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Centro Universitário Estácio do Ceará Curso de Psicologia Christiane Prudêncio Andrade TEORIAS E SISTEMAS PSICOLÓGICOS II PSICANÁLISE 1-Explique por que a psicanálise não trabalha com comportamento, e descreva as características do objeto de estudo da psicanálise. Justifique a resposta. (Obs: 2,0 pontos) - O objeto de estudo da psicanálise não é o comportamento e sim o inconsciente, e a análise é realizada por meio da fala do paciente e da associação livre dos pensamentos dele pelo psicanalista - Características do Inconsciente : O mundo inconsciente não está além da consciência, não é uma entidade abstrata, mas uma camada real, ampla, caótica e essencial da mente, à qual não se tem acesso. No entanto, esse mundo inconsciente se revela de várias maneiras: através dos sonhos, nos nossos erros involuntários ao escrever ou falar ou nos nossos atos falhos. Assim, o inconsciente para Freud é interno e externo. Interno porque se espalha pela nossa consciência e externo porque afeta nosso comportamento. Outra característica é que o inconsciente é intemporal. Para Freud possuímos três níveis de consciência. Consciente: é apenas uma parte de nosso funcionamento mental, o que temos consciência do que pensamos, do que sentimos, do que falamos e do que fazemos, sendo constituído pelas ideias que estamos cientes no momento. Pré-Consciente: é constituído por ideias inconscientes que podem se tornar conscientes quando direcionamos a atenção para elas, podendo ser percebidas nos sonhos ou nos atos falhos. Inconsciente: é a grande parte nossa que não temos consciência, onde estão guardados os desejos reprimidos, os conteúdos censurados e as pulsões inacessíveis à consciência, que influencia nossos comportamentos e ações, sem que a gente perceba. Outra descoberta feita por Freud foi a formação do inconsciente: Id: é onde está o nosso desejo libidinal, são todas as energias psíquicas e pulsões que possuem como intuito a obtenção do prazer. Ego: ("eu", em grego): é resultante da tentativa de estabelecer equilíbrio entre os desejos do id e as exigências da realidade e ordens morais do super-ego; na prática o que queremos é viver todo o tempo é o "id" (os desejos) , mas há o "super-ego" para nos proibir, e o "ego" surge como resultante da tensão entre id e super-ego. Super-Ego: é o representante das regras morais que nos impedem a realizar desejos, que nos geram proibições e limites por meio de regras morais. 2- Na perspectiva psicanalítica, descreva as contribuições dos casos clínicos: Fragmentos da análise de um caso de Histeria (1905) -” O Caso Dora” e Análise de uma fobia em um menino de cinco anos (1909) -” O pequeno Hans”, na contemporaneidade. Justifique a resposta. (Obs: 2,0 pontos) A grande contribuição do “Caso Dora” foi o estudo da patologia histérica. Hoje em dia, embora sua apresentação tenha se transformado com o tempo e não vejamos mais aqueles "ataques histéricos", em termos das movimentações tônico-clônicas a eles relacionados, a estrutura da patologia permanece a mesma sobretudo sobre à problemática das identificações. Se pensarmos nas histéricas de ontem e compararmos com as da atualidade veremos que os sintomas persistem, porém, suas vestes sofrem modificações. A influência da contemporaneidade no sujeito implica em respostas diferentes, porém a estrutura da neurose não difere e apresenta as mesmas características que Freud detectou e apontou no sujeito. No caso Dora, verificando os sintomas encontrados, como eles se formaram, e o que envolvia a sua formação: a causa sexual, a relação entre pulsão e fantasia, o papel fundamental do pai, as fantasias bissexuais e o desfecho do Édipo... Vemos Freud já utilizar como técnica a associação livre e a interpretação de sonhos e mostrar como a interpretação dos sonhos se entrelaça na história do tratamento e como conseguimos, com sua ajuda, preencher as amnésias e conseguir a solução dos sintomas. Com a análise dos sonhos, ele, observou o aparecimento de causas excitantes chegando ao recalque, permitindo o desaparecimento dos sintomas. Freud reconhece claramente que o analista participa da transferência e não só o paciente. Apesar da dificuldade encontrada no manejo da transferência, Dora inaugura senão a escuta da transferência, ao menos a questão dessa escuta. Ele se vê obrigado a desenvolver a questão da transferência, pois somente através dela poderia elucidar as particularidades da análise do caso e a sua prematura interrupção. Dora fugira de uma relação maior com o