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Acessibilidade na Educação Superior para Deficientes

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TAGS: 
Acessibilidade na Educação Superior para Deficientes, inclusão, curriculos, empregos, vagas, 
lei, contratação, deficientes, pessoas com deficiência, mercado de trabalho, multa de empresa 
que não cumpre lei de cotas, lei de cotas 8213 
O projeto enquadra-se no “Programa Inlcuir: Acessibilidade na Educação Superior” 
desenvolvido pelo Ministério de Educação. O programa foi criado para viabilizar a implantação 
ou consolidação de núcleos de acessibilidade nas universidades federais do Brasil. De acordo 
com o último levantamento realizado pelo Ministério em 2005, existiam cerca de 12 mil alunos 
com deficiências nas universidades. O MEC propõe que as universidades desenvolvam projetos 
para encaminhar a tarefa de inclusão. Ao mesmo tempo, pretende eliminar as barreiras 
pedagógicas, arquitetônicas e de comunicação para efetivar a política de acessibilidade 
universal. 
 
O MEC como mantenedor das universidades federais, estabelece através de uma resolução 
que os cursos que não tenham garantido o acesso aos estudantes com deficiências, 
especialmente o caso dos cadeirantes, não serão aprovados. É mediante uma avaliação que a 
INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), cria uma 
comissão que a cada cinco anos renova a aprovação dos cursos. 
 
No caso da UFSC, o Centro Sócio- Econômico (CSE) foi avaliado neste ano pela comissão do 
INEP, constatando que o Centro não tem acesso para os cadeirantes, porque não conta com 
elevador ou rampa. Mas o paradoxo deste caso, é que o mesmo MEC é quem deve financiar 
estas obras. De acordo com Mauricio Fernandes Pereira, diretor do CSE, a situação que 
atravessa o centro de ensino que ele conduz é absurda porque “o MEC cobra o que ele não 
fez”. Por enquanto, o CSE usa o elevador do prédio do Direito para garantir a circulação dos 
alunos deficientes. 
 
No entanto, esta situação não é a única na UFSC, porque de acordo com Mauricio Fernandes, 
isso vai acontecer com todos aqueles prédios que não tenham acesso para os cadeirantes 
quando sejam avaliados. “Mudar esta realidade não depende da vontade de cada Centro, mas 
sim da disponibilidade de financiamento do MEC”, finaliza Pereira. 
 
Mais informações podem ser obtidas pelo site www.mec.gov.br ou pelos telefones (61) 2104-
8671, 2104-9831 ou pelo e-mail incluir@mec.gov.br. Na UFSC, com a coordenadoria do projeto 
pelo telefone (48) 3721-9905 ou pelo e-mail mariasyl@gmail.com. INTRODUÇÃO 
 
Mediante a prerrogativa de que é dever do Estado por meio da União, dos Estados, do Distrito 
Federal e dos Municípios arcar com a educação com padrão de qualidade, se 
responsabilizando pelo desenvolvimento da pessoa, seu preparo para a cidadania e sua 
qualificação para o trabalho, faz-se necessário apontar considerações da inclusão das pessoas 
com deficiência no ensino superior. 
 
Traçar uma senda perante as diretrizes educacionais condensadas na Constituição Federal e 
legislações esparsas favorece a percepção de que a educação é direito de TODOS, e o Estado, 
deve contribuir para a melhoria do desenvolvimento pessoal e profissional dos indivíduos que 
pretendem adquirir melhor qualificação com sua inserção no ensino superior. 
 
A educação é o caminho para o homem evoluir. Por isso, é um direito público subjetivo, e, em 
contrapartida, um dever do Estado e do grupo familiar (BULOS, 2008). E, só dará chances para 
o pleno desenvolvimento humano se perceber e respeitar a diversidade humana. 
 
1. Educação na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases Nacional 
 
A constitucionalização da educação como direito subjetivo público está condensada num 
subsistema constitucional, como conjunto de normas delineadoras do processo formal de 
ensino que, contextualizada na ordem social, estabelecem apanágio educacional aos alunos, 
professores, família, escola e Estado (BULOS, 2008). 
 
A hermenêutica constitucional direciona ao interprete da norma aos princípios constitucionais 
do ensino, tais como: obediência a interpretação constitucional; harmonia com as ciências da 
educação; imputação de relevância à interpretação dos conselhos da educação; coadunação 
entre as diretrizes e bases nacionais da educação e as peculiaridades regionais e locais; mínimo 
existencial e reserva do possível: a interpretação em benefício do indivíduo e da sociedade, 
assim preleciona Lélio Maximino Lellis (2011), a fim de que ele chegue a resultado adequado. 
 
Os postulados hermenêuticos são a supremacia da Lei Fundamental, a unidade da Constituição 
e conseqüente necessidade de harmonização de seus elementos, a obrigação de se atribuir a 
maior efetividade possível as normas constitucionais e a imprescritibilidade de se presumir 
como ponto de partida e de chagada da interpretação a força normativa da Lei Magna. (LELLIS, 
2011, p. 171) 
 
A Educação Nacional tem como princípios: o ensino com igualdade de condição para o acesso 
e permanência na escola; a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o 
pensamento, a arte e o saber; a garantia de padrão de qualidade; gratuidade de ensino 
público, entre outros, conforme reza o disposto no artigo 3º da Lei 9.394, de 20 de dezembro 
de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional (LDB) e artigo 206 da 
Constituição Federal. 
 
É direito de todos e dever do Estado e da Família à educação, visando ao pleno 
desenvolvimento da pessoa, como dispõe a Magna Carta, em seu artigo 205, seja na educação 
oferecida pelo Estado de forma pública ou particular, seja no ensino médio, no fundamental e 
no universitário, e com a inclusão das pessoas deficientes. 
 
O legislador no enunciado mencionado ao descrever pleno desenvolvimento da pessoa, refere-
se ao princípio da dignidade da pessoa humana. 
 
É no valor da dignidade da pessoa humana que a ordem jurídica encontra seu próprio sentido, 
sendo seu ponto de partida e seu ponto de chegada, na tarefa de interpretação normativa 
(PIOVESAN, 2004, p.92) 
 
Nesse contexto, pode-se incluir a adequada formação do indivíduo e em todas as áreas 
qualificadoras, ensejando aprimoramento intelectual, emocional e físico. O resultado do pleno 
desenvolvimento implica auto-realização da pessoa, tornando-a útil a sociedade. 
 
Assim, é a educação na forma de ensino como processo formal e regular, método de 
transmissão de conhecimento e capacitação do indivíduo (BULOS, 2008). 
 
Para tanto, adequado padrão de qualidade de ensino merece ser utilizado, recorrendo não só 
aos ditames da Constituição Federal, também as normas gerais sobre a educação contida na 
LDB. 
 
Se é a qualidade do ensino que possibilita a diminuição da desigualdade de oportunidades de 
aprendizagem, é a concretização dos fins da educação escolar que atesta a existência de 
padrão de eficiência na instrução. (LELLIS, 2011, p. 198) 
 
2. O Ensino Superior 
 
O ensino superior tem como finalidade, como prevê o artigo 43 da lei 9394/96, estimular a 
criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; formar 
diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos a participarem no desenvolvimento 
da sociedade brasileira; incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o 
desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; promover a divulgação de 
conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem o patrimônio da humanidade; 
suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional, integrando os 
conhecimentos que vão sendo adquiridos em cada geração; estimular o conhecimento dos 
problemas do mundo, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços à comunidade 
estabelecendo umarelação de reciprocidade; e, promover a extensão, aberta à participação 
da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e 
da pesquisa científica e tecnológica geradas na Instituição. 
 
Por sua vez a Constituição Federal no artigo 207 expõe a autonomia das funções da 
universidade e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e 
extensão, com liberdade didático-científica, administrativa e de gestão financeira e 
patrimonial. 
 
A ausência de restrição permite que as universidades desenvolvam cursos, organize simpósio, 
elabore currículos como forma de ensinar, pesquisar e transmitir conhecimentos. No âmbito 
administrativo e gestão financeira, cabe às universidades fomentar todos os atos pertinentes 
para exercer as atividades de ensino e pesquisa, por exemplo: elaboração de estatuto, 
organização de conselhos competentes, contratação do corpo docente e técnico-
administrativo, controle orçamentário das receitas e das despesas, etc. 
 
Paralela a autonomia da universidade e para fazer valer a norma constitucional e 
infraconstitucional está à qualidade do ensino superior. 
 
