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Direito Penal I


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Direito Penal
Conceito de Direito Penal: é o setor do ordenamento jurídico público que estabelece as ações ou omissões delitivas, cominando-lhes determinadas conseqüências jurídicas (pena ou medida de segurança). Enquanto sistema normativo, integra-se por normas jurídicas que criam o injusto penal (crime) e suas conseqüências. De outro lado, o Direito Penal refere-se, também, a comportamentos considerados altamente reprováveis ou danosos ao organismo social, que afetam gravemente bens jurídicos indispensáveis à sua própria conservação e progresso.
Finalidade do Direito Penal: a função principal do Direito Penal é a proteção de bens jurídicos essenciais ao indivíduo e à comunidade.
Obs.: o Direito Penal visa proteger a convivência humana, assegurando, por meio da coação estatal, a inquebrantabilidade da ordem jurídica.
Direito Penal ou Ciência do Direito Penal: tem por escopo elaborar e desenvolver um sistema, visando a interpretar e aplicar o Direito Penal, de modo lógico e racional. A ciência penal é constituída pelo conjunto de conhecimentos (normas e princípios) ordenados metodicamente.
Política Criminal: objetiva, primordialmente, a análise crítica do Direito Posto, no sentido de bem ajustá-lo aos ideais jurídico-penais e de justiça.
Baseia-se em considerações filosóficas, sociológicas e políticas, visando propor modificações no sistema penal vigente.
* verifica a compatibilidade das normas penais com a vida social atual
Criminologia: ocupa-se das circunstâncias humanas e sociais relacionadas com o surgimento, a prática e a maneira de evitar o crime, assim como o tratamento dos criminosos. A criminologia tem como principal função o estudo das causas do delito.
* estuda o fenômeno do crime e os seus motivadores, além de estudar o criminoso (sua mente), buscando a partir disso a atuação preventiva
Relação do Direito Penal com a Constituição Federal: a Constituição, como marco fundante de todo o ordenamento jurídico, erradia sua força normativa para todos os setores do Direito. Todavia, tem ela definitiva influência na seara (área) penal.
A Constituição, fonte primeira da lei penal contempla uma série de normas de Direito público, dentre as quais se destacam as referentes às garantias e direitos individuais.
Essas normas consubstanciam explícita ou implicitamente princípios basilares do Direito Penal – princípios constitucionais penais –, próprios do Estado Democrático de Direito, que impõem limitação infranqueável ao jus puniendi estatal (poder de punir do Estado).
Dentre tais princípios, merece especial atenção o Princípio da Legalidade ou da Reserva Legal (Não há crime sem lei anterior que o defina nem pena sem prévia cominação legal), segundo o qual ninguém pode ser punido por crime ou cumprir pena que não estejam previamente dispostos em lei (Art. 5º, XXXIX da CF).
Relação do Direito Penal com o Direito Processual Penal: é tão somente através do Processo Penal que se pode dar aplicação prática ao Direito Penal; é ele o seu único instrumento de execução para os casos concretos.
Princípios Constitucionais Penais ou Princípios Penais:
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana: (Art. 1º, III da CF – Dignidade da Pessoa Humana) ainda que alguém seja acusado ou condenado da prática de um crime, jamais poderá se esquecer do caráter humano da pessoa do condenado ou acusado.
Princípio da Insignificância ou Bagatela: tal princípio, acabou sendo introduzido no sistema penal por Claus Roxin, tendo em vista sua utilidade na realização dos objetivos sociais traçados pela moderna política criminal.
Segundo tal princípio, o Direito Penal não deve preocupar-se com bagatelas, do mesmo modo que não podem ser admitidos tipos incriminadores pela moderna política criminal.
A tipicidade penal exige o mínimo de lesividade ao bem jurídico protegido, pois é inconcebível que o legislador tenha imaginado inserir em um tipo penal condutas totalmente inofensivas ou incapazes de lesar o interesse protegido.
Não confundir com Crimes de Menor Potencial Ofensivo, os quais possuem relevância penal, com penas máximas de até 2 anos e são julgados pelos Juizados Especiais Criminais. Ex.: lesão corporal leve, ameaça,vias de fato, rixa, etc.
Princípio da Alteridade ou da Transcendência: proíbe a incriminação de atitude meramente interna, subjetiva do agente e que, por esta razão, revela-se incapaz de lesionar o bem jurídico. O fato típico pressupõe um comportamento que transcenda a esfera individual do autor e seja capaz de atingir o interesse do outro.
Ninguém pode ser punido por ter feito o mal só a si mesmo.
Tal princípio foi desenvolvido por Claus Roxin, segundo o qual, “só pode ser castigado aquele comportamento que lesione direitos de outras pessoas e que não seja simplesmente pecaminoso ou imoral”.
Ex.: auto-flagelo, suicídio, crime planejado e ainda não iniciado etc.
Princípio da Confiança: funda-se na premissa de que todos devem esperar por parte das outras pessoas que estas sejam responsáveis e ajam de acordo com as normas da sociedade, visando a evitar danos a terceiros, ou seja, na confiança de que o outro atuará de um modo normal já esperado, baseando-se na justa expectativa de que o comportamento das outras pessoas se dará de acordo com o que normalmente acontece.
Ex.: confiança de que ninguém cruzará a preferencial ou sinal vermelho ou trafegará em contramão, etc.
