Buscar

Material de apoio Código de Defesa do Consumidor (Prof. Veridiana Rehbein)

Prévia do material em texto

Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
2 
 
SUMÁRIO 
1. SUJEITOS E OBJETOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO.............................................................. 3 
2. DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR: REVISÃO CONTRATUAL E INVERSÃO DO ÔNUS DA 
PROVA ......................................................................................................................................... 16 
3. RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO: POR VÍCIO E POR FATO ......... 21 
4. DA DECADÊNCIA E DA PRESCRIÇÃO .................................................................................. 35 
5. DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA ................................................... 40 
6. DAS PRÁTICAS COMERCIAIS .............................................................................................. 41 
7. DA PROTEÇÃO CONTRATUAL ............................................................................................ 52 
8. DA DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUÍZO .......................................................................... 62 
9. A TUTELA PROVISÓRIA NAS RELAÇÕES DE CONSUMO ..................................................... 65 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
3 
 
1. SUJEITOS E OBJETOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO 
 
Segundo Claudia Lima Marques, o direito privado brasileiro divide-se em 
um direito geral, o direito civil, e dois direitos especiais, o direito comercial ou 
empresarial, voltado para as relações entre empresas; e o direito do 
consumidor, voltado para a proteção da parte mais frágil. Compreender as 
diferenças e saber identificar quando uma relação é de consumo é primordial 
para o estudo do Direito do Consumidor e para o êxito no Exame de Ordem. 
Especialmente para a elaboração da peça processual, é imprescindível a 
identificação inicial do direito a ser aplicado: consumidor ou civil. 
 
Assim, o grande desafio do intérprete e aplicador do CDC, como 
Código que regula uma relação jurídica entre privados, é saber 
diferenciar e saber “ver” quem é comerciante, quem é civil, quem é 
consumidor, quem é fornecedor, quem faz parte da cadeia de 
produção e distribuição e quem retira o bem do mercado como 
destinatário final, quem é equiparado a este, seja porque é uma 
coletividade que intervém na relação, porque é vítima de um acidente 
de consumo ou porque foi quem criou o risco no mercado. No caso 
do CDC é este exercício, de definir quem é o sujeito ou quem são os 
sujeitos da relação contratual e extracontratual, que vai definir o 
campo de aplicação desta lei, isto é, a que relação ela se aplica. 
Como vimos, o diferente no CDC é seu campo de aplicação subjetivo 
(consumidor e fornecedor), seu campo de aplicação ratione personae, 
uma vez que materialmente ele se aplica em princípio a todas as 
relações contratuais e extracontratuais (campo de aplicação ratione 
materiare) entre consumidores e fornecedores. (BENJAMIN, 
MARQUES e BESSA, 2014, p. 95). 
 
Dessa forma, a identificação dos sujeitos de uma relação de consumo é 
extremamente importante para distinguir o tipo de relação e identificar o direito 
que deverá ser aplicado. Para identificar essa importância observe a situação 
problema do XVIII Exame de Ordem Unificado (questão 4) que tratava do caso 
de um atleta atropelado por um ônibus: a solução da questão pressupunha a 
compreensão de tratar-se de um acidente de consumo (art. 17 do CDC). 
 
 
 
 
 
 
01 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
4 
 
1.1 Conceito de consumidor 
O conceito básico de consumidor é definido no art. 2º, caput, e 
complementado pelo seu parágrafo único e pelos artigos 17 e 29. 
 
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou 
utiliza produto ou serviço como destinatário final. 
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de 
pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações 
de consumo. 
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores 
todas as vítimas do evento. 
Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos 
consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às 
práticas nele previstas. 
 
Dessa forma, sobre o conceito de consumidor, pode-se concluir que: 
 Não é definido apenas sob a ótica individual, mas também 
enquanto categoria (direito transindividual); 
 Não é apenas o contratante, mas a vítima de acidentes (onde 
não há contrato entre as partes) e de práticas abusivas (realizadas antes da 
contratação); 
 Não é apenas o que adquire, mas o que utiliza os produtos ou 
serviços; 
 Pode ser pessoa física ou jurídica; 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
5 
 
A principal característica para conceituação de consumidor é ser 
“destinatário final”. No entanto, o legislador deixou ao intérprete a tarefa de 
esclarecer o sentido da expressão. 
Para tanto, surgiram algumas teorias. Para a corrente finalista, o 
conceito de consumidor está ligado à destinação econômica dada ao produto 
ou serviço, sendo consumidor somente o destinatário final fático e 
econômico, ou seja, aquela pessoa não profissional que adquire um produto 
ou serviço para si ou sua família, que realmente encerra o ciclo do produto, 
inclusive econômico, pois não vai utilizá-lo para produzir outro produto ou para 
prestar outro serviço. Para esta corrente, se alguém adquire ou utiliza produto 
ou serviço para continuar a produzir, para fazer uso profissional, não se 
enquadraria no conceito de consumidor, pois não é destinatário final econômico 
desse bem. 
Já para os adeptos da teoria maximalista, não importa se a pessoa 
física, jurídica ou profissional adquiriu o produto ou serviço para consumo 
próprio ou com a finalidade de obter lucro. Como lembra Miragem (2013), “a 
interpretação maximalista considera consumidor o destinatário fático do 
produto ou serviço, ainda que não o seja necessariamente seu 
destinatário econômico”. 
Em meio às duas correntes, uma terceira via se desenvolveu nos 
tribunais: a interpretação finalista aprofundada ou mitigada, dando 
relevância ao fator vulnerabilidade. Nesse sentido o consumidor pode ser 
pessoa física ou jurídica, desde que seja destinatário final fático e econômico 
ou, caso faça uso profissional (seja destinatário final fático, mas não 
destinatário final econômico), que enfrente essa relação em situação de 
vulnerabilidade. 
É uma interpretação finalista mais aprofundada e madura, que deve 
ser saudada. Em casos difíceis, envolvendo pequenas empresas que 
utilizam insumos para a sua produção, mas não em sua área de 
expertise ou com uma utilização mista, principalmente na área dos 
serviços, provada a vulnerabilidade, conclui-se pela destinação final 
de consumo prevalente. Esta nova linha, em especial do STJ, tem 
utilizado, sob o critério finalista e subjetivo, expressamente a 
equiparação do art. 29 do CDC, em se tratando de pessoa jurídica 
que comprove ser vulnerável e atue fora do âmbito de sua 
especialidade, como o hotel que compra gás. Isso porque o CDC 
conhece outras definições de consumidor. O conceito-chave aqui é o 
da vulnerabilidade.(BENJAMIN, MARQUES e BESSA, 2014, p. 103). 
 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
6 
 
Hoje, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, se encontra 
consolidada no sentido de que a conceituação de consumidor deve ser 
feita mediante a utilização da teoria finalista mitigada, conforme segue: 
 
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM 
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C 
INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E COMPENSAÇÃO POR 
DANOS MORAIS. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA 
211/STJ. HARMONIA ENTRE O ACÓRDÃO RECORRIDO E A 
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. REEXAME DE FATOS E PROVAS. 
INADMISSIBILIDADE. 
1. A ausência de decisão acerca dos dispositivos legais indicados 
como violados impede o conhecimento do recurso especial. 
2. O acórdão recorrido encontra-se em consonância com a 
jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que é 
possível a aplicação mitigada da teoria finalista na relação entre 
pessoas jurídicas, para autorizar a incidência do CDC. Precedentes. 
3. O reexame de fatos e provas em recurso especial é inadmissível. 
4. Agravo interno no agravo em recurso especial não provido. 
(AgInt no AREsp 1072663 / MA, julgado em 05/12/2017). 
 
Essa vulnerabilidade, esclarece Bruno Miragem, não se restringe apenas 
a hipótese econômica, mas especialmente na fragilidade técnica quando, “por 
exemplo, pessoa jurídica que pretenda a equiparação demonstre que não era 
especialista e não conhecia as informações técnicas relativas ao produto ou 
serviço contratado, assim como que tais conhecimentos não lhe eram 
exigíveis” (MIRAGEM, 2012, p. 135). 
Importante! Observe, contudo, que a aplicação da teoria finalista de 
forma mitigada é uma exceção. Julgados mais recentes do STJ têm 
restringido bastante a sua utilização. Para a sua aplicação no exame de 
ordem o enunciado deverá deixar bem clara a vulnerabilidade. 
 
