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REFERENCIAL CURRICULAR PARA O ENSINO FUNDAMENTAL REDE MUNICIPAL DE ENSINO 2016 2 LUCIMAR SACRE DE CAMPOS PREFEITA MUNICIPAL SILVIO APARECIDO FIDELIS SECRETÁRIO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, CULTURA, ESPORTE E LAZER CATARINA SENA BARROS DE TOLEDO SUBSECRETÁRIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, CULTURA, ESPORTE E LAZER GONÇALINA AUXILIADORA LEITE RONDON SUPERINTENDENTE PEDAGÓGICA MARIA JOSÉ DE PAULA E LIMA SUPERINTENDENTE DE GESTÃO ESCOLAR EDNIR MARIA DE ALMEIDA SUPERINTENDENTE OPERACIONAL DO SISTEMA ESCOLAR WALDIRENE GONÇALINA COSTA SUPERINTENDENTE DE CULTURA JAMIL MUSSA SOBRINHO SUPERINTENDENTE DE ESPORTE E LAZER 3 EQUIPE DE ELABORAÇÃO Ednéia Domingas de Miranda Eliana Nunes Januario Ohara Ivânia Pereira Midon de Souza Ludimila Izabel Silva Marinete Maria da Guia Campos Barros Roberta Mônica Amaral Silmara Lopes da Costa Feitosa COLABORADORES Alex Feitosa Oliveira Benedita Rosália Santana Daniel Ricardo Marthins Danielly Jenezerlau Silva Santos Debora Paula Teixeira de Figueiredo Alves Pedroso Frank Eduardo Ferreira de Souza Gonçalina Josefa de Oliveira Loami Albuquerque Gama Lopes Monica Boaventura Carvalho Rute Viana Vagner Cesar Souza Barros Rosilene Paula da Silva DIAGRAMAÇÃO Edizes Luiza Reveles Pereira Gilson Pequeno da Silva CAPA EMEB Emanuel Bendito de Arruda Estudantes: Alice Gabriele Botelho Vieira Aline Beatriz de Oliveira Diniz 4 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ................................................................................................................ INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... CAPITULO I – VOZES ORIENTADORAS PARA O ENSINO–APRENDIZAGEM NO ENSINO FUNDAMENTAL..................................................................................................... CONCEPÇÃO DE CURRICULO............................................................................... OS FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS..................................................................... JEAN PIAGET................................................................................................ LEV VIGOTSKY............................................................................................. HENRY WALLON.......................................................................................... A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO.............................................. A IMPORTÂNCIA DO ATO DE PLANEJAR............................................................ O PLANEJAMENTO ANUAL........................................................................ O PLANO DE AULA....................................................................................... OS CONTEÚDOS........................................................................................... OS TEMAS ESPECIAIS............................................................................................. ECONOMIA, EDUCAÇÃO FINANCEIRA E SUSTENTABILIDADE............. CULTURAS INDÍGENAS E AFRICANAS..................................................... CULTURAS DIGITAIS E COMPUTAÇÃO..................................................... DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA.......................................................... EDUCAÇÃO AMBIENTAL............................................................................. AS METODOLOGIAS ORIENTADORAS DA PRÁTICA PEDAGÓGICA ............... SEQUÊNCIA DIDÁTICA................................................................................ O PROJETO DIDÁTICO....................................................]........................... ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO ENSINO FUNDAMENTAL......................... AVALIAÇÃO A SERVIÇO DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO HUMANO............................................................................. DIAGNÓSTICA............................................................................................... FORMATIVA................................................................................................... REGULADORA.............................................................................................. INSTRUMENTOS GERAIS DE AVALIAÇÃO........................................................... TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO................................................... A OBSERVAÇÃO.......................................................................................... SEMINÁRIO................................................................................................... TRABALHO EM GRUPO.................................................................................. AUTOAVALIAÇÃO........................................................................................... A PROVA.......................................................................................................... A RECUPERAÇÃO........................................................................................... O CONSELHO DO CICLO BÁSICO............................................................................ O CONSELHO DE CLASSE NAS SÉRIES ANUAIS.................................................. CONSELHO DE CLASSE................................................................................ OS ENCONTROS DE PAIS E MESTRES: RESPONSABILIDADES COMPARTILHADAS ....................................................................................... CAPITULO II – CICLO BÁSICO DE ALFABETIZAÇÃO CIDADÖCBAC ........................... APRESENTAÇÃO........................................................................................................ OS PRINCÍPIOS ORIENTADORES DO CICLO BÁSICO DE ALFABETIZAÇÃO CIDADÃ........................................................................................................................ 09 10 11 11 16 16 17 19 21 24 25 25 26 28 28 29 29 29 30 30 30 34 36 36 40 40 40 41 43 43 43 44 45 45 47 47 48 48 49 50 50 51 5 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO CICLO.......................................................... O INGRESSO.................................................................................................... A PROGRESSÃO............................................................................................. A FREQUÊNCIA............................................................................................... CONCEPÇÕES ORIENTADORAS DO ALFABETIZAR LETRANDO ....................... A PERSPECTIVA SOCIOINTERACIONISTA E CONSTRUTIVISTA NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO............................................................................ ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: DISTINÇÃO NECESSÁRIA.............. SISTEMA DE ESCRITA ALFABÉTICA........................................................... DEZ PROPRIEDADES DO SISTEMA DE ESCRITA ALFABÉTICA.............. CONCEPÇÃO DE TEXTO................................................................................ AS HIPÓTESES PSICOGENÉTICAS E O RESPEITO ÀS NECESSIDADES DE APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS............................................................................ AS VANTAGENS DO CONHECIMENTO DAS CARACTERISTICASDAS HIPÓTESES PSICOGENÉTICAS DE ESCRITA.............................................. HIPÓTESES OU NÍVEIS PSICOGENÉTICOS............................................................. PRÉ-SILÁBICO I............................................................................................... PRÉ-SILÁBICO II.............................................................................................. SILÁBICO SEM VALOR SONORO.................................................................. SILÁBICO COM VALOR SONORO................................................................. SILÁBICO ALFABÉTICO................................................................................. HIPÓTESE ALFABÉTICA.............................................................................. A ESCRITA CONVENCIONAL....................................................................... O DIAGNÓSTICO PSICOGENÉTICO........................................................................ COMO FAZER O DIAGNÓSTICO.................................................................. A CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E A SUPERAÇÃO DAS HIPÓTESES PSICOGENÉTICAS................................................................................................... A IMPORTÂNCIA DAS PERGUNTAS DE INTERVENÇÃO PARA A PROMOÇÃO DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA........................................ CONSCIÊNCIA FONÊMICA........................................................................... A ROTINA DA ALFABETIZAÇÃO............................................................................. IMPORTÂNCIA DA ROTINA SEMANAL....................................................... ATIVIDADES DA ROTINA SEMANAL...................................................................... ESTUDO DO ALFABETO.............................................................................. LEITURA DELEITE........................................................................................ ATIVIDADES LÚDICAS POR MEIO DE AGRUPAMENTOS....................... JOGOS E LUDICIDADE................................................................................. O USO DO LIVRO DIDÁTICO NA ROTINA SEMANAL................................ SEQUÊNCIA DIDÁTICA E PROJETO DIDÁTICO......................................... PERFIS DE ENTRADA E SAÍDA DO CICLO BÁSICO DE ALFABETIZAÇÃO CIDADÃ........................................................................................................................ 1º ANO DO CBAC............................................................................................ PERFIL DO 2º ANO.......................................................................................... PERFIL DO 3º ANO.......................................................................................... A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM E O CONSELHO DO CICLO BÁSICO DE ALFABETIZAÇÃO CIDADÖCBAC........................................................................... INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO E REGISTRO DE APRENDIZAGEM .... O RELATÓRIO DESCRITIVO DA APRENDIZAGEM.................................... 52 52 53 53 54 54 54 56 57 58 60 60 61 61 62 63 65 66 67 68 70 70 71 73 74 74 74 75 75 76 77 79 79 80 80 80 81 81 82 83 83 6 AS FICHAS DE ACOMPANHAMENTO MENSAL DA APRENDIZAGEM.... DIAGNÓSTICO PSICOGENÉTICO................................................................ PROVA.............................................................................................................. DIREITOS DE APRENDIZAGEM E CONTEÚDOS..................................................... ÁREA DE CONHECIMENTO...................................................................................... LINGUAGEM.................................................................................................... LÍNGUA PORTUGUESA................................................................................. ARTE................................................................................................................ EDUCAÇÃO FÍSICA............................................................................................................... MATEMÁTICA.................................................................................................. CIÊNCIAS DA NATUREZA.............................................................................. CIÊNCIAS HUMANAS................................................................................................. HISTÓRIA........................................................................................................ GEOGRAFIA.................................................................................................... ENSINO RELIGIOSO...................................................................................................... CAPITULO III – ENSINO FUNDAMENTAL – SÉRIES ANUAIS............................................. APRESENTAÇÃO........................................................................................................ LINGUAGEM................................................................................................................ ÁREA DE CONHECIMENTO ........................................................................... OBJETIVOS GERAIS..................................................................................... LÍNGUA PORTUGUESA.............................................................................................. 4º ANO............................................................................................................. 5° ANO.............................................................................................................. 6º ANO.............................................................................................................. 7º ANO.............................................................................................................. 8º ANO.............................................................................................................. 9º ANO.............................................................................................................. ARTE ........................................................................................................................... 4º ANO.............................................................................................................. 5° ANO.............................................................................................................. 6º ANO.............................................................................................................. 7º ANO.............................................................................................................. 8º ANO.............................................................................................................. 9º ANO............................................................................................................. LÍNGUA INGLESA....................................................................................................... 6º ANO.............................................................................................................. 7º ANO.............................................................................................................. 8º ANO.............................................................................................................. 9º ANO..............................................................................................................LÍNGUA ESPANHOLA ................................................................................................ 4º ANO.............................................................................................................. 5° ANO.............................................................................................................. 6º ANO.............................................................................................................. 7º ANO.............................................................................................................. 8º ANO.............................................................................................................. 9º ANO.............................................................................................................. 83 84 84 84 86 86 88 107 110 112 119 126 128 132 135 137 138 139 139 141 142 145 146 147 148 149 150 152 156 157 158 160 151 152 165 169 169 170 171 172 178 178 178 178 179 179 7 EDUCAÇÃO FÍSICA.................................................................................................... 4º E 5° ANOS................................................................................................... 6º E 7° ANOS................................................................................................... 8º E 9° ANOS................................................................................................... CIÊNCIAS DA NATUREZA ......................................................................................... CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA....................................................................... 4º ANO.............................................................................................................. 5° ANO............................................................................................................. 6º ANO.............................................................................................................. 7º ANO.............................................................................................................. 8º ANO............................................................................................................. 9º ANO.............................................................................................................. MATEMÁTICA.............................................................................................................. OBJETIVOS GERAIS DA ÁREA DE MATEMÁTICA...................................... 4º ANO.............................................................................................................. 5° ANO.............................................................................................................. 6º ANO............................................................................................................. 7º ANO.............................................................................................................. 8º ANO.............................................................................................................. 9º ANO......................................................................................................................................... CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS.............................................................................. OBJETIVOS GERAIS....................................................................................... GEOGRAFIA................................................................................................................ 