Pedro Demo escreveu em trabalho sobre a Qualidade e Modernidade da Educação Superior, 
discutindo questões de qualidade, eficiência e pertinência, isto é, condição principal para a 
universidade tornar-se fator decisivo de desenvolvimento no contexto moderno, e, afirmou 
que: 
 
[…] Não há mais chance para uma “universidade de ensino”, porque induz a reproduzir, imitar, 
copiar conhecimento criado por outros. Uma universidade moderna se define como instituição 
onde se aprende a aprender. Professor não é definido como um indivíduo encarregado de 
ensinar, mas como um indivíduo que, produzindo conhecimento próprio, motiva estudantes a 
fazer o mesmo. Estudante não é definido pela simples função de aprender. Seu objetivo é 
produzir ciência também. O processo de desenvolvimento é cada vez mais marcado pela 
capacidade de produzir conhecimento próprio, e isto pode atribuir à universidade uma função 
muito estratégica, desde que se dedique a pesquisa[…](DEMO, 1991, p. 35) 
 
O autor apresenta em seu trabalho algumas alternativas como ponto de partida sobre a 
educação universitária com qualidade, estratégia de ensino/aprendizagem: 
 
a) a educação superior deve colocar como alavanca central do desenvolvimento da sociedade 
e da economia, equilibrando desafios tecnológicos com os compromissos educativos; 
 
b) a pesquisa será a atividade inspiradora de toda vida acadêmica, definindo o docente e o 
aluno, na condição de princípio científico e educativo; 
 
c) a elaboração própria é estratégia essencial de produção científica e de avaliação do docente 
e do aluno; 
 
d) a educação superior deve voltar-se com extremo empenho a corresponder aos desafios das 
gerações futuras, em termos de modernização tecnológica e capacidade emancipatória; 
 
e) a educação superior deve marca-se por adequada qualidade formal e política; 
 
f) deve ser possível realizar educação superior adequada em ambientes do Terceiro Mundo e 
de suas regiões menos desenvolvidas, desde que se module com argúcia o conceito de 
pesquisa; 
 
g) não é aceitável instituição superior de mero ensino, porque apenas “ensina a copiar”, sendo 
radicalmente injusta com as novas gerações; 
 
h) quem pesquisa, deve ensinar, quem ensina, somente ensina o que pesquisa; 
 
i) prática deve ser estritamente curricular; não é maior, nem menor que a teoria, nem se 
substitui; 
 
j) emancipação não supõe sofisticação técnica necessariamente, mas supõe capacidade de 
produção própria e de questionamento crítico criativo (DEMO, 1991) 
 
Avaliar alunos para, posteriormente, aplicar notas às universidades, pode não ser a melhor 
solução vista do prisma social, mas necessário se faz, a existência de processo interno de 
avaliação da qualidade de ensino ministrado em curso superior, por meio de alunos e 
docentes, contribuindo assim, com as finalidades apresentadas LDB. 
 
3. A pessoa com deficiência: conceituação vigente 
 
As pessoas com deficiência representam um percentual expressivo da população mundial (a 
OMS estima que seja de 10%) e da população brasileira. Segundo o censo demográfico do IBGE 
de 2010[3], quase 24% de nossa população apresenta deficiência, o que significa 
aproximadamente 45,6 milhões de pessoas. 
 
Diante desse quadro, não se pode dizer que ter deficiência seja “anormal” ou incomum. A 
deficiência deve ser percebida como mais uma manifestação da diversidade humana: todos 
são únicos e têm características individuais. 
 
A deficiência tem de ser entendida através de um conceito social, ou seja, como a soma de 
dois fatores inseparáveis: as características individuais corpóreas mais as barreiras sócio-
ambientais. Destarte, pode-se atenuar ou agravar a deficiência de alguém, por meio da 
estrutura ambiental e acessibilidade[4] oferecidas. Veja-se, como exemplo, um cadeirante que 
trabalha em determinada empresa: se o local de trabalho não tiver degraus, além de oferecer 
os móveis e portas que sejam acessíveis, sua limitação acaba por ser deveras atenuada, 
possibilitando maior independência. Todavia, se a mesma empresa oferecer um local de 
trabalho com escadas, sem elevadores ou com portas estreitas, agravar-se-á a deficiência do 
funcionário, impossibilitando seu acesso e livre circulação. 
 
Outro exemplo pode ser notado no caso de um deficiente auditivo que faça leitura labial: se a 
pessoa que for se comunicar com ele colocar a mão na frente da boca ou falar de costas, isso 
vai dificultar o processo comunicativo, enquanto que se falar com boa dicção, olhando para o 
receptor da mensagem, talvez nem se perceba a deficiência do caso em tela. 
 
A Constituição Federal, embora tenha tratado em diversos artigos da proteção das pessoas 
com deficiência, não trouxe a definição de quem sejam essas pessoas. Pensa-se na 
possibilidade de o Constituinte Originário não ter querido limitar a determinados casos 
conhecidos e inquestionáveis o conceito de pessoa com deficiência, sob pena de que se assim 
fizesse, poderia deixar fora do alcance da proteção constitucional algumas pessoas que 
deveriam ser abarcadas por ela. 
 
Em 1999 foi editado o Decreto 3298, posteriormente alterado pelo 5296/04, que trazia uma 
definição bastante específica e restritiva acerca do conceito de pessoa com deficiência, 
prestigiando o modelo médico da deficiência, em detrimento do modelo social. 
 
Em outra oportunidade[5] fizemos críticas acerca de esse Decreto não ser o instrumento 
normativo adequado para definição de pessoa com deficiência, ainda mais porque 
amesquinhou a vontade constitucional. Porém, essa discussão hoje não faz mais sentido, uma 
vez que o Brasil assinou em 2006 a Convenção da Organização das Nações Unidas sobre os 
direitos das pessoas com deficiência. Essa Convenção foi ratificada pelo Congresso Nacional 
pelo do Decreto Legislativo n. 186, de 09 de julho de 2008 e promulgada pelo Decreto 
Presidencial 6949/2009 , em 25 de agosto de 2009. Tal Documento, que foi internalizado em 
nosso ordenamento jurídico com equivalência de norma constitucional, traz em seu artigo 
primeiro o conceito de pessoa com deficiência atualmente vigente em nosso país, in verbis: 
 
Artigo 1 
 
Pessoas com deficiência incluem aquelas que têm impedimentos de longo prazo, de natureza 
física, mental, intelectual ou sensorial, as quais, em interação com as diversas barreiras, 
podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com 
as demais pessoas. 
 
Observe-se que a definição dada pela Convenção Internacionalprestigia o modelo social da 
deficiência, deixando ao operador do Direito a tarefa de fazer uma análise casuística de cada 
situação. 
 
Embora o conceito trazido pelo artigo 4º do Decreto 3298/99[6] possivelmente fosse mais fácil 
de ser utilizado, não se pode esquecer que era inadequado por apresentar um rol muito 
restritivo. Como se viu, essa definição do Decreto foi revogada pela da Convenção, não 
podendo mais ser utilizada. 
 
Portanto, todas as políticas públicas, bem como toda legislação e ações de inclusão devem 
atentar para o Artigo 1 da Convenção Internacional sobre os direitos das pessoas com 
deficiência, que é o instrumento normativo vigente e adequado para definir quem são os 
indivíduos com deficiência. 
 
4. Educação inclusiva: o Ensino Superior e a Convenção Internacional sobre os direitos das 
pessoas com deficiência 
 
Já foi visto em tópico anterior que o direito fundamental à educação na Constituição Federal é 
um direito de TODOS, assim como também foram analisados os objetivos da educação 
estabelecidos pelo Constituinte. Outrossim, tendo em vista a fundamentalidade desse direito, 
não se pode admitir o oferecimento de uma educação incompleta, que atente apenas para o 
aspecto cognitivo em detrimento do pleno desenvolvimento humano e da preparação para o 
exercício da cidadania. 
 
Ademais, é preciso ressaltar que a escola só dará chances para o pleno desenvolvimento 
humano se perceber e respeitar a diversidade humana. Da mesma forma, só se prepara para o 
exercício da cidadania vivenciando essa prática no dia-a-dia escolar. Logo, a escola inclusiva, 
que é uma escola de TODOS, ensina não apenas conhecimento técnico-científico, mas ensina 
valores, princípios e atitudes. Ensina a viver junto, ensina a conviver em ambiente de 
tolerância e harmonia em meio à diversidade[7]. 
 
A Convenção Internacional sobre os direitos das pessoas com deficiência foi o primeiro tratado 
de Direitos Humanos que ingressou no nosso ordenamento em conformidade como o 
parágrafo 3º do artigo 5º da Constituição Federal e, por isso, tem inquestionável status de 
norma constitucional. 
 
O direito à educação mereceu especial atenção nesse documento, em seu art. 24[8]. Nele os 
Estados-Partes se comprometem a assegurar um sistema educacional inclusivo em todos os 
níveis de ensino (portanto, no ensino superior também!). Destarte, qualquer Governo ou 
escola que pratique o ensino segregado, que não ofereça um ambiente de diversidade e TODA 
ESTRUTURA necessária para o atendimento das necessidades especiais que alguns alunos 
possam apresentar, está violando um direito humano de seus educandos. O direito à educação 
inclusiva não é apenas um direito dos alunos que têm deficiência, porém, também daqueles 
que não as têm, porque TODOS precisam aprender a conviver com as diferenças para se 
desenvolverem plenamente como seres humanos e cidadãos conscientes. 
 
Observe-se que o referido artigo 24 da Convenção Internacional prevê como objetivos da 
educação, dentre outros: o pleno desenvolvimento do potencial humano e do senso de 
dignidade e auto-estima, além do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos, pelas 
liberdades fundamentais e pela diversidade humana; o máximo desenvolvimento possível da 
personalidade e dos talentos e da criatividade das pessoas com deficiência, assim como de 
suas habilidades físicas e intelectuais; e a participação efetiva das pessoas com deficiência em 
uma sociedade livre. 
 
Oportuno, ainda, ressaltar que, para ser inclusiva, não basta que a escola coloque na mesma 
sala de aula alunos com e sem deficiência. É preciso que se forneça TODO o aparato necessário 
para igualdade de acesso e permanência, dando oportunidade a todos os estudantes de 
desenvolverem suas potencialidades. Então, em se tratando de ensino superior, o primeiro 
passo para inclusão de pessoas com deficiência nas universidades e faculdades é a verificação 
da acessibilidade da instituição, atentando para o espaço físico, o fornecimento de tecnologias 
e materiais adequados a quem necessitar e, principalmente, a preparação dos docentes para 
atender a uma demanda diferenciada. A acessibilidade atitudinal é um grande desafio numa 
sociedade que, apesar do grande número de pessoas com deficiência, ainda não está 
acostumada a tratar o tema com naturalidade. 
 
