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GEOGRAFIA ESCOLAR: DISCUSSÕES SOBRE A IDENTIDADE DISCIPLINAR E SOBRE A CONDIÇÃO ESPACIAL DA PRÁTICA DOCENTE HILTON SILVA JUNIOR Professor do Colégio de Aplicação-UERJ Um dos temas recorrentes no que segue é, simplesmente, como de fato se pensa tão pouco explicitamente sobre o espaço. Doreeen Massey 1. Questão motivadora: iniciando a nossa aula.... A apresentação do presente trabalho corresponde a uma discussão que nasceu na elaboração de uma aula de Geografia a ser dada na 1ª série do Ensino Médio no Colégio Pedro II, mais precisamente, quando colocamos para as turmas a seguinte questão: COM BASE NA TRAJETÓRIA ESCOLAR DE VOCÊS, DO 6º AO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL, DIGAM PARA MIM: O QUE ESTUDA A GEOGRAFIA? As respostas dada a essa questão foram as mais diversas e, para a nossa surpresa, não houve menção ao espaço, este pensado como simples superfície ou este pensado de forma mais elaborada, no sentido de portar qualquer conjunto de raciocínios mais provocadores de uma reflexão. Dois esclarecimentos, entretanto, fazem-se necessários. Primeiro, não tínhamos como expectativa para a pergunta colocada, uma reposta precisa, que se quisesse ser completa. Segundo, a nossa provocação também não se relacionava à ciência geográfica, mas almejava extrair das memórias escolares do que fora estudado ao longo dos quatro anos, uma certa consciência a cerca do campo de estudos da disciplina escolar Geografia. Paralelamente, por exemplo, lançamos perguntas sobre a História e a Matemática e, nessas duas disciplinas, obtivemos respostas que julgamos mais satisfatórias ao compararmos com as respostas dadas sobre a Geografia. Grosso modo: a História estuda o homem no tempo e a Matemática estuda os cálculos e processos de contagem. Salientamos, mais uma vez, que sabemos o quão superficiais são essas respostas, mas identificamos um discernimento mais apurado do papel dessas disciplinas escolares pelos alunos, a partir das suas trajetórias, quando comparamos com as respostas dadas sobre a Geografia. Esse trabalho é, dessa forma, um convite que lançamos aos professores de Geografia da Educação Básica e aos professores do Ensino Superior que formam professores que irão atuar na Educação Básica, no intuito de ‘localizar’ o professor de Geografia no espaço escolar, vale dizer, de contribuir na formação de uma identidade docente vinculada à disciplina escolar Geografia. Estamos aqui, colocando a ‘localização’ como um entendimento, primeiro por parte do professor de Geografia da Educação Básica, da especificidade de sua disciplina frente aos demais setores curriculares presente na escola. Com isso, conseguiremos posicionar o espaço geográfico, de fato, como uma categoria estruturante também do pensar discente, em outras palavras, entende-lo: i) como um dos ângulos possíveis de se discutir e compreender temas dos mais diversos e que são familiares a outras disciplinas escolares (Segregação sociespacial, Formação Brasileira, Industrialização, Questão Ambiental, etc.); e ii) revelador de possibilidades e soluções que podem ficar obscuros se a perspectiva espacial se fizer ausente. Para construir o presente trabalho, vamos, justamente, usar como recorte de investigação o conceito ‘espaço geográfico’. Essa nossa escolha se justifica pelo fato de nós, em primeiro lugar, entendermos que é consensual, sobretudo devido à autoridade e notoriedade acadêmica da obra “A natureza do espaço” do professor Milton Santos, de que o ‘espaço’ é um conceito-chave da Geografia, sendo este, portanto, um elemento basilar na construção da identidade da Geografia frente às demais ciências e, inclusive, um dos conceitos da Geografia bastante recorrente nos documentos curriculares oficiais, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN/1998), com o intuito de precisar a contribuição geográfica na formação escolar – na condição de disciplina escolar. Além disso, no livro didático por nós analisados, os autores apontam que o conceito de ‘espaço geográfico’ estruturado por Milton Santos é uma referência em toda a obra, conforme mostraremos mais adiante. Paralelamente, o conceito de ‘espaço geográfico’ foi escolhido como recorte analítico, porque o Programa de Geografia do Colégio Pedro II, no Ensino Médio, inicia a sua proposta com a unidade e seu primeiro capítulo intitulados, respectivamente: “Unidade I - O Espaço Geográfico e Suas Representações. 1. A Geografia como ciência e o conceito de espaço geográfico”. Entendemos, desde já, que essa localização temática está vinculada com a construção de um ângulo singular –nesse caso o geográfico- em se pensar a sociedade, bem como em destacar a relevância da Geografia como ciência. Pensamos, assim, que a comunidade geográfica escolar do Colégio Pedro II posiciona esse debate inicial com o intuito de que os alunos reconheçam a natureza do saber geográfico e, ao mesmo tempo, compreendam a relevância da Geografia como saber. Nesse ponto, o saber científico legitima o saber escolar, pois reconhecer a relevância da ciência geográfica é fortalecer a importância da Geografia como disciplina escolar. É válido salientar, politicamente falando, que não entendemos a relação Geografia Escolar ↔ Geografia Acadêmica de forma hierarquizada. A nossa posição aqui é, sobretudo, epistemológica e ambiciona pensar um discurso que, ao mesmo tempo, nos permita reconhecer as potencialidades da construção de um raciocínio geográfico para o processo de formação dos alunos da Educação Básica e, também, construir o reconhecimento do que seja o nosso território disciplinar para evidenciar a nossa indispensabilidade e construir as nossas inserções interdisciplinares. Esse estudo, apesar de estar focalizado na análise de um capítulo específico de um livro didático, como já explicado anteriormente, se apresenta como uma proposta mais ampla e, por isso, entendemos que este trabalho funcione como um convite, na medida em que propõem advertir ao professor a seguinte dúvida: qual a ‘geograficidade’ da sua aula? Ou, em outras palavras, como a abordagem geográfica aparece e é construída na sua proposta de aula? 2. Posicionamentos: localizar é preciso! Localizar é precioso! POR QUE AS AULAS SOBRE NOVA ORDEM MUNDIAL DOS PROFESSORES DE HISTÓRIA E DE GEOGRAFIA SÃO IGUAIS? Esse trabalho emerge de uma preocupação nossa de construção de uma identidade disciplinar escolar para a Geografia haja vista fatos que emergiram em nossa prática docente, mais precisamente