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CERS DIREITO CONSTITUCIONAL PARTE II (2)

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CURSO RENATO SARAIVA (CERS) – 2ª FASE OAB - XVII EXAME DA ORDEM
DIREITO CONSTITUCIONAL – FLÁVIA BAHIA
Aula 1 – Rio, 23.07.15 	
PARTE II – AULAS BÔNUS – DIREITO MATERIAL
TEORIA GERAL DA CRFB
-ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO -> A CRFB tem três estruturas principais: preâmbulo, corpo fixo e as normas do ato das disposições constitucionais transitórias (ADCT).
O preâmbulo é a abertura, é a apresentação da CRFB. Parte da doutrina sustenta a tese de que a força normativa do preâmbulo é importante, possui valores e princípios que devem ser prestigiados no ordenamento jurídico e que deve servir como parâmetro do controle de constitucionalidade. ATENÇÃO! Mas a Corte do Supremo já firmou entendimento no sentido de que o preâmbulo está situado no campo da política, ele não tem normatividade, e por isso não serve como parâmetro de constitucionalidade das leis e tampouco é de reprodução obrigatória nas constituições estaduais. 
O preâmbulo serve como fonte de interpretação, porque esta não precisa necessariamente força normativa, só tem força de interpretação, mas não é parâmetro de constitucionalidade, pois é desprovido de normatividade. 
Alguns autores dizem que as normas do ADCT vieram fazer a travessia entre a constituição antiga e a chegada do novo texto constitucional. Boa parte das normas do ACDT são normas que com o tempo irão exaurir os seus efeitos jurídicos, são normas de passagem, são normas de ajuste entre a constituição anterior e a chegada do novo diploma constitucional. Para o Barroso, as normas do ADCT deveriam se exaurir com o poder constituinte originário, que se manifestou pela última vez no Brasil em 05 de outubro de 1988, mas não é essa a visão majoritária, pois de acordo com o entendimento majoritário e do STF as normas do ADCT não se esgotam com a promulgação da constituição originária, o ADCT pode sofrer reformas constitucionais. Os últimos artigos do ADCT foram inseridos por meio de Emendas Constitucionais. 
O corpo fixo, o conteúdo mais permanente da Constituição é analisado em conjunto com as normas do ADCT, separadas em razão dessa característica de serem mais exauríveis com o tempo. Mas não há hierarquia efetiva entre as normas do corpo fixo e as normas do ADCT e todas servem, em regra, como parâmetro do controle de constitucionalidade. Destaca-se a expressão “em regra”, porque segundo José Afonso da Silva as normas do ADCT que já exauriram os seus efeitos jurídicos não teriam mais normatividade e por isso não serviriam mais como parâmetro de controle de constitucionalidade, seriam declarações históricas. 
ATENÇÃO! Não há hierarquia entre as normas do corpo fixo e as normas do ADCT – todas são normas constitucionais. Inclusive o poder reformador pode atuar sobre as normas do ADCT, é possível acrescentar e revogar normas do ADCT. Em regra, as normas do corpo fixo e as normas do ADCT servem como parâmetro do controle de constitucionalidade da lei. Mas há singularidade com relação às normas do ADCT, que já esgotaram seus efeitos jurídicos. Na visão de José Afonso da Silva, as normas do ADCT que já exauriram os seus efeitos jurídicos não serviriam mais como parâmetro de controle, porque seriam apenas declarações históricas e não mais jurídicas. 
Segundo orientação do STF as normas constitucionais originárias, que nasceram no dia 05 de outubro de 1988 são normas absolutamente constitucionais, são normas que não podem ser declaradas em sentido contrário. No julgamento da ADI 815 o STF fixou entendimento no sentido de não adotar a teoria do jurista Otto Bachof para quem as normas constitucionais originárias poderiam ser fiscalizadas à luz do direito natural, então o Supremo refutou a orientação de Bachof e manteve o entendimento nacional de que as normas constitucionais originárias não podem ser consideradas inconstitucionais, pois gozam de presunção absoluta, não existe inconstitucionalidade implícita, não existe inconstitucionalidade com normas primárias.
Agora, com relação às normas constitucionais derivadas e as normas infraconstitucionais todas gozam de presunção de constitucionalidade, porque se prestigia o trabalho do legislador, imaginando que, ele criou lei de acordo com a constituição, mas sabe-se que essa presunção é iuris tantun, isto é, é relativa, ou seja, a norma nasce produzindo efeitos jurídicos, mas pode ser declarada inconstitucional. 
-CONCEITOS -> Supremo não adota apenas um conceito, apenas um sentido. A Corte já se manifestou inúmeras vezes entendendo que vários são os sentidos e as concepções da constituição. O STF não adota apenas a concepção sociológica de Ferdinand Lassalle ou Kelsiniana da Teoria Pura do Direito. É como se a constituição representasse um texto tão complexo dentro de uma teoria que seria inviável estabelecer uma única forma de perceber esse fenômeno constitucional.
1)Concepção Sociológica de Ferdinand Lassalle: “A essência da Constituição” -> a constituição deveria representar um somatório dos fatores reais do poder, ou seja, a constituição precisaria representar questões sociais, econômicas, culturais reinantes naquela determinada comunidade no momento de produção da constituição, sob pena de que essa constituição não passasse de uma mera folha de papel. É como se a constituição representasse os fatos. Nessa época não se falava em constituição escrita, pois esta era dispensável, bastando que o povo reconhecesse a constituição de acordo com o que vivenciava na sua época. Exemplos: Numa determina comunidade só há dois exemplares da constituição escrita: um que fica na casa do rei e na biblioteca nacional. A casa do rei pega fogo e a constituição vira cinzas e posteriormente ocorre uma forte chuva, atingindo a biblioteca nacional, fazendo com que o exemplar da constituição seja levado pelas águas da chuva. Os únicos exemplares daquela constituição deixaram de existir. É o momento em que Lassalle vem à tona e diz que se aquela constituição representava os fatores reais do poder, então tudo bem – ainda que não existisse o texto escrito as pessoas continuariam a respeitar aquele texto e continuaria tendo força, sendo cogente para aquela determinada comunidade. Mas se a constituição não tivesse sido elaborada de acordo com esses fatores reais do poder, desaparecendo os únicos exemplares escritos da constituição, desapareceria também a sua necessidade de observância, a sua força cogente, porque ela não passava de uma mera folha de papel. 
Podemos dizer que a palavra FATO resume a sua maneira de perceber o fenômeno constitucional e também os “FATORES REAIS DO PODER”. 
A fragilidade dessa visão é que ela só prevê um lado da história, ou seja, os fatos influenciando a formação da norma. Mas sabemos que as normas influenciam os fatos, as normas também são determinantes na formação e na modificação dos fatos. Então a fragilidade da concepção sociológica é compreender o fenômeno jurídico apenas de fora para dentro e não analisar o outro aspecto. 
2)Visão Política de Carl Schmitt -> A constituição deveria representar uma decisão política fundamental, ou seja, só poderia se reconhecer como constituição aquilo que dispusesse sobre assunto essencialmente constitucional. Tudo que não fosse relacionado ao tema essencialmente constitucional seria apenas considerado uma lei constitucional. É como se a decisão política fundamental fosse aquela formada por normas relativas à forma de Estado, de governo, a separação de poderes, ou seja, aquelas normas que formam o arcabouço principal do Estado. Outras normas desprendidas desse grupo principal não seriam consideradas constituição e sim leis constitucionais. Ele previa certa diferença hierárquica entre decisão política fundamental e as chamadas leis constitucionais. 
A fragilidade dessa visão é o que reconhecer como norma essencialmente constitucional? Schmitt traz a semente entre normas materialmente e formalmente constitucionais. Não é fácil com tantas singularidades estabelecer o que é norma essencialmente constitucional para um país e para outro, que tem tantas diferenças culturais. Então a fragilidadedessa interpretação de Schmitt é fazer essa separação entre as normas constitucionais e as leis constitucionais entre normas materialmente e formalmente constitucionais, porque os conceitos mudam de época para época, de povo para povo, de nação para nação. 
A fragilidade é a definição do que é a decisão política fundamental. Quem está legitimado a dizer de verdade o que é a decisão política fundamental? O seu povo, o seu país? Então não há decisões políticas universais? Essa divisão entre o que é materialmente e formalmente constitucional é difícil, ainda mais na atualidade, com tantas culturas e textos constitucionais singulares. 
Podemos resumir a sua maneira de pensar da seguinte forma: Só será considerada constituição aquilo que possui VALOR DE CONSTITUIÇÃO = É A “DECISÃO POLÍTICA FUNDAMENTAL”. 
3)Concepção Jurídica/Positivista/Normativa de Hans Kelsen: “A Teoria Pura do Direito” -> A constituição é um puro dever-ser. É uma norma pura desprovida de influências filosóficas, políticas, históricas. Ela se fundamenta no pressuposto lógico de que toda norma elaborada de acordo com o processo legislativo diferenciado deve ser observada, possui força cogente, imperatividade jurídica. 
Esse dever-ser pode ser entendido no sentido lógico-jurídico, ou seja, a norma fundamental hipotética. Kelsen se apoiava nessa visão da norma fundamental hipotética, já encontrada no topo do ordenamento jurídico. E, além disso, o sentido jurídico-positivo, que é a constituição feita pelo poder constituinte, é a constituição escrita, que fundamenta todo o ordenamento jurídico, se encontrando no topo da pirâmide. 
Na visão do dever-ser da norma imperativa, nesse seu sentido lógico-jurídico, Kelsen sustentava que a base da constituição se daria por meio de uma norma fundamental hipotética, uma norma pressuposta.
E, além disso, no seu sentido jurídico-positivo a constituição seria feita pelo poder constituinte, deveria ser uma norma escrita e que viria a fundamentar todo o ordenamento jurídico nacional, servindo como fundamento jurídico de validade de todas as normas do sistema. 
