 405 mg de Sb+5. Portanto, uma ampola com 5 ml corresponde a 405 mg de Sb+5e cada ml contém 81 mg de Sb+5. O antimonial pentavalente pode ser utilizado para o tratamento de todas as formas clínicas da LT. Pentoxifilina A pentoxifilina é um fármaco da classe de vasodilatadores periféricos com propriedades hemorreológicas. É apresentado como comprimido revestido, de liberação prolongada, contendo 400 mg de pentoxifilina. Algumas pesquisas têm demonstrado sucesso no emprego da pentoxifilina como coadjuvante (imunomodulador) no tratamento da leishmaniose tegumentar, com desfecho de cura em menor tempo quando comparado ao tratamento convencional. O seu papel é atuar como um adjuvante, não tem indicação como medicamento isolado, mas sim em associação ao antimoniato de meglumina. Seguimento Após o término do tratamento, os pacientes devem ser submetidos ao acompanhamento clínico, para avaliação da resposta e também para a detecção de possível recidiva após terapia inicial. Recomenda-se o acompanhamento até a normalização dos exames laboratoriais que apontaram alterações durante o tratamento para avaliação de efeitos adversos. Todo evento adverso e desvio de qualidade relacionados a medicamentos devem ser devidamente notificados às autoridades sanitárias competentes. Notificação A LT é uma doença de notificação compulsória em que todo caso confirmado deve ser notificado e investigado pelos serviços de saúde, por meio da ficha de investigação padronizada pelo Sinan. O registro é importante para o conhecimento, a investigação, bem como para a classificação epidemiológica (caso autóctone ou importado) e seus acompanhamentos. Uma vez detectado um caso importado, após a investigação, ele deverá ser notificado no Sinan e ao serviço de saúde estadual ou municipal do local provável de infecção (LPI). LEISHMANIOSE VISCERAL (Kala-azar) Doença crônica e sistêmica que, quando não tratada, pode evoluir para óbito em mais de 90% dos casos. Agente etiológico: Protozoários tripanossomatídeos do gênero Leishmania. Nas Américas, a Leishmania (Leishmania) infantum é a espécie mais comumente envolvida na transmissão da leishmaniose visceral (LV). Reservatório: Na área urbana, o cão (Canis familiaris) é a principal fonte de infecção. A enzootia canina tem precedido a ocorrência de casos humanos e a infecção em cães tem sido mais prevalente que no homem. No ambiente silvestre, os reservatórios são as raposas (Dusicyon vetulus e Cerdocyon thous) e os marsupiais (Didelphis albiventris). Vetores: Dípteros da família Psychodidae, subfamília Phlebotominae, são os transmissores das leishmanioses, sendo Lutzomyia longipalpis a principal espécie transmissora. São conhecidos popularmente como mosquito-palha, tatuquira e birigui, entre outros, dependendo da região geográfica Transmissão: A transmissão ocorre pela picada dos vetores infectados pela Leishmania (L.) infantum. Não ocorre transmissão de pessoa a pessoa. Incubação: No homem, é de 10 dias a 24 meses, com média entre dois e seis meses; no cão, varia de três meses a vários anos, com média de três a sete meses. Crianças e idosos são mais suscetíveis. Manifestações clínicas É uma doença crônica, sistêmica, caracterizada por febre de longa duração, perda de peso, astenia, adinamia, hepatoesplenomegalia e anemia, entre outras manifestações. Forma aguda Esta forma de apresentação da leishmaniose visceral pode ser facilmente confundida com outras síndromes febris agudas que cursam com esplenomegalia (febre tifoide, malária, febre de Katayama da esquistossomose, doença de Chagas aguda, endocardite bacteriana, etc.). Manifesta-se frequentemente com febre alta, calafrios, diarreia (pode ser do tipo disenteria) e esplenomegalia até 5 cm do RCE. A tendência do hemograma é para a pancitopenia (Hg < 10 g/dl, leucometria entre 2.000- 4.000/mm³ , plaquetometria < 200.000/mm³); não há eosinofilia. Forma crônica – Calazar clássico Esta é forma mais importante e marcante. Predomina em crianças < 10 anos e em pacientes imunodeprimidos (ex.: aids, transplantados). Seu curso é prolongado e insidioso, com um período de incubação médio de 3-8 meses, mas podendo ser tão curto quanto dez dias ou tão longo quanto três anos... A febre pode ser persistente, com dois a três picos diários, em torno de 38-38,5ºC, ou intermitente e irregular, com períodos de apirexia