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1 COORDENAÇÃO DO CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: DIREITO ADMINISTRATIVO I PROFESSORA: JULIANA DE ABREU TEIXEIRA UNIDADE II – REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO E PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO DIREITO ADMINISTRATIVO 1.1. Noção de Regime Jurídico-administrativo. No Ordenamento Jurídico pátrio existem dois diferentes regimes jurídicos, o primeiro é o regime jurídico de direito privado que regulamenta a atividade entre particulares, e o segundo é o regime jurídico de direito público que regulamenta a atividade entre o particular e o estado. À personalidade jurídica e respectivo regime de cada ente da Administração Pública se dá o nome de REGIME JURÍDICO DA ADMINISTRAÇÃO. Só se pode conceber uma disciplina jurídica autônoma quando há um CONJUNTO SISTEMATIZADO DE REGRAS E PRINCíPIOS QUE LHE DÃO IDENTIDADE, diferenciando-a das demais ramificações do Direito. A esse conjunto dá-se o nome de REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO. Logo, regime jurídico-administrativo é o conjunto de regras e princípios que guardam entre si uma correlação lógica – constituindo assim uma unidade – a que se deve subsumir a atividade administrativa na consecução de seus fins. É o conjunto de prerrogativas e restrições da Administração Pública, amparados nas ideias que lhe dão origem. De acordo com Celso Antônio Bandeira de Mello, tal regime delineia-se em razão de alguns princípios: supremacia do interesse público sobre o privado e indisponibilidade dos interesses públicos, as “pedras de toque” do Direito Administrativo. É por tal motivo que normalmente, uma conduta, quando viola um princípio, viola vários inerentes ao sistema. Direito Administrativo: Proteção aos direitos dos indivíduos frente ao Estado - LIBERDADE Restrições – Indisponibilidade dos interesses públicos (legalidade); Necessidade de satisfação dos interesses coletivos - AUTORIDADE Prerrogativas da Administração – Supremacia do interesse público sobre o privado. 1.1.1. Supremacia do interesse público sobre o privado. É um pressuposto para a existência da sociedade, para o convívio social. É o princípio que determina privilégios (prerrogativas) jurídicos e um patamar de superioridade do interesse público em face do individual. Prerrogativas: intervenção na propriedade privada; cláusulas exorbitantes e formas diversas do exercício do poder de polícia. Está implícito na CF e justifica a própria idéia da administração como mecanismo de superioridade do interesse público sobre o particular. Conseqüências: a) a proibição de greves total nos serviços públicos. O direito de greve deverá ser exercido nos termos do art. 37, VII, da CF/88 – “nos termos e nos limites definidos em lei específica”. Os serviços essenciais não podem simplesmente parar; b) a necessidade de institutos como a suplência, a delegação, a substituição para preencher funções públicas temporariamente vagas; c) a impossibilidade para quem contrata com a Administração de invocar a exceptio non adimpleti contractus nos contratos que tenham por objeto a prestação de serviços públicos. Obs: Lei 8666/93. d) a faculdade de a Administração utilizar equipamentos e instalações da empresa que com ela contrata para garantir a continuidade do serviço; 2 e) a possibilidade de encampação da concessão de serviço público; f) dentre outras: prazos processuais em quádruplo para contestar e em dobro para recorrer; imunidade tributária; prescrição qüinqüenal; o regime de precatórios; impenhorabilidade, inalienabilidade e imprescritibilidade dos bens públicos e etc. Atenção: a superioridade é do interesse público ou coletivo, e não do Estado ou da máquina estatal ou do administrador, posto que estes representam o interesse público secundário. 