É como se pudéssemos dizer que essa visão seria um antagonismo à visão de Lassalle, pois para este a constituição é fato, enquanto que para Kelsen a constituição é norma, e não é qualquer norma, ela é uma norma pura, é desprovida de valores, desprovida de conceitos éticos, morais, ela foi criada de acordo com o processo legislativo especial e nasceu para ser imperativa. Os princípios ainda não eram considerados normas, pois traziam uma subjetividade desnecessária e perigosa para o ordenamento jurídico. Princípios eram apenas coadjuvantes das normas, então essa era uma visão muito normativa e positivista de analisar a constituição. 
4)Concepção Culturalista/Total de Meirelles Teixeira -> remete à concepção de constituição total, defendida por Canotilho, que é a que possui todos os aspectos vistos anteriormente: é uma constituição fruto da cultura existente dentro de determinado contexto histórico, de uma determina sociedade, ela é condicionada por essa cultural=, porque o direito é fruto da própria atividade humana. Meirelles Teixeira defende essa concepção e também o José Afonso da Silva – a constituição seria um conjunto de normas fundamentais condicionada pela cultura e ao mesmo tempo condicionantes dela, emanadas da vontade política reguladora da existência, estrutura e fins do Estado. Ou seja, é como se não fosse uma concepção tão autônoma, mas sim uma que se embasa nas concepções anteriores, trazendo um destaque à cultural, a qual influencia o fenômeno constitucional e é claro que a constituição também influencia o fenômeno social – é uma troca entre a cultura e os fatores externos e a própria norma que não pode se distanciar desses fatores externos que também são por elas influenciados. 
5)Concepção Estrutural – Spagna Musso -> a constituição é uma estrutura normativa que deve ser respeitada por toda a sua hierarquia. Ela se preocupa com as normas essenciais estruturantes do nosso Estado e forma essa pirâmide importante que se encontra no topo do ordenamento jurídico. Também é uma visão, de certo modo, mais positivista, lembrando da importância do texto constitucional para a manutenção da própria estrutura normativa do país. 
-CLASSIFICAÇÃO/TIPOLOGIA DO TEXTO CONSTITUCIONAL 
1)QUANTO À ORIGEM:
1.1) Promulgadas -> são as constituições democráticas, são as constituições populares. São aquelas elaboradas de acordo com uma assembleia nacional constituinte composta por representantes do povo. Sempre fizeram parte da história brasileira, se misturando com as constituições outorgadas/impostas. Foram constituições promulgadas as de: 1891 / 1934/ 1946 / 1988. 
1.2)Outorgadas -> são as impostas, autoritárias. Estas constituições não têm base popular, são impostas por ato unilateral de quem nos governa naquela determinada época. Constituições do Império de 1824/ Constituição Polaca de 1937/ e as Constituições do Regime Ditatorial Militar de 1967 e a EC nº01/69. 
A EC nº01/69 praticamente reescreveu o texto da constituição anterior, foi muito além de uma simples reforma constitucional. Hoje, os autores convergem em sua grande maioria no seguinte sentido: esta emenda na sua forma foi uma emenda, mas no seu conteúdo foi uma verdadeira constituição. A Constituição de 69 se deu na forma de emenda e o seu conteúdo era de uma nova constituição. 
1.3)Pactuadas -> é a constituição formada por um pacto entre o soberano e os seus súditos e o grande exemplo na história foi a Carta Magna Libertato, importante documento histórico na defesa de direitos fundamentais, criada na Inglaterra em 1215. O Rei João Sem Terra firmou um documento estabelecendo uma série de direitos e deveres. 
1.4)Cesaristas -> também é chamada de Constituição Mistificada. Não são promulgadas ou outorgadas. São elaboradas pelo ditador, mas são submetidas a plebiscito ou referendo popular, em que o povo não pode fazer reforma a este texto, mas essa manifestação pseudo-democrática é para dar certa legitimidade a esse texto constitucional. José Afonso da Silva cita os plebiscito napoleônicos, os de Pinochet no Chile. Ou seja, são constituições elaboradas por um ato unilateral do ditador que está no poder e o povo confirma por meio de plebiscito ou de referendo essa constituição trazendo uma certa natureza mais democrática a um texto que não nasceu com esse intuito de democratizar. 
2)QUANTO À FORMA:
2.1) Escritas/Instrumentais -> se apresentam desse modo, são constituições que prestigiam a forma. Todo o texto constitucional está reunido em um documento denominado de constituição. É codificada. Todas as constituições brasileiras. 
2.2)Não escritas/Consuetudinárias/Costumeiras -> reconhecem textos escritos como constituição, mas lhes falta essa organização. A constituição não é sistematizada, organizada em um documento único. Inglaterra – Carta Magna de 1215, Bill of Rights – não há uma constituição formal escrita, apresentada dessa forma. Possuem fontes constitucionais espaças, isoladas – tradição, jurisprudência, leis. O que falta é a codificação. 
3)QUANTO À EXTENSÃO:
3.1)Sintéticas/Concisas/Breves -> se preocupam com a estrutura principal do Estado. São constituições com nº inferior de dispositivos e as políticas públicas não se encontram no texto constitucional, elas estão espalhadas no ordenamento jurídico e nas mãos dos governantes. Constituição Norte-Americana, Australiana. 
3.2)Analíticas/Extensas/Prolixas -> possuem maior nº de dispositivos, porque não se limitam a tratar dos assuntos essenciais à constituição do Estado. Possuem no seu bojo normas de conteúdo programático. São normas que não esgotam análise apenas orgânica e estrutural do texto constitucional, são normas que vão além, regulando políticas públicas e sociais. Constituição da Índia, Constituição de 1988. 
4)QUANTO AO CONTEÚDO:
4.1)Materiais -> normalmente são consideradas constituições não escritas. Reconhecem como constitucionais todas as normas, tradições, quer estejam ou não no documento escrito.Se prestigia o conteúdo em detrimento da forma. 
4.2)Formais -> via de regra são constituições escritas. Tudo que está inserido num documento escrito formal é considerado constituição. Não interessa se é uma norma que trata do CPII ou uma norma que trata do direito à vida. Esse formalismo tem diminuído com relação ao art. 5º,§3º da CRFB de 88, que diz que os tratados de direitos humanos aprovados na forma de emenda constitucional serão reconhecidos como constituição, abrindo o leque do que é constituição para o constitucionalismo pátrio. Mas a Constituição de 88 ainda é classificada como constituição formal, escrita, o peso hierárquico dos seus artigos é exatamente o mesmo, não importando sobre o que versam.
5)QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO:
5.1)Dogmáticas/Sistemáticas -> são constituições, via de regra, escritas e representam exatamente o momento político-histórico vivenciado pelo Estado. Constituição do Império de 1824 era repleta de dogmas monárquicos/ Constituição Republicana de 1891 repleta de dogmas republicanos/ Constituição de 1988 repleta de renovação, restauração democráticas. Para que as constituições sejam momentâneas, dogmáticas precisam ser escritas e modificadas cada vez que se muda o cenário do país. É atual. 
5.2)Históricas -> atravessam gerações, não estão preocupadas com determinado momento na vida de um país, estão preocupadas com os seus valores, sua tradição. Constituição Inglesa – material, não escrita, histórica – é mais estável porque atravessa gerações e continua reunindo as tradições de um povo. É atemporal. 
6)QUANTO À ALTERABILIDADE:
6.1)Super Rígidas -> Doutrina Minoritária (Alexandre de Moraes) sustenta que a constituição de 88 não seria apenas rígida, mas sim super rígida em razão das cláusulas pétreas, que são consideradas por este autor como cláusulas de imutabilidade. Art. 60,§4º da CRFB de 88 torna o processo de modificação da constituição ainda mais rigoroso. 
6.2)Rígidas -> só podem ser modificadas por um processo legislativo diferenciado, por um processo muito distinto do que existe para a criação das demais normas do país. O coração da rigidez constitucional hoje está no art. 60 da CRFB de 88, em que encontramos a base do processo dificultoso de criação das emendas constitucionais, que podem modificar o texto da constitucional. OBS.: Não se confunde rigidez com estabilidade -> A constituição brasileira é rígida, mas não é estável, pois já sofreu em 26 anos mais de 80 emendas constitucionais. 
6.3)Fixas -> só pode ser modificada pelo mesmo processo especial que a criou. Só poderia ser alterada pelo poder constituinte originário. É difícil se provocar a todo instante o poder constituinte originário para se modificar essa constituição. Não se tem hoje exemplo no direito comparado de um sistema com constituição fixa. 
6.4)Semi-rígidas -> adota um modelo misto de alteração: parte do texto pode ser alterado facilmente e a outra parte só pode ser alterado por um processo diferenciado. Art. 178 da Constituição de 1824 trazia essa natureza mista, esse processo híbrido e também apontava uma característica de constituição material dizia que tudo aquilo que representasse a decisão política fundamental só poderia ser alterado por meio de um processo legislativo diferenciado e tudo aquilo que não fosse decisão política fundamental poderia ser alterado facilmente. Também é característica de constituição material, porque se divide o conteúdo da constituição. 
6.5)Flexíveis -> pode ser modificada por um processo legislativo simplificado, o mesmo existente para a elaboração das demais normas do país. Não existiu constituição brasileira flexível. 
7)QUANTO À FINALIDADE:
7.1)Dirigentes/Programáticas -> possuem muitas normas de conteúdo programático, diretrizes, metas, programas que devem ser cumpridos pelo poder público e por isso são chamadas também de programáticas. São constituições mais extensas, analíticas e que pretendem resolver o problema do país no texto constitucional. São constituições que normalmente sofrem a síndrome de inefetividade, porque prometem muito, estabelecem muitas diretrizes e nem sempre essas metas e diretrizes acabam se tornando reais. 
