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Olá, querido aluno e querida aluna! Sejam bem-vindos ao Núcleo de Prática Jurídica Virtual de Direito Constitucional. Preparado para dar início a uma instigante viagem pelo mundo do Direito Constitucional? Você certamente irá gostar! Você já sabe, mas não custa repetir: o Direito Constitucional é um dos ramos mais importantes do Direito, pois ele irradia seus efeitos em todos os âmbitos jurídicos, possui ligação com todas as matérias e por isso é importante que você se dedique com afinco ao seu estudo, por mais que não pretenda ser um constitucionalista. Inevitavelmente lhes serão exigidos, como operador do direito, conhecimentos sobre o Direito Constitucional e esta é a grande oportunidade para colocá-los em prática, pois a nossa metodologia é pensada exatamente para isso. Vamos entender no que consistem as nossas atividades? Aliaremos os conhecimentos teóricos adquiridos durante a graduação à prática jurídica. Você terá a oportunidade de vivenciar, ao longo das seis seções que compõem o nosso estudo, diversas fases processuais e materiais que exigirão de você conhecimentos específicos, como um grande advogado constitucionalista deve ter. Serão situações que muito provavelmente poderão ser exigidas no Exame da Ordem dos Advogados, em provas de concursos públicos ou no próprio exercício da advocacia pública ou privada. É uma maravilhosa oportunidade de treinar seus conhecimentos, não é mesmo? Então aproveite cada pedacinho dela e se tornará um verdadeiro craque na prática constitucional. Todas as nossas atividades se desenvolverão através de um caso concreto e a partir desse caso concreto lhe será exigida, em cada seção, a elaboração de uma peça prático-profissional que será submetida à avaliação. Mas não se preocupe, você contará com toda a nossa ajuda. Para isso, em cada seção você terá o “fundamentando” espaço destinado à revisão e ao aprofundamento de conteúdos teóricos necessários para a elaboração da peça que será exigida, e ao final você ainda terá acesso a um modelo da peça processual esperada, elaborada por um profissional da área, a fim de que possa visualizar todos os itens que lhes serão cobrados, bem como a fundamentação jurídica correta a ser utilizada na peça. O caso que lhe será apresentado deverá ser analisado em cada seção em diferentes situações fáticas, as quais possuem ligação entre si e guardam uma estratégia a ser traçada por você de acordo com a marcha processual a ser seguida em cada acontecimento do trâmite processual que lhe será exposto. Essa é uma informação importante, preste atenção! Muito bem. Todas as nossas seções se originam de um contexto geral, o qual vamos conhecer agora, ok? Vamos dar início ao trabalho! Bernardo é um jovem muito dedicado e estudioso. Desde que ingressou na graduação em Direito sonhava em ser advogado público, trabalhar para o Estado. Em razão desse sonho, pautou seus estudos de forma dedicada à aprovação em um concurso público, forma de ingresso na advocacia pública. Passados alguns anos de completa dedicação, Bernardo alcançou a tão sonhada aprovação no concurso para a Procuradoria Geral do Estado de Pernambuco. Vamos aprender junto com Bernardo um pouco sobre a atuação da Procuradoria do Estado? Por força da previsão contida no art. 182 do Código de Processo Civil, a defesa e a promoção dos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal e Municípios, bem como de todas as pessoas jurídicas de direito público que integram a Administração pública, é tarefa da Advocacia Púbica, que os representará judicialmente em todos os âmbitos federativos. Nesse sentido, a Procuradoria do Estado é o órgão responsável pela promoção e defesa dos interesses do Estado e de todas as pessoas jurídicas de direito público que o integram. É o que dispõe o art. 132 da Constituição Federa, ao dispor que os procuradores dos Estados são organizados em carreira, na qual ingressam mediante concurso de provas e títulos, e responsáveis por exercer as funções de representação judicial e de consultoria jurídica da respectiva unidade federativa. A Procuradoria do Estado, assim como os outros órgãos da advocacia pública, quando no exercício da representação judicial