1.1.2. Indisponibilidade dos interesses públicos. Os interesses públicos são indisponíveis. Ou seja, não estão entregues à livre disposição de vontade do administrador, visto que esse exerce função pública e deve atuar nos limites da lei. Este princípio limita a supremacia; é um contrapeso ao princípio acima citado. Também está implícito na CF. Exercer função é exercer atividade em nome e no interesse do povo. É um múnus publico, compromisso encargo, obrigação, dever de bem servir. Portanto, o direito, o interesse não é do administrador, posto que este é mero representante, mas sim do povo. Desdobramentos: Legalidade e suas implicações (finalidade, razoabilidade, proporcionalidade, motivação e responsabilidade do Estado); Obrigatoriedade do desempenho da atividade pública (continuidade dos serviços públicos); Especialidade; Hierarquia; Controle administrativo ou tutela; Isonomia dos administrados; Publicidade; Controle judicial dos atos administrativos; Segurança jurídica. 1.2. Princípios aplicáveis à Administração Pública. 1.2.1. Princípios constitucionais explícitos. São aqueles presentes no art. 37, caput, da Constituição Federal, de maneira expressa. Assim, são eles: os princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade e da eficiência – LIMPE. 1.2.1.1. Princípio da legalidade. É a base, condição indispensável para a existência de um Estado de Direito (positivamente organizado e que obedece às próprias leis) e garante que todos os conflitos sejam resolvidos pela lei (art. 5° II, art. 37, caput e art. 150, todos da CF). Traduz o primado de que toda a eficácia da atividade administrativa fica condicionada à observância da lei, significa que o administrador público está, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e expor-se a responsabilidade administrativa, civil e criminal, conforme o caso. Deve-se distinguir a legalidade para o direito público (critério de subordinação à lei) e a legalidade para o direito privado (critério de não contradição à lei – autonomia da vontade). O administrador só pode fazer o que a lei manda, o que a lei autoriza, o que está previsto em lei. Já o particular pode fazer tudo o que a lei não proibe. Atenção: o princípio da legalidade não é sinônimo do princípio da reserva legal: legalidade é fazer apenas o que a lei determina; reserva legal é quando o constituinte exige que certa matéria deve ser regida por determinada espécie normativa. 1.2.1.2. Princípio da impessoalidade. Exige a ausência de subjetividade na conduta praticada pelo agente público, pelo que fica impedido de considerar quaisquer inclinações e interesses pessoais (interesses próprios ou de terceiros). Estabelece que o ato do administrador é um ato impessoal, aproximando-se em muito ao conceito do princípio da isonomia. Esse princípio desdobra-se em duas vertentes: - impessoalidade do administrador (imputa-se aos entes/órgãos). Ex.: Art. 37, § 1º, CF/88; - impessoalidade do administrado (imputa-se à coletividade). Ex.: Art. 100, CF/88. 3 Outros instrumentos previstos na CF também representam a impessoalidade, como as exigências do concurso público e da licitação, previstos no art. 37, incisos II e XXI, respectivamente. De acordo com a corrente tradicional (Hely Lopes Meirelles), com o advento da CF/88, o princípio da impessoalidade veio para substituir os princípios da imparcialidade ou finalidade (o administrador deve buscar o interesse público e não pessoais), sendo assim, esses princípios (impessoalidade e finalidade) são como se fossem sinônimos. A corrente moderna (Celso Antônio Bandeira de Mello), mais exigida, atualmente, em concursos, entende que a finalidade e a impessoalidade são princípios autônomos: princípio da finalidade cumpre a vontade legal, é buscar o espíritoda lei, a vontade maior da lei. E a vontade da lei não pode se dissociar da própria lei. Assim, a finalidade decorre da legalidade, e não da impessoalidade.Para fundamentar esse entendimento, confira o art. 2° da Lei 9.784/99 – Lei do Processo Administrativo. Para Celso Antônio Bandeira de Mello, o princípio da impessoalidade veda discriminação benéfica ou detrimentosa, simpatia ou animosidade. Embora este conceito seja mais adequado para a isonomia, para o autor os princípios (impessoalidade e isonomia) são praticamente sinônimos. Buscando a efetivação e aplicabilidade deste principio, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão instituído após a Emenda Constitucional n. 45/2004, editou a Resolução n. 07/2005 que vedou a contratação de parentes de magistrados, até o terceiro grau, para cargos de chefia, direção e assessoramento no Poder Judiciário. Não obstante a norma seja bastante clara, inúmeros tribunais concederam liminares favoráveis à permanência