O professor universitário não pode perder de vista que, antes de tudo, tem de ser um 
educador e que, dessa forma, tem de ser comprometido com os processos de 
aprendizagem/ensinagem, nos quais os personagens principais são os alunos. É preciso que 
perceba que cada um dos educandos tem características e necessidades próprias, que os 
estudantes são diferentes e devem assim ser vistos (sem dúvida isso não é uma tarefa fácil, 
mas faz parte do ofício de quem escolheu trabalhar com Educação). Frise-se: não são só os 
alunos com deficiência que são diferentes (talvez suas diferenças possam ser um pouco mais 
perceptíveis), mas TODOS os alunos são únicos. 
 
Por fim, não se pode olvidar que mesmo as Universidades e Faculdades particulares têm a 
obrigação de fornecer acessibilidade e estrutura material, tecnológica e humana necessárias 
para a inclusão de alunos com deficiência e que os custos de tal fornecimento não podem ser 
cobrados individualmente do educando com necessidades especiais, mas devem ser 
contabilizados no valor total do curso de todos os alunos (dividem-se os custos totais do curso 
pela quantidade de alunos). Lembre-se que a iniciativa privada[9] tem acesso à prestação 
educacional como concessão de serviço público, sendo condicionada ao cumprimento das 
normas gerais da educação nacional e autorização e avaliação de qualidade pelo Poder 
Público. 
 
CONCLUSÃO 
 
A Educação é um direito de TODOS e visa o pleno desenvolvimento humano, a preparação 
para o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. O Ensino Superior, que é a etapa 
posterior à Educação Básica, por consequência, tem de seguir esses objetivos estabelecidos no 
artigo 205 da Constituição Federal. Ademais, em razão do foco deste estudo, dentre as 
finalidades estabelecidas Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para o Ensino 
Superior, destaca-se a formação de diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos a 
participarem no desenvolvimento da sociedade brasileira e a estimulação do conhecimento 
dos problemas do mundo, em particular os nacionais e regionais, além da prestação de 
serviços à comunidade estabelecendo uma relação de reciprocidade, uma vez que tais 
finalidades vão ao encontro do que se entende como dever de educar para a transformação 
social, para contribuição da escola na construção de um mundo melhor. 
 
Em outro lanço, resta incontroverso que a deficiência deve ser entendida como uma 
característica da diversidade humana e o conceito de pessoa com deficiência vigente em nosso 
ordenamento é dado pela Convenção Internacional sobre os direitos das pessoas com 
deficiência. 
 
A escola inclusiva – que é aquela que, além de colocar alunos com e sem deficiência na mesma 
sala de aula, oferece toda estrutura física, tecnológica, material e humana necessárias para 
atendimento de necessidades especiais – favorece o desenvolvimento humano e a preparação 
para o exercício da cidadania, beneficiando TODOS os educandos (e não apenas os que têm 
deficiência). 
 
Em análise última, ressalta-se que no Brasil, em razão do compromisso firmado e da 
incorporação da Convenção Internacional supra referida com status de norma constitucional, 
TODAS as etapas de ensino TEM de ser inclusivas. Logo, as Universidades e Faculdades têm de 
estar preparadas para receber (e manter) pessoas diferentes,com problemas e necessidades 
diferentes, por ser seu dever constitucional (ou seja, os Cursos Superiores – Particulares e 
Públicos – têm obrigação de serem inclusivos, sob pena de afronta a um direito humano de 
seus estudantes) Cresce o acesso da pessoa com deficiência ao ensino superior no país 
Inep aponta que de 2004 e 2014 as matrículas aumentaram 518,66%. 
Entretanto, do total de ingressos nas instituições elas representaram só 0,42%. 
Anderson Viegas 
Do G1 MS 
 
FACEBOOK 
 Victor, que sonha com a universidade; Geraldo que já está fazendo o curso que escolheu e 
Rosa, que terminou a faculdade e fez até pós-graduação (Foto: Anderson Viegas/G1 MS e 
Arquivo Pessoal) 
Victor, que sonha com a universidade; Geraldo que já está fazendo o curso que escolheu e 
Rosa, que terminou a faculdade e fez até pós-graduação (Foto: Anderson Viegas/G1 MS e 
Arquivo Pessoal) 
A Convenção das Nações Unidas (ONU) sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência define 
em seu artigo 1º: “Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo 
de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas 
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de 
condições com as demais pessoas”. 
 
Em Mato Grosso do Sul, pessoas como Rosa Cristina dos Santos Dalmazo, de 36 anos, Geraldo 
Júnior Duarte Brites Cabreira, de 23 anos, e Victor do Nascimento Teixeira, de 19 anos, estão 
lutando para superar as barreiras mencionadas pela ONU, e assegurar uma participação plena 
na sociedade. Para os três, o ensino superior é um marco nesta trajetória. 
 
Rosa, ou simplesmente Rosinha, como é carinhosamente chamada por todos no Centro 
Especializado em Reabilitação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Cer/Apae), em 
Campo Grande, onde trabalha há mais de dez anos, não somente atingiu esse marco, como o 
superou. Ela é graduada em Pedagogia, pela Uniderp, de Campo Grande, e tem pós-graduação 
em Psicopedagogia, pelo instituto de ensino Libera Limes. 
 
Ela tem uma síndrome que não pode ser diagnosticada pelos médicos e que causa hipotonia 
muscular, ou seja, a diminuição do tônus muscular e da força, além de um grau de miopia 
muito alto. Os problemas, segundo ela, atrasaram sua entrada na escola, ainda em Tupã, no 
interior de São Paulo, mas nunca impediram que depois tivesse um bom desempenho escolar. 
 
Rosa Cristina dos Santos Dalmazo é formada em Pedagogia e tem pós-graduação em 
Psicopedagogia (Foto: Anderson Viegas/G1 MS) 
Rosa Cristina dos Santos Dalmazo é formada em Pedagogia e tem pós-graduação em 
Psicopedagogia (Foto: Anderson Viegas/G1 MS) 
 
“Demorei para entrar na escola porque tive dificuldades para andar. Tinha os pés tortos e caia 
muito. Não podia correr. Além disso, aos seis anos já tinha seis graus de miopia. Via meus 
irmãos indo para a escola e sentia muita falta de estudar, tanto que quando entrei na escola 
[um colégio convencional], me esforçava muito. A visão sempre foi o maior problema. Tinha 
dificuldades para copiar as matérias do quadro, por isso, sempre sentava na frente e prestava 
muita atenção na explicação do professor”, lembra, completando que graças a esse empenho 
sempre foi a primeira ou esteve entre as primeiras da turma. 
 
Com 15 anos, Rosa e a família deixaram o interior de São Paulo e vieram para Campo Grande, 
onde também em uma escola convencional ela cursou o ensino médio. “As dificuldades foram 
grandes. Faltava desde material diferenciado, pessoal capacitado até estrutura na escola, mas 
eu não desanimava, sempre buscava vencer a limitação”, afirma. 
 
Concluído o ensino médio, ela fez o vestibular e passou para o curso de Administração, na 
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), mas um descolamento de retina a fez 
interromper o sonho de fazer faculdade. “Fiquei um bom tempo sem poder usar óculos e não 
tinha como estudar, tive que abrir mão do curso”, relembra. 
 
Recuperada, resolveu fazer um novo vestibular, desta vez para um outro curso, o de 
Pedagogia, em uma universidade privada de Campo Grande, a Uniderp. “Me interessei pela 
área. Sabia que não poderia dar aula, mas poderia trabalhar na parte administrativa de uma 
escola”, revela, recordando que mesmo com o curso sendo semipresencial, as barreiras para 
concluí-lo foram grandes. 
 
“Tinha aulas presenciais duas vezes na semana e as dificuldades que tive nos outros níveis de 
ensino aumentaram, porque a qualidade da minha visão foi piorando. Os slides das matérias e 
os vídeos que eram apresentados, tinha muita dificuldade em ver, por isso, redobrava a 
atenção nas explicações. Foi difícil, mas não pensava que não ia conseguir, pensava em ir além, 
fazer pós-graduação. Sempre tive um foco e uma meta, desde pequena fui assim. Acho que o 
fato de não terem diagnosticado a síndrome que eu tenho acabou me ajudando. Como não 
sabiam ao certo o que tinha, não me falaram que eu tinha isso ou aquilo de limitação e aí fui 
seguindo em frente. Terminei a faculdade. Sou a única pessoa da minha família que tem ensino 
superior e depois fiz a tão sonhada pós-graduação”, comenta. 
 
 
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Prefeitura de Campo Grande vai fazer censo para portadores de deficiência 
O trabalho na Apae, conforme ela, começou mais ou menos na mesma época da faculdade e 
como voluntaria, para ajudar a organizar as pastas com as evoluções dos pacientes atendidos 
pela instituição. Em uma semana ela conseguiu colocar fim a um atraso de mais de três 
semanas nas anotações dos profissionais. Após um ano e meio de dedicação a instituição, Rosa 
foi contratada como colaboradora e hoje é a responsável pelo arquivo da entidade, onde estão 
milhares de pastas com os prontuários de todos os pacientes. 
 
Em razão do agravamento dos problemas de visão, Rosa implementou algumas mudanças no 
setor. Por exemplo, as ficha de identificação das pastas que antes eram preenchidas a mão, 
atualmente são todas digitadas e com uma fonte grande, o que facilita sua visão. Além disso os 
tipos e cores de pastas foram padronizados. Em relação ao futuro, ela revela que o sonho é 
voltar a estudar, mas desta vez com um objetivo diferente, para um concurso público. 
 
