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CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Conhecer a abordagem introdutória da Contabilidade de Custos. Apontar a interação entre a Contabilidade Gerencial e Contabilidade de Custos e entre a Contabilidade Societária e Contabilidade de Custos. Distinguir os procedimentos de apuração e contabilização de custos das técnicas de custos para apoio à tomada de decisão ou mesmo de custos aplicados ao planejamento e ao controle. Debater os aspectos multidisciplinares relacionados à temática dos custos. 10 Contabilidade de Custos 11 INTRODUÇÃO à CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 CONTEXTUALIZAÇÃO A contabilidade de custos se destaca como uma das áreas mais importantes de atuação da contabilidade. Muito dessa importância está vinculada com a ampla utilização da contabilidade de custos para orientar a decisão dos mais diversos grupos de interessados na informação contábil. A contabilidade de custos se propõe a fornecer informações fi nanceiras e não fi nanceiras vinculadas à aquisição e ao consumo de recursos pela organização destinados aos seus produtos, mercadorias ou serviços (HORNGREN; FOSTER; DATAR, 2004). A contabilidade de custos se propõe a suprir os anseios informacionais dos usuários da contabilidade fi nanceira e da contabilidade gerencial. Quando a contabilidade de custos é utilizada no âmbito da contabilidade fi nanceira, se propõe a avaliar e mensurar os custos visando atender aos preceitos estabelecidos pelos Princípios Contábeis Geralmente Aceitos e regulamentações no âmbito societário e fi scal. Já quando a contabilidade de custos atende aos propósitos da contabilidade gerencial, visa suprir os usuários internos de informações detalhadas sobre os serviços, produtos, clientes, atividades, departamentos, projetos, processos e outras informações de interesse gerencial, que contribuam para o controle, planejamento e tomada de decisão (HANSEN; MOWEN, 2001). EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA CONTABILIDADE DE CUSTOS Há indícios milenares sobre o surgimento da contabilidade. Já sobre a Contabilidade de Custos, para retratar sucintamente sua evolução histórica nos aspectos mais relevantes, apresentamos alguns períodos históricos com relevante contribuição para a discussão: a) Período do Mercantilismo (entre o século XV e o século XVIII): existem indícios históricos de mecanismos rudimentares de Contabilidade de Custos anteriores ao Período Mercantilista, no entanto, a sistematização do conhecimento e a publicação de obras relacionadas a temas de Contabilidade de Custos começaram a ocorrer com maior ênfase no Período Mercantilista. Durante esse período a Contabilidade de Custos atendia basicamente a uma fi nalidade de controle feito pelo proprietário para uso próprio da informação. 12 Contabilidade de Custos b) Revolução Industrial (entre o século XVIII e o século XIX): surgimento dos primeiros sistemas de informação gerencial, que por sua vez contribuíram para o aprimoramento das técnicas de Contabilidade de Custos. Com o advento da industrialização em escala, aspectos decisórios relacionados aos produtos ganharam importância; por sua vez, a gestão de custos destaca- se como uma ferramenta fundamental de gerenciamento do Resultado do Período (BEUREN,1993). c) Período entre 1880 até 1925: marcou o desenvolvimento de modelos de apoio para tomada de decisão, custeio com enfoque gerencial nos produtos (HANSEN; MOWEN, 2001). Durante o período compreendido entre 1926 e 1970 ocorreu um declínio acentuado no desenvolvimento de métodos de custeio para fi ns gerenciais, em favor de um custeio de estoques voltado ao relato de informações a usuários externos. Ocorreram avanços importantes nas décadas de 1950 e 1960, como o advento das abordagens do custo padrão, da análise de ponto de equilíbrio e uma maior preocupação com a distinção entre os custos fi xos e variáveis (BEUREN, 1993). d) Período de 1970 até a atualidade: o aprimoramento dos sistemas de informação promovido entre as décadas de 1970 e 1980 contribuiu para a segregação das informações de caráter fi nanceiro e gerencial, assim como foi o período em que se difundiu o sistema de Custeio Baseado em Atividades, o Activity Based Costing (ABC). Com o advento da Era da Informação (meados da década de 1970 até a atualidade) e o surgimento das tecnologias da informação e de mecanismos computacionais que facilitaram o manuseio dos dados da Contabilidade de Custos, abriram-se as portas para toda uma nova geração de empreendimentos direcionados a aspetos de prestação de serviço, voltados à tecnologia e inovação, que desencadeou todo um novo conjunto de entidades, demandando informações da Contabilidade de Custos. Observamos que a preocupação do usuário da informação contábil sobre as variações patrimoniais relacionadas à abordagem da Contabilidade de Custos ocorreu em diversos períodos históricos, e continua se desenvolvendo. Verifi camos agora qual a contribuição da informação extraída da Contabilidade de Custos em virtude da necessidade do usuário, ou seja, informação para fi ns de Contabilidade Gerencial ou Contabilidade Financeira. 