Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TAGS: Acessibilidade na Educação Superior para Deficientes, inclusão, curriculos, empregos, vagas, lei, contratação, deficientes, pessoas com deficiência, mercado de trabalho, multa de empresa que não cumpre lei de cotas, lei de cotas 8213 O projeto enquadra-se no “Programa Inlcuir: Acessibilidade na Educação Superior” desenvolvido pelo Ministério de Educação. O programa foi criado para viabilizar a implantação ou consolidação de núcleos de acessibilidade nas universidades federais do Brasil. De acordo com o último levantamento realizado pelo Ministério em 2005, existiam cerca de 12 mil alunos com deficiências nas universidades. O MEC propõe que as universidades desenvolvam projetos para encaminhar a tarefa de inclusão. Ao mesmo tempo, pretende eliminar as barreiras pedagógicas, arquitetônicas e de comunicação para efetivar a política de acessibilidade universal. O MEC como mantenedor das universidades federais, estabelece através de uma resolução que os cursos que não tenham garantido o acesso aos estudantes com deficiências, especialmente o caso dos cadeirantes, não serão aprovados. É mediante uma avaliação que a INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), cria uma comissão que a cada cinco anos renova a aprovação dos cursos. No caso da UFSC, o Centro Sócio- Econômico (CSE) foi avaliado neste ano pela comissão do INEP, constatando que o Centro não tem acesso para os cadeirantes, porque não conta com elevador ou rampa. Mas o paradoxo deste caso, é que o mesmo MEC é quem deve financiar estas obras. De acordo com Mauricio Fernandes Pereira, diretor do CSE, a situação que atravessa o centro de ensino que ele conduz é absurda porque “o MEC cobra o que ele não fez”. Por enquanto, o CSE usa o elevador do prédio do Direito para garantir a circulação dos alunos deficientes. No entanto, esta situação não é a única na UFSC, porque de acordo com Mauricio Fernandes, isso vai acontecer com todos aqueles prédios que não tenham acesso para os cadeirantes quando sejam avaliados. “Mudar esta realidade não depende da vontade de cada Centro, mas sim da disponibilidade de financiamento do MEC”, finaliza Pereira. Mais informações podem ser obtidas pelo site www.mec.gov.br ou pelos telefones (61) 2104- 8671, 2104-9831 ou pelo e-mail incluir@mec.gov.br. Na UFSC, com a coordenadoria do projeto pelo telefone (48) 3721-9905 ou pelo e-mail mariasyl@gmail.com. INTRODUÇÃO Mediante a prerrogativa de que é dever do Estado por meio da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios arcar com a educação com padrão de qualidade, se responsabilizando pelo desenvolvimento da pessoa, seu preparo para a cidadania e sua qualificação para o trabalho, faz-se necessário apontar considerações da inclusão das pessoas com deficiência no ensino superior. Traçar uma senda perante as diretrizes educacionais condensadas na Constituição Federal e legislações esparsas favorece a percepção de que a educação é direito de TODOS, e o Estado, deve contribuir para a melhoria do desenvolvimento pessoal e profissional dos indivíduos que pretendem adquirir melhor qualificação com sua inserção no ensino superior. A educação é o caminho para o homem evoluir. Por isso, é um direito público subjetivo, e, em contrapartida, um dever do Estado e do grupo familiar (BULOS, 2008). E, só dará chances para o pleno desenvolvimento humano se perceber e respeitar a diversidade humana. 1. Educação na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases Nacional A constitucionalização da educação como direito subjetivo público está condensada num subsistema constitucional, como conjunto de normas delineadoras do processo formal de ensino que, contextualizada na ordem social, estabelecem apanágio educacional aos alunos, professores, família, escola e Estado (BULOS, 2008). A hermenêutica constitucional direciona ao interprete da norma aos princípios constitucionais do ensino, tais como: obediência a interpretação constitucional; harmonia com as ciências da educação; imputação de relevância à interpretação dos conselhos da educação; coadunação entre as diretrizes e bases nacionais da educação e as peculiaridades regionais e locais; mínimo existencial e reserva do possível: a interpretação em benefício do indivíduo e da sociedade, assim preleciona Lélio Maximino Lellis (2011), a fim de que ele chegue a resultado adequado. Os postulados hermenêuticos são a supremacia da Lei Fundamental, a unidade da Constituição e conseqüente necessidade de harmonização de seus elementos, a obrigação de se atribuir a maior efetividade possível as normas constitucionais e a imprescritibilidade de se presumir como ponto de partida e de chagada da interpretação a força normativa da Lei Magna. (LELLIS, 2011, p. 171) A Educação Nacional tem como princípios: o ensino com igualdade de condição para o acesso e permanência na escola; a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; a garantia de padrão de qualidade; gratuidade de ensino público, entre outros, conforme reza o disposto no artigo 3º da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional (LDB) e artigo 206 da Constituição Federal. É direito de todos e dever do Estado e da Família à educação, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, como dispõe a Magna Carta, em seu artigo 205, seja na educação oferecida pelo Estado de forma pública ou particular, seja no ensino médio, no fundamental e no universitário, e com a inclusão das pessoas deficientes. O legislador no enunciado mencionado ao descrever pleno desenvolvimento da pessoa, refere- se ao princípio da dignidade da pessoa humana. É no valor da dignidade da pessoa humana que a ordem jurídica encontra seu próprio sentido, sendo seu ponto de partida e seu ponto de chegada, na tarefa de interpretação normativa (PIOVESAN, 2004, p.92) Nesse contexto, pode-se incluir a adequada formação do indivíduo e em todas as áreas qualificadoras, ensejando aprimoramento intelectual, emocional e físico. O resultado do pleno desenvolvimento implica auto-realização da pessoa, tornando-a útil a sociedade. Assim, é a educação na forma de ensino como processo formal e regular, método de transmissão de conhecimento e capacitação do indivíduo (BULOS, 2008). Para tanto, adequado padrão de qualidade de ensino merece ser utilizado, recorrendo não só aos ditames da Constituição Federal, também as normas gerais sobre a educação contida na LDB. Se é a qualidade do ensino que possibilita a diminuição da desigualdade de oportunidades de aprendizagem, é a concretização dos fins da educação escolar que atesta a existência de padrão de eficiência na instrução. (LELLIS, 2011, p. 198) 2. O Ensino Superior O ensino superior tem como finalidade, como prevê o artigo 43 da lei 9394/96, estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos a participarem no desenvolvimento da sociedade brasileira; incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem o patrimônio da humanidade; suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos em cada geração; estimular o conhecimento dos problemas do mundo, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços à comunidade estabelecendo umarelação de reciprocidade; e, promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na Instituição. Por sua vez a Constituição Federal no artigo 207 expõe a autonomia das funções da universidade e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, com liberdade didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial. A ausência de restrição permite que as universidades desenvolvam cursos, organize simpósio, elabore currículos como forma de ensinar, pesquisar e transmitir conhecimentos. No âmbito administrativo e gestão financeira, cabe às universidades fomentar todos os atos pertinentes para exercer as atividades de ensino e pesquisa, por exemplo: elaboração de estatuto, organização de conselhos competentes, contratação do corpo docente e técnico- administrativo, controle orçamentário das receitas e das despesas, etc. Paralela a autonomia da universidade e para fazer valer a norma constitucional e infraconstitucional está à qualidade do ensino superior. Pedro Demo escreveu em trabalho sobre a Qualidade e Modernidade da Educação Superior, discutindo questões de qualidade, eficiência e pertinência, isto é, condição principal para a universidade tornar-se fator decisivo de desenvolvimento no contexto moderno, e, afirmou que: […] Não há mais chance para uma “universidade de ensino”, porque induz a reproduzir, imitar, copiar conhecimento criado por outros. Uma universidade moderna se define como instituição onde se aprende a aprender. Professor não é definido como um indivíduo encarregado de ensinar, mas como um indivíduo que, produzindo conhecimento próprio, motiva estudantes a fazer o mesmo. Estudante não é definido pela simples função de aprender. Seu objetivo é produzir ciência também. O processo de desenvolvimento é cada vez mais marcado pela capacidade de produzir conhecimento próprio, e isto pode atribuir à universidade uma função muito estratégica, desde que se dedique a pesquisa[…](DEMO, 1991, p. 35) O autor apresenta em seu trabalho algumas alternativas como ponto de partida sobre a educação universitária com qualidade, estratégia de