7.2)Garantias/Negativas/Liberais -> são constituições menos extensas, que trazem apenas aquele arcabouço do Estado legitimando, limitando a atuação estatal, mas deixam os programas, diretrizes e metas para que sejam decididas pelos governos e não estabelecem no bojo da constituição esta matéria. São constituições mais sintéticas, breves, concisas, porque não estabelecem no seu bojo políticas públicas e sociais. 
8)QUANTO À IDEOLOGIA
8.1)Ortodoxas -> não permite essa pluralidade de ideias. Constituição da China. 
8.2)Ecléticas -> art. 1º,inciso V da CRFB de 88 diz que pluralismo político é um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, ou seja, é uma constituição que permite a pluralidade de ideais, de liberdade. Estão em sua maioria nos países democráticas. 
9)QUANTO À CORRESPONDÊNCIA OU NÃO COM A REALIDADE (CRITÉRIO ONTOLÓGICO)
9.1)Normativas -> elaborada com o objetivo de regular a realidade do país, a vida política do país e conseguiu efetivamente atingir este propósito. Conseguiu corresponder exatamente à realidade. 
9.2)Nominativas/Nominalistas/Nominais -> também foi criada para regular a realidade do país, para estar conectada com as demandas do país, para corresponder a estar realidade, mas ela não conseguiu atingir o seu objetivo ainda.
9.3)Semânticas -> não foi criada com o objetivo de corresponder à realidade do país. É uma constituição mais autoritária, foi criada para reforçar o poder daquele que já estava no comando do Estado. Não nasce para atender a realidade de país algum. 
A divergência é que parte da doutrina classifica a nossa constituição quanto à correspondência ou não com a realidade como uma constituição normativa. A professora entende ser nominativa, pois a nossa constituição apesar de ter feito muitos avanços, ainda não conseguiu corresponder exatamente à realidade do Estado, ela está no caminho, mas ainda não conseguiu atender ainda a toda essa grandiosidade. NA PROVA -> as bancas não têm entrado nesse dilema, então quando essa classificação aparecer é apenas perguntando as diferenças entre as classificações. 
CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DE 1988:
Promulgada
Formal
Escrita
Rígida ou Super-rígida
Analítica
Dogmática
Dirigente 
Eclética
Normativa ou Nominalista
-ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO SEGUNDO JOSÉ AFONSO DA SILVA -> O autor sustenta que a nossa constituição pode ser dividida em alguns elementos:
1)Orgânicos -> são aqueles elementos que se referem à grande estrutura do Estado: forma do Estado, forma de governo, separação de poderes. Elementos relacionados à organização do Estado brasileiro. Estão concentrados nos seguintes dispositivos: artigos do Título I, do Título III, do Título IV da CRFB de 88.
2)Limitativos -> dizem respeito aos nossos direitos e liberdades fundamentais, direitos de 1ª geração, direitos associados à limitação da ação do Estado e direitos que limitam a nossa convivência em sociedade. Estão concentrados no Título II da CRFB de 88 – é dividido em 05 capítulos e os capítulos I, III, IV e V entram nesses elementos limitativos, que trazem os nossos direitos, impondo a limitação do poder do Estado, limites na convivência social. 
3)Sócio-ideológicos -> são aqueles que aproximam o Estado brasileiro do Estado do Bem-Estar Social. São elementos que trazem políticas públicas, prestações positivas por parte do Estado, são elementos formados em sua grande maioria por direitos de 2ª geração - Título II, capítulo II da CRFB de 88, a ordem econômica, a ordem social, Títulos VII e VIII da CRFB de 88. 
4)De estabilização constitucional -> são elementos associados à defesa, à proteção do Estado, à rigidez constitucional. Art. 60, art. 102, inciso I, “a” (ADI), art. 34, inciso VII (intervenção federal), arts. 136 a 141, Título V da CRFB de 88. 
5)Formais de aplicabilidade -> são aquelas normas que se referem à aplicação das leis, como art.5º,§3º da CRFB, algumas disposições do ADCT e o José Afonso da Silva inclui o preâmbulo nessa parte de elemento formal de aplicabilidade. 
-EFICÁCIA/APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 
Paulo Bonavides quando trata desse assunto nos lembra que essa teoria nasce no início do século XX junto com as constituições sociais. Analisar a produção de efeito jurídico das normas constitucionais não foi uma preocupação do século XIX, mas se inicia no século XX, porque as constituições começaram a prometer uma série de direitos que não conseguiam cumprir. As constituições do século XX trouxeram os direitos sociais: saúde, alimentação, moradia, lazer – normas previstas na constituição, mas que não se realizavam apenas com base nessa previsão. Eram normas que sempre precisavam de atuação futura por parte do poder público. 
Quando Tomas Cunley trouxe a sua visão bipartida sobre a eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais já estava analisando as constituições sociais do início do século XX e faz sentido no que tange a direitos fundamentais, que as normas relativas a direitos fundamentais de 1ª geração são self-executing, ou seja, autoaplicáveis, não dependem de atuação nenhuma futura por parte do poder público, nascem produzindo todos os seus efeitos jurídicos, sem possibilidade de restrição infraconstitucional, sem estarem condicionadas à atuação futura por parte do poder público.
Mas as normas no self-executing ou não autoaplicáveis são normas que não se bastam, dependem de atuação futura por parte do poder público e na seara dos direitos fundamentais essas normas não autoaplicáveis são normas relativas a direitos sociais, direitos econômicos, saúde, lazer, alimentação, moradia, previdência. 
Então temos que nos lembrar desse Estado do Bem-Estar Social do início do século XX com também o início da análise sobre a divisão das normas constitucionais quanto à sua eficácia e aplicabilidade. Na década de XX temos esse doutrinador norte-americano.
E na década de 30, Pontes de Miranda no Brasil escreveu sobre as normas bastantes em si e não bastantes em si – normas autoaplicáveis, que desde a sua entrada em vigor produzem seus efeitos jurídicos essenciais e normas não autoaplicáveis, que dependem de atuação futura por parte do poder público. É a teoria bipartida da década de 30. 
Na Itália, na década de 50, com base na doutrina norte-americana da visão bipartida apresentaram as suas noções sobre eficácia e aplicabilidade das leis trazendo um adicional: é possível que as normas autoaplicáveis possam sofrer algum tipo de condicionamento por parte do poder público.
E com base nessa visão tripartida, José Afonso da Silva, em 1968 lançou essa teoria, que é a mais importante para efeitos de prova. Destaca-se que essa teoria não traz nenhum tipo de hierarquia entre as normas da constituição, não se trata de divisão hierárquica, pois isso não existe entre as normas constitucionais. É uma divisão no que tange ao grau de eficácia e aplicabilidade das normas previstas na nossa constituição. Apesar de ser uma divisão tripartida, ela é formada por uma base bipartida, porque as normas constitucionais de eficácia plena e as normas de eficácia contida ou com possibilidade de restrição são normas autoaplicáveis, que desde a sua entrada em vigor produzem os seus efeitos jurídicos essenciais, já as normas de eficácia limitada ou eficácia reduzida dependem de atuação futura por parte do poder público. 
NORMAS DE EFICÁCIA PLENA -> é autoaplicável, tem incidência direta, imediata e integral, pois essa norma não pode sofrer restrição por parte do poder público, é uma norma que se basta. Exemplo: Arts. 1º, 2º, 5º, inciso III, 230,§2º da CRFB. 
NORMAS DE EFICÁCIA CONTIDA -> é tão autoaplicável quando a plena, é uma norma que não precisa de atuação futura por parte do poder pública para produzir efeitos essenciais, é uma norma que produz efeitos desde a sua entrada em vigor, também tem incidência direta e imediata, mas diverge da plena porque não tem aplicação integral, justamente porque pode sofrer restrição por parte do poder público. Exemplo: art. 5º, incisos XIII, XV, art. 93, inciso IX da CRFB. Não cabe Mandado de Injunção para defender a efetividade de uma norma contida, porque ela já possui toda a normatividade que precisa para produzir os seus efeitos jurídicos, mas pode sofrer restrições por parte do poder público e essas restrições já estão autorizadas pelo próprio texto da CRFB. 
NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA LIMITADA ou REDUZIDA -> são tradicionalmente conhecidas como não autoaplicáveis, dependem de atuação futura por parte do poder público para que possam produzir os seus efeitos jurídicos. Não são desprovidos de efeitos jurídicos, não existe norma assim, mas as normas de eficácia limitada precisam mais da atuação do poder público para que possam produzir os seus efeitos, é como se tivessem uma incidência indireta, mediata, não integral. São divididas em dois grupos:
	NORMAS DE EFICÁCIA LIMITADA DE CONTEÚDO PROGRAMÁTICO -> Normalmente tem uma natureza mais social. Exemplo: Art. 187 da CRFB é considerado pelo STF como norma de eficácia limitada de conteúdo programático; art. 196: saúde, direito de todos e dever do Estado deve ser executado mediante programas de políticas entre os governos; art. 205 da CRFB. Essas normas estabelecem programas, metas e diretrizes que devem ser cumpridos no poder público na área da saúde e educação.
	NORMAS DE EFICÁLIA LIMITADA DE CONTEÚDO INSTITUTIVO OU ORGANIZATÓRIO -> Normalmente criam órgãos, funções, institutos que devem ser regulamentados pelo poder público, dependem de atuação futura do poder público para produzirem seus efeitos jurídicos essenciais. Exemplo: art. 112 da CRFB -> a lei criará varas da justiça do trabalho; art. 134,§1º: lei complementar disciplinará a defensoria. 
Não há norma constitucional desprovida de produção de efeitos jurídicos. Todas as normas constitucionais produzem ou mais ou menos efeito jurídico. 