falando, de uma necessária associação entre Geografia-espaço e no pensar sobre a forma como os alunos, diante de perguntas das mais diversas, mobilizam o espaço enquanto variável estruturante de suas análises e explicações. É apropriado explicitar que não almejamos apresentar uma definição (eterna, dicionarizante) do que é a Geografia Escolar; essa não é a finalidade desse exercício e nem portamos tal autoridade. Propomos, aqui, que pensar “no/com/sobre o espaço” (ROCHA, 2009) são posicionamentos que servem de fios condutores na construção de nossas práticas pedagógicas e são esses posicionamentos que estruturam o nosso território disciplinar dentro do mapa colorido de disciplinas que compõem o currículo escolar. Aqui, caberá a nós nessa etapa do trabalho, destacar o que estamos assumindo por Geografia e Geografia Escolar. Como ponto de partida, apropriamo-nos do posicionamento de Santos (2009, p. 72), quando é colocada uma dúvida preciosa: “Um objeto geográfico?”. Essa questão é adjetivada como pertinente para esclarecer a ideia que o espaço em si não é o objeto geográfico, porque as disciplinas diversas o problematizam também, mas é a formaque selecionamos de posicionar o espaço em nossa aula, é o olhar que lançamos sobre/com/através do espaço; ou seja, a urbanização, a cartografia, a industrialização, a segregação socioespacial, a questão ambiental, a Guerra Fria, enfim, são temas também tratados por várias disciplinas escolares. A Geografia, enquanto disciplina escolar, para nós, não se define por uma agenda temática tida como geográfica, de forma in natura. Porém, é o ângulo que escolhemos pensar esses temas que os tornam parte do programa da Geografia na escola. Para nós, na escola e na universidade: A Geografia é, assim, [...] em poucas palavras, o ato de qualificar o espaço; mas é também, simultaneamente a possibilidade de pensar essas ações dentro de um quadro lógico, de refletir sobre esta ordem e sobre seus sentidos. (GOMES, 2010, p. 36) Na escola, por exemplo, qualificamos o espaço através das lógicas de localizações; dos entendimentos diversos sobre os processos de apropriação do espaço; das ações de estruturar enquadramentos que produzem interpretações do espaço; de variados significados que esse espaço pode ser porta voz a partir das razões afetivas infinitas; da diversidade espacial; da busca em compreender as inúmeras articulações e fragmentações simultâneas que há no espaço. Alargando o debate, ponderamos a seguinte citação motivadora: Não cremos, pois, que seja indispensável continuar buscando a definição de um objeto com existência separada, isto é, uma existência geográfica, um objeto geográfico em si. A partir do entendimento que tivermos do que deve ser objeto da disciplina geográfica, ficamos em condições de tratar, geograficamente, os objetos encontrados. (SANTOS, 2009, p.77, grifos nosso) Ajuizamos, nesse ponto, a seguinte pergunta: como a perspectiva de espaço – enquanto um sistema de objetos e um sistema de ações - estrutura os nossos diversos temas de aula? Vale dizer, desdobrando em outras perguntas: i) como essa concepção de espaço aparece?; ii) como essa concepção de espaço constrói a aula?; iii) o que essa concepção de espaço, especificamente, em cada aula, me possibilita explorar? Esse espaço – sistema de objetos e sistema de ações- é protagonista na elaboração conceitual, processual e contextual da aula de Geografia. Diante do já exposto, aprofundamos com outras duas inquietações: Um dos problemas que os professores enfrentam é dentre o universo de conhecimentos estudados de forma parcelar na Geografia acadêmica, como selecionar os conhecimentos, levando em conta alguns pressupostos teóricos e práticos, a estrutura da própria disciplina, os conceitos estruturantes e produzir um outro saber que considera a essência do pensamento geográfico e vai estudá-lo com o público específico, considerando a faixa etária dos alunos do ensino médio, as suas características culturais, sociais e econômicas. (BRASIL, 1998, p.26) Ela [a Geografia] é um tema de largo interessa na sociedade, tem um certo lugar nos meios de comunicação, um certo respeito acadêmico e, talvez o mais importante, é considerada em diversos sistemas educacionais como disciplina obrigatória do currículo básico. (GOMES, 2010, p. 33, grifos nosso) Os trechos nos instigam a investir, com muita veemência, nesse ‘exercício- convite’ de pensar como se constrói a abordagem geográfica das e nas aulas, no sentido de esclarecer como a mesma foi estruturada. Politicamente, se a obrigatoriedade da Geografia enquanto disciplina escolar a empodera, concluímos que reconhecer e elaborar práticas pedagógicas de natureza geográfica é uma questão de fortalecimento e manutenção da Geografia na escola, sobretudo, em um cenário de reformas políticas que envolvem os segmentos da Educação Básica e que, por sua vez, implica em repensar a oferta obrigatória da Geografia enquanto disciplina escolar, bem como a reformulação da carga horária destinada a mesma. Por isso, é necessário precisar –localizar- a Geografia no mapa dos setores curriculares da escola, já que esta é também a sua condição de permanência - é precioso-! 3. Situando a Geografia Escolar e o saber docente: o espaço escolar em destaque POR QUE A AULA SOBRE GLOBALIZAÇÃO FOI EXCELENTE NA ESCOLA A E UM FRACASSO NA ESCOLA B? Quando pensamos na Geografia enquanto disciplina escolar e não como ciência geográfica, arrolamos a nossa discussão um contexto (espacial) que irá demandar do saber geográfico outras exigências, no que tange as finalidades a que este saber estará sujeito, bem como as possibilidades materiais no percurso de sua construção. Ou seja, a escola reposiciona o pensar a Geografia, em primeiro lugar, porque na mesma existe uma diligência própria. Já desenvolvemos em outro espaço (SILVA JUNIOR, 2014) que a construção do saber geográfico escolar demanda de um componente espacial em sua construção, já que a escola apresenta uma organização espacial que é, ao mesmo tempo, meio e condição da prática pedagógica. Marquês (2013) também desenvolveu um importante estudo sobre a defesa da organização espacial da escola com a motivação de desconstruir um pensamento simplista que evidencia o pensar o espaço escolar, em sua ordenação territorial, como uma variável secundária, marginal. O nosso esforço na época (SILVA JUNIOR, 2014) foi de compreender a escola como um substrato material preenchido por relações sociais territorializadas. Nessa concepção, abaixo