durando dias a semanas. Associado à febre, o paciente pode relatar tosse seca, mal-estar (um quadro muito semelhante a uma pneumonia atípica – “gripe ou resfriado que não passa”), astenia e sintomas gastrointestinais (anorexia, diarreia, disenteria, constipação). Com o progredir da doença, nota-se a típica perda ponderal que pode levar ao estado de caquexia. O exame físico revela palidez cutâneo-mucosa, desnutrição, cabelos quebradiços, pele de coloração pardacenta ou de cera vermelha (nas Américas) ou escurecida (na Índia), abdome volumoso, por conta de umahepatoesplenomegalia de grande monta. O baço costuma ser palpável a mais de 5 cm do RCE. Algumas vezes pode atingir a cicatriz umbilical e até mesmo repousar na crista ilíaca do lado oposto. O desconforto abdominal pode ser o primeiro sintoma a trazer o paciente ao médico. À medida em que a doença progride, a pancitopenia torna-se grave, provocando complicações, como intensa astenia, dispneia e insuficiência cardíaca (anemia), infecções bacterianas e sepse (neutropenia) e epistaxe/gengivorragia (plaquetopenia). Se não tratado, o paciente evolui com infecções bacterianas fatais, principal causa de óbito nessa forma da doença. O laboratório revela os seguintes achados: (1) pancitopenia em grau variado, explicada pela ocupação medular e pelo hiperesplenismo – hemoglobina < 9 g/dl (anemia normocítica normocrômica), leucometria < 3.000/mm³ e plaquetometria < 100.000/mm³; (2) VHS elevado; (3) hipoalbuminemia + hipergamaglobulinemia policlonal – inversão da relação Alb/Glb; (4) discreta elevação das aminotransferases e raramente das bilirrubinas. Complicações Destacam-se otite média aguda, piodermites e infecções dos tratos urinário e respiratório. Caso não haja tratamento com antimicrobianos, o paciente poderá desenvolver um quadro séptico, com evolução fatal. As hemorragias são geralmente secundárias à plaquetopenia, sendo a epistaxe e a gengivorragia as mais encontradas. A hemorragia digestiva e a icterícia, quando presentes, indicam gravidade do caso. Diagnóstico Pode ser realizado no âmbito da atenção primária e, por se tratar de uma doença de notificação compulsória e com características clínicas de evolução grave. Clínico: A sintomatologia pode ser variada, entretanto costuma-se observar nos pacientes suspeitos febre por mais de sete dias, associada a palidez, esplenomegalia, hepatomegalia ou emagrecimento. Laboratorial: Imunológico • Testes rápidos imunocromatográ"cos: são considerados positivos quando a linha controle e a linha teste aparecem na fita ou na plataforma. Cabe destacar que, caso o paciente seja diagnosticado reagente, não há necessidade de realizar outro teste (imunológico ou parasitológico) para a confirmação. • Reação de imuno!uorescência indireta (Rifi): consideram-se como positivas as amostras reagentes a partir da diluição de 1:80. Nos títulos iguais a 1:40, com clínica sugestiva de LV, recomenda-se a solicitação de nova amostra em 30 dias. Caso o paciente já tenha um diagnóstico prévio com a presença da infecção/doença, não é necessária a realização da Rifi. • Ensaio imunoenzimático (ELISA – do inglês, enzyme-linked immunosorbent assay): esse teste não está disponível na rede pública de saúde; no entanto, algumas unidades de saúde da rede privada utilizam kits de ELISA registrados e comercializados no Brasil. Títulos variáveis dos exames sorológicos podem persistir positivos por longo período, mesmo após o tratamento. Assim, o resultado de um teste positivo, na ausência de manifestações clínicas, não autoriza a instituição de terapêutica. Parasitológico É a técnica padrão-ouro para a identificação de formas amastigotas do parasito, em material biológico obtido, preferencialmente, da medula óssea (por ser um procedimento mais seguro), ou do linfonodo ou do baço. Esse último deve ser realizado em ambiente hospitalar e em condições cirúrgicas. É necessário examinar o material aspirado de acordo com esta sequência: exame direto, isolamento em meio de cultura (in vitro) e isolamento em animais suscetíveis (in vivo), bem como novos métodos de diagnóstico. Diagnóstico diferencial Realizar diagnóstico diferencial com enterobacteriose de curso prolongado (associação de esquistossomose com salmonela ou outra enterobactéria), malária, brucelose, febre tifoide, esquistossomose hepatoesplênica, forma