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Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6355-0 M ETODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA Rosane Rudnick IESDE BRASIL S/A 2018 Metodologia do ensino de Geografia Rosane Rudnick Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Kameon/iStockphoto CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ R854m Rudnick, Rosane Metodologia do ensino de geografia / Rosane Rudnick. - 2. ed. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2018. 130 p. : il. ISBN 978-85-387-6355-0 1. Geografia. I. Título. 17-46685 CDD: 910CDU: 910 © 2018 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Apresentação O processo de ensino e aprendizagem, assim como a construção do conhecimento na geografia compreende, além dos conteúdos presentes no currículo dessa disciplina, a consolidação do preparo cultural do indi- víduo, dos valores éticos, da formação da consciência ambiental voltada para a cidadania. A Geografia atualmente “pede” que o professor proporcione situa- ções de aprendizagem, em sala de aula ou fora dela, que valorizem as referências dos alunos. Essas referências trazem as experiências e textuali- zações do dia a dia e cabe a você, professor, encaminhar tudo isso e, além de avançar nas discussões e buscar uma postura crítica dos educandos, repensar sua prática na sala de aula. O processo de transformação do mundo nos impõe, principalmente como professores de Geografia, um movimento constante de renovação, pois, a cada dia, surgem novas ideias e reformulam-se as velhas... em uma cadeia infinita que é a do processo de produção do conhecimento. Nesse processo, a reflexão crítica faz avançar. O objetivo deste livro, portanto, é o de oferecer, aos que se dedicam à atividade de ensinar e aos que procuram se especializar na área da edu- cação, subsídios metodológicos para o seu trabalho em sala de aula. A seleção dos temas apresentados traz consigo elementos da histó- ria profissional de uma professora de Geografia, dos anos de atividade docente e com base nas suas necessidades de entender como o conheci- mento geográfico pode ser apresentado e sistematizado de forma signifi- cativa, ao longo do processo de ensino e aprendizagem. Estudar geografia significa aprender a manejar um poderoso ins- trumento de conhecimento do mundo, que nos permite compreender e explicar os espaços geográficos e a influência do homem nesses espaços, assim como a relação entre homem e espaço. Desejamos que, por meio da leitura deste livro, você dê início a uma outra etapa e a uma nova experiência da geografia. Que você tenha uma excelente leitura e aproveite bem os conhecimentos aqui dispostos! Sobre a autora Rosane Rudnick Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e graduada em Geografia. É professora de gra- duação, pós-graduação e Ensino Médio em Geografia, coordenadora de Geografia no Ensino Fundamental, além de autora de livros didáticos e didático-científicos da área. Tem experiência na área de geografia, com ênfase em geografia escolar, atuando principalmente nos seguintes te- mas: geografia escolar, geografia física, estágio curricular, educação e criatividade, práticas em geografia e suas linguagens e currículo. 6 Metodologia do ensino de Geografia SumárioSumário 1 Geografia: da ciência para a sala de aula 9 1.1 A geografia como ciência e como disciplina escolar 10 1.2 Principais correntes do pensamento geográfico 15 1.3 A geografia escolar no Brasil 19 2 O que se ensina e o que deveria ser ensinado 27 2.1 A Geografia e o processo de ensino e aprendizagem 28 2.2 A relação entre professor e aluno na construção do conhecimento 30 2.3 Conexão entre teoria e prática: uma necessidade 33 3 Pensar por conceitos e aprender pela percepção 39 3.1 A disciplina escolar: Geografia 40 3.2 O currículo de Geografia 42 3.3 A transposição didática 45 4 Atividades de ensino de Geografia: planejamento 53 4.1 Planejamento: subsídio para uma boa aula 54 4.2 Planejamentos escolares 59 4.3 A aula sempre deve ser um problema? 63 Metodologia do ensino de Geografia 7 SumárioSumário 5 Geografia e a cartografia escolar: aprendizagem significativa 69 5.1 Teoria de Piaget e a construção da noção de espaço no indivíduo 70 5.2 Do desenho ao mapa 74 5.3 O uso de mapas temáticos nas aulas de Geografia 80 6 Subsídios e sugestões para reencantar as aulas de Geografia 87 6.1 O ensino de Geografia e o reencantamento 88 6.2 Tecnologia no ensino de Geografia 91 6.3 Subsídios para o ensino de Geografia 92 7 O livro didático de Geografia e o papel do professor 101 7.1 O livro didático e o sistema educacional no Brasil 102 7.2 O livro didático de Geografia e a realidade na educação brasileira 104 7.3 A escolha do livro didático 106 8 A avaliação da aprendizagem no ensino de Geografia 115 8.1 A avaliação em Geografia: conceitos e funções 116 8.2 A avaliação em Geografia: características importantes 119 8.3 Elaboração de questões de provas 121 Metodologia do ensino de geografia 9 1 Geografia: da ciência para a sala de aula Com base nas inúmeras pesquisas que contribuíram para a formação do pensa- mento geográfico, vamos discutir a constituição e o desenvolvimento da geografia como ciência e disciplina escolar. Esperamos colaborar para que professores e alunos ampliem e enriqueçam suas representações sociais, seus conhecimentos a respeito das diversas facetas da realidade em que vivem, além do conhecimento do espaço natural e da história da humanidade. Então, por onde começar? Onde encontrar o fio da meada no complexo e longo emaranhado de percepções, de descrições e de interpretações a respeito do espaço em que vivemos? Neste capítulo, vamos partir de algumas reflexões sobre como se construiu a noção do espaço geográfico e o surgimento da geografia como ciência, seu objeto de estudo e seu desenvolvimento como disciplina escolar. Geografia: da ciência para a sala de aula1 Metodologia do ensino de Geografia10 1.1 A geografia como ciência e como disciplina escolar Ao longo do tempo, a sujeição das sociedades aos imperativos naturais proporcionou experiências que levaram os povos a desenvolver técnicas e as aperfeiçoar. Por exemplo: as condições de plantio e de colheita foram alteradas com o aparecimento de técnicas agrícolas como o arado e a irrigação. Os fluxos d’água puderam ser melhor aproveitados e há quem diga que foram “disciplinados” com a construção de aquedutos. Desse modo, o tempo e o espaço foram adquirindo concepções que são válidas até os dias atuais. Entre os povos ocidentais antigos, podemos destacar os babilônios, que dividiram o zodíaco em 12 signos e a circunferência da Terra em 360 graus. Há seis mil anos, eles criaram um dos mais desenvolvidos e importantes centros urbanos da Antiguidade, ao ocupar as terras que atualmente fazem parte do sul do Iraque, no continente asiático. Também pode- mos destacar os egípcios, que entre os anos de 3.200 a 32 a.C., em pleno deserto do Saara, às margens do Rio Nilo, na porção nordeste do continente africano, organizaram o ano em um calendário de 365 dias e tornaram possível prever os períodos de maior ou menor vazão do rio, possibilitando a melhor utilização das sazonalidades fluviais. Outro povo que merece destaque são os sumerianos, que ocuparam o extremo sul do atual Iraque e a área onde hoje se localiza o Kuwait, região dos atuais golfos do petróleo (Pérsico e de Omã). A esse povo atribui-se a primeira representação cartográfica do mundo, um mapa de 2700 a.C. que, apesar de dar margem a interpretações bastante polêmicas, mos- tra a divisão do todo (mundo) em regiões. De acordo com Santos (2003), foram os fenícios – povo de um antigo reino (localizadoonde atualmente está o Líbano) – que se aventuraram, entre os séculos X e V a.C., pelo Mediterrâneo e, nessa aventura, desenvolveram o comércio marítimo na porção norte da África e sul da Europa. Esse povo disputava entre si e com outros povos o controle das prin- cipais rotas comerciais e tornaram-se os maiores navegadores do mundo antigo. Contudo, foram os gregos que criaram a palavra geografia (geo significa “Terra” e graphia “descrever”, ou seja, descrever a Terra). Eles também foram os primeiros a fazer anotações sistemáticas dessa ciência. Com o tempo, a ampliação do conhecimento geográfico acabou tornando-se um forte aliado no desenvolvimento das atividades econômicas relacionadas ao comércio e na colonização de diferentes regiões da superfície terrestre. Cabe então pergun- tar: o saber geográfico antes da sistematização feita pelos gregos não existia? É importante destacar que, antes disso, as sociedades eram mais primitivas e, apesar de os deslocamentos ocorrerem com mais frequência (e consequentemente as pessoas terem um conhecimento mais amplo da superfície terrestre), seu registro não era feito devido à falta de domínio da escrita. Assim, os povos primitivos transmitiam informações oralmente, com grande rique- za de detalhes, ou por desenhos em rochas e paredes de cavernas. Os gregos foram pioneiros na construção do conhecimento geográfico: criaram expli- cações sobre o Universo e sobre as influências do clima, das marés, dos rios e da superfície Geografia: da ciência para a sala de aula Metodologia do ensino de Geografia 1 11 terrestre na vida das pessoas. Percebemos, assim, que a ampliação da noção de espaço se dá em função do interesse de domínio do ser humano sobre a natureza. O grego Tales de Mileto (nascido em meados do século VII a.C.) foi considerado o sábio mais importante de sua época. Ele concebia a Terra como um círculo, o que contri- buiu para o conhecimento matemático e astronômico da época. Ainda na cidade de Mileto, Anaximandro, entre 610 e 546 a.C., apresentou uma descrição da Terra, na obra intitula- da Períodos ou Descrição da Terra, em dois volumes, um dedicado à Europa e outro à