Princípio da Adequação Social: todo comportamento que, a despeito de ser considerado criminoso pela lei, não afrontar o sentimento social de justiça (aquilo que a sociedade tem como justo), não pode ser considerado criminoso.
Ex.: jogo do bicho; venda de materiais pornográficos (revistas, vídeos, locação de vídeos pornográficos) constitui ato obsceno previsto no CP no art. 234, etc.
Princípio da Intervenção Mínima: somente haverá Direito Penal naqueles raros episódios típicos em que a lei descreve um fato como crime, ao contrário, quando ela nada disser não haverá espaço para a atuação do Direito Penal. Nisso, aliás, consiste a principal política do cidadão em face do poder punitivo do Estado, qual seja, a de que somente poderá ter invadida sua esfera de liberdade, se realizar uma conduta descrita em um daqueles raros pontos onde a lei definiu a existência de uma infração penal.
Princípio da Proporcionalidade: somente se pode falar na tipificação de um comportamento humano, na medida em que isto se revele vantajoso em uma relação de custos e benefícios sociais. Em outras palavras, com a transformação de uma conduta em infração penal impõe-se a toda coletividade uma limitação, a qual precisa ser compensada por uma efetiva vantagem: ter um relevante interesse tutelado penalmente.
Quando a criação do tipo penal não se revelar proveitosa, estará ferido o Princípio da Proporcionalidade, devendo a descrição legal ser retirada do ordenamento jurídico por vício de inconstitucionalidade. Além disso, a pena deve guardar proporção a conduta criminosa praticada, não se admitindo penas idênticas para crimes de lesividades distintas, ou para infrações dolosas e culposas.
Princípio da Ofensividade: não há crime quando a conduta não tiver oferecido ao menos um perigo concreto, real, efetivo e comprovado de lesão ao bem jurídico.
Tal princípio não permite que o Direito Penal se ocupe das intenções e pensamentos das pessoas, do seu modo de viver ou de pensar, das suas atitudes internas, enquanto não exteriorizada a conduta delitiva.
 
Conceito de Parte Geral e Parte Especial do Código Penal
Ao se analisar o Código Penal Brasileiro, verifica-se que a sua estrutura sistemática possibilita, vislumbrar os princípios comuns e as atribuições gerais que o norteiam. É a denominada Parte Geral. Nela constam os dispositivos comuns incidentes sobre todas as normas.
A finalidade da Parte Geral do CP é assinalar as características essenciais do delito e do seu autor, comuns a todas as condutas criminosas.
Já a Parte Especial visa delimitar as classes particulares de delitos, como o homicídio, o estupro, o furto, etc.
Fontesdo Direito Penal: as fontes do Direito Penal se dividem em Materiais e Formais:
Fontes Materiais: referem-se ao órgão incumbido de sua elaboração (no Brasil, a fonte material de produção é a União, art. 22 do CP); 
Fontes Formais: referem-se ao modo pelo qual o Direito Penal se exterioriza. As fontes formais se dividem em Imediata e Mediata:
	A Fonte Formal Imediata: é a lei.
Diferença entre Norma e Lei: 
Norma: é o mandamento de um comportamento normal, retirado do senso comum de justiça de cada coletividade. Ex.: pertence ao senso comum que não se deve matar, roubar, furtar, etc. A norma, portanto, é uma regra proibitiva não escrita, que se extrai do espírito dos membros da sociedade, isto é, do senso de justiça do povo.
Lei: é a regra escrita feita pelo legislador com a finalidade de expressar o comportamento indesejável e perigoso pela coletividade. É o veículo por meio do qual a norma penal aparece.
	Ao legislador, portanto, não cabe proibir simplesmente a conduta, mas descrever em detalhes o comportamento, associando-lhe uma pena de maneira que somente possam ser punidos aqueles que pratiquem exatamente o que está descrito.
A lei penal especial é dividida em duas partes:
Preceito primário: é a parte da lei que descreve a conduta considerada crime;
Preceito secundário: é a parte da lei que determina a sanção a ser aplicada face à prática da conduta descrita no preceito primário.
Características da Lei Penal: não é proibitiva, mas descritiva (técnica de descrever a conduta, associando-a a uma pena, preconizada por Karl Binding, criador do tipo penal).
Classificação da Lei Penal: a Lei Penal pode ser classificada em duas espécies: leis incriminadoras (a partir do artigo 121 do CP) e não incriminadoras (até o artigo 120 do CP). Estas, por sua vez, subdividem-se em permissivas, complementares ou explicativas.
Leis incriminadoras: são aquelas que descrevem crimes e cominam penas;
Leis não incriminadoras: não descrevem crimes nem cominam penas, mas são leis penais;
Leis não incriminadoras permissivas ou excludentes de ilicitude: tornam lícitas determinadas condutas tipificadas em leis incriminadoras. Ex.: legítima defesa;
Leis não incriminadoras complementares ou explicativas: esclarecem o conteúdo de outras normas e delimitam o âmbito de sua aplicação (ex.: arts. 1º, 2º do CP).
Características das Leis Penais
Exclusividade: somente as Leis Penais definem crimes e cominam penas (apenas criadas pelo Congresso Nacional);
Anterioridade: as leis que descrevem crimes somente têm incidência se já estavam em vigor na data do seu cometimento;
Imperatividade: impõe-se coativamente a todos, sendo obrigatória a sua observância;
Generalidade: a lei penal tem eficácia geral (erga omnes – vale para todas as pessoas), dirigindo-se a todos indistintamente.
