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PINTO FERREIRA :Í-?; M' Curso de Organização Social e Política Brasileira 1972 JOSÉ KONFINO editor ■ii p-vr ^iT- V f - ( - < , / m-r CURSO DE ORGANIZAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA BRASILEIRA 1 // PINTO FERREIRA Curso de Organização Social 8 Política Brasileira JOSÉ KONFINO — editor Av. Erasmo Braga, 227 — 1.® and., sede própria Caixa Postal 2.746 — ZG-00 — Enderêço telegráfico Konfino Rio de Janeiro !!-■ I l i TRABALHOS DO AUTOR 1) Novos Rumos de Direito Público. Esgotado. 1937. 2) Teoria Científica do Conhecimento. Esgotado. 1938. 8) Sociologia das Revoluções. Esgotado. 1939. 4) Ologênese Ciclo-Social. Esgotado. 1939. 5) Teoria do Espaço Social. Esgotado. 1939. 6) Wahrscheinlichkeitslogik und Soziologie. Esgotado. 1940. 7) VoN WiESE und die zeitgenoessische Bezeihungslehre. Esgotado. 1941. 2.a Edição, 1959. 8) Da Soberania. Recife. Esgotado. 1943. 9) Formação, Desenvolvimento e Fins do Estado. Esgotado. 1945. 10) PITIRIN A. SOROKIN y ei Concepto de Ia Sociologia Relacionai, México, 1945. , „ ., • i- 11) A Democracia Socialista, e os Novos Rumos do Presidencialismo Brasileiro. 1946. 12) Da Constituição. 1946. 2. Edição. 1956. 13) Democracia y Planificacion. México. 1947. 14) The Marxian Socialism. 1947. 2.^ Edição, 1968. 15) Laski e o Estado Moderno. 1948. 2.® Edição, 1956. 16) Analysis of Mind and Hipnosis. 1948. 17) The Concept of Neus. 1948. 18) Korzybski and a New Interpretation of Socialism. 19481 2. Edição, 1952. 19) Princípios Gerais de Direito Constitucional Moderno. 1948. 2.®- Edição, 2 vols. 1951. 3.® Edição, 2 vols., 1955. 4.®" Edição, 2 vols., 1962. 5.» Edição, 2 vols., 1971. 20) Emory S. Bogardus y los Nuevos Fundamentos do Ia Morfo- logia Social. México. 1949. 21) Pernambuco e seu Destino Histórico. 1950. 22) Introdução à Filosofia Científica. 1951. 231 Tradição e Progresso. 1952. oA\ Novos Rumos da Filosofia, Jurídica. 1952. 25 5 CAMÕES e a Cultura Luso-Brasileira. 1953. 26) Tobias Barreto e a Nova Escola do Recife. 2.» Edição, 1958. 27) A Democracia Socialista. 1953. 28) Tobias Barreto et Ia Sociologie Brésilienne. 1954. 29) Petite Histoire de Ia Littératiíre Brésilienne. 1954. 2.® Edição, 1960. 30) El Problema de Ia Reforma Agraria. México. 1954. / Trabalhos do Autor 31) Atualidada de Tobias Barreto, 1954. 32) Sociologia. 2 vols. 1955. 2.® Edição, 1969. 33) A Dinâmica Social e a Lei do Progresso. 1955. Traduzido para o espanhol com o título: Visión Panoramica de Ia Dinamica Social. México. 1957. 34) Filosofia da História Literária. 1955. 35) Nuevos Fundamentos de Ia Espaciologia Social. México. 1955. 36) Interpretação da Literatura Brasileira. 1957. Trabalho pre miado pela Academia Pernambucana de Letras e com o Prêmio Silvio Romero da Academia Brasileira de Letras. 37) Notas Críticas sobre a Filosofia Marxista. 1957. Traduzido para o alemão com o título: Kritische Anmerkun- gen zur Marxistischen Philosophie. 1959. Traduzido para o russo com o título: Krítikii zamietki etsnositsno filosofia marksísta. 1962. 38) Teoria Geral do Estado. 2.^ Edição. Rio de Janeiro. 1957. 2 vols. (1.^ Edição com o título: Da Soberania)^ 39) Panorama da Sociologia Brasileira. 1958. 40) Polêmicas. 1958. 41) Ás Técnicas da Democracia. 1959. 42) O Regime Eleitoral. 1959. 43) Síntese da Contribuição de Durkheim à Sociologia. 1959. Traduzido para o espanhol com o título: Síntese de Ia Contribución de Durkheim à Ia Sociologia. México. 1959. 44) Die Deutsche Einwanderung in Bresilien. 1959. 45) Concepto y Classificación de los Procesos Socíales. México. 1959. . , 46) Pequena História da Literatura Brasileira, especialmente nos séculos XIX e XX. 1959. ^ ,, .1 . 4. :;o Traduzido para o russo com o título: Karotkaia istoriia brasiliiskoi literaturi, spetsialne stoletia 19-20. 1959. 47) El Parlamentarismo. Buenos Aires. 