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO 
EM RECURSO ESPECIAL. CONTRATO BANCÁRIO. APLICAÇÃO 
DO CDC. TEORIA FINALISTA. RELAÇÃO DE CONSUMO NÃO 
CARACTERIZADA. ACÓRDÃO RECORRIDO CONFORME A 
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. VULNERABILIDADE. 
RECONHECIMENTO. SÚMULA N. 7/STJ. CAPITALIZAÇÃO 
MENSAL DOS JUROS. POSSIBILIDADE. PACTUAÇÃO. REEXAME 
DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS E 
INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. 
INADMISSIBILIDADE. DECISÃO MANTIDA. 
1. O posicionamento adotado no acórdão recorrido coincide 
com a orientação desta Corte Superior, a saber: "o Código de 
Defesa do 
Consumidor não se aplica no caso em que o produto ou serviço 
é contratado para implementação de atividade econômica, já que 
não estaria configurado o destinatário final da relação de 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
7 
 
consumo (teoria finalista ou subjetiva)" (AgRg no AREsp n. 
557.718/SP, Relator Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, 
julgado em 24/5/2016, DJe 10/6/2016). 
2. O recurso especial não comporta exame de questões que 
impliquem revolvimento do contexto fático-probatório dos autos e 
interpretação de cláusulas contratuais (Súmulas n. 5 e 7 do STJ). 
3. O reconhecimento da situação de vulnerabilidade, a fim de se 
Aplicar o CDC, exigiria reexame de questões fáticas. 
4. No caso concreto, o Tribunal de origem, a partir do exame dos 
elementos de prova e da interpretação das cláusulas contratuais, 
concluiu pela existência de cláusula prevendo a capitalização mensal 
dos juros. 
5. Agravo interno a que se nega provimento. 
(AgInt no AREsp 1218885 / MG, julgado em 07/06/2018) 
 
Além da aplicação da teoria finalista mitigada, com vistas à equiparação 
do profissional ou da pessoa jurídica a consumidor, os artigos 17 e 29 do CDC 
também tratam de situações de equiparação. O artigo 17 refere-se a todas as 
vítimas de fato do produto ou serviço e o artigo 29 às pessoas expostas às 
práticas comerciais. 
 
 
 
 
 
Em relação às vítimas de acidentes de consumo, foi efetuado o seguinte 
questionamento no XVII Exame de Ordem: 
 
ENUNCIADO: 
O famoso atleta José da Silva, campeão pan-americano da prova de 200 
m no atletismo, inscreveu-se para a Copa Rio de Atletismo – RJ, 2015. O 
torneio previa, como premiação aos campeões de cada modalidade, a soma de 
R$ 20.000,00. Todos os especialistas no esporte estimavam a chance de 
vitória de José superior a 80%. 
Na semana que antecedeu a competição, o atleta, domiciliado no estado 
de Minas Gerais, viajou para a cidade do Rio de Janeiro para treinamento e 
reconhecimento dos locais de prova. Na véspera do evento esportivo, José 
sofreu um grave acidente, tendo sido atropelado por um ônibus executivo da 
sociedade empresária D Ltda., com sede em São Paulo. 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
8 
 
O serviço de transporte executivo é explorado pela sociedade 
empresária D Ltda. de forma habitual, organizada profissionalmente e 
remunerada. Restou evidente que o acidente ocorreu devido à distração do 
condutor do ônibus. 
Em virtude do ocorrido, José não pôde competir no aludido torneio. O 
atleta precisou de atendimento médico-hospitalar de emergência, tendo 
realizado duas cirurgias e usado medicamentos. 
No processo de reabilitação, fez fisioterapia para recuperar a amplitude 
de movimento das pernas e dos quadris. Sobre a situação descrita, responda 
aos itens a seguir. 
A) Que legislação deve ser aplicada ao caso e como deverá responder a 
sociedade empresária D Ltda.? Quais os danos sofridos por José? (Valor: 0,85) 
B) Qual o prazo para o ajuizamento da demanda reparatória? É possível 
fixar a competência do juízo em Minas Gerais? (Valor: 0,40) 
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação 
do dispositivo legal não confere pontuação. 
 
GABARITO COMENTADO: 
A1) Trata-se de uma relação de consumo, na qual José se qualifica 
juridicamente como consumidor por equiparação, vítima de acidente de 
consumo, conforme o Art. 17 do CDC. A sociedade empresária D Ltda. 
enquadra-se na condição de fornecedora de serviços conforme o Art. 3º, § 2º, 
do CDC. Assim, deve-se aplicar o CDC e a responsabilidade civil será objetiva, 
nos termos do Art. 14 do CDC, bem como no Art.37, § 6º, da Constituição da 
República, por tratar-se de prestadora de serviço público. 
A2) Quanto aos danos suportados pelo corredor, verifica-se a ocorrência da 
perda de uma chance. Trata-se da frustração da probabilidade de obter o 
prêmio da Copa Rio de Atletismo. A situação revela que a chance se revestia 
das características jurídicas de séria e real, e, assim, deverá ser reparada. 
Além da perda da chance, deverão ser indenizados os danos morais pela 
violação da integridade física e os danos emergentes decorrentes dos 
tratamentos médicos (Art. 402 do CC). 
 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
9 
 
B) O prazo prescricional será de cinco anos, como prevê o Art. 27 do CDC. O 
regime de consumo autoriza o ajuizamento da ação no domicílio do autor, 
conforme previsto no Art. 101, I, do CDC. Portanto, José poderá optar pela 
demanda, em Minas Gerais. 
 
DISTRIBUIÇÃO DA PONTUAÇÃO 
ITEM PONTUAÇÃO 
A1) Aplica-se o CDC (0,10) e a responsabilidade civil será objetiva 
(0,10), pois José é consumidor por equiparação (0,15), conforme 
determinam o Art. 14 do CDC, ou art. 37, § 6º, da CRFB. (0,10) 
Obs.:a mera citação do dispositivo legal não confere pontuação. 
 
 
0,00 /0,10 /0,15/0,20 / 
0,25/ 0,30/0,35/0,45 
A2) Além da perda da chance (0,10), deverão ser compensados os 
danos morais pela violação da integridade física (0,10) e 
indenizados os danos emergentes decorrentes dos tratamentos 
médicos (0,10), de acordo com o Art. 402 ou Art. 949, ambos do 
CC (0,10). 
Obs.: a mera citação do dispositivo legal não confere pontuação. 
 
 
 
0,00/0,10/0,20/ 
0,30/0,40 
B1) O prazo aplicável é de cinco anos (0,10) conforme Art. 27 do 
CDC (0,10) 
Obs.: a mera citação do dispositivo legal não confere pontuação. 
 
0,00/0,10/0,20 
B2) O consumidor terá a faculdade de demanda em seu domicílio, 
no caso, Minas Gerais (0,10) conforme possibilita o Art. 101, I, do 
CDC (0,10) Obs.: a mera citação do dispositivo legal não confere 
pontuação. 
 
 
0,00/0,10/0,20 
 
Ainda em relação a equiparação a consumidor de todas as vítimas do 
evento, o STJ, no REsp 1268743-RJ, a aplicou no caso de um atropelamento 
fatal em rodovia sob concessão: 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL. RECURSO ESPECIAL. 
ATROPELAMENTO FATAL. TRAVESSIA NA FAIXA DE PEDESTRE. 
RODOVIA SOB CONCESSÃO. CONSUMIDORA POR 
EQUIPARAÇÃO. CONCESSIONÁRIA RODOVIÁRIA. 
RESPONSABILIDADE OBJETIVA EM RELAÇÃO A TERCEIROS 
USUÁRIOS E NÃO USUÁRIOS DO SERVIÇO. ART. 37, § 6°, CF. 
VIA EM MANUTENÇÃO. FALTA DE ILUMINAÇÃO E SINALIZAÇÃO 
PRECÁRIA. NEXO CAUSAL CONFIGURADO. DEFEITO NA 
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO CONFIGURADO. CULPA EXCLUSIVA 
DA VÍTIMA. INOCORRÊNCIA. INDENIZAÇÃO POR DANOS 
MATERIAIS E MORAIS DEVIDOS. (julgado fevereiro de 2014). 
 
 
 
 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
10 
 
1.2 Conceito de fornecedor 
 
Conforme já mencionado, os conceitos de consumidor e de fornecedor 
são interdependentes, pois só haverá relação de consumo com a presença dos 
dois sujeitos. 
 
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou 
privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes 
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, 
montagem, criação, construção, transformação, importação, 
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação 
de serviços. 
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. 
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, 
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, 
de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter 
trabalhista. 
 