Ásia (SANTOS, 2003). Já Hecateu de Mileto, entre os anos de 550 e 474 a.C., traçou o que pode ser considerado o primeiro mapa-múndi. Ainda na Grécia, foi Aristóteles (384-322 a.C.) que comprovou que nosso planeta é uma esfera, ao mostrar que, durante os eclipses, a sombra projetada na Terra é arredondada. Segundo Santos (2003), o conhecimento geográfico na Antiguidade deve-se também a Heródoto, considerado o pai da História. Nascido por volta de 484 a.C., ele realizou viagens pela Babilônia, Egito, Fenícia, costas do Mar Negro, Pérsia e pelo norte da África. Heródoto considerou a Índia a última porção do mundo a ser habitada na parte leste da Terra. Desse modo, várias alterações foram feitas nos mapas até então produzidos, visto que na época a concepção de mundo não era esférica e dividia a Terra em quatro regiões: Europa, Ásia, Líbia e delta do Nilo. Hipócrates (460-370 a.C.), mais conhecido como pai da medicina, defendia que a di- versidade de tipos humanos na superfície terrestre decorria das condições naturais de cada região. Para ele, se os solos eram férteis, os homens que ali vivam eram consequentemente mais acomodados; já sob condições naturais adversas, os homens seriam mais dispostos ao trabalho, como uma necessidade para a sua própria sobrevivência (SANTOS, 2003). Ainda segundo Santos (2003), o desenvolvimento da geografia como ciência teve seu marco fundamental durante o século IV a.C., com a expedição de Alexandre da Macedônia1, (356-323 a.C.) em direção ao Oriente. Foi com a conquista da Pérsia que as áreas do interior puderam ser realmente conhecidas e, em 331 a.C., Alexandre fundou Alexandria, cidade às margens do Mediterrâneo e do delta do Rio Nilo. Construiu a maior biblioteca da Antiguidade, considerada o maior centro cultural até o século II a.C., período em que ciência passou a ser utilizada como instrumento de poder e fonte de crescimento econômico. Nessa efervescência, o astrolábio foi inventado por Hiparco (190-120 a.C.) e, por meio desse instrumento, estabeleceu-se a relação entre latitude e longitude e se preci- sou a noção de clima. A Terra habitada, segundo Erastótenes (276-194 a.C.), seria dividida em cinco partes, denominadas esfrágides, que tinham como parâmetro dois eixos perpendiculares: Norte- -Sul e Leste-Oeste – as coordenadas geográficas, que constituem as bases do pensamento 1 Alexandre da Macedônia, conhecido como Alexandre Magno, foi discípulo de Aristóteles e dupli- cou o conhecimento que os gregos tinham até então do mundo. Acompanhado de sábios, entre eles Calistenes de Olinto e Anaxímenes de Lampsaco, que como ele foram discípulos de Aristóteles, che- gou à Caldeia, ao Irã e à Índia. Foi graças a esses pensadores que o mundo teve conhecimento acerca dessas regiões até o século XVIII. Enquanto essa expedição terrestre de Alexandre adentrava o interior, Nearco, em viagem marítima, fez o reconhecimento das costas do Oceano Índico e do Golfo Pérsico (LEONCINI, 2000, p. 40). Geografia: da ciência para a sala de aula1 Metodologia do ensino de Geografia12 geográfico –, perfazendo assim o registro do primeiro mapa-múndi cartografado. Esse mapa considerava ecúmeno2 um terço das terras do planeta, referindo-se a outras regiões como locais com tendo possibilidade de desenvolvimento da vida. Plínio, o Velho (23-79 d.C.), produziu uma obra de 37 volumes que traziam conheci- mentos sobre cosmografia, vegetação, recursos naturais, além de descrever as províncias do Império Romano. Em 79 d.C. ocorreu a erupção do vulcão Vesúvio, que destruiu as cidades de Herculano e Pompeia – onde Plínio vivia, sendo ele próprio uma das vítimas desse fenômeno natural. Contudo, o jovem Ptolomeu, nascido por volta do ano 100 d.C., inspirou-se nas reflexões de caráter geográfico suscitadas por Plínio e fez uma síntese desses conhecimentos, diferenciando cosmografia de geografia e de corografia, definindo-as como o estudo do Universo, o estudo da Terra como um todo e o estudo da Terra e de suas partes, respectivamente (SANTOS, 2003). Durante o século II d.C., os romanos dominaram toda a região do Mediterrâneo. Quando tomavam posse de um território, procuravam descrevê-lo para conhecê-lo melhor e, então, esse conhecimento tornava-se instrumento de poder do império. O historiador e político Tácito (55-120 d.C.), por exemplo, estudou a respeito da Europa e inventariou uma ampla região identificada pelos romanos como o território que se estendia do Rio Reno às florestas e estepes em terras que atualmente pertencem à Ucrânia. Esse inventário foi publi- cado em 98 d.C. Do século II a.C. até o século V houve a queda do Império Romano. Estrabão (c. 63 a.C.-c. 24 d.C.), geógrafo e filósofo grego, autor da obra de 17 volumes denominada Geografia, des- creve os povos e os locais do mundo conhecidos por ele. Essa obra se destaca no que diz respeito ao conhecimento geográfico antigo, o qual se caracteriza como um saber que per- mite conhecer o mundo e criar maiores possibilidades de atender às necessidades humanas e colocar-se como um saber estratégico para o próprio ser humano. Em sua obra, Estrabão deixa clara a tradição filosófica da geografia e denomina de geógrafo todo aquele que se de- dica ao estudo da Terra. O mundo conhecido nos períodos mencionados anteriormente pelos gregos e romanos era restrito em extensão territorial, se comparado ao mundo atual. O horizonte geográfico foi ampliando-se aos poucos: primeiro ficou conhecida a porção norte da África; depois um terço da Ásia; pouco ia além do que sabemos ser o território que atualmente corresponde à metade da Europa. Os árabes, na porção leste, entre os séculos VI e XII, difundiram a religião muçulmana à medida que foram conquistando outros territórios. Devido a dois importantes aspec- tos desse povo, eles foram ganhando domínio sobre a localizaçãoterritorial. Primeiro, porque eram em parte povos nômades e foram desenvolvendo o sentido de orientação e conhecimento dos lugares para um deslocamento seguro. Segundo, porque precisavam, de acordo com suas leis religiosas, orar voltando-se em direção à Meca, cidade sagrada. Essa lei exigia orientação espacial constante, seja pela Lua, seja pelas estrelas, o que aprimorou a percepção espacial desse povo. Assim, conhecer o céu não se resumia em 2 Ecúmeno: diz respeito às áreas geográficas habitadas pelo homem. Geografia: da ciência para a sala de aula Metodologia do ensino de Geografia 1 13 uma simples curiosidade, mas em uma necessidade para orientarem-se nos desertos e também para identificarem a direção de Meca. Desse modo, antes da cartografia terres- tre, desenvolveu-se a cartografia celeste3. Marco Polo (1254-1324) foi o mais famoso viajante da época medieval. Ele contornou a Europa em 1295 e, com base nas observações que fez, escreveu O livro das maravilhas. O Renascimento, ou a proposta do renascer do homem, teve origem no movimento inte- lectual denominado humanismo. Nessa época surgiu a maneira de pensar da ciência moderna, fundamentada na experiência – da qual a geografia também fez uso. Concomitantemente, desvelou-se um novo conceito de ciência e com referenciais na observação, quantificação, mensuração, descrição e funcionalidade e a preocupação com a elaboração de leis gerais. Nicolau Copérnico (1473-1543) opôs-se à posição consagrada de Ptolomeu de que a Terra é imóvel e centro do Universo, desenvolvendo a teoria heliocêntrica. Ao lado dele, Johannes Kepler (1564-1642) provou que as órbitas dos planetas são elípticas e não circulares (SANTOS, 2003). Ainda nesse período, vale lembrar que Kepler e Galileu Galilei (1564-1642) confirma- ram suas pesquisas por meio de uma metodologia investigativa com base no conhecimento quantitativo da natureza. Galileu foi o primeiro a usar uma luneta e com ela comprovar a teoria do heliocentismo de Nicolau Copérnico. No período do Renascimento, a cidade de Florença (Itália) era considerada o centro intelectual. O povo dessa cidade se destacava porque, desde 1406, já haviam tomado as cidades de Pisa e Livorno e chegado ao litoral – saída para o mar –, confirmando a potência política e mercantil de Florença, lugar para onde se dirigiam sábios bizantinos, trazendo mais conhecimento, principalmente a tradição do conhecimento grego. Gênova e Veneza (Itália) e Constantinopla (atualmente Ancara, capital da Turquia) eram também importantes centros políticos e mercantis e desenvolveram principalmente a arte de na- vegar. Foi um genovês em caravelas portuguesas que, em 1341, atingiu a Ilha dos Afortunados, no litoral da África, fortalecendo as rotas marítimas e estabelecendo novas colônias. Os navegadores desse período procuravam mapas e documentos para encaminhar para Portugal e enriquecer o acervo da Academia de Sagres4, onde pesquisadores se dedicavam a estudar e experimentar a arte da navegação e a possibilidade de vida nas regiões intertro- picais, até então praticamente desconhecidas. Ainda segundo Santos (2003), temos a contribuição de Marino Tiro (100-168), que teve seu trabalho analisado pelo cosmógrafo florentino Pablo del Pozzo Toscanelli (1397-1482), o qual serviu como fonte de inspiração para Cristóvão Colombo. Toscanelli sistematizou o co- nhecimento geográfico de seu tempo e elaborou um mapa e uma carta náutica admiráveis, calculando a circunferência em uma dimensão menor do que realmente ela tem. Baseando- se nisso é que Colombo pensava atingir as Índias pelo Ocidente, percorrendo um trajeto menor do que o itinerário contornando a África. 