da Administração Pública, possui algumas prerrogativas no âmbito processual: a sua intimação deve ser pessoal, e possuem, em regra, prazo em dobro para se manifestar. (artigo 183 do CPC). Todos os dias a Procuradoria Geral do Estado de Pernambuco recebe dezenas de demandas para analisar e dar o seguimento processual necessário. São processos variados, mas sempre causas relacionadas com o Estado ou órgãos pertencentes à Administração Pública estatal, atuando tanto no polo passivo quanto no polo ativo das ações. Em regra, as ações em que a Procuradoria do Estado atua, por se tratarem de ações contra ou ajuizadas pela Administração Pública, tramitam em uma Vara especializada em processar e julgar as ações contra a Fazenda Pública, as chamadas Varas de Fazenda Pública, existentes em muitos municípios do Estado, e na capital Recife. É importante destacar que, no que concerne as sociedades de economia mista, existe alguma controvérsia sobre a competência das Varas de Fazenda Pública para processar e julgar as ações das quais as mesas sejam parte, eis que a as mesmas seguem o regime de empresas privadas, apesar de integrarem a Administração Pública indireta. O entendimento jurisprudencial pode variar em cada Estado, mas no Estado de Pernambuco o entendimento jurisprudencial tem adotado a competência das Varas Comuns para processar e julgar as ações em que as sociedades de economia mista sejam parte, veja: “DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ORDINÁRIA EM QUE FIGURA COMO PARTE SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. REGIME JURÍDICO DAS EMPRESAS PRIVADAS. VARA DA FAZENDA PÚBLICA. INCOMPETÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE FORO PRIVILEGIADO. ARTIGO 79 DO COJE. JURISPRUDÊNCIA UNIFORME. ACOLHIMENTO PRELIMINAR INCOMPETÊNCIA. NULIDADE DA DECISÃO RECORRIDA. PREJUDICIALIDADE DA ANÁLISE MERITÓRIA. 1. Consoante é de uniforme compreensão, as sociedades de economia mista sujeitam-se ao regime jurídico próprio das empresas privadas, somente podendo auferir as prerrogativas processuais que lhe forem expressamente garantidas em Lei. As ações em que forem parte devem, portanto, ter andamento perante as varas cíveis comuns, não havendo, pois, que se falar em foro privilegiado. 2. Se assim não o fosse, o Código de Organização Judiciária do Estado de Pernambuco, ao disciplinar a competência do Juízo das Varas da Fazenda Pública, teria inserido as sociedades de economia mista no rol das pessoas jurídicas com foro privilegiado, mas não o fez, como se pode verificar pela literalidade do seu artigo 79: Art. 79 - Compete ao Juízo de Vara da Fazenda Pública:I - processar, julgar e executar as ações, contenciosas ou não, principais, acessórias e seus incidentes, em que o Estado Federado ou o Município, respectivas autarquias, empresas públicas e fundações instituídas ou mantidas pelo poder público forem interessados na condição de autor, réu, assistente ou opoente, excetuadas as de falências e recuperação de empresas e as de acidentes do trabalho; II - processar e julgar os mandados de segurança, os habeas data, os mandados de injunção e ações populares contra autoridades estaduais e municipais, respeitada a competência originária do Tribunal de Justiça; III - conhecer e decidir as justificações destinadas a servir de prova junto ao Estado Federado ou ao Município, respectivas autarquias, empresas públicas e fundações instituídas ou mantidas pelo poder público .3. Nesse sentido é uniforme a jurisprudência deste e dos TribunaisSuperiores. 4. À unanimidade de votos, acolheu-se a preliminar de incompetência das Varas da Fazenda Pública para processar e julgar as causas em que figurarem como parte Sociedades de Economia Mista, para fins de declarar a incompetência absoluta da 5ª Vara da Fazenda Pública para processar e julgar a Ação Ordinária tombada sob o nº 001., anulando-se, em consequência, a decisão objeto do presente recurso, com fulcro no artigo 113, § 2 do Código de Processo Civil, determinando-se a remessa dos autos a uma das Varas Cíveis por Distribuição da capital, prejudicada a análise meritória do presente recurso.” (TJ-PE - AI: 192568 PE 001200901211880, Relator: Luiz Carlos Figueirêdo, Data de Julgamento: 01/12/2009, 