1^60. _ 48) A Reforma Agrária. 1.^ Edição, 1960. 2. Edição, 1960. 3. Edição, 1964. 49) Las Clases Sociales. México. 1961. 50) Die Politischen Partein Brasiliens. 1961 • Po Traduzido para o espanhol com o titulo: Los líticos en Brasil y su Desenvolvimento Historico. México. 1962. 51) A Odisséia de Santa Maria, no Jornal de Literatura Estran geira. Moscou. 1961. - . 52) As Constituições Modernas da Europa e Asia. 53) As Imunidades Parlamentares. 1962. 54) O Município. 1963. . ry t ioaq 55) O Regime dos Estados na Federação Brasileira, Brasília. 19bd. 56) Do Orçamento. 1964. 4 o a 57) Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro. 1964. Edição, 1970. 58) ^^^Conãtituições dos Estados no Regime Federativo. Brasília. 59) Capitais Estrangeiros e Dívida Externa do Brasil. São Paulo. 1965. Trabalhos do Autor VII GO) A Inflação. 1965. 2.^ Edição. Rio de Janeiro. 1967. Traduzido para o espanhol com o título: La Inflación. México, 1966. 61) O Poder Executivo na República Brasileira. 1967. 62) Autonomia dos Municípios-Capitais. Recife. 1967 (mimeo). 63) A Suspensão dos Direitos Políticos e seus Efeitos (mimeo). Recife. 1968. 64) Personalidade Jurídica, Autonomia e Patrimônio da Facul dade de Direito do Recife (mimeo). Recife, 1968. 2.^ Edição, 1970. 65) As Técnicas do Parlamentarismo. 1968. 66) Um Discurso de Paraninfo. 1968. 67) A Evolução do Federalismo Brasileiro. Recife. 1969. 68) Sociologia do Desenvolvimento. Recife. 1970. 69) A Universidade no Mundo. Recife. 1971. 70) As Escalas em Ciências Sociais. Recife. 1971. 71) Neo-Colonialismo e Desnacionalização da Economia Brasileira. 1971. 72) A Idéia da Universidade e a Recente Reforma Universitária Alemã. 1971. 73) A Competência Tributária da União no Regime Constitucional Brasileiro. 1971. 74) Curso de Educação Moral e Cívica. 1972. 75) Pesquisa Social. Recife. 1972. 76) Curso de Organização Social e Política Brasileira. 1972. \ \ w PREFÁCIO \\ w W ^ n í I '?• " .1 PREFÁCIO A nova geração necessita conhecer a realidade nacional, na riqueza da sua ecologia e nxi ascensão do seu desenvolvi mento. O Brasil, nação a seu modo imperiol peUi vtsao do seu futuro, enriquecido pela ^ autenticidade do seu huma nismo, é uma grande experiência vitoriosa no mundo tro pical, criando uma civilização autônoma, onde outros países falharam. . . , - j O Brasil deve ser uma nação original, que nao deve imitar ninguém, como pais gigante e continental, a criar o seu próprio modelo de ascensão social, desenvolvimento e progresso. . . Para isso é preciso conhecer a sua organização e insti tuições sociais, a história das suas lideranças políticas, as fases diversas de sua evolução econômica como sustentáculo da vida social, os seus padrões pedagógicos, a história social das suas cidades e engenhos poéticos plantados à beira do3 rios, o humanismo da sua democracia racial equilibradora de conflitos sociais, o ritmo, do seu desenvolvimento, a beleza esplendente da sua ecologia e de sua paisagem social. ^ A ascensão do Brasil como uma superpotência mundia^ no século XXI é uma vigorosa possibilidade geopoUtica. As gerações novas devem estar atentas a êste despertar. É o fim a que se destina êste manual — de resto redi gido em forma didática — relembrando êste despertar da consciência nacional e especialmente das novas gerações para a visão do Brasil de amanhã. Recife, 16 de julho de 1970 a 1^ de fevereiro de 1971. Rua Herminia Lins, 25 Luiz Pinto Ferreira 1.» PARTE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA ORGANIZAÇÃO SOCIAL E política CAPÍTULO I FUNDAMENTOS DA ORGANIZAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA 1 A criação da cadeira de Organização Social e Política Brasileira A origem da criação da disciplina hoje intitulada Orga^ nização Social e Política Brasileira, no curso médio do nosso ensino, se prende à necessidade de transmitir no coração da juventude