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Apontamento da Expressão Prática e Estética sobre o Saleiro Cellini Universidade Tuiuti do Paraná Arquitetura e Urbanismo Breno Burrego Curitiba 2015 Apontamento da Expressão Prática e Estética sobre o Saleiro Cellini Monografia apresentada como exigência para obtenção do grau de Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Tuiuti do Paraná. Orientador: Rubens Portella Breno Burrego Curitiba 2015 RESUMO Assim termino a análise de expressão estética e prática do Saleiro de Cellini segundo os pontos de vista sugeridos pelo Prof° Costella Palavras-chave: cellini, saleiro, maneirismo, renascença, expressão, factual, expressional, técnica, convencional, estilistica, atualizado, institucional, comercial, neofactual ABSTRACT nn Keywords: nn SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 5 2 PONTO DE VISTA FACTUAL......................................................................................... 6 3 PONTO DE VISTA EXPRESSIONAL............................................................................. 7 4 PONTO DE VISTA TÉCNICO......................................................................................... 9 5 PONTO DE VISTACONVENCIONAL.......................................................................... 11 6 PONTO DE VISTA ESTILÍSTICO................................................................................. 12 7 PONTO DE VISTA ATUALIZADO................................................................................. 14 8 PONTO DE VISTA INSTITUCIONAL........................................................................... 15 9 PONTO DE VISTACOMERCIAL.................................................................................. 16 10 PONTO DE VISTANEOFACTUAL............................................................................. 17 11 PONTO DE VISTA ESTÉTICO................................................................................... 18 12 CONCLUSÃO............................................................................................................... 20 REFERÊNCIAS................................................................................................................. 21 5 1 INTRODUÇÃO Entre um objeto, construção, artefato ou obra e seu observador há uma linha firme a qual chamamos de comunicação. Ela não tem como ser medida, não tem forma e não possui mensurabilidade, mas impacta a todos, em menor ou maior grau. Desde o nascimento como pessoas observadoras do ambiente a nossa volta, obtemos impressões de cores, formas, valores e sentimentos do que há ao redor. A medida que crescemos e mais do mundo conhecemos, adquirimos gostos, compatibilidades e noções. Mas muito do que foi produzido no mundo cria divergências ao olhar. Uma fotografia dada a um aborígena da floresta cria susto, em um cidadão da selva de pedra passa uma impressão diferente, pois nossa cultura nos impacta em variados níveis. Sendo assim, para obras já clássicas do panteão histórico da humanidade temos de fazer uma leitura mais elaborada perante as mesmas usando questionamentos de impressão. Sejam pessoais ou não, essas impressões demonstram como uma obra pode impactar na sociedade, seja ela de qual período for. Mas a leitura da obra nem sempre é fácil e a linha de comunicação pode até mesmo criar impressões contrárias a de outros observadores. Para um menor equívoco dessas impressões e uma leitura mais completa da obra, o autor Antonio F. Costella, artista, escritor e professor, escreve o livro Para Apreciar a Arte - Roteiro Didático, onde ele propõe um roteiro básico para o leitor apreciar de forma plena a obra de arte. Como exercício destes pontos de vista, escrevo aqui sobre o Saleiro de mesa; de Benvenuto Cellini. 6 Saleiro de Francisco I Benvenuto Cellini França 1540-1543 2 PONTO DE VISTA FACTUAL O saleiro de Francisco I, finalizado por Cellini em 1543 é um pequeno adorno de mesa que serve como depósito de sal e pimenta, especiarias de difícil acesso na época. Com cerca de 26cm de altura e 33cm de largura na base, a peça mostra uma figura masculina como representante do Mar, com adornos do classicismo helenístico de Poseidon/Netuno e a figura feminina representando a Terra, com referência as Ninfas. Há figuras e motivos maríticos de peixes, ostras e plantas, de força, como os cavalos e o elefante; e de expressão terna como os querubins esculpidos no entorno e na base de madeira. O recipiente de sal, a saliera é uma bacia e a de pimenta um templo iônico. 