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Portfólio l portuguesa e matematica

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GRAZIELLA DINIZ BORGES
	FUNDAMENTOS E MÉTODOS DO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E DE MATEMÁTICA
Avaliação feita pelo Centro Universitário Claretiano, para verificação parcial do desempenho na disciplina Fundamentos e Métodos da Língua Portuguesa e Matemática
MARÍLIA – SP.
2018
	Descrição da atividade 
	Faça a leitura do artigo "Psicogênese da Língua Escrita", de Onaide Mendonça e, depois, escreva um texto crítico e reflexivo a respeito das contribuições, dos equívocos e as consequências geradas pela má interpretação da psicogênese da língua escrita para o trabalho pedagógico de alfabetização.
Ser professor nos dias de hoje não é o mesmo que sê-lo antes das novas propostas. Foram criadas tantas teorias e métodos de trabalho que o professor ficou à mercê deles dos alunos e do meio social, afinal vivemos em sociedade. Com o fim das cartilhas, mesmo que aparentemente, o processo de alfabetização passou a ser uma tarefa direta do professor em sala de aula, às vezes, auxiliado por um material de apoio, como os livros didáticos ou material apostilado. Alguns professores viram-se perdidos. Sem cartilha, sem poder fazer o que sabiam. Como agir na nova situação? Uma questão tão séria e tão preocupante como a ortografia, da noite para o dia, deixou de ser um dos centros da atenção do processo de alfabetização, para se tornar uma “hipótese na cabeça dos alunos” (CAGLIARI, 2002).
A grande discussão sobre as cartilhas e seus métodos trouxe à tona graves problemas da educação no Brasil. Com a ruptura com as cartilhas e diante de um construtivismo mal compreendido. Quem podia trazer uma solução? Os alunos iam continuar escrevendo segundo suas “hipóteses”, sem se preocupar com a ortografia? Até quando iria essa história? Para complicar ainda mais a situação, apareceu a promoção automática nos ciclos escolares do Ensino Fundamental. E no meio disso, o professor querendo resolver em sua cabeça o dilema: é erro ou é hipótese? Diante dos resultados que vão sendo divulgados pelos meios de comunicação, a culpa pelo fracasso escolar passa por todos os envolvidos, gerando acusações mútuas de pais, alunos, professores, pedagogos, pesquisadores, governo, economia, política etc. O fato de os alunos saírem da escola sem saber escrever é apenas um dos problemas. Diante do exposto, a questão da escola não é a ortografia, mas a própria organização da Educação no Brasil (CAGLIARI, 2002).
Sabemos que nada substitui o professor, mas para ensinar a criança a ler, é preciso, em primeiro lugar, que o professor saiba como se faz para ler. Os adultos se acostumam com o fato de lerem automaticamente e não se dão conta dos mecanismos e dos conhecimentos de que uma pessoa precisa ter para decifrar e traduzir a linguagem. Aqui está o segredo da atividade do professor. Desta forma, é preciso investir mais na formação, principalmente o professor alfabetizador, se isso não acontecer à alfabetização e o processo escolar como um todo, continuarão seriamente comprometidos (CAGLIARI, 2009).
 As novas formas de aprender e ensinar
O conceito Alfabetização, segundo Soares (2017), significa: levar à aquisição do alfabeto, ou seja, ensinar a ler e a escrever. Assim, a especificidade da Alfabetização é a aquisição do código alfabético e ortográfico, através do desenvolvimento das habilidades de leitura e de escrita.
No início da alfabetização, é imprescindível que o professor ensine a técnica do ler e escrever. Quando o aluno lê, realiza a decodificação (decifração) de sinais gráficos, transformando grafemas em fonemas; quando ele escreve, codifica, transformando fonemas em grafemas. Esse é um aprendizado complexo, que exige diferentes formas de raciocínio, envolvendo abstração e memorização. A escrita é uma convenção e, portanto, precisa ser ensinada (SOARES, 2017).
Para Soares (2017), acreditou-se que o aluno aprenderia o sistema simplesmente pelo contato com a cultura letrada, como se ele pudesse aprender sozinho o código, sem ensino explícito e sistemático, um grande equívoco. Atualmente, se reconhece a importância de se usar algumas práticas da escola tradicional, que são entendidas como as facetas da alfabetização segundo Soares, assim como os equívocos de compreensão do construtivismo foram percebidos e ajustados, muitos aspectos da escola nova tidos como essenciais, foram modificados.
 Com tudo isso, não se pode negar uma prática ou outra, só por ela estar fundamentada nesta ou naquela concepção, mas, sim, avaliar quais são as suas contribuições e se convêm serem utilizadas ou não. Como nos exemplifica Mendonça, (2011) sobre o equívoco que se configura na exclusão da experiência silábica nas práticas pedagógicas do professor, sugerindo ser fruto de algumas orientações pedagógicas, que desejavam combater as atividades mecanicistas herdadas das cartilhas, à revelia da própria obra de Emília Ferreiro que não oferece elementos para fundamentar tal exigência, mas sim esclarece que a criança pensa, raciocina, inventa, buscando compreender a natureza desse objeto cultural – a escrita – em um processo dinâmico em constante construção de sistemas interpretativos. Enfim, o que se deseja é uma atividade contextualizada. 
