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L935p Lucena, Plácido José Lins de. As patologias do concreto causadas por ataques de sulfato: A taumasita e seus mecanismos de formação e degradação / Plácido José Lins de Lucena. - João Pessoa, 2017. 80f. Orientador: Prof. Dr. Thiago da Silva Almeida. Monografia (Curso de Engenharia Civil) – Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ. 1. Concreto. 2. Manifestações patológicas. 3. Ataques por sulfatos. 4. Taumasita. I. Título. UNIPÊ / BC CDU - 624 A Deus e à minha família. Dedico. AGRADECIMENTOS Agradeço às minhas mães Maria e Margarete, ao meu pai Manoel por me proporcionarem a oportunidade desta conquista. À minha irmã Walquíria, pelo apoio. Ao meu orientador Thiago da Silva Almeida, pelo apoio e contribuição essencial para realização deste trabalho, que também foi meu professor da disciplina de Topografia ainda no início do curso e que desde aquela época eu sabia que poderia contar com ele. Aos meus mestres no sentido literal da palavra, Roberto Capistrano, José Vicente, Oswaldo Milaré, Alan Feitosa, Benedito “Bené”, Antônio Relvas, Evelyne Emanuelle, Jackson Pedrosa, Wanessa Cartaxo, Wilson Cartaxo, Laudelino Pedrosa, Adriana Ribeiro e Clóvis dos Santos, por fomentarem meu conhecimento e consequentemente contribuírem para que eu me torne um profissional vitorioso. A minha namorada Isadora, pelo apoio incondicional nesta caminhada. Aos meus amigos que sempre estiveram ao meu lado, pelo apoio e compreensão pelos momentos de ausência. Aos amigos que fiz no decorrer do curso e sei que estarão comigo para sempre. A todos aqueles que de alguma forma puderam contribuir para a realização deste sonho. “O insucesso é apenas uma oportunidade para recomeçar com mais inteligência. ” Henry Ford LUCENA, Plácido José Lins de. As patologias do concreto causadas por ataques de sulfato: A taumasita e seus mecanismos de formação e degradação. 2017. 80f. Monografia (Graduação em Engenharia Civil). Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ). RESUMO A história da humanidade está diretamente ligada ao desenvolvimento da construção civil. Tal afirmativa é tão verdadeira que as civilizações ao longo dos tempos têm como marcos referenciais as suas construções. No Egito, as pirâmides; Em Roma, o Coliseu e o Panteão; Na Grécia, o Partenon. O concreto foi o material mais utilizado durante o Império Romano, porém com a decadência do mesmo o concreto teve seu uso reduzido e só voltou utilizado em níveis consideráveis em meados do século XVIII, após John Smeaton realizar estudos a fim de reconstruir o farol de Eddystone, na Inglaterra. O cimento Portland surgiu apenas em 1824 e foi patenteado por Joseph Aspdin. A partir desse momento o concreto voltou a ser consumido em larga escala e é nos dias de hoje o material mais consumido do mundo depois da água. A revolução mercadológica constante da construção civil faz com que riscos calculados sejam recorrentes e em consequência destes podem surgir manifestações patológicas, dentre as quais podem-se enquadrar os ataques por sulfatos, sendo a taumasita o mais nocivo destes. Baseado nesta situação buscou-se utilizar o método de pesquisa bibliográfica com a finalidade de adquirir conhecimento acerca do concreto, dos ambientes e condições externas ou internas que favorecessem o acometimento da patologia sobre as estruturas de concreto, visando entender os mecanismos de formação e deterioração da taumasita, bem como propor meios de mitigação deste fenômeno. O concreto é um material que possui ótimas características quando bem executado. Para tanto é necessário que o mesmo seja composto por materiais de boa qualidade. Não bastando isso, os processos de preparo, transporte, lançamento, adensamento e cura tem fundamental importância para um bom produto final. Fatores como a presença de umidade, as baixas temperaturas e a presença de sais na água ou solo, que independem do controle humano. A ocorrência destas condições juntamente com um concreto de alta porosidade e consequente permeabilidade pode formar o ambiente ideal para o ataque de taumasita. A taumasita decorre da presença de sulfato de magnésio em grandes concentrações associada aos fatores anteriormente citados. O sulfato em um primeiro momento reage com a fase sólida do cimento chamada de portlandita, fazendo com que outra fase denominada C-S-H libere mais portlandita para o ambiente numa tentativa de equilibrar o sistema. Em consequência disto, o C-S-H começa a se descalcificar e se torna suscetível ao ataque do sulfato. Num segundo momento o C-S-H reage com o sulfato, se desmembrando em gipsita, brucita e sílica, além de formar um material conhecido como silicato hidratado de magnésio, que não possui nenhuma função ligante. Ao se observar o modo como tal manifestação se forma e agride as estruturas, especialmente pilares e fundações que são os elementos que possuem maior contato com umidade e o solo, nota-se que o uso adequado da relação água/cimento, a presença de agregados com uma boa distribuição granulométrica, a execução correta das etapas de preparo, transporte, lançamento, adensamento e cura, bem como a utilização de adições e aditivos que possam conferir uma boa compacidade assim como baixa porosidade e permeabilidade são de extrema relevância no intuito de tentar evitar o surgimento da taumasita. Palavras-chave: Concreto. Manifestações patológicas. Ataques por sulfatos. Taumasita. LUCENA, Plácido José Lins de. The pathologies of the concrete caused by sulfate attacks: The taumasite and its mechanisms of formation and degradation. 2017. 80f Monography (Undergraduate in Civil Engineering). Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ). ABSTRACT The history of humanity is directed to the development of civil construction. This assertion is so true that civilizations over time have the referential landmarks as their constructions. In Egypt, like pyramids; In Rome, the Colosseum and the Pantheon; In Greece, the Parthenon. The ideal was the material most used during the Roman Empire but with a reduced use and it was used at considerable levels in the mid-eighteenth century, after John Smeaton conduct studies in order to rebuild the lighthouse of Eddystone In England. Portland cement only emerged in 1824 and was patented by Joseph Aspdin. From a moment in real time, it is necessary to consume on a large scale and in our day the most consumed material in the world after water. The constant marketing revolution of the civil construction causes that the calculated and recurring risk and as a consequence of it can appear pathological manifestations, among which the attacks by sulphates can be included, being a taumasita themost noxious of these. Based on this situation, it was sought to use the bibliographical research method to acquire knowledge about issues of the concrete, the external and internal environments and conditions that favor the involvement of the pathology over structures of the concrete, in order to understand the mechanism of formation and the deterioration of Taumasita, as well as proposed ways of mitigating this phenomenon. Concrete is a material that has great features when well executed. For what is needed by good quality components. Not enough, the processes of preparation, transportation, launching, densification and curing are of fundamental importance to a good final product. Factors such as the presence of humidity, such as low temperatures and the presence of exits in water or soil, which are independent of human control. An occurrence, which is the case of a taumasite attack, ideal for the taumasite attack. The taumasite results from the presence of magnesium sulphate in high concentrations associated with the previously mentioned factors. The sulfate at first reacts with a continuous phase of the cement called portlandite, causing another phase called C-S-H to release more portlandite into the environment in an attempt to balance the system. As a result, C-S-H begins to decalcify and becomes more susceptible to sulfate attack. Second, C-S-H reacts with sulphate, disintegrating in gypsum, brucite and silica, in addition to forming material known as hydrated magnesium silicate, which has no binding function. When observing the way in which such manifestation is formed and attacked the structures, especially pillars and foundations that are the elements that have greater contact with humidity and soil, it is noted that the proper use of the water / cement ratio, the presence of aggregates with a good particle size distribution, the correct execution of the stages of preparation, transportation, release, densification and curing, as well as the use of additions and additives that can confer A good compactness as well as low porosity and permeability are of extreme relevance in order to try to avoid the appearance of taumasite. Keywords: Concrete. Pathological manifestations. Sulfate attacks. Taumasite. LISTA DE FIGURAS Figura 4.1 - Coliseu ................................................................................................................. 22 Figura 4.2 - Corte de uma seção do Panteão de Roma ............................................................ 23 Figura 4.3 - Barco de Lambot ................................................................................................. 