Rosa conseguiu com muito esforço e empenho terminar sua faculdade e fazer ainda uma pós-
graduação. Entretanto, no contexto da pessoa com deficiência no Brasil ela representa uma 
minoria. De acordo com os dados do Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística (IBGE), entre as pessoas com deficiência com mais de 15 anos no país, 61,13% não 
têm instrução ou têm somente o ensino fundamental completo. Outros 14,15% têm ensino 
fundamental completo ou médio incompleto, 17,67% têm ensino médio completo ou superior 
completo e apenas 6,66% concluíram um curso superior. 
 
O Brasil, ainda conforme o último Censo, tinha em 2010, 45.606.048 pessoas com deficiência, 
o que representava 23,9% da população. Desse total, 525.979 eram moradores de Mato 
Grosso do Sul, o equivalente a 21,47% dos habitantes do estado na época. 
 
No estado, se Rosa já conseguiu realizar o sonho de concluir uma faculdade, Geraldo está no 
caminho. Ele nasceu em Bela Vista, a 324 quilômetros de Campo Grande e na hora do seu 
parto houve um problema. Faltou oxigênio para o seu cérebro, o que provocou uma paralisia 
cerebral. “Os médicos na época, chegaram a dizer para meus pais que eu teria apenas 72 horas 
de vida. Mas eu contrariei as previsões e estou aqui”, comenta o jovem. Em razão da paralisia, 
ele tem problemas neurológicos,dificuldades motoras e para falar e depende de uma cadeira 
de rodas para se movimentar. 
 
Infográfico das pessoas com deficiência no Brasil (Foto: Anderson Viegas/G1 MS) 
 
Ele conta que iniciou os estudos em uma escola convencional do próprio município, onde tinha 
o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar e depois passou para uma unidade da 
Sociedade Pestalozzi, que é especializada no atendimento a pessoas com deficiência, na cidade 
vizinha, Jardim. 
 
Depois foi estudar em um colégio convencional, também em Jardim, a Escola Estadual Antonio 
Pinto Pereira. “Lá eu contava com todos os recursos. Tinha acompanhamento dentro da sala 
de aula, o que me ajudava muito principalmente para fazer as provas, que eu precisava que 
fossem lidas para que eu respondesse oralmente. Eu recebia o tratamento de uma pessoa 
normal e ao mesmo tempo tinha qualidade de ensino”, explica. 
 
Desde que começou a estudar e inspirado no trabalho e sucesso profissional alcançado por 
uma conterrânea, Gerado revela que seu sonho era ser jornalista. “Me inspirei no trabalho da 
assessora de imprensa do Crea-MS [Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Mato 
Grosso do Sul], Janine de Paula. Ela também é da minha cidade e sempre me deu muito apoio 
neste sonho”, diz o jovem. 
 
Em busca da realização do sonho e com o apoio emocional e financeiro da família, que é 
proprietária de uma metalúrgica em sua cidade natal, ele conta que fez o vestibular em quatro 
instituições. Aprovado em todas, optou pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), que 
oferecia o curso que queria, Jornalismo, e onde já teria o amparo de um familiar, seu irmão 
mais velho, que já era aluno de Engenharia Civil, na mesma instituição. 
 
Com a assistência da família, Geraldo se mudou então para Campo Grande. Na casa que divide 
com o irmão e que fica próxima ao campus da universidade, ele conta com a ajuda de uma 
cuidadora, que o auxilia nas tarefas diárias. A ida e volta da faculdade é feita com o apoio do 
irmão. 
 
Geraldo Júnior Duarte Brites Cabreira é aluno do terceiro semestre de Jornalismo da UCDB e se 
inspirou em conterrânea para fazer a faculdade (Foto: Anderson Viegas/G1 MS) 
Geraldo Júnior Duarte Brites Cabreira é aluno do terceiro semestre de Jornalismo da UCDB e se 
inspirou em conterrânea para fazer a faculdade (Foto: Anderson Viegas/G1 MS) 
 
O jovem, que está no terceiro trimestre do curso, comenta que a adaptação não foi fácil. 
“Acho que todas as pessoas com deficiência precisam ser incluídas. O jornalismo precisa 
discutir mais essa questão e esse foi mais um motivo que me levou a escolher o curso, para 
ajudar a promover esse debate. A adaptação não foi fácil. Faculdade não é igual escola e 
enfrentei muitas dificuldades. Na escola, por exemplo, gravava todas as aulas para estudar, 
mas na faculdade alguns professores pediram que eu não gravasse, porque não queriam ter 
suas aulas divulgadas. Tive então que me adaptar, buscar uma alternativa”, explica. 
 
Na opinião de Geraldo, de um modo geral e não somente no ensino superior, falta preparação 
aos profissionais da educação para atender as pessoas com deficiência, e isso acaba se 
tornando uma barreira a mais para ser superada. No entanto, ele diz que a concretização do 
seu sonho é sua maior motivação. “Todo dia quando eu acordo penso que é uma nova 
oportunidade, uma nova chance para aprender coisas diferentes e que se eu não fizer nada, 
ninguém vai fazer nada por mim”, ressalta, apontando que um pensamento do filósofo e 
matemático francês do século XVII, René Descartes, resume como ele se define: “Eu penso, 
logo existo”. 
 
Segundo dados do Censo da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas 
Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em um período de dez anos, entre 2004 e 2014, o acesso 
de pessoas com deficiência ao ensino superior, como é o caso de Geraldo e de Rosa, deu um 
salto no país, mas quando esses números são comparados com os dados totais de ingresso nas 
faculdades e universidades brasileiras, essa participação ainda é mínima. 
 
Em 2004, por exemplo, o número de pessoas com deficiência que se matricularam em cursos 
superiores presenciais e à distância no Brasil foi de 5.395, o que representou somente 0,12% 
do total de matriculas no país neste ano, que foi de 4.223.344, de acordo com o Inep. 
 
Já em 2014, por conta de um conjunto de fatores, como criação de novas instituições e cursos 
e, ainda estímulo ao acesso por meio de iniciativas como o Programa Universidade para Todos 
(Prouni), o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Programa de Financiamento Estudantil 
(Fies), o número de matriculados no ensino superior como um todo teve um grande 
incremento e o ingresso de pessoas com deficiência nestas instituições também cresceu. 
 
O Inep aponta que neste ano, 7.828.013 estudantes se matricularam em cursos superiores no 
país, o que representou um crescimento de 85,35%, frente a 2004. Em relação aos alunos com 
necessidades educativas especiais o aumento foi muito maior na mesma comparação, 
518,66%, atingindo 33.377 matrículas. 
 
Apesar do ingresso das pessoas com deficiência ter aumentando três vezes e meia, em relação 
ao total de matriculas no ensino superior do país em 2014 o percentual não chegou nem perto 
de 1% do total, representando somente 0,42%. 
 
Em Mato Grosso do Sul, neste intervalo de dez anos o cenário foi bem semelhante ao 
registrado no Brasil. A quantidade total de alunos matriculados no ensino superior cresceu 
81,54%, de 65.167 em 2004 para 118.291 em 2014 e de alunos com necessidades educativas 
especiais saltou de 82 para 667, um incremento de 713,41%. 
 
Já a representação da pessoa com deficiência em relação ao total de matriculas nos cursos 
superiores no estado que era de 0,12% subiu para 0,56% do total. 
 
A dificuldade do ingresso de uma pessoa com deficiência em um curso superior retratada por 
esses números é uma realidade vivenciada por Victor. Ele tem baixa visão e autismo. 
Terminou o ensino médio, mas por não ter o curso que pretende fazer, Jornalismo, no seu 
município, Itaporã, a 225 quilômetros de Campo Grande, por enquanto, não conseguiu chegar 
ao ensino superior. 
 
Victor conta que iniciou seus estudos na APAE em Itaporã, de onde saiu alfabetizado. Ele diz 
que quando tinha seis anos sua mãe fez uma tentativa para inseri-lo em uma escola 
convencional, um colégio do município, mas que não deu certo, porque ele sofria maus-tratos. 
 
Infográfico da pessoa com deficiência no ensino superior (Foto: Anderson Viegas/G1 MS) 
 
Isso fez com que ele saísse do colégio e ficasse sem freqüentar o ensino regular por cerca de 
três anos até retornar, desta vez para uma unidade da rede estadual, a Escola Estadual 
Antônio João Ribeiro, onde concluiu o ensino médio. 
 
“Neste colégio eu recebia muito apoio. Havia até uma funcionária que cuidava de mim na hora 
do recreio. Como tinha muita dificuldade para enxergar o quadro, meus colegas fechavam as 
cortinas da sala para evitar que o sol batesse na lousa. A direção da escola colocava ainda uma 
iluminação diferenciada na sala, para que eu pudesse ver melhor. Eu também me esforçava e 
tirava notas boas. Entre 2011 e 2014, o governo do estado premiava os alunos mais aplicados 
e eu ganhei neste período um notebook e três tabletes como prêmios por meu desempenho”, 
recorda. 
 
O sonho de fazer a faculdade de Jornalismo nasceu, conforme ele, há cerca de seis anos. “Na 
minha casa não tem parabólica, então eu via muito o jornalismo local. Comecei a me interessar 
cada vez mais pela área até decidir que era isso que eu queria fazer”, revela. 
 
Para tentar realizar o sonho, Victor comentaque já fez o Enem, e que em todas as disciplinas 
sua pontuação foi acima de 500 pontos, obtendo na redação 720 pontos. “Hoje meu maior 
problema é que o curso que eu quero não tem em Itaporã e nem em Dourados, que é a cidade 
mais próxima. E eu não tenho como ir para Campo Grande”, lamenta. 
 