4º ANO........................................................................................................................................ 5° ANO......................................................................................................................................... 6º ANO......................................................................................................................................... 7º ANO........................................................................................................................................ 8º ANO......................................................................................................................................... 9º ANO......................................................................................................................................... HISTÓRIA..................................................................................................................... 4º ANO........................................................................................................................................ 5° ANO........................................................................................................................................ 6º ANO........................................................................................................................................ 7º ANO........................................................................................................................................ 8º ANO......................................................................................................................................... 9º ANO......................................................................................................................................... ENSINO RELIGIOSO................................................................................................... CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA....................................................................... 4º ANO........................................................................................................................................ 5° ANO........................................................................................................................................ 6º ANO......................................................................................................................................... 7º ANO......................................................................................................................................... 8º ANO......................................................................................................................................... 9º ANO......................................................................................................................................... REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO............................................................................... 180 189 192 195 198 199 202 202 203 204 206 207 208 212 213 215 216 217 217 218 219 221 223 228 231 233 236 239 241 244 247 248 248 249 250 251 252 254 256 256 256 257 257 258 259 8 A vida é sempre um aprendizado [...] Nela você [...] Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens [...] seria uma tragédia se ela acreditasse nisso [...] Aprende que falar pode aliviar dores emocionais [...] Descobre que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida[...] Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influênciasobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. [...] a vida tem valor e você tem valor diante da vida! (Soneto XLIV/William Shakespeare) 9 APRESENTAÇÃO O Referencial Curricular do Ensino Fundamental para Rede Pública Municipal de Ensino de Várzea Grande é o resultado de um longo trabalho que contou com a participação de vários técnicos da Superintendência Pedagógica para sua elaboração e de colaboradores que durante o período compreendido entre os anos de 2012 e 2016 deram sua contribuição. Ademais é um trabalho sistematizado a partir de todas as orientações e diretrizes oferecidas pela Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, ao longo dos quatro anos, debatidos nos encontros de formação, visitas técnicas e nas semanas pedagógicas. A finalidade deste documento é apresentar os fundamentos, princípios e diretrizes de um currículo para além dos conteúdos das áreas, pois abrange também os pontos essenciais do desenvolvimento do ser humano nos aspectos emocionais, sociais e políticos com a finalidade de proporcionar uma aprendizagem mais significativa a todos os estudantes. É uma contribuição para que todos aprendam uma base comum de conteúdos e tenham assim seus direitos aos conhecimentos garantidos. Como documento flexível e passível de transformações e contribuições, o referencial deverá enriquecer o Projeto Político Pedagógico de todas as Unidades de Ensino. Juntos temos compromisso com a sociedade, com a formação e desenvolvimento do ser na construção de novas consciências a serviço de uma vida melhor. Somos profissionais da educação, e os estudantes sob nossa responsabilidade são os cidadãos do nosso município/país, futuros responsáveis pela condução social mais justa. Por isso, nós da Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer/SMECEL, estamos sempre a postos para auxiliar a escola, local em que se materializam os fundamentos e princípios curriculares, a relação professor/estudante e a luta por um ensino de qualidade. Silvio Aparecido Fidelis Secretário Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer 10 INTRODUÇÃO O referencial curricular do Ensino Fundamental do Município de Várzea Grande está organizado em três capítulos. No primeiro estão delineadas as concepções de currículo, de metodologias e de avaliação da aprendizagem que orientam toda ação educacional para a Rede Municipal de Ensino. Neste capítulo também está presente a estrutura organizacional do ensino fundamental. No segundo capítulo são apresentadas todas as diretrizes conceituais, didático-metodológicas e avaliativas do Ciclo Básico de Alfabetização Cidadã/CBAC, bem como sua estrutura organizacional. O terceiro capítulo traz o referencial curricular especifico para as Séries Anuais (4º ao 9º ano). Neste capítulo, são abordadas os eixos, objetivos e conteúdos de cada componente curricular. Com este documento pretendemos oferecer condições que permitam às Unidades de Ensino o acesso ao conjunto de conhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos, que contribuirão para o alcance das metas do Plano Municipal de Educação, Lei nº 4.102/2015, meta 3, que prevê: “garantir a universalização a 100% da população de 06 aos 14 anos de idade, com melhoria da qualidade do processo de ensino [...]; meta 5 que dispõe: “alfabetizar, na perspectiva do letramento, 100% das crianças matriculadas na Rede Municipal de Ensino, até o final do 3º ano do ensino fundamental” e meta 6 que diz “ elevar, em 100% a qualidade da educação básica, com melhoria do ensino e da aprendizagem de todos os alunos [...]” Assim, esses princípios pretendem desencadear, no contexto escolar, práticas pedagógicas que contribuam para garantir o direito ao conhecimento para todos os estudantes da rede municipal de ensino. 11 CAPÍTULO I VOZES ORIENTADORAS PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM NO ENSINO FUNDAMENTAL CONCEPÇÃO DE CURRÍCULO O currículo, de modo geral, compreende práticas sociais que interagem com o aprendizado formal oferecido pela escola. Ao longo dos anos, inúmeras concepções e convenções foram se materializando no contexto escolar para a jornada do saber. Neste referencial elegemos a concepção de currículo na perspectiva de Antônio Flávio Moreira (1997) que revela que o currículo é marcado pela visão de mundo de uma determinada sociedade e a prática escolar reflete essa visão, expressando-a idealmente nos documentos orientadores do trabalho escolar (currículo formal), por meio das formas concretas da ação dos agentes escolares (currículo em ação) e das regras e normas não explicitadas que governam as relações que são estabelecidas nas salas de aula (currículo oculto). Essa concepção de currículo complementa a ideia de Tomaz Tadeu (2005) que defende o currículo como sendo um mecanismo para constituir identidades individuais e sociais e requer uma discussão que vai além da seleção de conhecimento, envolve uma operação de poder e relações que precisam ser identificadas. Nessa relação, o currículo deve ser democrático, visar à humanização de todos e ser desenhado a partir do que não está acessível às pessoas (LIMA, 2008). Segundo Lima (2002) para a seleção de conteúdos formais e capacidades, bem como para reflexão e debate no momento do planejamento das ações pedagógicas no ensino fundamental, o currículo é visto como, [...] O recorte do conhecimento humano acumulado que será trabalhado na ação educativa. [...] O conhecimento produzido pela espécie humana que inclui a tecnologia, a cultura, as práticas culturais e as práticas de trabalho e os vários sistemas de linguagem (da linguagem de sinais à da informática). [...] necessário para definir qual objetivo [...] da escola e que papel ela tem no desenvolvimento do indivíduo como ser humano e como ator social [...] uma concepção de ser humano em desenvolvimento. [...] a definição de currículo atrelada a concepção de cidadão e de indivíduo sócio-cultural que é subjacente à política educacional (LIMA, 2002, p. 21). 