Prévia do material em texto
SUSPENSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário: I - moratória; II - o depósito do seu montante integral; III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo; IV - a concessão de medida liminar em mandado de segurança. V – a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; VI – o parcelamento. Parágrafo único. O disposto neste artigo não dispensa o cumprimento das obrigações assessórios dependentes da obrigação principal cujo crédito seja suspenso, ou dela consequentes. 1º Moratória Art. 152. A moratória somente pode ser concedida: A moratória pode ser conceituada como a dilação do prazo para pagamento do tributo. Trata-se da postergação do prazo para vencimento do tributo. I - em caráter geral: https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ Quando for concedida em caráter geral, a lei objetivamente dilata o prazo para pagamento do tributo, beneficiando a generalidade dos sujeitos passivos, sem necessidade da comprovação por parte destes de alguma característica pessoal especial. Quando concedida em caráter geral, a moratória gera direito adquirido ao contribuinte. a) pela pessoa jurídica de direito público competente para instituir o tributo a que se refira; Trata-se da chamada moratória autônoma, em que o ente competente para a instituição do tributo dilata-lhe legalmente o prazo. b) pela União, quanto a tributos de competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, quando simultaneamente concedida quanto aos tributos de competência federal e às obrigações de direito privado; Trata-se da chamada moratória heterônoma. Sobre essa hipótese, grande parte da doutrina afirma que ela seria inconstitucional, já que a CF/88 veda a concessão de isenção heterônomas (CF, Art. 151, III). Assim, como a concessão de moratória heterônoma pode colocar em risco a autonomia dos entes federados, grande parte da doutrina defende sua inconstitucionalidade. Por outro lado, os defensores da sua constitucionalidade argumentam que a moratória heterônoma, por si só, não se configura inconstitucional, uma https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ vez que ela somente pode ser concedida em situações excepcionais, devendo, ainda, a dilação do prazo de pagamento dos tributos estaduais e municipais ser acompanhada de medidas idênticas para tributos federais e até para obrigações de direito privado. Dessa forma, a análise da constitucionalidade ou não da moratória deve ser realizada no caso concreto. Não há jurisprudências sobre o tema. II - em caráter individual, por despacho da autoridade administrativa, desde que autorizada por lei nas condições do inciso anterior. Parágrafo único. A lei concessiva de moratória pode circunscrever expressamente a sua aplicabilidade à determinada região do território da pessoa jurídica de direito público que a expedir, ou a determinada classe ou categoria de sujeitos passivos. A moratória individual depende de comprovação dos requisitos previstos em lei, não gerando ao contribuinte direito adquirido. Por fim, ressalta- se que mesmo na moratória individual, a concessão do benefício decorre de lei, possuindo o despacho administrativo exarado pela administração tributária caráter declaratório de direito preexistente. Art. 153. A lei que conceda moratória em caráter geral ou autorize sua concessão em caráter individual especificará, sem prejuízo de outros requisitos: I - o prazo de duração do favor; https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ II - as condições da concessão do favor em caráter individual; III - sendo caso: a) os tributos a que se aplica; b) o número de prestações e seus vencimentos, dentro do prazo a que se refere o inciso I, podendo atribuir a fixação de uns e de outros à autoridade administrativa, para cada caso de concessão em caráter individual; c) as garantias que devem ser fornecidas pelo beneficiado no caso de concessão em caráter individual. Durante muito tempo, essa previsão foi entendida como fundamento legal para a existência do instituto do parcelamento. Ocorre que a LC 104/01 incluiu expressamente o parcelamento como uma das causas de suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Dessa forma, muito embora sejam institutos parecidos, necessário estabelecer uma correta diferenciação entre eles: a moratória é medida excepcional, que somente deve ocorrer em caso de situações naturais, econômicas ou sociais que dificultem o normal adimplemento da obrigação tributária; já o parcelamento é corriqueira medida de política fiscal, que visa a recuperar créditos e a permitir que contribuintes inadimplentes voltem à situação de regularidade. Além disso, na moratória o pagamento é livre de qualquer penalidade, enquanto no parcelamento, em regra, deve haver o pagamento de juros de mora. Art. 154. Salvo disposição de lei em contrário, a moratória somente abrange os créditos definitivamente constituídos à data da lei ou https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ do despacho que a conceder, ou cujo lançamento