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Beck, ST Imunologia Clínica 131 FFAAMMIILLIIAA DDOOSS HHEERRPPEESSVVIIRRUUSS (Herpesviridae) CONSIDERAÇÕES GERAIS: A família dos Herpes vírus agrupa mais de 80 tipos de vírus, mas só 8 são patógenos humanos (HHV –human herpes vírus) que incluem, os virus, Herpes simplex tipo1(HSV-1; HHV-1)Herpes simplex tipo -2 (HSV-2; HHV-2). Varicela-zoster (VZV; HHV-3); Epstein-Barr (EBV; HHV-4), Citomegalovirus (CMV;HHV-5), HHV-6 e HHV-7 que causam roséola infantum (exantema súbito); HHV-8, associado ao sarkoma de kaposi. A maioria das infecções produzidas pelos vírus deste grupo ocorre no início da vida, são clinicamente assintomática, mas induzem a formação de anticorpos. São vírus associados com persistência, latência e infecção recorrente, sendo esta última devido a reativação do vírus latente. Isto ocorre especialmente em situações de stress e na vigência de patologias e terapias com drogas imunossupressoras. A transmissão se dá de forma direta pessoa a pessoa. Associação com cânceres: HHV-1 : carcinoma escamosos da orofaringe HHV-2: câncer genital EBV: carcinoma nasofaringeo e Linfoma de Burkiitt (África) HHV-8: sarcoma de kaposi Latência: HSV 1-2 : gânglios neurais sensitivos VZV: gânglios neurais sensitivos EBV: linfócitos B /glandulas salivares CMV: linfócitos, monócitos e neutrófilos HSV 6/7/8: linfócitos CD4 CITOMEGALOVIRUS O Citomegalovirus pertence ao grupo dos hepersvirus e compartilha juntamente com outros vírus desta família a característica de permanecer latente em tecidos de indivíduos após a infecção aguda, de ser um vírus oportunista e fazer jus ao provérbio: “uma vez infectado, sempre infectado”. Estando presente no organismo, este vírus aguarda a oportunidade de ser reativado por algum processo de fragilidade imunológica como o período neonatal, o estado pós-transplante e em pacientes portadores de SIDA. Pode ser adquirida por via transplacentária, respiratória, oral, venérea, pela amamentação, transfusão sanguínea e transplante de órgãos. A infecção por citomegalovirus resulta em alterações histológicas características tipificadas por notável citomegalia de células epitelial com uma única grande inclusão intranuclear vermelha rodeada por um halo, dando a célula aparência de um olho de coruja. A prevalência da infecção na comunidade varia com o nível sócio econômico, sendo de 40% nas classes altas e até 100% nas classes baixas. Beck, ST Imunologia Clínica 132 A infecção pelo CMV pode resultar em uma variedade de síndromes clínicas, dependendo do estado imune do indivíduo infectado. Os órgãos preferencialmente atingidos são fígado, rins e pulmões. Em pessoas saudáveis, a infecção é geralmente subclínica, ou com sintomas leves como uma síndrome mononucleose (febre, linfocitose atípica, esplenomegalia). É talvez a causa mais comum de infecção congênita (0,3 a 2%). Quando a mãe desenvolve primo infecção durante a gravidez, a probabilidade de transmissão para o feto é de 40%. Se a infecção ocorre no primeiro trimeste da gestação, pode haver apenas infecção placentária seguida de aborto espontâneo. criança pode nascer com esplenomegalia, microencefalia, corioretinite, calcificações cerebrais, retardo mental, cegueira, surdez, paralisia cerebral. Contudo, entre as crianças infectadas, apenas 15% apresentam sintomas clínicos. Havendo reativação de doença latente na gestante, a transmissão vertical pode ocorrer em 0,2 a 2,2% dos casos. Nesta situação, os anticorpos maternos, não previnem a infecção do feto, mas desempenham papel protetor, impedindo o aparecimento de doença com manifestação clínica no RN. Em ambas as situações, os recém nascidos assintomáticos ao nascimento podem vir a apresentar seqüelas como deficiência auditiva ou neurológicas tardiamente. Infecções assintomáticas perinatal podem ser adquiridas como resultado a exposição ao CMV no momento do nascimento no canal do parto. REF: P. Collinet et al. / European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology 114 (2004) 3–11 Gestante suscetível Gestante Imune Se desenvolver infecção