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RESUMAO(Unidade II)

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Aula 1 – Organização formal do pensamento
O desenvolvimento das ciências e do conhecimento visa à organização correta do pensamento, possibilitando a construção de raciocínios claros e rigorosos em sua fundamentação. Isso significa que toda disciplina requer um princípio, uma introdução que explicite o rumo a ser seguido na elaboração de seus conceitos.
Esse processo é considerado uma propedêutica: um estudo introdutório que possibilita a compreensão inicial de uma ciência; um estudo preliminar que antecede o ensino mais amplo de um conhecimento.
É nesse sentido que Aristóteles sustenta que as investigações da Lógica sejam a propedêutica da Filosofia, já que devem ser a base dos discursos filosóficos, os quais não podem prescindir de uma ordenação rigorosa, especialmente por não possuírem a garantia comprobatória das ciências exatas e naturais. E, embora seja apenas um dos ramos da filosofia, a Lógica tem um papel muito amplo, sendo aplicada às mais diversas áreas do conhecimento, quando se torna necessário o uso de argumentos ou provas demonstrativas.
Por conseguinte, o objetivo da Lógica é promover a organização correta do pensamento, distribuindo convenientemente as proposições, a fim de bem ordenar o raciocínio. A Lógica, portanto, é um instrumento de auxílio na construção formal do raciocínio, que independe de conteúdos específicos e examina os princípios gerais que fundamentam as regras do pensamento válido. Podemos dizer, ainda, que a Lógica é a reflexão sobre o ato formal de pensar, estando ligada à razão, ao discurso.
A principal função da Lógica é, assim, auxiliar a ordenação dos pensamentos, proporcionando correção e clareza na elaboração do raciocínio, pois o pensamento é uma atividade intelectual, um processo de cognição da realidade, no qual se formam os conceitos e juízos que possibilitam o raciocínio e a comunicação entre os homens.
Historicamente, não se pode precisar a origem dos estudos lógicos; no entanto, muito embora não tenha sido o iniciador dessas investigações, Aristóteles (384-322 a.C.) foi quem primeiro sistematizou a Lógica, elevando-a ao grau de disciplina científica; por isso ele é considerado o fundador da Lógica, o “pai” da Lógica Clássica.
A lógica aristotélica é definida como a ciência demonstrativa das formas de pensamento correto. Isso significa que a Lógica se ocupa da demonstração normativa e das leis formais do pensamento, considerado em si mesmo, independentemente de conteúdos específicos.
Aristóteles percebeu a necessidade da observação de certos parâmetros para a ratificação de um conhecimento rigoroso, chamado de princípios da demonstração (também conhecidos como princípios lógicos, verdades lógicas, princípios básicos da razão). Clique em cada um dos princípios para conhecer mais detalhes.
Livro da disciplina:
Para aprofundar seu conhecimento sobre os princípios básicos da razão, estude, agora, no livro da disciplina, Unidade 3, a parte que trata do Organon – tratado aristotélico onde estão agrupadas as obras sobre Lógica (p. 85-86).
Para Aristóteles, o princípio fundamental da demonstração é o princípio da não contradição, que contém os demais; por sua natureza, ele é o princípio de todos os axiomas. Um axioma é uma verdade que não precisa ser demonstrada, é uma proposição evidente por si mesma. Ex.: “Todo homem é mortal.”
Outro ponto de interesse das investigações aristotélicas vem a ser o estudo estrutural do pensamento, o modo pelo qual o pensamento é formado, estabelecendo regras e condições que tornam possível a clareza do discurso. Na formulação do pensamento são utilizadas palavras, que formam frases, expressando o que se pretende demonstrar. Com efeito, Aristóteles procede a uma espécie de “dissecação” do ato de pensar, explicitando as operações intelectuais da mente: o conceito, o juízo e o raciocínio (também chamados respectivamente: termo, proposição e argumento).	
Vamos conhecer um pouco mais sobre os juízos. 
Os juízos podem ser afirmativos ou negativos, apresentando-se também sob a forma de necessidade (quando algo é, necessariamente) ou de contingência (quando um dado pode ser ou não ser).
O juízo é a forma completa mais simples do pensamento, pois se apresenta a partir de uma determinada conexão, que lhe empresta unidade; e é uma reunião de conceitos, os quais constituem suas partes elementares.