enumeramos, didaticamente o entendimento colocado, mas reforçamos a necessidade de compreender o mesmo de forma integral: i) Substrato material: estamos falando da morfologia do espaço (escolar), do prédio para sermos mais preciso; mas não o prédio em si, mas entendendo o edifício como condição material e os recursos que nele estão contidos e a serviço do professor para a execução de suas práticas (tecnologias, quadro, salas, laboratórios, xerox, etc.). Ressaltamos, nas condições materiais, a forma como elas se colocam em disponibilidade real, pois sabemos que nem sempre, nas escolas brasileiras, ter uma biblioteca ou laboratório significa poder usá-los efetivamente; e ii) Relações sociais territorializadas: compreende o corpo docente, o projeto político- pedagógico, o corpo discente e o professor, individualmente, num jogo de negociação de interesses e intenções para a construção de suas práticas. Soma-se também, a forma como o espaço escolar se organiza, gerindo encontros (reuniões), disponibilizando horas para planejamento e estudo. Há, dessa forma, condições localizáveis numa determinada unidade escolar que exigirá uma ‘engenharia pedagógica’ na elaboração e execução das aulas de Geografia. Identificamos, aqui, a possibilidade de dialogar com o estudo desenvolvido por Costa & Cunha (2010, p.1), quando estes miram o espaço escolar sob a perspectiva do clima escolar, enriquecendo a nossa ideia com a enumeração de elementos fundamentais, sendo eles “as realizações pedagógicas e administrativas, as atitudes dos alunos e da equipe pedagógica em relação à escola, o conjunto de relações estabelecidas, assim como as concepções de todos os seus integrantes”. Assumir a escola como substrato material preenchida de relações sociais territorializadas contribuí para um diálogo fecundo, geograficamente falando, com a proposta estruturada por Santos (2009), na qual o espaço (escolar, nesse caso) é, simultaneamente, forma e conteúdo. Proporcionalmente, forma está para substrato material, assim como conteúdo está para relações sociais territorializadas, se assim quisermos dizer. Fizemos essa breve discussão porque concordamos, parcialmente, com Tardif (2007, p. 260) quando o mesmo afirma que o saber docente é temporal.Parcialmente, porque entendemos o saber docente como temporal e geográfico, haja vista a concepção de espaço escolar que acabamos de explicitar. Sobretudo, quando Tardif (2000a) se posiciona colocando que o saber docente “não flutua no espaço”, mas pelo contrário, “está encravado nas suas condições de trabalho”, reconhecemos um pensamento fértil para ampliar a nossa compreensão em defesa de que o saber docente contém uma dimensão espacial que é o estruturante. Cautelamos, entretanto, o cuidado para não confundirmos com a ideia de que o estudo ora apresentado apenas se restrinja ao Colégio Pedro II; entendemos que as diferenças entre os espaços escolares –quer diferenças entre os substratos materiais, quer as diferenças entre as relações sociais territorializadas- nos convidam a dosar, proporcionalmente, como as nossas práticas variam e de que forma, espacialmente falando. Esse cuidado nos municia a condicionar sentidos para as nossas aulas, na medida em que elas são entendidas como práticas territorializadas em uma escola que nos exige contribuições específicas. Associamos a isso, o entendimento de que “A relação entre uma ciência e a matéria de ensino é complexa: ambas formam uma unidade, mas não são idênticas” (CAVALCANTI, 1998, p.9). Isto porquê, reconhecemos a ciência geográfica como uma referência da Geografia Escolar, mas como na escola não se objetiva formar geógrafos e como a escola, em si, se coloca como uma condição espacial da prática docente – substrato material preenchido por relações sociais territorializadas-, vemos a relação Geografia Escolar – Geografia Acadêmica prenhe de um movimento horizontal e não como polos antagônicos e de grau de importância ou de complexidade hierarquizáveis. Então, por exemplo, quando assumimos na escola que iremos trabalhar com a concepção de espaço desenvolvida por Milton Santos - sistema de objetos e sistema de ações-, devemos nos valer dessa filiação teórica de espaço articulada com as nossas intenções pedagógicas. Clarificando através de perguntas: i) como essa concepção de espaço se posiciona a serviço da nossa intenção pedagógica?;ii) quais os avanços que essa concepção me permite?; iii) e entendendo que o meu espaço de trabalho é uma escola e não a universidade, como essa concepção de espaço se faz pertinente e frutífera no contexto espacial escolar? Defendemos, aqui, que a concepção de espaço em tela, fechado em si, apenas por ter sido cunhada por um geógrafo de notório reconhecimento, não se faz interessante, no mínimo, na escola, se as motivações pedagógicas não estiverem claras, bem como as suas reais condições de efetivá-las. A Geografia, como ‘ato de qualificar o espaço’, na escola, só angaria sentido se essa reflexão estiver imbricada com preocupações pedagógicas; adicionando que essas preocupações pedagógicas serão elaboradas sobre um território prenhe de elementos que irão condicionar a efetividade, o desenrolar da prática do professor. Então, quais variáveis do espaço escolar (ESCOLA A) contribuíram para uma aula excelente? Como essas variáveis oscilam quando comparada com outras unidades escolares (como a ESCOLA B)? De forma mais genérica: como a diversidade espacial impacta nas minhas aulas, em termos de construção e execução? É preciso reconhecer que, no Brasil, muitas das diferenças não podem obscurecer as desigualdades de condições para o desenvolvimento do trabalho docente quando nos prestamos a fazer um exercício comparativo entre as unidades escolares. E, por fim, é preciso ponderar também a coexistência, ou seja, os espaços escolares com suas trajetórias próprias, para não incorrermos ao erro que “Reduz coexistência simultâneas a um lugar na fila da história” (Massey, 2009, p. 24), haja vista, sobretudo, os rankings elaborados e divulgados, inclusive pelo governo federal, quando dos resultados de avaliações externas, como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Por isso, sublinhamos que o ‘ato de qualificar o espaço’ se articula com a nosso posicionamento pedagógico de que compreender o espaço é se compreender no espaço, já que toda a existência (pessoal e dos outros) se efetiva nele e por ele - seu bairro, seu município, seu estado, etc. Compreender o espaço e, nesse sentido qualificando o mesmo a partir da sua ordem de organização, permite aos sujeitos posicionamentos conscientes e necessários. Por isso, quando o aluno não consegue distinguir a aula cujo tema é “Nova Ordem Mundial”, dada tanto pelo professor de História como pelo professor de Geografia, atrevemo-nos a colocar que, muito provavelmente, nós, professores, confundimos conteúdos com objetivos pedagógicos e não construímos uma aula na qual a perspectiva espacial seja a lente para enxergar a política após a Guerra Fria, já que na construção da aula não nos valemos de intenções pedagógicas que evidenciem uma espacialidade ao tema - no caso da aula de Geografia. Logo, reduzimos a aula ao conteúdo, ou seja, a “Nova Ordem Mundial”. Mais uma vez, é valioso perguntar: como construir uma aula sobre “Nova Ordem Mundial” numa perspectiva geográfica? 