os conhecimentos da vida, da sociedade, da eco nomia, da cultura,em suma da realidade brasileira, a fim de transformar os jovens em cidadãos úteis à pátria. Somente o saber e a cultura tornam os países gloriosos e emancipados. O conhecimento da realidade brasileira habi lita a melhor vincular o coração e o sentimento no amor à pátria e no cálido sentimento de fraternidade e solidarie dade humanas. Antigamente se ensinava no país a disciplina chamada Instrução Moml e Cívica. Hoje se ensinam ambas as ma térias. Na França a nomenclatura é de Instrução Cívica^ nos Estados Unidos a cadeira denomina-se Oovêmo Ame ricano. j - ' u 1 , Como a educação e a base do desenvolvimento, e a ins trução é a grande arma de cabeceira da democracia, daí o empenho de ministrar as bases da organização da pátria na ^ juventude do país, para que possa amá-la. \\ 6 Curso de Organização Social e Política Brasileira Transmitindo assim seu patrimônio espiritual e cultural intacto e enriquecido às gerações do porvir. 2 — Do objeto da disciplina Organização Social e Polí tica Brasileira A disciplina Organização Social e Política Brasileira tem um conteúdo amplo. A sua finalidade é de transmitir os ensinamentos necessários para que o cidadão se comporte, ainda na miniatura da alma de criança, no respeito e no culto das instituições do país. Ela pode dividir-se em duas partes, uma parte geral e uma parte especial. A Parte Geral examina os seguintes pontos: a) a socie dade e o povo; b) a sociedade política e o Estado; c) as for mas de govêrno e os regimes políticos d) a dinâmica da sociedade política, a saber, os partidos políticos e a demo cracia; e) a ordem jurídica, as constituições, os códigos, as leis, o direito em suma. Por sua vez, a Parte Especial tem por objeto: a) o conhecimento da organização político-administra- tíva do país; b) os direitos do homem e do cidadão; c) a evo lução econômica e social da pátria brasileira; d) a compo- QiVão racial da nossa população; e) a organização da f^i- , l e do casamento; f) o valor da educação e_ da cultura Tin qociedade; g) o papel da religião na formaç^ sentimen tal e cultural do país; h) as características da população ^'^^Pqhio a Instrução Moral e Cívicay a nova disciplina nra^izooão Social e Política visa formar e consolidar o espírito público desde as novas gerações, modelando ins-l^ições da comunidade em costumes sadios e em uma solid tradição moral. , .Ê o que já dizia HORÁCIO: ''De que valem as leis sem os Costumes? Resultarão vãs". . n n I. . ( I n' n QUESTIONÁRIO ^ Organização 2 — Qual a sua finalitadè? i 3 — Qual a frase de Horáiéâo ^ leis e os costumes? Capítulo II CONCEITO DE ORGANIZAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA 1 O homem como animal social O homem é um ser destinado a conviver em sociedade. Não se pode compreender o homem isolado. Por isso ja ARISTÓTELES, sábio grego do mundo antigo, dizia com razão que o homem é tm animal social. Dizia que era um animal político, mas a sua frase é hoje entendida numa acepção ampliativa. - , Desde a sua origem, o homem vive agrupado em íami- lia. As famílias se associam em clãs, tribos, e estas em aldeias, cidades e Estados. • j j ? O que é que leva o homem a viver em socieaaüe. Dois fatores fundamentais e de relêyo: o instinto e a inteligência. O instinto de defesa, de sociabilidade, de p criação, como ainda de outro lado a compreensão de qu o esforço conjugado e a ajuda mútua sao indispensável para a. sobrevivência e o progresso, levando assim o homem à necessidade inevitável da vida social. 