OBS.: EFICÁCIA NEGATIVA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS -> Há uma teoria que sustenta a eficácia negativa de todas as normas constitucionais. Os três efeitos que todas as normas constitucionais, independente dessa classificação de eficácia produzem:
1)Todas servem como parâmetro do controle de constitucionalidade; 
2)Todas servem como parâmetro para recepção e não-recepção das normas anteriores;
3)Todas servem como fonte de interpretação constitucional. 
OBS.: NORMAS COM EFICÁCIA EXAURIDA -> Normas do ADCT – como o ADCT visa em sua grande maioria regular essa passagem entre a constituição antiga e a chegada do novo regime jurídico é muito comum encontrar no ADCT normas que já exauriram os seus efeitos – exemplo: Art. 2º do ADCT -> marcava plebiscito para decidir sobre forma de governo no ano de 93 – o povo já foi nas urnas e decidiu que queria viver num regime republicano e presidencialista – essa norma já exauriu os seus efeitos. / Art. 11, caput: as constituições estaduais deveriam ser promulgadas em 01 ano contado da promulgação da constituição maior – todas as constituições estaduais foram promulgadas, sendo uma norma que também já produziu seus efeitos jurídicos. 
-PODER CONSTITUINTE 
Paulo Bonavides diz que não podemos confundir PODER CONSTITUINTE com a TEORIA DO PODER CONSTITUINTE. 
O PODER CONSTIUINTE sempre existiu. Já a TEORIA DO PODER CONSTITUINTE é uma teoria mais recente, é do século XVIII. O poder esteve durante muitos anos nas mãos do rei que não fazia nada de errado, pois prestava contas a Deus que sempre o absolvia. Na passagem do Estado Absolutista para o Estado do Direito veio a TEORIA DO PODER CONSTITUINTE, tentando legitimar o poder, colocando o poder nas mãos do povo e sedimentando esse poder, formalizando esse poder numa Constituição, que representasse a vontade da nação.
Na França, no século XVIII, existia uma sociedade completamente estratificada e dividida entre 03 estados: 1º e 2º estados formados pelo clero e pela nobreza e a o 3º estado formado pela burguesia (alta, média e baixa), proletariados e desempregados.O 1º e o 2º estados em conjunto formavam 2% da população francesa e o 3º estado por sua vez representava 98% da população francesa. Esse 3º estado não tinha direito a decisão política alguma, porque o poder político estava concentrado apenas nas mãos de 2º da população francesa. Estávamos no século das luzes, do iluminismo e em 1788 o Abade acaba apresentando o Manifesto ao 3º estado, em que se encontravam sementes revolucionárias expondo que o 3º estado não representava nada, mas que queria passar a representar tudo, tendo direito de representação política. Esse documento acabou fazendo com que a primeira constituição francesa de 1791 fosse de fato elaborada pela vontade de uma assembleia nacional constituinte, representando a vontade da nação. Ele sustentava que o centro de decisões do Estado não poderia ter como base apenas um grupo de pessoas, é como se o poder precisasse representar a vontade da nação e essa vontade da nação foi consubstanciada por meio da Constituição Francesa de 1791. 
Podemos dizer que em termos históricos essa TEORIA DO PODER CONSTITUINTE pretendeu restaurar a legitimidade do poder político na França e de lá para o mundo. É a teoria que veio no momento de mudança do estado absolutista e o estado de direito. É uma teoria que pretendeu colocar nas mãos de um documento, da Constituição, o poder central, o poder político principal de um determinado Estado. 
De 1788 para cá, muita coisa mudou e se fala de PODER CONSTITUINTE hoje com conceito um pouco mais abrangente. O PODER CONSTITUINTE como se dá hoje é o responsável pela formação de uma nova constituição; é o poder responsável pelas reformas que essa constituição vai sofrer ao longo da sua vida, porque constituição sem mecanismo de reforma já nasce morta; e é o poder responsável nos estados federativos pela criação das constituições estaduais. 
Essa constituição nova formada precisa ser democrática? O entendimento majoritário é que a manifestação desse poder criador ainda quando estamos diante de uma constituição autoritária, o ideal é que o poder constituinte originário seja sempre um poder democrático, popular, mas quando há criação de uma nova constituição há uma manifestação do poder constituinte originário não importando se esse poder foi fundamentado por um movimento democrático ou por um movimento ditatorial. 
	
ESPÉCIES DE PODER:
PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO (PCO) ou DE 1º GRAU -> é o responsável pela criação de uma nova constituição. O seu fruto é justamente a Constituição. 
Esse poder constituinte originário exaure a sua força quando da criação da Constituição? Ministro Gilmar Mendes tem uma teoria: para ele o poder constituinte originário não se esgota com a chegada de uma nova constituição, ele é mantido, é um poder latente, está sempre pronto para se manifestar, sendo um poder de natureza permanente, que não exaure com a criação de uma nova constituição.
Natureza Jurídica do PCO 
É um PODER DE FATO na visão juspositivista -> o poder constituinte originário é um poder que se legitima no seu poder de criação e é um poder que não tem como base limites na ordem sociológica, histórica, filosófica, jurídica anterior. É um poder inicial, inaugura a nova ordem jurídica e não depende de fatores anteriores. É um poder que se legitima no seu próprio poder de formação, é um PODER DE FATO que se legitima em si mesmo. 
É um PODER DE DIREITO na visão jusnaturalista -> é aquele que sustenta que há valores superiores que antecedem a própria existência da lei e da norma e que a norma não pode se desvincular desses valores – valores como a vida, liberdade, igualdade. Enquanto nós encontramos na defesa do poder de fato uma ilimitação jurídica, nós encontramos no poder de direito uma limitação nas normas metajurídicas, calcada em direito natural.
Qual é a adotada no Brasil? A teoria juspositivista já esteve em voga durante muito tempo. Fomos mais influenciados pela teoria do poder de fato. Mas ambas são importantes para conhecermos um pouco mais da base do poder constituinte originário, o poder criador, que vai servir como base para a criação das demais normas jurídicas do Estado.
Titularidade X Exercício do PCO
Art. 1º, parágrafo único da CRFB: “todo poder emana do povo, que o exercerá diretamente ou por meio dos seus representantes eleitos nos termos da constituição”. Daí extraímos que o titular do poder é o povo e que o exercício desse poder pode ser direto ou indireto. É o PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO – numa democracia o poder está nas mãos do povo, ainda que este povo não o exerça de forma direta. O poder é exercido diretamente quando o povo não precisa de representantes para se manifestar, é quando participa de plebiscitos e referendos, é quando ajuíza uma ação popular, mas na grane maioria das vezes o exercício desse poder é feito de forma indireta por nossos representantes, ou seja, por aqueles que em nosso nome deveriam sempre manifestar a nossa vontade pela evolução e desenvolvimento do país. 
PODER CONSTITUINTE DERIVADO (PCD) ou INSTITUÍDO ou CONSTITUÍDO ou DE 2º GRAU -> se manifesta de duas maneiras:
Reformador – art. 60 da CRFB. 
Decorrente – art. 11 do ADCT. 
Criação de uma CRFB sem mecanismo de reforma é arriscado, porque só vai produzir efeitos por um tempo determinado. O primeiro governante que chegar no poder e não conseguir alterá-la vai jogá-la fora e produzir uma nova. Mas muitos Estados não possuem manifestação federativa ATENÇÃO! Nos Estados Federativos esse poder também é responsável pela criação das Constituições Estaduais e reformas que estas constituições estaduais venham a sofrer. 
Nos Estados Unitários (França, Portugal, Itália, Uruguai, Chile) não há manifestação desse poder constituinte derivado decorrente. Só tem o poder de formação da constituição central e não das constituições parciais. Então essa é uma MANIFESTAÇÃO TÍPICA DE ESTADOS FEDERATIVOS.
Esse poder de 1º grau faz surgir um poder de segundo grau: poder constituinte derivado (poder constituído ou instituído) – a CRFB quando surge precisa ser modificada eventualmente e para reforçar a autonomia e a auto-organização dos Estados Membros é preciso também que eles possam criar as suas constituições. Esse poder de 2º grau se manifesta de acordo com a reforma constitucional – PODER REFORMADOR e PODER DECORRENTE. Esse poder é TÍPICO DAS FEDERAÇÕES. 
O PCD não possui as características de inovação jurídica do PCO. O PCO é um poder inicial, porque inaugura uma nova constituição, um novo ordenamento jurídico, que vai sedimentar o arcabouço normativo do país. 
Já o PCD é um poder subordinado, porque ele está abaixo do poder originário – emendas constitucionais podem ser declaradas inconstitucionais; constituições estaduais e emendas a estas podem ser consideradas inconstitucionais. O PCD está HIERARQUICAMENTE ABAIXO DO PCO, por isso é subordinado.
O PCO é incondicionado – em termos de forma não há um processo estabelecido para a sua manifestação. Ele não é condicionado a nenhuma forma prefixada. Já tivemos manifestação de PCO de diversas formas: o ato que convocou uma assembleia nacional constituinte para a elaboração da nossa constituição anterior foi uma emenda, então não há uma forma prefixada para a sua manifestação.
Já o PCD é um poder condicionado – há forma predefinida para sua manifestação. Para aprovar uma emenda há necessidade de votação de dois turnos de cada casa do CN e em cada um desses turnos a emenda precisa receber 3/5 dos votos dos respectivos membros. Com relação à Constituição Estadual ela não passa pela sanção ou veto do governador, então há forma predefinida para sua manifestação.
Em termos materiais o PCO é considerado ilimitado juridicamente e em termos metajurídicos: 
É ilimitado em termos jurídicos positivos, porque o PCO não precisa respeitar o direito anterior, juridicamente ele é ilimitado. 
Em termos metajurídicos com a base jusnaturalista não se sustenta que o PCO é um poder completamente livre, uma vez que deve respeito aos valores superiores à própria existência humana, a esses valores no direitonatural. 