4. Análise do objeto investigado: “A Geografia e a construção do conceito de espaço geográfico”1. 4.1. Apresentação do capítulo Iniciaremos essa etapa do trabalho apresentando, de forma panorâmica, o capítulo investigado nessa pesquisa. Faremos usos das palavras dos próprios autores, sobretudo das partes que constam no Manual do Professor da obra, bem como de inserções nossas a partir do estudo que fizemos do capítulo. Vemos, no Manual do Professor, uma possibilidade rica de discutir com os autores da obra, tendo em vista os esclarecimentos e filiações teóricas declaradas no mesmo pelos autores para a elaboração do livro didático. A obra em destaque, dividida em 3 volumes, está voltada para a o Ensino Médio e o capítulo que nós analisamos consta no 1º volume, que é assim organizado: 1 Albuquerque, Maria Adailza Martins de Geografia sociedade e cotidiano: fundamentos, volume 1 /Maria Adailza Martins de Albuquerque, José Francisco Bigotto, Marcio Abanza Vitiello. -3ª ed.- São Paulo: Escala Educacional, 2013. – (Coleção Geografia sociedade e cotidiano) QUESTÃO 1 (Colégio Pedro II, 1ª série do Ensino Médio, Prova Trimestral). CONSIDERE O TRECHO ABAIXO: “O ESPAÇO GEOGRÁFICO NÃO PODE SER CONSIDERADO COMO SE OS OBJETOS MATERIAIS (AS CONSTRUÇÕES) QUE FORMAM A PAISAGEM TIVESSEM UMA VIDA PRÓPRIA, PODENDO ASSIM EXPLICAR-SE POR SI MESMOS.” MILTON SANTOS CLARIFIQUE E DESENVOLVA A AFIRMATIVA. APRESENTE UM EXEMPLO EM SUA RESPOSTA. GEOGRAFIA - SOCIEDADE E COTIDIANO-VOLUME 1 UNIDADE I: O ESPAÇO GEOGRÁFICO CAPÍTULO 1 – A GEOGRAFIA E A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE ESPAÇO GEOGRÁFICO CAPÍTULO 2 – PAISAGEM, LUGAR E REGIÃO: CONCEITOS PARA A ANÁLISE GEOGRÁFICA CAPÍTULO 3 – TERRITÓRIOS: DO ESTADO-NAÇÃO ÀS TERRITORIALIDADES URBANAS CAPÍTULO 4 – CARTOGRAFIA E SENSORIAMENTO REMOTO: FERRAMENTAS PARA OS ESTUDOS GEOGRÁFICOS UNIDADE II: A SOCIEDADE, A CONSTITUIÇÃO E A TRANSFORMAÇÃO DAS PAISAGENS CAPÍTULO 5 – ESTRUTURA GEOLÓGICA E RELEVO CAPÍTULO 6 – TEMPO ATMOSFÉRICO E DINÂMICAS CLIMÁTICAS CAPÍTULO 7 – AS ÁGUAS: HIDROSFERA E BACIAS HIDROGRÁFICAS CAPÍTULO 8 – OS DOMÍNIOS NATURAIS E OS SOLOS UNIDADE III: GEOGRAFIA, AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO CAPÍTULO 9 – UM PLANETA E MUITAS FORMAS DE PENSÁ- LO CAPÍTULO 10 – VISÃO GEOSSISTÊMICA E AS NOVASTECNOLOGIAS CAPÍTULO 11 – VISÃO SOCIOAMBIENTALISTA E DEMARCAÇÕES TERRITORIAIS CAPÍTULO 12 – VISÃO CRÍTICA E AS SOCIEDADES URBANO-INDUSTRIAIS De modo geral, o capítulo que nós investigamos (CAPÍTULO 1 – A GEOGRAFIA E A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE ESPAÇO GEOGRÁFICO), será sistematizado também através de uma tabela que busca reunir as suas etapas constitutivas, as intenções pedagógicas, materiais complementares e a descrição das atividades propostas. A saber: CAPÍTULO 1: A GEOGRAFIA E A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE ESPAÇO GEOGRÁFICO Objetivo - “O volume 1 inicia com uma discussão mais abrangente sobre o processo de construção do espaço geográfico (Unidade 1), fundamentado no debate acadêmico atual acerca desse conceito. Como desdobramento dessa discussão inicial, pretendemos possibilitar ao aluno a apropriação de conceitos e categorias essenciais para a compreensão do espaço geográfico, como paisagem, lugar, região, território e territorialidade. Ao final da primeira unidade, apresentaremos os conceitos cartográficos essenciais para a compreensão e representação do espaço geográfico. Esses conceitos serão retomados e aplicados nas análises desenvolvidas no decorrer das unidades seguintes.” (p. 38. Manual do Professor) -“Objetivos do capítulo. O objetivo deste capítulo é propiciar uma visão geral da história da Geografia, cujo processo, envolvido por uma dinâmica social, é resultado de muitas transformações que vêm ocorrendo no planeta ao longo dos séculos. Além de discutir também o conceito de espaço, valendo-se do pensamento geográfico. A ideia é motivar o aluno a formular e responder a perguntas como: “Para que serve e por que estudar Geografia?”. Não se pretende aqui estudar a história do pensamento geográfico na sua complexidade acadêmica nem encerrar o debate sobre o conceito “espaço geográfico”, mas fazer o aluno compreender a importância do conhecimento geográfico e da evolução ao longo da história e produção e reprodução do espaço geográfico é produto do trabalho humano.” (p. 38, Manual do Professor). Conteúdos “•Conceituais: --Principais: Geografia, espaço geográfico. --Secundários: história do pensamento geográfico, representação cartográfica, relação sociedade-natureza, capitalismo. •Procedimentais: pesquisar, comprovar, propor, interpretar, debater, criticar. •Atitudinais: desenvolver posicionamento crítico em relação ao processo de construção do conhecimento geográfico e relacioná-lo com diferentes realidades e contextos.” (p. 39, Manual do Professor). Composição do capítulo por etapas 1º: O conhecimento geográfico e a sua importância em diferentes recortes até a sua institucionalização como ciência (na Antiguidade, nos grupos indígenas, na Idade Média, etc.); 2º: Geografia escolar: o papel da Geografia como disciplina escolar em distintos contextos (séculos XVIII, XIX e atualmente). 3º: A Geografia Moderna e o modo de produção capitalista. Dessa forma, “para vários autores da atualidade, algumas condições históricas relacionadas ao desenvolvimento do capitalismo favoreceram a constituição da Geografia como ciência, no século XIX” (p. 15). 