Sr. K. para não ir de encontro à realização de sua fantasia. Por dificuldades em operar com a transferência a tempo, ele acreditou que Dora fugiu dele como fugiu do Sr. K. Freud escreveu:” ela atuou uma parte essencial de suas lembranças e fantasias, em vez de reproduzi-la no tratamento” (FREUD, Ibid, p. 116) Freud considerou o caso Dora como um fracasso, porem é hoje referencial obrigatório para a clínica da histeria e clínica em geral, justamente por sua análise fragmentária ter sido um fracasso que Freud, humilde e ousadamente, se propôs a publicar. Fracasso este que põe em jogo a concepção freudiana do lugar do analista. Produção a partir de erros e fracassos. O analista, na nossa concepção, tem que estar preparado para se defrontar e aceitar suas falhas na clínica. E a partir delas elaborar, construindo outros meios e caminhos que ajudem a impedir que elas aconteçam ou se repitam. A grande contribuição do “Caso Hans” foi inauguração do espaço da criança na clínica psicanalítica, além de introduzir a questão do lugar dos pais na abordagem do sofrimento infantil e possibilitar a Freud o desenvolvimento de sua teoria do Complexo de Castração. Neste caso contemplamos a teoria da sexualidade infantil e o conflito edípico como estruturador da neurose. Em princípio Hans tem grande interesse e curiosidade sexual já por volta dos três anos, curiosidade que o orienta a questionamentos sobre a existência, ausência e tamanho dos “pipis” de seus pais, de animais e até mesmo de coisas inanimadas, nessa mesma época a criança foi surpreendida em atividade masturbatória. Neste momento, Hans parecia livre do conflito que levaria à formação de sua fobia, e a ameaça de castração, segundo Freud, teria tido seu efeito adiado, articulando-se a neurose da criança tempos depois. A partir dos quatro anos e nove meses, Hans começou a apresentar sinais da angústia que o levaria à formação de uma fobia de cavalos, “distúrbio nervoso” que passou a ser analisado por seu próprio pai através das orientações do professor Freud. Certa manhã, a criança acorda assustada e diz a sua mãe que, enquanto dormia, pensou que ela havia ido embora e ele ficava sem a mamãe para “mimar” junto dele. Segundo Freud, nesse período a afeição de Hans por sua mãe tornara-se intensa e a angústia de separar-se dela, associada a fantasias eróticas da criança, não havia encontrado representação. Muito frequentemente, Hans dormia com os pais e, durante as férias em Gmunden, na ausência do pai, a criança dormia sozinha com sua mãe o que alimentava suas fantasias eróticas em relação a ela e acentuava seu conflito edípico. O caso Hans foi extremamente revolucionário, o fato de um pai se dispor a aceitar a sexualidade do filho, acolher suas angústias, desejos, e impulsos agressivos, a ponto de suas intervenções e até hoje tem sido um dos pilares da teoria da sexualidade de S. Freud. 3-3-Comente as manifestações inconscientes do "Caso Dora” e o "Pequeno Hans”. Justifique a resposta. (Obs: 2,0 pontos) Manifestações do inconscienteno “Caso Dora” Dora já apresentava desde a infância sintomas histéricos. Com sete anos apareceu o primeiro sintoma conversivo, enurese noturna, passando, ao longo dos anos, por dispneia, tosse nervosa, afonia, enxaquecas, depressão e insociabilidade histérica. Todos esses sintomas estavam relacionados a um recalcamento sofrido por Dora algum tempo antes. Uma das interpretações de Freud a respeito deste caso de histeria se baseia principalmente na relação entre Dora, seu pai e a Sra. K. Dora, em sua infância, teria se apaixonado por seu pai, acontecimento bastante comum nas crianças, compreendido como Complexo de Édipo. Essa paixão, embora aceitável pela criança quando ainda é muito jovem e não permeada por questões morais, com o passar do tempo pode se traduzir em culpa, já que começa a perceber que esse relacionamento não seria possível, nem aceito. Dora deve então ter recalcado tal lembrança, tornando-a inconsciente, de forma a proteger seu próprio eu. Esses sentimentos e lembranças ficaram adormecidos por algum tempo, mas alguns fatos foram responsáveis por trazer esse material à tona, embora nunca de forma explícita. A histeria que Dora desenvolveu representava uma identificação com seu pai, estando este no lugar de sujeito desejante. Ela compartilhava com ele, portanto, o desejo pela Sra. K. Em toda fantasia, entretanto, o sujeito ocupa o lugar do sujeito desejante, mas também o lugar do objeto de desejo, sendo possível entender então que a moça se identificava também à Sra. K. Esta senhora era uma