Percebe-se que o conceito é amplo e que o legislador não criou 
requisitos relacionados à natureza jurídica ou situação fiscal e administrativa do 
fornecedor. O caput do artigo 3º esclarece que fornecedor é gênero, do qual 
são espécies aqueles que desenvolvem as atividades listadas no artigo 
(produção, montagem, importação, comercialização...). O elemento definidor do 
conceito é “desenvolver atividade”. 
Desenvolver uma atividade, conforme definições doutrinárias, está 
relacionado a habitualidade e ao profissionalismo, mas de maneira ampla e não 
limitada a uma formação profissional específica. Assim, uma concessionária de 
veículos que decide vender um computador da loja para substituí-lo por um 
mais moderno, não se transforma em fornecedora de computadores, pois essa 
não é a sua atividade. 
 Já o conceito de fornecedor de serviços, conforme o parágrafo 2º do 
art. 3º, tem outro elemento além do desenvolvimento de atividade: a 
remuneração. 
Saliente-se que o legislador optou pela expressão “remunerados” ao 
invés de “onerosos”, que são aqueles que se contrapõem aos “gratuitos”, 
assim, a remuneração indireta não afasta a incidência do Código de 
Defesa do Consumidor. Alguns serviços que são prestados sem remuneração 
direta do consumidor, mas lucrativos, ou seja, remunerados de outra forma, 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
11 
 
sofrem a incidência do Código de Defesa do Consumidor. Neste sentido a 
seguinte decisão: 
CIVIL E CONSUMIDOR. INTERNET. RELAÇÃO DE CONSUMO. 
INCIDÊNCIA DO CDC. GRATUIDADE DO SERVIÇO. 
INDIFERENÇA. PROVEDOR DE CONTEÚDO. FISCALIZAÇÃO 
PRÉVIA DO TEOR DAS INFORMAÇÕES POSTADAS NO SITE 
PELOS USUÁRIOS. DESNECESSIDADE. MENSAGEM DE 
CONTEÚDO OFENSIVO. DANO MORAL. RISCO INERENTE AO 
NEGÓCIO. INEXISTÊNCIA. CIÊNCIA DA EXISTÊNCIA DE 
CONTEÚDO ILÍCITO. RETIRADA IMEDIATA DO AR. DEVER. 
DISPONIBILIZAÇÃO DE MEIOS PARA IDENTIFICAÇÃO DE CADA 
USUÁRIO. DEVER. REGISTRO DO NÚMERO DE IP. SUFICIÊNCIA. 
1. A exploração comercial da internet sujeita as relações de consumo 
daí advindas à Lei nº 8.078/90. 
2. O fato de o serviço prestado pelo provedor de serviço de 
internet ser gratuito não desvirtua a relação de consumo, pois o 
termo mediante remuneração, contido no art. 3º, § 2º, do CDC, 
deve ser interpretado de forma ampla, de modo a incluir o ganho 
indireto do fornecedor. 
3. A fiscalização prévia, pelo provedor de conteúdo, do teor das 
informações postadas na web por cada usuário não é atividade 
intrínseca ao serviço prestado, de modo que não se pode reputar 
defeituoso, nos termos do art. 14 do CDC, o site que não examina e 
filtra os dados e imagens nele inseridos. 
4. O dano moral decorrente de mensagens com conteúdo ofensivo 
inseridas no site pelo usuário não constitui risco inerente à atividade 
dos provedores de conteúdo, de modo que não se lhes aplica a 
responsabilidade objetiva prevista no art. 927, parágrafo único, do 
CC/02. 
5. Ao ser comunicado de que determinado texto ou imagem possui 
conteúdo ilícito, deve o provedor agir de forma enérgica, retirando o 
material do ar imediatamente, sob pena de responder solidariamente 
com o autor direto do dano, em virtude da omissão praticada. 
6. Ao oferecer um serviço por meio do qual se possibilita que os 
usuários externem livremente sua opinião, deve o provedor de 
conteúdo ter o cuidado de propiciar meios para que se possa 
identificar cada um desses usuários, coibindo o anonimato e 
atribuindo a cada manifestação uma autoria certa e determinada. Sob 
a ótica da diligência média que se espera do provedor, deve este 
adotar as providências que, conforme as circunstâncias específicas 
de cada caso, estiverem ao seu alcance para a individualização dos 
usuários do site, sob pena de responsabilização subjetiva por culpa in 
omittendo. 
7. A iniciativa do provedor de conteúdo de manter em site que 
hospeda rede social virtual um canal para denúncias é louvável e 
condiz com a postura esperada na prestação desse tipo de serviço - 
de manter meios que possibilitem a identificação de cada usuário (e 
de eventuais abusos por ele praticado) - mas a mera disponibilização 
da ferramenta não é suficiente. É crucial que haja a efetiva adoção de 
providências tendentes a apurar e resolver as reclamações 
formuladas, mantendo o denunciante informado das medidas 
tomadas, sob pena de se criar apenas uma falsa sensação de 
segurança e controle. 8. Recurso especial não provido. 
(REsp 1308830 / RS, julgado em maio de 2012). 
 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
12 
 
A aplicabilidade do CDC também não é afastada somente pelo fato de o 
contrato ser disciplinado por lei específica. Neste sentido a seguinte decisão 
sobre planos de saúde: 
 
RECURSO ESPECIAL. CIVIL. PLANO DE SAÚDE. 
RESPONSABILIDADE CIVIL. DESCREDENCIAMENTO DE CLÍNICA 
MÉDICA. COMUNICAÇÃO PRÉVIA AO CONSUMIDOR. AUSÊNCIA. 
VIOLAÇÃO DO DEVER DE INFORMAÇÃO. PREJUÍZO AO 
USUÁRIO. SUSPENSÃO REPENTINA DE TRATAMENTOQUIMIOTERÁPICO. SITUAÇÃO TRAUMÁTICA E AFLITIVA. DANO 
MORAL. CONFIGURAÇÃO. 
1. Ação ordinária que busca a condenação da operadora de plano de 
saúde por danos morais, visto que deixou de comunicar previamente 
a consumidora acerca do descredenciamento da clínica médica de 
oncologia onde recebia tratamento, o que ocasionou a suspensão 
repentina da quimioterapia. 
2. Apesar de os planos e seguros privados de assistência à 
saúde serem regidos pela Lei nº 9.656/1998, as operadoras da 
área que prestam serviços remunerados à população 
enquadram-se no conceito de fornecedor, existindo, pois, relação 
de consumo, devendo ser aplicadas também, nesses tipos 
contratuais, as regras do Código de Defesa do Consumidor (CDC). 
Ambos instrumentos normativos incidem conjuntamente, 
sobretudo porque esses contratos, de longa duração, lidam com 
bens sensíveis, como a manutenção da vida. São essenciais, 
portanto, tanto na formação quanto na execução da avença, a 
boa-fé entre as partes e o cumprimento dos deveres de 
informação, de cooperação e de lealdade (arts. 6º, III, e 46 do 
CDC). 
3. O legislador, atento às inter-relações que existem entre as fontes 
do direito, incluiu, dentre os dispositivos da Lei de Planos de Saúde, 
norma específica sobre o dever da operadora de informar o 
consumidor quanto ao descredenciamento de entidades hospitalares 
(art. 17, § 1º, da Lei nº 9.656/1998). 
4. É facultada à operadora de plano de saúde substituir qualquer 
entidade hospitalar cujos serviços e produtos foram contratados, 
referenciados ou credenciados desde que o faça por outro 
equivalente e comunique, com trinta dias de antecedência, os 
consumidores e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). 
5. O termo "entidade hospitalar" inscrito no art. 17, § 1º, da Lei nº 
9.656/1998, à luz dos princípios consumeristas, deve ser entendido 
como gênero, a englobar também clínicas médicas, laboratórios, 
médicos e demais serviços conveniados. De fato, o usuário de plano 
de saúde tem o direito de ser informado acerca da modificação da 
rede conveniada (rol de credenciados), pois somente com a 
transparência poderá buscar o atendimento e o tratamento que 
melhor lhe satisfaz, segundo as possibilidades oferecidas. 
6. O descumprimento do dever de informação (descredenciamento da 
clínica médica de oncologia sem prévia comunicação) somado à 
situação traumática e aflitiva suportada pelo consumidor (interrupção 
repentina do tratamento quimioterápico com reflexos no estado de 
saúde), capaz de comprometer a sua integridade psíquica, ultrapassa 
o mero dissabor, sendo evidente o dano moral, que deverá ser 
compensado pela operadora de plano de saúde. 
7. Recurso especial não provido. (REsp 1349385 / PR) 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
13 
 
Por fim, o legislador esclareceu que serviço é a atividade fornecida no 
mercado de consumo. A expressão “mercado de consumo” traz uma ideia de 
relação mercantilizada e acaba por afastar a incidência do CDC a algumas 
relações que decorrem de políticas públicas, como financiamento estudantil 
(REsp 1526984 / SP, 2015) ou imobiliário (SFH). Em relação ao financiamento 
habitacional, os julgados mais recentes ressaltam que: “no que toca à adoção 
das normas do Código de Defesa do Consumidor, a jurisprudência do STJ 
firmou-se no sentido de serem aplicáveis aos contratos do SFH, desde que 
não vinculados ao FCVS e posteriores à entrada em vigor da Lei 8.078/90“ 
(AgRg no REsp 1216391 / RJ, 2015). 
O mesmo argumento também afasta, segundo o STJ, a aplicabilidade do 
CDC à prestação de serviços advocatícios, por força do art. 133 do CF, que 
atribuiu ao advogado um munus público, ou seja, que ao postular em nome do 
cidadão o advogado não exerce apenas uma profissão, mas uma atividade 
essencial, indispensável à administração da justiça (AgInt no AREsp 895899 / 
SP, 2016). 
A ausência de lucratividade e o sistema fechado (serviço não 
disponibilizado no mercado de consumo) também foi o fundamento de 
alteração no entendimento do STJ sobre a aplicação do CDC aos planos de 
saúde, conforme súmula 608: 
 
 
 
 
 
1.3 Objeto da relação jurídica de consumo 
Segundo o parágrafo 1º, produto é qualquer bem móvel ou imóvel, 
material ou imaterial. Dessa forma, prevendo expressamente a caracterização 
do produto também como bem imaterial, tornou a norma plenamente aplicável 
também às relações estabelecidas pela internet. O conceito de serviço, como 
dito, inclui o elemento remuneração. 
 