4: “O conceito de espaço geográfico: uma relação entre sociedade e natureza.” (p. 17). Materiais adicionais -Boxer “Profissão geógrafo”. -Boxer “Os Lusíadas”, no intuito de explorar como os conhecimentos geográficos medievais influenciaram Camões em sua composição poética. -Boxer Quadro “O geógrafo” de Johannes Vermeer (1632-1675). -Boxer “Vidal de La Blache e a Geografia francesa”. -Boxer “Discutindo conceitos: o espaço geográfico”. Trechos da obra “A natureza do espaço” de Milton Santos. Atividades -Análise de situação-problema: o exercício consiste em duas reportagens sobre a produção do espaço urbano em duas cidades à luz dos interesses que se conflitam haja vista os grupos envolvidos, como o Estado, os empresários, etc. Destaque para o questionamento quanto ao papel do Estado na organização do espaço. Segundo os autores, “é colocar o aluno diante de uma situação-problema em que ele pode aplicar o conceito de espaço geográfico e discutir o papel do Estado nas duas situações propostas. Assim ele poderá compreender como se pode fazer uso da Geografia para pensar sobre as questões que afetam os moradores de uma cidade”. (p. 47, Manual do Professor). -Considerando mapas e imagens, “A ideia desta atividade é trabalhar com algumas habilidades que foram utilizadas ao longo do capítulo para o desenvolvimento do conteúdo, assim como também propor uma sistematização desses conteúdos e o emprego dos conceitos desenvolvidos.” (p. 47, Manual do Professor). 4.2. Provocações com o espaço escolar... Para uma contextualização espacial – escola como substrato material preenchido por relações sociais territorializadas-, iniciaremos com o posicionamento do capítulo do livro como uma alegoria para a construção de nossa proposta que é, aqui, de advertir ao professor sobre a elaboração da abordagem geográfica de sua aula e com a construção de uma identidade disciplinar que vincule Geografia e Espaço, este último sob o ângulo de sua organização e, mais precisamente, neste artigo, como ‘sistema de objetos e sistema de ações’. O livro didático é um material de alcance espacial muito extenso, pois o mesmo abrange todo o território nacional e, certamente, em sua construção, muitas colocações dos autores se estruturam em torno de suas memórias e experiências escolares, especialmente como professores. Dito isso, é preciso colocar que muitas das nossas inquietações estão também condicionadas ao nosso exercício de mediação didática como professores, na época, do Colégio Pedro II, envolvendo uma dialogia entre pressupostos acadêmicos, intenções pedagógicas, espaço escolar e o livro didático. Achamos, então, pertinente repetir um trecho de uma entrevista utilizada em outro trabalho por nós publicado (SILVA JUNIOR, 2014): “Eu agregava ao livro didático, a gente fazia um outro livro. Daquele livro didático eu trazia os textos. [...]. O livro tem uma leitura uniforme, a diversidade é contemplada em sala de aula. Permitindo que cada um interpretasse aquilo do seu jeito. Aí depois íamos para o livro: “Olha aqui! O livro não coloca isso!”. O livro vai do Acre ao Rio Grande do Sul, da Paraíba ao Paraná. Ele tem que atender a essa multidão de gente, ele é uma generalização. Você não pode está se vendo aí. É disso que a gente precisa escapar e é por isso que a aula é importante, se não o livro substituía.” (Trecho de entrevista. Fala de um professor) Abaixo, na forma de esquema, vamos ponderar os elementos do espaço escolar Colégio Pedro II que se fizerem condicionantes na reflexão aqui colocada e que, também, estes elementos, estiveram imbricados na mediação didática por nós desenvolvida. Atentem ao esquema: ESCOLA: SUBSTRATO MATERIAL PREENCHIDO POR RELAÇÕES SOCIAIS TERRITORIALIZADAS ELEMENTOS SIGNIFICATIVOS DO SUBSTRATO MATERIAL -TURMAS COM 30 ALUNOS POR SALA; -QUADRO, VENTILADORES E CARTEIRAS; -DISPONIBILIDADE REAL DE DATASHOW, XEROX E LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA; -TODOS OS ALUNOS COM O LIVRO DIDÁTICO DO PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO DIDÁTICO, ENCAMINHADO PELO GOVERNO FEDERAL. RELAÇÕES SOCIAIS TERRITORIALIZADAS -CORPO DISCENTE COM UMA FORMAÇÃO CONSISTENTE EM TERMOS LEITURA E CONSTRUÇÃO DE RACIOCÍNIOS SISTÊMICOS; -MATRÍCULA DE 40 HORAS/SEMANA, 20HS SE DESTINAM A PESQUISA E ESTUDO; -AUTONOMIA PEDAGÓGICA PARA TRABALHAR O PROGRAMA DE GEOGRAFIA.-PROVA DO 3º TRIMESTRE UNIFICADA POR SÉRIE, O QUE EXIGIU DIÁLOGO COM OUTRO PROFESSOR PARA AFINARMOS PONTOS BASILARES E COMUNS DO EXAME REFERIDO. -GRUPO DIVERSIFICADO DE PROFESSORES: GRADUADOS, MESTRES E DOUTORES. O esquema em destaque é uma demonstração consistente de que o saber docente tem um constituinte espacial substantivado. A escola, pensada como substrato material preenchida por relações sociais territorializadas, nos municia a criar aulas de Geografia que graduem, além das demandas do público alvo, as condições efetivas de sua construção. Aqui, a aula angaria sentido pedagógico, pois irá portar um propósito vinculado com a unidade escolar na qual o professor é lotado. Por esse raciocínio, propomos ao professor que lê o artigo as seguintes perguntas: quais variáveis do espaço escolar interferem na sua aula? Quais estratégias são viáveis para contornar aquelas que vos atrapalham? Os autores de livros didáticos, repetindo, partem de uma ideia de espaço escolar, ou melhor, de funcionamento do espaço escolar, tanto em termos de estrutura física, como em termos de relações que se desenvolvem e como se desenvolvem na escola. É preciso, então, que o professor que veja o livro didático como um recurso, faça essa mediação para o seu espaço de trabalho também. 4.3. Provocações com a construção do capítulo... 4.3.1. Provocações sobre o lugar da Geografia Acadêmica Segundo os autores, a parte do capítulo destinada a discussão da história do pensamento geográfico, ambiciona demonstrar para que serve a Geografia e o porquê precisamos estudá-la, mas, é bom evidenciar, não almeja fazer uma discussão da história do pensamento geográfico como se realiza na academia. Amparado nessa pretensão, nos questionamos sobre a real efetividade da discussão, pois entendemos que quando legitimamos a Geografia Escolar pelo viés da Geografia Acadêmica, sobretudo, podemos nos esquivar da problemática própria da escola de vincular as contribuições pedagógicas com a Geografia. Além disso, podemos não tecer distinções sutis e necessárias como, por exemplo, dizer que informações sobre lugares são conhecimentos geográficos, independentemente, de como se estruturam e se organizam esses dados na constituição desse saber. Outro equívoco, bastante comum também, é pensar na importância da Geografia na expansão do capitalismo, sem fazer um aprofundamento teórico necessário, o que poderá nos conduzir a