23 Figura 4.4 - Escala granulométrica da NBR 6502/95 ............................................................. 27 Figura 4.5 - Produção de concreto usinado ............................................................................. 34 Figura 4.6 - Tempo estimado para transporte do concreto ...................................................... 34 Figura 4.7 - Lançamento e adensamento do concreto ............................................................. 35 Figura 4.8 - Cura do concreto .................................................................................................. 35 Figura 4.9 - Digrama dos fatores que acometem a permabilidade .......................................... 39 Figura 4.10 - Algumas origens da umidade nas edificações ................................................... 40 Figura 4.11 - Pilar acometido por ataque de íons de sulfato ................................................... 53 Figura 4.12 - Média anual de temperaturas para o Brasil em 2016 ......................................... 57 Figura 4.13 - Pilar acometido pela taumasita .......................................................................... 61 LISTA DE QUADROS Quadro 4.1 - Principais compostos do cimento ...................................................................... 26 Quadro 4.2 - Tipos de cimento Portland normalizados no Brasil ........................................... 31 Quadro 4.3 - Classes de Agressividade Ambiental ................................................................. 38 Quadro 4.4 - Correspondência entre a CAA e a qualidade do concreto ................................. 45 Quadro 4.5 - Relação entre a CAA e o cobrimento nominal .................................................. 45 Quadro 4.6 - Análise das origens das manifestações patológicas ........................................... 50 Quadro 4.7 - Severidade dos ataques dos concretos expostos aos sulfatos............................. 51 Quadro 4.8 - Sugestões para melhorar a resistência do concreto ao ataque de sulfatos ......... 64 LISTA DE TABELAS Tabela 4.1 - Ensaios normalizados pela ASTM para caracterizar agregados .......................... 28 Tabela 4.2 - Resistência à compressão obtida ao término do ensaio. ...................................... 58 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Al 3+ Íon alumínio Al2O3 Óxido de alumínio ou alumina CAA Classe de agressividade ambiental Ca 2+ Íon cálcio CaO Óxido de cálcio ou cal Ca(OH)2 Hidróxido de cálcio ou portlandita CaSO4 Sulfato de cálcio Ca2SO4.2H2O Sulfato de cálcio hidratado, gipsita ou gesso Ca6[Al(OH)6]2.24H2O}.[(SO4)3.2H2O ou 3CaO.Al2O3.3CaSO4.32H2O Etringita Ca6[Si(OH)6]2.24H2O}.[(SO4)2.(CO3)2 ou CaSiO3.CaSO4.CaCO3.15H2O Taumasita Cl - Íon cloreto CO3 2- Íon carbonato C2S ou 2CaO.SiO2 Silicato bicálcico C3A ou 3CaO.Al2O3 Aluminato tricálcico C3S ou 3CaO.SiO2 Silicato tricálcico C4AF ou 4CaO.Al2O3.Fe2O3 Ferro-aluminato tetracálcico C-S-H Silicato de cálcio hidratado Fe2O3 Óxido de ferro, óxido férrico ou hematita H + Cátion hidrogênio K + Íon potássio K2O Óxido de potássio Mg 2+ Íon magnésio MgCl2 Cloreto de magnésio MgO Óxido de magnésio ou magnésia Mg(OH)2 Hidróxido de magnésio ou brucita MgSO4 Sulfato de magnésio M-S-H Silicato hidratado de magnésio ou talco Na + Íon sódio NaCl Cloreto de sódio Na2O Óxido de sódio ou monóxido de sódio Na2SO4 Sulfato de sódio OH - Ânion hidroxila O 2- Superóxido pH Potencial hidrogeniônico Si 4+ Íon silicio SiO2 Dióxido de silício ou sílica SO3 Óxido sulfúrico, anidrido sulfúrico ou trióxido de enxofre SO4 2- Íon sulfato TiO2 Dióxido de titânio SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 15 2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 20 2.1 Geral .................................................................................................................................. 20 2.2 Específicos ......................................................................................................................... 20 3 PERCURSO METODOLÓGICO ..................................................................................... 21 3.1 Caracterização da pesquisa ............................................................................................. 21 3.2 Campo de pesquisa ........................................................................................................... 21 4 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 22 4.1 Concreto ............................................................................................................................ 22 4.1.1 Componentes do concreto ...............................................................................................24 4.1.1.1 Cimento Portland .......................................................................................................... 25 4.1.1.2 Agregados ..................................................................................................................... 26 4.1.1.3 Água ............................................................................................................................. 29 4.1.1.4 Adições ......................................................................................................................... 30 4.1.1.5 Aditivos ........................................................................................................................ 32 4.1.2 Preparo, transporte, lançamento, adensamento e cura do concreto ................................. 33 4.1.3 Propriedades do concreto ................................................................................................ 36 4.1.3.1 Estado fresco ................................................................................................................ 36 4.1.3.2 Estado endurecido......................................................................................................... 36 4.2 Umidade ............................................................................................................................. 39 4.2.1 A água e suas origens ...................................................................................................... 40 4.3 Temperatura ..................................................................................................................... 42 4.4 Sais ..................................................................................................................................... 43 4.5 Patologias das construções ............................................................................................... 46 4.5.1 Origem das patologias ..................................................................................................... 46 4.6 Patologias do concreto ...................................................................................................... 47 4.6.1 Tipos de patologias do concreto ...................................................................................... 48 4.7 Ataques por sulfatos ......................................................................................................... 50 4.7.1 Ingresso de íons de sulfato............................................................................................... 52 4.7.2 Cristalização dos sais de sulfato ...................................................................................... 53 4.7.3 Formação de etringita tardia ............................................................................................ 54 4.7.4 Formação de taumasita .................................................................................................... 56 4.7.4.1 Condições ambientais favoráveis ao surgimento de taumasita .................................... 56 4.7.4.2 Mecanismo de formação de taumasita.......................................................................... 60 4.7.4.3 Mecanismo de degradação de taumasita ...................................................................... 61 4.7.4.4 Meios de mitigação da manifestação patológica .......................................................... 63 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 66 5.1 Considerações ................................................................................................................... 66 5.2 Sugestões para trabalhos futuros .................................................................................... 