7ª Câmara Cível, Data de Publicação: 03) Muito bem. Entendido os aspectos peculiares da Procuradoria Geral do Estado, vamos ao nosso caso! Um fato vem chamando a atenção de muitos cidadãos pernambucanos e causando certa preocupação nos membros da Procuradoria Geral do Estado, que já imaginam que a situação poderá ser judicializada: o Governador do Estado, no dia 05/07/2018, editou o Decreto X/2018 nomeando o Sr. Martiniano Santos, um grande e famoso político local, para o cargo de Presidente do Banco do Estado de Pernambuco. Ocorre que, pouco antes da nomeação, foi noticiado nos jornais locais que o Sr. Martiniano estaria respondendo a um processo de execução fiscal, movido pela União em face da sonegação de imposto de renda. Tal fato vem causando burburinho na cidade, especialmente após a nomeação do político para o cargo. Diante disso, Antonio Augusto, um cidadão pernambucano, morador da capital Recife, trabalhador e ativo politicamente, conhecido por ser engajado em causas sociais, procura um advogado para saber o que pode ser feito para evitar que a nomeação do Sr. Martiniano Santos para o cargo de Presidente do Banco do Estado se concretize. Ele quer ajuizar uma ação judicial pedindo a anulação do Decreto X/2018 editado pelo Governador do Estado, pois entende que tal ato é prejudicial a toda a sociedade pernambucana. Antônio Augusto não procura o advogado para pleitear direitos para si, mas para a sociedade como um todo. Apesar de ele ter a iniciativa e pleitear os direitos em nome próprio, o que ele é quer é o bem da sociedade e a defesa de um direito coletivo, não individual. Então, aluno, agora é com você! Deverá se colocar no papel de advogado do cidadão Antônio Augusto e elaborar a peça processual cabível referente à ação constitucional que pode ser ajuizada por seu cliente para anular o Decreto X/2018 e defender os interesses da sociedade pernambucana. Agora é com você, advogado! DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Aluno, no caso em análise, estamos diante de um ato administrativo praticado pelo Governador do Estado de Pernambuco. Para que você possa elaborar corretamente a peça processual esperada, deve relembrar um pouco o que a Constituição dispõe sobre a atividade administrativa, por isso vamos aqui rememorar os princípios constitucionais aos quais ela está subordinada, certo? O texto Constitucional arrola alguns princípios da Administração Pública, os quais servem como fundamento basilar para o desenvolvimento das atividades administrativas. Tais princípios estão insculpidos no art. 37 da CF/88, o qual dispõe que “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência” (BRASIL, 1988). Legalidade Administrativa: O Poder Público está subordinado ao princípio da legalidade, assim como todo cidadão. Entretanto, a legalidade aplicada à Administração Pública possui raciocínio contrário ao disposto no art. 5º, II da CF/88: enquanto que o particular não pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude de lei, a Administração Pública só poderá agir quando e nos limites autorizados por lei, ou seja, só pode agir quando a lei manda. Esse princípio se reveste em uma garantia de liberdade. “O princípio da legalidade, assim, opõe‐se a qualquer tipo de poder autoritário e a toda tendência de exacerbação individualista e personalista dos governantes. No Estado de Direito impera o governo das leis, não o dos homens (rule of law, not of men)” (MENDES, 2016, p. 876). Impessoalidade: Proíbe o administrador de pautar a sua atividade em interesses e opiniões pessoais. O administrador não pode fazer diferenciações que não observem critérios legais e razoáveis. As escolhas do Poder Público devem sempre ter como norte o interesse público e jamais interesses pessoais. Ademais, os atos administrativos não devem ser relacionados à pessoa do administrador, do agente político. Com base no princípio, o art. 37, §1º proíbe expressamente a publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos que contenham nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos. Moralidade: A doutrina admite que a conceituação do conteúdo jurídico do princípio da moralidade é muito ampla e de pouca precisão. “Tendo em vista que a Administração