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Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
Informativo 861-STF 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
CONSELHOS PROFISSIONAIS 
 Conselhos profissionais não estão sujeitos ao regime de precatórios. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
COISA JULGADA 
 CBF não poderia ter editado resolução declarando tanto o Sport como o Flamengo campeões de 1987 porque já 
havia uma decisão transitada em julgado considerando vencedor o Sport. 
 
PRECATÓRIOS 
 Incidem juros da mora entre a data da realização dos cálculos e a da requisição ou do precatório. 
 
DIREITO PENAL 
CRIMES NA LEI DE LICITAÇÕES 
 Se o sotfware adquirido sem licitação tinha mais especificações do que os das concorrentes e era mais adequado ao 
seu objeto não há o crime do art. 89. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
COLABORAÇÃO PREMIADA 
 Se a colaboração do agente não foi tão efetiva ele terá direito apenas a redução da pena, e não ao perdão judicial. 
 
EXECUÇÃO PENAL 
 Não viola a SV 56 a situação do condenado ao regime semiaberto que está cumprindo pena em presídio do regime 
fechado, mas em uma ala destinada aos presos do semiaberto 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
IMUNIDADE TRIBUTÁRIA 
 Não se pode aplicar a imunidade tributária recíproca se o bem está desvinculada de finalidade estatal. 
 
DIREITO PREVIDENCIÁRIO 
BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA 
 Estrangeiros residentes no Brasil têm direito ao BPC. 
 
 
 
 
 
 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
CONSELHOS PROFISSIONAIS 
Conselhos profissionais não estão sujeitos ao regime de precatórios 
 
Importante!!! 
Os pagamentos devidos, em razão de pronunciamento judicial, pelos Conselhos de 
Fiscalização (exs: CREA, CRM, COREN, CRO) não se submetem ao regime de precatórios. 
STF. Plenário. RE 938837/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado 
em 19/4/2017 (repercussão geral) (Info 861). 
 
Qual é a natureza jurídica dos Conselhos Profissionais (exs.: CREA, CRM, COREN, CRO etc.)? 
Os Conselhos Profissionais possuem natureza jurídica de autarquias federais ("autarquias especiais"). 
Exceção: a OAB que, segundo a concepção majoritária, é um serviço público independente, categoria 
ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro (STF. Plenário. ADI 3026, Rel. 
Min. Eros Grau, julgado em 08/06/2006). 
 
Exercem atividade tipicamente pública 
Esses Conselhos são criados por lei e possuem personalidade jurídica de direito público, exercendo uma 
atividade tipicamente pública, qual seja, a fiscalização do exercício profissional. 
Os Conselhos são dotados de poder de polícia e poder arrecadador. 
STF. 1ª Turma. MS 28469, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 09/06/2015. 
 
Qual é a natureza jurídica das anuidades cobradas pelos Conselhos Profissionais? 
As anuidades cobradas pelos Conselhos Profissionais possuem natureza de "tributo", da espécie 
“contribuições de interesse das categorias profissionais”, também chamadas de “contribuições 
profissionais ou corporativas”, estando prevista no art. 149 da CF/88: 
Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio 
econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação 
nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no 
art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo. 
 
Vale ressaltar que, nos termos do art. 5º da Lei nº 12.514/2011, o fato gerador para cobrança de anuidades 
de conselho de fiscalização profissional é o registro, sendo irrelevante o exercício da profissão. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1387415/SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 05/03/2015. 
 
Como a anuidade é um tributo e os Conselhos profissionais são autarquias, em caso de inadimplemento, 
o valor devido é cobrado por meio de uma execução fiscal. 
A execução fiscal, nesse caso, é de competência da Justiça Federal, tendo em vista que os Conselhos são 
autarquias federais (Súmula 66 do STJ). 
 
Para o exercício de toda e qualquer profissão, é necessário que a pessoa se inscreva no respectivo 
Conselho Profissional (ex: o músico é obrigado a se inscrever na Ordem dos Músicos do Brasil)? 
NÃO. Nem todos os ofícios ou profissões podem ser condicionados ao cumprimento de condições legais 
para o seu exercício. 
Na verdade, a regra é a liberdade. Assim, apenas quando houver potencial lesivo na atividade é que pode 
ser exigida inscrição em conselho de fiscalização profissional (exs: advogado, médico etc.). 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
A atividade de músico prescinde de controle. Constitui, ademais, manifestação artística protegida pela 
garantia da liberdade de expressão. Logo, para que o músico exerça sua profissão não é indispensável a 
sua prévia inscrição na Ordem dos Músicos do Brasil. 
STF. Plenário. RE 414426, Rel. Min. Ellen Gracie, julgado em 01/08/2011. 
 
Os Conselhos Profissionais estão submetidos à fiscalização do Tribunal de Contas? 
SIM. Por serem autarquias federais, os Conselhos Profissionais têm o dever de prestar contas ao Tribunal 
de Contas da União (art. 71, II, CF/88). 
STF. MS 28469 AgR-segundo, Rel. Min. Dias Toffoli, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Luiz Fux, julgado em 
19/02/2013. 
Exceção: OAB (STF ADI 3026). 
 
Os Conselhos Profissionais, para contratarem "funcionários", precisam fazer concurso público? 
SIM. Como os Conselhos Profissionais são autarquias exercendo uma atividade tipicamente pública 
(fiscalização do exercício profissional), precisam respeitar a regra do art. 37, II, da CF/88, que exige 
concurso público para a contratação de servidores. 
Assim, quando os Conselhos de Fiscalização Profissional vão fazer a contratação de seu pessoal é 
imprescindível a realização de concurso público. 
STF. 1ª Turma. MS 28469, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 09/06/2015. 
STF. 2ª Turma. RE 758168 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/06/2014. 
Exceção: OAB. O STF decidiu que a OAB, quando vai contratar seus empregados, não precisa realizar 
concurso público (STF ADI 3026). 
 
Para que o Conselho Profissional demita um servidor seu, é necessário processo administrativo? 
SIM. Como os Conselhos de Fiscalização Profissional têm natureza jurídica de autarquia, devem ser 
aplicados aos seus servidores os arts. 41 da CF/88 e 19 do ADCT, razão pela qual não podem ser demitidos 
sem a prévia instauração de processo administrativo. 
Assim, o servidor de órgão de fiscalização profissional não pode ser demitido sem a prévia instauração de 
processo administrativo disciplinar. 
STF. 2ª Turma. RE 838648 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 07/04/2015. 
Exceção: OAB (STF ADI 3026). 
 
Os Conselhos de Fiscalização Profissional, se forem de âmbito nacional, podem ajuizar ADI, ADC e ADPF? 
NÃO. Os Conselhos Federais de Fiscalização Profissional (ex: Conselho Federal de Corretores de Imóveis – 
COFECI) não podem propor ações de controle concentrado de constitucionalidade porque não estão no 
rol do art. 103 da CF/88, que é taxativo. 
Os conselhos de fiscalização profissional têm como função precípua o controle e a fiscalização do exercício 
das profissões regulamentadas, exercendo, portanto, poder de polícia, atividade típica de Estado, razão 
pela qual detêm personalidade jurídica de direito público, na forma de autarquias. Sendo assim, tais 
conselhos não se ajustam à noção de entidade de classe, expressão que designa tão somente aquelas 
entidades vocacionadas à defesa dos interesses dos membros da respectiva categoria ou classe de 
profissionais. 
STF. Plenário. ADC 34 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 05/03/2015. 
STF. Plenário. ADPF 264 AgR, Rel.Min. Dias Toffoli, julgado em 18/12/2014. 
Exceção: o Conselho Federal da OAB é legitimado para propor ADI, ADC e ADPF (art. 103, VII, da CF/88). 
 
O Conselho de Fiscalização Profissional pode ajuizar ação civil pública? 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
SIM. O art. 5º da Lei nº 7.347/85 (Lei da ACP) elencou o rol dos legitimados concorrentes para a propositura 
de ação civil pública, nos quais se incluem as autarquias, em cuja categoria estão os Conselhos 
profissionais. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1388792/SE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 06/05/2014. 
 
 
Os Conselhos de Fiscalização Profissional estão isentos de custas processuais? 
NÃO. Os Conselhos Profissionais, apesar de sua natureza autárquica, não estão isentos do pagamento de 
custas judiciais, conforme previsão expressa do art. 4º, parágrafo único, da Lei nº 9.289/96. 
Assim, o benefício da isenção do preparo conferido aos entes públicos previstos no art. 4º, caput, da Lei 
9.289/1996 é inaplicável aos Conselhos de Fiscalização Profissional. 
STF. 1ª Turma. RMS 33572 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 09/08/2016. 
STJ. 1ª Seção. REsp 1338247/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 10/10/2012 (recurso repetitivo). 
 
O regime de precatórios é aplicado para os Conselhos Profissionais? Se um Conselho Profissional (ex: 
CREA) for condenado, por sentença judicial transitada em julgado, a pagar determinada quantia, isso 
terá que ser feito por meio de precatório? 
NÃO. 
Os pagamentos devidos, em razão de pronunciamento judicial, pelos Conselhos de Fiscalização não se 
submetem ao regime de precatórios. 
STF. Plenário. RE 938837/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 
19/4/2017 (repercussão geral) (Info 861). 
 
O sistema de precatório foi concebido para assegurar a igualdade entre os credores, com impessoalidade 
e observância de ordem cronológica, sem favorecimentos. Outra finalidade do sistema de precatório é 
permitir que as entidades estatais possam programar os seus orçamentos para a realização de despesas. 
Portanto, o precatório está diretamente associado à programação orçamentária dos entes públicos. 
Apesar de os Conselhos de Fiscalização Profissional serem considerados autarquias especiais, eles não 
participam do orçamento público, não recebem aporte do Poder Central nem se confundem com a 
Fazenda Pública. Por essa razão, não se submetem ao regime de precatórios. 
Os conselhos de fiscalização profissional têm autonomia financeira e orçamentária. Portanto, sua dívida é 
autônoma em relação ao Poder Público. Desse modo, inserir esse pagamento no sistema de precatório 
transferiria para a União a condição de devedora do Conselho de Fiscalização. 
 
