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PROCESSO DE PRODUÇÃO JORNALÍSTICA AULA 3 Prof.a Alessandra Lemos Fernandes 2 CONVERSA INICIAL Olá, aluno! Agora que você já sabe que existem diferentes modos de produção de uma reportagem, chegou o momento de estudar, em detalhes, como executar cada etapa da atividade jornalística. Vamos fazer um passeio por cada passo que deve ser dado para resultar em um conteúdo de qualidade para o público. Para isso, você deve aprender como avaliar se um fato que chega até você deve ser foco de uma reportagem, como apurar e checar se essa notícia é verídica e descobrir novas informações sobre aquele acontecimento. Além disso, vamos conhecer algumas orientações para escolher as pessoas que devem ser consultadas e entrevistadas para se obter dados relevantes para sua matéria. Nem todas as informações são confiáveis e desconfiar do que se ouve é uma característica essencial para um bom jornalista. Na aula de hoje, também falaremos do chamado “gancho jornalístico”, ou seja, a definição do aspecto sobre o qual será abordado determinado tema. Essa definição ocorre principalmente na etapa de pré-produção, chamada de pauta, e é confirmada durante o trabalho de produção. Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO Talvez você já tenha passado pela desagradável situação de alguém te contar alguma coisa que você acreditou e depois descobriu que aquilo não era verdade. Puxa, que situação, não é mesmo? Ou ainda você possa rapidamente pensar em pelo menos uma pessoa que você conheça que tudo que ela fala, você logo desconfia. Por outro lado, pense agora em alguém que você sabe que pode confiar e tudo que ela fala é verdade, pois ao longo dos anos e da amizade, você já teve provas de que essa pessoa é confiável. No dia a dia do jornalista é assim também. Nem tudo que contam para gente é verdade. Muitas informações chegam até a redação, mas precisam ser verificadas para sabermos se é verdade — ou se é realmente do jeito que 3 contaram. Para isso, precisamos de fontes, pessoas que confiamos e que vamos consultar para saber mais detalhes e checarmos a veracidade das informações. Atualmente, com a facilidade da divulgação de conteúdo via sites e redes sociais, a apuração e checagem da informação os são principais aspectos que diferenciam uma informação considerada jornalística. O jornalista também atua como responsável pela seleção das informações e deve analisar o que merece — ou não — ser noticiado. Desse modo, o público que decide acessar determinado jornal, telejornal, rádio jornal ou revista terá o conteúdo selecionado para ele. Infelizmente nem todos os profissionais fazem corretamente a sondagem, a apuração dos fatos e a seleção deles — o que gera algumas críticas à imprensa. Mas seu objetivo como estudante de jornalismo deve ser conhecer a importância e saber executar cada etapa de produção, para garantir uma informação útil e de qualidade para quem for ter acesso ao conteúdo que você produzir. TEMA 1 - PRINCIPAIS ETAPAS DO JORNALISMO — PRÉ-PRODUÇÃO, PRODUÇÃO, EDIÇÃO E PÓS-PRODUÇÃO Não existe uma receita única de como se fazer jornalismo. As variáveis são múltiplas: o estilo do jornalista, as normas do veículo de comunicação, o tipo de veículo (se impresso, TV, web ou rádio), características regionais, condições financeiras e até valores éticos. Desse modo, apresentaremos nesta aula uma proposta de etapas a serem seguidas pelo jornalista para a produção de uma reportagem. Para isso, usaremos como base ideias de autores consagrados por seus estudos e experiência prática no jornalismo diário, como: Felipe Pena (2008), Luiz Costa Pereira Junior (2009), Mario L. Erbolato (2008) e Nilson Lage (2004). Classificamos desse modo, as seguintes etapas, segundo a tabela a seguir: Quadro 1 – Etapas de produção de uma reportagem jornalística Etapa Atividades Pré-produção Informação ou pista inicial Sondagem 