Com isso pergunta-se: pode uma nova constituição estabelecer pena de morte para quem cometer crime hediondo? De acordo com o viés estritamente positivista, pode. Mas se você trouxer uma base mais jusnaturalista vai responder com base no princípio da vedação ao retrocesso, os direitos fundamentais devem seguir um caminho de progresso e não de retrocesso, então a pena de morte não poderia ser reinserida de acordo com essa visão. 
O PCD em termos materiais é um poder limitado – com relação às emendas constitucionais existem as cláusulas pétreas que são enfrentadas pelo poder reformador. O art. 60,§4º diz que não será sequer objeto de deliberação proposta de emenda tendentes a abolir a federação, o voto secreto, direto, universal, periódico, a separação dos poderes, os direitos e garantidas individuais. O art. 11 do ADCT diz que a CE precisa seguir os princípios estabelecidos na CRFB, então há condicionamentos, limitações, subordinações para todas as manifestações do PCD.
E o PCO como é uma manifestação criadora não pode sofrer dessa forma as limitações, pois precisa de liberdade jurídica suficiente para se manifestar, para romper com o estado anterior, para criar um novo regime jurídico. 
OBS.: PODER CONSTITUINTE DIFUSO – GEORGES BURDEAU = MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL/ TRANSIÇÃO CONSTITUCIONAL/ MUDANÇA INFORMAL DA CONSTIUIÇÃO -> É o poder amplo, espalhado na sociedade, que permite as alterações não formais da constituição (que só pode ser feita por meio de emenda), mas o poder constituinte difuso permite as mudanças informais da constituição. É como se fosse a releitura do texto constitucional à luz dos novos fatos, da nova sociedade, das novas influências. É aquela constituição aberta, que dialoga com a sociedade. É uma manifestação aberta de alteração do sentido da constituição, é alteração de sentido e de concepção sem alteração formal do texto.
OBS.: PODER CONSTITUINTE SUPRANACIONAL -> Em 1945 teve o fim da 2ª GM – morte e renascimento. Até 1945, se falava que o sujeito era sujeito de direitos apenas no plano nacional; e se falava em soberania estatal praticamente absoluta – os Estados podiam fazer o que queriam com o seu povo, não havia um sistema internacional de proteção. Depois veio a guerra e o ano de 1945 marca um novo momento, marca a VIRADA KANTIANA – Kant dizia que a única e verdadeira razão de ser do Estado era a defesa do indivíduo, era a preocupação com o sujeito, com o povo. A partir de 1945 nasce esse sistema normativo internacional, impulsionado pelo final da 2ª GM e a vontade de fazer uma nova história da humanidade, com maior segurança e com paz. O indivíduo deixa de ser sujeito apenas no plano nacional e passa a ser considerado sujeito de direitos no plano internacional. O conceito de soberania estatal, que até 45 era considerado absoluto, e a soberania passa a ser compreendida de forma relativa. 
Quando o indivíduo passa a ser sujeito no plano internacional, não falamos apenas em poder constituinte nacional, mas num poder político no plano internacional e nós somos também sujeitos de direitos não apenas no Brasil, mas onde quer que estejamos no cenário internacional. Essa expressão PODER CONSTITUINTE SUPRANACIONAL, ou seja ACIMA DO ESTADO, está associado a esse momento de VIRADA KANTIANA, à luz do PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA que aconteceu com o final da 2ª GM. É aquele que com a virada kantiana de 1945 acabou permitindo que o indivíduo fosse reconhecido como sujeito de direitos no ambiente extra-estado, fora do território nacional, o que acaba ampliando a sua tutela. 
OBS.: LEIS ORGÂNICAS DO MUNICÍPIO E DO DF -> O federalismo brasileiro é um federalismo diferencial, de DF, de municípios e para reforçar a autonomia do DF e dos Municípios, a CRFB estabelece a criação da sua lei orgânica. 
Lei Orgânica do DF – art. 32 da CRFB: “O DF, vedada a sua divisão em municípios, se regerá por lei orgânica votada em dois turnos com interstício mínimo de dez dias, e aprovada por 2/3 da Câmara Legislativa, que a promulgará atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição”. 
O DF é um ente normativo anômalo. O DF possui capacidade legislativa tanto de Estado quanto de Município. Essa lei orgânica é ou não declaração de PCD? Literalmente, a lei orgânica do DF não é uma manifestação de PCD decorrente, porque a CRFB de 88 não estabeleceu dessa forma – no art. 32 da CRFB não há previsão expressa nesse sentido. 
Diferentemente do art. 11 do ADCT com relação às Constituições Estaduais diz que “Cada Assembleia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no prazo de um ano, contado da promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princípios desta”. Literalmente, a nossa CRFB estabeleceu poderes constituintes para a Assembleia Legislativa do Estado, o que não fez literalmente para o DF. 
Supremo foi encontrando alguns problemas com relação a este aspecto. A LO do DF dispõe sobre matéria estadual e municipal e a única norma de auto-organização que o DF possui, é a única norma que reforça a sua autonomia e independência. E o Supremo foi instado a dizer que a LO do DF é manifestação de poder político para servir como parâmetro do controle de constitucionalidade ou não? O Supremo diz que sim – a LO do DF se assemelha à CE na sua força política e por isso serve como parâmetro do controle.
Ao reconhecer que a LO do DF é a manifestação do poder político suficiente para servir como parâmetro do controle, a nossa conclusão é favorável a tese de que a LO do DF numa interpretação seria manifestação de PCD decorrente. A doutrina é muito favorável a essa tese. O PCD decorrente ainda que não esteja literalmente previsto na CRFB para o DF, na interpretação doutrinária e do próprio Supremo seria sim manifestação de poder.
Embora a CRFB não diga expressamente que a Câmara Legislativa do DF detem poderes constituintes derivados decorrentes, a tendência é nesse sentido, pois o STF confirmou o entendimento que a LO do DF tem status de constituição estadual, tanto que serve como parâmetro do controle concentrado do DF. Expressamente o constituinte originário não atribui à Câmara Legislativa do DF poderes constituintes que foram atribuídos à Assembleia Legislativa do Estado na forma do art. 11 do ADCT. É uma interpretração jurisprudencial, em reforço inclusive à própria autonomia do DF. 
Lei Orgânica do Município – aqui nem expressamente e nem no plano jurisprudencial se garante a manifestação de poder constituinte derivado decorrente. A LO é um ato normativo primário, extraído diretamente da CRFB, mas que não serve como parâmetro de controle de constitucionalidade algum. Então vem prevalecendo o entendimento de que a LO do Município não é manifestação de poder constituinte derivado decorrente. Não existe essa previsão nem na CRFB tampouco na jurisprudência do STF. 
Isso se deve aos seguintes argumentos: para o STF, a LO é uma espécie normativa, não há entre a LO do Município e as leis municipais uma relação de hierarquia. Então quando houver conflito entre uma LO e uma lei municipal esse conflito será resolvido à luz do direito aplicado, será feito um controle de legalidade e não de constitucionalidade. 
O entendimento majoritário é no sentido que a LO do Município é ato normativo primário extraído diretamente da CRFB, mas que não serve como parâmetro de constitucionalidade algum. Eventuais desencontros entre a lei municipal e a LO do próprio município são resolvidos por meio do direito aplicado à luz do controle de legalidade e não de constitucionalidade.
O art. 11, parágrafo único do ADCT ainda dispõe que a LO do Município deverá ser elaborada de acordo com os princípios previstos na CRFB e também na CE. Então como já há controle no plano concentrado federal e no âmbito estadual, controle difuso no plano federal e estadual, não haveria necessidade de mais um controle de constitucionalidade, porque normalmente lei municipal que viola LO do próprio Município ou viola também a CE e/ou a CRFB e á existem instrumentos suficientes de fiscalizaçãodessa lei no nosso ordenamento jurídico.
Com relação aos Territórios – hoje não há território no país, mas é perfeitamente possível a sua criação – art. 18,§2º e §3º da CRFB determina que é perfeitamente possível a criação de novos territórios no país. O art. 33 da CRFB diz que se os territórios forem criados, poderão ser divididos em municípios. 
Existe poder constituinte derivado decorrente nos Territórios? Não, porque os Territórios são autarquias federais, são descentralizações político administrativas da União, então o Território não é detentor de autonomia, de capacidade de auto-organização e não há manifestação de poder constituinte derivado decorrente. 
-CONSTITUIÇÃO COLABORATIVA DA ISLÂNDIA -> A carta constitucional atual da Islândia é de 1944, ano em que a Islândia conquistou a independência da Dinamarca. Essa constituição é praticamente uma cópia da constituição dinamarquesa, basicamente alterando apenas a palavra “rei” por “presidente”, causando descontentamento aos moradores da Islândia. Com isso, o governo da Islândia resolveu começar a construção de uma constituição com base nas opiniões e sugestões populares e se utilizando das redes sociais para obter esse sentimento popular na construção da constituição. A população da Islândia participou do processo de formação da constituição de forma eletrônica – uma constituição colaborativa com participação do povo por meio das redes sociais. Essa é uma grande inovação e até mesmo um novo sentido para a democracia. A constituição ainda não está em vigor, porque precisa de aprovação dupla por parte do parlamento da Islândia, mas ela já se apresenta como um modelo constitucional diferente, se utilizando da rede social para a troca de várias informações e para a construção da lei maior de determinado Estado. O povo ajudou muito com relação aos direitos e garantias fundamentais e com as limitações do Estado com relação à vida do indivíduo. 
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Aula 2 – Rio, 27.07.15
PODER REFORMADOR
Art. 60 da CRFB, que também é o núcleo da rigidez constitucional e desse art. 60 extraímos as emendas constitucionais elaboradas com base no próprio art. 60 e as emendas de revisão elaboradas com base no art. 3º do ADCT. As emendas constitucionais e as de revisão são ESPÉCIES do poder constituinte derivado reformador. O poder constituinte derivado é um poder subordinado, é um poder limitado, condicionado. 