dos parentes em cargos de confiança, contrariando a determinação do Conselho. Por tal motivo, a Associação dos Magistrados Brasileiros ajuizou a Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) n. 12 no Supremo Tribunal Federal, que, mediante liminar estabelecendo efeito vinculante e com eficácia para todos (erga omnes), confirmou a constitucionalidade da norma do CNJ para pacificar entendimentos divergentes em tribunais de todo o país. Os Ministros, ao proferirem seus votos, destacaram que o rompimento das relações de trabalho dos nomeados para cargos de confiança no Poder Judiciário, dentro das regras estabelecidas na resolução do CNJ, atenderá às imposições da moralidade e da impessoalidade administrativas. Finalmente, em 21.01.2008, o STF editou a Súmula Vinculante n. 13, após o julgamento definitivo da ADC em questão, o qual confirmou a medida liminar. Eis o texto da Súmula Vinculante n. 13: “A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica, investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou, ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indireta, em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal". O principal fundamento da decisão reside no artigo 37 da Constituição Federal, que determina a observância dos princípios da moralidade e da impessoalidade na administração pública: esse dispositivo seria auto- aplicável. Conclusão: "Não é necessária lei formal para aplicação do princípio da moralidade", disse o ministro Menezes Direito. O ministro Ricardo Lewandowski, relator do recurso extraordinário, afirmou que é "falacioso" o argumento de que a Constituição Federal não vedou o nepotismo e que, então, essa prática seria lícita. Segundo ele, esse argumento está "totalmente apartado do ethos que permeia a Constituição cidadã". Mas "Somente os cargos e funções singelamente administrativos são alcançados pelo artigo 37 da Constituição Federal", disse o ministro Carlos Ayres Britto. Os princípios da moralidade e da impessoalidade não se aplicam aos dirigentes políticos. Assim, no entender do Supremo, mesmo que não exista uma lei nacional (ampla) impeditiva da prática do nepotismo, tal como exige o inciso II do artigo 37 da Constituição da República, a falta dessa lei não torna lícita a contratação de parentes (até o terceiro grau). A Administração Pública deve pautar-se em conformidade com o princípio da moralidade, que exige um comportamento escorreito do administrados. Deve ainda observar os princípios da igualdade e da eficiência. Enfim, para o STF, o nepotismo é ilícito por força dos princípios da impessoalidade, da moralidade, e da eficiência. Muita atenção à exceção que o STF estabelece para os agentes políticos no que trata da nomeação para cargos em comissão e funções de confiança. 1.2.1.3. Princípio da moralidade. Foi introduzido como princípio expresso apenas na CF/88. Relaciona-se com a idéia de honestidade, exigindo a estrita observância de padrões éticos, de boa-fé, de lealdade, de boa conduta, de regras que assegurem a boa administração e a disciplina interna na Administração Pública. 4 É um conceito vago, indeterminado. Em razão disto, o Poder Judiciário tem dificuldades na aplicação do princípio. Assim, para superar essa dificuldade, o Judiciário sempre o relaciona a outro princípio: a legalidade, referindo-se a esta no sentido amplo: se o ato é imoral, viola a ordem júridica e se viola a esta, viola a legalidade em sentido amplo. Não se deve confundir moralidade administrativa com moralidade comum, pois esta traduz o conceito de certo e errado, enquanto aquela se relaciona com a boa administração. Ou seja, o administrador, além de exercer a conduta correta, deve ser o melhor administrador possível. Logo, o princípio se abraça ao princípio da eficiência. Tanto a probidade como a moralidade estão ligados à idéia de honestidade, embora o constituinte não tenha se referido ao “princípio da probidade”. Probidade administrativa (art. 32, § 4º, CF/88): Gênero da moralidade. A lei 8.429/92 (lei de improbidade administrativa) abrange hipóteses de imoralidade. O ato imoral é o ato de improbidade administrativa. Todavia, a improbidade administrativa é um rol mais extenso, portanto não se pode afirmar que toda a improbidade administrativa é ato imoral. Imoralidade não é sinônimo de improbidade. Improbidade é o gênero, do qual imoralidade é a espécie. A lei 12.846/13 (lei anticorrupção) também tutela o princípio em questão. Contudo, ao passo em que a lei da improbidade visa punir o agende público e o agente privado que incorrem no ato, a lei anticorrupção visa punir a pessoa jurídica em nome da qual agem os agentes corruptores. O princípio também é tutelado pela Ação Popular (Art. 5º, LXXIII, CF/88), a qual tem por finalidade anular o ato administrativo que viola o princípio, mas não punir o agente ou a pessoa jurídica, como ocorre com a lei de improbidade e a lei anticorrupção. 