Pública deve pautar‐se pela obediência aos princípios constitucionais a ela dirigidos expressamente, mas também aos demais princípios fundamentais, tem‐se que, em sua atuação, deve ser capaz de distinguir o justo do injusto, o conveniente do inconveniente, o oportuno do inoportuno, além do legal do ilegal” (MENDES, 2016, p. 886). Portanto, o princípio da moralidade administrativa deve ser interpretado de forma aliada a outros princípios fundamentais, como o da proporcionalidade, razoabilidade, isonomia e outros. O princípio da moralidade possui intrínseca relação com a finalidade da atividade administrativa, que é sempre o bem comum, todas as vezes que a sua atuação se desviar dessa finalidade, a moralidade administrativa estará ameaçada. Por isso, não possui uma conceituação estanque, devendo ser analisado em cada caso concreto, podendo, a depender da situação fática, apresentar diferentes facetas. O reconhecimento expresso do dever da Administração Pública, em observar o princípio da moralidade, amplia significativamente o controle dos atos administrativos pelo Poder Judiciário, pois a ele incumbe, diante do caso concreto, fazer a análise da observância do princípio pela Administração, levando em conta a sua esfera de discricionariedade. O princípio da moralidade se afigura como uma limitação ao exercício do poder discricionário da Administração Pública. Do princípio da moralidade decorre, por exemplo, a Súmula vinculante 13 do STF que trata sobre o chamado “nepotismo” nos seguintes termos: “A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou ainda de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal.” (BRASIL, STF, 2008) Publicidade: Toda a atuação da Administração Pública deve ser transparente, a sociedade deve ter conhecimento não só dos atos praticados pelo Poder Público, mas também das informações armazenadas em seus bancos de dados, desde que não sejam protegidas por sigilo. A publicidade garanteo acesso da sociedade às decisões administrativas, possibilitando, portanto, a fiscalização do Poder Público. Com o avanço tecnológico, a publicidade vem ganhando novos contornos e sendo cada vez mais reforçada, um marco desse reforço foi a edição da Lei 12.527/2011, chamada “Lei da Acesso á informação”, que regulamenta, com base no art. 37, §3º, II da CF/88, em todos os entes federativos, o procedimento para o acesso à informação pelo cidadão, garantindo assim o seu direito constitucional e observando o princípio da publicidade administrativa. Permite que qualquer pessoa, física ou jurídica, formule pedido de informação aos órgãos da Administração Pública, e fixa o prazo de 20 dias para que as mesmas sejam fornecidas, desde que não estejam acobertadas por sigilo legal (art. 10 e art. 11 da Lei 12.527/2011). Eficiência: É um princípio mais moderno que foi introduzido após 10 anos de promulgada a Constituição Federal, através da EC nº 19 de 1998. Reflete a necessidade de que a atividade Administrativa busque obter resultados satisfatórios. Ou seja, não basta que a atuação administrativa esteja sob a égide da legalidade, mas que, além disso, seus agentes busquem a melhor atuação, agindo com presteza e qualidade em suas atividades. Pautado neste princípio, o art. 37, §3º, I da CF prevê a participação do usuário na administração pública direta e indireta, possibilitando-o realizar reclamações relativas à prestação dos serviços públicos em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade dos serviços, mediante regulamentação legal. O §8º do mesmo artigo, ainda sob o manto do princípio da eficiência, prevê a possibilidade de a autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e entidades da administração direta e indireta ser ampliada mediante contrato a ser firmado entre seus administradores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de desempenho para o órgão ou entidade. Assim, além dos princípios da legalidade, impessoalidade e outros anteriormente previstos, desde o final da década de 1990 a eficiência é considerada um fundamento basilar da atividade administrativa. Além dos princípios previstos expressamente no texto constitucional, mais precisamente no art. 37 que estudamos acima, a Administração Pública também se