 
 
 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
14 
 
Ainda sobre o objeto das relações de consumo, resta avaliar a aplicação 
do CDC à prestação de serviços públicos. O legislador fez referência aos 
serviços públicos em diversos dispositivo: art. 3º, caput; 4º, VII; 6º, X e 22. 
Todavia, não são todos os serviços públicos que se subordinam às normas de 
proteção do consumidor. 
 
A distinção dos serviços a que se aplica o regime do CDC e aqueles 
que se subordinam exclusivamente ao regime de direito 
administrativo é realizada, em nosso direito, por Adalberto 
Pasqualotto, em estudo de referência sobre o tema. Observa então, 
Pasqualotto, que a aplicação do CDC não prescinde da distinção 
entre os serviços públicos uti singuli e uti universi. Serviços públicos 
uti singuli são aqueles prestados e fruídos individualmente e, por isso, 
de uso mensurável, os quais são remunerados diretamente por quem 
deles se aproveita, em geral por intermédio de tarifa (e. g. serviços de 
energia elétrica, água). Já os serviços uti universi, prestados de modo 
difuso para toda a coletividade, não são passíveis de mensuração, 
sendo custeados por intermédio de impostos pagos pelos 
contribuintes (relação de direito tributário). (MIRAGEM, 2012, p. 150) 
 
 
 
 
Neste sentido a seguinte decisão do STJ: 
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE 
CIVIL DO ESTADO. HOSPITAL DA POLÍCIA MILITAR. ERRO 
MÉDICO. MORTE DE PACIENTE. INDENIZAÇÃO POR DANOS 
MATERIAIS E MORAIS. DENUNCIAÇÃO DA LIDE. FACULTATIVA. 
1. Os recorridos ajuizaram ação de ressarcimento por danos 
materiais e morais contra o Estado do Rio de Janeiro, em razão de 
suposto erro médico cometido no Hospital da Polícia Militar. 
2. Quando o serviço público é prestado diretamente pelo Estado 
e custeado por meio de receitas tributárias não se caracteriza 
uma relação de consumo nem se aplicam as regras do Código de 
Defesa do Consumidor. Precedentes. (REsp 1187456 / RJ, 2010). 
 
O STJ, na edição 74 do “Jurisprudência em Tese” registrou que a “a 
relação entre concessionária de serviço público e o usuário final para o 
fornecimento de serviços públicos essenciais é consumerista, sendo cabível a 
aplicação do Código de Defesa do Consumidor – CDC”. Posteriormente editou 
a súmula 601: 
 
 
 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
15 
 
Relação entre CDC e CDU: Em 26 de junho de 2017 foi publicada a Lei 
nº 13.460 que dispõe sobre participação, proteção e defesa dos direitos do 
usuário dos serviços públicos da administração pública. A referida Lei 
menciona que seu objeto são os direitos do usuário dos serviços públicos 
prestados direta ou indiretamente pela administração pública. Mais 
especificamente aos prestados pela administração pública direta e indireta da 
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (art. 1º, §1º), o que 
não afasta a aplicação do CDC e das normas regulamentadoras (§2º). 
Também determinaque a lei seja aplicada subsidiariamente aos serviços 
públicos prestados por particular. 
 
Assim, resta esclarecido que havendo relação de consumo, faz-
se aplicável o Código de Defesa do Consumidor tanto em relação 
aos serviços públicos prestados diretamente pela Administração 
Pública, quanto nos casos de serviços públicos prestados por 
concessão ou permissão, como já dispunha o art. 7º da Lei 
8.987/95. O diálogo entre estas leis é incontestável, pois ambas 
asseguram direitos aos consumidores-usuários (art.7º do CDC). Ou 
seja, a confluência dos preceitos contidos no art. 22, da Lei 8.078/90, 
no art. 7º, da Lei 8.987/95 e no art. 1º, § 2º, II, da Lei 13.460/17 
elimina quaisquer dúvidas que possam haver ou ter havido, no 
tocante à existência de um círculo protetivo dos consumidores 
quando da prestação de serviços públicos no Brasil. (REVERBEL e 
MAFFINI, 2017). 
 
Em relação aos serviços locatícios, o STJ fixou a atese segundo a qual 
“o Código de Defesa do Consumidor não é aplicável aos contratos locatícios 
regidos pela Lei n. 8.245/91 (jurisprudência em Teses, edição 53/2016). E que 
não o incide o Código de Defesa do Consumidor nas relações jurídicas 
estabelecidas entre condomínio e condôminos.” (68/2016). 
 
 
 
 
 
 
 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
16 
 
2. DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR: REVISÃO CONTRATUAL E 
INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA 
O artigo 6º dispõe sobre os direitos básicos do consumidor. Na sua 
maioria, esses direitos são regulados posteriormente em artigos específicos, 
como os direitos à proteção da vida, saúde e segurança e proteção contra a 
publicidade enganosa e abusiva; outros, contudo, são disciplinados no próprio 
artigo 6º, como o direito a modificação e revisão dos contratos e o direito à 
inversão do ônus da prova. 
 
CAPÍTULO III 
Dos Direitos Básicos do Consumidor 
 
Art. 6º São direitos básicos do consumidor: 
I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos 
provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços 
considerados perigosos ou nocivos; 
II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos 
produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a 
igualdade nas contratações; 
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e 
serviços, com especificação correta de quantidade, características, 
composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre 
os riscos que apresentem; (Redação dada pela Lei nº 12.741, de 
2012) Vigência 
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos 
comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e 
cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e 
serviços; 
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam 
prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos 
supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; 
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, 
individuais, coletivos e difusos; 
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à 
prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, 
coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e 
técnica aos necessitados; 
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a 
inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, 
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando 
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de 
experiências; 
IX - (Vetado); 
X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. 
 
2.1 Modificação e revisão das cláusulas contratuais 
O direito à revisão e/ou modificação das cláusulas contratuais decorre 
do direito ao equilíbrio contratual. Conforme Bruno Miragem (2012, p. 171), “o 
direito subjetivo do consumidor ao equilíbrio contratual constitui efeito da 
02 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
17 
 
principiologia do direito do consumidor, muito especialmente dos princípios da 
boa-fé, da vulnerabilidade e, especialmente, do próprio princípio do equilíbrio”. 
O Inciso V menciona a possibilidade de modificação das cláusulas 
contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em 
razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas. 
Assim, pode o consumidor, diante de alguma abusividade (art. 51), buscar a 
nulidade de determinada cláusula e também pode buscar a revisão e 
modificação de cláusulas que, desde a contratação, violem o equilíbrio do 
contrato. Enquanto que pelo direito civil a revisão do desequilíbrio existente 
desde a celebração do contrato só pode se dar mediante a demonstração de 
um vício de consentimento, para o direito do consumidor basta demonstrar a 
desproporção (injustiça), sem necessidade de invalidação de todo o negócio 
jurídico. Busca-se, em regra, a adequação do contrato aos limites legais. 
Já quanto à revisão por fato superveniente que torne a obrigação 
excessivamente onerosa, também há diferenças em relação a disciplina do 
Código Civil. Segundo o art. 317 do diploma civil, o fato superveniente deve ser 
imprevisível, já o CDC não faz referência à imprevisibilidade. 
 
A norma do art. 6º do CDC avança em relação ao Código Civil (arts. 
478-480 – Da resolução por onerosidade excessiva), ao não exigir 
que o fato superveniente seja imprevisível ou irresistível. Apenas 
exige a quebra da base objetiva do negócio, a quebra do seu 
equilíbrio intrínseco, a destruição da relação de equivalência entre 
prestações, o desaparecimento do fim essencial do contrato. Em 
outras palavras, o elemento autorizador da ação modificadora do 
Judiciário é o resultado objetivo da engenharia contratual, que agora 
apresenta a mencionada onerosidade excessiva para o consumidor, 
resultado de simples fato superveniente, fato que não necessita ser 
extraordinário, irresistível, fato que podia ser previsto e não foi. O 
CDC, também não exige, para promover revisão, que haja “extrema 
vantagem para a outra” parte contratual, como faz o Código Civil (art. 
478). (BENJAMIN, MARQUES e BESSA, 2014, p. 81). 
 