12 Sob esta afirmação, chamamos a atenção para a não neutralidade do currículo, uma vez que este implica em opções acerca do processo de humanização e construção social, no qual o educando é, segundo Ferreira e Teberosky (1991), um sujeito que aprende basicamente através de suas próprias ações sobre os objetos do mundo e que constrói suas próprias categorias de pensamento ao mesmo tempo organiza seu mundo. Dessa forma, a concepção de currículo representa um conjunto de práticas que propiciam a produção, a circulação e consumo de significados no espaço social, e que contribuem intensamente para a construção de identidades sociais e culturais (MOREIRA e CANDAU, 2008). O currículo é também resultante das implicações de um contexto sócio- econômico-político-cultural que o faz ser entendido como: a) Os conteúdos a serem ensinados e aprendidos; b) As experiências de aprendizagens escolares a serem vividas pelos alunos; c) Os planos pedagógicos elaborados por professores, escolas e sistemas educacionais; d) Os objetivos a serem alcançados por meio do processo de ensino; e) Os processos de avaliação que terminam por influir nos conteúdos e nos procedimentos selecionados nos diferentes graus de escolarização (MOREIRA e CANDAU, 2008, p.18). Na perspectiva delineada, a compreensão das características básicas de cada fase de desenvolvimento humano passa a ser o fio condutor para as discussões e parao planejamento do ensino e da aprendizagem que a favoreçam com foco na formação cidadã, sem descartar a aprendizagem por capacidades, considerando os conteúdos formais como meios para produção e usufruto de bens culturais, sociais e econômicos (PCNs, 1998). O referencial pretende revelar uma política curricular na perspectiva do que Tomaz Tadeu defende: um currículo com significados de lugar, espaço, território como relação de poder, trajetória, viagem, percurso. O currículo é texto, discurso, documento de identidade. Assim, nossa identidade, além de expressar-se como fio condutor do ensino envolve ainda a aprendizagem de conteúdos e capacidades de todas as áreas do conhecimento. Esses conteúdos se apresentam sob a forma de “saber fazer” (conteúdos procedimentais), “saber ser” (conteúdos atitudinais) e “saber 13 aprender” (conteúdos conceituais) que de forma interdisciplinar contribuirão para a formação integral dos estudantes. Nesse sentido Batista (2005) afirma que Na organização de um currículo ou de um programa de ensino, “conhecimentos” tendem a designar “conteúdos” (como, por exemplo, “os recursos hídricos”). O termo “atitudes designa crenças ou disposições em relação a algo, como, por exemplo, o modo (positivo ou negativo) pelo qual se veem e se avaliam posições, modos de ser e de falar (preconceito, por exemplo, contra negros, mulheres ou homossexuais)”. “Habilidades”, “procedimentos”, “competências” e “capacidades”, por último, tendem a designar modos de fazer algo, processos mentais ou comportamentos, como por exemplo, saber ler e escrever, desenhar, dirigir um carro, fazer tricô ou crochê (BATISTA, 2005, p. 12). Atrelado a esse processo, um ponto fundamental que ressaltamos é a necessidade do trabalho docente voltado ao compromisso com todas as áreas do conhecimento para desenvolver a capacidade leitora, escritora e produtora de textos em todos os anos do ensino fundamental. Assim, o currículo na escola deve ser produto de uma construção coletiva que prevê um trabalho voltado de forma mais ampla para o enfrentamento sério da questão do fracasso escolar, sobretudo àquele relacionado ao não domínio dos códigos da leitura e da escrita e do raciocínio lógico-matemático. Nesse contexto, os conteúdos e capacidades das Ciências Naturais, Arte e Ciências Humanas são imprescindíveis para dar sentido e significados ao que se lê e se produz no contexto escolar, lembrando que a Educação Física é uma condição essencial para o desenvolvimento humano. A língua estrangeira também deve fazer parte do currículo, iniciando com noções básicas no CBAC e aprofundando à medida que o estudante vai avançando na vida escolar. Em todos os anos do ensino fundamental cabe aos professores com orientação e acompanhamento dos Coordenadores Pedagógicos e participação efetiva do Diretor escolar, planejarem e disponibilizarem aos estudantes, no decorrer de todo processo de ensino, situações desafiadoras de aprendizagem que busquem a superação de suas dificuldades cognitivas e emocionais, bem como ampliar seus conhecimentos. Este referencial curricular contém desafios à construção de uma prática docente que revele o que Giroux (1997, p. 95) denominou de “uma política da diferença e do fortalecimento do poder, que sirva como base para o desenvolvimento de uma pedagogia crítica através das vozes e para as vozes 14 daqueles que são quase silenciados”. São relações de poder no sentido do que Apple (1997) revela: “como formas concretas e materiais pelas quais todos nós tentamos construir instituições que respondam às nossas necessidades e esperanças mais democráticas”. Dessa maneira, em Apple pretendemos um currículo sob a égide de uma pedagogia democrática que deve começar pelo reconhecimento dos “diferentes” posicionamentos sociais e repertórios culturais nas salas de aula. Nesse contexto, a escola deve ser um espaço de formação para todos que se envolvam com ela; deve ser um espaço onde as relações promovam aprendizagens diversas. Num movimento de ressignificação e recontextualização do que se ensina e aprende na escola, há também a necessidade de as unidades de ensino, em suas mais variadas instâncias, promoverem ações que possibilitem aos professores e demais atores envolvidos no processo, aprender a questionar os valores que orientam suas práticas e a serviço de quem estão quando organizam suas aulas apenas sob o ponto de vista técnico, ignorando o aspecto humano, político e social da ação educativa. Nesse sentido pretendemos contribuir para ampliar o sucesso escolar procurando oferecer maiores oportunidades para melhorar a qualidade da escolarização de todos os estudantes. Consequentemente, também abrirá maiores possibilidades para todos os professores e demais atores envolvidos reavaliarem e ressignificarem suas práticas. Dessa maneira, a realização do currículo para formação humana precisa proporcionar situações didáticas de aprendizagem que possam mobilizar algumas funções centrais do desenvolvimento humano, como a função simbólica, a percepção, a memória, a atenção e a imaginação (LIMA, 2008, p.26). Segundo a autora, a partir da interação do sujeito com o mundo e das práticas culturais ocorre o desenvolvimento da função simbólica, ou seja, por meio do exercício desta função o ser humano pode construir significados e acumular conhecimentos. Para ela, todo ensino na escola, de qualquer área do conhecimento, implica na utilização da função simbólica. Alerta, ainda, que quando as funções simbólicas da percepção, memória, atenção e imaginação não são mobilizadas adequadamente a aprendizagem não se efetua. 15 Para Lima (2008) a percepção é realizada pelos cinco sentidos (visão, olfato, paladar, audição e tato). Essa função é desenvolvida no ser humano desde que não haja impedimento nos órgãos dos sentidos ou nas estruturas cerebrais que processam a percepção de cada um deles. Por outro lado, a percepção pode criar um interesse novo. Ao ser introduzido um conhecimento novo, uma pessoa pode se interessar ou não por ele, dependendo das estratégias utilizadas por quem introduz. Assim, na sala de aula, não é somente o conteúdo que motiva, mas, sobretudo, como o professor trabalha o conteúdo, seja ele da linguagem, das artes ou das ciências. Nesse contexto, toda aprendizagem envolve a memória. A memória é modulada pela emoção, ou seja, os estados emocionais podem “interferir”, facilitando ou reforçando a formação de novas memórias, assim como podem, também, enfraquecer ou dificultar a formação de uma nova memória. Quanto ao tempo, a memória pode ser de curta ou de longa duração. O desafio da pedagogia é formular metodologias de ensino que transformem esta primeira ação da memória (curta duração) em memórias de longa duração. Assim, para a formação de novas memórias dos conteúdos escolares o estudante deve ser ensinado “o que fazer e como fazer” para aprender os conhecimentos, ou seja, o estudante precisa ser capaz de refazer o processo de aprendizagem. A imaginação para Lima desempenha um papel central nas aprendizagens escolares e deve ser considerada no planejamento, na alocação de tempo das atividades dentro e fora da sala de aula e nas situações comuns do cotidiano escolar. A imaginação não se “desprega” da memória, mas se recria com os elementos da memória. A autora lembra que a imaginação não é dada na espécie, é construída e é parte integrante do processo de aprendizagem porque aprender significa, exatamente, ser capaz de estabelecer conexões entre informações, construindo significados. A imaginação cria condições de aprendizagem. As aprendizagens escolares são a efetivaçãodas potencialidades da espécie e resultam da articulação entre as