Aprender é um ato individual, cada criança aprende segundo suas cognições, seu intelecto. O que é importante para quem ensina, pode não ser importante para quem aprende. Na aprendizagem o importante é o que faz sentido ao aprendiz, e isto depende do contexto da atividade desenvolvida, de certo campo semântico, uma rede de significados e sentidos.
 Assim, novas formas de pensar a educação e o processo educativo começam a tomar forma, autores como Piaget, Vygotsky, Emília Ferreiro entre outros, trazem conceitos pertinentes propondo novas relações e formas de pensar a educação, os processos educacionais, e principalmente o sujeito aprendiz e sua aprendizagem. Novas categorias de conhecimento são propostas e seguem desconstruindo e fazendo rupturas em conceitos e formas de atuar, sejam estas do escolar ou do professor. 
A psicogênese da língua escrita é uma abordagem psicológica que trata de como a criança se apropria da língua escrita. O aprendizado nesta perspectiva não ocorre somente pelo ato de codificar e decodificar, de correlações entre grafema e fonema. Nesta visão alfabetizar é construir conhecimento, é um processo de construção conceitual, contínuo, que se inicia antes mesmo da criança chegar à escola. 
A psicologia genética de Piaget (1998) pretende explicar que o sujeito passa por estágios de desenvolvimento e de conhecimento, segundo a psicologia genética, a inteligência humana representa uma forma de adaptação biológica, pela inteligência o organismo alcança equilíbrio nas relações com o meio, ocorrendo à adaptação de seu organismo e produzindo conhecimentos nas relações com os objetos. 
Desse ponto de vista o conhecimento não é cópia, é construção. Construir implica atuar de maneira ativa e transformadora, física ou mentalmente. Para Piaget (1998), a criança é ativa no processo de construção do conhecimento, as interações com objetos determinam seu desenvolvimento intelectual e permite modificar e exercitar esquemas anteriores.
A teoria de Piaget (1998) nos permite introduzir a escrita enquanto objeto de conhecimento, e o sujeito aprendiz, enquanto sujeito cognoscente. Esta concepção de aprendizagem entendida como processo de obtenção de conhecimentos supõe que existam processos de aprendizagem do sujeito que não dependem dos métodos. O método seria uma ação para ajudar, facilitar ou até dificultar, porém, este método não cria a aprendizagem. A obtenção de conhecimento é um resultado da própria atividade cognoscente do sujeito. Para Piaget, o conhecimento objetivo aparece como uma aquisição e não como um dado inicial e linear, pois a compreensão de um objeto de conhecimento aparece estreitamente ligada à possibilidade de o sujeito ativo no processo reconstruir este objeto. Sendo assim, a teoria piagetiana nãoteme o erro, este é tido como construtivo e essencial (Ferreiro, 1999).
Sem contrapor as ideias construtivistas, sabendo de suas valiosas contribuições, o linguista Cagliari (2009), irá nos dizer da importância do professor dentro de todos estes processos citados nas teorias psicogenéticas, falar do papel ativo do professor e do aluno é algo fundamental e não deve deixar de ser feito. Frade (2003) nos revela o fato de que os professores de sucesso, têm tentado conciliar métodos, trabalhando com decodificação, também com as chamadas inovações pedagógicas, emanadas do discurso científico e dos órgãos oficiais. 
Através das pesquisas históricas e as atuais, sabemos que alfabetizar sempre foi um problema, algo difícil, que não se esgota num material, em uma conduta metodológica. Consideramos uma ação pedagógica competente aquela que consegue ser conservadora e inovadora no mesmo tempo, porque se pode beber em ambas fontes, alguns modelos com certa tradição não podem ser esquecidos, mas podem ser pensados com atualidade e assim adquire-se uma nova prática pedagógica (FRADE, 2003).
A educação-processo corresponde à ação educadora, às condições e modos pelos quais os sujeitos incorporam meios de se educar, entendendo que toda a educação implica relações entre seres humanos, ações intencionais que visam promover aprendizagens (LIBANEO, 2000). Considerando a educação como uma ação, como um processo, nos leva a ampliação do conceito, da concepção de ensino e do significado da educação na sociedade. Foram diversas as alterações, transformações sociais e educacionais, tudo isso vem afetando os educadores e consequentemente os escolares. “Uma mediação na ruptura das práticas reprodutivas pela intervenção da práxis humana, que pode criar recriar, transformar a realidade social”. (LIBANEO, 2000, p.73). 