Quem tem o privilégio de pagar por meio de precatório? A quem se aplica o regime dos precatórios? 
As Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais. 
Essa expressão abrange: 
 União, Estados, DF e Municípios (administração direta); 
 autarquias (com exceção dos Conselhos Profissionais); 
 fundações; 
 empresas públicas prestadoras de serviço público (ex: Correios); 
 sociedades de economia mista prestadoras de serviço público de atuação própria do Estado e de 
natureza não concorrencial. 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
COISA JULGADA 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
CBF não poderia ter editado resolução declarando tanto o Sport como o Flamengo campeões de 
1987 porque já havia uma decisão transitada em julgado considerando vencedor o Sport 
 
O Sport Club do Recife conseguiu, em 1999, uma decisão judicial transitada em julgado 
declarando que ele foi o campeão brasileiro de futebol do ano de 1987. 
Ocorre que, em 2011, a CBF editou a Resolução 2/2011 reconhecendo que, além do Sport, o 
Flamengo também teria sido campeão brasileiro em 1987. 
O Sport não se conformou com esta postura da entidade e ingressou com ação de cumprimento 
de sentença pedindo que, em respeito à decisão judicial transitada em julgado em 1999, a CBF 
fosse condenada a anular a Resolução e reconhecer o clube pernambucano como o único 
campeão de 1987. 
O STF concordou com o pleito do Sport. 
A decisão judicial que conferiu ao Sport o título de campeão brasileiro de 1987 transitou em 
julgado e não podia ser alterada por resolução posterior da CBF. 
A coisa julgada, como manifestação do princípio da segurança jurídica, assume a estatura de 
elemento estruturante do Estado Democrático de Direito. 
A autonomia das entidades desportivas não autoriza a transformação da CBF em órgão revisor 
de pronunciamentos jurisdicionais alcançados pela preclusão. 
STF. 1ª Turma. RE 881864 AgR/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/4/2017 (Info 861). 
 
Campeonato Brasileiro de 1987 
Em 1986, Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, Grêmio, 
Internacional, Atlético Mineiro, Cruzeiro e Bahia romperam com a CBF, fundaram um grupo chamado de 
"Clube dos Treze" e decidiram que eles não iriam participar do campeonato brasileiro do ano seguinte 
(1987) promovido pela entidade e que iriam organizar a própria competição. 
Esses treze clubes fizeram, então, um campeonato nacional, que foi chamado de Copa União e que teve 
ainda a participação de Santa Cruz, Goiás e Coritiba. 
A CBF tentou evitar perder o controle da situação e, por isso, buscou negociar um acordo com o Clube dos 
Trezes. A proposta da entidade foi a seguinte: ela reconheceria a Copa União como sendo uma parte do 
campeonato brasileiro, chamada de "Módulo Verde". Esta continuaria sendo organizada pelo Clube dos 
Treze. A CBF, por sua vez, organizaria a outra parte do campeonato brasileiro que envolveria a disputa dos 
demais clubes que não faziam parte da Copa União e que seria chamada de "Módulo Amarelo". O campeão 
e o vice da "Copa União" (chamada de Módulo Verde) jogaria com o campeão e vice do Módulo Amarelo em 
um quadrangular final. Quem vencesse esse quadrangular, seria o campeão brasileiro de 1987. 
O Clube dos Treze não aceitou a proposta e os dois campeonatos foram sendo disputados. 
O campeão da Copa União ("Módulo Verde") foi o Flamengo e o vice, o Internacional. 
Os campeões do "Módulo Amarelo" foram o Sport e o Guarani. 
No início de 1988, a CBF marcou os jogos desse suposto quadrangular. Ocorre que Flamengo e 
Internacional não compareceram e, por isso, Sport e Guarani foram proclamados vencedores por W.O. 
Como Sport e Guarani "ganharam" as suas partidas contra Flamengo e Inter, eles disputaram a final do 
campeonato e o Sport venceu o Guarani, no Recife, por 1 x 0. 
 
Disputa judicial 
O "Clube dos Treze" e a maioria da imprensa consideraram o Flamengo como campeão brasileiro de 1987. 
O Sport, contudo, não aceitou isso e propôs ação judicial pedindo que o regulamento do campeonato proposto 
pela CBF fosse considerado válido e que ele (Sport) fosse declarado como o campeão brasileiro daquele ano. 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
A ação teve como requeridos a CBF, a União (por conta do órgão federal "Conselho Nacional de 
Desportos"), o Flamengo e o Internacional e foi julgada procedente, tendo sido reconhecido o Sport como 
campeão brasileiro de 1987. 
Em 1999, essa decisão transitou em julgado. 
 
Resolução 2/2011 
Em 2011, a CBF, querendo agradar o Flamengo, publicou a Resolução 2/2011 declarando que tanto o Sport 
como o Flamengo seriam os campeões brasileiros de 1987. 
O Sport não se conformou com esta postura da entidade e ingressou com ação de cumprimento de 
sentença pedindo que, em respeito à decisão judicial transitada em julgado em 1999, a CBF anulasse a 
Resolução 2/2011. 
O Juiz Federal de 1ª instância acatou o pedido do autor na ação de cumprimento de sentença e determinou 
que a CBF tornasse sem efeito a Resolução 2/2011 eque editasse outro ato afirmando que o único 
campeão brasileiro de futebol profissional de 1987 é Sport Club do Recife, considerando que isso já havia 
sido decidido em sentença judicial transitada em julgado. 
O Flamengo, que também participava do processo, recorreu, tendo a sentença sido mantida pelo TRF da 
5ª Região e pelo STJ. 
O clube carioca recorreu, então, ao STF alegando, dentre outros argumentos, que a CBF, enquanto 
entidade desportiva, goza de autonomia, nos termos do art. 217, I, da CF/88, não podendo, portanto, o 
Poder Judiciário desconstituir uma resolução de âmbito interno da instituição. 
Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais, como direito de cada 
um, observados: 
I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua organização e 
funcionamento; 
 
O que decidiu o Supremo? A CBF poderia ter editado a Resolução 2/2011 reconhecendo o Sport e o 
Flamengo como campeões brasileiros de 1987? 
NÃO. 
A decisão judicial que conferiu ao Sport o título de campeão brasileiro de 1987 transitou em julgado e não 
podia ser alterada por resolução posterior da CBF. 
A coisa julgada, como manifestação do princípio da segurança jurídica, assume a estatura de elemento 
estruturante do Estado Democrático de Direito. 
A autonomia das entidades desportivas não autoriza a transformação da CBF em órgão revisor de 
pronunciamentos jurisdicionais alcançados pela preclusão. 
A autonomia técnica e o mérito desportivo não podem se sobrepor em detrimento da coisa julgada. 
A eficácia estabilizadora da coisa julgada estende-se também para o campo de atuação da CBF, que 
funciona como entidade de regulação das atividades administrativas do futebol brasileiro. 
 
Em suma, a CBF não poderia ter editado resolução declarando tanto o Sport como o Flamengo campeões 
de 1987 porque já havia uma decisão transitada em julgado considerando vencedor o Sport 
STF. 1ª Turma. RE 881864 AgR/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/4/2017 (Info 861). 
 
 
 
PRECATÓRIOS 
Incidem juros da mora entre a data da realização dos cálculos e a da requisição ou do precatório 
 
Importante!!! 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
Incidem os juros da mora no período compreendido entre a data da realização dos cálculos e 
a da requisição de pequeno valor (RPV) ou do precatório. 
STF. Plenário. RE 579431/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 19/4/2017 (repercussão geral) 
(Info 861). 
Obs: cuidado para não confundir com a SV 17: Durante o período previsto no parágrafo 1º (obs: atual 
§ 5º) do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam 
pagos. O período de que trata este RE 579431/RS é anterior à requisição do precatório, ou seja, 
anterior ao interregno tratado pela SV 17. 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João ajuizou ação de cobrança contra a Fazenda Pública. 
Foi prolatada sentença condenando o Poder Público a pagar R$ 300 mil. 
Essa sentença transitou em julgado em 04/04/2016. 
Em 10/04/2016, o credor pediu ao juiz, nos termos do art. 534 do CPC, o cumprimento de sentença, 
apresentando o cálculo da dívida atualizada. 
Segundo entende o STF, a partir do momento em que forem apresentados os cálculos, começa a incidir 
juros da mora contra a Fazenda Pública: 
Incidem os juros da mora no período compreendido entre a data da realização dos cálculos e a da 
requisição de pequeno valor (RPV) ou do precatório. 
STF. Plenário. RE 579431/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 19/4/2017 (repercussão geral) (Info 861). 
 
O que acontece a agora? 
A Fazenda Pública poderá impugnar ou não o cumprimento de sentença. 
Suponhamos que o Poder Público não impugnou. Neste caso, deverá ser expedido, por intermédio do 
Presidente do Tribunal, precatório em favor do exequente. Confira o que diz o art. 535, § 3º do CPC: 
§ 3º Não impugnada a execução ou rejeitadas as arguições da executada: 
I - expedir-se-á, por intermédio do presidente do tribunal competente, precatório em favor do exequente, 
observando-se o disposto na Constituição Federal; 
II - por ordem do juiz, dirigida à autoridade na pessoa de quem o ente público foi citado para o processo, 
o pagamento de obrigação de pequeno valor será realizado no prazo de 2 (dois) meses contado da entrega 
da requisição, mediante depósito na agência de banco oficial mais próxima da residência do exequente. 
 