possibilidades do desenvolvimento e as atividades que as efetivam, atividades que são ensinadas pelo professor. Lembrando que, para que ocorra a aprendizagem, é necessário retomar o conteúdo em momentos diferentes, pois o domínio de um conteúdo se dá ao 16 longo do tempo. Trabalhar muitas vezes o mesmo conteúdo, de formas diferentes, promove a ampliação progressiva dos conceitos. Enfim, o referencial curricular pretende contribuir para construções democráticas tanto em sala de aula quanto na sociedade. Para isso entendemos que cada um de nós, Secretaria, Escola e Conselhos, sejamos capazes de identificar e transformar as concepções de conhecimento, de seres humanos, de educação e de sociedade que temos e avaliar o que queremos. OS FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS Jean Piaget Na medida em que Piaget apresenta e comprova, através de um método científico consistente os estágios cognitivos, professores e outros profissionais ligados à infância passam a considerar o currículo a ser ensinado e sua organização respeitando as potencialidades de cada faixa etária. Sua teoria vem revolucionar o conceito que se tinha até então do que vem a ser aprendizagem e inteligência. Estas passam a ser produto do raciocínio e da compreensão do mundo que o cerca de maneira gradativa e evolutiva. Sob sua ótica, a inteligência humana é uma organização de esquemas ou procedimentos mentais que permitem que níveis de conhecimento mais simples se reorganizem, tornando-se cada vez mais complexos. Ele nos leva a compreender que o desenvolvimento humano não se dá pelo acúmulo de informações, mas pelo processo contínuo de reorganizações mentais. O que ocorre durante a construção do conhecimento são substituições sucessivas de lógicas que vão se superando diante de novos problemas apresentados pelo mundo ou por mediadores mais experientes. Cada estágio de desenvolvimento humano representa uma mudança na qualidade do pensamento com lógicas progressivas que não podem ser “puladas”. A superação das hipóteses psicogenéticas explicitada pelos estudos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1999) segue esse mesmo princípio. As autoras fundamentam sua teoria sobre a apropriação da linguagem escrita numa perspectiva evolutiva de construção da aprendizagem, uma vez que têm como 17 premissa a Epistemologia Genética de Jean Piaget, que visa compreender como o ser humano passa de um nível de conhecimento inferior para outro mais elaborado. Neste referencial as descobertas de Piaget poderão ser um dos princípios orientadores da prática docente. As características gerais de cada fase servirão para orientar a escolha de metodologias, procedimentos e recursos didáticos de modo que favoreçam maiores possibilidades aos estudantes para compreenderem os conteúdos trabalhados. Seus estudos também são orientadores do olhar do professor para “o como a criança e o adolescente aprendem”, suas preferências e interpretações do mundo. Lev Vygotsky Para Vygotsky o desenvolvimento humano depende fundamentalmente da aprendizagem, e esta se constitui de um caráter biológico e social universal. Para ele é o aprendizado que possibilita e movimenta o processo de desenvolvimento intelectual e humaniza os sujeitos: “o aprendizado pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram na vida intelectual daqueles que as cercam” (VYGOTSKY, 1984, p.99). Souza e Martins (2006) melhoram nossa compreensão sobre as ideias de Vygotsky revelando a importância da mediação para o desenvolvimento potencial dos estudantes, ou seja, aquilo que ele ainda não domina, mas é capaz de realizar, com o auxilio de alguém mais experiente. A interação entre aprendizado e desenvolvimento é possibilitada pelo professor mediador. É o professor, [...] que ajuda a criança a concretizar um desenvolvimento que ela ainda não atinge sozinha. Na escola, o professor e os colegas mais experientes são os principais mediadores. [...] O professor precisa conhecer o desenvolvimento real da criança, mas não pode parar por aí, pois é pelo auxílio direto, com explicações, pistas e sugestões, que o aluno avança, consolidando o desenvolvimento que era apenas potencial. No trabalho individual respeita-se a zona proximal de cada um, pois ela não é homogênea para todo o grupo (SOUZA e MARTINS, 2006, p.107). Dessa forma, o ensino fundamental tem como base estruturadora da construção do conhecimento do professor e dos estudantes, a tríade aprendizagem-mediação-desenvolvimento. Esse pressuposto eleva a importância do professor no processo de ensino-aprendizagem na medida em que o 18 desenvolvimento humano, por meio da aprendizagem, depende da qualidade das intervenções educativas e das informações oferecidas por ele aos estudantes. Os estudos de Vygotsky apontam que as características tipicamente humanas não estão presentes desde o nascimento do individuo, nem são mero resultado das pressões do meio, mas resultam da interação dialética do homem e seu meio sociocultural. O homem, ao mesmo tempo em que transforma o seu meio para atender suas necessidades básicas, transforma a si mesmo. As ideias de Vygotsky pretendem reorientar o olhar da escola para que esta possa compreender que as funções psicológicas superiores (atenção, percepção, memória, pensamento e imaginação) além de serem imprescindíveis para aprender os conteúdos escolares, também se originam nas relações dos indivíduos e seu contexto cultural e social. Para Vygotsky o cérebro, produto de uma longa evolução, é entendido como um sistema aberto de grande plasticidade, cuja estrutura e modos de funcionamento são moldados ao longo da história da espécie e do desenvolvimento individual. Plasticidade é, segundo Lima, a possibilidade de formação de conexões entre neurônios a partir das sinapses. A infância é o período de maior plasticidade, ou seja, quanto mais novo o ser humano, maiores e mais rápidas são as conexões. Outro aspecto importante a ser ressaltado para orientar a ação educativa diz respeito às características da mediação presente em toda atividade humana. Diz Vygotsky que são os instrumentos técnicos e os sistemas de signos construídos historicamente que fazem a mediação dos seres humanos entre si e deles com o mundo. A linguagem é um signo mediador por excelência, pois carrega em si os conceitos generalizados e elaborados pela cultura humana. Para Vygotsky o desenvolvimento real ou efetivo são as conquistas já efetivadas pela criança e adolescente são capacidades que eles já aprenderam, pois já conseguem utilizar sozinhos, sem assistência de alguém mais experiente da cultura (pai, professor, criança mais velha etc.). O nível de desenvolvimento potencial se refere àquilo que a criança é capaz de fazer, só que mediante ajuda de outra pessoa (professores, outras crianças mais experientes). Nesse caso, Rego (1995), sob os ombros de Vygotsky diz que a criança realiza tarefas, soluciona problemas através do 19 diálogo, da colaboração, da imitação, da experiência compartilhada e das pistas que lhe são fornecidas. Assim, é preciso ainda compreender que a distância entre aquilo que a criança é capaz de fazer de forma autônoma, denominado de nível de desenvolvimento real e aquilo que ela realiza com ajuda de outros (nível de desenvolvimento potencial) caracteriza o que Vygotsky denominou de zona de desenvolvimento potencial ou proximal. A compreensão da zona de desenvolvimento proximal possibilita aos professores e demais profissionais envolvidos no processo de escolarizaçãoobservar e “verificar não somente os ciclos já completados, como também os que estão em via de formação, o que permite o delineamento da competência da criança e de suas futuras conquistas”. (REGO, 1995, p. 74). Henry Wallon Na perspectiva de Wallon a educação deve se adaptar às características do desenvolvimento humano. Sua proposta revela uma ressignificação do processo de aprender. Ela surge, segundo Lima, como uma estrutura que possibilitaria a formação do ser humano, tanto como ser cultural, como ator social (Lima, 2001, p.13). O meio social e a cultura fornecem as informações necessárias à sobrevivência dos indivíduos e também definem os conhecimentos que precisam ser ensinados pelas instituições sociais, tais quais: a família, as instituições religiosas, a escola etc. O desenvolvimento ocorre dentro das interações sociais e com o meio físico. Mahoney (2004), citando Wallon explicita, [...] a relação da criança com o seu meio, uma relação recíproca, complementar entre fatores orgânicos e socioculturais. Essa relação está em constante transformação e é nela que se constitui o sujeito. O desenvolvimento é um processo em aberto porque a cada nova exigência do meio – meio que está sempre em movimento – novas possibilidades orgânicas [...] poderão ser ativadas em múltiplas direções. Enquanto o indivíduo mantiver sua capacidade de adaptação, estará aberto a mudanças, ao desenvolvimento. (MAHONEY, 2004, p. 14-15). Dentre os aspectos que são indispensáveis ao ato de aprender e desenvolver-se está a emoção. Segundo Wallon a emoção é um elemento 20 constitutivo do ser humano, que influencia todo processo de construção do conhecimento. Amparada em Wallon, Lima argumenta que, A emoção é parte do ato de conhecer. [...] a emoção é mesmo a base sobre a qual se dá o desenvolvimento da inteligência. Ou seja, não há dicotomia entre a emoção