ensino/aprendizagem: a) a educação superior deve colocar como alavanca central do desenvolvimento da sociedade e da economia, equilibrando desafios tecnológicos com os compromissos educativos; b) a pesquisa será a atividade inspiradora de toda vida acadêmica, definindo o docente e o aluno, na condição de princípio científico e educativo; c) a elaboração própria é estratégia essencial de produção científica e de avaliação do docente e do aluno; d) a educação superior deve voltar-se com extremo empenho a corresponder aos desafios das gerações futuras, em termos de modernização tecnológica e capacidade emancipatória; e) a educação superior deve marca-se por adequada qualidade formal e política; f) deve ser possível realizar educação superior adequada em ambientes do Terceiro Mundo e de suas regiões menos desenvolvidas, desde que se module com argúcia o conceito de pesquisa; g) não é aceitável instituição superior de mero ensino, porque apenas “ensina a copiar”, sendo radicalmente injusta com as novas gerações; h) quem pesquisa, deve ensinar, quem ensina, somente ensina o que pesquisa; i) prática deve ser estritamente curricular; não é maior, nem menor que a teoria, nem se substitui; j) emancipação não supõe sofisticação técnica necessariamente, mas supõe capacidade de produção própria e de questionamento crítico criativo (DEMO, 1991) Avaliar alunos para, posteriormente, aplicar notas às universidades, pode não ser a melhor solução vista do prisma social, mas necessário se faz, a existência de processo interno de avaliação da qualidade de ensino ministrado em curso superior, por meio de alunos e docentes, contribuindo assim, com as finalidades apresentadas LDB. 3. A pessoa com deficiência: conceituação vigente As pessoas com deficiência representam um percentual expressivo da população mundial (a OMS estima que seja de 10%) e da população brasileira. Segundo o censo demográfico do IBGE de 2010[3], quase 24% de nossa população apresenta deficiência, o que significa aproximadamente 45,6 milhões de pessoas. Diante desse quadro, não se pode dizer que ter deficiência seja “anormal” ou incomum. A deficiência deve ser percebida como mais uma manifestação da diversidade humana: todos são únicos e têm características individuais. A deficiência tem de ser entendida através de um conceito social, ou seja, como a soma de dois fatores inseparáveis: as características individuais corpóreas mais as barreiras sócio- ambientais. Destarte, pode-se atenuar ou agravar a deficiência de alguém, por meio da estrutura ambiental e acessibilidade[4] oferecidas. Veja-se, como exemplo, um cadeirante que trabalha em determinada empresa: se o local de trabalho não tiver degraus, além de oferecer os móveis e portas que sejam acessíveis, sua limitação acaba por ser deveras atenuada, possibilitando maior independência. Todavia, se a mesma empresa oferecer um local de trabalho com escadas, sem elevadores ou com portas estreitas, agravar-se-á a deficiência do funcionário, impossibilitando seu acesso e livre circulação. Outro exemplo pode ser notado no caso de um deficiente auditivo que faça leitura labial: se a pessoa que for se comunicar com ele colocar a mão na frente da boca ou falar de costas, isso vai dificultar o processo comunicativo, enquanto que se falar com boa dicção, olhando para o receptor da mensagem, talvez nem se perceba a deficiência do caso em tela. A Constituição Federal, embora tenha tratado em diversos artigos da proteção das pessoas com deficiência, não trouxe a definição de quem sejam essas pessoas. Pensa-se na possibilidade de o Constituinte Originário não ter querido limitar a determinados casos conhecidos e inquestionáveis o conceito de pessoa com deficiência, sob pena de que se assim fizesse, poderia deixar fora do alcance da proteção constitucional algumas pessoas que deveriam ser abarcadas por ela. Em 1999 foi editado o Decreto 3298, posteriormente alterado pelo 5296/04, que trazia uma definição bastante específica e restritiva acerca do conceito de pessoa com deficiência, prestigiando o modelo médico da deficiência, em detrimento do modelo social. Em outra oportunidade[5] fizemos críticas acerca de esse Decreto não ser o instrumento normativo adequado para definição de pessoa com deficiência, ainda mais porque amesquinhou a vontade constitucional. Porém, essa discussão hoje não faz mais sentido, uma vez que o Brasil assinou em 2006 a Convenção da Organização das Nações Unidas sobre os direitos das pessoas com deficiência. Essa Convenção foi ratificada pelo Congresso Nacional pelo do Decreto Legislativo n. 186, de 09 de julho de 2008 e promulgada pelo Decreto Presidencial 6949/2009 , em 25 de agosto de 2009. Tal Documento, que foi internalizado em nosso ordenamento jurídico com equivalência de norma constitucional, traz em seu artigo primeiro o conceito de pessoa com deficiência atualmente vigente em nosso país, in verbis: Artigo 1 Pessoas com deficiência incluem aquelas que têm impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, as quais, em interação com as diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Observe-se que a definição dada pela Convenção Internacionalprestigia o modelo social da deficiência, deixando ao operador do Direito a tarefa de fazer uma análise casuística de cada situação. Embora o conceito trazido pelo artigo 4º do Decreto 3298/99[6] possivelmente fosse mais fácil de ser utilizado, não se pode esquecer que era inadequado por apresentar um rol muito restritivo. Como se viu, essa definição do Decreto foi revogada pela da Convenção, não podendo mais ser utilizada. Portanto, todas as políticas públicas, bem como toda legislação e ações de inclusão devem atentar para o Artigo 1 da Convenção Internacional sobre os direitos das pessoas com deficiência, que é o instrumento normativo vigente e adequado para definir quem são os indivíduos com deficiência. 4. Educação inclusiva: o Ensino Superior e a Convenção Internacional sobre os direitos das pessoas com deficiência Já foi visto em tópico anterior que o direito fundamental à educação na Constituição Federal é um direito de TODOS, assim como também foram analisados os objetivos da educação estabelecidos pelo Constituinte. Outrossim, tendo em vista a fundamentalidade desse direito, não se pode admitir o oferecimento de uma educação incompleta, que atente apenas para o aspecto cognitivo em detrimento do pleno desenvolvimento humano e da preparação para o exercício da cidadania. Ademais, é preciso ressaltar que a escola só dará chances para o pleno desenvolvimento humano se perceber e respeitar a diversidade humana. Da mesma forma, só se prepara para o exercício da cidadania vivenciando essa prática no dia-a-dia escolar. Logo, a escola inclusiva, que é uma escola de TODOS, ensina não apenas conhecimento técnico-científico, mas ensina valores, princípios e atitudes. Ensina a viver junto, ensina a conviver em ambiente de tolerância e harmonia em meio à diversidade[7]. A Convenção Internacional sobre os direitos das pessoas com deficiência foi o primeiro tratado de Direitos Humanos que ingressou no nosso ordenamento em conformidade como o parágrafo 3º do artigo 5º da Constituição Federal e, por isso, tem inquestionável status de norma constitucional. O direito à educação mereceu especial atenção nesse documento, em seu art. 24[8]. Nele os Estados-Partes se comprometem a assegurar um sistema educacional inclusivo em todos os níveis de ensino (portanto, no ensino superior também!). Destarte, qualquer Governo ou escola que pratique o ensino segregado, que não ofereça um ambiente de diversidade e TODA ESTRUTURA necessária para o atendimento das necessidades especiais que alguns alunos possam apresentar, está violando um direito humano de seus educandos. O direito à educação inclusiva não é apenas um direito dos alunos que têm deficiência, porém, também daqueles que não as têm, porque TODOS precisam aprender a conviver com as diferenças para se desenvolverem plenamente como seres humanos e cidadãos conscientes. Observe-se que o referido artigo 24 da Convenção Internacional prevê como objetivos da educação, dentre outros: o pleno desenvolvimento do potencial humano e do senso de dignidade e auto-estima, além do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos, pelas liberdades fundamentais e pela diversidade humana; o máximo desenvolvimento possível da personalidade e dos talentos e da criatividade das pessoas com deficiência, assim como de suas habilidades físicas e intelectuais; e a participação efetiva das pessoas com deficiência em uma sociedade livre. Oportuno, ainda, ressaltar que, para ser inclusiva, não basta que a escola coloque na mesma sala de aula alunos com e sem deficiência. É preciso que se forneça TODO o aparato necessário para igualdade de acesso e permanência, dando oportunidade a todos os estudantes de desenvolverem suas potencialidades. Então, em se tratando de ensino superior, o primeiro passo para inclusão de pessoas com deficiência nas universidades e faculdades é a verificação da acessibilidade da instituição, atentando para o espaço físico, o fornecimento de tecnologias e materiais adequados a quem necessitar e, principalmente, a preparação dos docentes para atender a uma demanda diferenciada. A acessibilidade atitudinal