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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DA COMARCA DE FORTALEZA/CE RAQUEL, maior e capaz, brasileira, solteira, CPF XXX.XXX.XXX-XX, RG nº XX.XXX.XXX, natural e residente em Fortaleza, à rua XXXXXXXXXX, nº X, Bairro XXXXXXXXX, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, por intermédio de sua procuradora infra assinada, propor a seguinte AÇÃO DE ALIMENTOS GRAVÍDICOS com ANTECIPAÇÃO DE TUTELA em face de ROBSON, maior e capaz, brasileiro, solteiro, empresário, natural e residente no Rio de Janeiro, à rua XXXXXXXXXX, nº X, Bairro XXXXXXXXX, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos. Dos Fatos Robson era um bem sucedido empresário que visitava o Ceará semanalmente para tratar de seus negócios. Pois bem, ele e Raquel se conheceram e então começaram a namorar, sendo que passaram a frequentar todos os lugares juntos e Robson, a todo o tempo, a apresentava como sua namorada. Certo dia, após algum tempo, Raquel engravidou de Robson, e este, ao receber a notícia, se recusou a reconhecer o filho, alegando que o relacionamento entre eles estava acabado e que jamais desejava ser pai naquele momento, razão pela qual não reconheceria a paternidade da criança e muito menos iria contribuir economicamente para o bom curso da gestação e subsistência da mesma, que deveria ser criada por Raquel sozinha. Desalenta com a reação de Robson, pois, na descoberta da gravidez, Raquel estava desempregada e sem condições de custear seu plano de saúde bem como todas as despesas da gestação que, conforme atestado por seu médico, era de risco. E diante sua condição financeira – sem possibilidade de custear as despesas mínimas e necessárias para a sobrevivência da futura criança -, Raquel resolveu procurar orientação jurídica, tendo em vista que possui fotografias, declarações de amigos e documentos satisfatórias para conferir e ratificar a paternidade de Robson. Dos fundamentos A princípio, vale ressaltar que o ordenamento jurídico pátrio protege o direito à vida e à dignidade como sendo dois dos direitos fundamentais do ser humano. Esses direitos têm sua importância ressaltada pela Constituição Federal (art. 1º, III e art. 5º, caput) e ainda por diplomas legais internacionais dos quais o Brasil é signatário, a exemplo do Pacto de São José da Costa Rica, segundo o qual, em seu artigo 4º “toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido por lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente”. No caso em questão, a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro (art. 2º, do Código Civil). Ademais, a doutrina e jurisprudência clássica afirmam ser alguns dos direitos do nascituro mera expectativa - como direitos patrimoniais e de herança -; já os que estão relacionados à vida, são propriamente direitos fundamentais e irrenunciáveis, além de sujeitos a proteção jurídica especial. Assim, no que tange aos direitos do nascituro, protege-se especialmente o direito de filiação, o direito a alimentos, o direito à gestação saudável, o direito a acompanhamento pré-natal (art. 8º, do ECA), direito a um parto digno, dentre outros. Mais precisamente, a Lei n.º 11.804/08 (Lei de Alimentos Gravídicos), dando grande passo na almejada concretização do princípio da dignidade da pessoa humana, valor este indissociável do direito civil contemporâneo, passou a prever a possibilidade de a genitora, ainda durante sua gestação, pleitear alimentos em desfavor do suposto pai, com vistas a resguardá-la, ao menos financeiramente, quanto às necessidades advindas com a concepção. Nesse viés, segundo os ensinamentos de Caio Mário da Silva Pereira: “Se a lei põe a salvo os direitos do nascituro desde a concepção, é de se considerar que o seu principal direito consiste no direito à própria vida e esta seria comprometida se à mão necessitada fossem recusados os recursos primários à sobrevivência do ente em formação em seu ventre.”. Assim sendo, uma vez constatada a gravidez pode a genitora reclamar do suposto pai o auxílio financeiro necessário a propiciar ao nascituro as providências médicas e terapêuticas para sua adequada formação. No mesmo sentido, dispõe o art. 2º da Lei n.