67 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 68 15 1 INTRODUÇÃO Desde os primórdios da humanidade a construção civil se faz presente. Os primeiros humanos conviviam em condições ambientais pouco favoráveis e sentiam a necessidade de se proteger das intempéries, bem como de outras ameaças, tais como a presença de animais selvagens. A princípio, como não existia conhecimento cientifico tudo que era feito por aqueles homens se baseava na intuição e conhecimento empírico. Com o passar do tempo estes começaram a se socializar e assim surgiram as civilizações. Para o dicionário Michaelis (2015), a civilização é o resultado dos avanços dos seres humanos em relação a sua evolução social e intelectual. Diante dessa perspectiva o grau de conhecimento humano passou para outro patamar, levando o desenvolvimento a um nível cientifico, ainda que este fosse superficial. Nesta condição, o homem começou a conhecer as características dos materiais com quais utilizava e a condições e limites de uso destes (VERÇOZA, 2015). Battagin (2017) comenta que o cimento é um material cuja origem se dá há 4500 anos, onde os egípcios faziam uso de um aglomerante à base de gesso calcinado. Ainda segundo o autor, Grécia e Roma antigas utilizaram solos que possuíam partículas vulcânicas para a construção de monumentos como o Panteão e o Coliseu. Tais solos endureciam ao entrar em contato com a água. No intuito de desenvolver testes para efetuar a reconstrução do Farol de Eddystone no ano de 1756, localizado na Inglaterra, John Smeaton desenvolveu um cimento proveniente da calcinação de rochas calcárias contendo grandes quantidades de argila. Tempos depois, em 1818, um francês chamado Joseph Louis Vicat efetuou misturas de cal, gesso e argilas diversas, em variadas proporções, concluindo que a qualidade do cimento estava diretamente ligada ao planejamento das misturas, fato este que resultaria em cimentos mais resistentes que os naturais. (KAEFER, 1998). Em 1824, Joseph Aspdin calcinou rochas calcárias e argila, obtendo posteriormente um material pulverulento que ao secar, tornava-se tão duro quanto as pedras utilizadas nas construções e que também não se dissolvia ao entrar em contato com água. Surgia então o cimento Portland, que recebeu tal nome em alusão a Ilha britânica de Portland, uma vez que sua cor, durabilidade e solidez se assemelhavam às rochas daquela ilha (NEVILLE; BROOKS, 2013). 16 Posteriormente, por volta de 1849, houve o surgimento do concreto armado por Joseph-Louis Lambot, um agricultor que desenvolveu um barco feito de concreto reforçado com ferro. Tal concreto era diferente deste utilizado atualmente, pois era composto de cimento, areia, cal e água, formando o que se conhece aqui no Brasil como argamassa armada (CARVALHO, 2008). Segundo Neville e Brooks (2013), o concreto da forma que se conhece usualmente nos dias de hoje, tem em sua composição básica a presença de agregados bem graduados, que têm por objetivo resistir aos esforços mecânicos, bem como ao desgaste e à ação das intempéries, além reduzir possíveis variações volumétricas, assim como reduzir os custos da produção do material. De acordo com Mehta e Monteiro (2014), o fato de o concreto ter ótima resistência à água, possuir fácil moldagem devido à sua fluidez e o seu baixo custo associado à disponibilidade no mercado faz com que o concreto seja tão bem visto aos olhos da engenharia. A construção civil sempre está em desenvolvimento e a necessidade de revolucionar o mercado em que está inserido acaba por permitir o surgimento de novos riscos, mesmo que sejam comedidos. Deste modo, a ocorrência de tal situação permite o progresso tecnológico, uma vez que é possível se conhecer cada vez mais sobre os materiais e estruturas, principalmente a partir de estudos e análises feitas sobreerros responsáveis por deterioração pré-matura ou acidentes de modo geral (SOUZA; RIPPER, 1998). Verçoza (2015) ao discorrer sobre materiais de construção, afirma que a utilização de determinados produtos que visem sanar defeitos ou agregar qualidades pode trazer consigo o surgimento de outras deficiências, a exemplo da incorporação de aditivos ao concreto, que pode vir a desencadear uma série de reações, sejam elas de ordem química, física ou físico- química. A presença de tais deficiências torna necessária a realização de um estudo mais aprofundado acerca de suas causas e efeitos. Sendo assim, a engenharia civil adotou analogamente o termo “patologia”, muito difundido no meio cientifico que é definido como sendo a ciência que busca entender e evidenciar os mecanismos e causas de determinadas manifestações patológicas. Em consequência disto, a manifestação patológica é o mecanismo que provém de uma degradação. Assim como o corpo humano, uma obra de engenharia possui seus diversos sistemas e todos eles estão sujeitos à ação de doenças (SILVA, 2011). 17 Souza e Ripper (1998) informam que a ocorrência das manifestações patológicas é responsável por afetar o desempenho das construções, e este pode ser entendido como o comportamento da estrutura durante sua utilização. O desempenho de uma edificação está diretamente ligado às necessidades dos usuários, devendo-se considerar que cada usuário possui suas individualidades e necessidades específicas. De modo geral, existem aspectos que afetam o desempenho da estrutura, podendo ser de origem interna ou externa ao ambiente, ou de diversas naturezas, tais como agentes mecânicos, agentes eletromagnéticos, agentes térmicos, químicos ou ainda biológicos (CREMONINI, 1988). Dentre os agentes químicos, os sais são considerados fontes de contaminação. Estes podem ser encontrados na natureza, ser produzidos ou até mesmo surgir a partir da combinação de materiais de construção. Deste modo pode-se afirmar que eles são provenientes tanto dos materiais de construção, assim como da combinação equivocada deles, além da própria atmosfera, bem como dos sais de degelo, dos adubos, dos solos e dos lençóis freáticos (NAPPI; LALANE, 2010). Para Neville (2016), os sais, por si só, em seu estado sólido não acarretam problemas ao concreto, porém quando dissolvidos em meios aquosos, tais sais reagem com a pasta hidratada de cimento e podem provocar sérios danos à estrutura. A umidade constitui uma grande ameaça a uma edificação. A ocorrência e frequência de patologias provenientes de sua presença estão normalmente vinculadas à idade da construção, assim como ao clima, materiais, técnicas utilizadas e ao controle de qualidade existente durante a execução dos serviços (JONOV; NASCIMENTO; SILVA, 2013). De acordo com Figueiredo et al. (2016), a presença de água é um fator bastante relevante para contribuir com o surgimento de manifestações patológicas, dentre as quais podem ser citadas as reações álcali-agregados, as eflorescências e os ataques por sulfatos. Tais ataques por sulfatos resultam da combinação de um ambiente onde exista água juntamente com a presença de sais de sulfato. De modo geral são quatro as formas de ataques: o ingresso de íons de sulfato para o interior da pasta, a cristalização dos sais de sulfato, a formação de etringita tardia e a formação de taumasita (SOUZA, 2006). A nível mundial, uma edificação histórica, conhecida como "The Vanticelli's mole", localizada na cidade de Ancona, Itália, apresentou a formação de taumasita em sua alvenaria. Em alguns países da Europa, a exemplo da Alemanha, já existem leis que proíbem a prática do uso de sal para acelerar o processo de degelo da neve, pois a presença de sais no solo estava colaborando substancialmente para a ocorrência de ataques por sulfato nas estruturas 18 de concreto, inclusive taumasita. No Brasil, ao desenvolver um estudo sobre estabilização de solo com adição de cal em um trecho rodoviário executado no Rio Grande do Sul, identificou- se a ocorrência de ataque por sulfatos, onde foi verificada a possibilidade de ter a presença da taumasita (CORINALDESI, MORICONI, TITTARELLI, 2003; LOVATO, 2004; NAPPI. S; NAPPI, M., 2013). A existência de poucos casos citados está relacionada à dificuldade de encontrar estudos que comprovem a presença do fenômeno nas edificações. O surgimento da taumasita depende da presença de umidade, de sulfatos e de silicato hidratado de cálcio, além da um ambiente que possua baixas temperaturas, variando entre 0º e 10º C. Apesar de estar presente na química do cimento Portland, a taumasita pode se formar na ausência deste, bastando apenas que exista cal ou gesso cumprindo a função de aglomerante, uma vez que estes contêm os elementos essenciais para sua formação (NAPPI. S; NAPPI, M., 2013). Collepardi (1990) relata que uma das principais características da taumasita é que após sua formação, o corpo tende a se tornar inconsistente, perdendo sua resistência, fato este que é responsável pela sua desagregação, ainda mais quando na presença de água. Além disso, a taumasita pode se formar brevemente, podendo surgir após dez dias da sua execução ou até mesmo anos depois, mas esta variação da ocorrência é determinada pelas condições ambientais de umidade e temperatura. De acordo com Souza e Ripper (1998) as manifestações patológicas são em sua maioria causadas por falhas, sejam elas no processo de concepção, execução ou utilização das edificações e suas estruturas, considerando-se as causas intrínsecas ou extrínsecas a elas. Tais fatores ainda dependem de equívocos humanos, causas naturais peculiares ao concreto dentre outras ações. O problema que envolve não apenas a formação de taumasita, assim como as demais manifestações recorrentes é o fato de existir uma necessidade cada vez maior de se construir com maior celeridade, levando as partes envolvidas no processo construtivo como um todo a deixar de cumprir etapas importantes bem como não utilizar métodos e técnicas adequados a cada situação ocorrente. Sendo assim, este documento tem sua relevância, pois tem o intuito de contribuir para o entendimento acerca da formação da taumasita, sendo esta uma manifestação que causa graves transtornos às estruturas acometidas pela sua presença, além de auxiliar os profissionais da área, que especialmente no Brasil, não tem conhecimento tão aprofundado sobre tal adversidade, não por falta de comprometimento, mas pelo próprio clima do país, que 19 não permite o aparecimento regular, tornando-se assim uma ferramenta mais complicada de ser estudada. Além disso, a realização deste estudo tem grande importância para a formação do alunado, pois devido ao fato de não ter sido abordado durante a graduação o mesmo irá agregar conhecimentos pertinentes em termos profissionais. 