1.2.1.4. Princípio da publicidade. Poder Público dever de transparência, conhecimento, divulgação. Todo poder “emana do povo” (art.1º, parágrafo único, da CF/88). Não é requisito de forma do ato administrativo, mas sim de sua eficácia e moralidade. Ampla divulgação dos atos da Administração Pública, exceto nos casos de sigilo previstos na Constituição. Tem como conseqüência juridical/efeitos: o conhecimento público, o início de seus efeitos externos (condição de eficácia – ex.: publicação dos contratos administrativos – art. 61, parágrafo único da Lei 8666/93), o início da contagem de prazos (ex. Prazo para defesa de autos de infração) e ainda, assegurar o controle pelos interessados diretos e pelo povo em geral, através dos diversos meios constitucionais (ex. art. 31, § 3°, da CF/88 – contas públicas à disposição do administrados). Logo, publicidade é diferente de publicação, posto que esta é apenas uma das hipóteses de publicidade, que pode ser realizada de várias formas diferentes, dependendo da forma que a lei determinar. A simples divulgação em rádio, tv ou jornal, não é suficiente para atender ao princípio, posto que a publicidade deve atender àquela formalidade prevista na lei: imprensa official, intimação pessoal, jornal de grande circulação, etc. Desdobramentos: O direito de receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral (Art. 5º, XXXXIII, CF). Atenção: se negado o acesso e a informação é sobre sua pessoa, cabe habeas data; se a informação é de seu interesse, mas não sobre sua pessoa, cabe mandado de segurança; O direito à obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal (art. 5º, XXXIV, CF); O direito de acesso dos usuários a registros administrativos e atos de governo (art. 37, § 3°, II, CF). Garantias: habeas data, mandado de segurança ou mesmo as vias ordinárias. Limites: intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas (art. 5º, X, c/c, art. 37, § 3°, II, da CF), sigilo da fonte quando necessário ao exercício profissional (art. 5º, XIV, CF), sigilo tido como imprescindível à segurança da sociedade e do Estado (art. 5º, XXXIII, c/c, art. 37, § 3°, II, CF), e atos processuais na forma da lei (art. 5o, LX, CF). A falta de publicidade implica aos administradores, além de falta funcional se o regime discilpinar assim estabelecer, improbidade administrativa. O administrador não pode, com a escusa de obedecer à publicidade, fazer promoção pessoal, a teor do art. 37, § 1º, CF. De acodo com tal dispositivo, a publicação deve ter caráter informativo, educativo e de orientação social, não podendo constar nomes, símbolos e imagens que representem promoção pessoal. O STJ sustenta que tal artigo deve ser interpretado com bom senso, verificando-se cada caso em particular. Se há o nome, o símbolo, ou a imagem, mas o caráter é educativo, informativo ou de orientação social, não há 5 improbidade. Atenção: a publicidade feita em discordância com esse dispositivo legal não viola o princípio da publicidade, mas sim, outros princípios: a impessoalidade, a moralidade, a eficiência e a legalidade! 