Neste caso, o juízo da execução elabora o precatório e o encaminha ao Presidente do Tribunal. Este, por 
sua vez, irá expedir o precatório, ou seja, repassá-lo ao ente devedor para que seja incluído no orçamento. 
Ex: se a execução era contra a União, o juiz federal responsável pela execução irá elaborar o precatório e 
encaminhá-lo ao Presidente do TRF; este irá expedir o precatório determinando que a União inclua no 
orçamento para pagamento. 
Suponhamos que, em nosso exemplo, a Fazenda Pública concordou com os cálculos do credor. Diante disso, o 
juiz encaminhou ao Presidente do Tribunal que expediu, em 30/05/2016, o precatório em favor de João. 
 
Assim, deverá haver a incidência dos juros da mora referente ao período de 10/04/2016 (data da 
realização dos cálculos) e a data do precatório. 
 
Existe um prazo para que o ente pague o precatório? 
SIM. Os pagamentos requisitados até 01/07 de cada ano deverão ser pagos até o final do exercício do ano 
seguinte. Isso está previsto no § 5º do art. 100 da CF/88: 
§ 5º É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de direito público, de verba necessária ao 
pagamento de seus débitos, oriundos de sentenças transitadas em julgado, constantes de precatórios 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
judiciários apresentados até 1º de julho, fazendo-se o pagamento até o final do exercício seguinte, quando 
terão seus valores atualizados monetariamente. 
 
Em nosso exemplo: o precatório foi apresentado pelo Presidente do Tribunal em 30/05/2016; logo, ele 
deverá ser pago pelo Poder Público até o dia 31/12/2017 (último dia do ano seguinte). 
 
Abrindo um parêntese: se o precatório tiver valor muito alto (valor superior a 15% do montante dos 
demais precatórios apresentados até o dia 01/07 do respectivo ano), então, neste caso, deverá ser pago 
15% do valor deste precatório até o dia 31/12 do ano seguinte e o restante em parcelas iguais nos 5 anos 
subsequentes, acrescidas de juros de mora e correção monetária. A CF/88 permite também que o credor 
faça um acordo com o Poder Público (§ 20 do art. 100 da CF/88, incluído pela EC 94/2016). 
 
Período de suspensão dos juros moratórios 
Entre o dia 01/07 de um ano até o dia 31/12 do ano seguinte (em nosso exemplo: de 01/07/2016 até 
31/12/2017), não haverá incidência de juros de mora porque o STF entende que esse foi o prazo normal 
que a CF/88 deu para o Poder Público pagar seus precatórios, não havendo razão para que a Fazenda 
Pública tenha que pagar juros referentes a esse interregno. 
Existe, inclusive, uma súmula vinculante sobre o tema: 
SV 17-STF: Durante o período previsto no parágrafo 1º (obs: atual § 5º) do artigo 100 da Constituição, não 
incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos. 
 
Obs: neste período, não há incidência de juros moratórios, mas deverá ser paga correção monetária, 
conforme prevê a parte final do § 5º do art. 100. 
 
E se passar o dia 31/12 e o ente devedor não efetuar o pagamento do precatório, neste caso, voltará a 
incidir juros de mora? Em nosso exemplo, se passar o dia 31/12/2017, começa novamente a incidir juros 
moratórios? 
SIM. Isso porque terá se esgotado o prazo dado pela Constituição para que o ente devedor pague o 
precatório. Logo, o ente encontra-se em mora. Assim, por exemplo, se o precatório foi inscrito até o dia 
01/07/2016, este precatório deverá ser pago até o dia 31/12/2017.Se o pagamento for realizado neste 
período, não haverá incidência de juros de mora porque não houve inadimplemento por parte da Fazenda 
Pública. No entanto, se passar o dia 31/12/2017 sem pagamento, haverá a incidência de juros moratórios 
que serão computados a partir de 01/01/2018 até a data em que ocorrer a quitação do precatório. 
 
Confira as palavras do Min. Edson Fachin: 
"A não incidência de juros de mora nesse período ocorre justamente porque nele não existe mora, em 
decorrência de norma constitucional, e isso se mantém independentemente de quando ocorrer o 
pagamento do precatório. 
No caso de o pagamento ocorrer após o prazo estabelecido pela Constituição, haverá a incidência de juros 
de mora, mas só no período em que houver mora, ou seja, depois do prazo estabelecido para o 
pagamento." (Voto na Rcl 15906 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, Primeira Turma, julgado em 18/08/2015) 
 
Obs: como estes juros moratórios não estavam previstos no precatório, considerando que se presumia 
que ele seria pago na data fixada pela CF/88 (até o dia 31/12), para que o credor receba o valor dos juros 
será necessária a expedição de um precatório complementar. Depois que o precatório está expedido, não 
se pode acrescentar novos valores a ele. 
 
Voltando ao nosso exemplo: 
- Sentença transitada em julgado: 04/04/2016. 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
- Início dos juros moratórios: 10/04/2016 (data da realização dos cálculos). 
- Dia em que o precatório foi apresentado para pagamento: 30/05/2016. 
- Suspensão dos juros moratórios: 01/07/2016 (SV 17-STF). 
- Prazo máximo para a Fazenda Pública pagar: 31/12/2017 (§ 5º do art. 100 da CF/88). 
- Se a Fazenda não pagar até o prazo máximo (31/12/2017): voltam a correr os juros moratórios. 
 
Repare, portanto, que o entendimento do STF definido no RE 579431/RS não invalida a SV 17 porque o 
que foi decidido neste recurso é um período anterior ao de que trata a súmula. 
 
Observação final complementar 
O que foi explicado acima é suficiente para fins de concurso. Irei, contudo, agora fazer uma observação 
complementar a respeito da súmula vinculante 17. 
A SV 17 foi editada em 29/10/2009 e continua sendo atualmente aplicada pelo STF. Nesse sentido: RE 
577465 AgR-ED-ED-EDv-AgR, Rel. Min. Rosa Weber, Tribunal Pleno, julgado em 23/09/2016. 
Contudo, tem crescido entre os Ministros a ideia de que esta súmula foi superada pelo § 12 do art. 100 da 
CF/88, acrescentado pela EC 62, de 10/12/2009, ou seja, posteriormente à edição do enunciado. Para 
muitos Ministros, o § 12 determina a incidência de juros moratórios independentemente do período. 
Confira a redação do dispositivo: 
§ 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização de valores de requisitórios, após 
sua expedição, até o efetivo pagamento, independentemente de sua natureza, será feita pelo índice oficial 
de remuneração básica da caderneta de poupança, e, para fins de compensação da mora, incidirão juros 
simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando excluída a 
incidência de juros compensatórios. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009). 
 
Em provas de concurso, a SV 17 continua válida, devendo ser assinalada como correta. Somente se 
manifeste sobre esta crítica ao enunciado caso você seja expressamente indagado acerca disso, como no 
caso de uma prova oral, por exemplo. 
 
 
 
DIREITO PENAL 
 
CRIMES NA LEI DE LICITAÇÕES 
Se o sotfware adquirido sem licitação tinha mais especificações do que os das 
concorrentes e era mais adequado ao seu objeto, não há o crime do art. 89 
 
Determinado Secretário de Educação fez contratação direta, com inexigibilidade de licitação, 
com a empresa "X", por meio da qual adquiriu mil licenças de uso do software "XX" para 
organizar os horários e grades escolares da rede de ensino estadual, no valor total de R$ 1 
milhão. 
O Ministério Público denunciou o Secretário pela prática do crime do art. 89 da Lei nº 8.666/93 
argumentando que outras empresas ofereciam softwares diferentes, mas com as mesmas 
funcionalidades, por preço menor. Dessa forma, o Parquet alegou que seria possível sim a 
concorrência entre as empresas, não sendo caso de inexigibilidade de licitação. 
O STF entendeu que não houve crime. 
O laudo pericial constatou que o “software” da empresa escolhida tinha mais especificações 
do que os das concorrentes e era mais adequado ao seu objeto. 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
O STF afirmou também que não há nos autos prova de conluio com a empresa escolhida e de 
recebimento de qualquer vantagem econômica pelo então Secretário. 
Por fim, asseverou que o crime previsto no art. 89 da Lei nº 8.666/1993 exige o dolo, 
consubstanciado na vontade livre e consciente de praticar o ilícito penal, que não se faz 
presente quando o acusado atua com fulcro em parecer da Procuradoria Jurídica no sentido 
da inexigibilidade da licitação. 
STF. 1ª Turma. Inq 3753/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/4/2017 (Info 861). 
 
A Lei de Licitação (Lei nº 8.666/93) prevê alguns tipos penais. 
O art. 89 tipifica como crime a dispensa ou inexigibilidade indevida de licitação. Veja: 
Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as 
formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade: 
Pena — detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa. 
Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, tendo comprovadamente concorrido para a 
consumação da ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade ilegal, para celebrar contrato com 
o Poder Público. 
 
 
OBRIGATORIEDADE DE LICITAÇÃO 
Regra: obrigatoriedade de licitação 
Como regra, a CF/88 impõe que a Administração Pública somente pode contratar obras, serviços, compras 
e alienações se realizar uma licitação prévia para escolher o contratante (art. 37, XXI). 
 
Exceção: contratação direta nos casos especificados na legislação 
O inciso XXI afirma que a lei poderá especificar casos em que os contratos administrativos poderão ser 
celebrados sem esta prévia licitação. A isso a doutrina denomina “contratação direta”. 
 
Resumindo: 
A regra na Administração Pública é a contratação precedida de licitação. Contudo, a legislação poderá 
prever casos excepcionais em que será possível a contratação direta sem licitação. 
 
