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KEOHANE, MORSE, 2014

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GURGEL E SILVA, João Pedro. 
11421RIT009 
KEOHANE, O. Robert. MORSE, C. Julie. Contested Multilateralism. Princeton                 
University, Robertson Hall, Princeton, NJ 08544, USA. Rev Int Organ 23 March                       
2014. 
 
GRIFFTHS, Martin. 50 Grandes Estratégias das relações internacionais /                 
Tradução Vânia de Castro. 2. ed. - São Paulo : Contexto , 2005.  
 
Sobre o autor:  
 
Robert Keohane fundou a Escola de Harvard de teoria internacional liberal em                       
sua busca por responder ​se as instituições explicam a atuação dos Estados                       
para além da distribuição de poder. ​Junto a colaboração de Joseph Nye,                       
procuravam acomodar ao paradigma realista aspectos estruturais da               
cooperação entre Estados. Expoente no terceiro grande debate do estudo                   
anglo-americano das relações internacionais defende que a cooperação se                 
baseia na utilidade funcional e na reificação de expectativas (mercado                   
político), diminuem os custos de transações internacionais e facilitam pacotes                   
de acordos, reforçando racionalmente (Eq. de Pareto) a cooperação apesar das                     
mudanças no equilíbrio de poder - afastando o liberalismo do idealismo e o                         
aproximando da economia política internacional, relativizando a autonomia               
dos Estados e suas questões internas, no sentido de uma institucionalização de                       
uma memória institucional. (GRIFFTHS, 2005) 
 
Sobre a obra: 
 
Keohane inicia seu diálogo com o realismo em Transnational relations and                     
world politics (1972), publicado no contexto da Guerra do Vietña, questionando                     
a ainda excessiva preocupação dos cientistas com o Estado frente a ascensão                       
de agentes, corporações e temas econômicos que se aprofundam numa                   
interdependência complexa redigida pelos regimes de cooperação. Power and                 
interdependence: world in politics in transition (1977) apresenta um mundo de                     
interdependência em que o paradigma realista é de uso limitado para                     
compreender a dinâmica dos regimes, e a regras do jogo em determinados                       
problemas. Keohane e Nye refutam o que concebem por realista e suas teses                         
centrais (Estados unidades coerentes e centrais; força como instrumento                 
utilizável e efetivo; segurança no topo da hierarquia da política mundial) e                       
determinam condições de interdependência complexa (Agentes além do               
Estado, sem hierarquia clara dos assuntos, força é inefetiva) em que ​os                       
resultados são determinados pela distribuição de recursos e as                 
vulnerabilidades em determinadas áreas - não ligadas a distribuição de poder                     
militar, ​relações transnacionais são cruciais nas tomadas de decisão, coalizões                   
burocráticas internacionais e instituições não governamentais. Enfoque nas               
 
GURGEL E SILVA, João Pedro. 
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sensibilidades e vulnerabilidades dos agentes em determinadas áreas de                 
controvérsia. ​After Hegemony (1984) sintetiza o realismo estrutural               
modificado/institucionalismo neoliberal com a funcionalidade racional da             
cooperação mesmo com o declínio da hegemonia estadunidense. ​(GRIFFTHS,                 
2005) 
 
Resumo 
 
Multilateralismo contestado se complementa ao arcabouço do             
institucionalismo neoliberal por compreender a disputa, fragmentação,             
coexistência e contestação de regimes por coalizões em busca de ganhos na                       
mudança ou criação de alternativas credíveis ou competidoras, conduzidas                 
pelos Estados ou pelas Instituições numa dada situação ou estratégia                   
perseguida. Quando bem sucedidas, coalizões contestatórias criam, reforçam               
ou expandem complexificações aos regimes e justificam sua existência - como                     
se exemplifica os contenciosos Kadi I e II (CSNU e CJE, 2008), da cooperação                           
sustentável entre IRENA e IEA, expansão do PSI frente ao CNUDM em 2004, e as                             
mudanças nos regimes de saúde devido a ineficiência operacional da OMS e a                         
necessidade integração a iniciativa privada. Evidenciando a relação entre o                   
poder de contestação e a capacidade de autonomia das instituições                   
alternativas.  
  