3 Foram os árabes que propagaram o uso da bússola pelo mundo ocidental. Conheceram esse instru- mento quando chegaram à China, onde foi inventado no ano de 271 d.C. 4 A existência da Academia de Sagres é bastante polêmica, porém, constitui-se referência para a nave- gação e induziu as grandes navegações e os grandes descobrimentos da navegação. Geografia: da ciência para a sala de aula1 Metodologia do ensino de Geografia14 O primeiro globo terrestre, caracterizando a representação mundial, foi inventado em Portugal e mostrava a proximidade entre Europa e Ásia. Contudo, nesse globo, a Ásia está exatamente onde atualmente se localiza a América. Assim, contribuições importantes para o conhecimento geográfico e para a geografia como ciência ocorreram no período medieval. Ou seja, concepções características do conhecimento geográfico foram abaladas e repensa- das, bem como a ampliação do domínio territorial do ser humano foi possível por meio das grandes navegações. Foi o desenvolvimento comercial que marcou a transição entre o período medieval para a Idade Moderna, ampliando os horizontes geográficos ao leste e ao oeste do Mediterrâneo. Pouco a pouco, as novas terras conhecidas foram sendo chamadas de Novo Mundo. Durante esse desenvolvimento comercial ocorreu o aperfeiçoamento da caravela e das técnicas de orientação marítima e, por motivos óbvios, houve uma verdadeira revolução na arte da na- vegação – e assim estavam criadas as condições para a circum-navegação da Terra. À época medieval, a geografia mostrava-se basicamente centrada em estudos voltados à astronomia e à cartografia e funcionava como uma ciência a serviço da organização de rotas de comércio, da identificação de áreas com recursos naturais para exploração e aceitava sem discussão que o meio interferia sobre o ser humano. Devido ao desenvolvimento do comércio mundial, áreas distantes e sociedades dife- rentes foram interligadas, revelando a diversidade que há no mundo: seres humanos tão diferentes estavam organizados cultural e socialmente com hábitos tão diversos. Esses as- pectos humanos despertaram o interesse dos pesquisadores, que deixaram a natureza para segundo plano e deram enfoque à análise dessas sociedades, o que pode ser percebido nos relatos de Colombo, Vespúcio e de Caminha. Na carta de Pero Vaz de Caminha, por exem- plo, ganha destaque a descrição do povo que vivia no Brasil: “Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas... A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos... Os cabe- los deles são corredios”5. Com os portugueses em território brasileiro, houve a demarcação das terras em Capitanias Hereditárias, divisão que perdurou até o século XVIII, assim, põe-se fim à ideia de que nos trópicos, ou seja, nas áreas de intenso calor, não haveria possibilidade de vida. Desse modo, no período histórico que se refere à Idade Moderna do mundo ocidental, o desenvolvimento da economia, da sociedade e da cultura promove outra forma de pensar a relação entre a sociedade e a natureza. Nesse contexto se dá a evolução do conceito do objeto de estudo da geografia: o espaço em que se vive. Essa evolução exigia cada vez mais a busca de explicações para os fenômenos observados, principalmente aqueles relacionados às condições naturais do nosso planeta. Pelo exposto, podemos observar que o foco da geografia varia de acordo com a época, o lu- gar e os pesquisadores e filósofos de cada período. Até então não existia uma geografia científica, 5 Trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha escrita em Porto Seguro de Vera Cruz, em 1 de maio de 1500, a El-Rei D. Manuel. Geografia: da ciência para a sala de aula Metodologia do ensino de Geografia 1 15 tida como disciplina particular de ensino. Somente na Idade Contemporânea a geografia se tor- nou uma ciência autônoma. Nesse período, Immanuel Kant (1724-1804) preocupa-se em funda- mentar que a raiz da ideia primordial à geografia é o espaço, entendendo a Terra como morada do homem e refletindo sobre a relação entre o homem e a natureza. Assim, ao fim do século XVIII a geografia já reunia condições para constituir-se como ciência, mas duas situações ainda precisavam ser resolvidas: • A relação entre geografia e história– para a história, a geografia servia como fun- damentadora dos fatos, localizando-os no espaço. • A dicotomia entre a parte física e a humana no estudo da geografia – isso enfra- quece a ciência e restringe o campo de trabalho do geógrafo, que se inclina para uma ou outra linha desse estudo. As discussões ocorrem ao longo do século XIX até metade do século XX. Foram grandes também as contribuições do naturalista e viajante Alexander von Humboldt (1769-1859), que defendia o conceito de unidade da natureza e afirmava que o objetivo da pesquisa científica deveria ser sempre a explicação da conexão entre os fenôme- nos. Desenvolveu técnicas para a representação da estrutura geológica da Terra e criou a representação dos climas pela diferenciação de zonas térmicas do nosso planeta. Publicou também a respeito de cartografia e permitiu considerável avanço do conhecimento do globo terrestre. A obra Cosmos, apesar de incompleta, é uma enciclopédia incontestável de dados geográficos sobre a Terra e constitui um marco na história da geografia como disciplina. O filósofo e historiador Carl Ritter (1779-1859), com pesquisas que inseriam o ser huma- no no meio natural, contribui para a ciência geográfica ao mostrar que a Terra tem influência sobre o ser humano e o ser humano sobre a Terra. Ele tira da geografia a condição de mera descritora dos fenômenos da natureza ou de um terreno e dava a ela a função de familiarizar o ser humano com o cenário de suas atividades, pelo estudo da relação desse cenário com as pessoas que nele vivem. 1.2 Principais correntes do pensamento geográfico A Geografia é uma disciplina de importância fundamental para o desenvolvimento do indivíduo. Sua organização no currículo escolar se deu com bases teórico-filosóficas que envolvem conceitos específicos, como o de lugar, paisagem e território, os quais têm diferentes interpretações, de acordo com diferentes linhas de pensamentos da geografia. Sendo assim, apresentamos a seguir as principais características de algumas das correntes que organiza- ram o pensamento geográfico que temos atualmente: • geografia tradicional; • geografia nova; • geografia crítica; • geografia da percepção. Geografia: da ciência para a sala de aula1 Metodologia do ensino de Geografia16 Os alicerces da geografia tradicional basearam-se nas ideias positivistas de Augusto Comte (1798-1857) e contribuíram para reforçar o conhecimento científico geográfi- co por meio da observação, descrição e classificação dos fatos. Evidencia-se que essa corrente do pensamento geográfico se restringia ao que podia ser visto e mensurado. Nesse sentido, o estudo dos aspectos naturais era separado do estudo dos aspectos hu- manos, eliminando-se assim as relações entre esses aspectos. A geografia preocupava-se apenas em descrever a realidade. Fica evidente também que essa corrente não estimula- va a reflexão, o que a conduziu para uma abordagem em que sociedade e natureza não tinham significado uma para a outra. A geografia tradicional tem como principais características: • ser uma ciência descritiva (a observação é o primeiro passo para entrar na realidade, ou seja, o ser humano deve ler atentamente os fenômenos inscritos na paisagem); • ser primordialmente idiográfica (cada fenômeno inscrito na paisagem deve ser estudado isoladamente); • ignorar o conceito de espaço como um conceito central, apesar de aparecer em algumas obras importantes, como base fundamental para a vida do ser huma- no, o que denota uma tentativa de estudo e desenvolvimento mais aprofundado desse conceito; • considerar a totalidade e nunca as partes. A cena provável de uma aula com base na geografia tradicional é a de um professor descrevendo fenômenos ou acidentes geográficos em ordem alfabética. Por exemplo, inicia- ria a aula com a seguinte comunicação aos alunos: “Hoje iremos falar a respeito dos aciden- tes geográficos que iniciam pela letra A”. Depois, descreveria um elenco de conceitos: aba, abaulamento, abigarradas, abissal, atol, assoreamento, arquipélago, areal, aluvião, apluvião, antracito, entre outros. Nessa abordagem, a aula se desenvolve por meio de métodos de ensino – descrição e memorização – e conteúdos que refletem até hoje suas consequências nas salas de aula. Porém, há quem utilize a Geografia assim atualmente, apesar de toda a evolução pela qual essa ciência passou, submetendo os alunos a decorarem nomes de montanhas, países, capi- tais ou, ainda, afluentes de margem esquerda de determinado rio. A abordagem da geografia tradicional entra em declínio entre os anos de 1950 e 1970, quando se fomenta a renovação dessa ciência, apesar de todo o avanço epistemológico ocor- rido até então. A geografia passa a utilizar amplamente os modelos matemáticos e estatísti- cos para se atualizar, em uma nova fase que se inicia. A geografia nova ou teórico-quantitativa foi marcada pelo momento histórico do mun- do pós-Segunda Guerra. Geógrafos, com base nessa condição do mundo, buscavam superar a crise capitalista por meio da utilização de métodos matemáticos e estatísticos. Assim, subs- tituía-se o trabalho de estudo de campo por experiências em laboratório, utilizando dados obtidos por radares e sensores, na comprovação de fenômenos. Foi utilizada como fonte de poder estatal, uma vez que dados estatísticos eram mais fáceis de serem manipulados. Geografia: da ciência para a sala de aula Metodologia do ensino de Geografia 1 17 A geografia nova tem como principais características: • configurar-se em um cenário pós-Segunda Guerra Mundial e fazer uso de equipa- mentos utilizados para conhecer/quantificar o espaço inimigo; • quantificar o espaço por meio de modelos de levantamento e de verificação que utilizam a classificação dos fenômenos e a generalização deles em uma síntese universal; • trabalhar com resultados em gráficos ou tabelas, sendo que o processo para chegar até eles é omitido; • servir a governos autoritários e a grandes empresas que