Ainda sobre os juízos: eles podem também ser simples (atômicos) ou compostos (moleculares). São simples, ou atômicos, quando o juízo (ou proposição) é formado com um só atributo para o sujeito. Exemplo: “Sócrates é grego.” A proposição será composta, ou molecular, se o sujeito tiver mais de um atributo, isto é, mais de um predicado a ser incorporado a ele.
Exemplos: “Sócrates é grego e filósofo.” / “João é um aluno inteligente.”
Devemos ressaltar que embora para a construção do juízo geralmente sejam necessários dois termos – o sujeito e o predicado – unidos por um verbo, existem casos especiais. Por exemplo: “Chove.” / “Anoitece.” / “Faz frio.”
De modo bem sucinto, pode-se dizer que de acordo com a quantidade os juízos podem ser universais ou singulares. 
Dessa maneira, um juízo universal refere-se a sua amplitude, quando são usados os ‘quantificadores’ todo, nenhum... Exemplos: “Todo homem é mortal.” / “Nenhum metal dilata sem calor.” Já o juízo singular está relacionado com algo específico, próprio de um só objeto. Exemplos: “Esta aluna é inteligente.” / “Joaquim é advogado.”
RESUMO:
Atividade
As investigações da lógica se ocupam da organização estrutural do pensamento válido. Partindo do princípio de que a lógica se dedica à formulação válida do raciocínio, examine as afirmativas a seguir.
I. A lógica se ocupa da organização dos conteúdos específicos do pensamento.
II. Para Aristóteles, a lógica é considerada a ciência demonstrativa do pensamento correto.
III. O princípio de identidade se relaciona com a aceitação da diversidade de pontos de vista.
IV. Os estudos lógicos estão vinculados necessariamente às emoções e sentimentos humanos.
V. Um estudo propedêutico se refere ao fundamento introdutório próprio de cada ciência.
Assinale a alternativa com a(s) afirmativa(s) correta(s):
A - II e V.
Aula 2 – O raciocínio lógico
De um ou mais juízos ligados entre si pode-se derivar outro, que é consequência dos anteriores; passa-se de algo que se conhece (os juízos precedentes) para algo que ainda não é conhecido (o juízo consequente, a conclusão). Exemplo: “Se A = B e se B = C, conclui-se que A = C.”
Os raciocínios lógicos podem ser dedutivos ou indutivos.
São dedutivos quando se parte de um juízo universal e se conclui por um juízo individual; de uma situação geral, chega-se a uma conclusão singular. Parte-se de um princípio geral, já conhecido, para inferir uma consequência individual ou singular. Trata-se do que, em Lógica, é chamado de silogismo.
Exemplo:
"Todo estudante sabe ler."
"José é estudante."
(Logo) "José sabe ler" 
Segundo Aristóteles, o silogismo é a mais perfeita forma de raciocínio dedutivo: “é um argumento em que, dadas certas proposições, algo distinto delas resulta necessariamente.” O silogismo é formado por três proposições – premissa maior, premissa menor e conclusão –, nas quais existem três termos correspondentes.
Observemos, também, o célebre exemplo aristotélico:
"Todo homem é mortal."
"Sócrates é homem."
(Logo) "Sócrates é mortal."
Nesse caso, homem é o termo médio; Sócrates é o termo menor, individual; e mortal é o termo maior, pois abarca os anteriores. Note-se que, seguindo a regra básica do silogismo clássico, este tipo de raciocínio só pode ter três termos, agrupados convenientemente.
O raciocínio lógico é indutivo quando construído a partir da enumeração de juízos particulares para chegar a um juízo universal. Ou seja: após a observação de situações empíricas, pode ser possível formular uma lei geral.
"O ouro, a prata, o bronze, o ferro, o cobre... são metais."
"O ouro, a prata,o bronze, o ferro, o cobre... dilatam com o calor."
(Logo) "Todo metal dilata com o calor." 
O raciocínio indutivo, embora quase sempre legítimo, comporta um grau de probabilidade, pois, caso não se verifique o exame completo dos dados, esse raciocínio pode ser invalidado. Por isso, Aristóteles afirmava que o processo indutivo deve constituir uma enumeração perfeita, abrangendo todas as propriedades dos fatos.
É importante, agora, considerar algumas construções errôneas que podem ser confundidas com raciocínios válidos, pois, muitas vezes, a formulação incorreta dos silogismos e de seus termos pode resultar emfalácias, raciocínios que contêm erros ou falhas na formulação argumentativa; a intenção do uso desses argumentos falaciosos é confundir e enganar um determinado público por meio de raciocínios ilusórios. A formulação destes argumentos, aparentemente verdadeiros, produz apenas simulacros.