 
Introdução  
 
A concepção de Multilateralismo Contestado contribui com a reconciliação das                   
distintas vertentes ​(1 - interdependência complexa de Keohane e 2 -                     
coexistência, mudança e fragmentação de regimes de Raustiala e Victor, 2004)                     
indicando a partir do fatos de que o multilateralismo não é essencialmente                       
integrado e cooperativo, não tem uni ou bilateralismo como únicas                   
alternativas, e que os Estados e agentes podem discordar das políticas que                       
instituições passam a tomar. ​É caracterizada pelo uso formal ou informal de                       
práticas multilaterais (coalizão constestatória) para desafiar os arranjos quo e                   
promover mudanças institucionais e políticas (criando) em situações de                 
contestação. ​A difusão de recursos de poder para o Oriente alimentam a ênfase                         
do contexto político para a concepção. Jupille et alli (2013) contribuem para a                         
concepção de ​construção de coalizões para contestar o status quo ​como mais                       
efetivas que a contestação unilateral. Os ​desafios incrementam elementos de                   
complexidade ao histórico/futuro de um regime e promovem a ​percepção do                     
antecipamento da ‘insuficiência’ institucional.   
 
Multilateralismo contestado definido 
 
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Define-se pelos critérios de uma coalizão de atores insatisfeitos com o status                       
quo instituído numa instituição multilateral ou suas regras, que mudam o foco                       
de atividades desafiando e alterando as práticas de status quo. Enquanto                     
Estados fracos dependem de coalizões nem que para desafiar simbolicamente,                   
Estados poderosos contam com opções bi e unilaterais, apesar dos incentivos e                       
custos. ​O resultado de um desafio é indeterminado, a                 
deslegitimação/incompatibilização de uma instituição encaminha ao fim a               
mudança ou a saída, seja criando novas instituições/regimes ou                 
amplificando-se às demais denúncias. Diferenciável de desacordos internos, a                 
contestação se dá entre mudanças de natureza e complexificação do regime                     
(​intra-institutional reform blocked). Não somente saindo, mas também,               
fortalecendo diferentes perspectivas pode-se chegar à contestação.  
 
Caminhos para o Multilateralismo contestado  
 
Insatisfações​, às mudanças exógenas e no ambiente global ou às preferências                     
particulares (interesses domésticos; instituições internacionais ou ações             
transnacionais; eventos e mudanças inesperadas) ​dos Estados ou às práticas                   
endógenas de exercício multilateral, ​dependem da capacidade de contar com                   
opções externas. Mudando ou criando instituições através de coalizões e de                     
políticas e forma institucional substantiva à alternativa credível de ameaçafavorável a alguma das adaptações. ​Má representação de capacidade das                   
opções podem gerar problemas de credibilidade e ajustes políticos podem não                     
ocorrer, ou mesmo provocar represálias e vetos/blocks por ameaçados às                   
mudanças.   
 
Dois tipos básicos de multilateralismo contestado 
 
A ​mudança ao regime/de regras/de decisões mais favoráveis ​amplia o espaço                     
político de decisão e produz efeitos de feedback, como por exemplos os                       
acordos da OMPI-OMC. Já a ​criação de um regime ou fórum informal                       
competidor desafia a uma representação mais próxima às insatisfações do                   
grupo limitado/similar e de canais mais informais à influenciar em áreas                     
importantes ou para estabelecer relações transgovernamentais - como por                 
exemplo PSI. A competição e hierarquização complexificam o regime,                 
tornando-o menos integrado.  
 