7 3 PONTO DE VISTA EXPRESSIONAL Como exemplar representante do Maneirismo, o saleiro evoca uma grande distorção do padrão clássico que estava acontecendo anteriormente na Renascença e mostra com maior elegância como combinar os excessos de floreios, adornos figurativos, ornamentais e simbólicos em uma composição harmoniosa. O luxo dos materiais, o trabalho delicado de cada peça mínima e a harmonia do conjunto consegue ser ainda mais preciso quando o objeto é posto lugar que foi projetado, uma mesa, onde ficamos acima da mesma e o trabalho adquire a suntuosidade que não é nada comum em um utensílio de mesa. A peça também impõe uma expressão de imponência, já que o Mar, com seu tridente aponta para o donzela Terra, que mesmo entrelaçada pelas pernas com seu atacante está em posição aberta e receptiva, junto das ondas do mar que adentram seu espaço, em um duelo de dois mundos. Os elementos figurativos também possuem simbolismos, como os quatro cavalos marinhos atrás do Mar, triunfantes com as ondas. No lado da Terra, temos flores, frutos e senta-se em um elefante, emblema do Rei Francis, coberto com uma camada de roupa de margaridas douradas francesas, sendo receptáculo de apoio da deidade. Os apoios das especiarias também encantam pelo detalhismo, no lado marinho o sal é colocado em um galeão. No lado terreno, a pimenta fica em um templo com várias figuras, como Hercules. 8 Detalhe 9 Detalhe 4 PONTO DE VISTA TÉCNICO O trabalho de ourives sempre foi de difícil acesso. A manipulação de materiais raros e alterados em sua forma para uso de poucos era uma profissão tocada de mestre para discípulos. Cellini foi um produto de sua época. Acreditava que a arte e o exercer dela era um exercício de poucos, para disputar e viver a vida como poucos. Sendo assim egocêntrico, Cellini não aceitava nem mesmo a sugestão de temas para suas obras. O saleiro nasceu de uma, contraditoriamente. Ao ser encomendado para outra peça de mesa e ter apresentado figuras semelhantes moldadas em gesso, o cardeal Ippolito d'Este disse que o trabalho seria dígno somente da mesa do rei. Dado oportuno momento, a sugestão e a apresentação da idéia renderam a encomenda do mesmo. 10 A peça é feita de ouro, marfim, esmalte e ébano e é ricamente trabalhada em todos estes lados. As figuras de ouro são oriundas de uma técnica onde uma grande peça sólida de ouro é grudada em uma base metálica através de grande calor e trabalhada nos mínimos detalhes na técnica do ourives, que martela, modela, solda e refina a jóia. O marfim era extraído de elefantes mortos na colônia e criam junto do ébano e do esmaltes a base de detalhes das peças base da obra, como o terrenos das deidades e as cores sobresalentes no ouro, desde o mar, os interiores e os quatro querubins representantes do ventos cardeais. 11 5 PONTO DE VISTACONVENCIONAL Um saleiro por si só já era um objeto da nobreza no período da Renascença, devido a dificuldade de extraí-lo da natureza. Um saleiro adornado com as peças mais raras e caras da época agregavam um luxo ainda maior a obra. Um que fosse esculpido por um artistarepresentante de sua geração na área era digno de realeza. E é isso que a peça demonstra em sublime perfeição. Herança de um período onde o excesso era a moda, a Saliera evoca a nós o luxo que somente uma família real poderia usufruir como benefício. Hoje o sal e seus saleiros são de acesso de todos, nos mais variados tipos, modelos e gostos, fazendo surgir uma dúvida do porque de tanto detalhismo com uma peça do dia a dia contemporâneo, caso a pessoa não contextualize o excepcional trabalho de Cellini. 