e a razão no ser humano, nem há uma interferência negativa da emoção na racionalidade humana. Na verdade, elas são interdependentes. A formação do ser humano tem como elemento constituinte a emoção. Portanto a aprendizagem em escola inclui, necessariamente o aspecto emocional (LIMA, 2002, p. 17). A teoria de Wallon considera o desenvolvimento da pessoa completa integrada ao meio em que está inserida, com os seus aspectos afetivo, cognitivo e motor. Assim, a ênfase é para a integração – entre organismo e meio e entre as dimensões: cognitiva, afetiva e motora na constituição da pessoa. Na perspectiva de Wallon a emoção faz parte do conhecer. É da protoconsciência emocional, subjetiva que irá se desenvolver a consciência reflexiva. A vida psíquica é resultante do encontro da vida orgânica com o meio social. A maturação orgânica é considerada condição para o desenvolvimento e permite descrevê-lo em estágios sucessivos e integrados. É a comunicação emocional que dá acesso ao mundo adulto, ao universo das representações coletivas. A inteligência surge depois da afetividade e, a partir das condições de desenvolvimento motor, se alterna e estabelece um conflito com ela. A função simbólica é a aptidão específica da espécie humana que se refere ao poder de encontrar, para um objeto, a sua representação e, para esta representação, um signo. O desenvolvimento deste potencial pela espécie tem, na sua base, a vida em sociedade que pressupõe objetivos comuns e necessidade de comunicação. Outra contribuição de Wallon é que a afetividade evolui conforme as condições maturacionais de cada pessoa e com formas de expressões diferenciadas, que se configuram como um conjunto de significados que o indivíduo adquire nas relações com o meio, com a cultura, ao longo da vida. Os significados representam para cada pessoa as diferentes situações e experiências vivenciadas num determinado momento e ambiente social. Por este motivo a afetividade não permanece imutável ao longo da trajetória da pessoa. Em virtude de seu poder de sobrepor-se à preponderância da razão, é necessário, segundo Wallon, manter-se uma “baixa temperatura emocional”, ou seja, um ponto de “equilíbrio” entre razão e emoção para que se possa trabalhar 21 as funções cognitivas. A integração entre as dimensões motora, afetiva e cognitiva, conceito central da teoria de Wallon, é claramente descrito por Mahoney (2000): O motor, o afetivo, o cognitivo, a pessoa, embora cada um desses aspectos tenha identidade estrutural e funcional diferenciada, estão tão integrados que cada um é parte constitutiva dos outros. Sua separação se faz necessária apenas para a descrição do processo. Uma das consequências dessa interpretação é de que qualquer atividade humana sempre interfere em todos eles. Qualquer atividade motora tem ressonâncias afetivas e cognitivas; toda disposição afetiva tem ressonâncias motoras e cognitivas; toda operação mental tem ressonâncias afetivas e motoras. E todas essas ressonâncias têm um impacto no quarto conjunto: a pessoa (p. 15). Assim, para garantir o direito de aprender a todos os estudantes, do Sociointeracionismo de Vigotsky e Wallon, como uma das teorias cognitivistas de aprendizagem que se baseia no resultado das interações sociais, na medida em que um sujeito mais experiente media o conhecimento do sujeito em aprendizagem por meio da linguagem e experiências no mundo cultural. Já o construtivismo que nasceu na base dos estudos de Ferreiro e Teberosky apoiados em Jean Piaget é uma teoria cognitivista de aprendizagem que explica que a aprendizagem é o resultado da interação entre o sujeito e o objeto de estudo. A experiência é fator fundamental nesse processo. Dessa forma, as interações são fundamentais para o processo de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita. As ideias de Piaget, Vygotsky e Wallon pretendem provocar reflexões que possam ajudar os professores a encontrar caminhos mais pertinentes para ensinar os estudantes, considerando suas características biopsicossociais. Em suma, é preciso que toda equipe docente da escola compreenda que cada autor ou pesquisador do desenvolvimento humano pode, na sua especificidade, contribuir para uma compreensão melhor de “como o sujeito aprende” e, consequentemente, contribuir para um ensino e uma aprendizagem mais significativa. A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO Para a organização da prática pedagógica recorremos a Sacristán (2000, p.166) para estabelecer que o professor deve se tornar num mediador decisivo 22 entre o currículo e os estudantes, um agente ativo no desenvolvimento curricular, um organizador dos conteúdos. Nessa forma de organizar as aulas “as idades da vida, da formação humana passam a ser o eixo estruturante do pensar, planejar, intervir e fazer educação, da organização das atividades, dos conhecimentos, dos valores, dos tempos e espaços” (ARROYO, 1999, p.6). Com Arroyo (1999) trabalhar nessa perspectiva não acrescenta novas incumbências a serem treinadas previamente, mas cria situações coletivas que propiciam explicitar e cultivar o papel, os valores e saberes educativos que cada professor já põe em ação em sua prática e nas escolhas que faz a cada dia no trato com os estudantes. O professor, então passa a se ver como um profissional que tenta dar conta dessas temporalidades do desenvolvimento humano com suas especificidades e exigências. E a escola é vista como um encontro pedagogicamente pensado e organizado de gerações, de idades diferentes (ARROYO, 1999, p. 158-159). Desse modo, as salas de aula das Unidades de Ensino da Rede Municipal devem se transformar em, [...] um espaço de ampliação da experiência humana, devendo, para tanto, não se limitar às experiências cotidianas da criançae trazendo, necessariamente, conhecimentos novos, metodologias e áreas do conhecimento contemporâneas. O currículo se torna assim um instrumento de formação humana (LIMA, 2008, p.19). E cada profissional da equipe escolar precisa desenvolver a capacidade de criar estratégias e procedimentos pedagógicos que contrariem a lógica conservadora e excludente do ensino escolar, e trabalhe no sentido de se transformar em um profissional, [...] intelectual e culturalmente orientado, cuja atuação política em prol da redução das situações de opressão se paute pela crítica da própria prática, pela crítica das distintas manifestações culturais, bem como pela proposição de alternativas ao existente. (MOREIRA e MACEDO, 2001, p138-139). Nesse sentido, como Launé (2008, p.85), cabe ao docente descobrir as melhores condições para que o estudante aprenda, reconhecendo que, enquanto ensina, também aprende nas interações que vivencia. Dessa forma, há necessidade de exercitar o olhar para além das aparências. Nesse sentido, os 23 valores, as atitudes, as representações, os conteúdos, as competências, a identidade e os projetos de cada um são decisivos. Nesse processo a organização do trabalho pedagógico deve pautar-se na perspectiva da metodologia de projetos e no trabalho com as sequências didáticas, em que o professor, ao problematizar os conteúdos abordados, “instiga os alunos ao diálogo, propiciando, assim, um posicionamento crítico e dialético que implica em um movimento constante de ação-reflexão-ação”. (BEHRENS, 2006, p.167). A existência de um trabalho orientado pela problematização e investigação está sempre ligada à dúvida sincera, ao estudo e a uma meta em aberto, admitindo o risco, mas não a impossibilidade. O conhecimento para o estudante dentro da sala de aula está sendo criado continuadamente. Essa forma de organização do ensino traz o social para a sala de aula e procura envolver mais os estudantes nas atividades, de forma mais significativa. Seu objetivo é articular os propósitos didáticos aos conteúdos científicos e sociais que devem ser ensinados, além de dar um sentido mais amplo às práticas escolares. Evita a fragmentação dos conteúdos e torna os estudantes corresponsáveis pela própria aprendizagem. Portanto, planejar as aulas utilizando o caminho da investigação, da problematização, do levantamento de hipóteses e do conhecimento prévio dos estudantes são ações didáticas motivadoras para despertar o gosto pela aprendizagem. Este é um trabalho indispensável e de responsabilidade do professor, com auxilio do Coordenador Pedagógico. Desta forma, a organização das aulas requer que o planejamento do ensino seja participativo, em que as decisões e responsabilidades pela aprendizagem dos estudantes sejam sempre coletivas. O diálogo deve ser a essência dos encontros por excelência, remetendo cada um à “reflexão-ação- reflexão-ação” através dos chamados Colóquios Pedagógicos. Os colóquios pedagógicos pretendem abrir maiores possibilidades para a construção de novos conhecimentos para ressignificar os habituais, bem como descartar os que já não possuem mais sentido. Estes argumentos sobre os colóquios encontram respaldo nas palavras de Andrea Krug (2001) ao expressar que “os professores e professoras formam um coletivo, por isso a 24 responsabilidade pela aprendizagem é sempre compartilhada por um grupo de docentes e não mais por professores e professoras individualmente” (PROJETO CBAC/SMEC/VG, 2004, p.13). Esse processo, nas palavras de Perrenoud (2000), demonstra que trabalhar em equipe não depende de uma opção pessoal, é uma exigência