Mudança de regime 
 
Uma coalizão de insatisfeitos que tem uma alternativa viável pode, por reduzir                       
a autoridade relativa iniciar os processo de mudanças do status quo                     
 
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institucional. Helfer (2004, 2009 e 2011) contribuí com a conceituação da                     
condução estatal, expandida às estratégias de contestação multilateral               
conduzidas por instituições internacionais.  
 
Mudança de regime conduzida pelos Estados 
 
Exemplifica-se pelos diversos movimentos dos países desenvolvidos em               
mudar as autoridades relativas à dadas áreas de mais interesse, como o caso                         
OMPI-OMC em busca de maiores proteções intelectuais e de patentes, a partir                       
da década de 80, mudança não antecipada pelos países em desenvolvimento                     
que complexificou o regime.  
 
Mudança de regime conduzida pelas instituições 
 
Instituições desempenham papel essencial na mudança de regime, liderando a                   
formatação de seu conteúdo, e de uma capacidade de credibilidade                   
inalcançável a coalizões de Estado - como por exemplo o desafio ao CSNU pela                           
CJE.  
 
Nações Unidas e polícia antiterrorismo e processo internos: o Caso de Kadi 
 
O CSNU fez das sanções-alvo um componente fundamental de sua política                     
global antiterrorista, a partir do regime estabelecido com a Resolução 1267, o                       
congelamento de recursos de indivíduos envolvidos com Al-Qaeda contrariava                 
regras e princípios internos de países, ou desrespeitava questões dos Direitos                     
Humanos 
 
Opções externas e problemas de credibilidade 
 
Ainda no caso do regime de contra-terrorismo do CSNU, os atores não tinham                         
opções externa viáveis nem capacidade de provocarem grandes mudanças, o                   
que mudou a partir do das determinações e complexificação do regime dos                       
direitos a revisões judiciais do CJE em 2008, no caso de Kadi I e II.  
 
Criação de regimes competidores 
 
Quando uma coalizão de insatisfeitos cria uma novo fórum multilateral, com                     
regras mais favoráveis a sua orientação, de membresia limitada a semelhantes,                     
com canais mais informais - criando vantagens adicionais de barganha com o                       
status quo.  
 
Criação de regimes competidores conduzidos pelos Estados 
 
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Apesar de inovador, a criação de regimes não é tão pouco usual. Na área de                             
migração, se vê na década de 2000 uma mudanças nas obrigações de recepção                         
dos países mais ricos às práticas estabelecidas nas convenções de refugiados                     
nas Nações Unidas, elemento de complexificação do regime.  
 
 Multilateralismo contestado no regime global do complexo energético 
 
As complexificações nos regimes energéticos advindo da criação da IRENA                     
(Agência Internacional para Energias Renováveis) a IEA (Agência Internacional                 
de Energia) devido as recentes demandas por cooperação sustentável. A                   
reabordagem a IEA e a harmonização das agências exemplificam regimes                   
competidores na contestação.  
 
Multilateralismo contestado na complexificação do regime global de não                   
proliferação 
 
A criação de um regime competidor conduzido pelos Estados Unidos que                     
desafiara a capacidade da CNUDM (Convenção das Nações Unidas sobre o                     
Direito do Mar) de 1982. Apesar de não ser signatário do referido tratado, a                           
preservação da instituição mas também novas regulamentações eram               
desejadas.  
 
 O caminho ao multilateralismo contestado em PSI 
 
Os Estados Unidos juntos a alguns países Europeus, Austrália e Japão                     
adotaram uma instituição que permitia cooperações de ação contra a                   
proliferação mais diretas e efetivas. Os combates e interdições promoviam                   
uma mudança nas práticas da CNUDM ao invés de seus princípios.  
 