CONTRATAÇÃO DIRETA 
A Lei de Licitações e Contratos prevê três grupos de situações em que a contratação ocorrerá sem licitação 
prévia. Trata-se das chamadas licitações dispensadas, dispensáveis e inexigíveis. Vejamos o quadro 
comparativo abaixo: 
 
Dispensada Dispensável Inexigível 
Art. 17 Art. 24 Art. 25 
Rol taxativo Rol taxativo Rol exemplificativo 
A lei determina a não realização 
da licitação, obrigando a 
contratação direta. 
A lei autoriza a não realização da 
licitação. Mesmo sendo 
dispensável, a Administração 
pode decidir realizar a licitação 
(discricionariedade). 
Como a licitação é uma disputa, 
é indispensável que haja 
pluralidade de objetos e 
pluralidade de ofertantes para 
que ela possa ocorrer. Assim, a 
lei prevê alguns casos em que a 
inexigibilidade se verifica porque 
há impossibilidade jurídica de 
competição. 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
Ex.: quando a Administração 
Pública possui uma dívida com o 
particular e, em vez de pagá-la 
em espécie, transfere a ele um 
bem público desafetado, como 
forma de quitação do débito. A 
isso chamamos de dação em 
pagamento (art. 17, I, "a"). 
Ex.: compras de até R$ 8 mil. Ex.: contratação de artista 
consagrado pela crítica 
especializada ou pela opinião 
pública para fazer o show do 
aniversário da cidade. 
 
Procedimento de justificação 
Mesmo nas hipóteses em quea legislação permite a contratação direta, é necessário que o administrador 
público observe algumas formalidades e instaure um processo administrativo de justificação. 
 
CRIME DO ART. 89 
Tipo objetivo 
O crime do art. 89 da Lei nº 8.666/93 ocorre se o administrador público... 
 dispensar a licitação fora das hipóteses previstas em lei; 
 inexigir (deixar de exigir) licitação fora das hipóteses previstas em lei; ou 
 deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade (as formalidades estão 
previstas especialmente no art. 26 da Lei). 
 
Desse modo, haverá o crime tanto na hipótese em que a licitação é dispensada mesmo sem lei autorizando 
ou determinando a dispensa, como na situação em que a lei até autoriza ou determina, mas o 
administrador não observa os requisitos formais para tanto. 
 
Norma penal em branco 
Como as hipóteses de dispensa e inexigibilidade estão previstas na Lei nº 8.666/93, este tipo penal é 
taxado como: 
 norma penal em branco (porque depende de complemento normativo); 
 imprópria, em sentido amplo ou homogênea (o complemento normativo emana do legislador); 
 do subtipo homovitelínea ou homológa (o complemento emana da mesma instância legislativa). 
 
Exige-se resultado danoso (dano ao erário) para que este crime se consuma? 
Existe polêmica atualmente sobre o tema: 
SIM. Posição do STJ e da 2ª Turma do STF NÃO. Entendimento da 1ª Turma do STF 
O crime do art. 89 da Lei nº 8.666/93 não é de mera 
conduta, sendo necessária a demonstração do dolo 
específico de causar dano ao erário e a configuração 
do efetivo prejuízo ao patrimônio público. 
STJ. 6ª Turma. HC 377.711/SC, Rel. Min. Nefi 
Cordeiro, julgado em 09/03/2017. 
 
Para que haja a condenação pelo crime do art. 89 
da Lei nº 8.666/93, exige-se a demonstração de 
que houve prejuízo ao erário e de que o agente 
tinha a finalidade específica de favorecimento 
indevido. Assim, mesmo que a decisão de dispensa 
ou inexigibilidade da licitação tenha sido incorreta, 
O tipo penal do art. 89 da Lei de Licitações prevê 
crime formal, que dispensa o resultado danoso 
para o erário. 
STF. 1ª Turma. Inq 3674/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, 
julgado em 7/3/2017 (Info 856). 
 
O crime do art. 89 da Lei 8.666/93 é formal, 
consumando-se tão somente com a dispensa ou 
inexigibilidade de licitação fora das hipóteses 
legais. Não se exige, para sua configuração, prova 
de prejuízo financeiro ao erário, uma vez que o 
bem jurídico tutelado não se resume ao 
patrimônio público, mas coincide com os fins 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
isso não significa necessariamente que tenha 
havido crime, sendo necessário analisar o prejuízo 
e o dolo do agente. 
STF. 2ª Turma. Inq 3731/DF, Rel. Min. Gilmar 
Mendes, julgado em 2/2/2016 (Info 813). 
buscados pela CF/88, ao exigir em seu art. 37, XXI, 
“licitação pública que assegure igualdade de 
condições a todos os concorrentes”. Tutela-se, 
igualmente, a moralidade administrativa, a 
probidade, a impessoalidade e a isonomia. 
STF. 1ª Turma. AP 971, Rel. Min. Edson Fachin, 
julgado em 28/06/2016. 
 
Tipo subjetivo 
Para a configuração da tipicidade subjetiva do crime previsto no art. 89 da Lei 8.666/93, exige-se o especial 
fim de agir, consistente na intenção específica de lesar o erário ou obter vantagem indevida. Esse 
entendimento é pacífico na jurisprudência do STF e STJ: 
Para a caracterização da conduta tipificada no art. 89 da Lei 8.666/1993, é indispensável a demonstração, 
já na fase de recebimento da denúncia, do elemento subjetivo consistente na intenção de causar dano ao 
erário ou obter vantagem indevida. 
STF. 2ª Turma. Inq 3965, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 22/11/2016. 
 
Feita esta breve revisão sobre o art. 89, imagine a seguinte situação: 
João era Secretário de Educação e fez contratação direta, com inexigibilidade de licitação, com a empresa 
"X" por meio da qual adquiriu mil licenças de uso do software "XX" para organizar os horários e grades 
escolares da rede de ensino estadual, no valor total de R$ 1 milhão. 
O Ministério Público denunciou o Secretário pela prática do crime do art. 89 da Lei nº 8.666/93 
argumentando que outras empresas ofereciam softwares diferentes, mas com as mesmas 
funcionalidades, por preço menor. Dessa forma, o Parquet alegou que seria possível sim a concorrência 
entre as empresas, não sendo caso de inexigibilidade de licitação. 
O STF entendeu que não houve crime. 
O laudo pericial constatou que o “software” da empresa escolhida tinha mais especificações do que os 
das concorrentes e era mais adequado ao seu objeto. 
O STF afirmou também que não há nos autos prova de conluio com a empresa escolhida e de 
recebimento de qualquer vantagem econômica pelo então secretário. 
Por fim, asseverou que o crime previsto no art. 89 da Lei 8.666/1993 exige o dolo, consubstanciado na 
vontade livre e consciente de praticar o ilícito penal, que não se faz presente quando o acusado atua 
com fulcro em parecer da Procuradoria Jurídica no sentido da inexigibilidade da licitação. 
STF. 1ª Turma. Inq 3753/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/4/2017 (Info 861). 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
COLABORAÇÃO PREMIADA 
Se a colaboração do agente não foi tão efetiva ele terá direito 
apenas a redução da pena, e não ao perdão judicial 
 
A colaboração premiada foi tratado com detalhes pela Lei nº 12.850/2013. No entanto, o 
julgado do STF envolveu fatos que aconteceram antes da Lei nº 12.850/2013. Desse modo, o 
julgamento foi feito com base na colaboração premiada disciplinada pela Lei nº 9.807/99. 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
A Lei nº 9.807/99 prevê o instituto da colaboração premiada, assegurando ao colaborador a 
redução da pena (art. 14) ou até mesmo o perdão judicial (art. 13) 
O réu colaborador não terá direito ao perdão judicial, mas apenas à redução da pena, caso a 
sua colaboração não tenha tido grande efetividade como meio para obter provas, 
considerando que as investigações policiais, em momento anterior ao da celebração do 
acordo, já haviam revelado os elementos probatórios acerca do esquema criminoso integrado. 
STF. 1ª Turma. HC 129877/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/4/2017 (Info 861). 
 
Em que consiste a chamada colaboração premiada? 
- Colaboração premiada é um instituto previsto na legislação por meio do qual... 
- um investigado ou acusado da prática de infração penal 
- decide confessar a prática do delito 
- e, além disso, aceita colaborar com a investigação ou com o processo 
- fornecendo informações que irão ajudar, 
- de forma efetiva, 
- na obtenção de provas contra os demais autores dos delitos e contra a organização criminosa, 
- na prevenção de novos crimes, 
- na recuperação do produto ou proveito dos crimes ou 
- na localização da vítima com integridade física preservada, 
- recebendo o colaborador, em contrapartida, determinados benefícios penais (ex: redução de sua pena). 
 
A colaboração premiada possui natureza jurídica de "meio de obtenção de prova" (art. 3º, I, da Lei nº 
12.850/2013). Chamo atenção para esse fato: a colaboração premiada não é um meio de prova 
propriamente dito. A colaboração premiada não prova nada (ela não é uma prova). A colaboração 
premiada é um meio, uma técnica, um instrumento para se obter as provas. 
 
“Enquanto os meios de prova são aptos a servir, diretamente, ao convencimento do juiz sobre a 
veracidade ou não de uma afirmação fática (p. ex., o depoimento de uma testemunha, ou o teor de uma 
escritura pública), os meios de obtenção de provas (p. ex.: uma busca e apreensão) são instrumentos para 
a colheita de elementos ou fontes de provas, estes sim, aptos a convencer o julgador (p. ex.: um extrato 
bancário [documento] encontrado em uma busca e apreensão domiciliar). Ouseja, enquanto o meio de 
prova se presta ao convencimento direto do julgador, os meios de obtenção de provas somente 
indiretamente, e dependendo do resultado de sua realização, poderão servir à reconstrução da história 
dos fatos” (BADARÓ, Gustavo. Processo Penal. Rio de Janeiro. Campus: Elsevier. 2012, p. 270). 
 