é um grande desafio numa sociedade que, apesar do grande número de pessoas com deficiência, ainda não está acostumada a tratar o tema com naturalidade. O professor universitário não pode perder de vista que, antes de tudo, tem de ser um educador e que, dessa forma, tem de ser comprometido com os processos de aprendizagem/ensinagem, nos quais os personagens principais são os alunos. É preciso que perceba que cada um dos educandos tem características e necessidades próprias, que os estudantes são diferentes e devem assim ser vistos (sem dúvida isso não é uma tarefa fácil, mas faz parte do ofício de quem escolheu trabalhar com Educação). Frise-se: não são só os alunos com deficiência que são diferentes (talvez suas diferenças possam ser um pouco mais perceptíveis), mas TODOS os alunos são únicos. Por fim, não se pode olvidar que mesmo as Universidades e Faculdades particulares têm a obrigação de fornecer acessibilidade e estrutura material, tecnológica e humana necessárias para a inclusão de alunos com deficiência e que os custos de tal fornecimento não podem ser cobrados individualmente do educando com necessidades especiais, mas devem ser contabilizados no valor total do curso de todos os alunos (dividem-se os custos totais do curso pela quantidade de alunos). Lembre-se que a iniciativa privada[9] tem acesso à prestação educacional como concessão de serviço público, sendo condicionada ao cumprimento das normas gerais da educação nacional e autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público. CONCLUSÃO A Educação é um direito de TODOS e visa o pleno desenvolvimento humano, a preparação para o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. O Ensino Superior, que é a etapa posterior à Educação Básica, por consequência, tem de seguir esses objetivos estabelecidos no artigo 205 da Constituição Federal. Ademais, em razão do foco deste estudo, dentre as finalidades estabelecidas Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para o Ensino Superior, destaca-se a formação de diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos a participarem no desenvolvimento da sociedade brasileira e a estimulação do conhecimento dos problemas do mundo, em particular os nacionais e regionais, além da prestação de serviços à comunidade estabelecendo uma relação de reciprocidade, uma vez que tais finalidades vão ao encontro do que se entende como dever de educar para a transformação social, para contribuição da escola na construção de um mundo melhor. Em outro lanço, resta incontroverso que a deficiência deve ser entendida como uma característica da diversidade humana e o conceito de pessoa com deficiência vigente em nosso ordenamento é dado pela Convenção Internacional sobre os direitos das pessoas com deficiência. A escola inclusiva – que é aquela que, além de colocar alunos com e sem deficiência na mesma sala de aula, oferece toda estrutura física, tecnológica, material e humana necessárias para atendimento de necessidades especiais – favorece o desenvolvimento humano e a preparação para o exercício da cidadania, beneficiando TODOS os educandos (e não apenas os que têm deficiência). Em análise última, ressalta-se que no Brasil, em razão do compromisso firmado e da incorporação da Convenção Internacional supra referida com status de norma constitucional, TODAS as etapas de ensino TEM de ser inclusivas. Logo, as Universidades e Faculdades têm de estar preparadas para receber (e manter) pessoas diferentes,com problemas e necessidades diferentes, por ser seu dever constitucional (ou seja, os Cursos Superiores – Particulares e Públicos – têm obrigação de serem inclusivos, sob pena de afronta a um direito humano de seus estudantes) Cresce o acesso da pessoa com deficiência ao ensino superior no país Inep aponta que de 2004 e 2014 as matrículas aumentaram 518,66%. Entretanto, do total de ingressos nas instituições elas representaram só 0,42%. Anderson Viegas Do G1 MS FACEBOOK Victor, que sonha com a universidade; Geraldo que já está fazendo o curso que escolheu e Rosa, que terminou a faculdade e fez até pós-graduação (Foto: Anderson Viegas/G1 MS e Arquivo Pessoal) Victor, que sonha com a universidade; Geraldo que já está fazendo o curso que escolheu e Rosa, que terminou a faculdade e fez até pós-graduação (Foto: Anderson Viegas/G1 MS e Arquivo Pessoal) A Convenção das Nações Unidas (ONU) sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência define em seu artigo 1º: “Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas”. Em Mato Grosso do Sul, pessoas como Rosa Cristina dos Santos Dalmazo, de 36 anos, Geraldo Júnior Duarte Brites Cabreira, de 23 anos, e Victor do Nascimento Teixeira, de 19 anos, estão lutando para superar as barreiras mencionadas pela ONU, e assegurar uma participação plena na sociedade. Para os três, o ensino superior é um marco nesta trajetória. Rosa, ou simplesmente Rosinha, como é carinhosamente chamada por todos no Centro Especializado em Reabilitação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Cer/Apae), em Campo Grande, onde trabalha há mais de dez anos, não somente atingiu esse marco, como o superou. Ela é graduada em Pedagogia, pela Uniderp, de Campo Grande, e tem pós-graduação em Psicopedagogia, pelo instituto de ensino Libera Limes. Ela tem uma síndrome que não pode ser diagnosticada pelos médicos e que causa hipotonia muscular, ou seja, a diminuição do tônus muscular e da força, além de um grau de miopia muito alto. Os problemas, segundo ela, atrasaram sua entrada na escola, ainda em Tupã, no interior de São Paulo, mas nunca impediram que depois tivesse um bom desempenho escolar. Rosa Cristina dos Santos Dalmazo é formada em Pedagogia e tem pós-graduação em Psicopedagogia (Foto: Anderson Viegas/G1 MS) Rosa Cristina dos Santos Dalmazo é formada em Pedagogia e tem pós-graduação em Psicopedagogia (Foto: Anderson Viegas/G1 MS) “Demorei para entrar na escola porque tive dificuldades para andar. Tinha os pés tortos e caia muito. Não podia correr. Além disso, aos seis anos já tinha seis graus de miopia. Via meus irmãos indo para a escola e sentia muita falta de estudar, tanto que quando entrei na escola [um colégio convencional], me esforçava muito. A visão sempre foi o maior problema. Tinha dificuldades para copiar as matérias do quadro, por isso, sempre sentava na frente e prestava muita atenção na explicação do professor”, lembra, completando que graças a esse empenho sempre foi a primeira ou esteve entre as primeiras da turma. Com 15 anos, Rosa e a família deixaram o interior de São Paulo e vieram para Campo Grande, onde também em uma escola convencional ela cursou o ensino médio. “As dificuldades foram grandes. Faltava desde material diferenciado, pessoal capacitado até estrutura na escola, mas eu não desanimava, sempre buscava vencer a limitação”, afirma. Concluído o ensino médio, ela fez o vestibular e passou para o curso de Administração, na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), mas um descolamento de retina a fez interromper o sonho de fazer faculdade. “Fiquei um bom tempo sem poder usar óculos e não tinha como estudar, tive que abrir mão do curso”, relembra. Recuperada, resolveu fazer um novo vestibular, desta vez para um outro curso, o de Pedagogia, em uma universidade privada de Campo Grande, a Uniderp. “Me interessei pela área. Sabia que não poderia dar aula, mas poderia trabalhar na parte administrativa de uma escola”, revela, recordando que mesmo com o curso sendo semipresencial, as barreiras para concluí-lo foram grandes. “Tinha aulas presenciais duas vezes na semana e as dificuldades que tive nos outros níveis de ensino aumentaram, porque a qualidade da minha visão foi piorando. Os slides das matérias e os vídeos que eram apresentados, tinha muita dificuldade em ver, por isso, redobrava a atenção nas explicações. Foi difícil, mas não pensava que não ia conseguir, pensava em ir além, fazer pós-graduação. Sempre tive um foco e uma meta, desde pequena fui assim. Acho que o fato de não terem diagnosticado a síndrome que eu tenho acabou me ajudando. Como não sabiam ao certo o que tinha, não me falaram que eu tinha isso ou aquilo de limitação e aí fui seguindo em frente. Terminei a faculdade. Sou a única pessoa da minha família que tem ensino superior e depois fiz a tão sonhada pós-graduação”, comenta. saiba mais Prazo para atendimento especial e uso do nome social no Enem vai até dia 8 De casa nova, associação de autistas inicia projeto de emprego apoiado Prefeitura de Campo Grande vai fazer censo para portadores de deficiência O trabalho na Apae, conforme ela, começou mais ou menos na mesma época da faculdade e como voluntaria, para ajudar a organizar as pastas com as evoluções dos pacientes atendidos pela instituição. Em uma semana ela conseguiu colocar fim a um atraso de mais de três semanas nas anotações dos profissionais. Após um ano e meio de dedicação a instituição, Rosa foi contratada como colaboradora e hoje é a responsável pelo arquivo da entidade, onde estão milhares de pastas com os prontuários de todos os pacientes. Em razão do agravamento dos problemas de visão, Rosa implementou algumas mudanças no setor. Por exemplo, as ficha de identificação das pastas que antes eram preenchidas a mão, atualmente são todas digitadas e