primária Se ocorrer infecção materna recorrente (reativação) 40% transmitem CMV Para feto 0,2-2% transmitem CMV para feto ou RN 10-15% RN presentarão infecção aparente 85-90% dos RN infectados serão assintomáticos 0-1% poderão ter doença aparente ou seqüelas 10% desenvolverão normalmente 90% desenvolverão seqüelas 85-95% desenvolverão normalmente 5-15%desenvolverão seqüelas Beck, ST Imunologia Clínica 133 Pacientes imunocomprometidos, como na AIDS, são suscetíveis a infecção disseminada pelo CMV. Os órgãos preferencialmente envolvidos são retina, trato gastrointestinal, e pulmões. Estes indivíduos freqüentemente têm doença progressiva apesar de terem altos níveis de anticorpos neutralizantes. Receptores de órgãos transplantados (Rim e fígado) desenvolvem doença generalizada e ocasionalmente fatal por CMV mais freqüentemente devido à infecção primária que por reativação. A infecção pelo CMV se manifesta principalmente no primeiro trimestre (até os 100 dias) após o enxerto, devido ao uso combinado e em altas dosagens das drogas anti-rejeição. A investigação laboratorial inclui a demonstração do vírus por métodos de cultivo (Shell-vial) ou acompanhamento de título de anticorpos por métodos sorológicos. Mais recentemente a demonstração do vírus é feita por detecção da antigenemia em neutrófilos circulantes e por técnicas moleculares através da reação em cadeia da polimerase (PCR).O diagnostico precoce da doença acompanhada da estimativa da carga viral são de extrema importância . A antigenemia pesquisa a presença da proteína pp65 nos neutrófilos que estão infectados pelo CMV. Esta proteína só se expressa quando a doença está em atividade, sendo fator de risco de progressão à doença invasiva pelo CMV. Por isto, esta técnica tem vantagem sobre a PCR qualitativa, que pode detectar o vírus em seu estado latente. A pesquisa através de cultivo do vírus é importante quando o paciente encontra-se neutropênico, impossibilitando a realização da antigenemia. Atualidades: “a infecção congênita pelo CMV foi altamente prevalente entre crianças nascidas de mães infectadas pelo HIV”. "A prevalência desta infecção, permaneceu elevada e esteve associada à morbidade frequente em neonatos co-infectados pelo HIV-1. O rastreamento sistemático da infecção pelo CMV deveria, dessa forma, ser recomendado para essas crianças". Clin Infect Dis 2009;48:1516-1525 Beck, ST Imunologia Clínica 134 HERPES SIMPLES O vírus do herpes simples tem como único hospedeiro conhecido o homem. O vírus Herpes-simples -1, é encontrado principalmente dentro e em redor da cavidade oral e em lesões acima da cintura. O herpes labial é a forma mais usual de manifestação do HSV. As lesões são indistinguíveis do vírus da Varicela-zoster. O hospedeiro, ao infectar-se, principalmente pela saliva, adquire a doença, que em 90% dos casos é assintomática. O vírus Herpes -simples - 2, é isolado principalmente no trato genital e lesões abaixo da cintura. A doença neonatal geralmente resulta da infecção pelo HSV-2, que tem transmissão venérea. O maior risco para o feto ocorre como resultado da infecção por HSV adquirida primaria no trato genital da mãe tardiamente na gravidez, com lesões no momento do parto. Se a infecção ocorreu com 32 semanas de gestação e não houver lesões ativas ao nascimento, o risco de infecção neonatal é de 10%. A maioria das infecções primárias por HSV é assintomática, com 70 - 90% da população portadora.A doença HSV recorrente geralmente ocorre no local da infecção primária, embora outros locais distantes possam ser comprometidos. Geralmente a infecção recorrente é resultado da reativação latente do vírus residindo nos gânglios paraespinhais ou nos nervos cranianos que inervam o local da infecção primária. Embora HSV-1 e HSV-2 geralmente tenham diferentes modos de transmissão e doença clínica associada, a infecção por HSV-1 pode infectar o trato genital e o HSV- 2 a cavidade oral. Pode haver produção de anticorpos IgM em infecção antiga reativada. VARICELA-ZOSTER O homem é o único hospedeiro natural conhecido para o vírus da varicela- zoster (VZ). O nome reflete duas doenças associadas com o vírus, a varicela (catapora), e o zoster (cobreiro). A infecção primária pelo VZ resulta nas manifestações clínicas da catapora. Após isso o vírus entra em fase latente, dentro do núcleo dos neurônios nos gânglios das raízes dorsais. A reativação do vírus resulta nas manifestações clínicas características do zoster. Um episódio de herpes zoster geralmente confere imunidade, estimando-se a recorrência em 2% dos casos. A maioria dos pacientes recupera-se sem seqüelas a não ser por ocasionais marcas cicatriciais na pele. Entretanto, a nevralgia pós- herpética pode persistir por meses. A varicela é uma doença benigna da infância, mas nem tanto, quando aparece em mulheres grávidas. Estima-se que 5% das mulheres, em fase de tornar-se mães, não estão protegidas contra esta doença e sua incidência (casos anuais) está entre 3 e 5 para dez mil (primo-infecção) A mais grave das complicações para as mulheres é a pneumopatia. Para o feto, o risco é em função do período de gestação. Até a vigésima semana, a contaminação da criança pode provocar anomalias cutâneas, neurológicas centrais, oculares, músculo-esqueléticas e acarretar retardamento do crescimento intra - uterino. O risco de infecção primária do RN pode ocorrer no decorrer do parto se a enfermidade materna ocorre dentro de 4 dias ou menos do parto. Beck, ST Imunologia Clínica 135 Tratamento rápido da mãe com gama-globulinas específicas, associado a droga antiviral (aciclovir), no caso de erupção próxima ao término, junto a um retardo do parto para que o tratamento faça efeito, pode evitar a contaminação do feto durante o parto. ( Newslab, 17, p 132, 1996) DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DOS HERPES VIRUS 1, 2, CMV e VZ-zoster O diagnóstico imunológico dos vírus citados acima se assemelha. Anticorpos IgM são produzidos logo após o inicio da infecção e geralmente persistem por 3-4 meses. Na catapora, a IgM é melhor detectada na primeira semana após o rash, atingindo o pico em 14 dias. Quanto ao Herpes Zoster, a IgM aumenta em torno do 8º e 10º dia após a erupção, com pico geralmente no 19º dia. Anticorpos IgG aparecem ao mesmo tempo, com pico no 2 ou 3 mês após a infecção e persistem por muitos anos ou toda vida. A pesquisa das duas classes de anticorpos pode ser feita por ELISA. O método de escolha para confirmação da infecção por estes vírus seria a cultura viral, ou PCR, para aqueles com seqüências nucleotidicas já descritas (CMV). O índice de avidez dos anticorpos IgG para CMV (lavagem com uma solução de uréia 8M após a reação antígeno-anticorpo durante a realização da técnica de ELISA) pode demonstrar uma primo-infecção recente, pelo encontro de anticorpos com baixa avidez (em média 30%). Este índice é dado pela relação das densidades óticas obtidas com e sem lavagem com uréia. Beck, ST Imunologia Clínica 136 EPSTEIN - BARR Mononucleose infecciosa é a doença mais comum causada pelo Epstein-barr (EBV). Ocorre normalmente em adultos jovens. Está também associado a carcinoma nasofaringeal, linfoma em indivíduos imunocomprometidos, e outras doenças envolvendo linfócitos. Em sua maior parte, as pessoas são infectadas durante a infância, não sofrem qualquer sintoma, e a replicação viral é aparentemente controlada pelas respostas imunes humoral e mediada por células. A infecção se caracteriza por garganta ferida, febre, e linfoadenopatia generalizada. Grandes linfócitos T morfologicamente atípicos são abundantes no sangue periférico de pacientes com mononucleose infecciosa. É transmitido pela saliva, infecta as células epiteliais da nasofaringe, e linfócitos B. Estes últimos são infectados mediante a ligação específica ao receptor do complemento do tipo 2 (CR2), seguida de uma endocitose. Podem ocorrer dois tipos de infecção celulares. Numa infecção lítica, tem início a síntese de proteínas, DNA e RNA virais, seguindo-se a montagem de partículas virais e a lise da célula do hospedeiro. Alternativamente, pode ocorrer uma infecção não lítica, em que o DNA viral é incorporado indefinidamente no