um erro bastante recorrente que é confundir geografia (política) com geopolítica, conforme demostrado por Castro (2005). Somado a isso, vemos nesse posicionamento do saber geográfico acadêmico, uma postura que poderá contribuir para uma localização subordinada do saber geográfico escolar. Precisamos, se esse caminho escolhermos, ser bastante explícitos e cuidadosos para não reforçar a ideia simplista de transposição didática. Em nossa prática com o livro didático em questão, fizemos a escolha de trabalhar as atividades que instigavam aos alunos a pensarem no jogo de disputa pelo comando da organização espacial, extraindo dessa experiência (prática) a relevância de que aprendemos Geografia para ‘se compreender no espaço’. Sugestionamos também o estudo recente desenvolvido por Duarte (2016) que fortalece a Geografia Escolar através da demonstração da espacialidade, mais precisamente, do desenvolvimento do raciocínio espacial e de sua importância na formação dos jovens. Esse trabalho é seminal no sentido de proporcionar a Geografia Escolar argumentos pedagógicos sólidos e imbricado, diretamente, com o espaço escolar. Questionamo-nos, por exemplo, sobre os seguintes parágrafos extraídos do capítulo do livro didático: “Nesse período, os pesquisadores iniciaram uma série de críticas ao método descritivo adotado pela Geografia Moderna e, dessa forma, contribuíram para o surgimento da Nova Geografia ou New Geogmphy. Essa vertente, de origem anglo-saxônica, fundamenta sua análise espacial na Matemática e trabalha com modelos voltados ao planejamento, como estudaremos mais adiante no capítulo 10. Estudiosos afirmam que essa Nova Geografia, apesar de criticar o método descritivo da Geografia Moderna e de adotar análises estatísticas do espaço, continua servindo aos objetivos das classes dominantes e ao modo de produção capitalista” (p. 17). “A concepção de espaço como lugar da reprodução das relações sociais de produção, proposta pelo filósofo francês Henry Lefébvre (1901-1991), influenciou muitos geógrafos críticos na década de 1970, entre eles o brasileiro Milton Santos (1926-2001). Para fundamentar sua análise e baseado em Marx, esse autor defende que existem duas naturezas: a primeira natureza, intocada pelo ser humano, não transformada; e a segunda natureza, ou natureza artificial, aquela transformada pelo trabalho humano” (p.18). A nossa indagação se refere a real necessidade dessa discussão. Não há, no nosso entender, articulação entre os parágrafos supracitados com as ideias que se pretendem discutir no capítulo - Para que serve a Geografia e qual a sua importância-. Até porque, ambos os contextos abordados são contextos acadêmicos e, nesse sentido, bem específicos na qual o conhecimento geográfico será legitimado por razões que não pertencem ao espaço escolar. Damo-nos o direito de perguntar: há uma maneira escolar de trabalhar a história do pensamento geográfico? Se sim, quais as intenções (escolares) que podemos identificar nessa maneira escolar? Compartilhamos, abaixo, uma proposta: A história das ciências não só fornece elementos que permitem compreender mais claramente os conceitos científicos, como também permite questionar a visão que o senso comum tem do conhecimento científico como um conhecimento derivado da experiência e da observação imediata. Além de desconstruir a ideia da ciência como um conhecimento acabado, definitivo, restrito aos iluminados. (LOPES, 1999, p. 213) 4.3.2. Provocações sobre a definição de um ângulo para a Geografia Escolar Como já ponderamos na tabela que apresentava o capitulo analisado, os autores utilizam diferentes contextos para demonstrar a importância do conhecimento geográfico, perpassando a Antiguidade, a Idade Média, os grupos indígenas, etc. A questão que colocamos diante dessa escolha que os autores fizeram para demonstrar a importância do saber geográfico é: o que há em comum em todos os contextos demonstrados? Perguntamos isso para provocar a contenda se discutir as características de um espaço é, por si só, produzir um saber geográfico? Ou seja, criar uma narrativa sobre uma área é, necessariamente, uma narrativa geográfica? Nos currículos escolares das disciplinas de História e Biologia, por exemplo, há um propósito também dessa natureza, como a História da África ou a compreensão dos biomas brasileiros. Entretanto, temos a sapiência em questionar se esses temas/conteúdos são geográficos? Conseguimos, com clareza e precisão, ponderar esse limite disciplinar? Se reconhecermos também que, no programa curricular da Geografia, devemos tratar da África ou dos biomas, é porque reconhecemos ter algo a acrescentar, que daremos um olhar específico (geográfico) sobre esses conteúdos e que, por isso, não faremos uma simples repetição do que já foi discutido em outras disciplinas escolares; mais ainda, que descrever por si só as características desses espaços, como se um inventário fizéssemos, não é suficiente e nem eficiente para definir o nosso ângulo disciplinar. É necessário posicionar o espaço (conceitual, processual e contextualmente), neste caso como sistema de objetos e sistema de ações, para colaborarmos com os temas apontados.O saber geográfico não pode ser confundido com a ideia exclusiva de saber sobre o espaço, no intuito de identificar as características presentes em uma área. É preciso pensar ‘no/com/sobre’ o espaço; exige a compreensão do espaço pela sua organização e, para compreender a ordem, precisa-se muito além de descrever o que tem no espaço. Retomando o capítulo e esse recorte em distintos contextos, explicitamos as inquietações: Saber Geografia é deter informações sobre uma área? É pensar o espaço apenas como recurso e, por questão de sobrevivência, necessário dominá-lo? Precisamente, de que forma concebemos o espaço –‘sistema de objetos e sistema de ações’- nos diferentes contextos (Antiguidade, Idade Média, grupos indígenas)? Vemos, nessa última pergunta, uma reflexão profícua para nortear os contextos via um discurso que pondere uma qualificação do espaço através de sua organização e vinculado ao conceito de espaço que os autores do livro didático se filiaram. Aprofundando o debate, tomemos outro trecho do livro didático, com grifos nosso: “A Geografia escolar possibilita compreender as relações sociais, econômicas, culturais e até afetivas que acontecem no espaço. Além disso, a conquista da cidadania e a consciência do papel de sujeito transformador do espaço geográfico são algumas das finalidades que a escola busca e que