com uma fonte grande, o que facilita sua visão. Além disso os tipos e cores de pastas foram padronizados. Em relação ao futuro, ela revela que o sonho é voltar a estudar, mas desta vez com um objetivo diferente, para um concurso público. Rosa conseguiu com muito esforço e empenho terminar sua faculdade e fazer ainda uma pós- graduação. Entretanto, no contexto da pessoa com deficiência no Brasil ela representa uma minoria. De acordo com os dados do Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre as pessoas com deficiência com mais de 15 anos no país, 61,13% não têm instrução ou têm somente o ensino fundamental completo. Outros 14,15% têm ensino fundamental completo ou médio incompleto, 17,67% têm ensino médio completo ou superior completo e apenas 6,66% concluíram um curso superior. O Brasil, ainda conforme o último Censo, tinha em 2010, 45.606.048 pessoas com deficiência, o que representava 23,9% da população. Desse total, 525.979 eram moradores de Mato Grosso do Sul, o equivalente a 21,47% dos habitantes do estado na época. No estado, se Rosa já conseguiu realizar o sonho de concluir uma faculdade, Geraldo está no caminho. Ele nasceu em Bela Vista, a 324 quilômetros de Campo Grande e na hora do seu parto houve um problema. Faltou oxigênio para o seu cérebro, o que provocou uma paralisia cerebral. “Os médicos na época, chegaram a dizer para meus pais que eu teria apenas 72 horas de vida. Mas eu contrariei as previsões e estou aqui”, comenta o jovem. Em razão da paralisia, ele tem problemas neurológicos,dificuldades motoras e para falar e depende de uma cadeira de rodas para se movimentar. Infográfico das pessoas com deficiência no Brasil (Foto: Anderson Viegas/G1 MS) Ele conta que iniciou os estudos em uma escola convencional do próprio município, onde tinha o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar e depois passou para uma unidade da Sociedade Pestalozzi, que é especializada no atendimento a pessoas com deficiência, na cidade vizinha, Jardim. Depois foi estudar em um colégio convencional, também em Jardim, a Escola Estadual Antonio Pinto Pereira. “Lá eu contava com todos os recursos. Tinha acompanhamento dentro da sala de aula, o que me ajudava muito principalmente para fazer as provas, que eu precisava que fossem lidas para que eu respondesse oralmente. Eu recebia o tratamento de uma pessoa normal e ao mesmo tempo tinha qualidade de ensino”, explica. Desde que começou a estudar e inspirado no trabalho e sucesso profissional alcançado por uma conterrânea, Gerado revela que seu sonho era ser jornalista. “Me inspirei no trabalho da assessora de imprensa do Crea-MS [Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Mato Grosso do Sul], Janine de Paula. Ela também é da minha cidade e sempre me deu muito apoio neste sonho”, diz o jovem. Em busca da realização do sonho e com o apoio emocional e financeiro da família, que é proprietária de uma metalúrgica em sua cidade natal, ele conta que fez o vestibular em quatro instituições. Aprovado em todas, optou pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), que oferecia o curso que queria, Jornalismo, e onde já teria o amparo de um familiar, seu irmão mais velho, que já era aluno de Engenharia Civil, na mesma instituição. Com a assistência da família, Geraldo se mudou então para Campo Grande. Na casa que divide com o irmão e que fica próxima ao campus da universidade, ele conta com a ajuda de uma cuidadora, que o auxilia nas tarefas diárias. A ida e volta da faculdade é feita com o apoio do irmão. Geraldo Júnior Duarte Brites Cabreira é aluno do terceiro semestre de Jornalismo da UCDB e se inspirou em conterrânea para fazer a faculdade (Foto: Anderson Viegas/G1 MS) Geraldo Júnior Duarte Brites Cabreira é aluno do terceiro semestre de Jornalismo da UCDB e se inspirou em conterrânea para fazer a faculdade (Foto: Anderson Viegas/G1 MS) O jovem, que está no terceiro trimestre do curso, comenta que a adaptação não foi fácil. “Acho que todas as pessoas com deficiência precisam ser incluídas. O jornalismo precisa discutir mais essa questão e esse foi mais um motivo que me levou a escolher o curso, para ajudar a promover esse debate. A adaptação não foi fácil. Faculdade não é igual escola e enfrentei muitas dificuldades. Na escola, por exemplo, gravava todas as aulas para estudar, mas na faculdade alguns professores pediram que eu não gravasse, porque não queriam ter suas aulas divulgadas. Tive então que me adaptar, buscar uma alternativa”, explica. Na opinião de Geraldo, de um modo geral e não somente no ensino superior, falta preparação aos profissionais da educação para atender as pessoas com deficiência, e isso acaba se tornando uma barreira a mais para ser superada. No entanto, ele diz que a concretização do seu sonho é sua maior motivação. “Todo dia quando eu acordo penso que é uma nova oportunidade, uma nova chance para aprender coisas diferentes e que se eu não fizer nada, ninguém vai fazer nada por mim”, ressalta, apontando que um pensamento do filósofo e matemático francês do século XVII, René Descartes, resume como ele se define: “Eu penso, logo existo”. Segundo dados do Censo da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em um período de dez anos, entre 2004 e 2014, o acesso de pessoas com deficiência ao ensino superior, como é o caso de Geraldo e de Rosa, deu um salto no país, mas quando esses números são comparados com os dados totais de ingresso nas faculdades e universidades brasileiras, essa participação ainda é mínima. Em 2004, por exemplo, o número de pessoas com deficiência que se matricularam em cursos superiores presenciais e à distância no Brasil foi de 5.395, o que representou somente 0,12% do total de matriculas no país neste ano, que foi de 4.223.344, de acordo com o Inep. Já em 2014, por conta de um conjunto de fatores, como criação de novas instituições e cursos e, ainda estímulo ao acesso por meio de iniciativas como o Programa Universidade para Todos (Prouni), o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Programa de Financiamento Estudantil (Fies), o número de matriculados no ensino superior como um todo teve um grande incremento e o ingresso de pessoas com deficiência nestas instituições também cresceu. O Inep aponta que neste ano, 7.828.013 estudantes se matricularam em cursos superiores no país, o que representou um crescimento de 85,35%, frente a 2004. Em relação aos alunos com necessidades educativas especiais o aumento foi muito maior na mesma comparação, 518,66%, atingindo 33.377 matrículas. Apesar do ingresso das pessoas com deficiência ter aumentando três vezes e meia, em relação ao total de matriculas no ensino superior do país em 2014 o percentual não chegou nem perto de 1% do total, representando somente 0,42%. Em Mato Grosso do Sul, neste intervalo de dez anos o cenário foi bem semelhante ao registrado no Brasil. A quantidade total de alunos matriculados no ensino superior cresceu 81,54%, de 65.167 em 2004 para 118.291 em 2014 e de alunos com necessidades educativas especiais saltou de 82 para 667, um incremento de 713,41%. Já a representação da pessoa com deficiência em relação ao total de matriculas nos cursos superiores no estado que era de 0,12% subiu para 0,56% do total. A dificuldade do ingresso de uma pessoa com deficiência em um curso superior retratada por esses números é uma realidade vivenciada por Victor. Ele tem baixa visão e autismo. Terminou o ensino médio, mas por não ter o curso que pretende fazer, Jornalismo, no seu município, Itaporã, a 225 quilômetros de Campo Grande, por enquanto, não conseguiu chegar ao ensino superior. Victor conta que iniciou seus estudos na APAE em Itaporã, de onde saiu alfabetizado. Ele diz que quando tinha seis anos sua mãe fez uma tentativa para inseri-lo em uma escola convencional, um colégio do município, mas que não deu certo, porque ele sofria maus-tratos. Infográfico da pessoa com deficiência no ensino superior (Foto: Anderson Viegas/G1 MS) Isso fez com que ele saísse do colégio e ficasse sem freqüentar o ensino regular por cerca de três anos até retornar, desta vez para uma unidade da rede estadual, a Escola Estadual Antônio João Ribeiro, onde concluiu o ensino médio. “Neste colégio eu recebia muito apoio. Havia até uma funcionária que cuidava de mim na hora do recreio. Como tinha muita dificuldade para enxergar o quadro, meus colegas fechavam as cortinas da sala para evitar que o sol batesse na lousa. A direção da escola colocava ainda uma iluminação diferenciada na sala, para que eu pudesse ver melhor. Eu também me esforçava e tirava notas boas. Entre 2011 e 2014, o governo do estado premiava os alunos mais aplicados e eu ganhei neste período um notebook e três tabletes como prêmios por meu desempenho”, recorda. O sonho de fazer a faculdade de Jornalismo nasceu, conforme ele, há cerca de seis anos. “Na minha casa não tem parabólica, então eu via muito o jornalismo local. Comecei a me interessar cada vez mais pela área até decidir que era isso que eu queria fazer”, revela. Para tentar realizar o sonho, Victor comentaque já fez o Enem, e que em todas as disciplinas sua pontuação foi acima de 500 pontos, obtendo na redação 720 pontos. “Hoje meu maior problema é que o curso que eu quero não tem em Itaporã e nem em Dourados, que é a