O jovem aponta que além dessa indisponibilidade de cursos, outra dificuldade para ampliar o 
acesso do deficiente ao ensino superior é o preconceito. “É muito fácil culpar o governo [pela 
dificuldades de acesso as faculdades e universidades], mas é necessário que tomemos atitude 
e aceitemos que os direitos são iguais para todos e fazer isso ocorrer na prática”, afirma. 
 
Enquanto não consegue realizar o sonho de cursar uma faculdade de jornalismo, Victor 
“ensaia” para trabalhar na profissão escrevendo em seu blog, o 
http://victorteixeiraaborda.blogspot.com.br/. 
 
Victor, que sonha com a universidade; Geraldo que já está fazendo o curso que escolheu e 
Rosa, que terminou a faculdade e fez até pós-graduação (Foto: Arquivo Pessoa/Victor do 
Nascimento) 
Victor do Nascimento Teixeira sonha em fazer faculdade de Jornalismo e ensaia para o 
trabalho escrevendo em seu blog (Foto: Arquivo Pessoal/Victor do Nascimento) 
 
“Eu comecei com o blog em 12 de junho de 2013. Eu escrevo comentários sobre notícias, 
abordo muitas coisas que acontecem em nosso estado e fatos que descubro por conta própria, 
pesquisando no noticiário de outros estados e países. Para isso, eu utilizo também do meu 
interesse por línguas diferentes, que vai muito além do inglês. Aprecio, por exemplo, os 
idiomas do Leste Europeu e os da Escandinávia. Em todos os casos procuro analisar os 
acontecimentos de um modo mais aprofundado”, explica. 
 
Políticas de inclusão 
Segundo o Ministério da Educação (MEC), desde 2008 foi instituída a Política Nacional de 
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Seu objetivo é promover a 
transformação dos atuais sistemas de ensino em sistemas educacionais inclusivos. Tem como 
estratégias a garantia do acesso e a permanência dos estudantes com deficiência, por meio de 
ações que visem à eliminação de barreiras físicas, pedagógicas e na comunicação, assim como 
como nos ambientes, tendo como foco a promoção da autonomia e a igualdade de direitos 
dos alunos com deficiência. 
 
No caso do ensino superior, essa política visa assegurar as pessoas com deficiência o seu 
ingresso e as oportunidades de desenvolvimento pessoal, social e profissional, bem como não 
restringir sua participação em determinados ambientes e atividades em razão da deficiência. 
 
Conforme o MEC, a política de acessibilidade no ensino superior está consolidada por uma 
ampla legislação composta por leis, decretos e normas, além da própria Constituição Federal 
de 1988 (veja a relação completa no infográfico abaixo). 
 
Infográfico da legislação sobre acessibilidade no ensino superior brasileiro (Foto: Anderson 
Viegas/G1 MS) 
Além disso, o ministério aponta que desde 2005 vem sendo executado nas instituições de 
ensino superior federais do país o Programa Incluir, que visa propor ações que garantam o 
acesso e a permanência das pessoas com deficiência nestas universidades. 
 
Entre as principais ações do programa estão o estímulo a criação e a consolidação de núcleos 
de acessibilidade nas universidades federais. Esses núcleos respondem pela organização de 
ações que garantam a inclusão de pessoas com deficiência à vida acadêmica, eliminando 
barreiras pedagógicas, arquitetônicas e na comunicação, promovendo o cumprimento dos 
requisitos legais de acessibilidade. 
 
Piso tátil e rampa de acesso em prédio do campus da UCDB, em Campo Grande (Foto: 
Anderson Viegas/G1 MS) 
Piso tátil e rampa de acesso em prédio do campus da UCDB, em Campo Grande (Foto: 
Anderson Viegas/G1 MS) 
 
Na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) foi criado em 2013, a Divisão de 
Acessibilidade e Ações Afirmativas (DIAF), que está ligada Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e 
Assuntos Estudantis (Preae), para atender justamente os estudantes com deficiência. 
 
A chefe do DIAF, professora Alexandra Ayach Anache, disse que a divisão trabalha focada em 
três eixos temáticos para o atendimento aos alunos com necessidades educativas especiais. 
 
O primeiro é o da formação de profissionais, que visa levar a professores e técnicos da 
instituição, orientações e cursos que visem o desenvolvimento de práticas educacionais 
inclusivas e para o uso da Língua Brasileira de Sinais (Libras), tradutor ou intérprete de leitura 
do sistema Braille, serviços de audiodescrição e profissionais que atuam com tecnologias 
assistivas. 
 
Já o segundo eixo, conforme a professora visa a adequação curricular da instituição e tem o 
objetivo da construção de grades que atendam a diversidade das características educacionais 
dos estudantes com deficiência, garantindo-lhes o acesso, a permanência e o máximo de 
autonomia para concluírem o curso superior. 
 
O terceiro eixo de atuação da divisão, de acordo com Alexandra, é o da adequação da 
infraestrutura. Ela explicou que com boa parte da sua estrutura construída entre as décadas de 
60 e 80, a UFMS tem passado nos últimos anos por diversas intervenções que visam tornar 
prédios, calçadas, espaços de convivência, estacionamentos e banheiros, entre outros, 
acessíveis. 
 
Chefe do DIAF da UFMS, professora Alexandra Ayach Anache (Foto: Anderson Viegas/G1 MS) 
Chefe do DIAF da UFMS, professora Alexandra Ayach Anache (Foto: Anderson Viegas/G1 MS) 
 
Uma das principais ações neste eixo de atuação, conforme ela, foi a da implantação da Rota 
Acessível no campus de Campo Grande. Por meio dessa iniciativa, foi feita uma readequação 
da rota mais utilizada pelos estudantes dentro da universidade, incluindo colocação de piso 
tátil, rampas e calçadas. 
 
Entre 2014 e 2016, segundo dados levantados pelo DIAF, o número de alunos com 
necessidades educacionais especiais matriculados na UFMS aumentou 30,65%, passando de 
137 estudantes para 179. Neste ano, o curso com a maior quantidade de pessoas com 
deficiência, de acordo com a divisão, é o de Matemática, com 17, mas outros 38 cursos da 
instituição têm pelo menos um aluno deficiente matriculado. 
 
“A acessibilidade já avançou muito na instituição, mas é preciso ir além, avançar ainda mais 
com a transformação da divisão em um núcleo, com o aumento da estrutura para 
atendimento ao aluno, melhoria na acessibilidade da instituição e maior capacitação dos 
profissionais. É preciso evoluir”, ressaltou a professora. 
 
A Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), uma instituição privada de ensino, também possui 
em sua estrutura uma unidade especifica para atender os estudantes com deficiência, o 
Núcleo de Apoio Pedagógico (NAP), que é vinculado a Pró-Reitoria de Ensino e 
Desenvolvimento (Proed). 
 
A coordenadora do NAP, professora Maineide Zanotto Velasques, destaca que o núcleo 
trabalha basicamente para atender as necessidades dos alunos, capacitar os profissionais e 
melhorar a acessibilidade da instituição. 
 
No atendimento aos alunos, ela explica que é feito um trabalho de acolhida ao estudante com 
necessidades educacionais especiais, que envolve desde uma orientação dos colegas de sala 
até a capacitação dos profissionais que vão trabalhar com ele no dia a dia, como professores, 
por exemplo. 
 
Coordenadora do NAP da UCDB, professora Maineide Zanotto Velasques (Foto: Anderson 
Viegas/G1 MS) 
Coordenadora do NAP da UCDB, professora Maineide Zanotto Velasques (Foto: Anderson 
Viegas/G1 MS) 
 
Ela explica que em razão das dificuldades que cada aluno possui é definido o tipo de 
atendimento que elereceberá. “Um deficiente visual, por exemplo, vai precisar de textos em 
Braille ou de um equipamento que scaneie as páginas de um livro e depois leia para ele o que 
está escrito. Já um surdo precisará de uma intérprete de Libras, uma pessoa com paralisia 
cerebral demandará um acompanhante permanente em sala de aula, e assim por diante”, 
comenta. 
 
Em relação as capacitações dos profissionais para atenderem aos alunos com necessidades 
educacionais especiais, a coordenadora do NAP comenta que esse é um trabalho constante, 
que é oferecido a professores e técnicos. É promovido por meio de oficinas e cursos que são 
realizados pela própria equipe de educadores da instituição e também por profissionais de 
entidades como o Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual (Capdv). 
 
Banheiros adaptados para pessoas com deficiência no campus da UCDB em Campo Grande 
(Foto: Anderson Viegas/G1 MS) 
Banheiros adaptados para pessoas com deficiência no campus da UCDB em Campo Grande 
(Foto: Anderson Viegas/G1 MS) 
Quanto a questão da infraestrutura para a acessibilidade, a coordenadora ressaltou que nos 
últimos anos a instituição fez uma série de adaptações para atender a demanda de alunos que 
apresentavam alguma dificuldade, com a implantação de rampas, banheiros adaptados, 
elevadores, sinalizadores em Braille e piso tátil em todos os setores da universidade, inclusive 
no ponto de ônibus. 
 
Maineide ressalta que todo o trabalho desenvolvido na instituição com as pessoas com 
deficiência é voltado para estimular a autonomia. “Inicialmente eles sofrem para se adaptar, 
mas aos poucos, gradativamente vão se ajustando. Ocorre uma flexibilização da universiddae 
para ajudá-los a crescer como pessoas, a serem mais independentes e a se tornarem bons 
profissionais nas áreas em que escolherem para trabalhar”. Em 2016, conforme ela, a UCDB, 
tem 23 alunos com necessidades educacionais especiais matriculados em seus cursos. O 
ensino superior e a pessoa com deficiência 
 Laura Martins 23 de abril de 2016Acessibilidade, Adaptações, Direitos, Discriminação, 
Filosofando 
Em seu novo post, Meire Elem Galvão conversa com você sobre as leis que garantem à pessoa 
com deficiência a inclusão no ensino superior. 
 