Previsão normativa 
Podemos encontrar algumas previsões embrionárias de colaboração premiada em diversos dispositivos 
legais esparsos. Confira a relação: 
• Código Penal (arts. 15, 16, 65, III, 159, § 4º); 
• Crimes contra o Sistema Financeiro – Lei 7.492/86 (art. 25, § 2º); 
• Crimes contra a Ordem Tributária – Lei 8.137/90 (art. 16, parágrafo único); 
• Lei dos Crimes Hediondos – Lei 8.072/90 (art. 8º, parágrafo único); 
• Convenção de Palermo – Decreto 5.015/2004 (art. 26); 
• Lei de Lavagem de Dinheiro – Lei 9.613/98 (art. 1º, § 5º); 
• Lei de Proteção às Testemunhas – Lei 9.807/99 (arts. 13 a 15); 
• Lei de Drogas – Lei 11.343/2006 (art. 41); 
• Lei Antitruste – Lei 12.529/2011 (art. 87, parágrafo único). 
 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
O instituto, no entanto, foi tratado com maior riqueza de detalhes pela Lei nº 12.850/2013 (Lei do Crime 
Organizado), em seus arts. 4º a 7º. Este é, atualmente, o diploma que rege, de forma geral, a colaboração 
premiada em nosso país. 
 
O julgado do STF que será analisado abaixo envolveu fatos que aconteceram antes da Lei nº 12.850/2013. 
Desse modo, o julgamento foi feito com base na colaboração premiada prevista na Lei nº 9.807/99. 
 
O caso concreto, com adaptações, foi o seguinte: 
João foi condenado a 4 anos de reclusão pela prática do crime tipificado no art. 239, parágrafo único, da 
Lei nº 8.069/90 (envio de criança ou adolescente para o exterior, em desatendimento a formalidade legal 
ou visando lucro). 
Vale ressaltar que João auxiliou a polícia a identificar os outros criminosos que faziam parte da 
organização. 
Diante disso, o juiz, na sentença, aplicou a causa de diminuição do art. 14 da Lei nº 9.807/99 no patamar 
de 1/3: 
Art. 14. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o 
processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime, na localização da 
vítima com vida e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, 
terá pena reduzida de um a dois terços. 
 
A defesa recorreu contra a sentença para o TRF pedindo que o réu tivesse direito não apenas à diminuição 
de pena, mas sim ao perdão judicial, que é previsto no art. 13 da Lei nº 9.807/99: 
Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a 
consequente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva 
e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha 
resultado: 
I - a identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa; 
II - a localização da vítima com a sua integridade física preservada; 
III - a recuperação total ou parcial do produto do crime. 
Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do beneficiado 
e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso. 
 
O Tribunal manteve a sentença sob o argumento de que a colaboração do réu não foi tão efetiva a ponto 
de servir para gerar a extinção da punibilidade. 
Além disso, o Tribunal acabou utilizando a expressão "colaborar espontaneamente" em vez de "colaborar 
voluntariamente", como prevê o texto da Lei. 
 
Diante disso, a defesa impetrou habeas corpus no STF reiterando o pedido para que o réu tenha direito 
ao perdão judicial. O STF acatou o pleito defensivo? 
NÃO. 
A colaboração do réu não teve grande efetividade como meio para obter provas, considerando que as 
investigações policiais, em momento anterior ao da celebração do acordo, já haviam revelado os 
elementos probatórios acerca do esquema criminoso integrado. 
Dessa forma, o Tribunal de origem agiu corretamente ao definir o quantum de diminuição da pena com 
base no alcance da colaboração prestada. 
STF. 1ª Turma. HC 129877/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/4/2017 (Info 861). 
 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
E a questão da voluntariedade x espontaneidade? 
O que diz a doutrina e a jurisprudência amplamente majoritária: 
Voluntariedade é diferente de espontaneidade. 
Quando se diz que a colaboração deve ser voluntária, o que se está querendo afirmar é que o colaborador 
não pode ter sido coagido. Não importa que a ideia do acordo de colaboração tenha partido da polícia ou 
do MP. 
Espontâneo significa que a ideia surgiu da própria pessoa. 
A colaboração premiada precisa ser voluntária, mas não é necessário que seja espontânea. 
A colaboração é considerada válida mesmo que a proposta não tenha partido do investigado/acusado. 
Isso porque não se exige que a colaboração seja espontânea, ou seja, que tenha partido do colaborador a 
ideia, a iniciativa. 
Assim, basta que seja voluntária (que ele aceite livremente). Se a polícia ou o MP propõem o acordo e este 
é aceito livremente pelo colaborador, esta colaboração é tida como voluntária. 
 
O que disse o Min. Marco Aurélio: 
Os vocábulos voluntariedade e espontaneidade são sinônimos. 
“Voluntário” é “aquilo que não é forçado, que só depende da vontade", ou seja, voluntário é o mesmo 
que espontâneo. 
Para que a colaboração do réu possa receber os benefícios legais, é necessário que ela decorra de livre 
vontade, sendo desprovida de qualquer tipo de constrangimento, ou seja, é necessário que ela seja 
voluntária/espontânea. 
 
Observação: 
Como já dito, a posição amplamente majoritária é aquela que distingue voluntária de espontânea. Penso, 
inclusive, que os demais Ministros não aderiram à tese do Min. Marco Aurélio. Assim, para fins de concurso 
prevalece o primeiro entendimento. Contudo, é importante conhecer esta posição minoritária e verificar 
como o tema é cobrado em uma prova. 
 
 
 
EXECUÇÃO PENAL 
Não viola a SV 56 a situação do condenado ao regime semiaberto que está cumprindo pena em 
presídio do regime fechado, mas em uma ala destinada aos presos do semiaberto 
 
João foi condenado a pena em regime semiaberto. Diante da falta de vagas em colônia agrícola 
ou industrial, ele se encontra cumprindo a reprimenda em um presídio do regime fechado. 
Vale ressaltar, contudo, que neste presídio existe uma ala destinada somente aos sentenciados 
dos regimes semiaberto e aberto, concedendo-lhes os benefícios próprios destes regimes. 
João encontra-se preso justamente nesta ala do presídio. 
A situação de João viola a SV 56 ("A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a 
manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa 
hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS.")? 
NÃO. Segundo o STF decidiu no RE 641.320, "os juízes da execução penal podem avaliar os 
estabelecimentos destinados aos regimes semiaberto e aberto, para qualificação como 
adequados a tais regimes. São aceitáveis estabelecimentos que não se qualifiquem como 
“colônia agrícola, industrial” (regime semiaberto) ou “casa de albergado ou estabelecimento 
adequado” (regime aberto) (art. 33, §1º, “b” e “c”, do CP). No entanto, não deverá haver 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
alojamento conjunto de presos dos regimes semiaberto e aberto com presos do regime 
fechado." 
Assim, os presos do regime semiaberto podem ficar em outra unidade prisional que não seja 
colônia agrícola ou industrial, desde que se trate de estabelecimento similar (adequado às 
características do semiaberto). 
No caso de João, embora o presídio onde ele está não seja efetivamente uma colônia penal 
agrícola, esse estabelecimentopreenche, na medida do possível, as condições do regime 
semiaberto, inclusive dando condições para que internos se ausentem nas ocasiões 
legalmente previstas. 
STF. 2ª Turma. Rcl 25123/SC, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 18/4/2017 (Info 861). 
 
Regimes de cumprimento de pena: 
Pela Lei (Código Penal e Lei nº 7.210/84), existem três regimes de cumprimento de pena que seguem às 
seguintes regras: 
 
FECHADO SEMIABERTO ABERTO 
A pena é cumprida na 
Penitenciária. 
Obs.: apesar de, na prática, isso 
ser desvirtuado, a chamada 
Cadeia Pública destina-se apenas 
ao recolhimento de presos 
provisórios (art. 102 da LEP), 
considerando que as pessoas 
presas provisoriamente devem 
ficar separadas das que já tiverem 
sido definitivamente condenadas 
(art. 300 do CPP). 
A pena é cumprida em colônia 
agrícola, industrial ou 
estabelecimento similar (art. 33, 
§ 1º, "b", CP). 
 
A pena é cumprida na Casa do 
Albergado ou estabelecimento 
adequado (art. 33, § 1º, "c", CP). 
A Casa do Albergado deverá 
estar localizada em centro 
urbano, separado dos demais 
estabelecimentos prisionais, e 
caracteriza-se pela ausência de 
obstáculos físicos contra a fuga. 
Isso porque o regime aberto 
baseia-se na autodisciplina e 
senso de responsabilidade. 
O condenado fica sujeito a 
trabalho, dentro da própria 
Penitenciária, no período 
diurno, e a isolamento durante o 
repouso noturno. 
O condenado fica sujeito a 
trabalho, dentro da colônia, 
durante o período diurno. 
Durante o dia, o condenado 
trabalha, frequenta cursos ou 
realiza outras atividades 
autorizadas, fora do 
estabelecimento e sem 
vigilância. 
Durante o período noturno e nos 
dias de folga, permanece 
recolhido na Casa do Albergado. 
 
Na prática, contudo, é muito comum que não existam colônias agrícolas e industriais e casas de albergado, 
unidades prisionais previstas na Lei como sendo as adequadas para o cumprimento da pena nos regimes 
semiaberto e aberto. 
O STF debateu este tema no RE 641.320/RS e editou uma súmula vinculante sobre o tema. Confira: 
Súmula vinculante 56: A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do 
condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros 
fixados no RE 641.320/RS. 
 