2 A famüta, os clãs, a tribo e o Estado A forma histórica da organização do homem é a famí lia. A família é a unidade social baseada no casamento. A família também pode ser entendida como o grupo for mado pelos pais, filhos e parentes mais próximos. As famílias articuladas por um ascendente comum for mam os clãs. Os clãs se dizem clãs totêmicos (da palavra totem), quando ligados por um ancestral comum simbólico. Mas os clãs têm a necessidade de associar-se mais am plamente em organizações, que são as tribos. Estas sao sociedades maiores, que resultam da reunião das famílias clãs, a fim de obter alimentos, defender-se do inimigo comum, tendo sempre costumes e tradições semelhantes. por fim, da associação das tribos surge o Estado. O Estado é a sociedade politicamente organizada. O Estado é o agrupamento humano, fixado sôbre um território determinado e com um comando central ou soberano. I \ ® Curso de Organização Social e Política Brasileira A palavra soberania deriva do latim superanus, e signi fica o poder mais alto de decisão na comunidade. 3 — A organizado sodaX A sociedade não pode sobreviver sem estar organizada. Para conseguir alimentos, para caçar e pescar, para defen der-se no mundo primitivo perigosamente hostil, o homem necessita estar organizado em conjunto com os seus seme lhantes. O que é assim organização social? A organização social é o conjunto de elementos ou par tes de uma entidade (Estado, família), emprêsas que se justapõem e se integram para conseguir os fins necessários da convivência humana. Entre os principais elementos da organização social de um país se mencionam: a) a maneira de agir, de pensar e de servir, os modos de vida de um povo; b) as itnstituições sociais dominantes, como o Estado, a Igreja, a família, a propriedade; c) a to talidade das crenças, costumes, tradições, folclore, existentes na sociedade; d) a totalidade dos grupos sociais (econômi cos, profissionais, culturais, religiosos, etc.) incluídos na sociedade global; e) os estatutos e a composição da socie dade classificada em partes, que se chamam de classes sociais ou camadas sociais. Há diversos tipos e modalidades de organização social, como a organização política, a organização econômica, a organização religiosa, a organização pedagógica, etc. QUESTIONÁRIO 1 — Porque o homem é um animal social? 2 — Quais os fatôres essenciais que levam o homem a asso ciar-se? 3 — Que é ai família? 4 — Como definir um clã? 5 — O que é a tribo? 6 — Como se cotiíipreende o Estado e como defini-lo? 7 _ o que se dew ratender por soberania? 8 — Qual o significado da palavra drganização e seus prin cipais tipos? * Capítulo III A SOCIEDADE E OS GRUPOS SOCIAIS ! ! 1 — A soéiedade e a classificação dos grupos A sociedade é a reunião de diverscbs pessoas Que se asso ciam para um determinado fim. Há sempre um objetivo a conseguir, como a procura do alimento, vestuário, a cons trução de casa ou habitação, a necessidade de defesa contra o perigo comum, a união conjugada para trabalhos coletivos, a realização de ideais e crenças. A sociedade é assim um fato natural, necessário e uni versal. Onde se encontra o homem, aí se encontra também a sociedade. Encontra-se também a sociedade nos animais, como a admirável organização das formigas, das abelhas, mas com base no instinto. No homem surge a razão, aparece a inteligência. Esta razão pensante, êste espirito pensante, como a mais alta floração da natureza, permite a manifestação da linguagem, da ciência, da filosofia, da religião, da moral, do progresso em suma, chamada de civilização. Procura-se às vêzes^^istinguir entre as diversas formas de convivência humana, discriminando as massas ou nvidti- dões, os grupos sociais e as comunidades. É a classificação proposta por von WIESE. Outros autores dividem os grupos sociais de acordo com os contatos sociais que se fazem entre as pessoas. COOLEY classifica os grupos sociais em: a) primários, de contatos pessoais diretos como a família, o grupo de recreio, a comunidade; b) secundários, de contato indireto, como o Estado, a Humanidade; c) mtermedidrios, do contato di reto mas não permanente: grupos profissionais, econômi cos, religiosos, partidos