 
Se você tem o desejo de fazer um curso superior, além da mochila você precisa conhecer seus 
direitos! 
Se você é pessoa com deficiência e tem o desejo de fazer um curso superior, não basta 
carregar uma mochila com livros. Você precisa conhecer seus direitos! (Foto de Marta Alencar) 
 
 
 
Por Meire Elem Galvão 
 
 
 
Olá, cadeira voadora! No último texto escrevi sobre a reserva de vagas para pessoas com 
deficiência na graduação. Estou de volta, e desta vez para falar com você sobre o direito de ser 
tratado em condições de igualdade nas instituições de ensino superior. 
 
Vou apresentar alguns relatos (inclusive o meu), pois acredito que irão acrescentar muito pela 
variedade de experiências, umas boas e outras não tão boas assim, mas todas servirão como 
aprendizado. 
 
 
 
Geralmente a lei só é cumprida quando surge uma demanda real. E é quase sempre assim que 
acontece quando a pessoa com deficiência ingressa em uma instituição de ensino superior. 
 
 
 
Iniciemos pela legislação. É importante lembrar que a Carta Magna – a Constituição da 
República de 1988 – garante: 
 
que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza; 
atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência, preferencialmente na rede 
regular de ensino; 
acesso aos níveis mais elevados de ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a 
capacidade de cada um; 
que a lei disporá sobre a adaptação dos logradouros e dos edifícios de uso público. 
Já a Lei Brasileira da Inclusão, que vigora há pouco tempo, possui um capítulo sobre o direito à 
educação, e, neste, três artigos* tratam o tema. Entre todas as garantias, a que quero citar é a 
que está no art. 28, especialmente no inciso XIII, que diz: 
 
Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, 
acompanhar e avaliar: 
 
(…) 
 
XIII acesso à educação superior e à educação profissional e tecnológica em igualdade de 
oportunidades e condições com as demais pessoas; 
 
(…) 
 
Temos ainda: 
 
Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos 
para a promoção da acessibilidade. 
Lei n.º 9.394, de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional e 
especificamente, nos artigos 58, 59 e 60, prevê o atendimento educacional especializado para 
estudantes com deficiência nos diferentes níveis de ensino. 
Decreto nº 5.296, de 2004, que dá prioridade de atendimento às pessoas com deficiência e 
mobilidade reduzida e estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da 
acessibilidade. 
Portaria 3.284, de 2003, que estabelece as condições básicas para a inclusão do aluno com 
deficiência no ensino superior. 
 
 
Como pode notar, nosso país tem uma legislação muito vasta em relação aos direitos da 
pessoa com deficiência, mas estamos distantes de torná-los efetivos. Entretanto caminhamos, 
e isso é o que importa! 
 
Geralmente a lei só é cumprida quando surge uma demanda real. E é quase sempre assim que 
acontece quando a pessoa com deficiência ingressa em uma instituição de ensino superior. 
Veja abaixo os relatos de quem viveu a experiência. 
 
 
 
Relatos de quem viveu a experiência 
 
 
 
Em alguns anos na universidade, Meire viu a situação mudar sensivelmente (Foto do acervo de 
Meire Elem Galvão) 
Em alguns anos na universidade, Meire viu a situação mudar sensivelmente. Na imagem, 
balcão rebaixado. 
(Foto do acervo de Meire Elem Galvão) 
 
Quando iniciei o curso de Direito no 2º semestre de 2010, a instituição não possuía piso tátil e 
faixa direcional, não tinha bebedouros e balcões de atendimento na altura acessível para 
quem está na cadeira de rodas, os banheiros para cadeirantes não respeitavam a norma 
técnica, não havia vagas reservadas no estacionamento. No 2º semestre de 2015, quando 
deixei a instituição, tudo isso já estava disponível. Foi necessário mostrar que existe legislação 
que prevê essas adaptações, demonstrar a importância de cada uma dessas mudanças e 
cobrar, para que elas se tornassem reais. Entretanto os elevadores ainda não respeitam a 
Norma da ABNT NBR 13994. Ela determina que o sistema de reabertura das portas deve atuar 
sem necessidade de contato físico de pessoa ou objeto na entrada, nas alturas de 50 mm até 1 
200 mm acima do nível do piso da cabina com mínimo de 16 feixes de luz. Para usar o elevador 
o cadeirante precisa levantar o braço todo e tocar o sensor, e aquele que não consegue fazer 
esse movimento (como eu) precisa da ajuda de um terceiro. Se você quer, tente, lute e só 
desista quando não tiver mais o fôlego de vida. (Meire Elem, 33 anos, amiotrofia muscular 
espinhal forma intermediária, cursou Direito no Centro Universitário Newton Paiva, no período 
de 2010 a 2015.) 
 
 
 
 
 
Ítalo fala de sua experiência na universidade. (Foto cedida pelo entrevistado) 
Ítalo relata sua experiência na universidade. 
(Foto cedida pelo entrevistado) 
 
Quando entrei para a UFMG imaginei que a instituição estaria preparada para receber alunos 
com deficiência. O fato é que me deparei com uma falsa acessibilidade. Digo falsa, pois 
existiam elevadores que ficavam a maior parte do tempo com defeito, rampas de acesso entre 
calçadas e prédios quebradas/incompletas ou a inexistência delas, banheiros adaptados 
trancados aos quais somente funcionários do administrativotinham acesso, inexistência de 
carteira adaptada para cadeira de rodas, total falta de acesso aos restaurantes universitários. 
Ao longo dos anos as coisas foram melhorando, mas estão longe do ideal. O elevador, quando 
quebra, é consertado no prazo de 1 ou 2 dias no máximo. Depois de 2 anos consegui, através 
de um núcleo de acessibilidade (criado recentemente), uma carteira adaptada para cadeira de 
rodas. Já os banheiros adaptados continuam trancados e sendo utilizados pelo pessoal da 
administração; a diferença é que “ganhei” a chave de um deles. As demais demandas nem 
mesmo acionando o Ministério Público foram atendidas. A pessoa com deficiência que deseja 
estudar deve seguir sua vontade, independentemente das barreiras arquitetônicas e sociais 
que existem. Não podemos deixar de fazer/estar/ocupar nada em detrimento das dificuldades 
encontradas no nosso cotidiano; se deixarmos, fortalecemos as diferenças e os impedimentos 
a nós impostos. Se porventura a instituição não atender suas necessidades, grite, grite alto!!! 
(Ítalo Cássio de Assis, 29 anos, amiotrofia muscular espinhal tipo 2, ingressou no curso de 
Ciências Sociais da Universidade Federal de Minas Gerais em 2013, com previsão de formatura 
em 2017.) 
 
 
 
 
 
Priscila Fonseca enfrentou muitos desafios para concluir o curso. 
Priscila Fonseca enfrentou muitos desafios para concluir o curso. (Foto cedida pela 
entrevistada) 
 
A cadeira não passava na entrada principal da faculdade; precisava entrar pela garagem, e para 
chegar ao elevador era preciso vencer um degrau. O acesso à cantina possuía um degrau 
duplo, e o medo de cair é maior, pois demanda mais ajuda do que um degrau comum. Os 
banheiros não eram adaptados e muitas vezes serviam de depósito. O apoio dos professores e 
dos coordenadores em relação às atividades pedagógicas foi excelente; eles me ouviam e 
davam total ajuda e segurança. Havia o problema de pegar elevador, ninguém dava o lugar 
para mim, isso é um problema social. Por esse problema, na hora do intervalo ficava na sala, e 
o convívio com os colegas diminuiu. No último ano os alunos se mobilizaram e conseguiram 
tirar algumas barreiras arquitetônicas. Fizeram rampas e arrumaram os banheiros. As 
dificuldades sempre irão existir. Se você quer fazer um curso superior, não desista, pois 
sempre terá alguém com boa vontade para ajudar. E certamente algumas mudanças vão 
acontecendo. E você abrirá um caminho mais digno para outras pessoas com deficiência. 
(Priscila de Toledo Fonseca, 31 anos, tem paralisia cerebral, cursou Design Gráfico, no período 
de 2008 a 2014, na Universidade do Estado de Minas Gerais – Escola de Design. Ela publica 
seus textos no blog Feito com os Pés.) 
 
 
 
Aviso às instituições e aos profissionais da educação!!! 
 
 
 
O Ministério da Educação criou o Programa Incluir – Acessibilidade à Educação Superior com o 
objetivo de promover a inclusão de estudantes com deficiência na educação superior, 
garantindo condições de acessibilidade nas Instituições Federais de Educação Superior (IFES). 
Esse programa tem como principais ações possibilitar: adequação arquitetônica para 
acessibilidade nos diversos ambientes das IFES, aquisição de recursos de tecnologia assistiva 
para promoção de acessibilidade pedagógica, aquisição e desenvolvimento de material 
didático e pedagógico acessíveis e aquisição e adequação de mobiliários para acessibilidade. 
 
 
 
Degrau na escola onde Priscila Fonseca estudou. (Foto cedida pela entrevistada) 
Degrau na escola onde Priscila Fonseca estudou. 
(Foto cedida pela entrevistada) 
 
 
 
Além desse programa acredito ser de grande utilidade os manuais disponibilizados pelo 
Comitê de Inclusão e Acessibilidade (CIA) da Universidade Federal da Paraíba; criado no dia 26 
de novembro de 2013, é uma assessoria especial vinculada diretamente ao Gabinete da 
Reitoria. Programa Incluir – Acessibilidade à Educação Superior 
 
 
Objetivo: Promover a inclusão de estudantes com deficiência, na educação superior, 
garantindo condições de acessibilidade nas Instituições Federais de Educação Superior. 
 