20 2 OBJETIVOS 2.1 Geral Discorrer acerca dos ataques provocados por sulfatos, em especial sobre a taumasita, buscando apresentar informações que sejam relevantes no intuito de evitar o surgimento de tal manifestação. 2.2 Específicos Entender o mecanismo de formação da taumasita; Evidenciar o mecanismo de deterioração da taumasita; Propor meios de mitigação relativos à presença da taumasita. 21 3 PERCURSO METODOLÓGICO 3.1 Caracterização da pesquisa O presente documento é caracterizado por se tratar de uma revisão de literatura e tem o propósito de utilizar a técnica de pesquisa bibliográfica no intuito de buscar informações suficientes para atingir os objetivos a que este se propõe. 3.2 Campo de pesquisa Através de amostraobtida dentro de um universo com a utilização de materiais bibliográficos físicos e virtuais, tais como livros, revistas, artigos, monografias, trabalhos de conclusão de curso, teses, dissertações, homepages, normas técnicas e outros documentos que tratem das patologias causadas por ataques de sulfatos, em especial a taumasita. 22 4 REFERENCIAL TEÓRICO 4.1 Concreto As pedras e madeiras foram os materiais mais utilizados nas construções das antigas edificações. Posteriormente, o ferro, o aço e concreto foram conhecidos e conquistaram seus espaços, com suas devidas importâncias. Quando se diz que um material é ideal construtivamente, devem-se considerar suas características de resistência e durabilidade. Diante desta situação, o concreto ganhou destaque, visto que em comparação com outros materiais anteriormente citados, ele obtinha vantagem em relação a tais propriedades (BASTOS, 2006). O uso do concreto é tão antigo que expedições arqueológicas encontraram habitações executadas parcialmente em concreto datadas de 4000 a.C. no Iraque. Muitas civilizações desenvolveram a utilização de vários materiais de construção, dentre eles a argila, a cal, as fibras vegetais e gesso. Os gregos apesar de conhecerem o concreto não costumavam utilizá- lo como elemento estrutural e o aproveitavam apenas para cumprir a função de revestimento. Na antiguidade, os romanos foram aqueles que mais difundiram o uso do concreto, sendo ele juntamente com as rochas, os principais constituintes de suas construções suntuosas, aquedutos e templos, sendo o Panteão de Roma e o Coliseu, duas grandes referências arquitetônicas (KAEFER, 1998). A figura 4.1 a seguir mostra o coliseu, que foi criado durante o Império Romano no intuito de divertir o povo que naquela época costumava se reunir para apreciar eventos tais como: lutas entre gladiadores, execuções de prisioneiros, exibição de animais exóticos, caça aos leões, dentre outras atividades (GASPARETTO JÚNIOR, 2017). Figura 4.1 - Coliseu Fonte: (http://blog.mundi.com.br/2015/10/07/coliseu-um-passeio-pela-historia/, 2015). 23 A figura 4.2 é uma representação do Panteão de Roma, que foi um templo de adoração que conheceu a Roma antiga, medieval, papal, renascentista e a Roma capital, quando se tornou sacrário do novo reino, pelos reis da Itália unificada (IACUZIO, 2015). Figura 4.2 - Corte de uma seção do Panteão de Roma Fonte: (http://www.electrummagazine.com/2016/05/imperium-and-genius-in-the-pantheon-of-rome/, 2016). Os romanos foram responsáveis por tentar armar o concreto, porém não obtiveram êxito, pois os cabos de bronze utilizados possuíam coeficiente de dilatação térmica bem diferente do concreto. Com o passar do tempo o concreto passou ser utilizado apenas em fundações e algumas alvenarias, e somente no século XVIII, com os estudos realizados acerca das propriedades do cimento por Smeaton (1758), Parker (1796) e Louis Vicat (1818), que acarretou na patente do cimento Portland, apontada por Joseph Aspdin no ano de 1824, foi que o concreto voltou a ser aplicado nas construções em larga escala (APPLETON, 2013). O barco de argamassa armada desenvolvido por Joseph Louis Lambot apresentado na figura 4.3 a seguir apesar de cumprir a finalidades a que se destinava, não obteve o sucesso esperado (CARVALHO, 2008). Figura 4.3 - Barco de Lambot Fonte: (http://www.lafarge.at/unternehmen/presse/news/beton-schwimmt/, 2017). 24 O concreto é um material de construção cujo uso é bastante difundido e por tal motivo ele é o segundo material mais consumido no mundo, ficando atrás apenas da água. É possível notar sua presença em vários lugares, a exemplo de residências, edifícios, rodovias, pontes, barragens, obras que envolvem saneamento e drenagem dentre outras. De modo geral, pode-se definir o concreto como sendo uma espécie de rocha artificial que se molda à engenhosidade humana, que quando endurecido possui características similares as das rochas e em seu estado fresco, possui tamanha plasticidade que é capaz de ser modelado em diversas formas e tamanho (PEDROSO, 2009). Neville e Brooks (2013) se referem ao material como um produto derivado de um meio aglomerante que normalmente provém da reação ocorrida entre cimento hidráulico e água, porém devendo-se considerar a existência de outros materiais inseridos nesta mistura. Em termos gerais, o concreto não apresenta a tamanha dureza e nem a grande resistência de materiais como o aço, mas sua utilização é tão vasta por alguns fatores consideravelmente relevantes. Este compósito tem ótima resistência ao contato com água, diferentemente de aço e madeira, que tendem a se deteriorar mais rapidamente. Além disso, possui grande facilidade de se moldar, permitindo a criação de múltiplos elementos estruturais, bem como é um material de baixo custo e que possui grande disponibilidade (MEHTA; MONTEIRO, 2014). 4.1.1 Componentes do concreto É dito compósito aquele material composto por pelo menos duas fases de características químicas e físicas distintas, sendo uma contínua, chamada também de matriz e a outra denominada dispersa, podendo ser contínua ou não, onde as propriedades alcançadas diante da junção dos atributos das mesmas (SILVA, 2017). Diante deste conceito, o concreto pode ser qualificado como um compósito, pois possui em sua matriz o cimento, material que reage quimicamente ao entrar em contato com água. Tal material compõe-se de um aglomerante, normalmente o cimento Portland, areia e brita denominada de agregado miúdo e graúdo respectivamente, água e ocasionalmente adições minerais e aditivos. A proporção de cada um destes constituintes na mistura é designada por traço, sendo ele o encarregado pela resistência do concreto (CRIVELARO; PINHEIRO, 2014). 25 4.1.1.1 Cimento Portland O referido material é pó fino, que possui propriedades aglutinantes e que ao reagir quimicamente com a água, enrijece, e mesmo que venha a entrar em contato com água posteriormente mantém suas características, não se decompondo. Por este fato diz-se que o cimento é o agente principal da transformação dos materiais que compõem o concreto em produtos finais a que se destinam, como lajes, vigas e pilares. Pelo fato de sua reação química ocorrer através da água, o cimento é denominado de aglomerante hidráulico (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND, 2002). O clinquer é o principal constituinte do cimento, sendo ele formado por pequenos nódulos que variam de 5 até 25 mm de diâmetro de material sintetizado em decorrência da mistura de determinadas matérias primas em proporções convenientes e posterior aquecimento sob altas temperaturas. Neste caso, os componentes desta combinação são silicatos de cálcio hidráulicos cristalinos e pouca quantidade de sulfatos de cálcio, podendo ainda conter até 5% de calcário, cumprindo o papel de adição durante o processo de moagem deste (MEHTA; MONTEIRO, 2014). No estudo dos compostos do cimento é bastante comum se referir aos seus componentes por intermédio dos compostos complexos, porém é importante destacar os constituintes individualmente, explicitando sua relevância no conjunto. A cal (CaO) é o elemento substancial do cimento, sendo ele o constituinte de maior proporção na mistura. Normalmente sua presença provém da decomposição do carbonato de cálcio. A sílica (SiO2) é o segundo composto na escala de proporção e sua existência se deve principalmente as argilas utilizadas como matéria prima. A alumina (Al2O3) é o terceiro componente nesta escala decrescente e assim como a sílica é proveniente das argilas. Seu percentual normalmente é baixo, pois ao secombinar com a cal acelera o processo de pega do aglomerante e diminui a resistência referente aos sulfatos. Assim como o item citado acima, o óxido de ferro (Fe2O3) também advém da argila e é bastante útil devido à sua condição de material fundente, devendo sua porcentagem ser inferior a de alumina (PETRUCCI, 1998). Estes são os principais componentes do cimento Portland. Contudo, ainda existem constituintes a serem relatados, pois mesmo que se apresentem