a Geografia procura desenvolver.” (p.15). Chamamos atenção para o sentido que o texto, através das expressões “acontecem no espaço” e “sujeito transformador do espaço”, posicionam o espaço. Há nessa escrita um entendimento de que a dinâmica social sujeita o espaço à condição de palco. É preciso, nesse raciocínio, demonstrar que as transformações sociais e as relações de múltiplas naturezas se efetivam não somente NO espaço, mas também PELO espaço; reposicionando o espaço como meio/palco, mas também como condição. Apesar de parecer sútil a colocação realizada, ela, a nosso ver, merece “espaço” porque é uma inferência ontológica e, por essa razão, mobiliza o espaço como uma estrutura portadora de respostas para as nossas questões, para além de sua qualidade mais comum e imediata (a de palco). Por exemplo, ao invés de colocarmos que o território é uma projeção do poder NO espaço, precisamos também trabalhar com a ideia de que a ordem espacial –os sistemas de objetos, por exemplo-, indicam para os sujeitos, como se um texto fosse, o poder que é dominante ou a regra válida. Nessa situação, o poder se dá PELO espaço –agora condição- e não apenas NO espaço (Gomes, 2010). Por fim, uma última colocação é sobre as ideias de vincularmos a Geografia Escolar aos juízos de “relação sociedade e natureza” e também das “transformações espaciais”, como se essas expressões fossem suficientes para definir uma identidade disciplinar ou justificar a sua importância. Destacamos que expressões como essas são facilmente confundidas ou até mesmo encontradas em outras disciplinas escolares. No caso da Biologia, por exemplo, temos os chamados impactos socioambientais nos biomas que também tem, no cerne desses conteúdos, as propostas de discutir “relação sociedade e natureza”. Insistimos no ponto de partir das ideias de ‘pensar no/com/sobre o espaço’ para ‘se compreender no espaço’ sejam argumentos mais ajustados, sobretudo, pelo fato de destaque que tem o conceito de espaço e pelo seu preenchimento complexo de ideias para além de uma arena onde as ações ocorrem. Não somos contrários as propostas de empoderar a importância da Geografia Escolar com as ideias de “relação sociedade e natureza” ou “transformações espaciais’, mas entendemos que são argumentos de natureza secundária de importância e insuficientes para construção de uma identidade disciplinar escolar. Para finalizar essa etapa, retomaremos a leitura da questão da prova aplicada na 1ª série do Ensino Médio no Colégio Pedro II, com o intuito de posicioná-la em toda essa nossa discussão e compreender como a mesma se encaixa na mediação didática por nós sustentada aqui. Na elaboração da questão, convocamos a intenção de compreender o espaço como um sistema. Nas aulas, não utilizamos com os alunos os termos “objetos” e “ações”. Essa adaptação livre nos serviu para construir a ideia de que qualquer posição espacial é meio, condição e reflexo de um significado que só é capaz de se compreendida numa condição de situação e, nesse raciocínio, ponderando os demais elementos que estão no espaço (fixos ou fluxos) - quer as construções, quer as práticas sociais-; uma perspectiva relacional, sistêmica. Entendemos que ‘se compreender no espaço’ exige o pensar que a sua localização nunca se justifica em absoluto, encerrada em si. Aprofundando, vemos nessa proposta uma possibilidade de se compreender PELO espaço, demonstrando que o mesmo é, para além do substrato material, portador de um conteúdo; há, aqui, a oportunidade de adicionar a dimensão simbólica de constituição do espaço, esclarecendo identidades, práticas, significados variados que têm no e pelo espaço uma forma efetiva de existência e de significado. Aqui, também repousa um adicional que fizemos ao capítulo do livro didático. Essa espessura do espaço – dimensão simbólica-, prenhe de valores e que dialogam com as construções, fluxos e práticas sociais que se desenrolam tem um posicionamento que exige uma explicação sistêmica. No volume 1 da obra, os autores abordam essa dimensão quando discutem, mais adiante (no capítulo seguinte), o conceito de lugar. Achamos, entretanto, cuidadoso posicionar essa discussão agora, pois acreditamos poder evitar uma tendência de pensar espaço e lugar como antagônicos, onde o primeiro é o externo e o segundo o próximo, conforme nos alerta Massey (2009, p. 260): [...] baseia-se numa imaginação geográfica problemática. Para começar, trata-se de confundir categorias. As duplas local/global e lugar/espaço não se projetam na dupla concreto/abstrato. O global é tão concreto quanto é o lugar local. Se o espaço deve, realmente, ser pensado relacionalmente, então ele não é mais do que a soma de nossas relações e interconexões e a ausência delas; ele também é, absolutamente, “concreto” (fica evidente, aqui, o quanto romantizar pode ser o posto de se compreender o espaço como uma abstração). Por fim, se reconhecemos que o conceito de espaço, construído na primeira unidade do programa de Geografia, é crucial para a construção do pensar geográfico, insistirmos que uma questão merece ser, repetidamente, lembrada: como esse conceito aparece, é estruturado e ilumina as nossas discussões nos temas/capítulos subsequentes da agenda curricular escolar da Geografia? 5. Conclusões... em curso! POR QUE A MAIOR PARTE DAS “COISAS” QUE EU APRENDI NA UNIVERSIDADE, SOBRETUDO AS TEORIAS DISCUTIDAS NA FACULDADE DE EDUCAÇÃO, NÃO ME SERVEM DE NADA NA ESCOLA?! Em um evento recente (2017), ocorrido no Colégio de Aplicação da UERJ, sobre a Reforma do Ensino Médio, uma professora de História que integrava a mesa de discussão, destacou em sua fala que um importante papel que motiva as aulas da referida disciplina é a preocupação em construir a consciência de que os alunos também são sujeitos históricos. Naquele momento, sobretudo para nós que estávamos investindo estudos na construção do texto ora apresentado, sentimo-nos muito incomodados por entender que aquela fala, de certa forma, preteria-nos. Identificamos, nessa fala, a possibilidade de construir um discurso veementemente combatido pela geógrafa Doreen Massey (2009) de ‘aniquilação do espaço pelo tempo’. Entretanto, para não fazermos uma transposição apressada da ideia de Massey de aniquilação do espaço pelo tempo,precisamos localizar a sua fala. Massey insistiu no argumento que muitos acadêmicos produziram teses sobre aniquilação do espaço pelo tempo haja vista o desenvolvimento dos sistemas de transportes e telecomunicações que operam como matrizes para