No XVII Exame da Ordem Unificado foi questionado sobre a 
possibilidade de um consumidor buscar a revisão de um contrato de 
financiamento de veículo com alienação fiduciária, em razão de, alguns meses 
após a realização do negócio, entender que a obrigação assumida lhe era 
excessivamente onerosa. As alternativas versavam, além da possibilidade de 
revisão de contrato, sobre a aplicabilidade do CDC aos contratos de 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
18 
 
financiamento com alienação fiduciária e sobre a necessidade de propositura 
de ação independente para exibição de documentos. 
A jurisprudência anterior à vigência do novo CPC disciplina a matéria da 
seguinte forma: 
A jurisprudência deste Tribunal Superior, inclusive firmada em recurso 
especial representativo de controvérsia, é no sentido de ser 
descabida a multa cominatória na exibição, incidental ou autônoma, 
de documento relativo a direito disponível (Súmula nº 372/STJ). 
Quando houver descumprimento injustificado da determinação 
judicial, em se tratando de ação cautelar de exibição, o 
magistrado poderá ordenar a busca e apreensão do documento 
ou, nas hipóteses de exibição incidental de documento, sendo 
disponível o direito, poderá aplicar a presunção de veracidade 
(art. 359 do CPC), a qual será relativa. (AgRg no REsp 1491088/SP).Assim, a resposta correta é que “a questão comporta aplicação do CDC, 
e a ação revisional pode ser proposta independentemente de medida cautelar 
preparatória de exibição de documentos, já que o pleito de exibição do contrato 
poderá ser formulado incidentalmente e nos próprios autos”. 
Outra questão do Exame de Ordem sobre o direito básico de revisar 
contratos: 
Analisando o artigo 6º, V, do Código de Defesa do Consumidor, que 
prescreve: “São direitos básicos do consumidor: V – a modificação 
das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações 
desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes 
que as tornem excessivamente onerosas”, assinale a alternativa 
correta. 
a) Não traduz a relativização do princípio contratual da autonomia 
da vontade das partes. 
b) Almeja, em análise sistemática, precipuamente, a resolução do 
contrato firmado entre consumidor e fornecedor. 
c) Admite a incidência da cláusula rebus sic stantibus. 
d) Exige a imprevisibilidade do fato superveniente. 
 
2.2 Inversão judicial do ônus da prova 
Ter o ônus de provar significa suportar o risco pela falta de prova de um 
fato pertinente (o risco é o resultado da ação). A inversão do ônus da prova 
pode decorrer da lei (ope legis), como na responsabilidade pelo fato do produto 
ou do serviço (arts. 12 e 14 do CDC), ou por determinação judicial (ope judicis) 
como no caso do art. 6º, VIII. A norma (no caso da inversão judicial) autoriza o 
julgador a inverter o ônus da prova em favor do consumidor em duas hipóteses: 
quando for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as 
regras ordinárias de experiência. 
 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
19 
 
Ora, na estrutura das relações de consumo, o domínio do 
conhecimento sobre o produto ou o serviço, ou ainda sobre o 
processo de produção e fornecimento dos mesmos no mercado de 
consumo é do fornecedor. Da mesma forma, não se pode 
desconhecer que a defesa judicial de interesses exige do titular da 
pretensão a disposição de recursos financeiros e técnicos para uma 
adequada demonstração da pertinência e procedência do seu 
interesse. (MIRAGEM, 2012, p. 183). 
 
Impõe-se assim a compreensão dos conceitos de hipossuficiência e 
verossimilhança. Os doutrinadores esclarecem que, apesar da semelhança, 
não se pode confundir os significados de vulnerabilidade e hipossuficiência. 
Conforme visto, todos os consumidores são presumidamente vulneráveis, nos 
termos do art. 4º. Já a hipossuficiência relaciona-se com a ausência de 
condições de provar sua pretensão. “Já a verossimilhança se estabelece a 
partir de um critério de probabilidade, segundo os argumentos trazidos ao 
conhecimento do juiz, de que uma dada situação relatada tenha se dado de 
modo igual ou bastante semelhante ao conteúdo do relato” (MIRAGEM, 2012, 
p. 187). 
A regra geral da distribuição do ônus da prova (estática) está prevista no 
art. 373 do Novo Código de Processo Civil: 
 
Art. 373. O ônus da prova incumbe: 
I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; 
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou 
extintivo do direito do autor. 
 
A inversão judicial do ônus da prova deve ocorrer preferencialmente na 
fase de saneamento do processo ou, pelo menos, assegurando-se à parte a 
quem não incumbia inicialmente o encargo, a reabertura da oportunidade para 
apresentação de provas. 
 
PROCESSUAL CIVIL. FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. 
INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. REGRA DE INSTRUÇÃO. 
EXAME ANTERIOR À PROLAÇÃO DA SENTENÇA. PRECEDENTES 
DO STJ. 1. A jurisprudência desta Corte é no sentido de que a 
inversão do ônus da prova prevista no art. 6º, VIII, do CDC, é regra 
de instrução e não regra de julgamento, sendo que a decisão que 
a determinar deve - preferencialmente - ocorrer durante o 
saneamento do processo ou - quando proferida em momento 
posterior - garantir a parte a quem incumbia esse ônus a 
oportunidade de apresentar suas provas. Precedentes: (julgado 
em 30/09/2014) 
 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
20 
 
Com a entrada em vigor do novo Código de Processo Civil, a definição 
sobre a distribuição do ônus da prova deve ocorrer em decisão de saneamento 
(Art. 357, CPC). 
Ressalte-se que a inversão do ônus da prova pode ocorrer também nas 
ações civis públicas. 
 
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. OFENSA AO ART. 535 
DO CPC. INOCORRÊNCIA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ABUSIVIDADE 
NA COMERCIALIZAÇÃO DE COMBUSTÍVEIS. INVERSÃO DO 
ÔNUS DA PROVA A FAVOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO. 
POSSIBILIDADE. TUTELA DE DIREITOS E DE SEUS TITULARES, 
E NÃO PROPRIAMENTE DAS PARTES DA AÇÃO. 1. Trata-se, na 
origem, de ação civil pública movida pelo recorrido em face da 
recorrente em que se discute abusividade na comercialização de 
combustíveis. Houve, em primeiro grau, inversão do ônus da prova a 
favor do Ministério Público, considerando a natureza consumerista da 
demanda. Esta conclusão foi mantida no agravo de instrumento 
interposto no Tribunal de Justiça. 2. Nas razões recursais, sustenta a 
recorrente ter havido violação aos arts. 535 do Código de Processo 
Civil (CPC), ao argumento de que o acórdão recorrido é omisso, e 6º, 
inc. VIII, do Código de Defesa do Consumidor (CDC), pois o 
Ministério Público não é hipossuficiente a fim de que lhe se permita a 
inversão do ônus da prova. Quanto a este último ponto, aduz, ainda, 
haver dissídio jurisprudencial a ser sanado. 3. Em primeiro lugar, é de 
se destacar que os órgãos julgadores não estão obrigados a 
examinar todas as teses levantadas pelo jurisdicionado durante um 
processo judicial, bastando que as decisões proferidas estejam 
devida e coerentemente fundamentadas, em obediência ao que 
determina o art. 93, inc. IX, da Constituição da República vigente. Isto 
não caracteriza ofensa ao art. 535 do CPC. Precedentes. 4. Em 
segundo lugar, pacífico nesta Corte Superior o entendimento 
segundo o qual o Ministério Público, no âmbito de ação 
consumerista, faz jus à inversão do ônus da prova, a considerar 
que o mecanismo previsto no art. 6º, inc. VIII, do CDC busca 
concretizar a melhor tutela processual possível dos direitos 
difusos, coletivos ou individuais homogêneos e de seus titulares 
- na espécie, os consumidores -, independentemente daqueles 
que figurem como autores ou réus na ação. Precedentes. 5. 
Recurso especial não provido. (STJ, REsp 125.3672/RS) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
21 
 
3. RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO: POR 
VÍCIO E POR FATO 
 
A responsabilidade civil é uma das áreas do direito que melhor reflete as 
transformações sociais, políticas e econômicas do último século. Considerando 
que vivenciamos um modelo econômico fundamentado no acesso crescente 
aos bens de consumo, não surpreende a afirmação de que a responsabilidade 
civil decorrente das relações de consumo assumiu extrema importância na 
sociedade contemporânea. 
Inicialmente fundamentada na teoria da culpa, a responsabilidade civil 
hoje volta seus olhos para a vítima. O Direito preocupa-se com o dano sofrido 
pela vítima: o resultado ou objeto. 
 