em porções menores, contribuem para agregar características peculiares ao material. A magnésia (MgO) proveniente quase sempre do carbonato de magnésio existente no calcário deve ter percentual baixo e bem definido, visto que pode atuar como agente expansor e vir a desestabilizar os volumes de concretos e argamassas. Os anidridos sulfúricos (SO3) são adicionados em 26 pequenas quantidades após a calcinação do clínquer, visando retardar o tempo de pega do material. Vale salientar que nesta combinação de elementos ainda se encontram algumas impurezas, o óxido de sódio (Na2O) e o óxido de potássio (K2O), conhecidos como os álcalis do cimento, além do óxido de titânio (TiO2) e outros elementos de menor relevância. (OLIVEIRA, 2015). Diante da produção do clínquer é possível estabelecer os principais compostos do cimento, ou seja, os silicatos e aluminatos formados neste processo, além da gipsita, da forma apresentada no quadro 4.1 a seguir. Quadro 4.1 - Principais compostos do cimento Fonte: Adaptado de Souza e Ripper (1998, p. 85). Os silicatos tricálcico e bicálcico são responsáveis por conferir resistência mecânica às pastas de cimento. O C3S continua a se hidratar durante os anos subsequentes e devido ao grau de hidratação incialmente elevado o torna responsável pelas resistências iniciais do concreto. Apesar de garantir resistência ao cimento, o C2S se hidrata mais lentamente, sendo este o fator que contribui para a obtenção de resistência mecânica de médio e longo prazo. Dentre os principais compostos do cimento, o C3A é o que possui maior calor de hidratação e que se hidrata mais rapidamente. Sua colaboração acerca da resistência mecânica é relativamente pequena, sendo importante apenas no início do processo de pega. O C4AF quase não contribui para o aporte de resistência, apresentando calor de hidratação moderado e boa estabilidade em termos químicos (SOUZA; RIPPER, 1998). 4.1.1.2 Agregados Os solos são de modo geral o resultado das intempéries e ocorrem normalmente por meio de desintegração mecânica ou decomposição química. No primeiro caso, a água, os ventos, as temperaturas a que estão submetidas e até mesmo a vegetação contribuem para a formação de pedregulhos, areias, siltes e em alguns casos argila. Quando se trata da decomposição química, acontece a modificação mineralógica das rochas de origem, cujo Compostos Notações químicas dos cimentos Notações químicas condensadas Silicato Tricálcico 3CaO.SiO2 C3S Silicato Bicálcico 2CaO.SiO2 C2S Aluminato Tricálcico 3CaO.Al2O3 C3A Ferro-Aluminato Tetracálcico 4CaO.Al2O3.Fe2O3 C4AF Gipsita CaSO4.2H2O C5H2 27 principal causador deste processo é a água, agindo através de seus mecanismos de oxidação, hidratação, carbonização, bem como os efeitos químicos da vegetação (CAPUTO, 1988). Podem-se considerar os solos divididos em dois grupos, sendo eles os solos grossos e finos, onde seu enquadramento está a depender do tamanho das partículas, pois através dele é possível determinar se a força de campo que atua sobre o grão será de cunho gravitacional, no caso dos solos grossos, ou de cunho elétrico para o caso de solos finos. Dentro do grupo dos solos grossos estão as areias, as britas, os pedregulhos e matacões, enquanto que a classe dos ditos finos é representada pelos siltes e argilas (MACHADO, S.; MACHADO, M., 2014). Os agregados provêm de origem natural como é o caso das areias e seixos, mas também podem ser obtidos industrialmente, a exemplo das britas que são rochas que passam por processo de redução por meio de britagem e peneiramento de grandes blocos rochosos de granito, gnaisse, basalto e calcário (CRIVELARO; PINHEIRO, 2014). Com a finalidade de conhecer o material a ser utilizado é importante obter informações sobre o tamanho dos grãos de determinado solo. Neste sentido, faz-se uma análise granulométrica, dividida em fases de peneiramento e sedimentação. Para caracterização dos agregados basta ser realizado o processo de peneiramento, visto que o ensaio de sedimentação identifica os solos finos como silte e argila. O método consiste em realizar o peneiramento sucessivo de uma amostra através de um conjunto de peneiras com malhas de diferentes aberturas, a fim de verificar a quantidade de solo que passou para a próxima peneira e averiguar quanto ficou retida na anterior, definindo-se o tipo do agregado em função do seu diâmetro equivalente (PINTO, 2006). A figura 4.4 apresenta os diâmetros máximos que caracterizam os solos. Figura 4.4 - Escala granulométrica da NBR 6502/95 Fonte: Machado, S. e Machado, M. (2014, p. 21). Ao se observar determinado volume de concreto deve-se lembrar de que aproximadamente ¾ daquele conjunto é composto pelos agregados. A princípio, estes eram considerados materiais inertes, de baixo custo, utilizados para produzir grandes volumes de concreto. Posteriormente foi notado que devido as suas características físicas, térmicas e até mesmo químicas tais componentes podiam influenciar diretamente não só na resistência do concreto, mas também podiam interferir substancialmente na durabilidade e desempenho do 28 concreto, por tal motivo é relevante que estes materiais tenham suas qualidades garantidas, devido a sua tamanha importância (NEVILLE; BROOKS, 2013). A tabela 4.1 a seguir apresenta alguns ensaios referentes à caracterização dos agregados para fins de utilização em concretos. Tabela 4.1 - Ensaios normalizados pela ASTM para caracterizar agregados Fonte: Adaptado de Effting (2014, p. 19). ASTM ABNT ASTM C 131 NBR 6465/84 ASTM C 535 ASTM C 779 ASTM C 666 ASTM C 682 ASTM C 88 NBR 12695/92 NBR 12696/92 NBR 12697/92 ASTM C 295 NBR 7809/83 ASTM D 3398 ASTM C 117 NBR 7217/87 ASTM C 136 ASTM C 29 NBR 7810/83 NBR 7251/82 ASTM C 127 NBR 9776/87 ASTM C 128 NBR 9937/87 ASTM C 70 NBR 9775/87 ASTM C 127 NBR 9777/87 ASTM C 128 NBR 9937/87 ASTM C 566 NBR 9939/87 ASTM C 39 NBR 7221/87 ASTM C 78 ASTM C 125 NBR 9935/87 ASTM C 294 NBR 7225/87 NBR 9942/87 ASTM C 40 NBR 7218/87 ASTM C 87 NBR 7219/87 ASTM C 117 NBR 7220/87 ASTM C 123 NBR 7221/87 ASTM C 142 NBR 7389/92 ASTM C 295 NBR 9936/87 ASTM C 227 NBR 9773/87 ASTM C 289 NBR 9774/87 ASTM C 295 NBR 7389/92 ASTM C 342 NBR 10340/88 ASTM C 586 b) A maioria dos testes e características listadas estão referenciadas na ASTM C 33. a) ASTM é um orgão normativo estadunidense. c) Os métodos brasileiros disponíveis foram acrescentados à tabelavisando facilitar possíveis pesquisas, porém não representam, necessariamente equivalência direta com o método americanorelacionado na mesma linha. d) Como citado anteriormente, no Brasil é mais usual a classificação de agregados pela massa específicae não pela massa unitária. e) Algumas normas NBR mencionandas acima já possuem uma versão atualizada disponível. Constituintes dos agregados Determinação do teor de materiais deletérios e orgânicos Porcentagem máxima individual dos constituintes Resistência à reatividade com álcalis e variação de volume Sanidade contra mudança de volume Expansão máxima; teores de sílica e dos constituintes alcalinos Resistênciaà compressão e flexão Aceitação de agregado miúdo reprovado em outros testes Resistência maior que 95% da resistência obtida com areia limpa Terminologia e definição dos constituintes Entendimento e comunicação inequívocos - Massa específica Cálculos de dosagem - Absorção e umidade superficial Controle da qualidade do concreto - Composição granulométrica Trabalhabilidade do concreto fresco; economia Porcentagens máximas e mínimas passantesem peneiras normalizadas Massa unitária Cálculos de dosagem; classificação Massa compactada e massa no estado sólido Resistência à desintegração por sulfatos Durabilidade sob ação do intemperismo Perda de massa; partículas danificadas Forma da partícula e textura superficial Trabalhabilidade do concreto fresco Porcentagem máxima de partículas lamelares ou alongadas Número do método Resistência à abrasão e desintegração Índice de qualidade do agregado; resistência ao desgaste de pisos e pavimentos Porcentagem máxima de perda de massa, profundidade e tempo de desgaste Resistência ao congelamento e degelo Escamamento superficial, aspereza, perda de seção e esburacamento N° máximo de ciclos ou período para resistir ao congelamento (durabilidade) Característica Importância Critério ou assunto relacionado 29 A NBR 7211 (2005) determina que os agregados a serem utilizados no concreto devem possuir grãos de origem mineralógica dura, além de serem compactos, estáveis, limpos e duráveis. Os mesmos não devem apresentar substâncias provenientes da natureza, mas caso ocorra a presença deve ser em quantidade que não venha a prejudicar os processos de hidratação e endurecimento do cimento, bem como a proteção da armadura contra corrosão, a durabilidade e os aspectos externos do concreto quando forem exigidos. Tais agregados possuem determinadas propriedades físicas bem definidas, tais como: massa específica, porosidade, compacidade, granulometria, finura, teor de umidade, inchamento, coesão, fragilidade, maleabilidade, tenacidade, dentre outras. Para tanto, diante do contexto abordado vale ressaltar as propriedades do concreto ligadas aos agregados. Sendo assim, sabe-se que a distribuição granulométrica do agregado tem interferência direta sobre resistência do concreto à compressão, pois esta tem a ver com a relação água/cimento e depende de tal condição. A mesma distribuição influencia também na trabalhabilidade e na permeabilidade do produto. O formato dos grãos do agregado por sua vez influi apenas na variável trabalhabilidade. É notável também que tais componentes não interferem na retração do concreto (ALBUQUERQUE, 2015). 