já tenha sido iniciado àquela data por ato regularmente notificado ao sujeito passivo. Parágrafo único. A moratória não aproveita aos casos de dolo, fraude ou simulação do sujeito passivo ou do terceiro em benefício daquele. Art. 155. A concessão da moratória em caráter individual não gera direito adquirido e será revogado de ofício, sempre que se apure que o beneficiado não satisfazia ou deixou de satisfazer as condições ou não cumprira ou deixou de cumprir os requisitos para a concessão do favor, cobrando-se o crédito acrescido de juros de mora: I - com imposição da penalidade cabível, nos casos de dolo ou simulação do beneficiado, ou de terceiro em benefício daquele; II - sem imposição de penalidade, nos demais casos. Parágrafo único. No caso do inciso I deste artigo, o tempo decorrido entre a concessão da moratória e sua revogação não se computa para efeito da prescrição do direito à cobrança do crédito; no caso do inciso II deste artigo, a revogação só pode ocorrer antes de prescrito o referido direito. 2º Depósito do montante integral do tributo O depósito do montante integral do tributo não se confunde com a consignação em pagamento – que é causa de extinção do crédito tributário -, pois quem consigna quer pagar; já o depositante não quer pagar, mas sim discutir a dívida. Para que suspenda a exigibilidade do crédito é necessário que o depósito seja em dinheiro e pelo valor integral cobrado pela Fazenda Pública. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ STJ – Súmula 112: o depósito somente suspende a exigibilidade do crédito tributário se for integralmente e em dinheiro. Aplicação do princípio do “solve et repete”: A cláusula solve et repete significa “pagar para poder reclamar”. Trata-se de exceção ao princípio do pacto não cumprido, que, levado ao Direito Tributário, torna necessário o pagamento do tributo pelo contribuinte para que este possa discuti-lo. O Supremo Tribunal Federal, de forma reiterada, tem afastado a exigibilidade de depósito de quantia para recurso administrativo tributário, com base justamente na vedação do solve et repete. Nesse sentido: STF – Súmula Vincula 21: é inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo. Contudo, a aludida cláusula ainda não foi complementarmente expurgada do nosso ordenamento jurídico, sendo o depósito do montante integral um dos resquícios de sua aplicação, já que o depósito somente suspenderá a exigibilidade docrédito tributário se for integral e no valor cobrando pela Fazenda Pública. Outra exceção é a necessidade de se garantir o juízo para opor embargos à execução em sede de execução fiscal. Depósito e constituição do crédito: embora o lançamento em si seja ato privativo da autoridade administrativa a teor do art. 142 do CTN, existem https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ outros modos de constituição do crédito tributário que não o lançamento. A constituição (ou formalização ou representação documental) também pode ser feita pelo contribuinte cumprindo suas obrigações acessórias de apurar e declarar os tributos sujeitos a lançamento por homologação, confessando-os. Exemplos normativos da constituição do crédito tributário pelo próprio contribuinte, dispensando o lançamento, são o art. 5º, § 1º, do Decreto-Lei 2.124/84, art. 33, § 7º, da Lei 8.212/91, art. 74, § 6º, da Lei 9.430/96, art. 12 da Lei 10.522/02. No mesmo sentido, foi editada a Súmula 436 do STJ: “A entrega de declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário, dispensada qualquer outra providência por parte do fisco Entende-se que o depósito é uma declaração que constitui o crédito tributário no lançamento por homologação. Segundo Leandro Paulsen, com o depósito, o próprio contribuinte formaliza a existência do crédito e, já tendo o contribuinte apurado o montante devido e o afetado ao resultado da demanda mediante o depósito, não há que se exigir lançamento, salvo para a constituição de eventual diferença por montante superior ao que foi depositado. Não haverá que se falar em decadência, pois, quanto ao montante depositado. A jurisprudência do STJ considera que depósito judicial nos tributos sujeitos a lançamento por homologação também é uma espécie de declaração, razão pela qual constituirá o crédito tributário quanto ao valor depositado, não havendo que se falar em decadência do direito de lançá-los pelo fisco, ante o simples fato de o crédito tributário já estar constituído (AgRgno REsp 1163271/PR). https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ Nesse sentido, realizado o depósito integral do montante do tributo para suspender a exigibilidade do crédito tributário, ele passa a ter uma função de garantia judicial do débito semelhante à penhora como preconiza o § 3º do art. 9º da Lei 6.830/80 (“A garantia da execução, por meio de depósito em dinheiro ou fiança bancária, produz os mesmos efeitos da penhora”). O depositante perde a disponibilidade sobre os valores, não podendo mais levantá-los segundo a sua livre vontade, devendo aguardar a solução da lide, conforme o §2º