cidade mais próxima. E eu não tenho como ir para Campo Grande”, lamenta. O jovem aponta que além dessa indisponibilidade de cursos, outra dificuldade para ampliar o acesso do deficiente ao ensino superior é o preconceito. “É muito fácil culpar o governo [pela dificuldades de acesso as faculdades e universidades], mas é necessário que tomemos atitude e aceitemos que os direitos são iguais para todos e fazer isso ocorrer na prática”, afirma. Enquanto não consegue realizar o sonho de cursar uma faculdade de jornalismo, Victor “ensaia” para trabalhar na profissão escrevendo em seu blog, o http://victorteixeiraaborda.blogspot.com.br/. Victor, que sonha com a universidade; Geraldo que já está fazendo o curso que escolheu e Rosa, que terminou a faculdade e fez até pós-graduação (Foto: Arquivo Pessoa/Victor do Nascimento) Victor do Nascimento Teixeira sonha em fazer faculdade de Jornalismo e ensaia para o trabalho escrevendo em seu blog (Foto: Arquivo Pessoal/Victor do Nascimento) “Eu comecei com o blog em 12 de junho de 2013. Eu escrevo comentários sobre notícias, abordo muitas coisas que acontecem em nosso estado e fatos que descubro por conta própria, pesquisando no noticiário de outros estados e países. Para isso, eu utilizo também do meu interesse por línguas diferentes, que vai muito além do inglês. Aprecio, por exemplo, os idiomas do Leste Europeu e os da Escandinávia. Em todos os casos procuro analisar os acontecimentos de um modo mais aprofundado”, explica. Políticas de inclusão Segundo o Ministério da Educação (MEC), desde 2008 foi instituída a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Seu objetivo é promover a transformação dos atuais sistemas de ensino em sistemas educacionais inclusivos. Tem como estratégias a garantia do acesso e a permanência dos estudantes com deficiência, por meio de ações que visem à eliminação de barreiras físicas, pedagógicas e na comunicação, assim como como nos ambientes, tendo como foco a promoção da autonomia e a igualdade de direitos dos alunos com deficiência. No caso do ensino superior, essa política visa assegurar as pessoas com deficiência o seu ingresso e as oportunidades de desenvolvimento pessoal, social e profissional, bem como não restringir sua participação em determinados ambientes e atividades em razão da deficiência. Conforme o MEC, a política de acessibilidade no ensino superior está consolidada por uma ampla legislação composta por leis, decretos e normas, além da própria Constituição Federal de 1988 (veja a relação completa no infográfico abaixo). Infográfico da legislação sobre acessibilidade no ensino superior brasileiro (Foto: Anderson Viegas/G1 MS) Além disso, o ministério aponta que desde 2005 vem sendo executado nas instituições de ensino superior federais do país o Programa Incluir, que visa propor ações que garantam o acesso e a permanência das pessoas com deficiência nestas universidades. Entre as principais ações do programa estão o estímulo a criação e a consolidação de núcleos de acessibilidade nas universidades federais. Esses núcleos respondem pela organização de ações que garantam a inclusão de pessoas com deficiência à vida acadêmica, eliminando barreiras pedagógicas, arquitetônicas e na comunicação, promovendo o cumprimento dos requisitos legais de acessibilidade. Piso tátil e rampa de acesso em prédio do campus da UCDB, em Campo Grande (Foto: Anderson Viegas/G1 MS) Piso tátil e rampa de acesso em prédio do campus da UCDB, em Campo Grande (Foto: Anderson Viegas/G1 MS) Na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) foi criado em 2013, a Divisão de Acessibilidade e Ações Afirmativas (DIAF), que está ligada Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis (Preae), para atender justamente os estudantes com deficiência. A chefe do DIAF, professora Alexandra Ayach Anache, disse que a divisão trabalha focada em três eixos temáticos para o atendimento aos alunos com necessidades educativas especiais. O primeiro é o da formação de profissionais, que visa levar a professores e técnicos da instituição, orientações e cursos que visem o desenvolvimento de práticas educacionais inclusivas e para o uso da Língua Brasileira de Sinais (Libras), tradutor ou intérprete de leitura do sistema Braille, serviços de audiodescrição e profissionais que atuam com tecnologias assistivas. Já o segundo eixo, conforme a professora visa a adequação curricular da instituição e tem o objetivo da construção de grades que atendam a diversidade das características educacionais dos estudantes com deficiência, garantindo-lhes o acesso, a permanência e o máximo de autonomia para concluírem o curso superior. O terceiro eixo de atuação da divisão, de acordo com Alexandra, é o da adequação da infraestrutura. Ela explicou que com boa parte da sua estrutura construída entre as décadas de 60 e 80, a UFMS tem passado nos últimos anos por diversas intervenções que visam tornar prédios, calçadas, espaços de convivência, estacionamentos e banheiros, entre outros, acessíveis. Chefe do DIAF da UFMS, professora Alexandra Ayach Anache (Foto: Anderson Viegas/G1 MS) Chefe do DIAF da UFMS, professora Alexandra Ayach Anache (Foto: Anderson Viegas/G1 MS) Uma das principais ações neste eixo de atuação, conforme ela, foi a da implantação da Rota Acessível no campus de Campo Grande. Por meio dessa iniciativa, foi feita uma readequação da rota mais utilizada pelos estudantes dentro da universidade, incluindo colocação de piso tátil, rampas e calçadas. Entre 2014 e 2016, segundo dados levantados pelo DIAF, o número de alunos com necessidades educacionais especiais matriculados na UFMS aumentou 30,65%, passando de 137 estudantes para 179. Neste ano, o curso com a maior quantidade de pessoas com deficiência, de acordo com a divisão, é o de Matemática, com 17, mas outros 38 cursos da instituição têm pelo menos um aluno deficiente matriculado. “A acessibilidade já avançou muito na instituição, mas é preciso ir além, avançar ainda mais com a transformação da divisão em um núcleo, com o aumento da estrutura para atendimento ao aluno, melhoria na acessibilidade da instituição e maior capacitação dos profissionais. É preciso evoluir”, ressaltou a professora. A Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), uma instituição privada de ensino, também possui em sua estrutura uma unidade especifica para atender os estudantes com deficiência, o Núcleo de Apoio Pedagógico (NAP), que é vinculado a Pró-Reitoria de Ensino e Desenvolvimento (Proed). A coordenadora do NAP, professora Maineide Zanotto Velasques, destaca que o núcleo trabalha basicamente para atender as necessidades dos alunos, capacitar os profissionais e melhorar a acessibilidade da instituição. No atendimento aos alunos, ela explica que é feito um trabalho de acolhida ao estudante com necessidades educacionais especiais, que envolve desde uma orientação dos colegas de sala até a capacitação dos profissionais que vão trabalhar com ele no dia a dia, como professores, por exemplo. Coordenadora do NAP da UCDB, professora Maineide Zanotto Velasques (Foto: Anderson Viegas/G1 MS) Coordenadora do NAP da UCDB, professora Maineide Zanotto Velasques (Foto: Anderson Viegas/G1 MS) Ela explica que em razão das dificuldades que cada aluno possui é definido o tipo de atendimento que elereceberá. “Um deficiente visual, por exemplo, vai precisar de textos em Braille ou de um equipamento que scaneie as páginas de um livro e depois leia para ele o que está escrito. Já um surdo precisará de uma intérprete de Libras, uma pessoa com paralisia cerebral demandará um acompanhante permanente em sala de aula, e assim por diante”, comenta. Em relação as capacitações dos profissionais para atenderem aos alunos com necessidades educacionais especiais, a coordenadora do NAP comenta que esse é um trabalho constante, que é oferecido a professores e técnicos. É promovido por meio de oficinas e cursos que são realizados pela própria equipe de educadores da instituição e também por profissionais de entidades como o Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual (Capdv). Banheiros adaptados para pessoas com deficiência no campus da UCDB em Campo Grande (Foto: Anderson Viegas/G1 MS) Banheiros adaptados para pessoas com deficiência no campus da UCDB em Campo Grande (Foto: Anderson Viegas/G1 MS) Quanto a questão da infraestrutura para a acessibilidade, a coordenadora ressaltou que nos últimos anos a instituição fez uma série de adaptações para atender a demanda de alunos que apresentavam alguma dificuldade, com a implantação de rampas, banheiros adaptados, elevadores, sinalizadores em Braille e piso tátil em todos os setores da universidade, inclusive no ponto de ônibus. Maineide ressalta que todo o trabalho desenvolvido na instituição com as pessoas com deficiência é voltado para estimular a autonomia. “Inicialmente eles sofrem para se adaptar, mas aos poucos, gradativamente vão se ajustando. Ocorre uma flexibilização da universiddae para ajudá-los a crescer como pessoas, a serem mais independentes e a se tornarem bons profissionais nas áreas em que escolherem para trabalhar”. Em 2016, conforme ela, a UCDB, tem 23 alunos com necessidades educacionais especiais matriculados em seus cursos. O ensino superior e a pessoa com deficiência Laura Martins 23 