4.1.1.3 Água Este elemento tem fundamental importância na elaboração do concreto, pois sua utilização influencia a fluidez e trabalhabilidade do composto. Por este fato, a água deve ser de qualidade, pois na presença de impurezas, a mesma pode interferir negativamente sobre a resistência do concreto, podendo ainda acarretar em manchamento de superfície ou até mesmo colaborar para o processo de corrosão de armaduras. Além destes aspectos, a água em excesso pode ainda provocar o aumento de porosidade e contribuir para exsudação e segregação do concreto, auxiliando a redução da durabilidade do mesmo (COSTA, 2015; NEVILLE, 2016). A água potável é aquela que possui boas condições para consumo tanto de pessoas quanto de animais, sem que estes estejam sujeitos a doenças (PACIEVITCH, 2017). No Brasil, os parâmetros de potabilidade da água são descritos na Portaria 518 do Ministério da Saúde, que estabelece as responsabilidades de quem a produz, bem como a incumbência do seu controle de qualidade e das autoridades sanitárias. A NBR 15900-1 (2009) ao se referir sobre as devidas origens das águas a serem utilizadas na preparação do concreto informa que a água proveniente do abastecimento público é adequada para tal finalidade e inexige ensaio. Aquelas que são recuperadas dos 30 processos de preparação do concreto, as de fontes subterrâneas, as naturais de superfície, de capitação pluvial e as residuais das indústrias podem ser utilizadas desde que ensaiadas. As águas salobras têm seu uso restrito ao concreto simples, ficando vedado o uso para as aplicações em concreto armado e protendido, enquanto que as oriundas do esgoto nunca devem ser utilizadas, mesmo sob condição de ensaio. O uso desta água é voltado para a hidratação do cimento, e nesta situação a mesma necessita obedecer às exigências impostas pelas normas quanto aos teores de determinadas substâncias prejudiciais como os açúcares, que possuem a capacidade de retardar a hidratação do cimento, adiar ou até mesmo impedir o processo de pega; os íons de cloreto, amônia, sulfetos e nitratos, que se dissolvidos em tal água podem contribuir para a corrosão de armaduras; os íons de sulfato e magnésio, que tem influência direta sobre a deterioração do concreto, bem como a presença de argilas e siltes, que em concentrações elevadas podem impedir a cristalização das pastas de cimento, incorrendo na perda de coesão da mesma (FIGUEIREDO et al., 2016). 4.1.1.4 Adições As adições são utilizadas no concreto em diversas proporções de acordo com as características que se deseja obter. Devido a fatores ambientais e econômicos, o uso de subprodutos derivados da indústria passou a ser fonte principal de adições minerais para os concretos. Considerando tais condições a substituição parcial do cimento Portland tem influência considerável em termos de economia de custos e energia (MEHTA; MONTEIRO, 2014). A princípio, os cimentos produzidos no Brasil não apresentavam nenhuma adição a não ser de gesso, que visava retardar a pega. Tempos depois, surgiram os ditos cimentos Portland compostos, que são aqueles que apresentam percentuais de escória granulada de alto- forno, materiais pozolânicos e materiais carbonáticos, sendo tais proporções inferiores as que são encontradas nos cimentos Portland de Alto-Forno e Pozolânicos. As escórias possuem propriedades hidráulicas que a fazem endurecer ao entrar em contato com água. Os materiais de origem pozolânica não reagem com água, porém quando divididos tem a capacidade de reagir com o hidróxido de cálcio na presença de água em temperatura ambiente, recaindo em compostos de propriedades aglomerantes. Deste modo, tais adições alteram a microestrutura do concreto, reduzindo a permeabilidade, a porosidade capilar, além de auxiliar na estabilidade e aumentar a durabilidade do concreto (ABCP, 2002). 31 O fíler é uma adição de origem calcária, cuja finura se assemelha a do cimento Portland e apresenta determinados benefícios acerca das propriedades do concreto, como por exemplo, na trabalhabilidade, massa específica, permeabilidade, exsudação capilar, assim como na tendência a fissuração e na capacidade de melhorar a hidratação do cimento. Este material geralmente é considerado inerte, contudo podem ocorrer algumas reações químicas inofensivas com os produtos das pastas de cimento, que, portanto, não são tidas como fatores negativos. Como o fíler é utilizado no intuito de se obter ganho de características físicas é relevante que exista compatibilidade física entre ele o cimento ao qual está sendo incorporado (NEVILLE; BROOKS, 2013). O mercado brasileiro dispõe atualmente de oito tipos básicos de cimentos com suas devidas peculiaridades tais como subgrupo e classe de resistência. Algumas variações são passíveis de ocorrência a depender da relação de clínquer, sulfatos de cálcio e adições, não se excluindotambém suas particularidades, como alta resistência inicial, resistência a sulfatos e a coloração branca (BATTAGIN, 2011). O quadro 4.2 a seguir traz os respectivos tipos de cimento Portland fabricados no Brasil, bem como os percentuais de seus devidos componentes. Quadro 4.2 - Tipos de cimento Portland normalizados no Brasil Fonte: Adaptado de Battagin (2011, p. 207). O meio científico e tecnológico desenvolveu outros tipos de adições além das anteriormente citadas. Tais adições são as fibras. Estas provenientes do aço, do vidro, do nylon, do propileno, do carbono, também podendo ser sintéticas e de origem vegetal, como sisal e bambu por exemplo. Quando as referidas começaram a ser utilizadas, tinham basicamente a função de melhorar algumas características, a exemplo de reduzir a retração do concreto e aumentar sua resistência mecânica, porém ao longo do tempo, descobriu-se que estas fibras podem contribuir significativamente sobre outros aspectos, inclusive no Clínquer + Gesso Escória Pozolana Fíler calcário Comum CPI 25, 32, 40 100 Comum com adição CPI - S 25, 32, 40 99 - 95 Composto com escória CPII - E 25, 32, 40 94 - 56 05 - 34 0 0 - 10 Composto com pozolana CPII - Z 25, 32, 40 94 - 75 0 06 - 14 0 - 10 Composto com fíler CPII - F 25, 32, 40 94 - 90 0 0 0 - 10 Alto-forno CPIII 25, 32, 40 65 - 25 35 - 70 0 0 - 05 Pozolânico CPIV 25, 32 85 - 45 0 15 - 50 0 - 05 Alta resistência inicial CPV - ARI - 100 - 95 0 0 0 - 05 Resistente a sulfatos RS 25, 32, 40 Baixo calor de hidratação BC 25, 32, 40 Branco estrutural CPB 25, 32, 40 - - - - (*) - A composição depende do tipo do qual é derivado. Nome técnico do cimento Portland Sigla Classes Conteúdo dos componentes (%) (*) 0 01 - 05 32 comportamento do concreto diante de situações de incêndios e altas temperaturas (AOKI, 2010). 4.1.1.5 Aditivos Estes materiais são produzidos com o objetivo de serem adicionados ao concreto durante o seu processo de elaboração, observando sua conveniência, a fim de agregar propriedades ao concreto de forma definitiva, favorecendo aos aspectos ao qual se destina, seja no estado fresco ou endurecido (CÁNOVAS, 1984). Os aditivos em muitos casos são consideravelmente caros, porém os benefícios que os mesmos podem proporcionar são relevantes e devem ser considerados ao se ponderar sobre sua utilização. Tais benefícios variam desde uma possível dificuldade ou inviabilidade de execução por determinado motivo ou até mesmo acerca dos custos relativos à mão de obra para o adensamento, ao consumo de cimento, à trabalhabilidade do concreto e outras (NEVILLE, 2016). Neste universo existem diversos tipos de aditivos enquadrados em alguns grupos. De forma geral, vale enfatizar aqueles mais disseminados como os aceleradores, retardadores, incorporadores de ar e os redutores de água. Os aceleradores geralmente são somados ao concreto com o objetivo de conferir uma resistência inicial consideravelmente maior, contudo, este fator não deve influenciar no início de pega do cimento. Existem casos em que se deseje reduzir o tempo de início da pega, especialmente em reparos emergenciais, para isto são utilizados aditivos específicos para aceleração deste processo (NEVILLE; BROOKS, 2013). Os retardadores por sua vez, são aditivos que agem diretamente na pega do cimento, e esta é inclusive a sua principal função. Quando estes produtos são adicionados a mistura, alteram o tempo de pega e favorecem a algumas situações tais como: evitar a incidência de juntas frias e descontinuidades nas concretagens de grandes peças; possibilitar que concretagens ocorram em períodos de temperaturas elevadas e garantir resistências homogêneas na totalidade das seções, quando as concretagens forem de grande porte (BAUER, L.; NORONHA; BAUER, R., 2015). Com a finalidade de melhorar a resistência dos concretos aos ciclos de gelo e degelo utilizam-se os aditivos incorporadores de ar. Tais aditivos são amplamente usados quando se pretende aumentar a trabalhabilidade do concreto, principalmente naquelas misturas onde 33 ocorrem menores quantidades tanto de água quanto de cimento. As pequenas bolhas de ar formadas dentro do concreto contribuem positivamente para o conforto térmico e acústico das peças executadas com este. É relevante lembrar que no caso de dosagens abusivas podem ocorrer retardamento excessivo da hidratação da pasta, bem como a perda de resistência da mesma (MEHTA; MONTEIRO, 2014). Os aditivos redutores de água são popularmente conhecidos como plastificantes e superplastificantes. Estes têm a capacidade de permitir que a relação água/cimento seja reduzida para uma determinada consistência, assim como elevar a fluidez da mistura caso a proporção de água seja mantida. Normalmente, os aditivos plastificantes permitem ao menos 5% de redução de água, enquanto que os ditos superplastificantes chegam ao nível dos 40%. Através da diminuição de água ou do aumento de fluidez, estes aditivos se prestam a ampliar tanto a resistência quanto à durabilidade do concreto, buscando também reduzir o consumo de cimento e os custos de produção, além de manter a consistência, a resistência à compressão, assim como amenizar a retração, a fluência e as tensões térmicas (HARTMANN et al., 2011). 