políticos. Ainda outros autores classificam os grupos nas seguin tes categorias: 1 — nJatura^, de base biológica, a que o in divíduo pertencepelo nascimento; 2 — mtericUmais, a que a pessoa pertence voluntàriamente, como a escola, o grupo de trabalho, a sociedade desportiva; 3 — permanentes, que são grupos estáveis, com longa vida, como a família e o Estado; 4 — temporários, como os grupos de duração pas sageira, como uma reunião dançante, uma excursão, etc. \\ 10 Curso de Organização Social e Política Brasileira 2 — A comunidade A palavra comunidade tem um significado especial. Ela pode ser entendida como um grupo social de contatos na sua maioria diretos e formados de indivíduos que habitam uma área delimitada (aldeia, vila, fazenda, engenho, etc.) A comunidade sempre se apresenta com relações de vi zinhança entre os seus membros. Embora não sendo neces- sàriamente parentes, vivem a pouca distância, se comuni cam com facilidade, têm contatos pessoais permanentes, com uma forma de convivência menos artificial e mais orgânica. A comunidade tem assim uma forma de vida espontânea e natural. Como tipos de comunidades, podemos assinalar a co munidade do Engenho Lagoa Sêca, a comunidade da Fazen- da_Santa Osita, para assinalar e representar os habitantes de tais regiões. g — Grupos sociais impo&tantes Na atualidade se destacam alguns grupos sociais ini- portantes, que devem ser relembrados. Há os grupos bioló gicos, representados pela famíUa; os grupos pedagógicos, como a escola, a vndversicUide; os grupos econômicos, como 0 sindicado-, os grupos recreativos, como os clubes de futebol e as sociedades de dança; os grupos políticos, como os par tidos, os mimicípios, o Estado; os grupos religiosos, como a Iareia; os grupos internacionais, como a Organizarão das ünidas (ONU). Em tais grupos vive necessàriãmente o homem. Êste não pode prescindir de certo número dêles, indispensável à formação da sua personalidade, da sua cultura, à defesa dos seus interêsses. QUESTIONÁRIO • I 1 — O que é uma sociedade? 2 — Como se,clasp^ficam os grupos sociais? 3 __ O que são grupos primários? 4 — O que são grupos secundários? 5 — Mencionar alguns grupos sociais de importância. 6 —- Definir o que seja uma comunidade. Capítulo IV AS RELAÇÕES SOCIAIS 1 — A mteraçãso social ! Nenhuma vida na sociedade é possível sem que as pessoas tenham relações sociais umas com as outras. A vida em sociedade é destarte formada por uma série múltipla ou uma trama de relações sociais. As relações sociais também se chamam de interações humamas, isto é, um conjunto ou uma série de ações ou reações recíprocas, mediante as quais os homens se apro ximam ou se afastam, se associam ou se desassociam mu tuamente. Os diversos modos de interação social, pelos quais os indivíduos ou os grupos sociais atuam ou se influenciam uns sobre os outros, se chamam de relações sociais ou processos sócias. A relação social é o aspecto estático do processo social. O processo social é o aspecto dinâmico da relação social. Ambos têm o mesmo significado, apenas de acordo com o ângulo de visão com que são vistos, no aspecto estático ou no aspecto dinâmico. Os processos sociais básicos são os seguintes: a) coo peração; b) oposição. Para que exista interação é preciso que haja um contato social entre as pessoas ou grupos. O contato social é o encontro direto ou indireto, per manente ou transitório, entre pessoas ou grupos sociais. Provocando seja a aproximação ou o afastamento. Os contatos sociais podem ser de duas categorias: a) priTnârios ou diretos, que se verificam face a face, em associações íntimas; h) contatos secundários ou indiretos, "caracterizados pela exterioridade e por maior distância", como a carta, telefone, telegrama, televisão, etc. 2 — Cooperação, aoowodação e assimilação Os principais processos sociais que levam os homens a se aproximarem são