submete a outros princípios contidos em leis esparsas, os quais certamente já foram objeto de estudo durante a sua graduação na disciplina de Direito Administrativo, não é mesmo, aluno? Portanto, some ao que vimos aqui esses demais princípios, todos eles devem pautar a atuação do Pode Público em nosso país. Mas não se esqueça, todas as vezes que você vir qualquer referência a princípios constitucionais da Administração Pública, lembre-se dos princípios insculpidos no art. 37 da CF/88. Abaixo um esquema visual para você memorizar melhor, aluno: Figura 1: Princípios constitucionais Fonte: elaborada pela autora. DAS AÇÕES CONSTITUCIONAIS COMO MEIO DE CONTROLE DA ATIVIDADE ADMINISTRATIVA Vimos que a atuação do Poder Público está circunscrita a observância de alguns princípios constitucionais. Ora, e como fiscalizar a observância desses princípios na atuação administrativa? Como você já deve ter conhecimento, os atos administrativos se submetem a um controle pelo Poder Judiciário, certo? Muito bem. A Constituição, portanto, assim como dispôs sobre os princípios que devem ser observados pela Administração, também trouxe em seu texto alguns mecanismos processuais, ou ações constitucionais, por meio dos quais a sociedade pode levar ao Judiciário a apreciação de atos administrativos que considere lesivos ou abusivos. Vamos então conhecer quais são essas ações? AÇÃO POPULAR: É uma ação que pode ser proposta por qualquer cidadão para proteção de direitos que pertençam a toda a sociedade. Funciona, entre outros objetivos, como um mecanismo de fiscalização social da atividade administrativa, eis que tem como objetivo pleitear a anulação ou declaração de nulidade de atos administrativos lesivos não apenas a um interesse individual, mas a um interesse coletivo. Está prevista expressamente no art. 5º, LXXIII o qual, dispõe: “qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência” (BRASIL, 1988). Seu procedimento é regulamentado pela Lei nº 4.717/85. Tem como objeto ato ilegal lesivo ao patrimônio público ou entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural. O art. 2º, da Lei da Ação Popular determina que são nulos os atos lesivos ao patrimônio público, nos casos de: a) incompetência; b) vício de forma; c) ilegalidade do objeto; d) inexistência dos motivos; e) desvio de finalidade. Como patrimônio público (art. 1º, §1º), define: os bens e direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico. Legalidade Impessoalidade Moralidade Publicidade Eficiência Art. 37 da CF/88 Tem como finalidade, ou seja, o pedido formulado na ação é a anulação do ato ilegal lesivo e, quando houver, o ressarcimento dos danos causados por ele, por isso se traduz em uma forma de controle da atuação da administração pública pelos próprios cidadãos. O art. 11 da Lei 4.717/85 trata da condenação ao ressarcimento aduzindo que “a sentença que, julgando procedente a ação popular, decretar a invalidade do ato impugnado, condenará ao pagamento de perdas e danos os responsáveis pela sua prática e os beneficiários dele, ressalvada a ação regressiva contra os funcionários causadores de dano quando incorrerem em culpa”. Somente pode figurar no polo ativo da ação o cidadão, assim considerada qualquer pessoa física em pleno gozo de seus direitos políticos. A prova da cidadania deve ser feita através da certidão de quitação eleitoral ou do título eleitoral, que deve ser anexada na petição inicial para comprovar a legitimidade ativa, conforme dispõe o art. 1º, §3º da Lei 4.717/85. NTO DE ATENÇÃO O art. 6º da Lei da Ação Popular trata sobre a composição do polo passivo da demanda e dispõe que “A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo” (BRASIL, 1885). Logo, são três categorias de réu na ação: a pessoa jurídica, o agente e o beneficiário, todos eles deverão compor o polo passivo da ação, é um litisconsórcio passivo obrigatório, portanto. O Juízo competente para julgar a ação popular será determinado pela origem do ato impugnado. Por exemplo, se o ato administrativo foi praticado por agente de pessoa jurídica de direito público da União, será competente Justiça Federal, se for de pessoa jurídica de direito público do Estado, a competência será determinada conforme as regras da