 
 
 
O Ministro Herman Benjamin, com muita perspicácia, elaborou uma 
teoria que define com precisão os fundamentos da responsabilidade civil nas 
relações de consumo: a teoria da qualidade. Segundo o Ministro, o Código de 
Defesa do Consumidor, ao dividir odever de responder em duas órbitas 
distintas, inseriu nas relações de consumo o inafastável dever de qualidade dos 
produtos e serviços oferecidos no mercado. 
 
No direito do consumidor é possível enxergar duas órbitas distintas – 
embora não absolutamente excludentes – de preocupações. 
A primeira centraliza suas atenções na garantia da incolumidade 
físico-psíquica do consumidor, protegendo sua saúde e 
segurança, ou seja, preservando sua vida e integridade contra os 
acidentes de consumo provocados pelos riscos de produtos e 
serviços. Esta órbita, pela natureza do bem jurídico tutelado, ganha 
destaque em relação a segunda. 
A segunda esfera de inquietação, diversamente, busca regrar a 
incolumidade econômica do consumidor em face dos incidentes (e 
não acidentes!) de consumo capazes de atingir seu patrimônio. Não 
obstante em termos éticos a proteção da incolumidade físico-psíquica 
do consumidor seja prioritária, são os ataques a sua incolumidade 
econômica que mais aparecem no seu relacionamento com o 
fornecedor. 
Em outras palavras: enquanto a primeira órbita afeta o corpo do 
consumidor, a outra atinge seu bolso. Todavia, mesmo quando a 
atividade do fornecedor provoca danos a incolumidade físico-psíquica 
do consumidor, reflexamente está atingindo igualmente sua 
03 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
22 
 
incolumidade econômica, ocasionado diminuição de seu patrimônio. 
Portanto, na identificação do tipo de esfera – e do regime jurídico 
– atacada pela atividade do fornecedor, não deve o intérprete 
buscar um traço exclusivo e sim preponderante. (BENJAMIN, 
MARQUES e BESSA, 2007, p. 100/101) 
 
Desta forma, conclui o autor que o dever de qualidade se subdivide em 
qualidade segurança (responsabilidade pelos fatos ou acidentes) e qualidade 
adequação (responsabilidade pelos vícios). O primeiro assunto é tratado no 
CDC nos artigos 12 ao 17 e o segundo nos artigos 18 ao 24. 
 
3.1 Da responsabilidade por fato do produto ou serviço 
Tema recorrente nas provas de segunda fase de Direito Civil é a 
responsabilidade pelo fato do produto ou serviço. Também chamada de 
responsabilidade pelos acidentes de consumo (falha no dever de segurança), é 
aquela decorrente dos danos provocados por produtos ou serviços (aqueles 
que extrapolam o valor do próprio serviço ou produto). 
 
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, 
e o importador respondem, independentemente da existência de 
culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por 
defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, 
fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus 
produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas 
sobre sua utilização e riscos. 
§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que 
dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as 
circunstâncias relevantes, entre as quais: 
I - sua apresentação; 
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; 
III - a época em que foi colocado em circulação. 
§ 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de 
melhor qualidade ter sido colocado no mercado. 
§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será 
responsabilizado quando provar: 
I - que não colocou o produto no mercado; 
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito 
inexiste; 
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 
 
Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do 
artigo anterior, quando: 
I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem 
ser identificados; 
II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, 
produtor, construtor ou importador; 
III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis. 
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado 
poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, 
segundo sua participação na causação do evento danoso. 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
23 
 
 
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da 
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos 
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem 
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição 
e riscos. 
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o 
consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as 
circunstâncias relevantes, entre as quais: 
I - o modo de seu fornecimento; 
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; 
III - a época em que foi fornecido. 
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas 
técnicas. 
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando 
provar: 
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; 
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será 
apurada mediante a verificação de culpa. 
 
Art. 15. (Vetado). 
 
Art. 16. (Vetado). 
 
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores 
todas as vítimas do evento. 
 
Conforme o parágrafo 1º do artigo 12, o produto é defeituoso quando 
não oferece a segurança que dele legitimamente se espera. “O dano é 
pressuposto inafastável da responsabilidade civil. Não há que se falar em 
responsabilidade civil sem dano – o que pode qualificar-se como patrimonial ou 
moral” (BENJAMIN, MARQUES e BESSA, 2014, p. 169). Os fornecedores 
responsáveis são aqueles mencionados no artigo. O comerciante só será 
responsabilizado (por fato do produto) nas hipóteses do artigo 13. A 
responsabilidade dos fornecedores é objetiva, exceto a dos profissionais 
liberais, conforme art. 14, §4º, que determina que quanto a estes a 
responsabilização se dará mediante a verificação de culpa. 
Sobre a responsabilidade por fato do produto, a seguinte questão do 
Exame de Ordem: 
Determinado consumidor, ao mastigar uma fatia de pão com geleia, 
encontrou um elemento rígido, o que lhe causou intenso desconforto 
e a quebra parcial de um dos dentes. Em razão do fato, ingressou 
com medida judicial em face do mercado que vendeu a geleia, a fim 
de ser reparado. No curso do processo, a perícia constatou que o 
elemento encontrado era uma pequena porção de açúcar cristalizado, 
não oferecendo risco à saúde do autor. Diante desta narrativa, 
assinale a afirmativa correta. 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
24 
 
A) O fabricante e o fornecedor do serviço devem ser excluídos de 
responsabilidade, visto que o material não ofereceu qualquer risco à 
integridade física do consumidor, não merecendo reparação. 
B) O elemento rígido não característico do produto, ainda que 
não o tornasse impróprio para o consumo, violou padrões de 
segurança, já que houve dano comprovado pelo consumidor. 
C) A responsabilidade do fornecedor depende de apuração de culpa 
e, portanto, não tendo o comerciante agido de modo a causar 
voluntariamente o evento, não deve responder pelo resultado. 
D) O comerciante não deve ser condenado e sequer caberia qualquer 
medida contra o fabricante, posto que não há fato ou vício do produto, 
motivo pelo qual não deve ser responsabilizado pelo alegado defeito. 
 
Os artigos 12, 13 e 14 já foram objeto de questionamento em situações 
problemas na prova da segunda fase. Em relação à responsabilidade civil dos 
prestadores de serviço, importa ressaltar que é solidáriaentre todos os 
envolvidos na cadeia de fornecimento e que a responsabilidade dos 
profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa. 
Já em relação à responsabilidade dos fornecedores de produto (artigos 
12 e 13), o CDC imputa ao fabricante, independentemente de sua culpa, a 
responsabilidade pelo fato do produto defeituoso, e não ao fornecedor direto 
(comerciante). Segundo o artigo 13, o comerciante será igualmente 
responsável nas situações previstas em seus incisos: I - o fabricante, o 
construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados; II - o 
produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, 
construtor ou importador; III - não conservar adequadamente os produtos 
perecíveis. Os doutrinadores divergem sobre a natureza da responsabilidade 
civil do comerciante, se solidária ou subsidiária. Diz-se subsidiária nas 
situações previstas nos inciso I e II, porque a responsabilidade do comerciante 
decorre da impossibilidade de identificação do fabricante (responsável original). 
Já nas situações do inciso III (alimentos perecíveis) mostra-se mais coerente 
entender pela solidariedade: 
 
Internamente, na cadeia de produção o CDC estipula, em seu art. 13, 
parágrafo único, a responsabilidade pelo ressarcimento do dano 
novamente ligada ao defeito do produto, mas desta vez responderá 
cada fornecedor na medida de sua “participação”, isto é, se o defeito 
pode ou não ser a ele imputado subjetivamente. Assim, se o defeito 
foi na fabricação do iogurte, no tipo de micro-organismo utilizado, o 
comerciante pode até ser responsabilizado pelos danos causados à 
saúde de seus clientes e suas famílias, pois está mais próximo e se 
presume que tenha falhado na conservação do produto perecível; 
mas, se o defeito do produto foi causado pelo fabricante, terá o 
comerciante direito de regresso. Se o defeito que deu origem ao 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
25 
 
evento danoso foi causado totalmente pelo fabricante, terá direito de 
regresso integral. (MARQUES, 2016, p. 1434) 
 
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. 
DIREITO DO CONSUMIDOR. INGESTÃO DE PRODUTO 
IMPRÓPRIO PARA O CONSUMO. FATO DO PRODUTO. 
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO FABRICANTE E DO 
COMERCIANTE. REEXAME DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. 
SÚMULA Nº 7/STJ. JUROS DE MORA. TERMO INICIAL. EVENTO 
DANOSO. SÚMULA Nº 54/STJ. 
1. No que se refere à alegação da recorrente de que os danos 
suportados pelo autor da demanda seriam advindos de culpa 
exclusiva 
da vítima pelo evento danoso, rever o que decidido no recurso 
especial requer nova incursão fático-probatória, procedimento 
inviável, a teor da Súmula nº 7/STJ. 
2. Consoante a jurisprudência desta Corte, a eventual 
configuração da culpa do comerciante de produto impróprio para 
o consumo não tem o condão de afastar o direito de o 
consumidor propor ação de reparação pelos danos resultantes 
da ingestão da mercadoria estragada em desfavor do seu 
fabricante. 
3. Em caso de responsabilidade extracontratual, os juros moratórios 
fluem a partir do evento danoso (Súmula nº 54/STJ). 
4. Agravo regimental não provido. 
(AgRg no AREsp 265586 / SP, 25/09/2014). 
 