a cooperação, a acomodação e a assi milação. Os homens tem necessidade de uma convivência pacífica, de uma congregação e^ harmonia de esforços para a conquista dos fins sociais, e tais processos são fatos naturais que os aproximam. Curso de Organização Social e Política Brasileira A cooperação é a ação de diversas pessoas que traba lham em conjunto para a realização de um objeto comum. A acomodaçãjo é uma maneira de convivência social que faz terminar os conflitos e divergências. É um ajustamento de pessoas ou grupos até então hostis. A assimilação é uma etapa final da acomodação, quando indivíduos ou grupos, antes com profundas dissimilaridades, alteram as suas atitudes e suas concepções de vida e se identificam em seus interêsses, objetivos e pontos de vista, partilhando novas crenças e atitudes. 3 — Competição e conflito As pessoas e grupos também podem apresentar diver gências se opondo mutuamente na sociedade. É o processo básico da oposição, que assume formas mais intensas com a competição e o conflito. A competição é a forma de interação social pela qual os homens e os grupos procuram apossar-se de recursos, bens ou posições sociais e econômicas que existem em quantidade inferior aos desejos dos concorrentes. O oonflito é uma forma mais violenta de competição. É a forma consciente e deliberada de eliminação ou domi nação do adversário, eis que "cada um sabe que só pode ganhar o prêmio derrotando o outro". Fase mais aguda de um conflito é a guerra, como a luta armada entre nações. QUESTIONÁRIO . 1 — O que é interação social? 2 — Distinguir relação social e processo social. 3 — Definir os seguintes têrmos: cooperação, acomo dação, assimilação, competição e conflito. Capítulo V A ESTRUTURA SOCIAL 1 Estmtwfds sociais A estrutura social é o conjunto de relações sociais exis- tentes ; e asp^to estótico da própria organização. Com- preende^r coM^inte tôdas as rtíações sociais padroni zadas e essenciais entre as pessoas que compõem um mesmo grupo ou entre grupos da mesma seriedade A Estrutura Social Na estrutura social se processa uma diferenciação da sociedade em grupos diversos, ou se baseando em um só laço, ou em laços múltiplos, subdividindo-se os grupos em camadas ou estratos. j j 2 — O es-paço social O espaço social distingue-se naturalmente do espaço físico e do espaço geográfico, com o que não deve ser con fundido. Êle é estudado^ ^ em sociologia pela espaciologia social. O espaço físico é aquêle em que ocorrem os fenômenos geográficos ou físicos, em que não se encontra a presença do homem. Tais fenômenos físicos, como as chuvas, os relâm pagos, os trovões, as geadas, as erosões, o fluir dos rios, ocorrem no mundo do universo físico. A distância entre tais fenômenos se mede por metros, o tempo por uma contagem exata de horas, ou suas divisões, ou multiplicações. O espaço social é exatamente outro, aquêle em que decorrem ações humanas, onde a presença do ser huinano é indispensável, como nos casamentos, divórcios, aniver sários, danças, eleições, etc. A distância social se mede por outras categorias, pelos sentimentos sociais, prevenções, hierarquia, posições econô micas e sociais de podei: e prestígio. Assim, um general e um soldado podem estar próximos no espaço físico, um ao lado do outro, mas a distância social entre ambos é imensa, de poder e prestígio, isto é, a distância social é diversa da distância física. 