Se analisarmos o art. 2º do ADCT encontramos a determinação de um plebiscito que seria feito 05 anos após a promulgação da nossa CRFB, em 1993, para que o povo decidisse se queria viver num país republicano presidencialista, monarquista ou parlamentar presidencialista. O art. 3º do ADCT designou uma revisão constitucional também 05 anos após a promulgação da nossa CRFB para fazer algumas alterações que fossem necessárias ao texto. Muitos autores entendem que os arts. 2º e 3º estariam relacionados historicamente. 
Como não se chegava a um acordo sobre qual deveria ser a forma de governo estabelecida, se marcou o plebiscito para que o povo decidisse e caso o povo optasse pela monarquia ou o parlamentarismo, deveria se ter uma reforma constitucional mais ampla. Reformas constitucionais mais amplas não podem ser feitas pela emenda constitucional, pois esta é pontual e específica, altera pontos específicos na constituição, ela não faz alterações globais, por isso importamos do direito lusitano essa revisão constitucional.
Acontece que no ano de 93 quando o povo foi submetido ao plebiscito, decidiu que queria viver num país republicano e presidencialista, ou seja, só fez ratificar a vontade do constituinte originário de 88. O tempo passou e logo depois veio a promulgação de uma resolução nº 01 do CN, abrindo os trabalhos para a revisão da constituição. E aí logo foi proposta a ADI 981 contra a resolução do CN que abria os trabalhos da revisão constitucional. Naquele julgamento o Supremo estabeleceu algumas regras muito específicas com relação à revisão:
A revisão é uma espécie de manifestação do poder reformador. Então, enquanto não encontrar limitações no seu próprio art. 3º do ADCT, nós aplicamos as limitações do próprio art. 60 – Exemplo: Art. 3º do ADCT não estabelece nenhum tipo de cláusula pétrea – poderia a época a emenda revisional alterar o art. 60, abolindo a uma das cláusulas pétreas? Não! Isso seria inconstitucional, porque as limitações materiais do art. 60,§4º da CRFB também se estendem às emendas de revisão, segundo o STF. 
Além disso, os constituintes não inseriram no ordenamento uma revisão definitiva, se estabeleceu apenas uma revisão, ou seja, após 05 anos contados da promulgação da constituição só seria possível realizar uma revisão e não sempre que possível várias revisões – se estabeleceu o marco do ano de 94 para a revisão constitucional. Foram feitas 06 emendas de revisão apenas. Hoje, não é mais possível que ocorra revisão constitucional, pois o Supremo estabeleceu que as emendas revisionais deveriam ocorrer no ano de 94, não existindo no país a revisão de tempos em tempos, porque nós adotamos apenas 01 revisão da nossa CRFB. 
O STF acaba com a possibilidade de manifestação desse poder revisional a partir daí. E a CRFB só pode ser alterado por meio de emendas constitucionais, elaboradas de acordo com o art. 60 da CRFB. Esse poder reformador se manifesta hoje por meio das emendas constitucionais, mas já se manifestou no passado por meio das emendas de revisão, com base no art. 3º do ADCT, e desde então não se permite as emendas de revisão, só podendo a nossa CRFB ser alterada por meio das emendas constitucionais elaboradas de acordo com o art. 60.
-LIMITAÇÕES ENFRENTADAS PELO PODER REFORMADOR DO ART. 60 DA CRFB -> Para defender o ordenamento jurídico é indispensável que a emenda respeite uma série de limites. As limitações enfrentadas pelas emendas – art. 60: 
1)LIMITAÇÃO TEMPORAL -> consiste na proibição de reforma de determinado dispositivo ou de toda a CRFB durante determinado período. Tal limitação foi enfrentada pela Constituição Imperial de 1824, que no seu art. 174 dizia que durante 04 anos contados da outorga da constituição, ela não poderia sofrer reforma. Ao analisar o art. 60 da CRFB não há nenhuma disposição que impeça a emenda de alterar o texto durante um determinado período na vida do Estado com relação à dia, meses e anos. Segundo a doutrina majoritária não há limitação temporal ao poder reformador. A doutrina entende que como no art. 60 não há nenhuma referência a dias, meses, anos nos quais não se podem alterar o texto da CRFB, não há limitação temporal ao poder reformador. 
ATENÇÃO! RE 587.008 -> STF, de forma equivocada, estabeleceu que o art. 60,§5º da CRFB seria uma manifestação de limite temporal. Para a DOUTRINA MAJORITÁRIA não há limitação temporal ao poder reformador. Mas se a questão quiser colocar alguma pegadinha e disse que segundo a jurisprudência do STF o art. 60,§5º configura um limite temporal ao poder reformador a questão está correta com base neste recurso extraordinário. O STF decidiu neste julgado que a matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa, entendo neste caso ser esta uma limitação temporal ao poder reformador. 
2)LIMITAÇÕES CIRCUNSTANCIAIS -> art. 60,§1º da CRFB diz que as emendas não podem ser promulgadas durante o estado de defesa, estado de sítio (com base nos arts. 136 a 141 da CRFB) e intervenção federal (com base nos arts. 34 a 36). Essas três hipóteses são de crise, situação de legalidade extraordinária e aí a CRFB se auto-protege: durante estas situações inusitadas de crise, não é possível se alterar o texto constitucional. 
É possível apresentar uma PEC nestas condições? Os limites verdadeiros enfrentados por este art. 60,§1º:
Os atos principais do processo legislativo de criação da emenda: Iniciativa / Discussão / Votação / Promulgação / Publicação. E aí vem o estado de defesa, estado de sítio (com base nos arts. 136 a 141 da CRFB) e intervençãofederal (com base nos arts. 34 a 36). De acordo com a doutrina, nada impede que se apresente uma PEC durante a intervenção federal, estado de sítio e estado de defesa, mas não é possível votar, promulgar e nem publicar. Apresentar a PEC e discutir nas comissões do CN também durante estas situações de emergência não tem problema. O primeiro ato do processo legislativo proibido segundo a interpretação do art. 60,§1º é o ato da votação. 
E se já houver iniciado o processo de votação e se decreta a intervenção federal após se aprovar a PEC em 1º turno? Aí o processo fica suspenso. Ela só vai passar pelo segundo turno de votação após essas situações emergenciais estarem cessadas. 
3)LIMITAÇÕES FORMAIS -> art. 60, incisos I, II e III: rol de apresentação da PEC; §2º: votação da PEC; §3º: ausência de sanção ou veto; §5º: impossibilidade de reapresentação de PEC rejeitada na mesma sessão legislativa em que ocorreu a sua rejeição.
3.1) INICIATIVA: consiste com a apresentação da proposta de emenda. Essa iniciativa é taxativa, o rol de legitimados ativos é um rol taxativo. 
Existe iniciativa popular para apresentação da PEC? José Afonso da Silva e outros defendem que o povo poderia, com base na aplicação do art. 60,§1º que prevê iniciativa popular de LO e LC, apresentar uma proposta de emenda, mas não é essa a visão principal dos nossos tribunais e a doutrina majoritária também não entende dessa forma. O art. 60, incisos I, II e III configura um rol taxativo e não há iniciativa popular de apresentação de PEC. 
As únicas autoridades que podem apresentar proposta de emenda à constituição são: 1/3 dos membros da Câmara dos Deputados ou 1/3 dos membros do Senado Federal, o Presidente da República e mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação.
São 513 deputados federais (1/3 = 171); 81 senadores (1/3 = 27) – esse quórum deve ser observado, é um quórum mínimo. Qualquer tipo de composição entre estes legitimados é permitida, porque essa é uma iniciativa de natureza concorrente, ou seja, deputados podem apresentar a PEC em conjunto com senadores e presidente, ou então o presidente pode apresentar sozinho. 
E genericamente nós aplicamos com relação à casa iniciadora a regra do art. 64, caput da CRFB: na grande maioria das vezes a proposta de emenda à constituição começa a tramitar na câmara dos deputados e não no senado. Se os senadores deflagrarem o processo de reforma ficam com o papel de casa iniciadora e a câmara deverá analisar a proposta por uma segunda vez.
3.2) VOTAÇÃO – art. 60,§2º: Após a apresentação da PEC, análise das comissões no CN, ela pode vir a ser submetida à votação – art. 60,§2º traz esse núcleo da rigidez constitucional, informando que a PEC precisa passar por dois turnos de votação em cada casa do CN e em cada um desses turnos receber 3/5 dos votos. Não há sessão conjunta para aprovação da PEC – a PEC passa por uma casa e se for aprovada em dois turnos na primeira casa por 3/5 dos votos (quórum qualificado) vai passar por mais dois turnos de votação na segunda casa. 
3.3)AUSÊNCIA DE SANÇÃO OU VETO – art. 60, §3º: No processo legislativo comum da LO e LC, depois de esgotado o processo no âmbito legislativo os projetos de lei seguem para sanção ou veto do presidente da república. Mas aqui, no processo de elaboração da EC é diferente. Na forma do art. 60,§3º uma vez aprovada a PEC em dois turnos de votação em cada casa por 3/5 ela já será promulgadas pelas mesas da Câmara e do Senado, não havendo sanção ou veto no processo de criação das emendas. Não há sanção ou veto do presidente da república no processo de elaboração das EC. 
OBS.: A promulgação não é pela mesa do CN, porque as casas atuam separadamente, então a promulgação se dá com a assinatura dos membros da câmara e com a assinatura dos membros do senado. 
3.4)Art. 60, §5º: A PEC rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser reapresentada na mesma sessão legislativa em que ocorreu essa rejeição ou prejuízo. 