Sobre a solidariedade do art. 13, III, veja a conclusão de Antonio 
Herman Benjamin (BENJAMIN, MARQUES e BESSA, 2017): 
 
O Código, assim, traz dois tipos de solidariedade legal: uma para os 
cocausadores do dano e outra em que nem todos os coobrigados são 
causadores (diretos) do dano. É nesta última hipótese que se encaixa 
a responsabilização do fabricante, apesar do verdadeiro causador 
(direto) do prejuízo ser o comerciante que, v.g., deixou de conservar 
adequadamente o produto (art. 13, III). Para aqueles casos em que 
os coobrigados são todos cocausadores do dano, o Código tem 
norma geral, já no limiar do seu texto, que impõe o princípio da 
solidariedade ex lege. Segundo o art. 7.º, parágrafo único, “tendo 
mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela 
reparação dos danos previstos nas normas de consumo”, tratamento 
este que é repetido no art. 25, § 1.º. É interessante observar que este 
art. 7.º vai além do próprio Código, uma vez que cuida de “danos 
previstos nas normas de consumo” (grifos nossos). E, como se sabe, 
o Código não é o único repertório de normas de proteção ao 
consumidor. Há, ao seu lado, entre outras, a legislação sanitária, a de 
alimentos, a de medicamentos, todas traçando normas de consumo. 
 
Em relação às excludentes de responsabilidade civil (artigo 12, §3º e 14, 
§3) pacificou-se o entendimento de que se trata de inversão legal do ônus da 
prova. 
A Segunda Seção deste Tribunal, no julgamento do REsp 
802.832/MG, rel. Paulo de Tarso Sanseverino, DJ de 21/09/2011, 
pacificou a jurisprudência desta Corte no sentido de que em demanda 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
26 
 
que trata da responsabilidade pelo fato do produto ou serviço (arts. 12 
e 14 do CDC), a inversão do ônus da prova decorre da lei” (AgRg 
no AREsp 402.107/RJ, rel. Min. Sidnei Beneti, 3ª T., 26.11.2013, DJe 
09.12.2013). 
 
Ainda quanto à responsabilidade pelo fato do serviço (art. 14) importa 
mencionar o dever de segurança inerente a prestação de alguns serviços. Em 
relação ao furto de veículos em shopping centers, supermercados e outros 
estabelecimentos que contam com estacionamento, a jurisprudência é hoje 
pacífica no sentido da existência do dever de cuidado, de segurança, e de 
vigilância (súmula 130 do STJ). 
 
 
 
 
 
 Também objetiva é a responsabilidade civil das instituições financeiras 
por fraudes e delitos praticados por terceiros. Não cabe a alegação de caso 
fortuito pois o dever de segurança é inerente à atividade, o que configuraria 
fortuito interno. 
 
 
 
 
O entendimento de que atos fraudulentos não eximem o fornecedor de 
responsabilidade (não configura culpa exclusiva de terceiro) também é aplicado 
a outros fornecedores que não os de serviços bancários, como lojas e 
prestadoras de serviços de telefonia, por exemplo. 
Não apenas furtos em estacionamentos e fraudes geram 
responsabilidade objetiva da instituição financeira. O STJ tem decidido, 
especialmente a partir de 2013, que o banco responde objetivamente pelos 
danos sofridos por consumidores em decorrência de furtos e roubos dentro do 
estabelecimento bancário. 
 
O STJ tem reconhecido amplamente a responsabilidade 
objetiva dos bancos pelos assaltos ocorridos no interior de suas 
agências, em razão do risco inerente à atividade bancária. Além 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
27 
 
disso, já se reconheceu, também, a responsabilidade da instituição 
financeira por assalto acontecido nas dependências de 
estacionamento oferecido aos seus clientes exatamente com o 
escopo de mais segurança. Não há, contudo, como responsabilizar a 
instituição financeira na hipótese em que o assalto tenha ocorrido fora 
das dependências da agência bancária, em via pública, sem que 
tenha havido qualquer falha na segurança interna da agência 
bancária que propiciasse a atuação dos criminosos após a efetivação 
do saque, tendo em vista a inexistência de vício na prestação de 
serviços por parte da instituição financeira. Além do mais, se o ilícito 
ocorre em via pública, é do Estado, e não da instituição financeira, o 
dever de garantir a segurança dos cidadãos e de evitar a atuação dos 
criminosos. Precedente citado: REsp 402.870-SP, DJ 
14/2/2005. REsp1.284.962-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado 
em 11/12/2012. 
 
 Conforme já mencionado, o artigo 17 (vítimas dos acidentes de 
consumo são consumidores por equiparação) foi objeto de questionamento no 
XVII EO. Sobre o mesmo tema, menciona Cláudia Lima Marques (2016, p. 
1413) o interessante caso que ocorreu em Pernambuco, “em que o 
desabamento de prédio (acidente de consumo) abalou prédios vizinhos e as 
vítimas-vizinhos entraram com ações como “consumidoras”, com base no art. 
17 do CDC”. 
No XXI EO (caso em que a vítima de 13 anos sofre danos em 
decorrência do superaquecimento de TV comprada por sua mãe), o padrão de 
resposta da peça profissional estabeleceu que “quanto ao primeiro ponto, deve-
se sustentar a existência de relação de consumo entre a autora da ação, vítima 
de acidente de consumo, e a ré, fabricante do produto defeituoso que lhe 
causou dano moral e estético”. Nesse caso, a despeito de não ter participado, 
como parte, da relação contratual de compra e venda do produto, a autora é 
qualificada como consumidora, pois, nas hipóteses de responsabilidade pelo 
fato do produto, “equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento” 
(Art. 17 do CDC).” A menor também se enquadra no conceito de consumidora 
em razão de ser a usuária do produto (art. 2º). 
Ainda sobre a insegurança dos produtos, muito antes da Resolução da 
Anvisa (RDC 26/2015) o dever de informação no rótulo já era reconhecido pela 
jurisprudência: “É fundamental assegurar os direitos de informação e 
segurança ao consumidor celíaco, que está adstrito à dieta isente de glúten, 
sob pena de graves riscos à sáude, o que, em última análise, tangencia a 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
28 
 
garantia de uma vida digna (REsp 1479616/GO, rel. min. Ricardo Villas Bôas 
Cueva, 3ª T., j. 03.03.2015, DJe 16.04.2015).” 
Por fim, importa registrar a ainda polêmica reparação dos danos 
decorrentes da compra de alimentos contaminados. No informativo 
“Jurisprudência em Teses” o STJ menciona dois entendimentos divergentes em 
relação ao tema: 
2) A simples aquisição do produto considerado impróprio para o 
consumo, em virtude da presença de corpo estranho, sem que se 
tenha ingerido o seu conteúdo, não revela o sofrimento capaz de 
ensejar indenização por danos morais. (Informativo de Jurisprudência 
n. 0553, publicado em 11 de fevereiro de 2015.) 
3) A aquisição de produto de gênero alimentício contendo em seu 
interior corpo estranho, expondo o consumidor a risco concreto de 
lesão à sua saúde e segurança, ainda que não ocorra a ingestão de 
seu conteúdo, dá direito à compensação por dano moral, dada a 
ofensa ao direito fundamental à alimentação adequada, corolário do 
princípio da dignidade da pessoa humana. (Informativo de 
Jurisprudência n. 0537, publicado em 10 de abril de 2014.) 
 
Mais recentemente, conforme Informativo de Jurisprudência 616, de 
2018, “o simples "levar à boca" do alimento industrializado com corpo 
estranho gera dano moral in re ipsa, independentemente de sua 
ingestão”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
29 
 
3.2 Da responsabilidade por vício do produto ou serviço 
A responsabilidade pelos vícios dos produtos ou serviços refere-se ao 
seu adequado funcionamento e a sua adequação aos fins aos quais se 
destinam. 
 