13 INTRODUÇÃO à CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 Existem diversas correntes teóricas e posicionamentos a respeito do surgimento de elementos contábeis ao longo da História. Isso não ocorre apenas na Contabilidade de Custos, mas com a maior parte da temática da Contabilidade. CONTABILIDADE GERENCIAL E CONTABILIDADE DE CUSTOS A Contabilidade Gerencial consiste em um processo de elaboração de informações operacionais e fi nanceiras direcionadas a suprir as necessidades informacionais dos usuários internos, como gestores e empregados, por exemplo, com o intuito de orientar suas decisões operacionais e de investimentos (ATKINSON et al., 2000). O principal objetivo da Contabilidade Gerencial é munir os usuários internos de ferramentas efi cientes, efi cazes e fl exíveis, capazes de orientar suas decisões patrimoniais de maneira ágil e competitiva. A Contabilidade de Custos possuía uma preocupação inicial de avaliação de estoques, a qual passou nas últimas décadas a exercer uma importante contribuição para a Contabilidade Gerencial nos aspectos de auxílio ao controle e apoio à tomada de decisão. No transcorrer dos nossos estudos teremos contato com diversas ferramentas de custos para fi ns gerenciais de tomada de decisão, planejamento e controle. Vejamos algumas dessas abordagens que serão mencionadas ou até mesmo aprofundadas no nosso caderno de estudos, nos itens que seguem. a) Custos para Apoio à Tomada de Decisão Vejamos algumas abordagens de custos e em quais contextos de tomada de decisão podemos utilizá-las: • Margem de Contribuição (MC): ao obtermos a Margem de Contribuição, possuímos um montante de resultado independente de qualquer subjetividade ou arbitrariedade do rateio dos custos fi xos. O principal objetivo da Contabilidade Gerencial é munir os usuários internos de ferramentas efi cientes, efi cazes e fl exíveis, capazes de orientar suas decisões patrimoniais de maneira ágil e competitiva. 14 Contabilidade de Custos • Decisões de Limitação na Capacidade Produtiva: abordagem complementar à escolha do critério de rateio, pois vincula o rateio a fatores que limitam a capacidade produtiva. Basicamente consiste na utilização de paradigmas da Teoria das Restrições ou Theory of Constraints (TOC) aplicados a decisões de custos. • Custeio Variável: Método de Custeio que desconsidera qualquer mecanismo de rateio dos Custos Fixos, sendo direcionado a decisões em que não se queira levar em consideração o impacto dos Custos Fixos no resultadode um produto, por exemplo. • Custeio RKW (RKW - Reichskuratoriun für Wirtschaftlichtkeit): Método de Custeio utilizado quando se apresenta conveniente efetuar o rateio dos custos fi xos e até mesmo das despesas; nesse sistema de custeio, distinguir as despesas dos custos é desnecessário, tendo em vista que o rateio será total. • Custo de Oportunidade: conceito amplamente disseminado nos estudos da área de Economia, proporciona a identifi cação dos custos da oportunidade renunciada de um determinado item no contexto da Contabilidade de Custos e possibilita a análise de associação da alternativa descartada que proporciona mais benefícios para servir de parâmetro de comparação para a alternativa atual, ou seja, identifi ca o valor da alternativa não escolhida mais favorável. • Custo de Reposição: aponta o valor de substituição de um determinado bem que substituirá outro que de alguma forma foi vendido, consumido ou mesmo perdido. Na contabilidade de custos, possibilita identifi car as oportunidades de aquisição ou mesmo substituição dos bens do imobilizado ou mesmo componentes dos estoques. • Formação de Preço de Venda: existem metodologias diversas de formação de preço de venda. Podemos determinar o preço de venda pela qualidade, pela inovação, pela tecnologia, pela concorrência, pela satisfação do cliente, pelo custo ou por outros critérios que sejam fundamentais para a entidade em questão. Verifi camos que a utilização da contabilidade de custos para a formulação do preço de venda pode ser utilizada em conjunto com outras abordagens. Por exemplo, é comum que profi ssionais de marketing utilizem os custos identifi cados em conjunto com aspectos do cliente e dos concorrentes em suas decisões de precifi cação. 