4 Apuração Seleção dos fatos Seleção das fontes Preparação da pauta Produção Coleta de dados Entrevistas Fotojornalismo Checagem Seleção das informações Redação do texto Edição Revisão Seleção e cortes de elementos do texto Redação de textos destaques: títulos, subtítulos e manchetes Pós-produção Layout da notícia Diagramação ou “espelhamento” da edição Arte final Envio para edição, publicação ou veiculação Fonte: A autora Durante esta e as próximas rotas desta disciplina, vamos esmiuçar cada uma dessas etapas e suas atividades, para que você possa saber o que fazer para executá-las. Por hora, é importante que você leia com atenção esta tabela e entenda que cada passo é fundamental para uma reportagem de qualidade para o público. Curiosidade Os atentados de 11 de setembro de 2001 foram alvo da cobertura de jornalistas do mundo todo. A transmissão ao vivo das Torres Gêmeas atingidas e depois ruindo ao chão chocaram milhares de pessoas. Não foi uma cobertura de rotina e várias informações desencontradas acabaram sendo divulgadas indicando a falta de apuração diante da suposta emergência de dizer algo ao público. A velocidade acabou dando lugar ao erro. Pereira Junior (2009) registra que os jornais do dia seguinte ao atentado divulgaram as diferentes informações, especialmente sobre o número de mortos no World Trade Center (WTC). Veja o quadro: Quadro 2 – Número de mortos no WTC segundo jornais brasileiros Veículo de comunicação Número mortos em 12/09/2001 Agora São Paulo 10 mil Jornal do Brasil “Milhares” de mortos Folha de S. Paulo 6 mil O Globo 6 mil O Estado de S. Paulo 6 mil Fonte: Pereira Junior (2009, p. 67), adaptado. 5 Qual era a informação correta? Nem 10 mil, nem 6 mil. O número exato de vítimas nas torres de Nova Iorque foi 3.025. Mas sabe quanto tempo levou para as autoridades confirmarem o número de mortes? Um ano. A alternativa seria divulgar os dados como estimativa e deixar claro ao público que o número exato de mortos não havia sido confirmado. Mas essa avaliação preliminar precisaria ser divulgada por uma fonte confiável e não ser um mero “chutômetro”. Que tal relembrar a reportagem divulgada pelo Jornal Nacional daquele dia histórico? Nem todas as informações estavam confirmadas. Pesquise por reportagens de telejornais, do 11/01/2011, e confira! TEMA 2 - A PRÉ-PRODUÇÃO JORNALÍSTICA: PAUTA E SONDAGEM INICIAL Chegou a hora de você aprender com mais detalhes da primeira etapa de atividades que vão resultar em uma notícia: a chamada pré-produção. Para isso, observe o quadro a seguir: Quadro 3 – Atividades da pré-produção jornalística Etapa Atividades Pré-produção Informação ou pista inicial Sondagem Apuração Seleção dos fatos Seleção das fontes Preparação da pauta Fonte: A autora A pré-produção começa a partir de uma alguma informação inicial, uma pista ou uma ideia de tema discutida dentro da redação. O jornalista pode passar por um local e ver uma determinada obra, por exemplo. A partir desse fato inicial, surge a ideia de uma reportagem sobre o crescimento da construção civil. Mas será que cresceu? Será que vale uma notícia? Lembre-se do que vimos nas rotas anteriores: para ser notícia precisa ser algo atual, que contenha novidades, que desperte interesse público ou curiosidade. 6 A informação ou pista inicial pode ser uma denúncia que o jornalista recebe, uma sugestão de reportagem enviada por um assessor de imprensa, um aviso da Polícia Militar sobre a uma operação especial. Trata-se do passo 1, ou seja, a informação de onde parte a investigaçãojornalística. O passo 2 será a sondagem, que também pode ser chamada de pesquisa ou exploração inicial do tema. No caso da ideia de se fazer uma matéria sobre construção civil, ligar para o sindicato das construtoras seria uma forma de sondar se o número de obras está em crescimento, em queda ou estável. A Prefeitura da cidade também pode fornecer dados sobre os alvarás para