Leis penais em branco: são leis nas quais o preceito secundário (cominação da pena) está completo, permanecendo indeterminado o seu conteúdo. Trata-se, portanto, de uma norma cuja descrição da conduta está incompleta, necessitando de complementação por outra disposição legal ou regulamentar. Ex.: Art. 236 do CC (quando o contraente possui alguma doença grave, por exemplo, e não informa o outro contraente; ou, quando a mulher esconde do homem que é infértil) que é complementado pelo artigo 1.557 do CC.
Fontes Formais Mediatas
Costumes: consiste no complexo de regras não escritas, consideradas juridicamente obrigatórias e seguidas de modo reiterado e uniforme pela coletividade. São obedecidas, com tamanha freqüência, que acabam se tornando, praticamente, regras imperativas, ante a sincera convicção social da necessidade de sua observância. Ex.: uso do cheque pré-datado, que é respeitado pela jurisprudência e pode incorrer em dano moral a quem descumpre a data combinada.
Obs. 1: o costume não revoga lei, a lei continua válida, de acordo com o artigo 2º, § 1º da LICC;
Obs. 2: o costume não pode criar delitos e suas respectivas penas, já que o CP prevê que não há crime sem lei anterior que o defina nem pena sem prévia cominação legal.
Princípios Gerais do Direito: quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de Direito (art. 4º da LICC). Ex.: art. 128 do CP (aborto legal), atentado violento ao pudor (sexo anal) que culmina na gravidez da mulher, que pode ser autorizado o aborto a partir da analogia.
Analogia: consiste em aplicar-se a uma hipótese não regulada por lei disposição relativa a um caso semelhante. Na analogia, o fato não é regido por qualquer norma e, por essa razão, aplica-se uma de caso análogo.
Obs.: não se admite o emprego de analogia para normas incriminadoras, uma vez que não se pode violar o princípio da reserva legal no intuito de prejudicar o réu.
Conflito Aparente de Normas
É o conflito que se estabelece entre duas ou mais normas aparentemente aplicáveis ao mesmo fato. Há conflito porque mais de uma pretende regular o fato, mas é aparente, porque, com efeito, apenas uma delas acaba sendo aplicada à hipótese.
Elementos necessários para o conflito de normas:
Unidade de fato: um único fato, uma única conduta;
Pluralidade de normas: parece que mais de um tipo penal recai sobre a conduta;
Aparente aplicação de todas as normas ao fato;
Efetiva aplicação de apenas uma delas.
Obs.: a solução do conflito dá-se pela aplicação de alguns princípios, os quais, ao mesmo tempo em que afastam as normas não incidentes, apontam aquela que realmente regulamenta o caso concreto.
Critérios para resolução do conflito de normas:
Critério da Especialidade: especial é a norma que possui todos os elementos da geral e mais alguns, denominados especializantes, que trazem um abrandamento ou agravamento da pena;
Critério da Subsidiariedade: subsidiária é aquela norma que descreve um grau menor de violação de um mesmo bem jurídico, isto é, um fato menos amplo e menos grave, o qual, embora definido como delito autônomo, encontra-se também compreendido em outro tipo como fase normal de execução de crime mais grave (ex.: art. 132, CP, exposição da vida ou saúde de alguém a risco, sem que aconteça efetivamente alguma lesão ou dano).
	A norma que descreve o todo, isto é, o fato mais abrangente, é conhecida como primária e, por força do princípio da subsidiariedade, absorverá a menos ampla (ex.: art. 147 apenas quando não se enquadra no art. 146, CP).
	Conseqüência: a norma primária (conduta mais ampla e grave) prevalece sobre a subsidiária (conduta mais simples).
	Diferença entre Especialidade e Subsidiariedade: na especialidade, é como se tivéssemos duas caixas, cuja diferença seria a existência de algum detalhe constante em uma e não constante na outra, tal como uma fita vermelha; na subsidiariedade há duas caixas idênticas, só que uma menor, cabe na outra;
Critério da Consunção: é o princípio segundo o qual um fato mais amplo e mais grave consome, isto é, absorve, outros fatos menos amplos e graves, que funcionam como fase normal de preparação ou execução ou como mero exaurimento (conduta após a prática do crime que não tem mais importância; ex.: assédio sexual aplicado: se ocorre o sexo, este não tem importância, já que o assédio já está configurado).
Comparação: é muito tênue a linha diferenciadora que separa a Consunção da Subsidiariedade. Na verdade, a distinção está apenas no enfoque dado na incidência do princípio. Na Subsidiariedade, em função do fato concreto praticado, comparam-se as normas para se saber qual é aplicável. Na Consunção, comparam-se os fatos, verificando-se que o mais grave absorve todos os demais que estão na linha necessária para sua consumação.
Alternatividade: ocorre quando a norma descreve várias formas de realização da figura típica, em que a realização de uma ou de todas configura um único crime (ex. tráfico de drogas, lei 11343/06, art. 33; quando o traficante realiza vários dos verbos do artigo, responde apenas por um crime).
2º BIMESTRE
A partir do artigo 5º do Código Penal.
Tribunal PenalInternacional (Haya – Holanda)
Incluído em nosso ordenamento constitucional pela emenda nr. 45/2004, o Brasil passou a se submeter à jurisdição do TPI. O referido tribunal foi criado pelo Estatuto de Roma (convenção ocorrida em Roma) no ano de 1998.