Cagliari (2009), diz da importância do preparo do professor, de uma compressão mínima de como se aprende, e aponta que todo professor deveria um dia olhar uma palavra, por exemplo, casa, e escrever todos os conhecimentos necessários para ler essa palavra. Não é o bastante, dizer que usamos letras, porque todas as palavras são escritas com letras. Não basta dizer que a letra A tem o som de [a], porque ela pode ter vários outros sons. Por exemplo, o aluno que fala acharo, em vez de acharam, tem que aprender que o som de [u], no final dessa palavra, também se escreve com a letra A. Não é simples e suficiente, decorar que casa tem essa sequência de letras, porque, desse modo, os alunos precisariam decorar a escrita de todas as palavras. Então, o que é preciso saber para decifrar a escrita e ler uma palavra? Diante da escrita, o leitor precisa decifrar o que está escrito. Dessa forma, a decifração é o aspecto mais importante do processo de alfabetização.
 Neste sentido, Solé (1998), diz que o processo de aquisição da leitura e escrita, deve ser voltado a diferentes aspectos, que vão desde a compreensão da função social da escrita até à aquisição do código e à apropriação dos conhecimentos inerentes à cultura letrada, possibilitando ao aluno, gradativamente, a aprendizagem e desenvolvimento da leitura e produção. Com relação a isso, compreendemos que esse trabalho deve partir de estratégias básicas como a decodificação da escrita, pois conforme Solé (1998), no leitor experiente as habilidades de decodificação automatizam-se e só se tornam conscientes em certas ocasiões - por exemplo, quando encontramos um texto manuscrito com letra ilegível, com preensão fraca, enquanto o leitor aprendiz precisa utilizar tais habilidades com grande frequência, no contexto da busca do significado.
 Enfim, conforme nos afirma Solé (1998) , “aprende-se a ler e a escrever lendo e escrevendo, vendo outras pessoas lerem e escreverem, tentando e errando, sempre guiados pela busca do significado ou pela necessidade de produzir algo que tenha sentido” (SOLÉ, 1998, p.21).
Para Saviani (2008) a escola tradicional possui aspectos importantes para a educação. Com a teoria da curvatura da vara, ele mostra que para a educação ter mais qualidade, a “vara” deve permanecer reta, e não curvada para a teoria nova, nem para a teoria tradicional, mas sim, alinhada, argumenta que uma pedagogia comprometida com a qualidade educacional e voltada para a transformação social, devendo incorporar aspectos positivos de uma pedagogia denominada tradicional e da pedagogia nova, de modo que o ponto de partida seja a prática social sincrética e o de chegada uma prática social transformadora. 
Ainda gostaria de destacar mais uma vez a necessidade de organização e planejamento de ações pedagógicas, que possibilitem a apropriação, consciente, desse mecanismo de decifração do código de leitura e escrita pelo aluno, favorecendo gradativamente a sua atuação e participação ativa nas práticas mediadas pelo professor. Os encaminhamentos, as atividades em sala de aula, devem representar a necessidade do aluno e ao mesmo tempo ir ao encontro da construção de sentido, sendo planejado, havendo intencionalmente do professor, que propõe situações contextualizadas para que, assim, o processo de escolarização e de ensino e de aprendizagem ganhe significações para o aluno. 
Enfim, conforme nos afirma Solé (1998), “aprende-se a ler e a escrever lendo e escrevendo, vendo outras pessoas lerem e escreverem, tentando e errando, sempre guiados pela busca do significado ou pela necessidade de produzir algo que tenha sentido” (SOLÉ, 1998, p.21). 
É preciso que a criança descubra durante sua escolaridade que existe um mundo da escrita, um mudo social, cultural, econômico, industrial da escrita e das produções, e através deles espera-se que as crianças sejam capazes de representar a si mesmas como leitoras e produtoras de texto (JOLIBERT, 1994).
REFERÊNCIAS
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizando sem o BÀ-BÉ-BI- BÓ- BU. 2ª Edição – São Paulo: Scipione, 2009.
___________________ . Alfabetização e ortografia. Educar, Curitiba, n. 20, p. 43-58. 2002. Editora UFPR.In: http://www.scielo.br/pdf/er/n20/n20a06.pdf
SAVIANI, D. Escola e Democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre a educação política. 40ªed. Campinas: Autores Associados, 2008.
FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999.
FRADE, Isabel Cristina da Silva. Alfabetização hoje: onde estão os métodos? Revista Presença Pedagógica, v.9, n.50. mar. abr.2003.
GADOTTI, Moacir. História das Ideias Pedagógicas. - 8ª Edição – São Paulo: Ática, 2003.
JOLIBERT, Josette e colaboradores. Formando Crianças Produtoras de Textos. Porto Alegre: Artmed, 1994.
LIBANEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? - 3ª Edição – São Paulo: Cortez, 2000.
MENDONÇA, O. S.; MENDONÇA, O. C. Psicogênese da língua escrita: contribuições, equívocos e consequências para a alfabetização. Caderno de formação: formação de professores didática dos conteúdos. São Paulo: Cultura Acadêmica/Unesp/ Univesp, 2011. v. 2. Disponível em: . Acesso em: 17 fev. 2016.
PIAGET, Jean. Sobre a Pedagogia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.
SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. 7ª edição. São Paulo; Contexto, 2017.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6. ed., Porto Alegre: Artmed, 1998.

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