E quais foram os parâmetros fixados no RE 641.320? 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
a) A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime 
prisional mais gravoso; 
 
b) Os juízes da execução penal podem avaliar os estabelecimentos destinados aos regimes semiaberto 
e aberto, para qualificação como adequados a tais regimes. São aceitáveis estabelecimentos que não se 
qualifiquem como “colônia agrícola, industrial” (regime semiaberto) ou “casa de albergado ou 
estabelecimento adequado” (regime aberto) (art. 33, §1º, “b” e “c”, do CP). No entanto, não deverá 
haver alojamento conjunto de presos dos regimes semiaberto e aberto com presos do regime fechado. 
 
c) Havendo déficit de vagas, deverá determinar-se: 
(i) a saída antecipada de sentenciado no regime com falta de vagas; 
(ii) a liberdade eletronicamente monitorada ao sentenciado que sai antecipadamente ou é posto em 
prisão domiciliar por falta de vagas; 
(iii) o cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado que progride ao regime 
aberto. 
 
d) Até que sejam estruturadas as medidas alternativas propostas, poderá ser deferida a prisão domiciliar 
ao sentenciado. 
STF. Plenário. RE 641320/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/5/2016 (repercussão geral) (Info 825). 
 
Feita esta breve revisão, imagine a seguinte situação: 
João foi condenado a cumprir pena em regime semiaberto. 
Diante da falta de vagas em colônia agrícola ou industrial, João encontra-se cumprindo pena no presídio 
destinado ao regime fechado. 
Vale ressaltar, contudo, que neste presídio existe uma ala destinada somente aos sentenciados do regime 
semiaberto e aberto, concedendo-lhes os benefícios próprios destes regimes. 
João encontra-se preso nesta ala do presídio. 
O apenado, contudo, não se conformou com a situação e pediu ao juiz das execuções penais que, diante 
da inexistência de colônia agrícola, ele tivesse direito à prisão domiciliar ou à antecipação do regime 
aberto. 
O magistrado negou o pleito e João ingressou com reclamação no STF alegando que a decisão violou a SV 56. 
 
O STF concordou com a reclamação proposta? 
NÃO. 
O Código Penal, ao tratar sobre os regimes semiaberto e aberto, prevê o seguinte: 
Art. 33 (...) 
§ 1º - Considera-se: 
b) regime semiaberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar; 
c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado. 
 
Há importante discussão acerca do que vem a ser estabelecimento similar e estabelecimento adequado. 
A Lei de Execuções Penais trata do tema nos arts. 91 a 95, mas também não define em que consistem tais 
estabelecimentos. 
Na prática, existem pouquíssimas colônias agrícolas e industriais no país. Dessa forma, alguns Estados 
mantêm os presos do regime semiaberto em estabelecimentos similares, ou seja, unidades prisionais 
diferentes do regime semiaberto, onde os presos possuem um pouco mais de liberdade. 
No julgamento do RE 641320, o STF decidiu que os magistrados possuem competência para verificar, no 
caso concreto, se o estabelecimento onde o preso do regime semiaberto e aberto fica pode ser 
enquadrado como "estabelecimento similar" ou "estabelecimento adequado". 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
Assim, os presos do regime semiaberto podem ficar em outra unidade prisional que não seja colônia 
agrícola ou industrial, desde que se trate de estabelecimento similar (adequado às características do 
semiaberto). 
De igual forma, os presos do regime aberto podem cumprir pena em outra unidade prisional que não seja 
casa de albergado, desde que se trate de um estabelecimento adequado. 
Veja como o STF resumiu este entendimento em uma tese: 
b) Os juízes da execução penal podem avaliar os estabelecimentos destinados aos regimes semiaberto 
e aberto, para qualificação como adequados a tais regimes. São aceitáveis estabelecimentos que não se 
qualifiquem como “colônia agrícola, industrial” (regime semiaberto) ou “casa de albergado ou 
estabelecimento adequado” (regime aberto) (art. 33, §1º, “b” e “c”, do CP). No entanto, não deverá 
haver alojamento conjunto de presos dos regimes semiaberto e aberto com presos do regime fechado. 
STF. Plenário. RE 641320/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/5/2016 (repercussão geral) (Info 825). 
 
No caso de João, embora o presídio onde ele está não seja efetivamente uma colônia penal agrícola, esse 
estabelecimento preenche, na medida do possível, as condições do regime semiaberto, inclusive dando 
condições para que internos se ausentem nas ocasiões legalmente previstas. 
Diante dessa situação, a decisão do magistrado que indeferiu o pedido de João não violou a SV 56. 
 
 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
 
IMUNIDADE TRIBUTÁRIA 
Não se pode aplicar a imunidade tributária recíproca 
se o bem está desvinculado de finalidade estatal 
 
A INFRAERO (empresa pública federal) celebrou contrato de concessão de uso de imóvel com 
uma empresa privada por meio da qual esta última poderia explorar comercialmente um 
imóvel pertencente à INFRAERO. Vale ressaltar que esta empresa é uma concessionária de 
automóveis. 
A empresa privada queria deixar de pagar IPTU alegando que o imóvel gozaria de imunidade 
tributária. O STF não aceitou a tese e afirmou que não incide a imunidade neste caso. 
A atividade desenvolvida pela empresa tem por finalidade gerar lucro. 
Se fosse reconhecida a imunidade neste caso, isso geraria, como efeitocolateral, uma 
vantagem competitiva artificial em favor da empresa, que teria um ganho em relação aos seus 
concorrentes. Afinal, a retirada de um custo permite o aumento do lucro ou a formação de 
preços menores, o que provoca desequilíbrio das relações de mercado. 
Não se pode aplicar a imunidade tributária recíproca se o bem está desvinculado de finalidade 
estatal. 
STF. Plenário. RE 434251/RJ, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgado 
em 19/4/2017 (Info 861). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
A INFRAERO (empresa pública federal) celebrou contrato de concessão de uso de imóvel com uma empresa 
privada por meio da qual esta última poderia explorar comercialmente um imóvel pertencente à INFRAERO. 
Vale ressaltar que esta empresa é uma concessionária de automóveis. 
A empresa privada queria deixar de pagar IPTU alegando que o imóvel gozaria de imunidade tributária. 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
 
A tese da empresa foi acolhida pelo STF? 
NÃO. O STF considerou que a atividade exercida pela empresa é alheia à administração aeroportuária, já 
que explora comércio de veículos automotores, peças, acessórios, oficina mecânica, reparos, pintura de 
quaisquer veículos e outras atividades correlatas ao ramo automobilístico. 
Dessa forma, a atividade desenvolvida pela empresa tem por finalidade gerar lucro, não sendo destinada 
à filantropia ou à benemerência. 
Além disso, o contrato firmado prevê que a responsabilidade pelo pagamento de tributos municipais recai 
sobre o concessionário. Por isso, dificilmente seria possível concordar que a tributação implica surpresa 
ao contribuinte, que leva em conta a carga tributária em suas previsões de custo. 
Se fosse reconhecida a imunidade neste caso, isso geraria, como efeito colateral, uma vantagem 
competitiva artificial em favor da empresa, que teria um ganho em relação aos seus concorrentes. 
Afinal, a retirada de um custo permite o aumento do lucro ou a formação de preços menores, o que 
provoca desequilíbrio das relações de mercado. 
Não se pode aplicar a imunidade tributária recíproca se o bem está desvinculado de finalidade estatal. 
STF. Plenário. RE 434251/RJ, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgado em 
19/4/2017 (Info 861). 
 
 
 
DIREITO PREVIDENCIÁRIO 
 
BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA 
Estrangeiros residentes no Brasil têm direito ao BPC 
 
Importante!!! 
Os estrangeiros residentes no País são beneficiários da assistência social prevista no art. 203, 
V, da Constituição Federal, uma vez atendidos os requisitos constitucionais e legais. 
STF. Plenário. RE 587970/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 19 e 20/4/2017 (repercussão 
geral) (Info 861). 
 
Benefício mensal de um salário mínimo para pessoa com deficiência ou idoso 
A CF/88 estabelece, em seu art. 203, V: 
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à 
seguridade social, e tem por objetivos: 
(...) 
V – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que 
comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, 
conforme dispuser a lei. 
 
A fim de dar cumprimento a esse comando constitucional, foi editada a Lei nº 8.742/93 que, em seus arts. 
20 a 21-A, disciplinou como seria pago esse benefício. 
 
Nomenclatura 
O art. 20 da Lei nº 8.742/93 denomina esse direito de “Benefício de Prestação Continuada”. Ele também 
pode ser chamado pelos seguintes sinônimos: “Amparo Assistencial”, “Benefício Assistencial” ou “LOAS”. 
 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
Em que consiste esse benefício: 
Pagamento de 
um salário-
mínimo por mês 
• à pessoa com deficiência; ou Desde que comprove não possuir meios de prover 
a própria manutenção nem de tê-la provida por sua 
família. 
• ao idoso com 65 anos ou mais. 
 
Para receber esse benefício, é necessário que a pessoa contribua ou tenha contribuído para a seguridade social? 
NÃO. Trata-se de um benefício de assistência social, que será prestado a quem dele necessitar, 
independentemente de contribuição à seguridade social. A assistência social é caracterizada por ser um 
sistema não-contributivo, ou seja, é prestada independentemente de contribuição. 
 
Quem administra e concede esse benefício? 
Apesar de o LOAS não ser um benefício previdenciário, mas sim assistencial, ele é concedido e 
administrado pelo INSS. Vale ressaltar, no entanto, que os recursos necessários ao seu pagamento são 
fornecidos pela União (art. 29, parágrafo único, da Lei nº 8.742/93). 
Assim, a competência para julgar ações que discutam esse benefício é da Justiça Federal. 
 