vislumbravam o desen- volvimento econômico sem considerar os custos sociais e ecológicos; • estudar a natureza – objeto do capital em meio ao avanço econômico e inserida na lógica capitalista – desde que tenha aplicação prática: aproveitamento como maté- ria-prima para o processo industrial; • mostrar uma visão limitada do espaço geográfico, além de não considerar a exis- tência do tempo como estágio sucessivo da evolução espacial e o que há entre eles, ou seja, para a geografia nova, o espaço é estático. A abordagem da geografia nova ou teórico-quantitativa foi excludente e pouco demo- crática, portanto, estuda o espaço por meio da análise de dados – números e estatísticas –, o que nos mostra que bastava quantificar a complexidade que há no espaço em que vivemos, por meio de sensores e outros equipamentos sofisticados de coleta de dados. Assim, os nú- meros se configuraram como a base para o Estado interferir na realidade. Esse desenvolvi- mento ocorreu entre os anos de 1960 e 1970, mesmo período em que, no Brasil, destaca-se a função do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), criado em 1934. Para o ensino, os reflexos dessa corrente do pensamento geográfico deixaram marcas, como o uso excessivo de dados estatísticos, que colocariam de lado as aulas de campo para se conhecer o espaço. Essa abordagem considerava desnecessário observar a realidade, pois podia-se conhecer “tudo” pelas medições realizadas em laboratórios. As obras de geografia nessa fase pregavam a neutralidade e excluíam os problemas sociais, pois não eram considerados objetos de estudo dessa ciência. A transformação da natureza era vinculada ao interesse do capitalismo, compreendida como recurso disponível para o desenvolvimento econômico dos países. Na sequência, como contraponto à geografia nova, desencadeia-se outra corrente, a da geografia crítica ou radical, que se desenvolve em um contexto econômico, social e político turbulento do mundo (após 1970). É a época da expansão dos movimentosfeministas e dos movimentos estudantis na França, na qual se constata a exploração da natureza em larga escala, o aumento da desigualdade social e o surgimento de movimentos políticos reivindi- cando reformas sociais. São características da geografia crítica: • mostrar a criticidade como leitura do espaço real, isto é, não omitir tensões e contradições; Geografia: da ciência para a sala de aula1 Metodologia do ensino de Geografia18 • incentivar a exploração da natureza pela economia; • apoiar-se em geógrafos comprometidos com as reformas sociais e outros que as criticavam; • discutir o espaço geográfico em quatro categorias: forma, função, estrutura e processo, de acordo com a contribuição do geógrafo brasileiro Milton Santos (1926-2001); • estudar o espaço como base teórica e metodológica para se discutir os fenômenos espaciais. No ensino, a geografia crítica mostra e insiste na renovação escolar, faz duras críticas ao currículo e à própria escola, referindo-se à necessidade de desenvolver a cidadania plena, a inteligência e não a memorização. Por conta disso, alguns países excluíram a disciplina de Geografia da grade curricular por mais de trinta anos, pois ela estimulava a reflexão. Na visão da geografia crítica, por meio do estudo de Milton Santos (1988), o espaço é estudado pela sua materialidade (forma), pela função que apresenta (Para que serve? O que produz? Tem potencial?), pela sua estrutura, que é caracterizada pela natureza social e eco- nômica do objeto estudado, e pelo processo, pois o espaço é uma estrutura em movimento e em transformação como resultado da passagem de determinado tempo. Com base nas ideias das correntes geográficas estudadas anteriormente, em paralelo, forma-se uma corrente que as criticava: a geografia da percepção ou geografia humanística. E por que as criticava? Porque, diferentemente do que pratica a geografia da percepção, as demais correntes (tradicional, moderna e crítica) minimizavam ou até ignoravam o papel do ser humano na natureza – e, assim, de acordo com os preceitos da geografia da percepção, todas incorreram em erros epistemológicos e, consequentemente, em erros de percepção. Defensores, adeptos e idealizadores da corrente humanística destacam o papel ativo de cada indivíduo na construção da realidade e nas representações desta. Desse modo, gradativa- mente, transformam essa corrente humanística em uma corrente construtiva, abrindo ca- minhos e dando forças para o estudo da geografia da percepção, que já vinha ocorrendo, timidamente, desde 1960. A geografia não é mais a mesma a partir de então. O espaço não é mais somente descri- to, analisado por meio de estatísticas ou em relação à organização para seu aproveitamento econômico. O espaço passa a ser examinado, a dicotomia é ultrapassada e considera o objeto de estudo e o sujeito integrados no lugar onde vivem. Para a geografia da percepção, é essencial considerar, sob o espaço, a atuação do ser hu- mano e as raízes do seu comportamento no mundo, propondo a observação sistematizada do simbolismo cultural, além de encontrar o ser humano esquecido pelos estudos até então. São características da geografia da percepção: • considerar o espaço geográfico como conjunto de símbolos e valores elaborados por meio das experiências pessoais e coletivas; • buscar novos caminhos para a geografia; • dar destaque para o estudo do lugar – espacialidade imediata com a qual as pessoas têm maior envolvimento afetivo – para o estudo do espaço-tempo e das paisagens; Geografia: da ciência para a sala de aula Metodologia do ensino de Geografia 1 19 • utilizar a fenomenologia, que se caracteriza como um método de estudo que ex- plica as relações que as pessoas têm com o meio em que vivem e com as outras pessoas que ali estão; • levar em conta a geograficidade, ou seja, o elo afetivo que existe entre a pessoa e o ambiente, que pode ser a geograficidade topofílica (com experiências significati- vas e boas) ou topofóbica (com experiências de repulsa). O geógrafo Edward Relph foi um dos pioneiros no estudo da geografia na linha da percepção e colocou o lugar como principal categoria de análise desse estudo. Em sua tese, apresentada na Universidade de Toronto (Canadá) em 1973, intitulada The phenomenon of place, ele se dedica a explicar e buscar fundamentos fenomenológicos para a geografia, en- tendendo o lugar como um fenômeno. Nesse contexto, os geógrafos começam a estudar a percepção que o ser humano tem do mundo (espaço) e os significados que atribui aos objetos percebidos por meio de sua experiência, cultura e aptidão. O lugar é o espaço da familiaridade; a paisagem, o de peculiaridades. Na geografia da percepção, o lugar pode assumir diferentes escalas ele pode ser o seu quarto, a sua casa, uma carteira na sala de aula ou até mesmo o país dentro do nosso planeta. 1.3 A geografia escolar no Brasil A Geografia como disciplina escolar obrigatória entrou em cena no século XIX (em 1837), primeiramente no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro (uma das mais tradicionais instituições de ensino público do Brasil), e objetivava capacitar politicamente a elite – parte da população que tinha acesso à escola e que pretendia assumir cargos políticos ao longo da sua vida ou outras profissões de destaque. Foi a partir do ano de 1900 que a Geografia passou a fazer parte do currículo escolar obrigatório das demais escolas no Brasil e, além de proporcionar o conhecimento dos as- pectos naturais do espaço, deveria incentivar um sentimento de patriotismo. Cinco anos depois dessa implantação curricular, o geógrafo Manuel Said Ali Ida lança um Compêndio de Geografia Elementar, abordando o estudo regional do Brasil, que passa a ser melhor conhe- cido. Um ano antes dessa publicação, em 1934, a Geografia começa a ser introduzida em instituições de Ensino Superior, com a implantação do curso na Universidade de São Paulo (USP), essencialmente formado por professores influenciados pela escola francesa. Outro destaque para a Geografia no Brasil se dá com Yves Lacoste, que em 1966 publi- cou ideias que deram início à geografia crítica em nosso país. Ao longo da ditadura militar, por iniciativa do governo, a Geografia e a História foram unidas e denominadas de Estudos Sociais, como uma única matéria escolar, na tentativa de coibir possíveis movimentos sociais que as antigas disciplinas poderiam produzir. Assim, no período militar brasileiro, tanto a Geografia quanto a História constituíram-se como ameaças políticas, pois, segundo o governo, ensinavam os estudantes a pensar criticamente a respeito do espaço em que viviam. Geografia: da ciência para a sala de aula1 Metodologia do ensino de Geografia20 Milton Santos, geógrafo brasileiro de grande relevância, publicou o livro Por uma Geografia Nova, em 1978. Por meio dessa obra, buscava despertar a importância dos estudos voltados às relações sociais do Brasil e problemáticas decorrentes. Ao longo do tempo, já nos anos 1980, pesquisas comprovaram que o nível de conheci- mento da população a respeito da geografia era muito baixo. Por isso, especialmente no con- texto do processo de ensino e aprendizagem, muitos debates foram feitos para se discutir a perspectiva dessa disciplina para o século XXI. Com a inauguração do Núcleo de Pesquisa Sobre Espaço e Cultura da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), em 1993, chegaram mais contribuições às instituições de ensino em geral, para o conhecimento do espaço geográfico do Brasil. Mas foi somente em 1998 que os estudantes brasileiros começaram a estudar a geografia por meio do conhe- cimento que se tem a respeito do espaço em que se vive e da compreensão da relação e da dinâmica entre sociedade, natureza e suas paisagens. Conclusão Analisar a evolução da geografia como ciência e sua inserção na sala de aula