12 6 PONTO DE VISTA ESTILÍSTICO O saleiro foi terminado em 1543, período quase final da Renascença, onde a natureza inspirava o tema da Mimese, ou seja, a imitação do real e do mundo que viam e viviam. É daí que a volta aos padrões Clássicos, tanto grego e romano, inspiram as técnicas de perspectiva e maior detalhismo as impressões e uso das cores, luzes, sombreamentos usando a representação interna do artista. Já o Maneirismo retirava a inspiração da natureza, convertendo a arte como inspiradora suprema, com ênfase a liberdade e genialidade criativa do artista. No papel de semideus, com dedos interventores divinos, há um exagero visível na torção do que era perfeito aos anseios da época, mostrando algo mais humano, angustiado e incerto, diferente das figuras com "cara de pintura", sem expressividade real. Olhando de longe isso caracteriza o período barroco, que tem maior dinamismo, contrastes fortes, maior dramaticidade, exuberância e realismo e uma tendência ao decorativo, mas olhando de perto vemos que a linha entre elas não é tão tênue quanto parece. O saleiro exalta exatamente isso, onde a tentativa de superar o período clássico ainda não existia, usando seus padrões técnicos para um início de protesto. 13 Detalhe 14 7 PONTO DE VISTAATUALIZADO O saleiro mudou de mãos reais várias vezes até cair no reino da Áustria por presente e consequentemente virou peça do museu Kunsthistorisches, onde em 11 de Maio de 2003, quando numa reforma do local o Saleiro foi roubado por Robert Mang e numa burra tentativa de venda, mesmo com a recompensa em mais de 1 milhão de Euros pela peça, foi recuperada enterrada numa floresta Austríaca. Como sendo peça única, dedicada a um rei francês, de materiais raros e ricamente entalhada, o saleiro tem um valor inestimável como representante máximo de estilo, época, costumes e de um intrigante autor. 15 8 PONTO DE VISTA INSTITUCIONAL O trabalho de Cellini na época da confecção da Saliera já era de notável reconhecimento, tanto por sua vida exótica quanto pelos exemplos anteriores de seus trabalhos, nas mãos de gente influente e poderosa em todos os níveis. Quando de um cardeal, a encomenda veio de um Rei, a peça ganhou após ser trabalhada no maior esmero, o título de representante máximo da época na técnica de ourives, sendo usada pela família real francesa até o Rei Charles IX dar-lhe de presente ao Arquiduque Ferdinand de Tyrol, de Habsburgs, em comemoração a união com Elisabeth da Áustria. No século IXX foi anexada ao Museu Kunsthistorisches, em Viena, Áustria. 16 9 PONTO DE VISTACOMERCIAL Sendo o único representante do trabalho de ourives de Cellini que temos ainda presentes e também símbolo de um artefato de época, talhado a mão, com materiais de dificílimo acesso, e com alegorias totalmente avessas aos saleiros contemporâneos o valor da obra é inestimável como artefato. Não é uma arte que possa ser reproduzida mecanicamente, sendo os materiais ainda caros hoje, de manufaturação extremamente artesanal. O Saliera representa um adorno para especiarias incomuns. Os saleiros contemporâneos são extremamente práticos, com alguns modelos transfuncionais. O valor da Saliera é avaliado em cerca de 68.3 milhões de dólares. 17 10 PONTO DE VISTANEOFACTUAL Não houve nenhuma alteração física na Saliera, além do tempo após a recuperação do roubo em 2003 onde a peça ficou sem seu tridente, que de inicial composição já era desmontável. O saleiro deixou de ser usado para ser visto. Sem ser adorno e sem ser utensílio, deixou de ter função para ser apreciado. 18 11 PONTO DE VISTA ESTÉTICO Uma obra após ter todos os pontos de vista explicitados acaba passando uma expressão estética muito mais forte do que apenas a de observador. Entender o contexto do saleiro de Cellini torna toda a visão projetada do mesmo, em uma concepção incrível de esmero, detalhismo e perfeccionismo. Real produto de uma época, magistral representante do estilo e admirável em todos os detalhes de sua composição. 19 Detalhe 20 12 CONCLUSÃO Assim termino a análise de expressão estética e prática do Saleiro de Cellini segundo os pontos de vista sugeridos pelo Prof° Costella. 21 REFERÊNCIAS Cellini Salt Cellar. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Cellini_Salt_Cellar> Acesso em: 5 mar. 2015 Maneirismo. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Maneirismo> Acesso em: 5 mar. 2015 Nos porões do crime. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/210503/p_084.html> Acesso em: 5 mar. 2015 Roteiro didático. Disponível em: <http://miramiro.blogspot.com.br/2010/08/para-apreciar-arte-roteiro-didatico.html> Acesso em: 5 mar. 2015 Saliera Cellini. Disponível em: <http://www.scultura-italiana.com/Approfondimenti/Saliera_Cellini.htm> Acesso em: 5 mar. 2015
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