Inacumulável 
A pessoa que recebe o amparo assistencial não pode receber ao mesmo tempo outro benefício no âmbito 
da seguridade social ou de outro regime, salvo assistência médica e pensão especial de natureza 
indenizatória (art. 20, § 4º). 
 
Renda que a lei considera como sendo insuficiente para subsistência 
A Lei nº 8.742/93 prevê, no seu art. 20, § 3º: 
§ 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família cuja renda 
mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo. 
 
Vale ressaltar, no entanto, que esse critério não é absoluto. O Plenário do STF declarou, incidentalmente, 
a inconstitucionalidade do § 3º do art. 20 da Lei 8.742/93 (sem pronúncia de nulidade) por considerar que 
o referido critério está defasado para caracterizar a situação de miserabilidade. O STF afirmou que, para 
aferir que o idoso ou deficiente não tem meios de se manter, o juiz está livre para se valer de outros 
parâmetros, não estando vinculado ao critério da renda per capita inferior a 1/4 do salário-mínimo 
previsto no § 3º do art. 20. 
STF. Plenário. RE 567985/MT e RE 580963/PR, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgados em 17 e 
18/4/2013 (Info 702). 
 
Desse modo, como a declaração de inconstitucionalidade foi sem pronúncia de nulidade, o critério 
definido pelo art. 20, § 3º, da Lei nº 8.742/93 continua existindo no mundo jurídico, mas devendo agora 
ser interpretado como um indicativo objetivo que não exclui a possibilidade de o juiz verificar a 
hipossuficiência econômica do postulante do benefício por outros meios de prova (STF. 1ª Turma. ARE 
834476 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 03/03/2015). 
 
É como o STJ também vem decidindo: 
(...) O limite legal estabelecido no art. 20, § 3º, da Lei 8.742/93 não é critério absoluto, de modo que a 
necessidade/miserabilidade do postulante pode ser comprovada de outras maneiras. (...) (STJ. 2ª Turma. 
AgRg no REsp 1341655/SP, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 06/08/2013) 
... 
(...) A jurisprudência do STJ pacificou-se no sentido de que a limitação do valor da renda per capita familiar 
não deve ser considerada a única forma de provar que a pessoa não possui outros meios para prover a 
própria manutenção ou tê-la provida por sua família, pois é apenas um elemento objetivo para aferir a 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
necessidade, ou seja, presume-se absolutamente a miserabilidade quando demonstrada a renda per 
capita inferior a 1/4 do salário-mínimo. Orientação reafirmada no julgamento do REsp 1.112.557/MG, sob 
o rito dos recursos repetitivos (art. 543-C do CPC). (STJ. 2ª Turma. AgRg no AgRg no AREsp 617.901/SP, 
Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 05/05/2015) 
 
Desse modo, o que eu queria que você entendesse é que, mesmo após a decisão do STF nos RE 567985/MT 
e RE 580963/PR, o art. 20, § 3º, da Lei nº 8.742/93 continua sendo um dos critérios para se aferir a 
miserabilidade, sem prejuízo de outros. Assim, na prática, se a renda familiar mensal percapita for 
superior a 1/4 do salário mínimo e não houver outras provas que atestem a miserabilidade, o benefício 
assistencial será negado. 
 
Novo § 11 do art. 20 da Lei nº 8.742/93 
O legislador, de forma acertada, encampou o entendimento jurisprudencial acima explicado e, por meio 
da Lei nº 13.146/2015, inseriu o § 11 ao art. 20 da Lei nº 8.742/93 prevendo o seguinte: 
§ 11. Para concessão do benefício de que trata o caput deste artigo, poderão ser utilizados outros 
elementos probatórios da condição de miserabilidade do grupo familiar e da situação de vulnerabilidade, 
conforme regulamento. 
 
O que se entende por renda familiar mensal per capita? Como isso é calculado? 
Normalmente, um assistente social vai até a residência da pessoa que está requerendo o benefício e faz 
entrevistas com ela e os demais moradores da casa, indagando sobre as fontes de renda de cada, 
verificando as condições estruturais do lar, os móveis e eletrodomésticos existentes no local etc. 
Após isso, é elaborado um laudo social. 
A renda familiar mensal per capita é calculada da seguinte forma: soma-se todos os rendimentos dos 
membros da família que moram na mesma casa que o requerente do benefício e depois divide-se esse 
valor pelo número de familiares (incluindo o requerente). Ex.: Carla (pessoa com deficiência) mora com 
seus pais (João e Maria) e mais um irmão (Lucas). João e Maria trabalham e ganham um salário mínimo, 
cada. Cálculo da renda mensal per capita: 2 salários mínimos divididos por 4 pessoas = 2:4. Logo, a renda 
mensal per capita será igual a 1/2 do salário mínimo. Neste exemplo, a renda familiar mensal per capita 
será maior do que o teto imposto pelo art. 20, § 3º, da Lei nº 8.742/93. Mesmo assim, o juiz poderá 
conceder o benefício, desde que existam outras provas que atestem a miserabilidade da requerente. Não 
havendo, contudo, tal comprovação, o benefício será negado. 
 
O que se entende por família? 
Para os fins da renda familiar do LOAS, a família é composta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, 
os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados 
solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto (art. 20, § 1º). 
 
O estrangeiro residente no Brasil pode ter direito a esse benefício de prestação continuada? 
SIM. 
Os estrangeiros residentes no País são beneficiários da assistência social prevista no art. 203, V, da 
Constituição Federal, uma vez atendidos os requisitos constitucionais e legais. 
STF. Plenário. RE 587970/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 19 e 20/4/2017 (repercussão geral) (Info 861). 
 
Direito fundamental 
O benefício assistencial previsto no art. 203, V, da CF/88 é uma expressão dos princípios da solidariedade 
e da erradicação da pobreza, elencados no art. 3º, I e III, do Texto Constitucional. Trata-se de uma forma 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
de garantir assistência aos desamparados (art. 6º, caput, da CF/88). Por essa razão, possui natureza 
jurídica de direito fundamental. 
 
"Assistência social será prestada a quem dela necessitar" 
O caput do art. 203 da CF/88 afirma que a "assistência social será prestada a quem dela necessitar". 
Essa expressão deve ser interpretada de acordo com a dignidade da pessoa humana, com a solidariedade 
social, com a erradicação da pobreza e com a assistência aos desamparados. 
 
Princípio da dignidade humana 
O conceito de dignidade humana pode ser decomposto em três elementos 
1) valor intrínseco; 
2) autonomia; e 
3) valor comunitário. 
 
Valor intrínseco 
Como "valor intrínseco", a dignidade significa que se deve reconhecer que cada indivíduo é um fim em si 
mesmo. Todo ser humano deve ser valorizado, independentemente das escolhas, situação pessoal ou origem. 
Assim, deixar desamparado um ser humano que não tem condições de se sustentar pelo simples fato de 
ele ser oriundo de outro país seria uma desconsideração deste valor. 
 
Autonomia 
"Autonomia" aqui significa dizer que a dignidade protege as decisões e atitudes tomadas pelo indivíduo 
em relação à sua vida. 
Ex: se duas pessoas decidem viver uma união homoafetiva, o Estado deverá proteger essa legítima escolha. 
Desse modo, o Estado existe para auxiliar os indivíduos na realização dos seus projetos pessoais de vida, 
que traduzem o livre e pleno desenvolvimento da personalidade. 
Para que a pessoa possa ir em busca da construção de um ideal de vida boa, é fundamental que lhe sejam 
fornecidas condições materiais mínimas. Nesse aspecto, a previsão do art. 203, V, da CF também funciona 
como um meio de assegurar esta concepção de vida digna, cabendo ao Estado brasileiro dar essa 
sustentação até mesmo ao estrangeiro. 
 
Valor comunitário 
O estrangeiro residente no País, inserido na comunidade, participa do esforço mútuo, na construção de 
um propósito comum. Esse laço de irmandade faz-nos, de algum modo, responsáveis pelo bem de todos, 
até mesmo daqueles que adotaram o Brasil como novo lar e fundaram seus alicerces pessoais e sociais 
nesta terra. 
Desde a criação da nação brasileira, a presença do estrangeiro no País foi incentivada e tolerada. Não seria 
coerente com a história estabelecer diferenciação tão somente pela nacionalidade, especialmente quando 
a dignidade está em xeque em momento de fragilidade do ser humano — idade avançada ou algum tipo 
de deficiência. 
 
CF não fez distinção para os desamparados 
O constituinte instituiu a obrigação do Estado de prover assistência aos desamparados, sem distinção. 
Com base no art. 6º da CF/88, os Poderes Públicos devem efetivar políticas para remediar, ainda que 
minimamente, a situação precária daqueles que acabaram relegados a essa condição, sem ressalva em 
relação ao não nacional. 
Pelo contrário, o art. 5º, caput, da CF/88 estampa o princípio da igualdade e a necessidade de tratamento 
isonômico entre brasileiros e estrangeiros residentes no País. 
 
Lei nº 8.742/93 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
A Lei nº 8.742/93, que regulamentou o benefício, silenciou a respeito dos estrangeiros residentes no País. 
Esse silêncio não pode ser interpretado como uma recusa do benefício aos estrangeiros porque a CF foi 
expressa ao afirmar, de forma ampla, que “a assistência social será prestada a quem dela necessitar”. 
Importante também esclarecer que o art. 203, V, da CF/88, ao delegar ao legislador ordinário a 
regulamentação do benefício, o fez apenas quanto à forma de comprovação da renda e das condições 
específicas de idoso ou portador de necessidades especiais hipossuficiente. No entanto, não houve 
delegação quanto à definição dos beneficiários. 
Diante disso, deve prevalecer a interpretação que assegura o benefício aos estrangeiros residentes no 
Brasil, considerando que esta é a exegese que melhor concretiza o princípio constitucional da dignidade 
humana, cuja observância surge prioritária no ordenamento jurídico. 
 