O TPI é instituição permanente, com jurisdição para julgar genocídio, crimes de guerra, contra a humanidade e cuja sede se encontra em Haya, Holanda. Os crimes de sua competência são imprescritíveis.
O TPI somente exerce sua jurisdição perante os países que assim manifestaram adesão ao tratado.
Ainda, a jurisdição do TPI é residual, ou seja, somente sendo instaurada após esgotadas as vias judiciárias internas do país.
TEORIA DO DELITO
Conceito de crime: o crime pode ser conceituado sob os aspectos material e formal ou analítico.
Aspecto Material: sob o aspecto material, crime pode ser definido como todo fato humano que, propositada ou descuidadamente (culpa), lesa ou expõe a perigo bens jurídicos considerados fundamentais para a existência da coletividade e da paz social.
Aspecto Formal: considera-se infração penal tudo aquilo que o legislador descrever como tal, pouco importando o seu conteúdo. Considera a existência de um crime sem levar em conta se sua essência ou lesividade material afronta o princípio da dignidade da pessoa humana.
Aspecto Analítico: é aquele que busca, sob o prisma jurídico, estabelecer os elementos estruturais do crime. A finalidade deste enfoque é propiciar a correta e mais justa decisão sobre a infração penal e seu autor. Sob este ângulo, crime é todo Fato Típico e Ilícito. Dessa maneira, em primeiro lugar deve ser analisada a Tipicidade da Conduta. Em caso positivo, verifica-se se a mesma é Ilícita. Sendo então a conduta Típica e Ilícita, surge a infração penal.
Obs.: atualmente, no Brasil e no mundo, com uma visão moderna em relação ao crime, têm-se adotado a concepção bipartida, ou seja, para constituição do crime são necessários apenas Tipicidade + Ilicitude, sendo que a Culpabilidade não integra o conceito de crime.
Teoria Naturalista ou Teoria Clássica: tal teoria, fortemente influenciada pelo positivismo jurídico, apenas descrevia como crime (Fato Típico) a comparação entre a conduta objetivamente realizada e a descrição legal do crime, sem analisar qualquer aspecto interno (vontade do agente). Sustentava que o Dolo e a Culpa sediavam-se na Culpabilidade e não pertenciam ao Tipo. Para seus defensores, crime só pode ser Fato Típico, Ilícito e Culpável.
Obs.: Teoria em desuso, pois é incompatível com o Estado Democrático de Direito e com os Direitos Humanos.
Teoria Finalista: tal teoria começou a ser elaborada no final da década de 1920 e início de 1930 e cujo defensor mais ardoroso foi Hanz Welzel. A Teoria Finalista visava desconstituir a Teoria Naturalista, criticando a desconsideração da vontade humana na apreciação do Fato Típico.
Para a existência do Fato Típico, é imprescindível identificar o elemento subjetivo do autor (qual a vontade do autor).
Assim sendo, a finalidade é elemento inseparável da conduta. Sem o exame da vontade finalística não se sabe se o fato é Típico ou não.
Partindo desse pressuposto, distinguiu-se a finalidade da causalidade, para, em seguida, concluir-se que não existe conduta típica sem vontade e finalidade, e que não é possível separar o dolo e a culpa da conduta típica. Welzel considerou que toda ação humana é o exercício da atividade finalista (a pessoa sempre age em busca de um fim).
Obs.: O Código Penal Brasileiro adotou a Teoria Finalista
Teoria Social do Delito: verifica a existência do delito conforme a adequação social do ato ou omissão.
Teoria Constitucionalista do Delito (teoria recente, defendida por Luiz Flávio Gomes): para esta teoria, o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, o qual serve de orientação para o legislador, o Fato Típico será a somatória dos seguintes fatores:
Subsunção Formal ou Tipicidade Formal: descrição da conduta como criminosa;
Dolo ou Culpa na Conduta;
Conteúdo Material do Crime: consideração do ato ou omissão como materialmente importante;
O fato deve ter uma relevância mínima socialmente, que esteja totalmente de acordo com os princípios e garantias fundamentais trazidos na CF.
Elementos da Conduta
Vontade
Finalidade
Exteriorização: transposição da barreira da Vontade, exteriorizando o Ato ou Omissão
Consciência
Obs.: somente as pessoas humanas podem praticar conduta.
Diferença Entre Ato e Conduta: Conduta é a realização da vontade humana, voltada para uma finalidade, e pode ser composta de 1 ato (unisubsistente), ou de vários atos (plurisubsistente). Assim, o ato é apenas uma parte da conduta.
Obs. 1: a ausência de voluntariedade acarreta a inexistência da conduta; exemplos:
Atos Reflexos;
Coação Física Absoluta: consiste no emprego da força física, excluindo a conduta pela falta de vontade (tem que ter uma força física alheia que faça com que a vontade do agente seja totalmente viciada);
Obs. 2: a Coação Moral Irresistível não exclui a conduta, uma vez que ainda resta um resíduo de vontade, inobstante a mesma seja viciada. Assim sendo, existindo coação moral irresistível, haverá Fato Típico e Ilícito, contudo, a culpabilidade será afastada.
Formas de Conduta (exteriorização da conduta)
Ação: é um comportamento positivo (é o fazer);
Omissão: é um comportamento negativo (é o não fazer).
Obs.: enquanto as condutas comissivas desatendem a preceitos proibitivos (a norma mandava não fazer e o agente fez), as condutas omissivas desatendem mandamentos imperativos (a norma mandava fazer e o agente não o fez).