constitui um conhecimento necessário à formação de professores dessa área. A geografia se mistura à vida das pessoas: pela curiosidade de conhecer omundo, pela interferência da natureza nas atividades do dia a dia, pelos desafios da adaptação do ser humano ao espaço natural, pela necessidade de planejamento do uso do território ou por despertar reflexões a respeito do espaço em que se vive, diante do processo de transformação do mundo. Assim, um movi- mento constante de renovação – com novas ideias ou reformulação das velhas – permite-nos efetivamente avançar e redefinir conceitos. Ampliando seus conhecimentos O texto a seguir trata sobre a criação, durante a ditadura militar, da disciplina Estudos Sociais como substituta de História e Geografia e os danos causados a toda uma geração de alunos, que teve uma formação nessas áreas bastante inexpressiva, fragmentada e sem viés crítico. A disciplina escolar e os currículos de Geografia (PONTUSCHKA, 2007, p. 59-61) Enquanto na universidade, na década de 1970 do século XX, os debates se acirravam em decorrência da busca de novos paradigmas teóricos no âmbito do conhecimento em Geografia, a escola pública de primeiro e segundo graus, hoje ensino fundamental e médio, enfrentava um Geografia: da ciência para a sala de aula Metodologia do ensino de Geografia 1 21 problema ocasionado pela Lei 5692/71: a criação de Estudos Sociais com a eliminação gradativa da História e da Geografia da grade curricular. As medidas legais foram tomadas pelo Conselho Federal de Educação e pelos demais órgãos superiores em plena ditadura militar, quando a discussão dos problemas da vida do país estava praticamente ausente ou restrita a pequenos círculos fechados. Pela Lei 5692/71, assistiu-se à extinção do exame de admissão ao ginásio e à fusão do ginásio ao primário (antigo grupo escolar), constituindo a escola de primeiro grau de oito anos. Olhadas isoladamente, tais medidas foram um avanço; no entanto, sucedeu que as verbas destinadas à edu- cação permaneceram as mesmas, revelando-se insuficientes para atender ao aumento do público a ser escolarizado. Mudanças no currículo e na grade curricular, como a criação de Estudos Sociais e Educação Moral e Cívica, contribuíram para causar danos à formação de toda uma geração de estudantes. A legislação, imposta de forma autoritária, tinha mesmo a intenção de transformar a Geografia e a História em disciplinas inexpressivas no inte- rior do currículo e, ao mesmo tempo, fragmentar mais ainda os respecti- vos conhecimentos. Conti (1976) já alertava os professores para um problema que enfrenta- riam em futuro próximo, afirmando que a licenciatura em Geografia e História, obtida com tanto sacrifício na universidade, estava perdendo seu significado. Afirmava que os Estudos Sociais apresentavam um con- teúdo difuso e mal determinado, não se sabendo se se tratava de uma área em estudo ou de uma disciplina escolar, ora aparecendo como sinônimo de Geografia humana, ora usurpando o lugar das ciências sociais ou da História ou pretendendo impor-se como uma espécie de aglutinação de todas as ciências humanas. Data do começo da década de 1960, posteriormente à Lei de Diretrizes e Bases (1961), a introdução, no antigo curso primário do estado de São Paulo, dos Estudos Sociais como substitutivo à Geografia e à História, alteração essa que, segundo tudo indica, teria sido inspirada em modelos pedagógicos americanos. A Secretaria de Educação não propôs nada de concreto em termos de modificação curricular, limitando-se a admitir a união de duas disciplinas sob novo rótulo de Estudos Sociais. Delgado de Carvalho, no prefácio à edição de 1955 de Ciências Sociais para a escola primária, enfatizou o trabalho pedagógico com base no real Geografia: da ciência para a sala de aula1 Metodologia do ensino de Geografia22 e na integração dos conhecimentos e apresentou o objetivo do livro afir- mando que a vida real impunha uma separação marcada pelas diferentes disciplinas de ensino. “Existem ligações entre elas e foi o intuito de res- peitar essas ligações que levou ao agrupamento dos fatos e das ideias ao redor de certos temas fundamentais, os projetos ou centros de interesse, que, em certos países, eram chamados de complexos” (ISSLER, 1973, p. 2010). A discussão contemporânea sobre conteúdos de ensino beneficia-se das reflexões, debates e produções sobre currículos escolares e sobre os con- dicionantes históricos, políticos, econômicos, sociais, culturais e educa- cionais em sua elaboração e adoção. Além de permitir a compreensão de relação sociedade-cultura-currículo-práticas escolares e dos programas de ensino das disciplinas no passado, fundamenta melhor a análise dos currículos e programas de ensino atuais. [...] Atividades 1. Na história da civilização ocidental, qual período se destacou com as maiores contri- buições para o conhecimento geográfico? Aponte as referências no espaço geográfico e justifique. 2. A respeito das diferentes correntes que influenciaram o estudo do espaço geográfico e delinearam os preceitos da geografia ao longo do tempo, preencha o quadro com- parativo a seguir, em relação às principais correntes geográficas, para sistematizar as informações. Estudo do espaço geográfico Geografia tradicional Geografia moderna Geografia crítica Geografia da percepção Época e cenário em que se desenvolveu Características do método Conceitos valorizados ou estudados Influência na geografia escolar Geografia: da ciência para a sala de aula Metodologia do ensino de Geografia 1 23 3. Qual é o tipo de corrente da geografia que estruturou sua base escolar (ensinos fun- damental e médio)? Por que você afirma isso? Qual é o tipo de geografia que vai influenciar as suas aulas? Justifique. 4. Qualquer sociedade, ao longo de seu processo civilizatório, elabora conhecimen- tos a seu próprio modo, sejam eles explícitos ou não, porque viver significa conhe- cer o espaço circundante e produzir interpretações das mais simples experiências. Desse modo, pode-se afirmar que fazemos a geografia todos os dias? Justifique. Referências CAVALCANTI, L. S. Geografia, escola e a construção de conhecimento. Campinas: Papirus, 1998. CHERVEL, A. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa. Teoria & Educação, n. 2, 1990. p. 177-229. GOODSON, I. Currículo: teoria e história. Petrópolis: Vozes, 1995. LEONCINI, S. Região e geografia. São Paulo: Edusp. 1999. PONTUSCHKA, N. N. Para ensinar e aprender Geografia. São Paulo: Cortez, 2007. SANTOS, R. M. R. O ensino de Geografia e o lugar como objeto de estudo: uma proposta de mapa conceitual para a Educação Fundamental 1. a 4. série. 91 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2003. Disponível em: <https:// repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/85554/224643.pdf?sequence=1>. Acesso em: 30 ago. 2017. SODRÉ, N. W. Introdução à geografia: geografia e ideologia. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 1992. Resolução 1. Sugestão de resposta: o Mar Mediterrâneo, o sul do continente europeu e o norte do continente africano constituem-se como a referência geográfica da cultura ociden- tal, que, por meio de experiências e registros, nos dá explicações para a formação e desenvolvimento da sociedade ocidental atual e da constituição da geografia como ciência e, posteriormente, como disciplina escolar. Tudo isso ocorreu ou se sistemati- zou principalmente no período medieval desse processo. Porém, a curiosidade pelo mundo é própria do ser humano e, em cada período do processo civilizatório, o foco da curiosidade pode até ter mudado, mas alguns estudos são aproveitados até hoje. À medida que o conhecimento a respeito do mundo se amplia, cresce também seu conhecimento geográfico. A ideia de mundo/espaço varia ao longo da história da humanidade, principalmente com o desenvolvimento do comércio marítimo, am- pliado cada vez mais em função do atendimento às necessidades da população de cada tempo. 2. Sugestão de resposta: Geografia: da ciência para a sala de aula1 Metodologiado ensino de Geografia24 Estudo do espaço geográfico Geografia tradicional Geografia moderna Geografia crítica Geografia da percepção Época e cená- rio em que se desenvolveu. Pós-Segunda Guerra Mundial. Guerra Fria. Após 1970. De 1960 até atualmente. Características do método. Descrição do espaço em sua totalidade desconside- rando particu- laridades de suas partes. Utiliza-se de modelos matemáticos e estatísticos para coleta de informações. Quantificação do espaço: ana- lisada por meio de números. Rigor científico por parte de alguns geógra- fos, o incentivo à exploração da natureza. Faz uso da fenomenolo- gia, da geo- graficidade e busca novos caminhos para o estudo da geografia. Conceitos valorizados ou estudados. Espaço como conceito abstrato e não desenvolvido como deveria. Espaço como portador dos recursos naturais e o respectivo aproveitamen- to econômico. O espaço estu- dado em qua- tro categorias: forma, função, estrutura e processo. Espaço como um conjunto de símbolos e valores que tem significa- do para quem nele vive. Influência na geografia escolar. A prática da memorização, valorização da informação isolada do espaço, sem devido contexto ou significado. A utilização exacerbada de tabelas, gráficos e da- dos em geral. Condenou o uso de aulas de campo, pois a observação era desnecessária para conhecer o espaço. A utilização da reflexão a respeito da organização do espaço e suas contradições. Em geral estu- dado/analisado por meio da estrutura da sociedade. A geografia tor- na-se essencial- mente social. O ensino dos conteúdos vinculados ao resultado da produção científica do conhecimento. Vinculados também ao espaço vivido pelos estudan- tes para então conectar-se ao todo. 3. Resposta pessoal. É importante que cada aluno analise sua vivência na sala de aula