obras — que podem ajudar nessa pesquisa indicando a relevância do assunto. No caso de pautas não programadas, como a cobertura de um acidente, a sondagem ocorre antes mesmo do repórter chegar no local do ocorrido. Da redação, a equipe que atua nessa pré-produção (geralmente formada por pauteiros, produtores e apuradores) fazem essa sondagem inicial, levantando os primeiros dados sobre local, envolvidos, incidentes anteriores que se comparem com esse e outras informações necessárias. Essa exploração inicial será base para o repórter que pode ser deslocado para cobrir o fato in loco. Aqui entra o passo 3, que é a apuração. Embora a gente saiba que não existe uma verdade única sobre os fatos e sim uma construção de sentidos, é na apuração que a gente busca as informações mais precisas sobre o fato a ser investigado. Vale ressaltar que essa apuração — na pré-produção — é feita na maioria das vezes de dentro da redação, com ligação para órgãos públicos, entidades representativas de classe, instituições que darão mais dados sobre aquele tema que será alvo de reportagem — se as informações forem confirmadas, é claro. O rigor nessa apuração envolve ouvir mais de uma versão do fato e só usar o dado da reportagem se ele for respaldado, ou seja, confirmado, como lembra Pereira Junior (2008, p. 72). É comum, dentro da rotina de uma redação, a ligação do público fazendo denúncias, como por exemplo, que não há médicos em um determinado posto de saúde. É a informação inicial, indicada no passo 1. Antes de mandar um repórter no local para averiguar, são realizados os passos 2 e 3. Liga-se para o posto, para a secretaria da saúde, tenta-se outros moradores do local para saber 7 se aquela informação procede antes de deslocar a equipe de reportagem. Lembra que falamos sobre as empresas jornalísticas? São empresas, não querem gastos à toa que diminuam a margem de lucro. Essa pesquisa inicial se deve a necessidade de informação para o repórter, mas tem também sua lógica no capital. Na pré-produção, outra atividade é o passo 4, seleção dos fatos levantados durante a sondagem e apuração. Reúnem-se os dados pesquisados para, a partir disso, tomar outra decisão: quem serão os entrevistados da matéria? Quem serão ouvidos para a reportagem? Trata-se do passo 5, a seleção de fontes. Falaremos mais sobre fontes no próximo item, mas, por hora, é preciso saber que essa seleção ocorre durante a etapa de pré-produção. Saiba mais MODELO DE PAUTA Cabeçalho Data: (em que foi redigida a pauta) Nome do pauteiro: Nome do repórter: Tema da pauta (também chamada de retranca, especialmente no rádio ou TV): Dados de marcação Data e Horário: (quando será a entrevista) Fonte: (nome completo e função do(s) entrevistado(s) Endereço: (local da entrevista) Contato: (telefone, e-mail, formas de contatar a fonte) Informações sobre o tema/fato: O texto deve ser uma conversa informal entre pauteiro e repórter expondo o objetivo da pauta e todos os dados levantados: pista inicial, informações pesquisadas e apuradas, perfil das fontes. O pauteiro também deve informar ao repórter o dead line (data e horário de entrega da reportagem pronta) e tamanho (caso haja definição anterior). Bom trabalho! 8 Veja a seguir um dos modelos de pauta usados pelos veículos jornalísticos: TEMA 3 - A SELEÇÃO E ABORDAGEM DAS FONTES Dentro do processo de pré-produção, há o processo de seleção das fontes. Porém, antes de explicar como escolher uma fonte, é importante retomar o conceito do que é fonte. Uma vez decidido o tema da reportagem e o que será investigado dentro daquele assunto, é preciso levantar dados sobre o fato. Mas como descobrir essas informações? Por meio das chamadas fontes de informações. A seguir, elencamos algumas das possíveis fontes, segundo Nilson Lage (2004, p. 45-46): Notícias já publicadas em rádio, jornal, televisão ou na web — podem conter dados relevantes de histórico sobre o caso