1.2.1.5. Princípio da eficiência. Consiste na busca de resultados práticos, de produtividade, de economicidade, a fim de não se desperdiçar dinheiro público e de se alcançar, também no serviço público, o rendimento típico da iniciativa privada, sendo que aqui o lucro é do povo. Inserido pela Emenda 19/98 – Reforma do Estado. Aspectos: - modo de atuação do agente público. - modo de organizar a Administração Pública. Melhores resultados, meios escassos, menor custo. Ou seja, a eficiência deve ser quanto aos meios e quanto aos resultados. Estabilidade: art. 41, CF – passou a se exigir avaliação de desempenho para aquisição de estabilidade, visando garantir a eficiência do servidor. Ainda, criou-se a avaliação periódica. Lei Complementar n° 101/00: o Poder Público não pode gastar com os servidores, além dos limites estabelecidos pela lei de Responsabilidade Fiscal: União 50%, Estado e Municípios 60% do orçamento. Art. 169, CF: refere-se à racionalização da máquina administrativa, estabelecendo a possibilidade de exoneração de servidores para cumprir as regras na lei de responsabilidade fiscal, conforme abaixo: a) Cargo em comissão e função de confiança: cortar no mínimo 20%; b) Servidores não estáveis: quantos forem necessários, não havendo limites; c) Servidores estáveis: são exonerados e não demitidos, pois demissão é pena. 1.2.2. Outros princípios constitucionais explícitos. 1.2.2.1. Princípio da licitação. Procedimento administrativo destinado a provocar propostas e a escolher proponentes de contratos de execução de obras, serviços, compras ou de alienações do Poder Público. O art. 37, XXI, da CF/88 alberga tal princípio nos seguintes termos: “...ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações”. 1.2.2.2. Princípio da prescritibilidade dos ilícitos administrativos. Se a Administração não toma providência à apuração e à responsabilização do agente quanto a um ilícito administrativo, a sua inércia gera a perda de seu ius persequendi. O art. 37, § 5° dispõe sobre esse princípio: “A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícito praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento. Ressalva: Nem tudo prescreverá. Conforme entendeu o STF em 2016 no RE 669069 a ação de ressarcimento ao erário prescreve em 5 anos em casos de reparação civil. Tambem entendeu o STF em 2018 no RE (RE) 852475 que no caso do ressarcimento ao erário decorrente de improbidade administrativa, aplica-se a prescrição quinquenal, só havendo que se falar em imprescritbilidade quando de trata de ato de improbidade doloso. 1.2.2.3. Princípio da responsabilidade da administração. Art. 37, § 6° da CF/88: “As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável no casos de dolo ou culpa”. A responsabilidade civil do Estado por atos comissivos é objetiva, ou seja, independe de conduta dolosa, negligente, imperita ou imprudente daquele que causa o dano. 6 1.2.2.4. Princípio da participação. Emenda 19/98; Novo enunciado do § 3°, do art. 37, da CF/88; Não foi regulamentado, vez que sua efetivação depende de lei. 1.2.2.5. Princípio da autonomia gerencial. Regido pelo § 8°, do art. 37, também introduzido pela EC n. 19/98: “A Autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e entidades da administração direta e indireta poderá ser ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus administradores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre: I – o prazo de duração do contrato; II – os controles e critérios de avaliação de desempenho, direitos obrigações e responsabilidade dos dirigentes; III – a remuneração do pessoal” 1.2.2.6. Princípio da Motivação. Administração Pública deve indicar os fundamentos de fato e de direito de suas decisões. Discutia-se acerca de sua obrigatoriedade, entretanto, atualmente, face à evolução do Estado Democrático de Direito e dos princípios, foi consagrado pela doutrina e pela jurisprudência, não havendo mais espaço para as doutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade só alcançava os atos vinculados ou só os discricionários, ou se estava presente em ambas as categorias. A exigência de motivação consta na CF/88 no art. 93, inciso X, não havendo menção a ela no art. 37. A Lei 9784/99 acolheu o princípio em seu art. 2º e no art. 50 explicita as situações em que a mesma é obrigatória. 