Devemos ressaltar, no entanto, que, tecnicamente, um raciocínio só é considerado falacioso quando construído com a intenção de enganar, caso contrário será chamado de paralogismo.
Ao explicar a constituição do raciocínio vicioso Aristóteles problematiza a utilização dos argumentos capciosos, criticando com veemência estas construções: “[...] para certa gente é mais proveitoso parecer que são sábios do que sê-lo realmente sem o parecer [...].” (ARISTÓTELES, 1978, p. 155). Daí sua preocupação em ocupar-se com o esclarecimento das falácias, enumerando-as e apontando os equívocos de cada uma.
Talvez possam nos parecer distantes e abstratas estas explicações, mas a cada momento somos bombardeados com discursos dúbios e enganadores transmitidos pela mídia, vindos da publicidade, dos governos, dos políticos, de todos, enfim, que pretendam enquadrar nossas ideias e pensamentos a partir de simulacros da realidade.
Além de suas pesquisas no campo da Lógica, Aristóteles investigou também a retórica – a arte da formulação de discursos persuasivos, que busca a adesão do outro (do ouvinte, de um auditório). Note-se que, na Grécia Clássica, o estudo da retórica constituía um importante instrumento de participação política. O uso das técnicas retóricas ultrapassa o modelo formal da Lógica, pois valoriza o apelo à emoção, aos sentimentos. Ou seja, o discurso retórico se apoia em três elementos fundamentais: o ethos, o pathos e o logos, que se referem respectivamente ao comportamento, à paixão e à razão.
Do ponto de vista histórico, a herança aristotélica permaneceu inalterada até o período medieval. No entanto, com o intenso desenvolvimento das ciências modernas, a Lógica passa a assumir um novo papel, com uma função mais instrumental e ligada a cálculos matemáticos
Se, em Aristóteles, o que importava era a estrutura formal, sem colocar em relevo o conteúdo propriamente linguístico, a Lógica Moderna (ou Simbólica, ou Logística) vai abolir totalmente os termos da linguagem natural, a fim de formular raciocínios artificiais e libertos de qualquer recurso às ambiguidades da linguagem corrente.
A Lógica Simbólica procura, então, chegar a um grau inquestionável de abstração, a noções de verdade ou falsidade, com a intenção de logicizar matematicamente o pensamento, a fim de possibilitar o pleno desenvolvimento da razão.
Resumindo, na formulação do pensamento existe toda uma estrutura organizadora dando forma e coerência ao ato de pensar, num processo que envolve a construção do conhecimento e, consequentemente, dos mais variados saberes.
Aula 3 – Condições de conhecimento
A busca pelo conhecimento é intrínseca ao ser humano. Já em sua Metafísica (Livro I), Aristóteles afirmava que “todos os homens, por natureza, desejam conhecer”, e o conhecimento se desenvolve, gradativamente, em vários níveis. Os sentidos, que podem ser análogos aos dos animais irracionais, seriam o grau de conhecimento mais básico; em seguida, na escala ascendente, viria a memória, depois a experiência, a arte (entendida como techné), a ciência (investigação dos princípios e causas) e, por último, “a sabedoria das causas primeiras”, que é afilosofia.
O conhecimento consiste na apreensão intelectual de um objeto e pode ser considerado a partir de três etapas fundamentais, cada uma delas com suas variações, mostradas no gráfico abaixo. Clique em cada uma das etapas e nas variações para conhecer mais detalhes sobre cada uma delas.
1. Ato de conhecer
O ato de conhecer é subjetivo e pertence a um sujeito. De modo geral, é possível analisar o ato de conhecer do ponto de vista de sua ligação com as coisas. Com relação à apreensão da realidade, o conhecimento pode ser concreto ouabstrato.
Concreto
Podemos dizer que o conhecimento é concreto quando existe uma relação direta e particular entre o sujeito e o objeto; isso significa que há um vínculo específico entre ambos: uma determinada mesa, uma pessoa única e singular (João/Maria).
Abstrato
Por outro lado, no caso do conhecimento abstrato, a situação é diferente, pois vai se referir a um conhecimento mais amplo e conceitual, com base em conceitos universais: “ser humano” refere-se a todos os indivíduos da espécie humana, independentemente de suas características particulares (se homem ou mulher, jovem ou velho etc.).