profissional decorrente da evolução do próprio ofício de ensinar. Assim, é exigência da natureza da educação: só se educa quando há diálogo, o que é impossível com pessoas trabalhando isoladamente. Nessa perspectiva, a prática pedagógica tem como objetivo maior erradicar o fracasso escolar, a exclusão e a reprovação no ensino fundamental. Portanto, a organização dos conteúdos das áreas para o fazer pedagógico em sala de aula poderá ser de forma interdisciplinar, quando o tema ou conteúdo assim permitir. A interdisciplinaridade, segundo Antoni Zabala (2002) pode ser realizada entre duas ou mais disciplinas, procurando proporcionar aos estudantes maior compreensão sobre os assuntos. Ao professor cabe a tarefa de ter claro que todo conteúdo é o meio formal para garantir os direitos de aprendizagem dos estudantes. A IMPORTÂNCIA DO ATO DE PLANEJAR O planejamento é próprio da natureza humana: a maior parte do que fazemos inclui um planejamento mais ou menos elaborado, dependendo dos meios disponíveis e objetivos a serem alcançados. Assim, pode-se planejar mentalmente o que será feito no dia, o que será servido no almoço e outros atos corriqueiros e cotidianos, do mesmo modo que se pode planejar uma festa, um encontro, uma reunião. Na escola, o planejamento adquire um significado mais específico e é visto por Padilha (2001) como a busca de equilíbrio entre meios e fins, recursos e objetivos de tal modo que se possa melhorar processos e resultados, com prazos determinados e etapas definidas. Desse modo, o planejamento é fruto de reflexão coletiva e deve ser acompanhado de uma avaliação contínua, pois tem por objetivo atender necessidades individuais e sociais. 25 O planejamento escolar envolve todos os segmentos em busca de melhorias para a escola no ensino fundamental. Para Libâneo (1994), esse é um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social, oferecendo uma orientação metodológica acerca do conteúdo a ser desenvolvido em sala de aula, com base nas necessidades e conhecimentos prévios dos estudantes. Para organizar o trabalho pedagógico, cada unidade de ensino deve articular os direitos/objetivos de aprendizagem aos conteúdos das áreas de conhecimento. Os direitos/objetivos deverão compor a proposta pedagógica definida no Projeto Político-Pedagógico/PPP. Este processo deve ser acompanhado e monitorado pela equipe docente e não docente da escola, uma vez que todo plano deve ser exequível e flexível. Isso porque sem planejamento que organize e dê sentido e unidade ao trabalho as ações tendem a ser improvisadas, aleatórias, espontaneístas, imediatistas e notadamente orientadas pelo ensaio e erro, condições que tantos prejuízos causam à educação. Sem planejar, trabalha-se, mas sem direção clara e sem consistência entre as ações. Dá-se aula, mas não se promove aprendizagens efetivas; realizam-se reuniões, mas não se promove convergência de propósitos em torno das questões debatidas; realizam-se avaliações, mas seus resultados não são utilizados para melhorar os processos educacionais; enfrentam-se os problemas, mas de forma inconsistente, reativa e sem visão de conjunto, pela falta de análise objetiva da sua expressão e da organização das condições para superá-las. (LÜCK, HELOÍSA, 2009) O Planejamento Anual - significa uma diretriz para o que será feito no decorrer do processo de ensino em sala. Entretanto, poderá e deverá conter modificações no dia a dia da escola, cada vez que o professor ou a equipe sentir necessidade, uma vez que sua função flexível precisa atender às necessidades contextuais e necessárias. Além dos conteúdos, há que se pensar em como os procedimentos, atitudes, valores e normas devem ser repassados pela escola. O Plano de Aula - deve ser elaborado pelo professor, com o acompanhamento sistemático do Supervisor/ Coordenador que, por sua vez, deve orientar e somar forças com o corpo docente da suaescola com vistas ao fortalecimento do processo ensino-aprendizagem. 26 Há que se ressignificar e refletir profundamente sobre sua necessidade para o ato de ensinar e aprender, pois entendemos que o plano é o melhor instrumento do professor para a construção da aprendizagem significativa. Por meio dele, o professor pode montar sua aula antecipadamente, prevendo os recursos de que necessitará e a forma como irá utilizá-los. Isso permitirá a flexibilização do conteúdo a partir da análise diagnóstica das necessidades verificadas. O planejamento das aulas deve ser um processo contínuo e flexível; deve levar em consideração a realidade da classe, além dos interesses de aprendizagem. Elaborar um plano de aula é fazer o detalhamento do plano anual tendo em vista sua operacionalização sistemática. Deve contemplar as necessidades e os avanços já alcançados pelos alunos e a necessidade de intervenção pedagógica, levando-se em conta a coerência que deve existir entre as capacidades a serem desenvolvidas. Faz-se necessário, ainda, a observância dos descritores e as atividades que devem ser trabalhadas em sala de aula. Os Conteúdos - Os conteúdos representam elemento importante no currículo, retratando diferentes dimensões como conceitos, fatos, princípios, procedimentos e atitudes. Os conteúdos são elementos que, se bem trabalhados metodologicamente, permitem ao estudante compreender a realidade para poder ser parte ativa dela, possibilitando que ele trabalhe não só com projeções futuras de uso de suas habilidades e conhecimentos, mas com situações do presente que ampliem o senso comum (conhecimentos prévios), levando ao conhecimento científico ou aprimorando um conhecimento já existente. Para tanto, este documento propõe o trabalho interdisciplinar que, [...] se faz em torno de um processo, que envolve a integração e o engajamento de educadores, gerando a interação das disciplinas do currículo escolar não apenas entre si, mas, sobretudo, destas com a realidade, com vistas a superar a fragmentação e a formar integralmente os alunos. (LUCK,1994). Portanto, para a efetivação dessa proposta precisamos organizar o tempo sem fragmentar as áreas de conhecimento, cujos componentes curriculares tenham a mesma importância na formação social, pois tudo que se aprende na escola deve ter ligação com a realidade social, ser significativo e ter 27 sentido para o estudante. Assim, um planejamento interdisciplinar sempre precisará contemplar, além dos conteúdos específicos de cada área, o desenvolvimento de atividades coletivas, comunicativas e argumentativas, as quais favorecerão o desenvolvimento do conhecimento científico inter-relacionado ao letramento crítico. No que se refere ao conceito de “letramentos críticos”, Barbosa (2007) explica que, [...] esse conceito visa enfatizar a ideia de que não basta formar usuários de várias linguagens, numa perspectiva meramente instrumental, técnica e pragmatista, mas é preciso que a formação vise ao desenvolvimento da criticidade, no sentido de desvelar e/ou atribuir intencionalidades, interesses e ideologias que cercam qualquer uso das linguagens. (BARBOSA, 2007, p. 42) Dessa forma, espera-se que este documento se constitua, no âmbito escolar, como um importante instrumento orientador das práticas pedagógicas, possibilitando maior clareza para a comunidade escolar acerca do compromisso com o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes. Nessa perspectiva, os conteúdos formais, escolhidos para o currículo, terão um papel importante na escolarização da criança e do adolescente. As metodologias para conduzir às aprendizagens precisam ser adequadas às estratégias de desenvolvimento da idade do estudante. Nesse contexto, as atividades servem para que o professor verifique se os estudantes aprenderam os conteúdos propostos, bem como se os objetivos foram alcançados. Assim, trabalharemos com os objetivos que deverão ser atingidos ao longo de todo o Ensino Fundamental, nas áreas do conhecimento/componentes curriculares organizados dessa forma: I - Linguagem Língua Portuguesa Arte Línguas Estrangeiras Modernas Educação Física II - Ciências da Natureza III - Matemática IV- Ciências Humanas e Sociais Geografia 28 História V - Ensino Religioso OS TEMAS ESPECIAIS Os temas especiais permitem estabelecer a integração entre os componentes curriculares de uma mesma área do conhecimento e entre as diferentes áreas que organizam a educação básica. Esses temas dizem respeito a questões que atravessam as experiências dos sujeitos em seus contextos de vida e atuação e que, portanto, intervêm em seus processos de construção de identidade e no modo como interagem com outros sujeitos e com o ambiente, posicionando- se ética e criticamente sobre e no mundo. Trata-se, portanto, de temas sociais contemporâneos que contemplam, para além da dimensão cognitiva, as dimensões política, ética e estética da formação dos sujeitos, na perspectiva de uma educação humana integral. Considerando critérios de relevância e pertinência sociais, bem como os marcos legais vigentes, a Base Nacional Comum Curricular trata, no âmbito dos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento dos diferentes componentes curriculares, dos seguintes temas especiais: ■ Economia, educação financeira e sustentabilidade. ■ Culturas indígenas e africanas. ■ Culturas digitais e computação. ■ Direitos humanos e cidadania. ■ Educação ambiental. Economia, educação financeira e sustentabilidade A globalização econômica que tem rompido as fronteiras entre países, por meio das novas tecnologias e do apelo desenfreado ao consumo global e padronizado, exige que a escola pense no seu papel em relação à formação de crianças e adolescentes para enfrentar essa realidade em permanente transformação, frente ao iminente esgotamento de recursos naturais do planeta. 