15 INTRODUÇÃO à CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 • Ponto de Equilíbrio: um ponto de ruptura identifi ca a quantidade de itens vendidos necessários para que a entidade apresente um resultado favorável na relação custos e receitas. Existem três categorias de Ponto de Equilíbrio: Contábil, Financeiro e Econômico. • Decisões de Compra ou Produção: em diversas situações a entidade se encontra na posição de decidir entre a compra de um determinado item ou mesmo a sua produção. Em um primeiro momento ocorre a decisão entre a compra e a produção, no entanto devemos ter claro que essa decisão pode ser permanente, exigindo assim um planejamento de longo prazo dos refl exos da escolha. • Decisões de Reengenharia baseadas em Custos: ao optar por produzir em detrimento de comprar, a entidade pode incorrer na reestruturação de seu processo produtivo, ou ainda, em virtude da análise de custos dos departamentos, poderão ocorrer decisões no sentido de reengenharia. Mais uma vez devemos levar em conta os refl exos permanentes desse tipo de decisão e considerar a estruturação de um planejamento de longo prazo. b) Custos para o Planejamento e Controle Agora mencionamos exemplos de abordagens de custos com ênfase no planejamento e controle: • Custo Alvo (Target Costing): um custo almejado ou alvo é defi nido, dessa forma o planejamento organizacional se direciona ao atendimento desse parâmetro defi nido como custo aceitável. • Unidade de Esforço de Produção (UEP): consiste em uma abordagem complementar dos métodos de custeio, na qual é desenvolvida uma unidade indexadora de custos, visando eliminar distorções de rateio em que produtos absorvem montantes superavaliados de custos. • Custo Padrão: permite a comparação entre as variações no custo real e o custo estimado (ou padrão), permitindo o planejamento dos custos diretos e indiretos em termos de preço, quantidade e variação mista. Também permite a identifi cação de pontos favoráveis e desfavoráveis nas variações dos custos real e padrão e adoção de medidas corretivas e de aprimoramento. • Gestão Baseada em Atividades: a abordagem do Custeio Baseado em Atividades (ABC) se estende à gestão organizacional, impactando nas ferramentas de planejamento e nos mecanismos de controle das atividades. 16 Contabilidade de Custos • Orçamentos de Produção: para a estruturação dos diversos orçamentos operacionais (mão de obra, materiais diretos e custos indiretos) são utilizadas informações da Contabilidade de Custos. É importante salientar que nem todas as abordagens de Contabilidade de Custos para tomada de decisão ou direcionadas para o planejamento e controle, mencionadas anteriormente, serão abordadas em nossa disciplina. Porém, é importante a menção para conhecimento por parte do estudante da disciplina, uma vez que o tema contabilidade é amplo, a tal ponto que nem todas as abordagens importantes serão aprofundadas ou discutidas na atual disciplina. Muitas das ferramentas de custos mencionadas podem ser de fato utilizadas em ambos os contextos, tanto para fi ns de tomada de decisão, quanto para o planejamento e controle. Exercite a sua análise e aponte outras contribuições gerenciais das ferramentas de custos apresentadas. Se você quiser conhecer mais sobre Contabilização de Custos, Custos para Apoio à Tomada de Decisão e Custos para o Planejamento e Controle, existe uma associação de âmbito nacional denominada Associação Brasileira de Custos, que promove anualmente eventos relacionados à temática de custos. O sítio eletrônico da associação é <http://www.abcustos.org.br>. Sugerimos a consulta das bases de artigos e até mesmo a leitura do histórico da fundação da associação para a compreensão da sua importância para a discussão multidisciplinar de Custos. 