organização judiciária estadual, e assim por diante, conforme determina o art. 5º da Lei 4.171/85. A ação popular, por força do art. 7º da Lei que a regulamenta, seguirá o rito do procedimento ordinário previsto no Código de ProcessoCivil, devendo observar que a participação do membro do Ministério Público é obrigatório, por isso, na petição PONTO DE ATENÇÃO A Súmula 365 do STF determina que pessoa jurídica não pode propor ação popular! A Súmula 365 do STF determina que pessoa jurídica não pode propor ação popular. PONTO DE ATENÇÃO A ação popular é sempre proposta no primeiro grau, não tem ação popular de competência originária do Tribunal. inicial, além de o autor requerer a citação dos réus, deverá requerer também a intimação do Ministério Público que atuará como fiscal da lei. Há a possibilidade, conforme o art. 5º, §4º da Lei, de requerer a suspensão do ato lesivo em sede liminar. AÇÃO CIVIL PÚBLICA: Assim como a ação popular, também é um meio de controle da Administração Pública à disposição da sociedade, porém possui um rol de legitimados ativos diferentes. Está prevista no art. 129, III da Constituição Federal, que a insere no rol de funções institucionais do Ministério Público: “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: II - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos” (BRASIL, 1988). É regulamentada pela Lei nº 7.347/85. Tem como objeto ato lesivo que cause danos morais e patrimoniais ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico, à ordem urbanística, à honra e a dignidade de grupos raciais étnicos ou religiosos, ao patrimônio público e social, ou a qualquer outro interesse difuso e coletivo. As pretensões que envolvem tributos, contribuições previdenciárias, FGTS ou outros fundos institucionais com beneficiários individualmente determinados, não podem ser objeto da ACP (art.1º da Lei 7.347/85). Tem como finalidade a responsabilização pelos danos morais e patrimoniais causados através do ato lesivo, a qual pode ser através de condenação em dinheiro ou em obrigação de fazer ou não fazer, esse é o pedido formulado na Ação Civil Pública (art. 3º da Lei 7.347/85). Os legitimados para propor a ação civil pública, de acordo com o art. 5º da Lei da ACP, são: o Ministério Público; a Defensoria Pública; a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; a associação que, concomitantemente: a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. O Ministério Público, quando não for parte na ação, deverá obrigatoriamente atuar como fiscal da lei. Por isso, quando a ação for de autoria de qualquer outro legitimado, deverá requerer a notificação do Ministério Público. A ACP pode ser proposta contra qualquer pessoa que cometa ato lesivo, nos termos do art.1º da Lei. A competência para julgar a Ação Civil Pública, de acordo com a previsão do art.2º da Lei, será do foro onde ocorreu, ou deverá ocorrer, o dano. PONTO DE ATENÇÃO Assim como na ação popular, não há foro privilegiado na Ação Civil Pública. Deverá ser ajuizada sempre no Juízo de primeiro grau. A ação civil pública seguirá, naquilo que não for conflitante com a sua lei específica, as regras do CPC, conforme determina o art. 19 da Lei 7.347/85. O art. 4o da lei da ACP dispõe “poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta Lei, objetivando, inclusive, evitar dano ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos, à ordem urbanística ou aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico” (BRASIL, 1985). Ou seja, a Ação Civil Pública poderá ser ajuizada para evitar o dano iminente de forma preventiva. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO: O mandado de segurança coletivo é uma ação constitucional colocada à disposição da sociedade, a qual visa combater ato ilegal ou abusivo cometido por autoridade pública. Está previsto no art. 5º, LXX da Constituição Federal, que dispõe: “o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido político com representação no Congresso Nacional; b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano em defesa dos interesses de seus membros ou associados” (BRASIL, 1988). Regulamentado pela Lei nº 12.016/09. De acordo com a previsão constitucional e com o art. 21 da Lei que o