ou tema em questão. Releases e sugestões de pauta enviadas por assessorias de imprensa — informam sobre eventos, decisões, assinaturas de protocolo, descobertas, anúncios governamentais ou empresariais e os mais variados assuntos que partem de uma empresa, instituição ou órgão público. Dados que chegam ao conhecimento do repórter por outros jornalistas, profissionais de outras áreas ou público em geral — o buraco na rua, a corrupção em uma estatal, um assalto. Pessoas entram em contato com o jornalismo para informar sobre diferentes acontecimentos. Cartas, telefones, e-mails do público ou de qualquer outra origem — com a intenção de informar sobre um acontecimento, complementando os dados que chegam ao conhecimento do repórter por outros jornalistas, profissionais de outras áreas ou público em geral. Um comerciante, um camelô, o motorista do ônibus, uma pessoa que passa na rua, a testemunha de um fato — qualquer indivíduo pode ser fonte de informação. Páginas na internet — clicando “google” é possível ter acesso a um número vastíssimo de informações sobre muitos (se não, todos) os assuntos. 9 No próximo tópico falaremos sobre confiabilidade, credibilidade e interesses dessas fontes, ou seja, não é porque a pessoa passa uma informação significa que aquilo é verdadeiro. Mas, antes de falarmos nisso, é importante saber que é a fonte, pessoal ou de instituição pública ou privada, quem repassa os dados para o jornalista produzir reportagens. O contato com essas fontes pode ser feito de diferentes formas. A mais comum é por meio de entrevistas feitas pessoalmente, por telefone, via e-mail ou aplicativos de mensagens. Mas é possível ter acesso a um dado recorrendo às informações disponibilizadas em um site, por exemplo. Para se elaborar uma pauta, é preciso que o jornalista detenha um conhecimento geral sobre quem são as autoridades ou órgãos que respondem por determinado tema. Por exemplo: se quero falar sobre dados da agricultura, quem devo procurar para entrevistar sobre o assunto? Pode ser a secretaria ou o ministério da agricultura, um agrônomo ou até um economista especialista em agronegócio. Algumas vezes, as três opções são necessárias, dependendo da pauta. Para pensar Você já pensou se você fosse enviado para cobrir uma sessão no Senado Federal, em Brasília? O que você perguntaria para o presidente da Casa? Aliás, você sabe o nome do presidente do Senado e os principais assuntos que têm sido debatidos no Congresso Nacional? Se sua resposta é não, está na hora de ler mais jornais e se informar mais sobre diferentes áreas. Jornalista bom é jornalista bem informado, curioso, que sabe e gosta de fazer perguntas! Com esses ingredientes, você produzirá sempre boas entrevistas. TEMA 4 - PRODUÇÃO: CONTATOS E CREDIBILIDADE DAS FONTES Uma vez selecionadas as fontes, marcadas as entrevistas e elaboradas as pautas, chega a hora do contato direto com a fonte, geralmente feito pelo repórter. No entanto, é preciso ter claro algumas máximas: 10 a) “Quem conta um conto aumenta um ponto”. b) Não é porque a pessoa viu o fato que ela sabe a verdade sobre ele. Relato é diferente de fato, pois envolve o ponto de vista da testemunha. c) Há diferentes intenções e interessesenvolvidos quando uma fonte é abordada por um jornalista. d) Fontes podem mentir. Os quatro itens citados querem mostrar que uma reportagem não deve ter uma única fonte. Mais uma de uma e o máximo de versões possíveis darão ao repórter uma clareza maior sobre o ocorrido ou o tema e levará a uma matéria mais precisa. Aldo Schimitz (2001, p. 23), propõe uma matriz de classificação das fontes de notícias, confira a reprodução apresentada a seguir: Quadro 4 – Classificação das fontes de notícia. Categoria Grupo Ação Crédito Qualificação Primária Secundária Oficial Empresarial Institucional Popular Notável Testemunhal Especializada Referencial Proativa Ativa Passiva Reativa Identificada