mulher jovem que tinha o amor de seu pai, assim como ela havia desejado ter. A identificação com ela possibilitou, inicialmente, que Dora cultivasse a amizade entre as duas, mesmo desconfiando da relação entre ela e seu pai. Em um segundo momento, entretanto, a moça deixou de aceitar essa situação, passando a odiar a Sra. K, por ter roubado seu posto, e a acusar seu pai. Essa mudança ocorre justamente quando as lembranças recalcadas voltam com mais força, provavelmente pelo que será explicado a seguir. O afeto que a moça tinha pelo Sr. K., na verdade, acabou se traduzindo em um apaixonamento, que Dora tentou veementemente evitar. Para evitar tais sentimentos, acabou trazendo outros à tona, justamente os que havia recalcado na infância: o desejo pelo pai. Quando o Sr. K. mostrou então interesse por ela, Dora passou a evitar o relacionamento entre os dois. E foi então que deixou de aceitar também o relacionamento do pai com a Sra. K. É importante lembrar que a paixão de Dora pelo pai ainda se mantinha em nível inconsciente, sendo que ela não podia compreender seus sentimentos, nem guiar suas ações racionalmente. Quando confrontada com essas hipóteses, sobre já haver se apaixonado (ou ainda estar apaixonada) por seu pai ou pelo Sr. K., Dora negou prontamente, ou simplesmente afirmou não lembrar disso. Nesse caso, a moça não estava mentindo conscientemente. O que ocorre é que essas lembranças foram apagadas quando ocorreu o recalque, deixando em seu lugar amnésias, ou mesmo ocupando-o com memórias falsas. Isso é bastante comum nos casos de neurose, em que também ocorrem confusões e dúvidas quanto às lembranças em decorrência de alterações na cronologia dos fatos, fator que também faz parte do processo de recalcamento. Os sintomas apresentados por Dora, como a tosse de que ela tanto se queixava quando foi consultar Freud, têm também relação com o recalque dessa fantasia. Dora acreditava, por certas razões, que a relação sexual que seu pai e a Sra. K. tinham era basicamente oral. Tendo esta paixão inconsciente por seu pai, ela se identificava com a amante dele, e desejava estar em seu lugar. Sua tosse era a forma como essa fantasia do sexo oral se converteu em um sintoma. Ao mesmo tempo, esse sintoma também representava uma identificação ao pai, era o desejo de entender por que o pai se sentia atraído pela amante, por que era ela seu objeto de desejo. O sintoma também pode ser entendida como uma identificação ao pai quando lembramos que este teve tuberculose quando ela tinha seis anos, doença facilmente relacionada a tosse. É possível observar, pelo exemplo de Dora, como os conflitos psíquicos recalcados se traduzem, de forma simbolizada, em sintomas corporais, nos casos de histeria de conversão. Manifestações do inconsciente no “Caso Hans” O menino Hans vivia em seu reinado primogênito na mais ampla simbiose de convívio com sua mãe. Com a chegada da irmã, já na gestação, teve a privação da sua presença e no nascimento teve recordações inconscientes dos cuidados que recebera quando era um bebê e desejou voltar a ter estes cuidados. As frustrações de ser proibido de se tocar, de não ter sua mãe só para si, do medo da fantasia de castração, da omissão de informações sobre a vagina e a gestação, da mentira sobre a cegonha, da falta de objetos pra investir sua libido que eram os amiguinhos, gerou uma falta de capacidade de adaptação ‘a realidade e Hans sucumbiu à hostilidade devido a estes desapontamentos que tanto o preocupavam por seus traumas reais e fantasias de abandono e castração, já que era uma criança inteligente, sensível, superestimulada eroticamente e, portanto precoce. Esta sequência emocional excitava-o com euforia e depressão, desejo e culpa, prazer e angústia, sendo a fobia um deslocamento de seus objetos internos para símbolos representativos distantes que não o alcançariam se estivesse distante deles. A repressão venceu o instinto, mas não o fez desaparecer. Apenas distorceu seus impulsos agressivos e sexuais por haver gerado ansiedade pela dor interna da impossibilidade de realizar seus desejos, ligados diretamente ao instinto de vida, Eros. Não era a causa, mas sim efeito de um conflito visto como insuportável para o garoto, libido transformada em ansiedade e projetada para um objeto externo. Freud concluiu que Hans deslocava para os cavalos a sua destrutividade e temores sentidos em relação a seu pai. No seu mundo interno e inconsciente, os cavalos seriam o substituto simbólico de seu pai que Hans um dia desejou ver cair e quebrar as pernas, quando o via