de abril de 2016Acessibilidade, Adaptações, Direitos, Discriminação, Filosofando Em seu novo post, Meire Elem Galvão conversa com você sobre as leis que garantem à pessoa com deficiência a inclusão no ensino superior. Se você tem o desejo de fazer um curso superior, além da mochila você precisa conhecer seus direitos! Se você é pessoa com deficiência e tem o desejo de fazer um curso superior, não basta carregar uma mochila com livros. Você precisa conhecer seus direitos! (Foto de Marta Alencar) Por Meire Elem Galvão Olá, cadeira voadora! No último texto escrevi sobre a reserva de vagas para pessoas com deficiência na graduação. Estou de volta, e desta vez para falar com você sobre o direito de ser tratado em condições de igualdade nas instituições de ensino superior. Vou apresentar alguns relatos (inclusive o meu), pois acredito que irão acrescentar muito pela variedade de experiências, umas boas e outras não tão boas assim, mas todas servirão como aprendizado. Geralmente a lei só é cumprida quando surge uma demanda real. E é quase sempre assim que acontece quando a pessoa com deficiência ingressa em uma instituição de ensino superior. Iniciemos pela legislação. É importante lembrar que a Carta Magna – a Constituição da República de 1988 – garante: que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza; atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; acesso aos níveis mais elevados de ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; que a lei disporá sobre a adaptação dos logradouros e dos edifícios de uso público. Já a Lei Brasileira da Inclusão, que vigora há pouco tempo, possui um capítulo sobre o direito à educação, e, neste, três artigos* tratam o tema. Entre todas as garantias, a que quero citar é a que está no art. 28, especialmente no inciso XIII, que diz: Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar: (…) XIII acesso à educação superior e à educação profissional e tecnológica em igualdade de oportunidades e condições com as demais pessoas; (…) Temos ainda: Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade. Lei n.º 9.394, de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional e especificamente, nos artigos 58, 59 e 60, prevê o atendimento educacional especializado para estudantes com deficiência nos diferentes níveis de ensino. Decreto nº 5.296, de 2004, que dá prioridade de atendimento às pessoas com deficiência e mobilidade reduzida e estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade. Portaria 3.284, de 2003, que estabelece as condições básicas para a inclusão do aluno com deficiência no ensino superior. Como pode notar, nosso país tem uma legislação muito vasta em relação aos direitos da pessoa com deficiência, mas estamos distantes de torná-los efetivos. Entretanto caminhamos, e isso é o que importa! Geralmente a lei só é cumprida quando surge uma demanda real. E é quase sempre assim que acontece quando a pessoa com deficiência ingressa em uma instituição de ensino superior. Veja abaixo os relatos de quem viveu a experiência. Relatos de quem viveu a experiência Em alguns anos na universidade, Meire viu a situação mudar sensivelmente (Foto do acervo de Meire Elem Galvão) Em alguns anos na universidade, Meire viu a situação mudar sensivelmente. Na imagem, balcão rebaixado. (Foto do acervo de Meire Elem Galvão) Quando iniciei o curso de Direito no 2º semestre de 2010, a instituição não possuía piso tátil e faixa direcional, não tinha bebedouros e balcões de atendimento na altura acessível para quem está na cadeira de rodas, os banheiros para cadeirantes não respeitavam a norma técnica, não havia vagas reservadas no estacionamento. No 2º semestre de 2015, quando deixei a instituição, tudo isso já estava disponível. Foi necessário mostrar que existe legislação que prevê essas adaptações, demonstrar a importância de cada uma dessas mudanças e cobrar, para que elas se tornassem reais. Entretanto os elevadores ainda não respeitam a Norma da ABNT NBR 13994. Ela determina que o sistema de reabertura das portas deve atuar sem necessidade de contato físico de pessoa ou objeto na entrada, nas alturas de 50 mm até 1 200 mm acima do nível do piso da cabina com mínimo de 16 feixes de luz. Para usar o elevador o cadeirante precisa levantar o braço todo e tocar o sensor, e aquele que não consegue fazer esse movimento (como eu) precisa da ajuda de um terceiro. Se você quer, tente, lute e só desista quando não tiver mais o fôlego de vida. (Meire Elem, 33 anos, amiotrofia muscular espinhal forma intermediária, cursou Direito no Centro Universitário Newton Paiva, no período de 2010 a 2015.) Ítalo fala de sua experiência na universidade. (Foto cedida pelo entrevistado) Ítalo relata sua experiência na universidade. (Foto cedida pelo entrevistado) Quando entrei para a UFMG imaginei que a instituição estaria preparada para receber alunos com deficiência. O fato é que me deparei com uma falsa acessibilidade. Digo falsa, pois existiam elevadores que ficavam a maior parte do tempo com defeito, rampas de acesso entre calçadas e prédios quebradas/incompletas ou a inexistência delas, banheiros adaptados trancados aos quais somente funcionários do administrativotinham acesso, inexistência de carteira adaptada para cadeira de rodas, total falta de acesso aos restaurantes universitários. Ao longo dos anos as coisas foram melhorando, mas estão longe do ideal. O elevador, quando quebra, é consertado no prazo de 1 ou 2 dias no máximo. Depois de 2 anos consegui, através de um núcleo de acessibilidade (criado recentemente), uma carteira adaptada para cadeira de rodas. Já os banheiros adaptados continuam trancados e sendo utilizados pelo pessoal da administração; a diferença é que “ganhei” a chave de um deles. As demais demandas nem mesmo acionando o Ministério Público foram atendidas. A pessoa com deficiência que deseja estudar deve seguir sua vontade, independentemente das barreiras arquitetônicas e sociais que existem. Não podemos deixar de fazer/estar/ocupar nada em detrimento das dificuldades encontradas no nosso cotidiano; se deixarmos, fortalecemos as diferenças e os impedimentos a nós impostos. Se porventura a instituição não atender suas necessidades, grite, grite alto!!! (Ítalo Cássio de Assis, 29 anos, amiotrofia muscular espinhal tipo 2, ingressou no curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Minas Gerais em 2013, com previsão de formatura em 2017.) Priscila Fonseca enfrentou muitos desafios para concluir o curso. Priscila Fonseca enfrentou muitos desafios para concluir o curso. (Foto cedida pela entrevistada) A cadeira não passava na entrada principal da faculdade; precisava entrar pela garagem, e para chegar ao elevador era preciso vencer um degrau. O acesso à cantina possuía um degrau duplo, e o medo de cair é maior, pois demanda mais ajuda do que um degrau comum. Os banheiros não eram adaptados e muitas vezes serviam de depósito. O apoio dos professores e dos coordenadores em relação às atividades pedagógicas foi excelente; eles me ouviam e davam total ajuda e segurança. Havia o problema de pegar elevador, ninguém dava o lugar para mim, isso é um problema social. Por esse problema, na hora do intervalo ficava na sala, e o convívio com os colegas diminuiu. No último ano os alunos se mobilizaram e conseguiram tirar algumas barreiras arquitetônicas. Fizeram rampas e arrumaram os banheiros. As dificuldades sempre irão existir. Se você quer fazer um curso superior, não desista, pois sempre terá alguém com boa vontade para ajudar. E certamente algumas mudanças vão acontecendo. E você abrirá um caminho mais digno para outras pessoas com deficiência. (Priscila de Toledo Fonseca, 31 anos, tem paralisia cerebral, cursou Design Gráfico, no período de 2008 a 2014, na Universidade do Estado de Minas Gerais – Escola de Design. Ela publica seus textos no blog Feito com os Pés.) Aviso às instituições e aos profissionais da educação!!! O Ministério da Educação criou o Programa Incluir – Acessibilidade à Educação Superior com o objetivo de promover a inclusão de estudantes com deficiência na educação superior, garantindo condições de acessibilidade nas Instituições Federais de Educação Superior (IFES). Esse programa tem como principais ações possibilitar: adequação arquitetônica para acessibilidade nos diversos ambientes das IFES, aquisição de recursos de tecnologia assistiva para promoção de acessibilidade pedagógica, aquisição e desenvolvimento de material didático e pedagógico acessíveis e aquisição e adequação de mobiliários para acessibilidade. Degrau na escola onde Priscila Fonseca estudou. (Foto cedida pela entrevistada) Degrau na escola onde Priscila Fonseca estudou. (Foto cedida pela entrevistada) Além desse programa acredito ser de grande utilidade os manuais disponibilizados pelo Comitê de Inclusão e Acessibilidade (CIA) da Universidade Federal da Paraíba; criado no dia 26 de novembro de 2013, é uma assessoria especial vinculada diretamente ao Gabinete da Reitoria. Programa Incluir – Acessibilidade à Educação Superior Objetivo: Promover a inclusão de estudantes com deficiência, na educação superior, garantindo condições de acessibilidade nas Instituições Federais de Educação Superior. Ações: Adequação arquitetônica para acessibilidade nos diversos ambientes das