fundamentar a ideia de compressão espaço-tempo. Muitas vezes, o espaço é aqui entendido como distância e, com avanços nos meios de transporte e comunicação, os fluxos de distância cada vez maiores se dão em um tempo cada vez menor, sendo o espaço/distância, de certa forma, desimportante. Aqui, o espaço seria aniquilado. A aniquilação do espaço (no caso da Geografia Escolar!) ocorre pelo fato de ou reduzir a sua carga teórica, quer dizer, entende-lo como palco e, nesse caso, fazemos um caminho parcialmente geográfico (nos reduzindo a dizer onde as coisas estão, sem assumir a responsabilidade de dizer o porquê de ali estarem); ou também substituímos o espaço geográfico por um inventário/conjunto de dados sobre uma área visando enumerar características observáveis. No primeiro caso, inserimos a fala da professora de História, onde a mesma entende que os seus alunos precisam se compreender como sujeitos históricos, vendo o espaço apenas como uma localização, uma categoria secundária e, muitas vezes, reduzida a um posicionamento técnico-cartográfico. No segundo caso, encaixamos a parte do capítulo do livro didático que destacou o conhecimento sobre os lugares, a reunião de um conjunto de características de uma dada área em um certo recorte social, como se isso fosse produzir um saber geográfico. O que para nós, no caso do livro didático, é adjetivado como uma coletânea de dados enciclopédicos. Há, nessas duas situações, uma redução profunda relativa “a natureza do espaço” (Santos, 2009) e que, certamente, põem em risco a construção de uma identidade disciplinar escolar que vincule a Geografia ao seu conceito mestre, ou seja, ao espaço. Nós cursamos na universidade disciplinas como Teoria da Geografia, Geografia Regional do Brasil, Geografia Urbana, Geografia Agrária, Geografia Física do Brasil. Ou seja, áreas que, a princípio, tem uma imediata correspondência com o currículo da Geografia Escolar, já que esses são, muitas vezes, eixos temáticos que organizam esse próprio currículo. Mesmo assim, e certamente, temos mais dificuldades em elaborar uma aula cujo tema é “espaço geográficas” para o 6º ano do Ensino Fundamental do que para uma turma de 1º período de graduação em Geografia. Isso porque a escola apresenta intenções pedagógicas próprias e uma forma bem específica de discutir o saber com um público bastante singular, uma condição ‘localizadamente’ distinta: não estamos formando geógrafos e, muitas vezes, estamos lidando com adolescentes. Assim, propomos que, além de precisar ponderar a escola como condição espacial - substrato material preenchido por relações sociais territorializadas-, necessitamos considerar o fio condutor “pensar no/com/sobre o espaço” articulado com a ideia de ‘qualificar o espaço’ com o intuito de alcançarmos a nossa ambição pedagógica com a Geografia Escolar: ‘se compreender no espaço’. Em seu livro “Conhecimento escolar: ciência e cotidiano” (EDUERJ, 1999), Lopes faz precisas colocações sobre o saber mobilizado pela escola: “a escola tem o objetivo explícito de ministrar uma formação científica, ao mesmo tempo em que possui por objetivo implícito formar o conhecimento cotidiano”. (p. 217, grifos nosso). Recentemente, em seu mais novo livro “Quadros geográficos – uma forma de ver, uma forma de pensar” (BERTRAND BRASIL, 2017), Gomes sistematiza três domínios de pensamento que qualificamos como geográficos. Reelaboramos esses domínios discutidos pelo referido autor numa tabela: TIPOLOGIAS DE PENSAMENTOS GEOGRÁFICOS Pensamento Características 1. Sensibilidade - Impressão causada pela dimensão espacial. É a capacidade de situar as coisas no espaço, é a capacidade de nos situar no espaço e à capacidade de se orientar. - O ser humano é capaz de estender o braço para alcançar alguma coisa. Anterior à percepção. - Presente em outros animas que não atribuímos, em geral, capacidade de reflexão. Já que estes sabem se orientar, se deslocam em busca de água, de alimentos ou de melhores condições climáticas sazonais. 2. Vernacular - Forma de inteligência que são estabilizados e transmitidos pela cultura. São conhecimentos e comportamentos espaciais. - Conhecimentos que grupos humanos detêm do ambiente onde vivem: a Geografia dos Ianomâmis, dos Inuits, a dos Maoris, etc. 3. Ciência geográfica - Campo de estudos que interpreta razões pelas quais as coisas diversas estão situadas em posições diferentes ou por que as situações espaciais diversas podem explicar qualidades diferentes de objetos, coisas, pessoas e fenômenos. - Reúne tradições, todas preocupadas em responder à questão do porquê da lógica de localizações, ordenadas por elementos naturais ou humanos. Assim, considerando as colocações tecidas por Lopes (1999) sobre o conhecimento construído pela escola e sua grande tensão - entre os conhecimentos científicos e conhecimentos cotidianos, ponderamos: não será o saber escolar geográfico portador dos três domínios explicitados por Gomes (2017)? E, por isso também, a nossa dificuldade em nos apropriar unicamente do saber acadêmico, já que este, por si só, na escola, não é suficientemente necessário? Além desses três domínios que o pensar geograficamente engloba, é imprescindível considerarmos as preocupações pedagógicas e o espaço escolar como condição espacial do nosso ofício de professor, para não incorremos o erro de considerar o conhecimento escolar como “um saber sem produtor, sem origem, sem lugar” (Lopes, 1999, p. 207). Demonstramos nesse trabalho a preocupação e a importância em construir uma identidade disciplinar para a Geografia que esteja mais reconhecidamente vinculada ao espaço, vendo esta sugestão como forma de nos manter articulado ao nosso saber de referência e nos afastar de um “mal” que é de não cometermos a fatalidade de produzirmos uma “Geografia [Escolar] Viúva do Espaço” (Santos, 2004, p. 188, adaptação livre) ou de continuar correndo perigo, como foi alarmado por Foucher (1994, p. 14) quando analisou as transformações nos programas de ensino na França: “Acabar com a geografia é algo tão tentador, que por várias razões os conceitos das outras disciplinas são melhor estabelecidos e mais presentes no discurso social.”. 6. Referências bibliográficas ALVES, Nilda. Decifrando o pergaminho: o cotidiano das escolas nas lógicas das redes cotidianas. In: OLIVEIRA, Inês Barbosa de; ALVES, N. (Org.). Pesquisa no/do cotidiano das escolas: sobre redes de saberes. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. 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