Ações: 
 
Adequação arquitetônica para acessibilidade nos diversos ambientes das IFES – rampa, barra 
de apoio, corrimão, piso e sinalização tátil, sinalizadores, alargamento de portas e vias, 
instalação de elevadores, dentre outras; 
Aquisição de recursos de tecnologia assistiva para promoção de acessibilidade pedagógica, nas 
comunicações e informações, aos estudantes com deficiência e demais membros da 
comunidade universitária - computador com interface de acessibilidade, impressora Braille, 
linha Braille, lupa eletrônica, teclado com colméia, acionadores acessíveis, dentre outros; 
Aquisição e desenvolvimento de material didático e pedagógico acessíveis 
Aquisição e adequação de mobiliários para acessibilidade. 
 
Como acessar: As IFES elaboram e executam projetos apoiados pelo MEC por meio da SESU e 
SECADI. 
 
Documentos: 
 
Documento Orientador do Programa Incluir: Acessibilidade na Educação Superior 
Decreto n° 7.234/2010; 
Relação das IFES contempladas até 2010. RESUMO 
 
o objetivo do presente estudo foi levantar o número de alunos auto-declarados com 
deficiência em processo de inclusão no ensino superior nas instituições públicas e privadas de 
Juiz de Fora. Tal temática merece destaque vista as políticas implementadas pelo Governo 
Federal de acesso ao Ensino Superior, como o ProUni, o REUNI e o FIES a fim de ampliar o nível 
de escolarização da população. Assim, foram pesquisadas 11 Instituições de Ensino Superior de 
Juiz de Fora, sendo dez privadas e uma pública. Para tanto, foram entrevistados os 
coordenadores de cursos que contavam, no período da coleta de dados, com alunos auto-
declarados com deficiência, regularmente matriculados e frequentando o curso. As entrevistas 
foram submetidas à análise de conteúdo. Foi possível perceber que existem, atualmente, 45 
alunos com deficiência matriculados e frequentes em cursos de ensino superior da cidade. A 
rede privada representa 82,2% desse total e a rede pública federal, 17,8%. Portanto, é de 
grande relevância a concretização de estudos que visem ampliar as informações sobre a 
inclusão de pessoas com deficiência na rede de ensino brasileira. Isso possibilitará o 
entendimento do processo de dificuldades, luta e superação desses estudantes até a chegada 
ao Ensino Superior. Esta questão tem sido importante para dar assistência aos profissionais 
envolvidos na ação pelo direito das pessoas com deficiência e o acesso dos mesmos, em 
especial, no meio educacional. 
 
Palavras-chave: Educação Especial. Pessoa com Deficiência. Ensino Superior. 
1 INTRODUÇÃO 
Esse artigo tem como tema principal a inclusão de pessoas com deficiência no 
ensino superior. Tal temática merece destaque vista as políticas implementadas 
pelo Governo Federal de acesso ao Ensino Superior, como o Pro-Uni, o REUNI e o 
FIES, com o objetivo de ampliar o nível de escolarização da população. 
No mundo contemporâneo, a inclusão do aluno com deficiência representa desafio, 
desde a modalidade de Educação Infantil até o Ensino Superior, em instituições 
públicas e privadas. No Brasil, as estatísticas oficiais, estudos e pesquisas, elucidam 
principalmente a condição desse alunado em processo de inclusão na educação 
básica subsidiados pelas Declarações de Educação para Todos (UNESCO, 1990) e 
de Salamanca (ONU, 1994). 
Todavia, pouco se tem documentado sobre a inclusão de pessoas com deficiência 
no ensino superior, indicando uma carência de reflexões, estudos e estatísticas 
dificultando, assim, a formulação de políticas públicas que contemplem açõesque 
avancem para uma educação inclusiva também no ensino superior. Entre estes 
poucos, podemos citar, atualmente, estudiosos como: Silva et al. (2012); Vianna, 
Tardelli e Almeida (2012); Inajara, Santana e Silva (2010); Ferreira (2007); Pereira 
(2007); Chahini (2006); Mansini e Bazon (2006); Pellegrini (2006); Perini (2006) e 
Rodrigues (2004). Estes autores se dedicaram a estudar este paradigma 
educacional da sociedade pós-moderna apontado valores, processos, caminhos e 
dificuldades a serem considerados a respeito das possibilidades de acesso e 
permanência de pessoas com deficiência no ensino superior. 
Especificamente em Juiz de Fora/MG, não foi possível encontrar dados referentes 
ao número de pessoas com deficiência em seus diversos cursos de graduação 
sequer na única universidade pública da cidade tampouco nas faculdades privadas. 
Por esta lacuna de dados locais, contou-se apenas com valores nacionais que 
apontam para o crescimento do número de matrícula de alunos com deficiência no 
ensino superior de uma forma geral. Segundo o Censo da Educação Superior 
MEC/INEP (BRASIL, 2012), havia, neste ano, 22.455 matrículas de alunos com 
deficiência no ensino superior, sendo deste total, 16.790 nas Instituições Privadas 
de Ensino Superior e 4.437 nas Instituições Federais de Ensino Superior. 
É neste sentido que este estudo se justifica, visto que há uma necessidade 
contemporânea de estabelecer processos e metodologias em políticas educacionais, 
que considerem sobremaneira a diversidade humana e contemplem o Ensino 
Superior. Assim, na cidade de Juiz de Fora, há uma barreira para o estabelecimento 
de tais políticas educacionais, visto que não foram encontrados dados 
epidemiológicos que abranjam a inclusão de pessoas com deficiência no Ensino 
Superior. Estes dados tornam-se, portanto, importantes e necessários para o 
desenvolvimento de estratégias e ações em políticas públicas educacionais. Neste 
sentido, apresenta-se essa proposta de estudo no intuito de levantar informações 
relevantes sobre a inclusão de alunos com deficiência nas Instituições de Ensino 
Superior (IES) de Juiz de Fora. 
Portanto, este estudo teve como objetivo relatar a inclusão de pessoas com 
deficiência nas IES pública e privadas de Juiz de Fora/MG. 
1.1 A inclusão/exclusão educacional das pessoas com deficiência 
Podemos considerar o conceito de inclusão muito recente se comparado a trajetória 
secular de exclusão. Referindo-se aos estudos de Machado, Tres e Oliveira (2011), 
Carmo (2008), Ferreira e Guimarães (2003) e Mazzota (1996), é possível perceber 
que ao longo dos séculos houve diversas mudanças conceituais sobre a deficiência 
e sobre o tratamento dispensado pela sociedade às pessoas que apresentavam 
deficiências físicas, intelectuais ou sensoriais. Para se ter uma ideia, na Antiguidade 
estas pessoas eram exterminadas, pois se acreditava que eram amaldiçoadas. 
Somente na Idade Média, este comportamento começou a mudar, devido à 
influência da Igreja Católica, que considerava todos como criaturas de Deus, 
independente de possuir ou não uma deficiência. No entanto, elas deixaram de ser 
mortas para serem segregadas e depender da caridade alheia para sua 
sobrevivência. 
Com a intenção de romper este paradigma de segregação e adotar as ideias de 
normalização, foi criado o conceito de Integração, referente à necessidade de 
modificar a pessoa com deficiência - e não a sociedade - de forma que esta pudesse 
assemelhar-se, o máximo possível, aos demais, para ser inserida e integrada no 
convívio social. 
Entretanto, como afirmam Ferreira e Guimarães (2003) e Mazzota (1996), 
normalizar o indivíduo com deficiência passou a não fazer sentido. O conceito de 
normalidade é muito relativo e subjetivo. Assim, esclarece Oliveira: 
O surgimento de terminologias ligadas à Educação Especial entre elas a integração, 
a normalização, a inclusão, a diversidade, e outras tantas, refletem a sobrecarga 
que carrega todo aquele que é diferente, que não se encaixa a modelos pré-
estabelecidos que o levem a fazer parte de grupos homogêneos, que se 
autodeterminam ser iguais perante outros considerados diferentes (OLIVEIRA, 
2012, p. 2). 
Diante disso, chegou-se à conclusão de que a sociedade também teria sua parcela 
de contribuição ao processo de inserção das pessoas com deficiência. Os sistemas 
sociais, que durante séculos não contemplaram as necessidades específicas 
provenientes da diversidade humana, teriam que se transformar de modo a atender 
a todos. O processo deve ser bidirecional. Diante destas constatações e das 
inúmeras mudanças que vemos hoje eclodir na sociedade, surge o movimento da 
inclusão, que é consequência da visão social de um mundo democrático, onde se 
anseia respeitar direitos e deveres de todos, independente das diferenças de cada 
um. A limitação de uma pessoa não pode diminuir seus direitos. As pessoas com 
deficiência são cidadãos e fazem parte da sociedade e esta deve se preparar para 
lidar com a diversidade humana. 
A "escolarização" é fundamental na constituição do indivíduo que vive em uma 
sociedade como a nossa, ainda marcada pela exclusão, fracasso e o abandono em 
todos os níveis de ensino. De fato, essa falha significa um grave impedimento da 
apropriação do saber sistematizado, da construção de funções psicológicas mais 
sofisticadas, de instrumentos de atuação no meio social e de transformação do 
sujeito e das condições para a construção de novos conhecimentos (REGO, 2003). 
1.2 A inclusão de pessoas com deficiências no Ensino Superior 
Embora sejamos a favor da luta pela inclusão escolar das pessoas com deficiência, 
reconhecemos que os sujeitos envolvidos sofrem todos os tipos de descriminação e 
de imposição de uma sociedade que os elimina sendo falsa a concepção de que 
caminhamos rumo à igualdade de oportunidades (PERINI, 2006, p. 111). 
Assevera-se que o pleno acesso e a permanência da pessoa com deficiência na 
escola não é ainda uma realidade. Diversos fatores culturais, políticos e sociais 
ainda contribuem para a manutenção desse quadro de dificuldade, incluindo a 
negação do direito de acesso à educação, podendo ser este um dos fatores que 
contribuem para o baixo índice de pessoas com deficiência inseridas no mercado de 
trabalho e/ou com rendimentos inferiores aos das pessoas sem deficiência 
(FERREIRA; DUARTE, 2010). 
Assim, pode-se considerar que o fato de estar "dentro" da sala de aula não implica, 
necessariamente, que os alunos com deficiência estejam incluídos nos processos de 
ensino e de aprendizagem, pois, para isso acontecer, eles precisam se mobilizar e, 
de fato, absorverem os conteúdos escolares (GOMES; LIMA, 2006). 
Não se pode esquecer ainda, que o desafio da inclusão no ensino superior passa por 
decisões que extrapolam os muros das universidades públicas. É preciso considerar 
que a universidade pública brasileira não pode ser tomada como a única 
responsável por este processo, mas como parte integrante da implementação de 
políticas públicas que garantam apoio financeiro às ações e iniciativas neste 
contexto. Paralelamente a essa situação, as IES Federais precisam estar cientes da 
importância de expor às instâncias governamentais as limitações que enfrentam e 
apontar encaminhamentos que devem ser tomados para que haja a garantia de 
acesso, ingresso e permanência desses estudantes, pois contam com profissionais 
das mais diversas áreas do conhecimento, que podem contribuir com ensino, 
pesquisa e extensão na área das necessidades educacionais especiais (MOREIRA, 
2005). Também Mantoan e colaboradores expressam-se sobre esse tema 
afirmando que: 
Resistimos à inclusão escolar porque ela nos faz lembrar que temos uma dívida asaldar em relação aos alunos que excluímos, por motivos muitas vezes banais e 
inconsistentes, apoiados por uma organização pedagógica escolar que se destina a 
alunos ideais, padronizados por uma concepção de normalidade e de deficiência 
arbitrariamente definida (MANTOAN et al., 2011, p. 78). 
Acredita-se que com a inclusão, não só a pessoa com deficiência é beneficiada, mas 
todos aqueles envolvidos neste processo educacional. A convivência com a 
diversidade humana favorece a construção de novas relações e experiências tão 
indispensáveis e fundamentais na formação contemporânea humana e no 
desenvolvimento dos professores, profissionais e alunos, ampliando para eles a 
compreensão dos conceitos de justiça e direito (LIMA, 2007). 
 