2. Fato de conhecer
O fato de conhecer envolve a relação do sujeito com o objeto a ser conhecido. A apreensão do conhecimento decorre, portanto, do elo entre sujeito e objeto. Essa apreensão pode dar-se por meio da extensão ou da compreensão do conceito.
Extensão
Quando considerado do ponto de vista de sua extensão, observamos que o objeto do conhecimento é mais amplo e geral, abarcando uma série de complementos: a espécie humana engloba todos os homens e mulheres da face da Terra, sem qualquer distinção.
Compreensão
Por outro lado, a compreensão do conceito diz respeito às particularidades individuais do objeto em questão, as quaisdefinem essencialmente, por assim dizer, o objeto apresentado. No caso, a compreensão está ligada às propriedades individuais e únicas de um determinado objeto, tais como esta cadeira, este lápis.
3. Resultado do conhecimento
O resultado do conhecimento é relativo à ideia representativa das etapas anteriores. Conforme seja mais individual ou mais amplo, o conhecimento vai ser entendido de forma mais imediata ou mais teórica.
Individual
Se o ato de conhecer for mais individual, o resultado ficará restrito à compreensão de objetos concretos e específicos e não haverá possibilidade de ampliação do conhecimento.
Amplo
Se o ato de conhecer for mais amplo, o conhecimento será considerado apenas em sua extensão, abstratamente e de forma teórica, perdendo-se a clareza do objeto de conhecimento.
Para que exista conhecimento, sempre será necessária a relação entre dois elementos básicos: um sujeito conhecedor (nossa consciência, nossa mente) e um objeto conhecido (a realidade, o mundo, os inúmeros fenômenos). Só haverá conhecimento se o sujeito conseguir apreender o objeto, isto é, conseguir representá-lo mentalmente. (COTRIM, 1999, p. 70)
Por conseguinte, o ato de conhecer pressupõe a existência destas duas partes inseparáveis, pois sem o vínculo entre sujeito e objeto não há possibilidade de conhecimento.
A extensão dá a ideia de espaço, de externalidade, e a compreensão dá a ideia de intensidade, de internalidade. Segundo a extensão, a ideia específica está dentro da ideia geral; segundo a compreensão, a ideia geral é que está dentro da específica. (ALVES, 2002, p. 84)
Devemos ainda destacar que o conhecimento pode realizar-se de diferentes modos, que variam conforme a atitude do sujeito em sua relação com o mundo. Assim, a capacidade de conhecer do ser humano pode dar-se desde a maneira mais simples e irrefletida até um modo mais racional e complexo.
Podemos citar alguns destes modos de conhecimento, iniciando com a primeira forma de perceber o mundo, decorrente de nossa herança cultural: o senso comum, também chamado de conhecimento vulgar ouconhecimento empírico, baseado muitasvezes em superstições, quando aceitamos a primeira impressão que nos é transmitida, sem nenhum senso crítico, de forma ametódica e sem rigor.
Também o mito é uma forma de conhecimento, ainda passivo e inquestionável como o senso comum, estando vinculado às crenças religiosas que nos são repassadas como verdades únicas e absolutas, já que não se pode questionar o sagrado.
Já no conhecimento teológico, busca-se um conjunto de verdades reveladas pela fé, estabelecido a partir da aceitação de dogmas ligados às divindades.
Estes modelos que tomamos de exemplo situam-se na esfera das relações cotidianas e costumeiras que fazem parte da cultura de cada sociedade, em que a aceitação das normas tradicionais não costuma ser questionada, por estar diretamente vinculada aos modelos ancestrais, que determinam o comportamento ideal de cada indivíduo, bem como seus valores e suas crenças religiosas ou supersticiosas.
Ao contrário, quando buscamos o conhecimento de forma mais rigorosa, como no caso do conhecimento pela ciência e pelafilosofia, as condições de conhecer assumem características elaboradas, pois procuram o conhecimento das causas que originaram os fatos ou fenômenos.
O conhecimento da ciência visa a conhecer o objeto de maneira objetiva e lógica, com a intenção de comprovar as causas, as reações e os efeitos possíveis do ato de conhecer, analisando rigorosamente seu objeto de pesquisa.
Já o ato de conhecer pela filosofia procura um entendimento mais amplo e consistente da realidade como um todo; não há, portanto, um recorte do problema – investigado em toda sua abrangência, numa relação que envolve os aspectos que possibilitaram sua existência. A filosofia, diferentemente das ciências, não tem um objeto único de estudo, pois qualquer problema pode ser examinado à luz da reflexão filosófica.

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