aguda da doença de Chagas, linfoma, mieloma múltiplo, anemia falciforme e leucemia, entre outras. Tratamento No Brasil, os medicamentos utilizados para o tratamento da LV são o antimoniato de meglumina (ou antimoniato de N-metil glucamina) e a anfotericina B. A escolha terapêutica deverá considerar a faixa etária, a presença de gravidez e as comorbidades. O tratamento engloba terapêutica especí"ca e medidas adicionais, como hidratação, administração de antitérmicos e antibióticos, hemoterapia e suporte nutricional. Exames laboratoriais e eletrocardiográ"cos deverão ser realizados durante o tratamento, a "m de acompanhar a evolução e identi"car possível toxicidade medicamentosa. O antimoniato de meglumina pode ser administrado no nível ambulatorial. Entretanto deve-se ressaltar a necessidade de acompanhamento clínico e realização dos exames recomendados nesse âmbito. A anfotericina B lipossomal é a única opção no tratamento de gestantes e de pacientes que tenham contraindicações ou que manifestem toxicidade ou refratariedade relacionada ao uso dos antimoniais pentavalentes. Recomenda-se o antimoniato de meglumina como fármaco de primeira escolha para o tratamento da LV, exceto em algumas situações, nas quais se recomenda o uso da anfotericina B, prioritariamente em sua formulação lipossomal. A lista de indicações para utilização da anfotericina B lipossomal inclui pacientes que atendam a pelo menos um dos critérios a seguir: • idade menor que 1 ano;. • idade maior que 50 anos; • insuficiência renal; • insuficiência hepática; • insuficiência cardíaca; • intervalo QT corrigido maior que 450 ms; • uso concomitante de medicamentos que alteram o intervalo QT; • hipersensibilidade ao antimoniato de meglumina ou a outros medicamentos utilizados para o tto da LV; • infecção pelo HIV; • comorbidades que comprometam a imunidade; • uso de medicamento imunossupressor; • falha terapêutica ao antimoniato de meglumina ou a outros medicamentos utilizados para tto da LV; • gestantes; • escore de gravidade clínico ≥4; ou • escore de gravidade clínico-laboratorial ≥6 Critérios de cura Os critérios de cura são essencialmente clínicos. O desaparecimento da febre é precoce e acontece por volta do quinto dia de medicação; a redução da hepatoesplenomegalia ocorre nas primeiras semanas. Ao final do tratamento o baço geralmente apresenta redução de 40% ou mais em relação à medida inicial. A melhora dos parâmetros hematológicos (hemoglobina e leucócitos) surge a partir da segunda semana. As alterações da eletroforese de proteínas plasmáticas se normalizam lentamente, podendo levar meses. O ganho ponderal é evidente, com retorno do apetite e melhora do estado geral. Nesta situação, o controle através de exame parasitológico ao término do tratamento é dispensável. O seguimento do paciente tratado deve ser feito aos três, seis e doze meses após o tratamento e na última avaliação, se permanecer estável, é considerado curado. O aparecimento de eosinofilia ao final do tratamento ou ao longo do seguimento é sinal de bom prognóstico. As provas sorológicas NÃO são indicadas no acompanhamento do paciente. Abandono do TTO Entende-se por abandono de tratamento todo caso que não completou 20 doses de tratamento com antimoniato de meglumina no tempo preestabelecido, ou pacientes que, não tendo recebido alta, não compareceram até 30 dias após o agendamento, para avaliação clínica. Profilaxia Notificação A LV humana é uma doença de notificação compulsória. Todo caso suspeito deve ser notificado e investigado pelos serviços de saúde, por meio da Ficha de Investigação da Leishmaniose Visceral do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). A detecção de casos de LV pode ocorrer por: • Demanda espontânea à unidade de saúde. • Busca ativa de casos no local de transmissão. • Visitas domiciliares dos profissionais da ESF. • Encaminhamento de suspeitos por meio da atenção primária. Referência Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilânciaem Saúde. Departamento de Articulação Estratégica de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância em Saúde [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Articulação Estratégica de Vigilância em Saúde. – 5. ed. rev. e atual. – Brasília : Ministério da Saúde, 2022.
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