2 METODOLOGIA 
2.1 Critérios éticos 
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos 
da Universidade Federal de Juiz de Fora. Foi solicitada autorização a todas as IES 
pesquisadas e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi entregue a 
todos participantes. Todas as entrevistas foram gravadas em mídia digital e 
posteriormente transcritas na sua íntegra. Foi mantido sigilo nominal de todas 
instituições e entrevistados. Todo material se encontra arquivado, ficando 
disponível por cinco anos. Após este período, será destruído. 
2.2 Participantes 
A cidade de Juiz de Fora/MG contava, na fase de coleta dos dados, com 11 IES, 
sendo 10 privadas e uma pública. Ao todo, essas instituições contavam com 116 
coordenadores de cursos, dos quais 71 pertenciam à rede privada e 35, à rede 
pública. 
Entretanto, para serem incluídas como participantes da presente pesquisa, foram 
consideradas apenas as IES que contavam com alunos com deficiência em processo 
de inclusão, regularmente matriculados e frequentes no ano de 2009. Dessa forma, 
foram entrevistados 21 coordenadores de oito IES particulares das 10 iniciais, e 35 
coordenadores dos cursos oferecidos pela IES pública. 
2.3 Instrumentos 
Como principal instrumento de coleta de dados, foi elaborado um roteiro para as 
entrevistas o qual foi avaliado por uma banca de cinco doutores na área de 
inclusão. As sugestões de alterações foram acatadas para a construção da versão 
final desse instrumento. 
Além disso, foi aplicado um questionário sociodemográfico, contendo informações 
preliminares e importantes do encontro, tais como: data, local, instituição e curso. 
2.5 Procedimentos 
Inicialmente, com o objetivo de levantar a existência de alunos com deficiência 
regularmente matriculados e frequentes nas 10 IES particulares, contataram-se as 
diretorias, secretarias ou núcleos de apoio psicopedagógicos. Na IES pública 
pesquisada, optou-se por entrevistar os 35 coordenadores de todos os cursos de 
graduação, devido à inexistência de informações a respeito da inclusão de alunos 
com deficiência. Nenhum órgão oficial tinha qualquer tipo de levantamento para 
quantificar e caracterizar os alunos com deficiência em processo de inclusão. 
Assumiu-se a escolha em entrevistar os coordenadores de todos os cursos por 
acreditar que estes têm uma visão processual e longitudinal do processo de 
inclusão da pessoa com deficiência nos cursos sob sua responsabilidade. 
Após o contato inicial, os objetivos e procedimentos da pesquisa foram esclarecidos 
e, com o consentimento para participação voluntária, foram agendadas entrevistas 
com os respectivos coordenadores de cursos. Foi solicitada formalmente a 
autorização para a gravação das entrevistas as quais foram realizadas em apenas 
uma sessão e em horários e locais variados. Procurou-se atender ao que era mais 
conveniente para o entrevistado, em geral, nas salas dos coordenadores. 
As perguntas e os temas centrais serviram como diretrizes as quais possibilitaram 
que o sujeito desenvolvesse seu próprio discurso. Sendo assim, as questões 
elaboradas não foram respondidas uma a uma, pois isso poderia limitar a narrativa 
do entrevistado, além de interromper o processo de pensamento. A coleta de dados 
foi realizada entre os meses de maio e junho de 2009. 
2.6 Análise dos dados 
Os dados quantitativos percebidos a partir das transcrições das entrevistas e foco 
desse estudo foram analisados e interpretados com auxílio do programa Microsoft 
Excel for Windows XP. 
 
3 RESULTADOS 
A partir dos dados recolhidos, foi possível perceber que existiam, em 2009, 45 
alunos com deficiência matriculados e frequentes em cursos de graduação 
presencial nas IES pública e privadas. Ao analisar esse resultado por número total 
absoluto e relativo de pessoas com deficiência em processo de inclusão e por IES, 
percebeu-se que a pública apresentava oito alunos com deficiência (0,07%) em um 
total de 11.000 alunos matriculados em 45 cursos. As privadas possuíam, à mesma 
época, 37 alunos com deficiência (0,17%) em um total de 22.631 alunos 
matriculados em 85 cursos disponíveis. Foi possível perceber que o número de 
alunos com deficiência matriculados por IES privadas variou de zero a 12 (1,3%). 
Constatou-se assim que, em relação ao total de estudantes que cada categoria 
administrativa de instituição recebe, o número de alunos em processo de inclusão 
foi maior nas IES privadas (Tabela 1). 
Acredita-se que este fato se deve a aspectos tais como: o acesso, via processo 
seletivo, mais disputado e falta de política de cotas de vagas para pessoas com 
deficiência na IES pública; a maior disponibilidade de cursos noturnos, a 
possibilidade de bolsa pelo ProUni e até mesmo acesso facilitado à financiamento 
estudantil pelo FIES nas redes privadas. Estes valores, encontrados em uma 
realidade local, estão de acordo com a realidade nacional apresentada pelo Censo 
da Educação Superior de 2010 (BRASIL, 2012), ou seja, maior tendência de 
matrícula em cursos noturnos e em IES Privadas (distribuição representada 
no Gráfico 1). 
 
 
 
Em relação à distribuição dos alunos com deficiência nas áreas de conhecimento, 
como pode-se perceber no Gráfico 2, a maioria das matrículas concentra-se na área 
de Humanidades, seguida pela área de Saúde e Exatas. Na área de Humanidades, 
os cursos procurados foram: Pedagogia, Direito, Comunicação, Administração, 
Psicologia, Ciências Contábeis, História e Turismo. Na área da Saúde, Fisioterapia, 
Educação Física, Medicina e Ciências Biológicas foram os cursos mais frequentados. 
Na área de Exatas, havia alunos matriculados nos cursos de Arquitetura, Ciências 
da Computação, Design Gráfico, Matemática e Sistemas para Internet. 
Em relação ao sexo, os resultados demonstraram uma distribuição irregular: na 
rede pública, a maioria dos alunos com deficiência matriculados era do sexo 
feminino; ao contrário, na rede privada a maioria dos graduandos com deficiência 
eram do sexo masculino. Ao considerar ambas as redes de ensino, os resultados 
mantém a tendência observada na rede privada, isto é, maior número de 
matriculas do sexo masculino. 
 
 
 
Quando foram analisados os tipos de deficiência, concluiu-se que a deficiência 
visual apresenta, tanto nas IES privadas quanto na pública, um maior número de 
matrículas seguido pela deficiência física e auditiva (Gráfico 4). 
 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Este estudo teve como propósito relatar a inclusão de pessoas com deficiência no 
Ensino Superior em Juiz de Fora. A realização de estudos que visem ampliar as 
informações sobre a inclusão de pessoas com deficiência na rede de ensino 
brasileira, bem como entender o processo de dificuldades, luta e superação desses 
estudantes até chegar ao Ensino Superior, tem sido importante para auxiliar os 
profissionais que estão envolvidos na luta pelo direito das pessoas com deficiência e

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