de Geografia e, por meio do tipo de aula, de conteúdos ou de propostas feitas pelo professor da sua época, tente identificar a que tipo de corrente geográfica as aulas que teve se assemelham. A data em que se cursou o Ensino Fundamental e Médio são importantes sinalizadores dessas características. Geografia: da ciência para a sala de aula Metodologia do ensino de Geografia 1 25 4. A geografia objetiva compreender o espaço em que se vive, as paisagens e sua cons- trução, ou seja, procura entender a lógica que está inserida em cada paisagem, o porquê de ela ser assim e romper com a simples descrição ou visualização do espaço. Nesse contexto, o ser humano faz a geografia diariamente. Os geógrafos passam a fazer uso da percepção que o ser humano tem do espaço e os significados que atribui aos seus elementos ao longo da sua experiência com os lugares que frequenta, que vive ou convive. Metodologia do ensino de Geografia 27 2 O que se ensina e o que deveria ser ensinado O que se ensina? O que se aprende? Conhecemos a geo grafia que é trabalhada atualmente na sala de aula? Os temas são propostos pelas instituições de ensino ou são escolhidos pelo professor? Em que medida os conteúdos do currículo de Geografia devem estar relacionados ao dia a dia, para que os alunos os entendam, saibam expli- cá-los, relacioná-los com sua realidade e realizar interferências, contribuindo para for- mação de um cidadão crítico? Esse conjunto de indagações permeia o universo geográfico e desencadeia mui- tos estudos a respeito. É importante também lembrar que etimologicamente a palavra geografia quer dizer ciência da Terra e, sob essa expressão aparentemente tão simples, apresenta-se um ramo do conhecimento científico marcado por muitas polêmicas no campo acadêmico e no âmbito escolar. O que se ensina e o que deveria ser ensinado2 Metodologia do ensino de Geografia28 2.1 A Geografia e o processo de ensino e aprendizagem Para estudarmos o processo de ensino e aprendizagem – o fazer pedagógico – ou esta- belecer relações entre o que se ensina e como se ensina, é preciso repensar a didática da sala de aula e entender as diferentes maneiras de o aluno aprender e compreender o conheci- mento escolar sistematizado. Portanto, cabe a nós, professores, nos indagarmos novamente: será que há diálogo entre os conteúdos da Geografia e a didática utilizada pelo professor no ambiente escolar? Uma das críticas reside no fato de que muitos professores trabalham a Geografia cen- trados na memorização das informações, pois, de certa forma, o conhecimento geográfico se consagrou tradicionalmente ao fazer o uso do verbo e da grafia. As longas narrativas caracterizaram durante muito tempo a ciência geográfica. Assim, com base nessa perspectiva, é importante rever os conteúdos do currículo escolar e inves- tigar a capacidade de aplicação que cada um dos conteúdos da Geografia tem no cotidiano dos alunos e nas atividades realizadas na escola, por exemplo. É importante que esses con- teúdos promovam o desenvolvimento do raciocínio estratégico e destaquem a construção da espacialidade nas dimensões cultural, econômica, social e ambiental, em um processo de construção da noção de espaço que corresponda principalmente a orientar-se, deslocar-se e analisar as interações do ser humano com o meio em que vive. Ao longo do século XX, a linguagem como objeto de estudo nas disciplinas ensinadas na escola se destaca nas ciências humanas e se constitui no elemento estruturador da vida social e dos conhecimentos. Porém, a linguagem não é tida como instrumento mecânico de origem motora e sensorial e também não é um suporte para o pensamento (feito de impulsos cerebrais silenciosos). Ela representa as significações. Desse modo, a palavra – tão utilizada nas aulas expositivas que permeiam o processo de ensino e aprendizagem – não é simples- mente o signo e significações dos objetos, ela veicula significados. Da mesma forma, a linguagem nas aulas de Geografia não existe por si só. Por isso, justifica-se o ancoramento entre as aulas e o profissional que as põe em prática. A geografia, como ciência ou como disciplina do currículo escolar, desenvolveu uma linguagem própria – a geográfica – formada por conceitos que constituem requisitos para a análise dos fenô- menos do ponto de vista do estudo dessa ciência. Segundo Corrêa (1995), esses conceitos guardam entre si importante inter-relação, pois todos se referem à ação humana modelando a superfície terrestre: paisagem, região, espaço, lugar e território. Outros geógrafos também discutem a linguagem própria da geografia por meio de con- ceitos que consideram elementares. Santos (1988) analisa a região, a paisagem, a configu- ração territorial, o homem e a natureza. Moreira (1987) apresenta no elenco de categorias a natureza, o espaço, o território, o ambiente e a paisagem. É importante esclarecer que os conceitos citados não são de exclusividade da geografia, pois são utilizados de diferentes formas e até com significados diversos por outras ciências O que se ensina e o que deveria ser ensinado Metodologia do ensino de Geografia 2 29 e também pelo senso comum. Desse modo, ir além da memorização da informação obtida por meio da linguagem consiste também em mudanças de postura e nas atividades propos- tas pelo professor com o uso dessa linguagem em sala de aula. O professor pode até passar uma informação aos alunos, mas somente ensina quando a transforma em conhecimento e, consequentemente, transforma os alunos. O aluno vai à escola para aprender a ler, escrever e contar. Por isso, deve frequentar as aulas de Geografia para aprender a leitura de mundo (ou leitura de lugar). Ela relaciona-se a conceitos que estruturam o conhecimento geográfico, como a localização e a orientação. Por isso, o aluno: • ao ler a paisagem, percebe o que está ao seu redor (e não apenas desenhando ma- pas ou olhando para eles como se fossem figurativos); • ao estabelecer relações entre o território, a região, a natureza e a paisagem, sabe agir sobre eles com parcimônia. Umaluno, por exemplo, pode estar habituado a olhar um mesmo desenho todos os dias, mas só aprende a vê-lo quando, por meio da proposta didática de um professor ou até mesmo pela ajuda de um colega, descobre ou percebe elementos que antes passavam despercebidos. O mesmo pode ser considerado ao olhar para um mapa. A nova maneira de vê-lo, proporcionada pela leitura geográfica, e nele descobrir informações que antes não chamavam sua atenção, transforma o aluno em um verdadeiro leitor de mapas – ou leitor de paisagens. O processo de ensino-aprendizagem associado a uma transformação é importante para o professor e exige preparação e cuidados. É preciso levar aos alunos informações que os ins- tiguem ao conhecimento, que sejam significativas e possam ser aplicadas na vida ou na for- ma de ver a realidade em que vivem. Desse modo, o processo do aprendizado é conquistado de dentro para fora, ou seja, o despertar da curiosidade do aluno provocado pelo professor é essencial para que esse aluno conquiste a posição de agente da sua própria aprendizagem. A espacialidade em que os alunos vivem – objeto do processo de ensino-aprendizagem da Geografia – é bastante complexa. Diante da mundialização da sociedade, ela extrapola o lugar de convívio imediato, ou seja, esse lugar pode ser traçado por meio de uma figura espacial fluida, sem limites definidos, na qual o indivíduo não consegue compreender seu espaço de modo mais articulado, crítico e aprender a respeito dele sozinho. O conhecimento mais integrado da espacialidade requer uma instrumentalização con- ceitual que seja potencializada com práticas de intervenção pedagógica carregadas de sig- nificado. Em função disso, há a necessidade de aprofundar algumas questões como as da construção e da noção de espaço. Investigações de Piaget (1978) em relação às noções fundamentais de conhecimento lógico da criança, tais como as de tempo e espaço, por exemplo, ajudam no entendimento e na viabilização do melhor processo para ocorrer a aprendizagem. Piaget partiu de uma concepção de desenvolvimento envolvendo um processo contínuo de trocas (que podem ocorrer na escola e fora dela) entre o ser humano e o ambiente. O que se ensina e o que deveria ser ensinado2 Metodologia do ensino de Geografia30 Com base nessa concepção, são válidas algumas reflexões: Por que o trabalho de cons- trução da noção de espaço pode influenciar na aprendizagem da Geografia? Em que esse trabalho consiste? Como ele se processa nos diferentes níveis de ensino? Qual é o papel do professor nesse processo? E o papel da escola, qual é? As etapas concebidas por Piaget (1978) mostram que o desenvolvimento cognitivo é um processo de equilibração sucessiva que, embora contínuo, é caracterizado por diversas fases, etapas ou períodos, cada uma a seu tempo, as quais serão especificadas em capítulo posterior deste livro. Aprender e ensinar ou viabilizar o processo de ensino e aprendizagem são tarefas diárias e aparentemente simples para um professor, porém também são muito complexas para serem inteiramente efetivadas. Esse processo nos remete à construção de conhecimentos. Sabe-se que o ensino só vai ter sentido quando for construído pelo próprio aluno. E isso só acontecerá quando houver comprometimento do professor nesse processo de construção. Comprometer-se é problema- tizar o tema da aula, questionar atitudes e opiniões, provocar o pensamento crítico, confron- tar os conhecimentos adquiridos com o pensamento ou os conhecimentos prévios do aluno. Esse precisa desejar o que eu, como professor, desejo. Para isso, é necessário expor os conteú- dos de modo significativo e exemplificado, à medida que se possibilite autonomia ao aluno. Aprender ou efetivar o processo de aprendizagem é um processo lento e se caracteriza por uma busca constante pelo conhecimento. Toda a aprendizagem se reflete de alguma forma em nosso dia a dia. Nem sempre se aprende da melhor ou da mais rápida forma. Muitas vezes, o processo de aprendizagem apresenta-se como um caminho cheio de curvas e com chão pedregoso. Ao longo desse caminho, é importante que o aluno se depare com a sensação de que aprender é tão necessário quanto as diversas atividades importantes do nosso cotidiano, como uma alimentação diária saudável. 