Da Conduta Omissiva: ao lado da ação, a omissão aparece como uma forma independente de conduta, suscetível de ser regida pela vontade dirigida para um fim (ex.: a mãe consegue, através de omissão matar o filho bebê). Existem normas jurídicas que ordenam a prática de ações para a produção de resultados socialmente desejados ou para evitar resultados indesejáveis socialmente. Assim, quando a norma impõe a realização de uma conduta positiva, a omissão dessa imposição legal gera a lesão da norma mandamental.
Crime Omissivo Próprio: inexiste o dever jurídico de agir, faltando, por conseguinte, o segundo elemento da omissão, que é a norma impondo o que deveria ser feito. O agente que se omitiu só praticará crime se houver tipo incriminador descrevendo a infração (ex.: art. 135, CP).
Crime Omissivo Impróprio: também conhecido por Comissivo por Omissão (ex.: mãe que deixa de alimentar o filho bebê; policial que deixa de socorrer alguma vítima em situação de perigo; salva-vidas que deixa de prestar socorro a alguma vítima que está se afogando); o agente tinha o dever jurídico de agir, ou seja, não fez o que deveria ter feito. Há, portanto, a norma dizendo o que ele deveria fazer, passando a omissão a ter relevância causal. Como conseqüência, o agente não responde só pela omissão como simples conduta, mas pelo resultado produzido, salvo se este não lhe puder ser atribuído por dolo ou culpa.
Requisitos Para a Omissão:
Conhecimento da Situação Típica: o agente tem que saber que a omissão é crime;
Consciência, por parte do agente, de seu poder de ação para a execução da ação omitida;
Possibilidade real, física, de levar a efeito a ação exigida.
Sujeito Ativo da Conduta: é a pessoa humana que pratica a conduta descrita no Tipo Penal, isolada ou conjuntamente com outros autores.
A maioria dos crimes pode ser praticada por qualquer pessoa, são os chamados Crimes Comuns (ex.: homicídio, roubo, furto, dano, estelionato, falsificação, etc.), contudo, existem crimes que exigem uma qualidade especial do sujeito ativo, são denominados Crimes Próprios (ex.: infanticídio, só a mãe em estado puerperal; estupro, só o homem; peculato, só o funcionário público; etc.).
Obs.: Pessoa Jurídica: no ordenamento jurídico penal brasileiro, de acordo com a CF, somente será imputada a prática de crime a pessoa jurídica no caso de crimes contra o meio ambiente, contra a ordemeconômica e contra a ordem financeira.
Resultado: modificação no mundo exterior provocada pela conduta.
Obs.: nem todo crime possui resultado naturalístico, uma vez que há infrações penais que não produzem qualquer alteração no mundo natural. De acordo com este resultado, as infrações penais classificam-se em: Crime Material, Crime Formal e Crime de Mera Conduta:
Crime Material: é aquele cuja consumação só ocorre com a produção do resultado naturalístico (ex.: homicídio, estupro, roubo, etc.);
Crime Formal: é aquele em que o resultado naturalístico até é possível, mas irrelevante, uma vez que a consumação se opera independentemente do resultado (ex.: art. 159, CP, extorsão mediante seqüestro, ainda que o infrator não consiga o valor, o crime está consumado; assédio sexual também, independentemente de ter terminado em sexo ou não, o crime está consumado);
Crime de Mera Conduta: é aquele que não admite em hipótese alguma resultado naturalístico (ex.: art. 330, CP, desobedecer a ordem legal de funcionário público; art. 331, CP, desacato).
Nexo Causal: é o elo de ligação concreto, físico, material e natural que se estabelece entre a conduta do agente e o resultado naturalístico, por meio do qual é possível dizer se aquela deu ou não causa ao resultado.
Nexo Normativo: para a existência do Fato Típico, no entanto, não basta a mera configuração do Nexo Causal. De acordo com o contido no art. 19 do CP (Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente.), é necessário que o agente tenha concorrido com dolo ou culpa na conduta.
Teoria da Equivalência dos Antecedentes (adotada pelo CP Brasileiro): para ela, toda e qualquer conduta que, de algum modo, ainda que minimamente, tiver contribuído para a produção do resultado deve ser considerada sua causa.
Causa: é toda condição que atua paralelamente à conduta, interferindo no processo de resultado.
Espécies de Causa: as causas podem ser classificadas em duas espécies:
Dependente: é aquela que, originando-se da conduta, insere-se na linha normal do resultado (ex.: na conduta de atirar em direção à vítima, são desdobramentos normais e dependentes a perfuração do órgão pelo projétil, a lesão em órgão vital, a hemorragia interna, e a morte). A causa dependente não exclui o nexo causal, sendo que existindo dolo ou culpa, o agente responde pelo crime;
Independente: é aquela que foge ao desdobramento causal, ou seja, produz o resultado independentemente. Seu surgimento não é uma decorrência esperada, lógica, natural do fato anterior, mas um fenômeno totalmente imprevisível (ex.: não é conseqüência normal de um simples susto a morte por parada cardíaca). (divide-se em absolutamente ou relativamente independente; ver em seguida).
Causa Absolutamente Independente: não se origina da conduta e comporta-se como se por si só tivesse produzido o resultado. Não tem nenhuma relação com a conduta; quebra o nexo causal. O agente responde apenas pelo que provocou, não pelo resultado. (Ex.: o agente ministra veneno na vítima, que, logo após, sai de casa e é atropelada por veículo e morre em função do atropelamento. O agente responde legalmente por tentativa de homicídio).