1.2.2.7. Princípios do contraditório e ampla defesa. O art. 5º, inciso LV, da CF assegura aos litigantes em processo judicial ou administrativo o conhecimento e a oportunidade para efetivação da defesa. Em regra, o indivíduo tem o direito de saber tudo o que se passa sobre ele (indivíduo) mesmo, e com base nisto, se defender. Contraditório: É ciência da existência do processo e dos atos praticados no decorrer desse processo. Possui duas bases, uma lógica e uma política. Para a base lógica, é através do contraditório que se constitui a bilateralidade da relação processual (ciência à parte contrária). Para a base política, ninguém pode ser processado ou punido sem ter conhecimento do processo (mecanismo de defesa). Ampla defesa: é a concessão da oportunidade para que a parte se defenda. O STF e a doutrina entendem que não basta a oportunidade, alguns desdobramentos devem ser observados: 1) a parte deve ter direito à defesa prévia em um procedimento predeterminado e com a indicação das possíveis penalidades previamentedefinidas; 2) a parte deve ter a garantia de informação dentro do processo; 3) não se exige a defesa técnica, mas esta não pode ser inviabilizada ou prejudicada; 4) a parte tem direito a produzir provas, assim como o de ver esta prova participando do convencimento do administrador; 5) a parte tem direito à interposição de recursos, independentemente de previsão específica. Súmula Vinculante n. 3: “Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão.” Súmula Vinculante n. 5: “A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição.” 1.2.3. Princípios constitucionais implícitos. 1.2.3.1. Princípio da autotutela. Controle sobre seus próprios atos: Anulando-os quando ilegais, ou; Revogando-os por critérios de conveniência e oportunidade. A autotutela decorre da legalidade e da supremacia do interesse público sobre o privado; Súmulas 346 e 473 do STF. 7 1.2.3.2. Princípio da finalidade. O administrador deve atuar com rigorosa obediência à finalidade de suas competências, traçadas na lei (doutrina moderna); Decorre do princípio da legalidade (doutrina moderna) e do princípio da impessoalidade (doutrina clássica); Atenção para as correntes tradicional e moderna acerca do princípio, já mencionadas ao discorrermos sobre o princípio da impessoalidade; Vício: desvio de finalidade. 1.2.3.3.Princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Razoabilidade: de acordo com o princípio, a prática de atos administrativos discricionários deve se processar dentro de padrões estritos de razoabilidade, ou seja, com base em parâmetros objetivamente racionais de atuação e sensatez, visando a realização do Direito, tendo um justo equilíbrio entre os meios empregados e os fins a serem alcançados. De acordo com o princípio, o Administrador não pode, a pretexto de cumprir a lei, agir de forma despropositada ou tresloucada. Deve manter um certo padrão do razoável. Celso Antônio Bandeira de Mello: “Enuncia-se com este princípio que a administração, ao atuar no exercício de discrição, terá de obedecer a critérios aceitáveis do ponto de vista racional, em sintonia com o senso normal de pessoas equilibradas e respeitosas das finalidades que presidam a outorga da competência exercida”. Art. 2° da lei n. 9.784/99: É a coerência, a lógica, a congruência, a atitude de bom senso na prática dos atos administrativos. EC n. 45 incluiu o inciso LXXVIII no art. 5°, da CF, o qual dispõe sobre o prazo razoável para a duração do processo judicial e administrativo. Assim, alguns autores tem afirmado que o princípio da razoabilidade agora é explícito no texto constitucional. Para a doutrina administrativista majoritária, o desdobramento da razoabilidade é o princípio da proporcionalidade: exige equilíbrio entre o sacrifício imposto ao interesse de alguns e a vantagem geral obtida, equilíbrio entre os benefícios e os prejuízos, de modo a não tornar excessivamente onerosa a prestação. Agir de forma equilibrada também é agir de forma razoável, por isso a proporcionalidade se insere na razoabilidade. Pressupostos: a) Conformidade ou adequação dos meios, ou seja, o ato administrativo deve ser adequado aos fins que pretende realizar; b) Necessidade, vale dizer, possuindo o agente público mais de um meio para atingir a mesma finalidade, deve optar pelo menos gravoso à esfera individual; c) Proporcionalidade estrita entre o resultado obtido e carga empregada para a consecução desse resultado. Ambos representam limites à discricionariedade do administrador. Se um ato discricionário não é razoável ou proporcional, o Judiciário pode controlá-los exercendo controle de legalidade, em sentido amplo, porque ambos são princípios implícitos. Leitura obrigatória: ADPF no 45: refere-se ao princípio da razoabilidade. **********
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