Sessão legislativa é diferente de legislatura. Qual é a diferença entre sessão legislativa e legislatura? Sessão legislativa é o período anual de trabalho dos legisladores na forma do art. 57 da CRFB, que se inicia no dia 02 de fevereiro e vai até 17 de julho, tendo recesso até 01 de agosto e aí trabalham até 22 de dezembro (períodos ordinários de trabalho legislativo) e se houver necessidade de convocação durante o recesso, será para participação em uma sessão extraordinária. Se a PEC for rejeitada no dia 03/02/2015 ou qualquer outro mês de 2015, ela só pode ser reapresentada a partir de 02/02/2016, porque não interessa se ela foi rejeitada numa sessão ordinária ou extraordinária, mas ela só pode ser reapresentada numa sessão legislativa distinta. 
OBS.: Aqui não se aplica o art. 67 da CRFB que diz que projetos de lei rejeitados só podem ser reapresentados numa sessão legislativa seguinte, salvo se houver manifestação da maioria absoluta dos membros de quaisquer da casa no sentido de apresentação do projeto naquela mesma sessão. Este artigo não se aplica com relação à emenda constitucional.
A diferença entre a PEC ser rejeitada e prejudicada é a seguinte: a PEC é rejeitada por algum vício formal, ela não conseguiu quórum para ser aprovada; PEC prejudicada é aquela com vício no objeto, no tema – tramita ao mesmo tempo várias matérias sobre o mesmo assunto, versando sobre ele de forma distinta e quando se aprova a primeira emenda, a segunda com o mesmo tema fica prejudicada em razão do seu objeto e só pode vir a ser apresentada novamente em sessão legislativa distinta daquela em que sofreu o prejuízo, por conta da segurança jurídica. 
A legislatura é o período de mandato, composta por 04 anos na forma do art. 44, parágrafo único da CRFB. A PEC pode ser rejeitada e prejudicada na mesma legislatura, desde que em sessões legislativas distintas. 
OBS.: DECISÕES IMPORTANTES DO STF SOBRE O TEMA: 
"Processo de reforma da Constituição estadual – Necessária observância dos requisitos estabelecidos na CF (art. 60, § 1º a § 5º) – Impossibilidade constitucional de o Estado-membro, em divergência com o modelo inscrito na Lei Fundamental da República, condicionar a reforma da Constituição estadual à aprovação da respectiva proposta por 4/5 da totalidade dos membros integrantes da Assembleia Legislativa – Exigência que virtualmente esteriliza o exercício da função reformadora pelo Poder Legislativo local. A questão da autonomia dos Estados membros (CF, art. 25) – Subordinação jurídica do poder constituinte decorrente às limitações que o órgão investido de funções constituintes primárias ou originárias estabeleceu no texto da Constituição da República (...)." (ADI 486, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 3-4-1997, Plenário, DJ de 10-11-2006).
Isso tornaria quase inviável o processo de reforma da CE. Isso tornaria a CE praticamente imutável, então o Supremo reforça que os limites circunstanciais, formais e materiais aplicados no modelo federal à emenda da CRFB também se estendem em nome da preservação do próprio pacto federativo à CE. O Supremo não taxou o art. 60, incisos I, II e III como de observância obrigatório, então com relação ao rol de legitimados ativos para apresentar PEC é possível, eventualmente, ter alguma mudança ou inovação no plano estadual, mas todos os limites circunstanciais, formais e materiais se aplicam no âmbito estadual. 
“Não precisa ser reapreciada pela Câmara dos Deputados expressão suprimida pelo Senado Federal em texto de projeto que, na redação remanescente, aprovada de ambas as Casas do Congresso, não perdeu sentido normativo.” (ADI 3.367, Rel. Min.Cezar Peluso, julgamento em 13-4-2005, Plenário, DJ de 22-9-2006.) No mesmo sentido: ADI 2.666, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 3-10-2002, Plenário, DJde 6- 12-2002. 
Essa tem sido uma tendência do STf para tentar desburocratizar um pouco o processo legislativo que é lento e que não satisfaz a sociedade, então se a casa revisora resolver suprimir uma palavra que não traga nenhuma alteração no sentido normativo do textoda PEC, se for uma alteração apenas redacional não há necessidade de submeter essa proposta novamente aos turnos de votação pela casa iniciadora, ela já pode ser promulgada pelas duas mesas do CN. 
"O STF admite a legitimidade do parlamentar – e somente do parlamentar – para impetrar mandado de segurança com a finalidade de coibir atos praticados no processo de aprovação de lei ou emenda constitucional incompatíveis com disposições constitucionais que disciplinam o processo legislativo. Precedentes do STF: MS 20.257/DF, Min. Moreira Alves (leading case) (RTJ 99/1031); MS 20.452/DF, Min. Aldir Passarinho (RTJ 116/47); MS 21.642/DF, Min. Celso de Mello (RDA191/200); MS 24.645/DF, Min. Celso de Mello, DJ de 15-9-2003; MS 24.593/DF, Min. Maurício Corrêa, DJ de 8-8- 2003; MS 24.576/DF, Min. Ellen Gracie, DJ de 12-9-2003;MS 24.356/DF, Min. Carlos Velloso, DJ de 12-9-2003". (MS 24.667-AgR, Rel. Min.Carlos Velloso, julgamento em 4- 12-2003, Plenário, DJ de 23-4-2004).
No Informativo 711, julgamento do MS 32.033 temos a visão atual do STF sobre esse tipo de controle: parlamentar possui direito líquido e certo de somente participar de processo legislativo constitucional, então ao verificar que há inobservância do processo legislativo, o parlamentar pode impetrar MS num verdadeiro exemplo de controle preventivo concreto incidental difuso de constitucionalidade. A legitimidade é apenas do parlamentar e no julgamento desse MS 32.033 o STF estabeleceu algumas regras: projetos de leis podem ser questionados apenas sob o ângulo formal, ou seja, quando houver alguma inobservância do processo de sua própria formação e as PECs podem ser analisadas sob o ângulo formal e também material, porque o art. 60,§4º diz que não será sequer objeto de deliberação proposta de emenda tendente a abolir – o constituinte trouxe o impedimento de que se permita a deliberação sobre uma PEC tendente a abolir e por isso as PECS também podem ser questionadas sob o ângulo material. 
Projetos de leis ordinárias e complementares podem ser analisadas sob o ângulo formal;
Proposta de emenda constitucional pode ser analisada sob o ângulo formal e também material.
O direito líquido e certo aqui discutido é o de participar somente de processo legislativo idôneo, compatível com a CRFB, daí a analise do aspecto formal. O que justifica a PEC ser analisada também o ângulo material é a redação do art. 60,§4º da CRFB, que diz que não será sequer objeto de deliberação proposta de emenda tendente a abolir as cláusulas pétreas. 
OBS.: No Brasil, não se adota controle preventivo abstrato judicial de constitucionalidade. O controle preventivo judicial existente por meio do MS é um controle concreto, no bojo de uma situação real, qual seja a de um parlamentar ser obrigado a participar de um processo legislativo que não está em harmonia com a CRFB. 
4)LIMITAÇÕES MATERIAIS – (A) CLÁUSULAS PÉTREAS – limitações materiais explícitas – art. 60,§4º -> desde a constituição republicana de 1891, as constituições brasileiras estabeleceram essa redação com relação ao art. 60,§4º: não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: a forma federativa de Estado, o voto direto, secreto, universal e periódico, a separação dos poderes e os direitos e as garantias individuais. 
Tendente a abolir significa que uma PEC que pretende extrair um desses incisos do art. 60,§4º é completamente inconstitucional. Mas não é inconstitucional apenas a proposta que claramente diz que aquela cláusula será abolida – aquela que de algum modo se encaminhe nesse sentido também não poderá ser admitida. Qualquer proposta que pretenda restringir esse núcleo essencial do art. 60,§4º deve ser rechaçada, não pode ser aprovada pelos membros do CN. 
4.1) A FORMA FEDERATIVA DO ESTADO – art. 1º, caput e art. 18 da CRFB -> qualquer emenda que pretenda restringir demasiadamente a autonomia dos entes federativos consagrada na sua tríplice capacidade de autogoverno, auto-organização, auto-administração precisa ser rechaçada, a PEC não pode ser aprovada e é possível inclusive a impetração de MS por parlamentar para tentar evitar se boicotar a federação. 
Art. 1º, caput: Impossibilidade do Direito de Secessão -> A República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel dos três entes, logo a secessão, isto é o desfazimento do vínculo, não é aceita em nenhuma federação. A característica federativa é a impossibilidade dessa separação. Se uma emenda vier induzir essa secessão ela será declarada inconstitucional.
Não há federação sem um Sistema de Repartição de Competências Toda mudança no sistema de repartição de competências é necessariamente inconstitucional? Não! É preciso se avaliar caso a caso. Exemplo: EC 69/2012 alterou a CRFB para retirar da competência da união a questão da auto-organização da Defensoria Pública do DF e para repassar essa capacidade ao próprio DF. Essa emenda em nada prejudicou a autonomia dos entes, ela extraiu uma das competências do entes federativo que mais possui atribuições no nosso país, que é a união e resolveu reforçar a atribuição do próprio DF – houve um reforço à autonomia do DF, não havendo nenhum tipo de inconstitucionalidade. 
Com relação ao Princípio da Imunidade Tributária Recíproca Entre os Entes – art. 150, VI, “a” -> essa imunidade tributária recíproca é decorrente da própria isonomia entre os entes federativos e por isso o STF entendeu ser cláusula pétrea e aqui nós temos uma das decisões na ADI 939. 
No julgamento da ADI 3367 o STF analisou um tema que ainda gera muito debate. A EC 45/2004 criou o CNJ, que desagradou inicialmente muitos magistrados. Foi proposta essa ADI e o STF foi instado a dizer que o CNJ fere o pacto federativo porque é um órgão federal criado para fiscalizar órgãos do judiciário estadual? Não! O STF entendeu que o CNJ é um órgão nacional e não federal e por isso serve para fiscalizar a atuação financeira e administrativa de todos os órgãos do judiciário brasileiro, a exceção do STF. Então não é apenas uma fiscalização de órgão estadual; é uma fiscalização maior – é fiscalização de um órgão nacional que vai recair sobre órgãos federais e sobre órgãos do poder judiciário também no plano estadual. O STF entendeu que não violaria em nada o pacto federativo. 