4.1.2 Preparo, transporte, lançamento, adensamento e cura do concreto A qualidade intrínseca ao concreto não depende apenas dos atributos daqueles materiais que o compõem, por tal motivo é de suma importância que os procedimentos de preparo, transporte, lançamento, adensamento e cura do produto. A mistura, também denominada de preparo se refere diretamente ao processo fabril do concreto, onde se deve obter um composto homogêneo, observando as proporções exigidas para cada caso. Em alguns países como a Bélgica, a homogeneidade é considerada tão importante que sua análise se tornou matéria de norma (BAUER, 2015). Com a finalidade de se obter um concreto de melhor qualidade é aconselhável a utilização de concreto usinados, cujos cuidados na preparação são de extrema importância para obtenção de um bom resultado na concretagem. A figura 4.5 a seguir mostra a máquina responsável pela produção de concreto usinado. 34 Figura 4.5 - Produção de concreto usinado Fonte: (http://www.concretousinadosp.com.br/empresa-de-concreto/empresas-de-concreto-usinado/servico-de- empresa-de-fabricacao-de-concreto-em-embu-guacu, 2017) O transporte do concreto tem como premissa principal a necessidade de se evitar a segregação do material, que ao ocorrer, causa alteração de propriedades deste, também devendo-se considerar a necessidade de rapidez para não haver a perda de trabalhabilidade do material, assim como a ocorrência do processo de enrijecimento (MEHTA; MONTEIRO, 2014). Acerca da celeridade exigida para o transporte do concreto, a NBR 7212 (2012) determina que a empresa responsável pelo serviço de concretagem, independentemente de condições adversas, tem o período de cento e cinquenta minutos a partir da primeira adição de água a mistura para entregar o concreto no seu destino final, devendo tal tempo ser dividido em noventa minutos para o transporte até o canteiro de obras, trinta minutos para o início da descarga e mais trinta minutos voltados à aplicação do produto, considerando o adensamento, como apresentado na figura 4.6 a seguir. Figura 4.6 - Tempo estimado para transporte do concreto Fonte: (http://www.forumdaconstrucao.com.br/conteudo.php?a=7&Cod=1565, 2017). As etapas de lançamento e adensamento normalmente ocorrem quase concomitantes e são de extrema relevância para atingir os requisitos de durabilidade, impermeabilidadee resistência ao endurecer. Para tanto, é importante seguir as recomendações previstas nas 35 normas pertinentes (NBR 14931), bem como as boas práticas baseadas nas técnicas especializadas de lançamento e adensamento (NEVILLE; BROOKS, 2013). A figura 4.7 a seguir relata o momento em que as etapas de lançamento e adensamento ocorrem simultaneamente. Figura 4.7 - Lançamento e adensamento do concreto Fonte: Elaboração própria (2016). A cura do concreto é o procedimento realizado durante a etapa de endurecimento do produto, visando evitar a perda de água pela exposição da superfície, garantindo a resistência desta, assim como sua durabilidade. Deste modo, quando feita corretamente no decorrer das fases de endurecimento, a cura úmida é responsável por tornar o concreto em um material de baixa permeabilidade e altamente resistente aos processos de carbonatação, alcançando boa resistência mecânica e durabilidade adequada ao uso (NBR 14931, 2004; FERNANDES; BITTENCOURT; HELENE, 2008). A figura 4.8 a seguir apresenta o processo de molhagem do concreto durante o endurecimento, visando com que a cura do mesmo seja feita da melhor forma possível. Figura 4.8 - Cura do concreto Fonte: (http://www.meiacolher.com/2015/02/cura-do-concreto-o-que-e-e-como-fazer.html, 2015). 36 4.1.3 Propriedades do concreto O concreto como qualquer outro material possui características peculiares ao estado em que se encontra. Sendo assim, este apresenta determinadas propriedades inerentes a ele quando fresco ou endurecido (PETRUCCI, 1998). 4.1.3.1 Estado fresco Em se tratando do estado fresco, o concreto tem como seu principal aspecto a trabalhabilidade, que consiste no fato de o concreto apresentar características pertinentes à finalidade da obra a qual se destina, bem como aos métodos de lançamento, adensamento e acabamento a serem utilizados. Deste modo tal definição se torna mais abstrata. Neste cenário surge o conceito de consistência, caracterizada pela resistência da forma apresentada por determinada substância ou até mesmo pela capacidade que a mesma tem de fluir (SOBRAL, 2015). A exsudação também é atributo conferido ao concreto fresco. Tal fenômeno ocorre quando a água do amassamento tende a se deslocar para a superfície do concreto lançado recentemente. Esta situação recai em um concreto poroso e de baixa resistência, uma vez que as partículas mais finas do cimento sobem juntamente com a água, formando uma camada superior bem consistente perante camadas inferiores com qualidade inferior. Sendo assim, com uma relação água/cimento bem proporcionada pode-se evitar a ocorrência desta situação (ALMEIDA, 2002). 4.1.3.2 Estado endurecido O concreto possui diversas características relevantes quando atinge o estado endurecido. Apesar da devida relevância de cada uma delas vale a pena ressaltar que as propriedades relativas à resistência, densidade, durabilidade e permeabilidade são primordiais para obtenção de um concreto de boa qualidade. Com relação à resistência do material é indispensável comentar acerca da porosidade, que é responsável pela presença de vazios no concreto, bem como das falhas presentes nas estruturas dos agregados, capazes de enfraquecer tal componente e colaborar diretamente para a microfissuração na interface do agregado junto à pasta de cimento. Devido à dificuldade de se mensurar de modo eficiente estas ocorrências, 37 considera-se que o fato essencial para a garantia boa de resistência está vinculado a relação água/cimento, de modo que as dosagens e proporções dos outros componentes são de relevância secundária (NEVILLE, 2016). A NBR 6118 (2014) informa que a densidade do concreto após ser seco em estufa deve variar de 2000 kg/m³ até 2800 kg/m³, permitindo ainda que, para efeito de cálculo, quando não se tiver conhecimento da massa especifica real do composto, deve-se considerar 2400 kg/m³ para o concreto simples e 2500 kg/m³ para o armado. Nos casos onde a massa específica do concreto for conhecida, considera-se um acréscimo de 100 kg/m³ a 150 kg/m³ a fim de obter a massa específica do concreto armado. A densidade da mistura e a granulometria dos agregados tem relação direta com a porosidade do concreto, definindo assim o quão permeável ele será (KIM; LEE, 2010). Por sua vez, a durabilidade de um modo geral pode ser definida como a capacidade que tanto a estrutura quanto os componentes de tal tem de manter o desempenho inicial até níveis mínimos aceitáveis, considerando as atividades para as quais foram desenvolvidas, além destas continuarem a ser executadas (CARRUTHERS, 1980). Diante de tal definição pode-se enveredar para o conceito de degradação do elemento, que é representado pela perda de capacidade de prestar um serviço ao qual foi designado. Esta situação depende da variação das propriedades específicas dos materiais, que são indicadores de degradação no decorrer do tempo, até o momento em que se atinge um limite mínimo inferior ao exigido que este elemento tenha de atender. Nesta condição diz-se que o componente perdeu sua capacidade de serviço (CREMONINI, 1988). A durabilidade dos elementos de concreto está sujeita a ataques de agentes agressivos aos quais estejam submetidos durante sua vida de serviço, sendo a água um dos principais responsáveis por sua degradação. A deterioração por desgaste superficial, a fissuração pela cristalização de sais nos poros, a fissuração pelo efeito do congelamento da água e deterioração por ação do fogo são algumas das causas físicas que contribuem para a diminuição da durabilidade das estruturas, enquanto que hidrólises dos componentes das pastas, reações por trocas de cátions e reações formadoras de agentes expansivos, através ataques por sulfatos, reações do tipo álcali-agregado, hidratação retardada da cal (CaO) e magnésio (MgO), além das corrosões em armaduras de aço são algumas das causas químicas que favorecem ao desgaste precoce destes elementos (FREITAS JR., 2013). Diante das considerações apresentadas logo acima, a NBR 6118 (2014) preconiza que devem ser consideradas as situações prescritas no quadro 4.3 a seguir, para classificar o ambiente no qual será desenvolvimento um determinado projeto. 