 Resposta Institucional ao PSI  
 
O CSNU adota a partir de 2004 a Resolução 1540 sobre proliferação nuclear, que                           
apesar de nenhuma menção ao concomitante PSI, é responsável pela                   
institucionalização da proliferação como ameaça a paz e segurança                 
internacional e das ações cooperativas de interdição legal. Mantém-se ainda                   
informalmente estabelecida, e complexifica as práticas de interdição e                 
proliferação no mar.  
 
 ​Multilateralismo contestado em problemas armamentícios convencionais  
 
 
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A Convenção das Nações Unidas sobre Armas Convencionais ​era apoiada pelos                     
países Europeus e promoveu complexificações no regime de regulamentação                 
de armas apesar da oposição estadunidense, chinesa e russa. 
 
Criação de regimes competidores conduzidos pelas Instituições  
 
A complexificação do regime de saúde provocada pela coalizão de atores que                       
desafiavam a OMS a partir de 1980 quando o G8 passou questionar sua                         
autoridade exemplifica a criação de regimes competidores conduzidos pelas                 
instituições.  
 
 A aliança global em vacinação e imunização  
 
O regime sob a égide da OMS dividia atividades entre pesquisas básicas e em                           
entrega de vacinas a crianças em países em desenvolvimento,                 
insuficientemente integrado às demandas da expansão do comprometimento.               
Em 1990 a coalizão do CVI (UNICEF, OMS, PNUD e Fundação Rockefeller)                       
inicialmente sofreu tentativa de subordinação a OMS, porém a demanda pela                     
integração a parceiros industriais e a comercialização de vacina produzidas. A                     
criação da GAVI em 2000 com significativo suporte da Fundação Gates                     
significou a superação do contencioso CVI-OMS e redução do papel e                     
autoridade da mesma (OMS) a aliada da iniciativa.  
 
 The creations of UNAIDS 
 
A dificuldade da OMS em acompanhar a crise de AIDS na década de 1980 e a                               
ineficiência de seu programa focado exclusivamente na contenção e na                   
medicação com pouca integração com demais atores. Após uma coalizão de                     
contestação liderada pela Suécia e pela bilateralização da ajuda, a UNAIDS é                       
criada para substituir a liderança daOMS em 1996, assumindo funções de                       
pesquisa e difusão, mudando o foco para a construção de                   
programas/capacidades nacionais de atenção e de políticas de               
desestigmatização, bem como ampliando o escopo de entidades, e arranjos                   
setoriais e regionais, destaque pela capacidade organizativa. O               
direcionamento da autoridade da OMS ao tema é alterado e mantido. A                       
UNAIDS, soma-se a diversos outros programas a um regime já complexo.  
 
 O Fundo global de luta contra a AIDS, tuberculoses e malária 
 
Na metade da década 1990, o aumento do foco do G8 (liderado pelos EUA e                             
Japão) às questões de saúde promoveu uma mudança do regime centrado na                       
abordagem medicamentosa da OMS, ineficientemente burocrática e aliável ao                 
 
GURGEL E SILVA, João Pedro. 
11421RIT009 
setor privado. O Fundo Global de Luta Contra a AIDS contesta e inverte a                           
autoridade pelos recursos no combate a AID, Tuberculoses e Malária.  
 
Conclusões  
 
O guarda chuva do conceito (Multilateralismo contestado) evidencia diversos                 
exemplos, se distinguem ​situações de contestação ativa ​e em ​estratégias                   
perseguidas por diferentes atores. ​Quando bem sucedidas, coalizões               
contestatórias criam, reforçam ou expandem complexificação aos regimes e                 
justificam sua existência. A partir do elementos enfatizados com os exemplos                     
(​1 - Precipitações do CSNU frente 11/9, 2 - Excesso de poder como no CSNU no                               
caso Kadi 3 - Mudanças por unanimidade ou maioria como evidência PSI, 4 -                           
Relativização da autonomia/autoridade das burocracias internacionais como             
nos regimes de saúde citados) se evidencia a relação entre contestação e                       
autonomia relativa.

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