Ainda com relação a essa ADI, o STF criou a Súmula 649 que diz ser inconstitucional a criação por CE de órgão de controle administrativo do poder judiciário do qual participem representantes de outros poderes ou entidades. O CNJ é um órgão nacional responsável por essa fiscalização e o Supremo rechaçou a possibilidade de mais fiscalização no âmbito dos estados. 
Com relação à Intervenção Federal -> as hipóteses para isso se encontram taxativamente previstos no art. 34 – é possível que se aumente os pressupostos materiais de intervenção federal? A intervenção é uma antítese da federação, ela afeta a autonomia do ente federativo, então tem prevalecido a impossibilidade de ampliação das hipóteses de intervenção federal ainda que por meio de emenda constitucional, porque a intervenção coloca em risco a própria federação, então tem que ser sempre a medida menos utilizada e menos comum e não é possível alargar as situações de intervenção federal. 
4.2)VOTO DIRETO, SECRETO, UNIVERSAL E PERIÓDICO -> o voto por si só é uma cláusula pétrea e as suas características são: direto, secreto, universal e periódico. 
Voto facultativo não viola cláusula pétrea. O entendimento é de que como a obrigatoriedade formal de comparecimento ás urnas não está previsto expressamente no artigo, nada impede juridicamente que o CN aprove uma emenda acabando com a obrigatoriedade de comparecimento às urnas, sendo possível a criação do voto facultativo no Brasil. A obrigatoriedade formal de comparecimento às urnas não está aqui gravada como cláusula pétrea. O entendimento majoritário é que não há empecilho para que EC insira o voto facultativo na nossa CRFB.
Sufrágio x Voto x Escrutínio -> São expressões distintas. O sufrágio é a essência dos direitos políticos, é a manifestaçãodo indivíduo na vida política. O voto é um dos instrumentos do sufrágio, pois este não se encerra no momento de votar e ser votado – plebiscitos, referendos, ação popular também são manifestações desse sufrágio. Escrutínio é a forma de exercício do direito voto – exemplo: voto secreto – não se confunde com o voto propriamente dito.
O voto é direto, sendo esta uma conquista da constituinte – Movimento “Diretas Já” – não se pode ampliar as hipóteses de voto indireto da nossa constituição. Temos uma situação de voto indireto que é a do art. 81,§1º trazida pelo próprio constituinte originário, mas não é possível se ampliar as hipóteses de voto indireto, tampouco se extrair essa qualidade do voto.
O voto é secreto em nome da própria liberdade de convicção política do nosso cidadão, inclusive o STF reforçou esse voto secreto ao declarar a inconstitucionalidade de lei que trazia a possibilidade de impressão do voto do eleitor, pois isso violaria completamente a cláusula pétrea e os ideais democráticos.
O voto é universal. O sufrágio que é a essência dos direitos políticos, já foi no Brasil capacitado e censitário, até se tornar universal. Extrair essa qualidade de universal, a igualdade de voto também não seria permitido. 
Como adotamos a forma de governo republicano, de tempos em tempos é indispensável a realização da eleição em razão do voto, pois este é periódico, devendo assim permanecer. 
O art. 55,§2º até antes da EC 76/2013 previa que no processo de cassação dos congressistas (deputados e senadores) o voto deveria ser secreto. Esse voto secreto acabou trazendo uma série de violações até à própria democracia. Essa emenda 76 acabou com o voto secreto no processo de cassação dos membros do CN, hoje o voto é aberto. Lembrando que esse voto secreto do art. 55,§2º não é o mesmo voto protegido como cláusula pétrea no art. 60,§4º, inciso II. 
A EC 76/2013 violou cláusula pétrea ao estabelecer o voto aberto no processo de cassação dos membros do congresso do art. 55,§2º da CRFB? Não, porque esse voto do art. 55,§2º é o voto dos nossos legisladores nos processos de cassação dos membros do CN; o voto protegido no art. 60,§4º é o voto do cidadão dos nossos representantes, então são votos distintos, não tendo a EC 76 violado cláusula pétrea. 
4.3)SEPARAÇÃO DOS PODERES -> é um dos corolários da democracia, não há país que se apresente de forma democrática com concentração de poder nas mãos de um só. Os atuais Estados democráticos de direito são representados pelo Princípio da Separação dos Poderes.
O art. 2º da CRFB estabelece que são poderes harmônicos e independentes entre si o legislativo, o executivo e o judiciário. O que se protege aqui com essa cláusula pétrea não são só as funções típicas dos poderes, pois aqui há uma proteção completa – sistema de freios e contrapesos – a tutela do art. 60,§4, inciso III não se resume às atividades típicas dos poderes da república, essa proteção se espalha nas funções típicas e também nas atividades atípicas. 
O sistema de imunidades e prerrogativas também se encontra aqui protegido. As imunidades dos parlamentares existem para garantir a sua atuação independente, livre, o bom exercício da representação política do país. Abolir ou extinguir as imunidades dos nossos parlamentares não seria permitido por força do art. 60,§4º, inciso III.
Logicamente cláusula pétrea não é exatamente uma cláusula petrificada e imutável, pois pequenas alterações podem ser feitas, desde que não atinjam o núcleo do instituto – exemplo: EC 35/2001 alterou o art. 53, estabelecendo algumas mudanças com relação às imunidades dos parlamentares. Tais mudanças não atingiram esse núcleo essencial das imunidades, o qual foi mantido. Então tem que analisar cada caso com a sua razoabilidade e proporcionalidade, evitando que se coloque em risco o instituto, mas também não impedindo a mudança constitucional. 
CNJ – ADI 3367 -> quando a associação dos magistrados do Brasil apresentou essa ADI questionando a EC 45 que criou o CNJ, uma das primeiras argumentações foi sobe a violação ao pacto federativo, que já foi refutado, dizendo que o entendimento do STF foi no sentido contrário: não haveria violação porque o CNJ não é um órgão federal fiscalizando órgãos do judiciário estadual, mas o CNJ é um órgão nacional que fiscaliza órgãos do poder judiciário federal e estadual.
Mas os magistrados também reclamaram a criação do CNJ no que tange à violação ao Princípio da Separação dos Poderes – e o STF disse que não mais uma vez, pois o CNJ não foi criado para exercer atividades típicas do poder judiciário, mas sim para reforçar e ampliar o sistema de fiscalização administrativa e financeiro, não havendo violação ao primado da separação dos poderes. 
E sobre a composição mista do CNJ (magistrados, membros do MP, advogados, cidadãos), o STF disse que essa composição mista é perfeitamente democrática e até em harmonia com o próprio quinto do art. 94 da CRFB. 
4.4)OS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS -> o art. 5º preserva os direitos e garantidas individuais e coletivos: direito à associação, reunião – estariam protegidos também os direitos e garantias coletivos, porque o direito de reunião e associação são considerados genericamente coletivos, mas para muitos são direitos individuais que se expressam coletivamente, então estariam expressamente inseridos no art. 60,§4º, inciso IV (direitos e garantidas individuais e coletivos). 
Somente os direitos do art. 5º se encontram protegidos? Somente os direitos de 1ª geração previstos no art. 5º estão tutelados pela cláusula pétrea? Não! O STF já definiu que o princípio da anterioridade em matéria tributária (art. 150, inciso III, “b”), a irretroatividade (art. 150, inciso III, “a”) estariam protegidos por cláusula pétrea também. O art. 37, caput da legalidade, o princípio tributário da legalidade (art. 150, inciso I), o da isonomia tributária (art. 150, inciso II), o art. 37, inciso II (do concurso público) são manifestações também de cláusula pétrea. OBS.: Para a professora o art. 228 que estabelece a inimputabilidade dos menores de 18 anos deve ser considerada cláusula pétrea. 
Somente direitos de 1ª geração seriam aqui protegidos? Expressamente direitos e garantias individuais são os direitos de primeira geração, então numa visão literal a proteção realmente se relaciona aos direitos de primeira geração. Mas o Princípio da Complementaridade com relação aos direitos nos ensina que não faz sentido garantir a vida sem a saúde, educação, alimentação, meio ambiente. Os direitos devem ser analisados de forma conjunta. Por isso a doutrina garantista em peso sustenta a tese de que a Dignidade da Pessoa Humana é um valor axiológico protegido pelo inciso IV e que todos os nossos direitos e garantidas fundamentais deviam aqui ser tutelados: direito à saúde, educação, à cultura, ao meio ambiente. Mas essa é uma visão de interpretação do inciso IV. Expressamente só são protegidos aqui os direitos e garantidas individuais e implicitamente podemos extrair do art. 60, §4º, inciso IV o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana e como este é o vetor axiológico de todos os direitos fundamentais, como não se refere apenas aos direitos de 1ª geração, podemos estender a proteção a outros direitos fundamentais de 2ª e 3ª geração também. 
O art. 5º, inciso XXXVI diz que a lei não pode prejudicar o direito adquirido, ato jurídico perfeito e a coisa julgada. No que se refere ao poder constituinte originário e no que se refere às emendas qual é o entendimento majoritário?
Com relação às normas do PCO, vale a visão de que não há direito adquirido em face das normas constitucionais originárias, na não ser direitos que foram por elas preservados. A nova constituição pode fazer novas transformações. 
As emendas constitucionais, embora o tema seja no âmbito doutrinário controvertido, vale a posição majoritária: as emendas não podem prejudicar direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada. Há direito adquirido em face das emendas, em face da lei e a nova emenda constitucional

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