regulamenta, o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial. Tem por objeto, assim como o mandado de segurança individual, ato ilegal ou abusivo que viole direito líquido e certo, porém no mandado de segurança coletivo esse direito é transindividual, não diz respeito a uma única pessoa, mas a uma coletividade. O art. 21, parágrafo único da lei 12.016/09 determina que os PONTO DE ATENÇÃO A exigência de que esteja constituído por pelo menos 1 (um) ano se aplica somente às associações. De acordo com a jurisprudência do STF, tal requisito não é exigido para a legitimidade dos Sindicatos. direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo podem ser: I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica; II - individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos associados ou membros do impetrante. Tem por finalidade evitar a violação de direito líquido e certo transindividual. Por direito líquido e certo se entende aquele que não precisa de uma dilação probatória, ou seja, o direito é evidente e demonstrado por prova pré-constituída não precisando da fase de instrução processual para a sua constatação. É impetrado contra a autoridade que comete o ato ilegal ou abusivo, chamado tecnicamente de autoridade coatora, conforme dispõe o art.1º, §1º da Lei 12.016/2009. De acordo com o art.6º da Lei, na petição inicial do Mandado de segurança deve-se indicar, além da autoridade coatora a pessoa jurídica que ela integra, à qual se acha vinculada ou da qual exerce atribuições. Deve ser proposto no prazo de 120 (cento e vinte) dias, contados a partir da data que o impetrante tomou conhecimento do ato impugnado. O Juízo competente para julgar o mandado de segurança coletivo é definido pela categoria e sede federal da autoridade coatora. Pronto, querido aluno! Você já relembrou os pontos essenciais do conteúdo para realizar um excelente trabalho. Vamos à prática? Afinal, esse é o objetivo do nosso NPJ! Fique atentoàs instruções que lhe daremos a seguir, elas lhe ajudarão a descobrir qual a peça processual que o examinador espera de você neste caso! PONTO DE ATENÇÃO Quando o ato impugnado no mandado de segurança tiver sido cometido pelo Presidente da República, pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, Tribunal de Contas da União, pelo Tribunal de Contas da União, pelo Procurador Geral da República ou pelo Supremo Tribunal Federal, de acordo com o art. 102, I, ‘d’ da CF/88, a competência para o julgamento será originária do STF. Pronto para começar a praticar? Fique tranquilo aluno, conteúdo você tem de sobra. Agora só precisamos organizá-lo para começar a produzir, ok? Você já sabe que deve desempenhar o papel do advogado do Sr. Antonio Augusto, autor da ação que você deverá elaborar. O primeiro passo para identificar qual a peça processual correta é analisar qual ação o seu cliente pode propor para atingir a finalidade que pretende: anular o Decreto X. Quanto aos requisites formais da sua petição, você precisa, antes de tudo, verificar se há alguma lei específica que regulamenta e se ela prevê questões específicas, além das regras gerais previstas no Código de Processo Civil, ok? Bem, aluno, como você sabe, a sua petição deve iniciar pelo endereçamento, o qual deve ser para a Vara do foro competente para o seu julgamento. Neste caso, você deve se perguntar onde a ação será ajuizada por você? A competência é de uma Vara especializada ou de Vara comum? O CPC exige que você faça a qualificação das partes, assim, quem é o autor da ação que você está elaborando? Contra quem a ação será proposta, apenas contra uma pessoa ou a lei exige litisconsórcio? Observe bem essas questões e procure fazer um tópico preliminar para deixar claro para o juiz que você observou os requisitos legais, para que sua petição não seja considerada inepta. Toda petição deve conter de forma clara e expressa os fatos e fundamentos legais, o valor atribuído a ela e deve ser datada e assinada ao final. Esses são os requisitos da petição inicial elencados no art. 319 do CPC, certo? Mas não se esqueça, existem ações que são regulamentadas por leis específicas e, por vezes, poderão ter outros requisitos além desses.
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