17 INTRODUÇÃO à CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 CONTABILIDADE FINANCEIRA E CONTABILIDADE DE CUSTOS A Contabilidade Financeira consiste no processo de elaboração de informações fi nanceiras submetidas a padrões regulamentares e fi scais, para o atendimento das necessidades de informações de usuários externos, como acionistas, credores, governos, entre outros (ATKINSON et al., 2000). Podemos apontar que a principal função da Contabilidade Financeira consiste em suprir o fl uxo desigual de informações (Assimetria Informacional) existentes entre os usuários internos e externos. Nesse sentido, quando falamos de Contabilidade de Custos para fi ns de atendimento de anseios de Contabilidade Financeira, estamos falando de informações direcionadas aos usuários externos, que são disponibilizadas para atender ao anseio informacional desse grupo, assim como diminuindo a Assimetria Informacional existente entre os usuários da informação contábil. Vejamos alguns procedimentos de Contabilidade de Custos que visam atender as necessidades informacionais dos usuários externos. a) Contabilização de Custos Entendemos a contabilização dos custos como o conjunto de procedimentos adotados para a determinação do custo do período, para o relato em Demonstrações Financeiras ou para o atendimento a qualquer obrigação externa, fi scal, regulatória e societária. • Alocação de Custos Diretos: conjunto de procedimentos contábeis para a determinação de custos diretos. No caso dos custos com material direto, envolve o reconhecimento de tributos nas operações (incidência de ICMS, IPI, PIS e COFINS); já no caso da mão de obra direta, consiste na identifi cação dos fatores que impactam na remuneração, descontos e encargos sobre a folha de pagamento. • Critérios de Rateio dos Custos Indiretos: consiste na identifi cação de critérios que proporcionem mecanismos coerentes de alocação dos custos indiretos aos produtos. • Métodos de Custeio: para fi ns societários e fi scais no Brasil, um método de custeio deve atribuir os custos indiretos aos produtos e não pode ratear as 18 Contabilidade de Custos despesas; atendendo a esses critérios temos o Método de Custeio por Absorção e o Custeio Baseado em Atividades(ABC). • Custeio por Ordem e Encomendas: consiste na determinação dos custos provenientes de uma estrutura de produção descontínua com produtos não padronizados ou encomendados. • Custeio por Processo: consiste na determinação dos custos provenientes de uma estrutura de produção contínua, em série de produtos padronizados. Até aqui verifi camos um breve panorama da contribuição da Contabilidade de Custos para subsidiar as escolhas dos usuários internos e externos. Neste sentido, para identifi car as contribuições práticas da Contabilidade de Custos, responda às questões a seguir: Atividades de Estudos: 1) Qual a contribuição da Contabilidade de Custos para fi ns de tomada de decisão? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Qual a contribuição da Contabilidade de Custos para fi ns de planejamento e controle? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 19 INTRODUÇÃO à CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 3) Qual a contribuição da Contabilidade de Custos para fi ns de contabilização dos custos? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Neste capítulo procuramos situar a Contabilidade de Custos em um breve panorama histórico, assim como identifi camos a contribuição da Contabilidade para as decisões dos usuários internos (Contabilidade Gerencial) e usuários externos (Contabilidade Financeira). Ao estudar Custos nos deparamos com um conjunto robusto de ferramentas que podem ser utilizadas com efi ciência em determinadas situações. O importante para a aprendizagem do tema é saber reconhecer essas ferramentas de custos e distinguir com clareza o momento de aplicar ou não cada abordagem. No próximo capítulo abordaremos a inserção da Contabilidade de Custos em diferentes segmentos e atividades. Devemos ter claro que a Contabilidade de Custos proporciona soluções diversas que se aplicam ou não em determinados contextos administrativos. REFERÊNCIAS ATKINSON, A. A. et al. Contabilidade gerencial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000. BEUREN, I. M. Evolução histórica da contabilidade de custos. Contabilidade Vista e Revista, Belo Horizonte, v. 5, n. 1, p. 61-66, fev. 1993. CREPALDI, S. A. Contabilidade gerencial. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2004. HANSEN, D. R.; MOWEN, M. M. Gestão de custos: contabilidade e controle. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. 20 Contabilidade de Custos HORNGREN, C. T.; FOSTER, G.; DATAR, S. M. Contabilidade de custos: uma abordagem gerencial. 11. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2004. MAHER, M. Contabilidade de custos: criando valor para a administração. São Paulo: Atlas, 2001.
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