2.2 A relação entre professor e aluno na construção do conhecimento Em uma mesma sala de aula, há uma diversidade muito grande de alunos em rela- ção a sentimentos, cultura, interesses e até mesmo classes sociais. Assim, a forma como o professor e os alunos se relacionam com toda essa diversidade influencia no processo de ensino-aprendizagem. Devido a fatores que desafiam e concorrem com o professor e sua aula, sabemos que nem sempre a relação entre professor e aluno é serena. É exigido do professor não somente o exercício de seus conhecimentos, competências e habilidades relacionadas à sua disciplina, mas administrar situações que nem sempre apresentam cunho pedagógico. Cada situação é especial, pois o aluno traz para a sala de aula – assim como o professor – seus anseios, necessidades e até mesmo frustrações. O que se ensina e o que deveria ser ensinado Metodologia do ensino de Geografia 2 31 Segundo Morales (1999, p. 15-16), “o que se ensina sem querer ensinar e o que se apren- de sem querer aprender, pode ser, e com frequência é, o mais importante e o mais perma- nente do processo de ensino-aprendizagem, e isso por sua vez depende, em boa medida, do estilo de relação que estabelecemos com os alunos”. Desse modo, podemos ensinar aquilo que planejamos em nossas aulas, porém, po- demos ensinar também o que não está no planejamento. As explicações, as atividades e os experimentos ensinam determinados conhecimentos, mas outros podem ser ensinados por meio de nossa maneira de ser e da forma como estabelecemos o relacionamento com os alunos. Há muitas formas de ser um bom professor e estabelecer um bom relacionamento com os alunos – e assim influenciá-los da melhor maneira possível. Um bom professor apresenta muitas características específicas, porém, não é necessário ter todas elas. Existe um perfil, mas não é um perfil rígido, pois os bons professores são diferentes entre si. O grupo editorial Pearson realizou uma pesquisa a respeito das características de um bom professor. Entre março e novembro de 2015 foram ouvidos familiares, alunos, admi- nistradores e representantes políticos brasileiros de sete capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Fortaleza). O resultado apontou profis- sionalismo, dedicação, paciência e bom relacionamento como características essenciais para um bom professor. Esses resultados também podem ser verificados de forma semelhante em outros países em desenvolvimento, como África do Sul, México e Índia. Eles foram pu- blicados no relatório Global Survey of Teacher Effectives (PEARSON, 2016). Quadro 1 – Características de um bom professor de acordo com alunos brasileiros. Paciência 13% Bom relacionamento com alunos 12,8% Profissionalismo 11,4% Habilidades de ensino 7,3% Fonte: Pearson, 2016. Adaptado. Outras características aparecem quando se altera o público entrevistado. Para gestores de escolas, a habilidade de ensino está no topo da lista; para os pais, o mais importante é ter profissionalismo, bom relacionamento e paciência. Os pesquisadores e líderes políticos entrevistados apresentaram outra característica entre as mais citadas: o bom gerenciamento da sala de aula. A pesquisa em sua totalidade nos permite entender um pouco mais a respeito da reali- dade educacional brasileira. Com base nela, é necessário desenvolver a inteligência socioe- mocional nos professores, pois isso propicia a construção das relações de confiança entre professor e aluno, além de capacitar melhor os professores em relação ao desenvolvimento de liderança e colaboração entre si e com os alunos. O que se ensina e o que deveria ser ensinado2 Metodologia do ensino de Geografia32 Sabero que os alunos pensam a respeito da relação professor-aluno nos ajuda a in- teragir melhor com o universo deles. O que os alunos pensam não é regra e não necessita ser colocado em prática, mas pode nos dar dicas e oportunidades sobre como agir. Para os alunos pode servir para refletir a respeito de atitudes e, mesmo que indiretamente, mostrar- -nos o que esperam de um bom professor, além de evidenciar suas vivências e necessidades. Ou seja, ajuda-nos a entender os alunos. É válido lembrar que, em se tratando de características de personalidade de cada pro- fessor, os entraves são mais densos. É o caso, por exemplo, do senso de humor – ou se tem, ou não se tem. É verdade também que não encontraremos sempre situações divertidas em sala de aula, mas podemos apresentar sempre uma aula bem planejada e, assim, promover momentos que levem à busca do conhecimento, tornando a aula divertida. Podemos não ter uma proximidade afetiva desejável com determinados alunos ou turmas todo o tempo, mas podemos tratar todos com respeito sempre. O que mais importa são nossas atitudes e como concebemos o papel de ser professor, assim como a multidimensionalidade da relação entre docentes e discentes. É de extrema importância que o aluno sinta confiança no professor. Algumas reflexões a seguir podem nortear o dia a dia do professor, que precisa realizar- -se profissionalmente e não apenas cumprir seus horários fazendo o que lhe é estabelecido (o que também é importante, mas não pode ser só isso). • É válido que o tempo disponível em sala de aula seja desperdiçado? Se os alunos já são bons, podem ser ainda melhores com a orientação do professor. Outros ga- nharão mais confiança e ficarão motivados a aprender. • O que os alunos aprendem por meio do exemplo do professor? A postura pessoal transmite mais do que se imagina. • As atitudes em sala de aula são coerentes com o papel de professor? A relação en- tre professor e aluno é, antes de tudo, profissional, apesar do cunho informal que nos transmite a palavra relação. O professor é o “adulto” dessa relação. • Onde reside a ênfase ou prioridade das múltiplas atividades (corrigir provas, pla- nejar aulas, controlar alunos) de um professor? Os conselhos são muito úteis quan- do vêm de nós mesmos. • Em que medida o professor pode tratar de sua vida particular com o aluno no contexto da sala de aula? É importante levar em consideração a idade dos alunos e o bom senso. Considerando o último item das reflexões anteriores, a abertura pessoal do professor pode ser entendida como uma manifestação de autenticidade. Contudo, o professor deve sa- ber o que é adequado para o ambiente escolar. Isto é, não precisamos construir uma fachada perante os alunos e nem fazer uso de autoridade em sala de aula para mostrar quem somos em relação aos outros. A apresentação de como somos, com sentimentos, falhas, opiniões é importante, porém, é importante também manter clara a posição de professor perante os alunos. Há, sim, um momento de utilizar a autoridade para organizar uma turma e um mo- mento para comunicar que não está se sentindo bem, por exemplo. A flexibilidade e uso do bom senso são determinantes. O que se ensina e o que deveria ser ensinado Metodologia do ensino de Geografia 2 33 2.3 Conexão entre teoria e prática: uma necessidade Os conteúdos curriculares de Geografia têm dimensões diferentes no âmbito da teo- ria e da prática. Eles colocam o professor em constantes desafios, afinal, dar unicidade a esses conteúdos também é construir um projeto de educação que priorize o processo de ensino e aprendizagem. A prática consiste no trabalho humano guiado pela teoria em direção ao conhecimento. Esse trabalho é construído por pessoas inseridas em um espaço social e historicamente loca- lizado. Assim, é essencial que a prática seja entendida como uma dimensão fundamental na vida das pessoas, que pode transformar o meio e, acima de tudo, conservá-lo. A prática no ambiente de ensino deve desenvolver-se com base nas vivências pedagógi- cas no interior da escola, teorizando-a. Nesse processo, o contato entre o espaço da escola e o aluno é imprescindível, pois é dessa realidade que as propostas de ensino devem emergir e garantir uma reflexão aprofundada sobre o espaço vivido. A reflexão a respeito do dia a dia, por meio das dúvidas reais do professor sobre como estabelecer a conexão entre a teoria e a prática em sala de aula, constitui-se na condição necessária para que ocorra articulação coerente entre os temas de estudo e a realidade. Sabe-se, porém, que há a necessidade de se fazer um trabalho mais sistemático. Ou seja, buscar parcerias entre escolas e universidades, para que se chegue à construção de propos- tas educacionais que produzam o efeito esperado na comunidade educativa. As dificuldades e inconsistências relacionadas ao ensino vinculam-se a questões maio- res, por exemplo: o processo de sucateamento da escola pública no Brasil; os baixos salários dos profissionais da educação; as condições de trabalho desfavoráveis; a falta de um bom gerenciamento do sistema de ensino – que, em geral, está relacionado a interesses políticos –; e até a falta de uma nova proposta educacional mais moderna, que leve em consideração muito mais do que a teoria, mas o que dela pode se aplicar na prática, no cotidiano. Sabemos, porém, que ocorrem iniciativas isoladas de mudanças, que, para quem acredi- ta na educação, são consideradas a luz no fim do túnel. São iniciativas ainda pouco expressi- vas e que precisam ultrapassar os limites da sala de aula, evidenciando, assim, a necessidade de estímulos a propostas curriculares de formação local e global, ou seja, que apresentem conteúdos vinculados à