subir as escadas para ficar com "sua mamãe". É muito mais fácil para qualquer um possuir fobia a cavalos que ao próprio pai. A ansiedade surge como um alerta para evitar reviver seus traumas, e Hans desenvolve a fobia adquirindo um ganho secundário da doença que é a atenção de seu pai. Com a atenção do pai Hans o transforma em suas fantasias, em uma espécie de cúmplice e mantém a convivência familiar. Com a análise realizada por seu pai, Hans consegue superar a fobia transformando seu pai em avô de seus filhos numa elaboração em que resolve a destrutividade eliminando a culpa. Quando mais velho, relata ‘a Freud não se lembrar destes fatos da infância, e não se reconhece na história. Apenas tem uma remota recordação sobre o período de férias. 4- Dê exemplos de como a neurose histérica e a neurose fóbica podem se manifestar através da transferência no setting psicanalítico e/ou na vida cotidiana. E ressalte o que pode hipoteticamente ser interpretado nos dois exemplos. (Obs: 2,0 pontos). Um exemplo de neurose histérica que se manifestou através da transferência no setting foi o próprio “Caso Dora”. Freud tentou modelar o ego de Dora. Ele achava que Dora deveria se apaixonar por um homem. A transferência negativa de Dora (que a levou a interromper o tratamento) deve ser entendida então como uma resposta (raivosa) às dificuldades impostas ao tratamento pelo próprio Freud. Devido ao seu preconceito, Freud não pode ver a ligação de Dora com a Sra. K. Talvez, mais que isto, seja necessário dizer que o que escapou à compreensão de Freud foram as identificações masculinas de Dora. O preço a pagar por esta falta de percepção foi o término abrupto da análise. “Pequeno Hans” é um caso de neurose fóbica onde se manifestou a transferência. Uma das perguntas que Hans faz a seupai: “O professor fala com Deus para saber, assim, tudo o que vai acontecer?” Freud lhe havia dito que “muito antes dele ter vindo ao mundo já sabia que viria um menino chamado Hans, que iria, querer muito a sua mãe, e por isto mesmo teria medo de seu pai.” Fala ao menino a respeito de seus desejos edípicos, da estrutura simbólica que perfaz seu sintoma fóbico, ao que Hans responde, pela via transferencial, com a suposição de que Freud fala com Deus, para saber sobre o que se passa com ele. Suposição de saber que funda a neurose de transferência que se desenrola na análise. Em relação às constantes interpelações que o pai de Hans faz a respeito dos medos, desejos ou brincadeiras do menino, Freud comenta que “o pai pergunta demasiado e investiga seguindo propósitos que lhe são próprios, em vez de deixar que o pequeno se exponha. Tudo isto tira transparência e segurança à análise. Hans segue seu próprio caminho e não rende nada positivo quando se quer apartá-lo dele.” (Freud, 1909, p.1397) 5-Descreva as características de um sonho inconsciente na perspectiva freudiana, e explique os dois trabalhos de elaboração do sonho: deslocamento e condensação. Justifique a resposta. (Obs: 2,0 pontos). O sonho se apresenta de duas formas, uma manifesta e outra latente, isso significa que os sonhos são consequência da repressão de nossos desejos, tão estranhos à nossa natureza consciente que, mesmo nos sonhos, só aparecem sob a forma de símbolos. Então os nossos sonhos têm um conteúdo manifesto (o que acontece no sonho) e um conteúdo latente (o que o sonho tenta nos dizer). O mais importante para analisarmos e refletirmos são os conteúdos latentes dos sonhos, pois são eles que verdadeiramente podem nos dar acesso ao inconsciente. Condensação: “É como se fosse um resumo do sonho, daquilo que realmente sonhamos, seria igual quando queremos escrever uma carta, mas não temos tempo, então enviamos um telegrama. Os sonhos normalmente são curtos, as vezes com uma cena apenas, são meros resumos do que realmente acontece, do que nos leva a sonhar. Os processos psíquicos envolvidos e que ocasionam os sonhos são complexos, eles acontecem no inconsciente, mas só são manifestados nos sonhos de maneira lacônica. Deslocamento, que afasta de seu objeto real seu valor desviando para outro objeto sua carga afetiva. “a carga afetiva desvia sua direção e vai recair sobre um objeto secundário, aparentemente insignificante” (Por exemplo, quando se sonha com uma briga com uma pessoa aparentemente inocente ou desconhecida, é o deslocamento entrando em ação, que faz com que a raiva sentida por alguém do indivíduo que sonha seja transportada para um terceiro. É um sonho duradouro e com várias cenas.
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