3 — Clcusses soGWÀs A classe social é o conjunto de pessoas que se distinguem pelos traços específicos de cultura e de situação econômica. É um estrato social não-hereditário, cujos membros se reputam socialmente iguais por^ causa das semelhanças de profissão, educação, nível econômico, comportamento reli gioso, atitudes morais"e políticas, habitação em certas áreas residenciais, padrões de namôro e sexualidade, formas e tipos de consumo, pelas mesmas condições de vida e de existência. As classes sociais se dividem geralmente em três cama das: 1) a classe alta ou superior, englobando cêrca de 5% da sociedade; 2) a classe média, abrangendo aproximada-Curso de Organização Social e Política Brasileira mente 30 a 35% da sociedade; 3) a classe baixa conglo- bando 60 a 65% da sociedade. A sociedade forma assim uma espécie de pirâmide, em cujo ápice está a classe alta, a seção mediana é formada pela classe média e a base pela classe baixa. A classe alta é a burguesia abastada, a alta plutocra- cia; a classe inferior é o campesinato e o proletariado. São os seguintes os indicadores e índices distintivos da classe social: 1) nível de educação; 2) montante de renda; 3) valor locativo da casa; 4) categoria funcional. 4 — Statiis social O Statíis social é a posição que o indivíduo ocupa na sociedade ou em cada grupo a que pertence. A pessoa pode ter um status superior, quando desempe nha um papel de relêvo na sociedade, um status médio quando exerce uma posição neutra, e um status inferior, quando exerce uma posição subordinada. Um diretor de uma Faculdade, por exemplo, ocupa um status superior, já um contínuo ou servente ocupa um status inferior. A pèssoa pode ter tantas posições ou status quantos grupos a que pertencer. Pode ser um chefe de família e simultâneamente um professor e um líder político. Já o papel social representa o aspecto dinâmico do status, é na realidade o desempenho de direitos e deveres que constituem o status. 5 — Estratificação social A estratificação social é a diferenciação da sociedade em camadas hieràrquicamente superpostas. A palavra procede do latim stratus, estrato ou camada. A estratificação pode ser horizontal quando as camadas ou classes têm o mesmo valor, significado e importância so cial; pode ser vertical, quando se acham superpostas em camadas diferentes de situação, nível e importância social. Exemplo de uma estratificação horizontal: os grandes banqueiros e grandes industriais. Eimmplo de uma estratificação vertical: a burguesia e o proletariado^ , ^ A ®sl^fificação é üm fato social universal. Na velhaRoma existiam os patariaios e plebeus, na idade média os A Estrutura Social 15 senhores feudais e os vassalos, no mundo atual a burguesia e o proletariado. Cumpre ainda distinguir as três seguintes formas prin cipais de estratificação social: 1) Estratificação polUicjCf, que é a diferenciação da sociedade em governantes e gover nados; 2) Estratifióação econômica, baseada no grau de ri queza e de renda; 3) Estratificação profissional, fundamen tada na diferença das profissões e na hierarquia dos salários. São estas as principais formas de estratificação social, que assim opera naturalmente na sociedade. 6 — Mobilidade social A mobilidade social significa o movimento dos indiví duos, grupos e valôres dentro dos quadros da sociedade. A mobilidade tanto pode ser vertical como horizontal. A mobilidade horizontal é o deslocamento de uma classe, um indivíduo, um valor ou um grupo na mesma esfera ou nível social. A mobilidade vertical é o deslocamento de classes, in divíduos, valôres ou grupos para outra esfera ou nível social diferente. A mobilidade vertical pode ser ascendente ou descendente, quando o deslocamento se processa para capas ou níveis sociais superiores ou inferiores. Exemplo de mobilidade horizontal: um grande fazen deiro e criador de gado que se transforma em grande ban queiro, com o mesmo nívèl de renda. Exemplo de mobilidade vertical descendente: uma pro fessora que se transforma em servente; exemplo de mobili dade vertical ascendente: uma servente que se transforma e adquire o stalus de professôra. Diversos são os canais de ascensão social, como as uni versidade, as escolas, a igreja, o exército, os bancos, etc. QUESTIONÁRIO 1 — O que é espaço social ? 2 — Qual a diferença entre espaço social e espaço geo- gráfico ? ,. 