Dificuldades orçamentárias 
O Poder Público alegava dificuldades orçamentárias para assegurar o benefício assistencial aos 
estrangeiros residentes no Brasil. 
O STF, contudo, rechaçou esta argumentação afirmando que o orçamento, embora seja peça essencial nas 
sociedades contemporâneas, não tem valor absoluto. 
Além disso, não foram apresentadas provas técnicas da indisponibilidade financeira e do suposto impacto 
para os cofres públicos nem de prejuízo para os brasileiros natos e naturalizados. 
 
Princípio da reciprocidade 
Para evitar o pagamento, a Administração Pública argumentava também que o benefício apenas poderia 
ser dado aos estrangeiros residentes no Brasil se esse mesmo benefício fosse assegurado aos brasileiros 
que moram em outros países. Em outras palavras, o benefício somente poderia ser concedido a 
estrangeiro originário de país com o qual o Brasil tenhafirmado acordo internacional e que preveja a 
cobertura da assistência social a brasileiro que esteja em seu território. Assim, por exemplo, segundo esta 
linha de raciocínio, somente poderia ser concedido o amparo assistencial a um haitiano que viva no Brasil, 
caso no Haiti seja previsto este mesmo benefício para os brasileiros que moram lá. Esse argumento era 
baseado no princípio da reciprocidade. 
O STF concluiu ser descabido este argumento. Apesar de a reciprocidade permear a CF, não é uma regra 
absoluta que deva ser aplicada sempre. 
Um exemplo de não aplicação do princípio da reciprocidade é o Sistema Único de Saúde. O SUS é regido 
pelo princípio da universalidade de atendimento. Isso significa que, ao ingressar no território brasileiro, o 
estrangeiro tem direito a atendimento médico pelo SUS, caso precise de assistência de urgência, sem 
necessidade de que haja reciprocidade no país de origem. Como exemplo, um norte-americano que esteja 
no Brasil pode ser atendido pelo SUS, apesar do fato de esse mesmo direito não ser assegurado aos 
brasileiros que estejam nos EUA. 
 
O estrangeiro sem residência fixa no Brasil ou o estrangeiro em situação irregular em nosso país também 
possuem direito ao amparo assistencial do art. 203, V, da CF/88? 
NÃO. Somente o estrangeiro com residência fixa no País pode ser auxiliado com o benefício assistencial, pois, 
inserido na sociedade, contribui para a construção de melhor situação social e econômica da coletividade. 
De igual modo, somente o estrangeiro em situação regular no País pode se dizer beneficiário da assistência 
social. Isso significa que os estrangeiros que estejam irregulares não terão direito ao benefício pelo fato 
de não terem atendido às leis brasileiras, fato que, por si só, demonstra a ausência de noção de 
coletividade e de solidariedade a justificar a tutela do Estado. 
 
 
EXERCÍCIOS 
 
Julgue os itens a seguir: 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
1) Segundo entendimento do STF, os pagamentos devidos, em razão de pronunciamento judicial, pelos 
Conselhos de Fiscalização submetem-se ao regime de precatórios. ( ) 
2) (Juiz TRF1 2015 CESPE) Os conselhos profissionais de caráter nacional passaram a ser reconhecidos como 
autarquias federais por meio da Lei n.º 9.649/1998. Entretanto, por essa lei ter sido declarada 
inconstitucional pelo STF, tais conselhos são atualmente entes privados que prestam serviços públicos 
delegados pela União. ( ) 
3) (Juiz Federal TRF5 2011 CESPE) A justiça federal é competente para julgar causas que envolvam como 
parte conselho de fiscalização profissional de âmbito nacional, cabendo à justiça estadual o julgamento 
das que envolvam os conselhos regionais. ( ) 
4) (Promotor MPDFT 2013) Apenas quando houver potencial lesivo na atividade é que pode ser exigida 
inscrição em conselho de fiscalização profissional. ( ) 
5) (Promotor MPE GO 2016 banca própria) Segundo a jurisprudência dominante do Supremo Tribunal 
Federal, é correto afirmar que o rol de legitimados ativos à propositura da ação declaratória de 
constitucionalidade comporta interpretação extensiva, de sorte que os conselhos profissionais, para essa 
finalidade, observada a pertinência temática, consubstanciam entidade de classe de âmbito nacional a 
que alude o art. 103, IX, da Constituição da República. ( ) 
6) (Promotor MPE GO 2016 banca própria) Os Conselhos de fiscalização profissional, por possuírem 
natureza jurídica de autarquia corporativa, devem se submeter aos princípios constitucionais 
concernentes à Administração Pública, inclusive o da exigência de realização de concurso público para 
contratação de pessoal. ( ) 
7) (PGM/SP 2014) As autarquias especiais corporativas, como os conselhos de fiscalização profissional, não 
necessitam contratar mediante concurso público. ( ) 
8) (Juiz Federal TRF4 2014 banca própria) O benefício da isenção do preparo, conferido aos entes públicos 
previstos no art. 4º, caput, da Lei nº 9.289/96, é inaplicável aos conselhos de fiscalização profissional. ( ) 
9) Incidem os juros da mora no período compreendido entre a data da realização dos cálculos e a da 
requisição de pequeno valor (RPV) ou do precatório. ( ) 
10) Os estrangeiros residentes no País são beneficiários da assistência social prevista no art. 203, V, da 
Constituição Federal, uma vez atendidos os requisitos constitucionais e legais. ( ) 
 
Gabarito 
1. E 2. E 3. E 4. C 5. E 6. C 7. E 8. C 9. C 10. C 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OUTRAS INFORMAÇÕES 
 
Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25 
 
TRANSCRIÇÕES 
 
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais aprofundada 
do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham despertado ou possam 
despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica. 
 
Regras de Bangkok - Prisão domiciliar - Mulher com filho menor - CPP, Art. 318 (Transcrições) 
 
HC 134.734/SP* 
 
Relator: Ministro Celso de Mello 
 
EMENTA: PRISÃO EM FLAGRANTE. PRISÃO PREVENTIVA. CONVERSÃO EM PRISÃO DOMICILIAR. POSSIBILIDADE, 
DESDE QUE COMPROVADA QUALQUER DAS SITUAÇÕES EXCEPCIONAIS REFERIDAS NO ROL TAXATIVO CONSTANTE DO 
ART. 318 DO CPP. PARA A CONCESSÃO DA PRISÃO DOMICILIAR, NO ENTANTO, QUE TRADUZ MERA FACULDADE JUDICIAL, 
NÃO BASTA A CONDIÇÃO DE MATERNIDADE, IMPONDO-SE AO PODER JUDICIÁRIO, PARA ESSE ESPECÍFICO EFEITO, O 
EXAME FAVORÁVEL DA CONDUTA E DA PERSONALIDADE DA AGENTE E, SOBRETUDO, A CONVENIÊNCIA E O 
ATENDIMENTO AO SUPERIOR INTERESSE DO MENOR. REGRAS DE BANGKOK PROMULGADAS PELA ASSEMBLEIA GERAL 
DAS NAÇÕES UNIDAS. INOVAÇÕES INTRODUZIDAS NO DIREITO INTERNO BRASILEIRO: CPP, LEP, LEI DAS MEDIDAS 
CAUTELARES E LEI DA PRIMEIRA INFÂNCIA. OUTORGA DE TRATAMENTO DIFERENCIADO À MULHER PRESA QUE 
OSTENTE, ENTRE OUTRAS CONDIÇÕES, A DE SER MÃE DE CRIANÇA MENOR DE 12 ANOS DE IDADE. LEGITIMIDADE 
DESSE TRATAMENTO, QUE TAMBÉM SE JUSTIFICA PELA NECESSIDADE DE RESPEITO AO POSTULADO DA DIGNIDADE 
DA PESSOA HUMANA E DE OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL QUE CONSAGRA O DEVER ESTATAL DE 
PROTEÇÃO INTEGRAL DA CRIANÇA. INCIDÊNCIA DA CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA. 
PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, PARTICULARMENTE DE SUA COLENDA SEGUNDA TURMA. PACIENTE 
QUE COMPROVADAMENTE POSSUI FILHA MENOR DE 12 ANOS DE IDADE (CPP, ART. 318, INCISO V). CIRCUNSTÂNCIAS 
QUE RECOMENDAM, NO CASO, O EXERCÍCIO DA FACULDADE PREVISTA NO ART. 318 DO CPP. “HABEAS CORPUS” 
DEFERIDO, EM PARTE. 
 
 
DECISÃO: Trata-se de “habeas corpus” impetrado contra decisão que, emanada do E. Superior Tribunal de Justiça, não conheceu do “writ” 
constitucional que, perante aquela Alta Corte judiciária, foi deduzido e cujo julgamento importou em manutenção da prisão cautelar decretada 
contra a ora paciente. 
Busca-se, nesta sede processual, seja assegurado à ora paciente – que comprovadamente tem filha menor de 12 (doze) anos de idade –, o 
direito de estar em liberdade. 
O Ministério Público Federal, em seu último pronunciamento nestes autos, manifestou-se pelo deferimento parcial da ordem de “habeas 
corpus”. 
Sendo esse o contexto, passo a examinar a presente impetração. E, ao fazê-lo, acolho esse douto parecer do Ministério Público Federal, por 
encontrar-se em harmonia com o que dispõe a legislação processual penal (CPP, art. 318, inciso V) e, sobretudo, por achar-se em plena 
conformidade com o postulado da proteção integral da criança, que traduz um dos princípios essenciais consagrados no texto da Constituição da 
República (CF, art. 227). 
Cabe relembrar que o ordenamento positivo brasileiro – ao contemplar a possibilidade de conversão da prisão preventiva em prisão 
domiciliar nas hipóteses previstas nos incisos

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