percepção do cotidiano escolar, da região onde a escola se localiza, das pessoas que ali vivem e as relações dessa percepção do local com o espaço mundial. É importante deixar claro que a abordagem teórica de um conteúdo é importante, pois é ela que fundamenta a análise da realidade apresentada em aula, produzindo consciência científica de um conceito, superando a concepção de um conteúdo com base no senso co- mum. Mas também é importante deixar claro que essa abordagem teórica pode ser apresen- tada depois de uma abordagem vinculada à prática, que conduza o aluno a entender – por meio da investigação, da pesquisa, do seu cotidiano e da sua vivência – o significado de determinado conceito, à luz de uma referência teórica conduzida pelo professor que faz a articulação entre a teoria e a prática. O que se ensina e o que deveria ser ensinado2 Metodologia do ensino de Geografia34 Nesse contexto, o professor precisa assumir o papel de mediador do conhecimento arti- culado entre a prática e a teoria. Nesse sentido, ele também deve ser alertado que a retenção e a memorização do conhecimento produzido pelos alunos podem variar de acordo com a metodologia de ensino utilizada. Há aulas que ativam mais os circuitos cerebrais que ou- tras. Por exemplo, se propomos uma aula expositiva, na qual o professor já traz respostas a questões que não foram propostas aos alunos, a mobilização de circuitos cerebrais será bem menor. Diferentemente de uma proposta de aula questionadora, voltada ao processo de fazer o aluno pensar e descobrir as respostas das indagações propostas pelo professor, por meio de pesquisas ou da leitura de materiais de consulta, como o texto do livro didático, de um jornal, de uma revista ou da internet. A maior mobilização de circuitos cerebrais usa a região pré-frontal do cérebro e per- mite que se libere hormônios no corpo humano, como o da adrenalina, que age sobre a sinapses cerebrais que estão processando as sensações e o aprendizado. Essas sinapses conectam-se com áreas do cérebro relacionadas à consolidação da memória do conheci- mento novo, assim como, com a da memória do conhecimento armazenado – é por meio dela que o aluno pode recorrer para resolver o problema proposto ou para responder à pergunta feita pelo professor.É nesse sentido que Donald Schön (2000) propõe que o professor desenvolva sua prática de forma reflexiva e que mostre a necessidade do investigador (o aluno) de identificar, em uma situação-problema, a relação que existe entre esta e o seu cotidiano e com a sociedade. Então, consequentemente, é preciso propor possíveis soluções para o problema analisado, sempre buscando a construção de propostas alternativas de intervenção na realidade em que se vive, mesmo sabendo dos limites que um plano curricular impõe. Nesse caso, os professores devem partir sempre da análise e da interpretação das ativi- dades em sala de aula. É por meio delas que se pode refletir e aprender sobre as ações em aula. Essa é uma das características fundamentais da tarefa do professor, pois ele executa ações (práticas) que levam à produção de determinado conhecimento relacionado a deter- minada ação: o conhecimento tácito – aquele adquirido por meio das experiências pessoais, ou seja, por meio da prática –, mostrando a estreita relação entre a teoria e prática, elaborada pelo próprio professor por meio de suas próprias reflexões. É necessário, portanto, notar que o professor precisa ter um determinado conjunto de habilidades, destrezas ou aptidões para colocar em prática o ensino reflexivo. Pollard e Tann (1987) descreveram as seguintes destrezas necessárias, porém, as sufi- cientes, para a realização de um ensino reflexivo (aquele que relaciona a teoria à prática): • Destrezas empíricas: a capacidade de diagnóstico de uma determinada situação analisada pelo professor na escola ou dentro de sala de aula. • Destrezas analíticas: a capacidade de análise dos dados que a situação apresenta e por meio deles construir uma teoria. • Destrezas avaliativas: capacidade de valorar o processo de ensino-aprendizagem, emitir juízo a respeito das consequências de decisões tomadas e dar a devida im- portância aos resultados obtidos. O que se ensina e o que deveria ser ensinado Metodologia do ensino de Geografia 2 35 • Destrezas estratégicas: capacidade de planejar, antecipar situações por meio das análises já efetivadas. • Destrezas práticas: capacidade de relacionar a teoria com a prática. • Destrezas de comunicação: capacidade de comunicar ou compartilhar ideias com o grupo e levá-las à discussão. Com base nas considerações anteriores, percebe-se que o currículo escolar não abre espaço para aplicação de um modelo de ensino vinculado à prática reflexiva e, ainda, mostra o limite que há entre a ciência, que produz o conhecimento, e a prática, que faz a aplicação desse conhe- cimento. Desse modo, o sistema de educação atual deixa à mostra algumas lacunas e situações do processo de ensino e aprendizagem que não apresentam significado para o aluno. Conclusão A necessidade de conexão entre o que se ensina e o que se aprende é notória. Cabe ao professor fazer essa análise ao planejar suas aulas e repensar suas práticas. Nesse processo, também ocorreram ou deveriam ter ocorrido mudanças na postura dos professores em relação às propostas de temas de estudo, conectando-os à vivência do aluno e instigando esse aluno ao conhecimento, para, desse modo, torná-lo agente da sua própria aprendizagem. Ampliando seus conhecimentos Ensinar e aprender com sentido é o que faz a diferença na educação. O texto a seguir propõe ao professor essa reflexão: como dar sentido ao que se ensina para que o aluno seja capaz de apreender o conhecimento? Boniteza de um sonho: ensinar-e-aprender com sentido (GADOTTI, 2003, p. 46-56) A educação é necessária para a sobrevivência do ser humano. Para que ele não precise inventar tudo de novo, necessita apropriar-se da cultura, do que a humanidade já produziu. Educar é também aproximar o ser humano do que a humanidade produziu. Se isso era importante no passado, hoje é ainda mais decisivo numa sociedade baseada no conhecimento. O professor precisa saber, contudo, que é difícil para o aluno perceber essa relação entre o que ele está aprendendo e o legado da humanidade. O aluno que não perceber essa relação não verá sentido naquilo que está O que se ensina e o que deveria ser ensinado2 Metodologia do ensino de Geografia36 aprendendo e não aprenderá, resistirá à aprendizagem, será indiferente ao que o professor estiver ensinando. Ele só aprende quando quer apren- der e só quer aprender quando vê na aprendizagem algum sentido. [...] Aprender vem de ad (junto de alguém ou algo) e praehendere (tentar pren- der, agarrar, pegar). Aprendemos porque somos seres inacabados: as tartarugas nascem “sabendo” o que precisam. Nascem na praia sem a presença da mãe. Mesmo assim, elas “sabem” que devem ir logo para o mar, caso contrário podem acabar na boca de algum predador. Os seres humanos, contudo, se abandonados, mesmo com alguns meses de vida, eles morreriam. Nascem frágeis. Se os pais não os alimentam, morrem. Nós, seres humanos, não só somos seres inacabados e incompletos como temos consciência disso. Por isso, precisamos aprender “com”. Aprendemos “com” porque precisamos do outro, fazemo-nos na relação com o outro, mediados pelo mundo, pela realidade em que vivemos. O que acontece conosco é que se o que aprendemos não tem sentido, não atender alguma necessidade, não “apreendemos”. O que aprendemos tem que “significar” para nós. Alguma coisa ou pessoa é significativa quando ela deixa de ser indiferente. Esquecemos o que aprendemos sem sentido, o que não pode ser usado. [...] Nós, educadores, precisamos ter clareza do que é aprender, do que é “aprender a aprender”, para entendermos melhor o ato de ensinar. [...] É o sujeito que aprende através da sua experiência. Não é um coletivo que aprende. Mas é no coletivo que se aprende. Eu dialogo com a realidade, com autores, com meus pares, com a diferença. Meu texto, este texto que estou escrevendo agora, por exemplo, é resultado de um diálogo: diálogo com o contexto, com os educadores, presentes em diversas palestras, com os autores que li etc. Atividades 1. É possível afirmar que o conteúdo (objetos de conhecimento) de Geografia, entre os propostos pela Base Nacional Comum Curricular para o 7° ano do Ensino Fundamen- tal, disponível no link a seguir, é aplicável no dia a dia dos alunos? Por quê? BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF, 2017. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec. gov.br/a-base>. Acesso em: 8 nov. 2017. O que se ensina e o que deveria ser ensinado Metodologia do ensino de Geografia 2 37 2. Explique o que significa ler o mundo por meio das aulas de Geografia. 3. Como os dados da pesquisa realizada pelo grupo editorial Pearson, em 2015, no Brasil, e publicados no relatório Global Survey of Teacher Effectivenes (em 2016) podem nos ajudar a conhecer melhor a realidade educacional em nosso país? 4. Para dar mais significado aos conteúdos curriculares é necessário propor aulas que mobilizem mais circuitos cerebrais. Como devem ou deveriam ser essas aulas? Referências CORRÊA. R. L. Espaço: um conceito-chave da geografia. In: CASTRO, I. (Org.). Geografia: Conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. CARKHUFF, R. R. The art of helping. 5. ed. Amherst: Human Resources Development Press, 1984. CARRILHO RIBEIRO, A. Formar professores. Lisboa: Texto Editora, 1990. CLANDININ, J . Classroom Practice: teacher images in action. Londres: Falmer Press, 1986. DEWEY, J . Cómo Pensamos. Barcelona: Paidós. 1989. ESTRELA, M. T.; ESTRELA, A. Perspectivas actuais sobre a formação de professores. Lisboa: Estampa, 1977. GADOTTI, M. 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