38 Quadro 4.3 - Classes de Agressividade Ambiental Fonte: Adaptado de NBR 6118 (2014, p. 17) No que concerne ao fator permeabilidade, é importante destacar que o concreto é material poroso. Tais poros são provenientes de origens diversas tais como excesso de água, redução do volume absoluto complementado pela hidratação dos componentes do cimento, assim como da presença de ar, além de fissuras mecânicas, térmicas e de retração. Devido ao fato de estes vazios serem normalmente interligados, o concreto se torna permeável tanto aos líquidos quanto aos gases. O conhecimento sobre o grau de permeabilidade do material não deve ser considerado apenas para obras de fins hidráulicos, pois tal condição interfere negativamente em qualquer tipo de estrutura a que se destine. Sendo assim, deve-se observar que tanto os constituintes do concreto, quanto os métodos de preparação e tratamento deste são fatores que interferem na permeabilidade do mesmo (OLIVEIRA, 2015). Observando o diagrama representado na figura 4.9 a seguir é possível notar que tanto os constituintes do concreto, quanto a preparação e o tratamento do mesmo podem interferir negativamente ou positivamente para o desempenho deste diante do critério de permeabilidade. Classe de agressividade ambiental Agressividade Classificação geral do tipo de ambiente para efeito de projeto Risco de deterioração da estruturaRural Submersa II Moderada Urbana (a, b) Pequeno Marinha (a) Industrial (a, b) Industrial (a, c) Respingos de maré a) Pode-se admitir um microclima com uma classe de agressividade mais branda (uma classe acima) para ambientes internos secos (salas, dormitórios, banheiros, cozinhas, e áreas de serviço de apartamentosresidenciais e conjuntos comerciais ou ambientes com concreto revestido com argamassae pintura). b) Pode-se admitir uma classe de agressividade mais branda (uma classe acima) em obras em regiões de clima seco, com umidade média relativa do ar menor ou igual a 65%, partes de estrutura protegidas de chuva em ambientes predominantemente secos ou regiões onde raramente chove. c) Ambientes quimicamente agressivos, tanques industriais, galvanoplastia, branqueamento em industrias de celulose e papel, armazéns de fertilizantes, indústrias químicas. I III IV Fraca Forte Muito forte Insignificante Grande Elevado 39 Figura 4.9 - Digrama dos fatores que acometem a permabilidade Fonte: Adaptado de Oliveira (2015, p. 309) 4.2 Umidade A umidade pode ser definida como uma condição atmosférica estabelecida pela fração de vapor de água presente no ar, porém no contexto adotado pela engenharia, a umidade é uma qualidade referente ao estado úmido ou ligeiramente molhado (KLEIN, 1999; MICHAELIS, 2015). A umidade é o maior adversário das construções e da saúde daqueles que vivem em um determinado ambiente, porém é esquecido, e não se tomam os devidos cuidados inerentes à mesma, seja por irresponsabilidade ou pelo desconhecimento de alternativas corretas para saná-las, buscando soluções equivocadas e menos onerosas, ainda que por negligência das pessoas que executam a obra (RIPPER, 1984). Sua importância é perceptível quando se nota que os problemas mais recorrentes na construção civil são relativos à penetração de água e ao aparecimento de manchas de umidade, sendo que estes podem gerar adversidades consideráveis a exemplo de prejuízos na funcionalidade da edificação, desconforto na utilização, surgimento de doenças dos residentes, danos em bens e equipamentos presentes na edificação, bem como possíveis despesas financeiras (SOUZA, 2008). 40 4.2.1 A água e suas origens A umidade é um meio fundamental para a ocorrência de parte considerável das patologias, não sendo apenas uma causa patológica. Deste modo, contribui substancialmente para a aparição de eflorescências, ferrugem, mofo, destruição de pinturas e rebocos, podendo causar ainda em casos mais graves, acidentes estruturais. Esta por sua vez pode se originar em diversas fontes, como a proveniente do solo por capilaridade, a oriunda das chuvas, a originada na própria construção, a que surge dos vazamentos e a umidade por intermédio da condensação (VERÇOZA, 1991). Na figura 4.10 a seguir é possível observar como a água pode interferir negativamente em uma edificação. Figura 4.10 - Algumas origens da umidade nas edificações Fonte: Figueiredo et al. (2016). No que concerne à umidade que provém do solo por capilaridade diz-se que todos os solos, inclusive aqueles rochosos apresentam umidade. Ocorre com bastante frequência de a umidade possuir pressão suficiente para vir a romper a tensão superficial da água. Acontecendo tal situação, caso haja qualquer estrutura porosa a exemplo da areia, a água sobe por meio de capilaridade até o ponto em que haja equilíbrio com a permeabilidade. Em termos físicos, a capilaridade é um fenômeno que surge devido ao contato entre água e sólidos, resultando das ações moleculares. Quando em contato com o solo, a água sobe por meio dos vazios existentes entre as partículas deste, em decorrência da atração de suas moléculas (SANTOS, 2014; CAPUTO, 1988). Com relação à água advinda da chuva, esta é a principal causadora da umidade nas construções, e tem como fatores consideráveis a direção, a velocidade dos ventos, a 41 intensidade das precipitações, a umidade do ar, e características da própria construção, a exemplo da impermeabilização, porosidade dos revestimentos, dentre outros. Tais águas penetram nas edificações por meio de pressão hidrostática e percolação. Vale salientar que os maiores problemas referentes à ação das chuvas nestas edificações são decorrentes da má impermeabilização das construções (FIGUEIREDO, 2003). A umidade proveniente da própria construção é aquela dita inevitável para a obra, uma vez que surge do processo de execução dos serviços. Neste caso, a água se faz presente nas alvenarias, nas madeiras, nas argamassas e concretos. O fato importante é que esta água evapora depois de algum tempo (KLEIN, 1999). Nem toda umidade presente nas construções surge do solo ou das chuvas. Muitas vezes ocorrem infiltrações causadas pela não estanqueidade de reservatórios e canalizações, caracterizando a umidade proveniente dos vazamentos. Estes elementos normalmente se encontram em locais de difícil localização e manutenção, e por tal motivo devem ser completamente impermeáveis. Como na maioria dos casos tais problemas estão encobertos pela construção, é comum que eles sejam bem danosos para o desempenho da edificação (VERÇOZA, 1985). A umidade por condensação é bastante diferente das demais, uma vez que a água se deposita na superfície da estrutura, ao contrário das outras que terminam por infiltrar nas mesmas. Quando os vapores de água que se formam nos ambientes das edificações, tais como salas, cozinhas, banheiros, por exemplo, entram em contato com superfícies mais frias, a exemplo de vidros, metais e paredes, formando gotas de água. Tal tipo de umidade é muito comum em peças enterradas, pois são peças mais frias, e nestes ambientes não há ventilação (SOUZA, 2008). Existe também a água absorvida na forma de vapor, que é aquela que migra nos elementos das edificações e tem sua existência ligada tanto à porosidade quanto a permeabilidade de tais peças. Além destas fontes citadas ainda existem outros tipos de águas que são bastante agressivas ao entrar em contato com as edificações. São exemplos as que contêm fungos, íons de cloreto, amônia ou magnésio, as águas de variação de marés, as sulfatadas, as que contêm ácidos, as alcalinas, aquelas oriundas de esgotos domésticos e industriais, as que contêm ácido úrico, as de fontes minerais e as águas pantanosas, ricas em matéria orgânica (JORDY, 2002). Até mesmo a água pura pode ser considerada agressiva para as construções e para o concreto, pois quanto mais pura ela for, maior será seu poder de dissolução, visto que quanto menores forem níveis de carbonato ácido de cálcio e de magnésio, menor será sua dureza. É 42 normal que tal agressividade se torne fator considerável na ocorrência de concretos de má qualidade, não influenciando quando este possui boas características (SILVA, 2015). 4.3 Temperatura A temperatura tem influência sobre o concreto diante de diversos aspectos, podendo sua origem ser intrínseca ou extrínseca. Natural da reação química existente entre o cimento e a água, o calor de hidratação é uma das formas de ação da temperatura em relação ao concreto. Durante o processo de hidratação do cimento ocorre uma grande liberação de calor, acarretando na elevação da temperatura, principalmente na presença de grandes volumes de concreto. Este aquecimento pode conduzir a fissuras de contração quando findado o processo de resfriamento da massa (SANTOS; BITTENCOURT; GRAÇA, 2011). O enrijecimento do concreto em estado fresco ocorre dentre outros fatores devido à absorção de água pelos agregados, pela própria evaporação, pelas reações de hidratação e também
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