Nada mais natural e justo que os produtos e serviços oferecidos no 
mercado de consumo tenham qualidade, atendam à sua finalidade 
própria e, consequentemente, às necessidades e expectativas dos 
consumidores. O Código de Defesa do Consumidor determina que, 
independentemente da garantia oferecida pelo fornecedor (garantia 
de fábrica), os produtos e serviços devem ser adequados aos fins a 
que se destinam, ou seja, devem funcionar bem, atender às legítimas 
expectativas do consumidor (BENJAMIN, MARQUES e BESSA, 2014, 
p. 199). 
 
O caput do artigo esclarece a existência de quatro modalidades de 
vícios: a) aqueles que tornam o produto impróprio ao consumo; b) aqueles que 
tornam o produto inadequado ao consumo; c) aqueles que lhe diminuam o 
valor e d) aqueles em desconformidade com o que foi informado sobre eles. 
 
Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não 
duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou 
quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a 
que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles 
decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do 
recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, 
respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o 
consumidor exigir a substituição das partes viciadas. 
§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode 
o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: 
I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em 
perfeitas condições de uso; 
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente 
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; 
III - o abatimento proporcional do preço. 
§ 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do 
prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete 
nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a 
cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio 
de manifestação expressa do consumidor. 
§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° 
deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a 
substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou 
características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto 
essencial. 
§ 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1° 
deste artigo, e não sendo possível a substituição do bem, poderá 
haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, 
mediante complementação ou restituição de eventual diferença de 
preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1° deste 
artigo. 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
30 
 
§ 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável 
perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando 
identificado claramente seu produtor. 
§ 6° São impróprios ao uso e consumo: 
I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; 
II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, 
falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, 
perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas 
regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; 
III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao 
fim a que se destinam. 
 
Percebe-se, assim, que o fornecedor, em regra, tem até 30 dias para 
sanar o vício do produto. Não terá este prazo, contudo, nas hipóteses do 
parágrafo 3º do art. 18, conforme questão (EO) que segue: 
 
Dulce, cinquenta e oito anos de idade, fumante há três décadas, foi 
diagnosticada como portadora de enfisema pulmonar. Trata-se de 
uma doença pulmonar obstrutiva crônica caracterizada pela dilatação 
excessiva dos alvéolos pulmonares, que causa a perda da 
capacidade respiratória e uma consequente oxigenação insuficiente. 
Em razão do avançado estágio da doença, foi prescrito como 
essencial o tratamento de suplementação de oxigênio. Para tanto, 
Joana, filha de Dulce, adquiriu para sua mãe um aparelho respiratório 
na loja Saúdee Bem-Estar. Porém, com uma semana de uso, o 
produto parou de funcionar. Joana procurou imediatamente a loja 
para substituição do aparelho, oportunidade na qual foi informada 
pela gerente que deveria aguardar o prazo legal de trinta dias para 
conserto do produto pelo fabricante. Com base no caso narrado, em 
relação ao Código de Proteção e Defesa do Consumidor, assinale a 
afirmativa correta. 
A) Está correta a orientação da vendedora. Joana deverá aguardar o 
prazo legal de trinta dias para conserto e, caso não seja sanado o 
vício, exigir a substituição do produto, a devolução do dinheiro 
corrigido monetariamente ou o abatimento proporcional do preço. 
B) Joana não é consumidora destinatária final do produto, logo tem 
apenas direito ao conserto do produto durável no prazo de noventa 
dias, mas não à devolução da quantia paga. 
C) Joana não precisa aguardar o prazo legal de trinta dias para 
conserto, pois tem direito de exigir a substituição imediata do 
produto, em razão de sua essencialidade. 
D) Na impossibilidade de substituição do produto por outro da mesma 
espécie, Joana poderá optar por um modelo diverso, sem direito à 
restituição de eventual diferença de preço, e, se este for de valor 
maior, não será devida por Joana qualquer complementação. 
 
Assim, ao contrário do que normalmente o consumidor imagina, exceto 
nas situações do parágrafo 3º, o vício não lhe dará o direito à substituição 
imediata do produto. Conforme dispõe a parte final do caput e o parágrafo 
primeiro, o fornecedor tem o direito de sanar os vícios, substituindo as partes 
viciadas, no prazo de até 30 dias. Não sendo o vício sanado, poderá o 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
31 
 
consumidor fazer uso das alternativas do parágrafo 1º. Neste sentido, a 
seguinte questão do Exame de Ordem: 
 
Ao instalar um novo aparelho de televisão no quarto de seu filho, o 
consumidor verifica que a tecla de volume do controle remoto não 
está funcionando bem. Em contato com a loja onde adquiriu o 
produto, é encaminhado à autorizada. O que esse consumidor pode 
exigir com base na lei, nesse momento, do comerciante? 
a) A imediata substituição do produto por outro novo. 
b) O dinheiro de volta. 
c) O conserto do produto no prazo máximo de 30 dias. 
d) Um produto idêntico emprestado enquanto durar o conserto. 
 
O art. 19 trata dos vícios de quantidade. 
 
Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de 
quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações 
decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às 
indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de 
mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, 
alternativamente e à sua escolha: 
I - o abatimento proporcional do preço; 
II - complementação do peso ou medida; 
III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou 
modelo, sem os aludidos vícios; 
IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente 
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos. 
§ 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do artigo anterior. 
§ 2° O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem 
ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os 
padrões oficiais. 
 
O art. 20 trata dos vícios na prestação de serviços. Diferentemente do 
art. 18, ao fornecedor de serviços a lei não concedeu prazo para que o vício 
seja sanado. 
 
Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade 
que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, 
assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as 
indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o 
consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: 
I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível; 
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente 
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; 
III - o abatimento proporcional do preço. 
§ 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros 
devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor. 
§ 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os 
fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que 
não atendam as normas regulamentares de prestabilidade. 
 
Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a 
reparação de qualquer produto considerar-se-á implícita a obrigação 
do fornecedor de empregar componentes de reposição originais 
adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
32 
 
do fabricante, salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário 
do consumidor. 
 
Uma questão do Exame de Ordem mesclou os temas “vício na 
prestação de serviços” e “validade e forma do orçamento”. 
 
Hugo colidiu com seu veículo e necessitou de reparos na lataria e na 
pintura. Para tanto, procurou, por indicação de um amigo, os serviços 
da Oficina Mecânica M, oportunidade na qual lhe foi ofertado 
orçamento escrito, válido por15 (quinze) dias, com o valor da mão de 
obra e dos materiais a serem utilizados na realização do conserto do 
automóvel. Hugo, na certeza da boa indicação, contratou pela 
primeira vez com a Oficina. Considerando as regras do Código de 
Proteção e Defesa do Consumidor, assinale a afirmativa correta. 
A) Segundo a lei do consumidor, o orçamento tem prazo de validade 
obrigatório de 10 (dez) dias, contados do seu recebimento pelo 
consumidor Hugo. Logo, no caso, somente durante esse período a 
Oficina Mecânica M estará vinculada ao valor orçado. 
B) Uma vez aprovado o orçamento pelo consumidor, os contraentes 
estarão vinculados, sendo correto afirmar que Hugo não responderá 
por quaisquer ônus ou acréscimos no valor dos materiais orçados; 
contudo, ele poderá vir a responder pela necessidade de contratação 
de terceiros não previstos no orçamento prévio. 
C) Se o serviço de pintura contratado por Hugo apresentar vícios 
de qualidade, é correto afirmar que ele terá tríplice opção, à sua 
escolha, de exigir da oficina mecânica: a reexecução do serviço 
sem custo adicional; a devolução de eventual quantia já paga, 
corrigida monetariamente, ou o abatimento do preço de forma 
proporcional. 
D) A lei consumerista considera prática abusiva a execução de 
serviços sem a prévia elaboração de orçamento, o que pode ser feito 
por qualquer meio, oral ou escrito, exigindo se, para sua validade, o 
consentimento expresso ou tácito 
do consumidor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ainda sobre vícios, O STJ, no Informativo de Jurisprudência 544/2014, 
registrou atese de que “é cabível indenização por dano moral quando o 
 Curso preparatório 2ª Fase Civil 
 Professora Veridiana Maria Rehbein 
 
33 
 
consumidor de veículo zero-quilômetro necessita retornar à concessionária por 
diversas vezes para reparo de defeitos apresentados no veículo”. E que “A 
constatação de defeito em veículo zero-quilômetro revela hipótese de vício do 
produto e impõe a responsabilização solidária da concessionária e do 
fabricante” (505/2012). 
 
3.3 Da responsabilidade solidária 
 
Assim como no Código Civil, os coautores respondem solidariamente 
pelos danos. 
 
Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros 
decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil 
seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos 
expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como 
dos que derivem

Continue navegando