IFES – rampa, barra de apoio, corrimão, piso e sinalização tátil, sinalizadores, alargamento de portas e vias, instalação de elevadores, dentre outras; Aquisição de recursos de tecnologia assistiva para promoção de acessibilidade pedagógica, nas comunicações e informações, aos estudantes com deficiência e demais membros da comunidade universitária - computador com interface de acessibilidade, impressora Braille, linha Braille, lupa eletrônica, teclado com colméia, acionadores acessíveis, dentre outros; Aquisição e desenvolvimento de material didático e pedagógico acessíveis Aquisição e adequação de mobiliários para acessibilidade. Como acessar: As IFES elaboram e executam projetos apoiados pelo MEC por meio da SESU e SECADI. Documentos: Documento Orientador do Programa Incluir: Acessibilidade na Educação Superior Decreto n° 7.234/2010; Relação das IFES contempladas até 2010. RESUMO o objetivo do presente estudo foi levantar o número de alunos auto-declarados com deficiência em processo de inclusão no ensino superior nas instituições públicas e privadas de Juiz de Fora. Tal temática merece destaque vista as políticas implementadas pelo Governo Federal de acesso ao Ensino Superior, como o ProUni, o REUNI e o FIES a fim de ampliar o nível de escolarização da população. Assim, foram pesquisadas 11 Instituições de Ensino Superior de Juiz de Fora, sendo dez privadas e uma pública. Para tanto, foram entrevistados os coordenadores de cursos que contavam, no período da coleta de dados, com alunos auto- declarados com deficiência, regularmente matriculados e frequentando o curso. As entrevistas foram submetidas à análise de conteúdo. Foi possível perceber que existem, atualmente, 45 alunos com deficiência matriculados e frequentes em cursos de ensino superior da cidade. A rede privada representa 82,2% desse total e a rede pública federal, 17,8%. Portanto, é de grande relevância a concretização de estudos que visem ampliar as informações sobre a inclusão de pessoas com deficiência na rede de ensino brasileira. Isso possibilitará o entendimento do processo de dificuldades, luta e superação desses estudantes até a chegada ao Ensino Superior. Esta questão tem sido importante para dar assistência aos profissionais envolvidos na ação pelo direito das pessoas com deficiência e o acesso dos mesmos, em especial, no meio educacional. Palavras-chave: Educação Especial. Pessoa com Deficiência. Ensino Superior. 1 INTRODUÇÃO Esse artigo tem como tema principal a inclusão de pessoas com deficiência no ensino superior. Tal temática merece destaque vista as políticas implementadas pelo Governo Federal de acesso ao Ensino Superior, como o Pro-Uni, o REUNI e o FIES, com o objetivo de ampliar o nível de escolarização da população. No mundo contemporâneo, a inclusão do aluno com deficiência representa desafio, desde a modalidade de Educação Infantil até o Ensino Superior, em instituições públicas e privadas. No Brasil, as estatísticas oficiais, estudos e pesquisas, elucidam principalmente a condição desse alunado em processo de inclusão na educação básica subsidiados pelas Declarações de Educação para Todos (UNESCO, 1990) e de Salamanca (ONU, 1994). Todavia, pouco se tem documentado sobre a inclusão de pessoas com deficiência no ensino superior, indicando uma carência de reflexões, estudos e estatísticas dificultando, assim, a formulação de políticas públicas que contemplem açõesque avancem para uma educação inclusiva também no ensino superior. Entre estes poucos, podemos citar, atualmente, estudiosos como: Silva et al. (2012); Vianna, Tardelli e Almeida (2012); Inajara, Santana e Silva (2010); Ferreira (2007); Pereira (2007); Chahini (2006); Mansini e Bazon (2006); Pellegrini (2006); Perini (2006) e Rodrigues (2004). Estes autores se dedicaram a estudar este paradigma educacional da sociedade pós-moderna apontado valores, processos, caminhos e dificuldades a serem considerados a respeito das possibilidades de acesso e permanência de pessoas com deficiência no ensino superior. Especificamente em Juiz de Fora/MG, não foi possível encontrar dados referentes ao número de pessoas com deficiência em seus diversos cursos de graduação sequer na única universidade pública da cidade tampouco nas faculdades privadas. Por esta lacuna de dados locais, contou-se apenas com valores nacionais que apontam para o crescimento do número de matrícula de alunos com deficiência no ensino superior de uma forma geral. Segundo o Censo da Educação Superior MEC/INEP (BRASIL, 2012), havia, neste ano, 22.455 matrículas de alunos com deficiência no ensino superior, sendo deste total, 16.790 nas Instituições Privadas de Ensino Superior e 4.437 nas Instituições Federais de Ensino Superior. É neste sentido que este estudo se justifica, visto que há uma necessidade contemporânea de estabelecer processos e metodologias em políticas educacionais, que considerem sobremaneira a diversidade humana e contemplem o Ensino Superior. Assim, na cidade de Juiz de Fora, há uma barreira para o estabelecimento de tais políticas educacionais, visto que não foram encontrados dados epidemiológicos que abranjam a inclusão de pessoas com deficiência no Ensino Superior. Estes dados tornam-se, portanto, importantes e necessários para o desenvolvimento de estratégias e ações em políticas públicas educacionais. Neste sentido, apresenta-se essa proposta de estudo no intuito de levantar informações relevantes sobre a inclusão de alunos com deficiência nas Instituições de Ensino Superior (IES) de Juiz de Fora. Portanto, este estudo teve como objetivo relatar a inclusão de pessoas com deficiência nas IES pública e privadas de Juiz de Fora/MG. 1.1 A inclusão/exclusão educacional das pessoas com deficiência Podemos considerar o conceito de inclusão muito recente se comparado a trajetória secular de exclusão. Referindo-se aos estudos de Machado, Tres e Oliveira (2011), Carmo (2008), Ferreira e Guimarães (2003) e Mazzota (1996), é possível perceber que ao longo dos séculos houve diversas mudanças conceituais sobre a deficiência e sobre o tratamento dispensado pela sociedade às pessoas que apresentavam deficiências físicas, intelectuais ou sensoriais. Para se ter uma ideia, na Antiguidade estas pessoas eram exterminadas, pois se acreditava que eram amaldiçoadas. Somente na Idade Média, este comportamento começou a mudar, devido à influência da Igreja Católica, que considerava todos como criaturas de Deus, independente de possuir ou não uma deficiência. No entanto, elas deixaram de ser mortas para serem segregadas e depender da caridade alheia para sua sobrevivência. Com a intenção de romper este paradigma de segregação e adotar as ideias de normalização, foi criado o conceito de Integração, referente à necessidade de modificar a pessoa com deficiência - e não a sociedade - de forma que esta pudesse assemelhar-se, o máximo possível, aos demais, para ser inserida e integrada no convívio social. Entretanto, como afirmam Ferreira e Guimarães (2003) e Mazzota (1996), normalizar o indivíduo com deficiência passou a não fazer sentido. O conceito de normalidade é muito relativo e subjetivo. Assim, esclarece Oliveira: O surgimento de terminologias ligadas à Educação Especial entre elas a integração, a normalização, a inclusão, a diversidade, e outras tantas, refletem a sobrecarga que carrega todo aquele que é diferente, que não se encaixa a modelos pré- estabelecidos que o levem a fazer parte de grupos homogêneos, que se autodeterminam ser iguais perante outros considerados diferentes (OLIVEIRA, 2012, p. 2). Diante disso, chegou-se à conclusão de que a sociedade também teria sua parcela de contribuição ao processo de inserção das pessoas com deficiência. Os sistemas sociais, que durante séculos não contemplaram as necessidades específicas provenientes da diversidade humana, teriam que se transformar de modo a atender a todos. O processo deve ser bidirecional. Diante destas constatações e das inúmeras mudanças que vemos hoje eclodir na sociedade, surge o movimento da inclusão, que é consequência da visão social de um mundo democrático, onde se anseia respeitar direitos e deveres de todos, independente das diferenças de cada um. A limitação de uma pessoa não pode diminuir seus direitos. As pessoas com deficiência são cidadãos e fazem parte da sociedade e esta deve se preparar para lidar com a diversidade humana. A "escolarização" é fundamental na constituição do indivíduo que vive em uma sociedade como a nossa, ainda marcada pela exclusão, fracasso e o abandono em todos os níveis de ensino. De fato, essa falha significa um grave impedimento da apropriação do saber sistematizado, da construção de funções psicológicas mais sofisticadas, de instrumentos de atuação no meio social e de transformação do sujeito e das condições para a construção de novos conhecimentos (REGO, 2003). 