Espécies:
Preexistente: existe antes da conduta ser praticada e atua independentemente de seu cometimento. Ex.: genro ministra veneno para a sogra às 12:00 hs., sendo que tal veneno causará a morte da mesma às 17:00 hs.. Contudo, às 08:00 hs. do mesmo dia a nora ministrou veneno para a mesma vítima, sendo que sua morte ocorreu às 13:00 hs.. A nora responderá por homicídio e o genro por tentativa de homicídio.
Concomitante: não tem qualquer relação com a conduta e produz o resultado independente desta, no entanto, atua no exato instante em que a ação é realizada. Ex.: no momento em que o genro está ministrando o veneno na sogra, um assaltante invade o local e atira na mesma, matando-a. Neste caso, o genro responde por tentativa de homicídio e o assaltante pelo homicídio, se comprovado que a morte ocorreu em função do tiro. Se não se conseguiu identificar qual foi a causa do homicídio, ambos respondem por tentativa de homicídio.
Superveniente: atua após a conduta. Ex.: genro ministra veneno na sogra, que, logo após, sai de casa e é atropelada por veículo, morrendo em função do atropelamento. O genro responde por tentativa de homicídio.
Causa Relativamente Independente: origina-se da conduta e comporta-se como se por si só tivesse produzido o resultado. Tem relação com a conduta apenas porque se originou desta. Ex.: assaltante que encosta uma arma de brinquedo na cabeça da vítima, sendo que esta morre em decorrência de ataque cardíaco face ao trauma psicológico.
Espécies:
Preexistente: atuam antes da conduta. Ex.: “A” desfere um golpe de faca em “B” não fatal, contudo, “B” morre por ser hemofílico. O agente responde por homicídio.
Concomitante: a causa que dá o resultado atua simultaneamente à conduta do agente. Ex.: ladrão encosta arma na cabeça da vítima e atira, sendo que esta morre de ataque cardíaco. O agente responde por homicídio doloso.
Superveniente: a causa que dá o resultado atua após a conduta do agente. Ex.: agente causa lesão corporal na vítima, que é socorrida por ambulância, a qual se envolve em acidente de trânsito logo após, ocasionando a morte da vítima. O agente responde apenas pelo que praticou antes da morte da vítima (CP, art. 13, § 1º). Nesta causa, o agente não responde pelo resultado, mas somente pelo que praticou antes deste. Obs.: se a morte fosse ocasionada por infecção hospitalar ou por complicação em cirurgia, por exemplo, o agente responderá pelo resultado.
Teoria da Imputação Objetiva: segundo tal teoria, o Fato Típico depende de duas operações: 
1ª) Imputação Objetiva, que consiste em verificar se o sujeito deu causa ao resultado sob o ponto de vista físico, naturalístico, ou seja, se o evento pode ser atribuído, sob o prisma exclusivamente objetivo, sem verificar dolo ou culpa;
2ª) Imputação Subjetiva: existindo nexo causal, analisa-se a existência de dolo ou culpa.
Obs. 1: Com a Teoria da Imputação Objetiva, antes e independentemente da análise do dolo ou da culpa, deve-se analisar se o agente deu causa, objetivamente, ao resultado. Se não o tiver causado, torna-se irrelevante indagar se agiu com dolo ou culpa.
Obs. 2: Pode-se, assim, afirmar que a finalidade da imputação objetiva do comportamento é a de considerar penalmente relevantes apenas aquelas condutas que se desviam do papel social que se espera de determinado agente.
Assim, para a existência do Fato Típico, além da conduta (dolosa ou culposa – imputação subjetiva), será necessária a Imputação Objetiva, ou seja, a correlação entre a conduta e o resultado.
Obs. 3: a Teoria da Imputação Objetiva surgiu para conter os excessos da Teoria da Conditio Sine Qua Non. O nexo causal não pode ser estabelecido, exclusivamente, com a relação de causa e efeito, pois o Direito Penal não pode ser regido por uma lei da física. Assim, além do elo naturalístico de causa e efeito, são necessários os seguintes requisitos:
criação de um risco proibido (ex.: não é proibido emprestar carro veloz para alguém habilitado a dirigir;
que o resultado esteja na mesma linha de desdobramento causal da conduta, ou seja, dentro de seu âmbito de risco (ex.: traficante vende drogas a usuário que morre em função de overdose; traficante não responde por homicídio);
que o agente atue fora do sentido de proteção da norma (ex.: atirador de elite que atira no braço da vítima que está tentando se matar com arma empunhada; o agente não responde por lesão corporal).
Tipo Legal: consiste na descrição abstrata da conduta humana feita pormenorizadamente pela lei penal e correspondente ao fato criminoso (tipo incriminador). O tipo é, portanto, como um molde criado pela lei, em que está descrito o crime com todos os seus elementos, de modo que as pessoas sabem que só cometerão algum delito se vierem a realizar uma conduta idênticaà constante do modelo legal.
O tipo é composto dos seguintes elementos:
verbo ou núcleo (ex.: matar, constranger, subtrair, etc.);
referências a certas qualidades exigidas, em alguns casos, para o sujeito ativo (ex.: mãe, funcionário público, homem, etc.);
alguns tipos penais exigem alguma qualidade especial do sujeito passivo (ex.: estupro, apenas a mulher pode ser sujeito passivo);
objeto material: o bem jurídico que é protegido pelo tipo penal (ex.: vida, patrimônio, liberdade sexual, etc.)