do art. 32 da Lei 6.830/80 (“Após o trânsito em julgado da decisão, o depósito, monetariamente atualizado, será devolvido ao depositante ou entregue à Fazenda Pública, mediante ordem do Juízo competente.”). Como as causas de extinção do processo sem julgamento de mérito são imputadas ao autor da ação, é incompatível com a sistemática de garantia do depósito judicial que se permita que o autor levante o depósito na extinção sem mérito do feito, vez que deve ocorrer a conversão em renda em favor do fisco. Acaso o contribuinte entenda que a conversão em renda em favor do fisco foi incorreta, deverá buscar a restituição dos valores mediante a repetição do indébito tributário. Assim, o depósito judicial realizado por sujeito passivo tributário somente poderá ser por ele levantado se vencedor no mérito da demanda. Em caso de extinção sem julgamento de mérito, o valor é convertido em renda do Fisco, exceto na hipótese de o ente político não ser sujeito ativo da exação (AgRg nos EAg 1300823/DF). 3º Recurso e Reclamação Administrativa Uma vez efetuado o lançamento, deve ser aberto prazo para que o contribuinte possa se defender na seara administrativa. A apresentação de https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ defesa tem como consequência a suspensão do crédito enquanto não for proferida decisão final no processo administrativo. Reclamação administrativa incapaz de suspender a exigibilidade do crédito tributário: A reclamação administrativa interposta contra ato de exclusão do contribuinte do parcelamento NÃO é capaz de suspender a exigibilidade do crédito tributário, sendo inaplicável o disposto no art. 151, III, do CTN. Isso porque as reclamações e recursos previstos nesse dispositivo legal são aqueles que discutem o próprio lançamento tributário, ou seja, a exigibilidade do crédito tributário. Sendo a reclamação proposta contra o ato que exclui o contribuinte do parcelamento, essa reclamação está questionando a exclusão em si (e não o lançamento tributário). Logo, não suspende a exigibilidade do crédito (REsp 1.372.368-PR). 4º Liminar e medida liminar Até a edição da LC 104, que acrescentou o inciso V do art. 151, parte da doutrina e da jurisprudência entendiam que somente a liminar em MS tinha o condão de suspender o crédito. Contudo, após a edição da aludida lei, passou-se a entender que a liminar em qualquer espécie de ação judicial pode suspender o crédito tribuário. Revogada a medida liminar que suspendia a exigibilidade do crédito tributário, volta a correr o prazo prescricional: A revogação de liminar que suspendeu a exigibilidade do crédito tributário ocasiona a retomada do lapso prescricional para o Fisco, desde que inexistente qualquer outra https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ medida constante do art. 151 do CTN ou recurso especial/extraordinário dotado de efeito suspensivo (EAREsp 407.940/RS). 5º Parcelamento Art. 155-A. O parcelamento será concedido na forma e condição estabelecidas em lei específica. § 1o Salvo disposição de lei em contrário, o parcelamento do crédito tributário não exclui a incidência de juros e multas. § 2o Aplicam-se, subsidiariamente, ao parcelamento as disposições desta Lei, relativas à moratória. § 3o Lei específica disporá sobre as condições de parcelamento dos créditos tributários do devedor em recuperação judicial. § 4o A inexistência da lei específica a que se refere o § 3o deste artigo importa na aplicação das leis gerais de parcelamento do ente da Federação ao devedor em recuperação judicial, não podendo, neste caso, ser o prazo de parcelamento inferior ao concedido pela lei federal específica. Efeitos do parcelamento sobre penhorados em execução fiscal: o parcelamento é uma das causas da suspensão da exigibilidade do crédito tributário, impedindo, assim, novos atos executórios por parte do Estado. Contudo, a suspensão da exigibilidade não tem a força para desconstituir os atos já praticados. A suspensão determina apenas a manutenção do status atual. Nenhum novo ato pode ser praticado (os atos de cobrança estão paralisados). Isso não significa, contudo, que os atos praticados antes foram equivocados ou que já devam ser desfeitos. Assim, para saber se o bem penhorado em execução fiscal deve ou não ser liberado, é preciso https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ analisar o seguinte: a) se a penhora ocorreu ANTES do parcelamento: NÃO; b) Se a penhora ocorreu DEPOIS do parcelamento: SIM. A principal razão de ser disso é que se o mero parcelamento tivesse o condão de liberar os bens penhorados na execução, isso poderia ser utilizado como artifício malicioso para devedores aderirem ao parcelamento, pagarem a primeira parcela, terem liberado seus bens e depois deixarem de pagar as parcelas restantes (AI no REsp 1266318/RN). Bibliografia consultada para elaboração da apostila e indicada para aprofundamento do tema: - Direito Tributário Esquematizado – Ricardo Alexandre; - Dizer o Direito (http://www.dizerodireito.com.br/) https://www.instagram.com/direitodiretoblog/