Anônima Confiável Fidedigna Duvidosa Fonte: Aldo Schimitz (2011, p. 23). Na primeira coluna, podemos observar uma categoria de fontes segundo a natureza. As fontes primárias são aquelas que tiveram contato com o fato e as secundárias não. Aqui, não se trata de confiabilidade, mas de a pessoa ter presenciado ou não um ocorrido. Exemplo: Assalto no Centro Histórico da cidade. Comerciante assaltado é entrevistado fonte primária Policial que atendeu a ocorrência fonte primária Especialista em segurança pública que fala sobre o aumento da violência urbana fonte secundária 11 Apenas o comerciante e o policial estiveram no local do crime. Por isso, estão na categoria de fonte primária. O especialista em segurança não esteve lá, mas entende muito do assunto, pois é estudioso do tema. É interessante ouvi- lo, mas nesse caso, ele é uma fonte secundária. Na segunda coluna do quadro, o autor classifica as fontes segundo seu grupo. Vamos às descrições: Oficial — fonte que fala em nome do Governo ou órgão público. Empresarial — fonte que fala em nome de uma empresa privada. Institucional — representante de uma instituição, ONG, sindicato ou conselho de classe. Popular — pessoas em geral que podem prestar informação sobre diferentes assuntos. Notável — também chamados de famosos, que são alvo de entrevista por serem pessoas de renome e fama. Testemunhal — presenciou o fato e foi testemunha do ocorrido. Especializada — especialista no assunto e pode comentar o fato. Referencial — mais do especialista no tema, essa fonte é referência naquele assunto, como um Prêmio Nobel, por exemplo. Saiba mais Um dos casos mais famosos de fonte anônima (também chamada de off- the-record ou “gravador desligado”, em tradução literal) é o Watergate, escândalo político do início da década de 1970 que veio a público por meio de uma série de reportagens do jornal norte-americano Washington Post. Os informantes não foram divulgados na época pelo jornal, mas suas informações culminaram na renúncia do então presidente Richard Nixon. 12 Para saber mais sobre o caso, que também foi retratado pela literatura e pelo cinema na obra Todos os Homens do Presidente, pesquise sobre o assunto! TEMA 5 - O GANCHO JORNALÍSTICO Para finalizar esta rota sobre “Etapas e processos”, é preciso ainda ressaltar um aspecto importante da produção jornalística: a definição do chamado “gancho”. Há diversos temas e assuntos que podem ser alvo da cobertura da imprensa, mas ao definir a pauta e produzir a matéria é preciso deixar claro qual é o aspecto sobre aquele assunto que será abordado. É preciso estabelecer — ou descobrir por meio da investigação jornalística — qual é o foco que deverá ser dado a essa notícia. Pereira Junior (2009, p. 79), cita o exemplo do tema “crise brasileira na educação”. Isso é tema, não é pauta. Para ser pauta, é preciso definir o gancho, ou seja, qual o acontecimento real, novo e de interesse público. Se eu tenho a informação de que falta professor em um bairro da periferia da capital, isso é um gancho para falar da crise da educação. Vamos a outro exemplo: a chegada do frio. Com certeza, você já deve ter assistido, ouvido ou lido alguma matéria sobre esse assunto. O frio é em si não é notícia. Mas com um gancho atual pode fazer com que o tema se torne uma pauta. Algumas possibilidades a ser levantadas na apuração para verificar a existência de um gancho: aumentou o número de casos de pneumonia em decorrência do frio? Se aumentou ou diminuiu, a estatística pode ser um gancho. o que os meteorologistas preveem sobre o inverno: rigoroso ou não? Dependendo da resposta, pode ser um gancho para as pessoas se prepararem. doenças típicas do frio: novas descobertas (se existirem) sobre prevenção de gripes e resfriados. Lembre-se, entanto, que para ter gancho jornalístico e se tornar notícia necessariamente precisa apresentar algo diferente do que já foi abordado ou com nova abordagem. 