Espécies de Tipo
Permissivos ou Justificadores: são tipos penais que não descrevem condutas consideradas crimes, mas hipóteses em que estes crimes podem ser praticados (ex.: art. 23, CP – excludentes de ilicitude);
Tipos Incriminadores: são tipos penais que descrevem as condutas consideradas crime (ex.: arts. 121, 122, 123, CP);
Tipos Básicos: tipo básico é a forma mais simples da descrição da conduta proibida ou permitida pela lei penal (ex.: art. 121, CP);
Tipos Derivados: são os que se formam a partir do tipo básico, mediante o destaque de circunstâncias que o agravam ou atenuam (ex.: § 2º do art. 121, CP);
Tipo Fechado: são os que contêm toda a descrição legal da conduta proibida pela lei penal, não necessitando de nenhum juízo valorativo para sua configuração (ex.: art. 121, CP – matar alguém não precisa de nenhuma explicação a mais);
Tipo Aberto: não há descrição completa e precisa do modelo de conduta proibida, pois o legislador não teve condições de prever e prescrever todas as condutas possíveis de acontecer em sociedade; é o que acontece com os tipos culposos, pois devem ser preenchidos por uma valoração judicial (julgar se aconteceu imprudência, imperícia ou negligência);
Tipo Congruente: nos tipos congruentes o elemento subjetivo (o porquê, a vontade do agente de cometer o crime) se esgota na prática da conduta (ex.: art. 121, CP – o dolo é apenas matar, não importa o motivo);
Tipo Incongruente: no tipo incongruente o agente atua impelido por um fim especial, como por exemplo, no tipo do artigo 159, CP, o agente sequestra alguém com a finalidade de obter alguma vantagem com o seu resgate;
Tipos Complexos: existe quando no tipo penal há a fusão dos elementos subjetivos e objetivos; nos tipos complexos, quando faltar o elemento subjetivo e o fato não for punido a título de culpa, o fato será atípico; (ex.: furto, não existe culposo).
Elementos que Integram o Tipo Penal:
Elemento Objetivo: referem-se ao aspecto material do fato. Existem concretamente no mundo dos fatos e só precisam ser descritos pela norma (ex.: subtrair, coisa, alheia, móvel, para si ou para outrem – não precisam de explicação);
Elemento Normativo: ao contrário dos Objetivos, seu significado não se extrai da mera observação, sendo necessário um juízo de valoração jurídica, social, cultural, etc. (ex.: art. 233, CP, praticar ato obsceno – precisa de explicação; precisa avaliar o caso concreto; dependendo da circunstância, o ato pode ser considerado normal);
Elementos Subjetivos: são os que pertencem ao campo psíquico/espiritual e ao mundo da representação do autor.
Quando o tipo incriminador contiver elemento subjetivo especial, será necessário que o agente, além da vontade de realizar o verbo do tipo penal, tenha também a finalidade especial descrita explicitamente no tipo (ex.: art. 146, CP, constranger alguém para cometer algo proibido ou não cometer algo permitido);
Tipicidade Conglobante: de acordo com esta teoria, o fato típico pressupõe que a conduta esteja proibida por todos os outros ramos do Direito, como um todo, considerado globalmente. Assim, quando algum ramo do Direito, civil, trabalhista, comercial, etc., permitir o comportamento, o fato será considerado atípico. (ex.: oficial de justiça que cumpre o dever legal quando confisca o bem do devedor).
Elementares: são dados essenciais à figura típica, sem os quais ocorre uma atipicidade absoluta (quando falta uma elementar indispensável ao tipo) ou relativa (quando a falta de uma elementar desclassifica o fato para outra figura típica; ex.: arts. 213 e 214 do CP, tirando a elementar “conjunção carnal” do artigo 213, a conduta típica passa a ser a do artigo 214).
Elementos do tipo Penal
Núcleo do Tipo ou Verbo do Tipo Penal: é aquele que descreve a conduta proibida pelo tipo penal. Existem tipos uninucleares e plurinucleares, sendo estes últimos conhecidos como crimes de ação múltipla ou conteúdo variado (ex.: lei 11343/2006, lei antidrogas, art. 33, diversos verbos);
Sujeito Ativo: é quem pode praticar a conduta descrita no tipo penal. Em relação ao sujeito ativo, o crime pode se dividir em: crime comum (é aquele que não exige nenhuma qualidade especial do sujeito ativo; ex.: homicídio, furto, roubo, etc.); crime especial ou próprio (é aquele que exige uma qualidade especial do sujeito ativo; ex.: infanticídio, peculato, estupro, etc.);
Sujeito Passivo: poderá ser formal (o Estado, quando suas leis são desobedecidas) ou material (o titular do bem protegido); podem figurar como sujeito passivo tanto a pessoa física quanto jurídica;
Objeto Material: é a pessoa ou coisa contra a qual recai a conduta criminosa. Não se pode confundir objeto material com bem jurídico (em alguns casos é o mesmo que o Sujeito Passivo, como no homicídio; em outros casos, é diferente, como no furto, em que o Sujeito Passivo é o proprietário do bem furtado e o Objeto Material é o próprio bem alvo do furto).