genoma do hospedeiro. Linfócitos circulantes são responsáveis pela infecção generalizada. Após a infecção aguda, o EBV se mantém latente dentro da população de linfócitos B. Os antígenos nucleares de Epstein-Barr (EBNAs) envolvem pelo menos quatro diferentes proteínas nucleares, que são expressas no inicio das infecções líticas que também podem ser expressas por algumas células latentemente infectadas. Os EBNAs são os únicos antígenos do EBV bem caracterizados, que são alvos demonstrados para os linfócitos T citotóxicos (CTLs) específicos. Outros antígenos protéicos estruturais virais são expressos dentro das células infectadas, e nas partículas virais liberadas, durante infecções líticas, como os antígenos do capsídeo viral (VCAs). Anticorpos específicos para os VCAs estão presentes em indivíduos agudamente infectados, em recuperação, e remotamente infectados. O vírus é um potente ativador policlonal da proliferação dos linfócitos B independente do linfócito T. RELAÇÃO ENTRE EBV, MALIGNIDADE E IMUNODEFICIÊNCIA. Indivíduos sadios, previamente infectados pelo EBV, abrigam o vírus pelo resto de suas vidas em linfócitos B latentemente infectados, e, talvez no epitélio nasofaringeo. Estima-se que um, em cada milhão de linfócitos B num indivíduo previamente infectado, esteja infectado latentemente. A infecção pelo EBV também está também fortemente implicada como um dos fatores etiológicos para o desenvolvimento de certas malignidades, como o carcinoma nasofaríngeo em populações chinesas, linfoma de Burkitt na África Equatorial, e em linfomas de células B histologicamente variáveis em pacientes imunodeprimidos. Há forte evidência de que há necessidade da imunidade mediada por células para o controle das infecções pelo EBV e em particular, para a morte dos linfócitos B infectados pelo EBV. Primeiramente, indivíduos com deficiência na imunidade Beck, ST Imunologia Clínica 137 mediada por células T apresentam freqüentemente infecções agudas pelo EBV descontroladas, amplamente disseminadas, e talvez letais. Os linfomas de células B ocorrem com elevada freqüência em indivíduos imunodeficientes de linfócitos T, inclusive os indivíduos com imunodeficiência congênita, paciente de AIDC, e receptores de aloenxertos de rim ou coração submetidos a medicamento imunossupressores. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Usualmente uma leve leucopenia precede uma leucocitose com absoluta linfocitose durante a segunda ou terceira semana da doença. Mais de 50% dos linfócitos são atípicos. Anticorpos IgM heterófilo (reagem com antígenos presentes na natureza), que aglutinam anticorpos de carneiro, estão presentes em título superior a 1:56. Devem ser distinguidos dos anticorpos de Forssman presentes em pacientes com doença do soro. Eles persistem por 3 - 6 meses. São detectados pela sorologia de Paul-Bunnel tradicional ou MONOTEST. Os anticorpos heterófilos aparecem no soro dos pacientes entre o 6º e 10º dia de doença, com pico entre a 2ª e 3ª semanae persistem positivos por 8 a 12 semanas. Entretanto, 10 a 20% dos adultos e um percentual ainda maior de crianças não desenvolvem esses anticorpos. Na maioria dos casos, a clínica, os achados hematológicos e os anticorpos heterófilos positivos são suficientes para firmar o diagnóstico. Porém, diante de suspeita de mononucleose com pesquisa de anticorpos heterófilos negativa, a pesquisa de anticorpos específicos para EBV deve ser realizada. Anticorpos contra o capsídeo viral (VCA) e contra antígeno nuclear (EBNA) aparecem semanas ou meses após a infecção, o anti-VCA desaparece com o aparecimento do anti-EBNA que pode persistir por toda vida. Antígenos Aparecimento Pico Desaparecimento VCA IgM 1 sem. Antes e 1 sem depois do aparecimento dos sintomas 21º dia 1 a 6 meses VCA IgG 3 dias após o aparecimento dos sintomas 1 a 3 semanas Declina a títulos baixos e mantém toda vida EBNA 3 semanas após o aparecimento dos sintomas 3 a 12 meses Por muitos anos EA-D(difuso) 5 dias após o aparecimento dos sintomas 14º dia 2 a 6 meses
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