13 Importante também notar que diante de um fato, cada veículo de comunicação pode escolher um gancho, ou seja, uma diferente abordagem sobre o tema. Uma marcha de trabalhadores, por exemplo, pode receber cobertura de um jornal com o gancho das bandeiras do momento, que poderia ser hipoteticamente o aumento da mobilização de assalariados preocupados com o desemprego. Já outro jornal poderia cobrir a marcha com o enfoque do uso de dinheiro público para financiar eventos como esse, que seriam promovidos por sindicato de trabalhadores ligados a determinados partidos políticos. Ou seja, um teve como gancho bandeiras do movimento e outro o financiamento da manifestação. Sugestão de leitura O artigo Onde está o gancho, apresentado em um Congresso de Ciências da Comunicação (Intercom, 2012), traz uma discussão interessante sobre o gancho jornalístico. Que tal pesquisar sobre o artigo para aprofundar seus conhecimentos sobre o tema? TROCANDO IDEIAS Na aula de hoje, discutimos sobre as etapas da produção jornalística. Entre elas, a pré-produção em que, a partir de um tema ou informação inicial, se levanta informações sobre o assunto a fim de definir se vale fazer uma notícia para que se elabore uma pauta. Que tal trocar uma ideia sobre um tema recorrente na imprensa, que é o mosquito aedes aegypti? Consegue propor três diferentes possibilidades de gancho jornalístico para esse assunto? Entre no fórum, disponível no Ambiente Virtual de Aprendizagem, para trocar informações e ideias sobre as possibilidades de gancho jornalístico. 14 NA PRÁTICA Vamos fazer um estudo de caso buscando compreender o processo de produção jornalística, aplicando os conhecimentos da aula na elaboração de uma pauta. 1. Comece pesquisando pela notícia Insegurança gera protesto na barreirinha, depois leia a reportagem que será estudada e que será base para a pauta. 2. Com base no texto, elabore a pauta que daria origem a essa matéria jornalística, usando os dados contidos nela. 3. A pauta deve incluir o tema (também chamado de retranca) e os dados de marcação. Horários e locais podem ser fictícios, mas a escolha das fontes deve seguir a lógica da matéria já publicada. 4. Nas informações e na proposta para a repórter, deixe claro o gancho jornalístico usado, além das sugestões de perguntas e fotos. 5. Para identificar os itens acima, relembre os conceitos das aulas sobre pré-produção jornalística, fontes e gancho jornalístico. 6. Liste a sua resposta para cada pergunta deste caso. SÍNTESE Nesta aula aprendemos como avaliar se um fato deve ser foco de uma reportagem, e caso seja, como apurar e checar se essa notícia é verídica e descobrir novas informações sobre aquele acontecimento. Além disso, compreendemos como dever ser feita a escolha das pessoas que devem ser consultadas e entrevistadaspara se obter dados relevantes para uma matéria. Também conhecemos a função do gancho jornalístico, que define o aspecto sobre o qual será abordado determinado tema, este ocorrendo principalmente na etapa de pré-produção, chamada de pauta, e confirmada durante o trabalho de produção. 15 REFERÊNCIAS ERBOLATO, Mario L. Técnicas de codificação em jornalismo: redação, captação e edição no jornal diário. São Paulo: Editora Ática, 2008. LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. São Paulo: Record, 2008. PENA, Felipe. Teoria do jornalismo. São Paulo: Contexto, 2008. PEREIRA JUNIOR, Luiz Costa. A apuração da notícia: métodos de investigação na imprensa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. _____. Guia para edição jornalística. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. SCHIMITZ, Aldo Antônio. Fontes de notícias: ações e estratégias das fontes no jornalismo. Florianópolis: Combook, 2011. Disponível em: <http://www.cairu.br/biblioteca/arquivos/Comunicacao/Fontes_noticias.pdf> Acesso em 21 jan 2016.
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