29 O tema especial Economia, educação financeira e sustentabilidade contribui para que a escola assuma a responsabilidade de formar cidadãos conscientes e comprometidos com a construção de relações mais sustentáveis dos sujeitos entre si e com o planeta. Culturas indígenas e africanas As desigualdades sociais e econômicas que marcam a sociedade brasileira têm contribuído para a promoção de uma massificação cultural que muitas vezes não reconhece, nem valoriza a diversidade e pluralidade culturais do Brasil. O tema especial Culturas indígenas e africanas relaciona-se ao reconhecimento do protagonismo de atores excluídos das narrativas históricas e da necessidade de que esse reconhecimento se incorpore à formação das novas gerações. Alinha-se, ainda, à Lei nº 11.645/2008, que alterou o artigo 26-A, da LDB, que estabelece a obrigatoriedade de os currículos abordarem a história e a cultura afro-brasileira e africana, bem como a dos povos indígenas. Culturas digitais e computação Em um mundo cada vez mais tecnologicamente organizado, em que o acesso à informação é imediato para uma parcela significativa da população, a escola é chamada a considerar as potencialidades desses recursos tecnológicos para o alcance de suas metas. Nesse sentido, o tema especial Culturas digitais e computação relaciona-se à abordagem, nas diferentes etapas da educação básica e pelos diferentes componentes curriculares, do uso pedagógico das novas tecnologias da comunicação e da exploração dessas novas tecnologias para a compreensão do mundoe para a atuação nele. Direitos humanos e cidadania Ao eleger Direitos humanos e cidadania como um dos temas especiais pretende- se que os diferentes componentes curriculares sejam capazes de abordar, na formulação de direitos e objetivos de aprendizagem, o necessário tratamento aos direitos humanos, tendo em conta tanto a promoção da igualdade como o combate à desigualdade. 30 Educação ambiental A Lei nº 9.795/1999, que dispõe sobre a Educação Ambiental (EA) e institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), explicita que a educação ambiental diz respeito aos processos por meio dos quais os indivíduos e a coletividade constroem conhecimentos, habilidades, atitudes e valores sociais, voltados para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Ao eleger Educação ambiental como tema especial almeja-se articular direitos e objetivos de aprendizagem em torno das questões socioambientais, de tal forma que os currículos escolares sejam capazes de debater a continuidade da vida de todas as espécies, inclusive a humana, no planeta terra. Isto exige repensar a desigualdade na distribuição de bens materiais e culturais, bem como a sua produção não sustentável pelo uso predatório dos recursos naturais e pelo consumo desenfreado. Os temas especiais devem permear os componentes curriculares das áreas de conhecimento de forma interdisciplinar buscando associar os conhecimentos prévios dos alunos aos conhecimentos científicos realizando, assim, a transposição didática. Nessa perspectiva orientamos a utilização das metodologias: Projeto, Sequência Didática e Sequência de Atividades no trabalho da organização curricular. AS METODOLOGIAS ORIENTADORAS DA PRÁTICA PEDAGÓGICA A Sequência Didática Neste texto apresentamos a sequência didática como uma possibilidade de organização do trabalho pedagógico, que favorece a interdisciplinaridade em uma perspectiva sociointeracionista. Mesmo planejada previamente, uma sequência didática deve ter um caráter flexível, de modo a permitir que outras situações sejam incorporadas ao processo, caso alguns conhecimentos precisem ser mais aprofundados. Além disso, esse trabalho proporciona a integração entre os eixos de ensino da língua (oralidade, leitura, produção de texto e análise linguística) e dos componentes curriculares. 31 Zabala (1998, p.18) define a Sequência Didática como um conjunto de atividades ordenadas, estruturadas e articuladas para a realização de certos objetivos educacionais e têm um princípio e um fim conhecidos tanto pelos professores como pelos estudantes. Importante ressaltar que a Sequência Didática é uma forma de organizar o ensino cujas etapas de desenvolvimento devem contemplar o conteúdo que se pretende ensinar. Ela inicia-se com a problematização do tema ou conteúdo que se quer alcançar, no qual sempre são lidos textos que exemplificam o proposto. Nas etapas seguintes, os estudantes são ensinados a construir textos coletivos e individualmente seguindo as características dos assuntos trabalhados durante as aulas. Reportamo-nos a Schneuwly e Dolz Sequência Didática (2004) pode ser definida como “um conjunto de atividades escolares organizadas sistematicamente em torno de um determinado gênero textual oral ou escrito”. Conforme definido por esses autores, a sequência didática é considerada um conjunto de atividades progressivas, articuladas entre si, guiadas por um tema, um objetivo geral ou uma produção dentro de um projeto de classe. Podem e devem ser usadas em qualquer disciplina ou conteúdo, pois auxiliam o professor a organizar o trabalho em sala de aula de forma gradual, partindo do nível de conhecimento que os alunos já dominam para chegar ao nível que eles precisam dominar. Ela é constituída de uma produção inicial, feita sobre uma situação de comunicação que orienta a sequência didática, e de módulos que levam os alunos a se confrontarem com os problemas do gênero tratados de forma mais particular. Como fechamento há uma produção final. Esses três passos constituem a sequência didática. O que é preciso para realizar sequências didáticas? É preciso ter alguns conhecimentos sobre o gênero que se quer ensinar e conhecer bem o grau de aprendizagem que os alunos já têm sobre o gênero. Isso é necessário para que a sequência didática seja organizada de tal maneira que não fique nem muito fácil, o que desestimulará os estudantes, porque não 32 encontrarão desafios, nem muito difícil, o que poderá desestimulá-los a iniciar o trabalho e envolver-se com as atividades. Por que usar sequências didáticas? Para ensinar os estudantes a dominar um gênero de texto de forma gradual, passo a passo. Ao organizar uma sequência didática, o professor pode planejar etapas do trabalho com os estudantes, de modo a explorar diversos exemplares desse gênero, estudar as suas características próprias e praticar aspectos de sua escrita antes de propor uma produção escrita final. Outra vantagem desse tipo de trabalho é que leitura, escrita, oralidade e aspectos gramaticais são trabalhados em conjunto, o que faz mais sentido para quem aprende. A sequência didática e suas etapas Decompondo a Sequência Didática: 1ª ETAPA - APRESENTAÇÃO DA SITUAÇÃO São dadas as informações necessárias para que os estudantes conheçam o projeto de comunicação que será realizado na produção final, ao mesmo tempo em que prepara os alunos para a 1ª produção. Nessa etapa o professor deverá: a. Compartilhar a proposta de trabalho com os estudantes; b. Sondar o conhecimento prévio dos estudantes acerca do gênero. 33 2ª ETAPA - PRODUÇÃO INICIAL Os estudantes tentam elaborar um primeiro texto do gênero escolhido, revelando o que eles conhecem sobre ele. Essa produção tem o papel de reguladora da sequência, mostrando o que os alunos já conhecem sobre o gênero e indicará o que o professor deverá abordar nos módulos para auxiliar os alunos a construírem o conhecimento que falta. Essa etapa tem o objetivo de: a. Mapear o conhecimento prévio dos estudantes; b. Ampliar o repertório dos estudantes; c. Produzir um texto individual ou coletivo. 3ª ETAPA - ORGANIZAÇÃO E SISTEMATIZAÇÃO DOS CONHECIMENTOS – MÓDULOS • Nos módulos, de modo geral, procura-se trabalhar os problemas que apareceram na produção inicial e dar aos estudantes os instrumentos necessários para superá-los. • O professor avalia as principais dificuldades da expressão oral ou escrita dos alunos e constrói módulos com diversas atividades e estratégias para trabalhar a superação de cada problema. • Os módulos, assim como toda a sequência didática, não são fixos, mas possuem um movimento que vai do mais complexo ao mais simples, para, no final, voltar ao complexo, que é a produção final. Ao final de cada módulo sintetizar o conhecimento adquirido na lista de constatações. 4ª ETAPA - PRODUÇÃO FINAL O estudante irá colocar em prática o que construiu nos módulos: ele irá produzir o seu texto final e poderá, em seguida, compará-lo a seu texto inicial, percebendo os progressos que teve durante o trabalho. Ao final dos trabalhos, publicar os textos produzidos pelos estudantes. Escolha o portador mais adequado ao gênero. Por exemplo: para contos maravilhosos, transforme os textos dos estudantes em um livro ou coletânea; se você trabalhou com a notícia, publique-os no jornal local ou no jornal mural. Com a publicação pronta, prepare 34 com cuidado o lançamento. Convide pais, professores,
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