Funções do Tipo Penal
Função Garantia: o agente só poderá ser responsabilizado se cometer uma das condutas descritas pelo código. A garantia é dada ao cidadão, que tem o direito de saber, antes de fazer, se sua conduta é lícita ou não;
Função Fundamentadora: o Estado, através do tipo penal, fundamenta suas decisões penais, vedando qualquer responsabilização penal que não esteja descrita;
Função Selecionadora: o legislador somente protege penalmente os bens de maior importância, deixando de lado as condutas que não atinjam bens jurídicos de forma gravosa, ou condutas que devem ser resolvidas por outros ramos do direito.
DOLO
Conceito de Dolo: é a vontade e a consciência de realizar os elementos constantes no tipo legal. Mais amplamente, é a vontade manifestada pela pessoa humana de realizar a conduta.
Obs.: Elementos do Dolo: o dolo exige a junção de dois elementos, quais sejam: a) elemento volitivo (vontade de realizar a conduta descrita no tipo penal); b) elemento cognitivo (conhecimento material da prática de uma conduta típica).
Fases da Conduta Dolosa
Fase Interna: opera-se no pensamento do agente. Caso não passe disso, é penalmente indiferente;
Fase Externa: consiste em exteriorizar a conduta, numa atividade em que se utilizam os meios selecionados conforme a normal e usual capacidade humana de previsão. Caso o sujeito pratique a conduta nessas condições, age com dolo, e a ele se pode atribuir o fato e suas conseqüências diretas.
Teorias do Dolo (teorias adotadas pelo CP brasileiro, art. 18; doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo)
Teoria da Vontade: dolo é a vontade de realizar a conduta e produzir o resultado (Dolo Direto);
Teoria do Assentimento ou Consentimento: dolo é o consentimento do resultado, isto é, a previsão do resultado com a aceitação dos riscos de produzi-lo. (Dolo Eventual)
CULPA
Culpa é o elemento normativo da conduta (se o agente agir dentro da norma, não se pode imputar nenhum crime a ele). A culpa é assim chamada porque sua verificação necessita de um prévio juízo de valor, sem o qual não se sabe se ela está ou não presente. O tipo penal limita-se a dizer: “se o crime é culposo, a pena será de ...”, não descrevendo como seria a conduta culposa (ex.: art. 121, § 3º, CP).
A culpa, portanto, não está descrita, nem especificada, mas apenas prevista genericamente.
A culpa decorre, portanto, da comparação que se faz entre o comportamento realizado pelo sujeito no plano concreto e aquele que uma pessoa de prudência normal, mediana, teria naquelas mesmascircunstâncias.
A conduta normal é aquela ditada pelo senso comum e está prevista ou permitida na norma.
Assim, se a conduta do agente afastar-se daquela prevista na norma (que é a normal), haverá a quebra do dever de cuidado e consequentemente a culpa.
Em suma, para se saber se houve culpa ou não, será sempre necessário proceder-se a um juízo de valor, comparando a conduta do agente no caso concreto com aquela que uma pessoa medianamente prudente teria na mesma situação (elemento normativo; saber se a pessoa agiu normalmente ou não).
Só haverá crime culposo nos denominados “crimes materiais”, ou seja, aqueles em que se exige um resultado naturalístico.
Elementos do Crime Culposo
Conduta: sempre voluntária; o agente quis praticar a conduta;
Resultado: dano causado pela conduta do agente;
Nexo Causal: relação existente entre a conduta do agente e o resultado provocado;
Tipicidade: norma penal que incrimina a conduta realizada;
Previsibilidade Objetiva: ver se a conduta do agente foi dentro do normal, se seria exigível conduta diversa do agente;
Quebra do Dever Objetivo de Cuidado: quebra do dever de cuidado que uma pessoa normal deveria ter na situação específica.
	A quebra do dever de cuidado imposta a todos se manifesta por três modalidades de culpa: imprudência, negligência ou imperícia:
Imprudência (fazer): é a culpa de quem age, ou seja, aquela que surge durante a realização de um fato sem o cuidado necessário. Pode ser definida como a ação descuidada. Trata-se de um agir sem a cautela necessária. Ex.: ultrapassagem proibida, excesso de velocidade, brincar com arma carregada, etc.;
Negligência (não fazer): é a culpa na sua forma omissiva. Consiste em deixar alguém de tomar o cuidado devido antes de começar a agir. Implica, pois, a abstenção de um comportamento que era exigido. Negligente é quem, podendo e devendo agir de certo modo, por indolência ou preguiça mental, não age ou se comporta de modo diverso. Ex.: acidente de veículo provocado por pneus desgastados e não trocados pelo agente;
Imperícia: é a demonstração de inaptidão técnica em profissão ou atividade. Consiste na incapacidade, na falta de conhecimento ou habilidade para o exercício de determinado ofício. Ex.: médico ou atirador de elite que não estão devidamente preparados para as suas devidas atividades.
Culpa Inconsciente: é a culpa sem previsão, em que o agente não prevê o que era previsível.
Culpa consciente: é aquela que o agente prevê o resultado, mas acredita que ele não ocorrerá. Ex.: direção em alta velocidade, que o agente sabe que pode acontecer um acidente, mas acredita que não acontecerá.
Culpa concorrente: todos os agentes respondem criminalmente. Ex.: dois agentes em conduta errada; o primeiro em velocidade superior ao permitido e o segundo atravessando via preferencial; provocam, consequentemente, acidente de trânsito.
Obs.: Um crime só pode ser punido como culposo quando houver expressa previsão legal. No silêncio da lei o crime somente é punido como doloso. Artigo 18 parágrafo único, CP.