º 11.804/08 que “Os alimentos de que trata esta Lei compreenderão os valores suficientes para cobrir as despesas adicionais do período de gravidez e que sejam dela decorrentes, da concepção ao parto, inclusive as referentes a alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições preventivas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de outras que o juiz considere pertinentes.”. No que diz respeito especificamente à prova da filiação atribuída ao requerido, a Lei nº 11.804/2008 exige tão somente a existência de indícios de paternidade. Assim, consoante previsto no art. 369 do CPC, todos os meios de prova devem ser admitidos. No caso em análise, a requerente fornece fotografias, declarações de amigos e documentos que conferem indícios de paternidade suficientes, conforme demonstrado em anexo. Dessa forma, comprovada a gestação da requerente, e indícios suficientes de que seja o requerido o pai do nascituro, o deferimento dos alimentos gravídicos é medida que se impõe, conforme se pode extrair da mera leitura do art. 6º do já mencionado Diploma Legal, in verbis: “Convencido da existência de indícios da paternidade, o juiz fixará alimentos gravídicos que perdurarão até o nascimento da criança, sopesando as necessidades da parte autora e as possibilidades da parte ré.”. É mister elencar os ensinamentos de Maria Berenice Dias: “O pagamento de despesas durante a gravidez independe da prova da existência de relação parental entre o demandado e o nascituro.’ A expressão é do Desembargador Ruy Portanova: pediu, levou! Ou seja, caso a gestante busque alimentos é indispensável dar crédito à assertiva de que o demandado é o genitor do filho que carrega no ventre. Basta a juntada de um atestado de gravidez, não se mostrando temerária a fixação de alimentos gravídicos sem prova, até porque a lei não exige. Elege-se a proteção da vida em detrimento do patrimônio (...) ainda que não haja uma relação parental estabelecida, existe um dever jurídico, verdadeira função de amparo à gestante. A lei exige indícios da paternidade e não a prova de sua existência. Aliás, foram vetados os dispositivos da lei que impunham a prova do vínculo biológico para a concessão dos alimentos.”. Da Tutela de Urgência Toda a documentação anexada e a narrativa da autora expressam, de forma verossímil a existência da relação amorosa entre ela e o réu, do que se presume a paternidade. O direito da gestante em receber alimentos para seus cuidados durante a gravidez e os elementos que demonstram o relacionamento amoroso havido entre as partes demonstram o fumus boni juris. Já a prova da gravidez e a necessidade imediata de obter auxílio para suas despesas e cuidados, inclusive médicos, bem como considerando-se a própria natureza da verba alimentar que não admite em seu desfavor o ônus do tempo em que tramita o feito até exaurir a atividade cognitiva, justificam assim o periculum in mora. Portanto, a união de tais fatores viabiliza a concessão da tutela provisória incidental de urgência relativamente ao regime ora pleiteado, diante demonstração dos requisitos previstos no art. 294 c/c art. 300 do CPC/15. Dos pedidos Pelo exposto, requer: a gratuidade de justiça, nos termos da Lei n. 1060/50; a citação do réu para apresentação de resposta em 5 (cinco) dias; a fixação de alimentos gravídicos com a procedência do pedido formulado pela autora (Art. 6º, caput da Lei n. 11.804/08); a antecipação de tutela; o protesto genérico pela produção de provas por todos os meios de direito admitidos; a conversão dos alimentos gravídicos em pensão alimentícia para o menor após o seu nascimento (art. 6º, parágrafo único da Lei 11.804/08); a intervenção do MinistérioPúblico (conforme art. 178 do CPC/15); a condenação do réu pelas custas e honorários advocatícios; Dá-se o valor da causa: R$10.000,00 (dez mil reais). Termos em que, pede deferimento. Fortaleza/CE, 19 de junho de 2018. __________________________________ Bruna Nascimento Machado OAB/CE XXX.XXX
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