1.2 A inclusão de pessoas com deficiências no Ensino Superior Embora sejamos a favor da luta pela inclusão escolar das pessoas com deficiência, reconhecemos que os sujeitos envolvidos sofrem todos os tipos de descriminação e de imposição de uma sociedade que os elimina sendo falsa a concepção de que caminhamos rumo à igualdade de oportunidades (PERINI, 2006, p. 111). Assevera-se que o pleno acesso e a permanência da pessoa com deficiência na escola não é ainda uma realidade. Diversos fatores culturais, políticos e sociais ainda contribuem para a manutenção desse quadro de dificuldade, incluindo a negação do direito de acesso à educação, podendo ser este um dos fatores que contribuem para o baixo índice de pessoas com deficiência inseridas no mercado de trabalho e/ou com rendimentos inferiores aos das pessoas sem deficiência (FERREIRA; DUARTE, 2010). Assim, pode-se considerar que o fato de estar "dentro" da sala de aula não implica, necessariamente, que os alunos com deficiência estejam incluídos nos processos de ensino e de aprendizagem, pois, para isso acontecer, eles precisam se mobilizar e, de fato, absorverem os conteúdos escolares (GOMES; LIMA, 2006). Não se pode esquecer ainda, que o desafio da inclusão no ensino superior passa por decisões que extrapolam os muros das universidades públicas. É preciso considerar que a universidade pública brasileira não pode ser tomada como a única responsável por este processo, mas como parte integrante da implementação de políticas públicas que garantam apoio financeiro às ações e iniciativas neste contexto. Paralelamente a essa situação, as IES Federais precisam estar cientes da importância de expor às instâncias governamentais as limitações que enfrentam e apontar encaminhamentos que devem ser tomados para que haja a garantia de acesso, ingresso e permanência desses estudantes, pois contam com profissionais das mais diversas áreas do conhecimento, que podem contribuir com ensino, pesquisa e extensão na área das necessidades educacionais especiais (MOREIRA, 2005). Também Mantoan e colaboradores expressam-se sobre esse tema afirmando que: Resistimos à inclusão escolar porque ela nos faz lembrar que temos uma dívida asaldar em relação aos alunos que excluímos, por motivos muitas vezes banais e inconsistentes, apoiados por uma organização pedagógica escolar que se destina a alunos ideais, padronizados por uma concepção de normalidade e de deficiência arbitrariamente definida (MANTOAN et al., 2011, p. 78). Acredita-se que com a inclusão, não só a pessoa com deficiência é beneficiada, mas todos aqueles envolvidos neste processo educacional. A convivência com a diversidade humana favorece a construção de novas relações e experiências tão indispensáveis e fundamentais na formação contemporânea humana e no desenvolvimento dos professores, profissionais e alunos, ampliando para eles a compreensão dos conceitos de justiça e direito (LIMA, 2007). 2 METODOLOGIA 2.1 Critérios éticos Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Juiz de Fora. Foi solicitada autorização a todas as IES pesquisadas e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi entregue a todos participantes. Todas as entrevistas foram gravadas em mídia digital e posteriormente transcritas na sua íntegra. Foi mantido sigilo nominal de todas instituições e entrevistados. Todo material se encontra arquivado, ficando disponível por cinco anos. Após este período, será destruído. 2.2 Participantes A cidade de Juiz de Fora/MG contava, na fase de coleta dos dados, com 11 IES, sendo 10 privadas e uma pública. Ao todo, essas instituições contavam com 116 coordenadores de cursos, dos quais 71 pertenciam à rede privada e 35, à rede pública. Entretanto, para serem incluídas como participantes da presente pesquisa, foram consideradas apenas as IES que contavam com alunos com deficiência em processo de inclusão, regularmente matriculados e frequentes no ano de 2009. Dessa forma, foram entrevistados 21 coordenadores de oito IES particulares das 10 iniciais, e 35 coordenadores dos cursos oferecidos pela IES pública. 2.3 Instrumentos Como principal instrumento de coleta de dados, foi elaborado um roteiro para as entrevistas o qual foi avaliado por uma banca de cinco doutores na área de inclusão. As sugestões de alterações foram acatadas para a construção da versão final desse instrumento. Além disso, foi aplicado um questionário sociodemográfico, contendo informações preliminares e importantes do encontro, tais como: data, local, instituição e curso. 2.5 Procedimentos Inicialmente, com o objetivo de levantar a existência de alunos com deficiência regularmente matriculados e frequentes nas 10 IES particulares, contataram-se as diretorias, secretarias ou núcleos de apoio psicopedagógicos. Na IES pública pesquisada, optou-se por entrevistar os 35 coordenadores de todos os cursos de graduação, devido à inexistência de informações a respeito da inclusão de alunos com deficiência. Nenhum órgão oficial tinha qualquer tipo de levantamento para quantificar e caracterizar os alunos com deficiência em processo de inclusão. Assumiu-se a escolha em entrevistar os coordenadores de todos os cursos por acreditar que estes têm uma visão processual e longitudinal do processo de inclusão da pessoa com deficiência nos cursos sob sua responsabilidade. Após o contato inicial, os objetivos e procedimentos da pesquisa foram esclarecidos e, com o consentimento para participação voluntária, foram agendadas entrevistas com os respectivos coordenadores de cursos. Foi solicitada formalmente a autorização para a gravação das entrevistas as quais foram realizadas em apenas uma sessão e em horários e locais variados. Procurou-se atender ao que era mais conveniente para o entrevistado, em geral, nas salas dos coordenadores. As perguntas e os temas centrais serviram como diretrizes as quais possibilitaram que o sujeito desenvolvesse seu próprio discurso. Sendo assim, as questões elaboradas não foram respondidas uma a uma, pois isso poderia limitar a narrativa do entrevistado, além de interromper o processo de pensamento. A coleta de dados foi realizada entre os meses de maio e junho de 2009. 2.6 Análise dos dados Os dados quantitativos percebidos a partir das transcrições das entrevistas e foco desse estudo foram analisados e interpretados com auxílio do programa Microsoft Excel for Windows XP. 3 RESULTADOS A partir dos dados recolhidos, foi possível perceber que existiam, em 2009, 45 alunos com deficiência matriculados e frequentes em cursos de graduação presencial nas IES pública e privadas. Ao analisar esse resultado por número total absoluto e relativo de pessoas com deficiência em processo de inclusão e por IES, percebeu-se que a pública apresentava oito alunos com deficiência (0,07%) em um total de 11.000 alunos matriculados em 45 cursos. As privadas possuíam, à mesma época, 37 alunos com deficiência (0,17%) em um total de 22.631 alunos matriculados em 85 cursos disponíveis. Foi possível perceber que o número de alunos com deficiência matriculados por IES privadas variou de zero a 12 (1,3%). Constatou-se assim que, em relação ao total de estudantes que cada categoria administrativa de instituição recebe, o número de alunos em processo de inclusão foi maior nas IES privadas (Tabela 1). Acredita-se que este fato se deve a aspectos tais como: o acesso, via processo seletivo, mais disputado e falta de política de cotas de vagas para pessoas com deficiência na IES pública; a maior disponibilidade de cursos noturnos, a possibilidade de bolsa pelo ProUni e até mesmo acesso facilitado à financiamento estudantil pelo FIES nas redes privadas. Estes valores, encontrados em uma realidade local, estão de acordo com a realidade nacional apresentada pelo Censo da Educação Superior de 2010 (BRASIL, 2012), ou seja, maior tendência de matrícula em cursos noturnos e em IES Privadas (distribuição representada no Gráfico 1). Em relação à distribuição dos alunos com deficiência nas áreas de conhecimento, como pode-se perceber no Gráfico 2, a maioria das matrículas concentra-se na área de Humanidades, seguida pela área de Saúde e Exatas. Na área de Humanidades, os cursos procurados foram: Pedagogia, Direito, Comunicação, Administração, Psicologia, Ciências Contábeis, História e Turismo. Na área da Saúde, Fisioterapia, Educação Física, Medicina e Ciências Biológicas foram os cursos mais frequentados. Na área de Exatas, havia alunos matriculados nos cursos de Arquitetura, Ciências da Computação, Design Gráfico, Matemática e Sistemas para Internet. Em relação ao sexo, os resultados demonstraram uma distribuição irregular: na rede pública, a maioria dos alunos com deficiência matriculados era do sexo feminino; ao contrário, na rede privada a maioria dos graduandos com deficiência eram do sexo masculino. Ao considerar ambas as redes de ensino, os resultados mantém a tendência observada na rede privada, isto é, maior número de matriculas do sexo masculino. Quando foram analisados os tipos de deficiência, concluiu-se que a deficiência visual apresenta, tanto nas IES privadas quanto na pública, um maior número de matrículas seguido pela deficiência física e auditiva (Gráfico 4). 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo teve como propósito relatar a inclusão de pessoas com deficiência no Ensino Superior em Juiz de Fora. A realização de estudos que visem ampliar as informações sobre a inclusão de pessoas com deficiência na rede de ensino brasileira, bem como entender o processo de dificuldades, luta e superação desses estudantes até chegar ao Ensino Superior, tem sido importante para auxiliar os profissionais que estão envolvidos na luta pelo direito das pessoas com deficiência e
Compartilhar