3 — Que se entende por classe social? 4 — Como se representam as seções da pirâmide social? 5 _ Quais os principais indicadores de classes sociais? 6 — Definir status e papel social. 7 — Que se entende por estratificação social? 16 Curso de Organização Social e Política Brasileira 8 — Quais os principais tipos de estratificação social? 9 — Qual a estratificação social de sua classe? 10 — O que é mobilidade social? 11 — Como se classificam as espécies de mobilidade social? 12 — Mencionar alguns exemplos de mobilidade social. Capítulo VI A CULTURA 1 — Noção de cidtura As sociedades se apresentam com determinados carac teres e sinais distintivos nas diversas regiões da terra. Rece bem influência do ambiente, da tradição, do mundo circun- dante, sofrem a influência dos fatores raciais, são assim grupos nitidamente diferenciados; têm um estilo de vida próprio, um determinado comportamento coletivo indivi- duante. Tudo isto constitui por conseguinte a sua cultura. O que é assim a cultura? A cultura é o conjunto de bens espirituais e culturais que caracterizam os grupos humanos. A cultura é o conhecimento do grupo armazenado (na memória dos homens, nos livros, nos objetos) para uso futuro. A cultura é em^ suma o conjunto de crenças, costumes, normas, artes, hábito de alimentação, técnicas, artefatos, em suma todo o patrimônio material e espiritual da socie dade. Nenhuma sociedade vive sem a sua cultura própria, que pesa sôbre a geração dos vivos. A sua aquisição da aprendizagem e da educação é necessária, por isso a cultura é uma herança social. Divide-se geralmente a cultura em dois aspectos bási cos : a cultwra Tnxiierial e a cvltura espinrUual. A cultura material é a totalidade dos objetos, instru- menms e equix>amentos materiais (ferramentas, edifícios, as idéias S^Mina?^^' automóveis, etc.), que corporificam totaliza as idéias, crenças, senti- ™®«taiç6es, valôres, conhecimentos,ciência, mcnica, manifestações reliigiosas e artísticas de uma A Cultura 17 Ambos os aspectos da cultura se integram no conceito da cultural total, espiritual e material ao mesmo tempo. 2 — Caracteres fundamentais das culturas: transmis são, acumulação, integração, aculturação, retardamem,to, marginalidade, difusão, mudança. As culturas nascem, se desenvolvem e progridem, por vêzes se retardam e desaparecem, emprestam e difundem seus elementos a outras sociedades ou ainda destas recebem novos elementos espirituais e materiais. O primeiro característico básico da cultura é a trans missão. Toda sociedade tránsmite o seu patrimônio cultural às novas gerações. Os ensinamentos são transmitidos de geração a geração através da educação. É a herança cul tural do grupo. Segundo caracterísco da cultura é a acumulação. A nor ma básica é a de que sempre crescem a soma de conheci mentos e o patrimônio cultural e moral. Tal crescimento é cumulativo, embora não seja uniforme e contínuo. Terceiro elemento distintivo de cultura é a continvida^ de. As gerações do presente nunca perdem totalmente as suas raízes com as gerações do passado. Há laços de conti nuidade reais e duradouros entre as diversas gerações. Quarto traço característico é a integração. Mediante ela'os diversos elemeptos da cultura se harmonizam e se articulam em uma totalidade orgânica e em uma unidade. Quinta nota distintiva é o retardamento. Muitas vêzes os diversos setores da cultura não crescem de maneira uni forme, uns se atrasam em relação a outros, e daí o fenô meno do retardamento cultural. Outro traço distintivo é a acultura/Ção. O que significa a aculturação? É a modificação de uma cultura através dos contatos sociais diretos ou indiretos que ela tem com cultu ras diferentes. É de assinalar-se que pode ocorrer ainda o caso da marginalidade das culturas, através de conflitos mentais proporcionados pela posição da pessoa diante de duas cul turas diferentes, como o caso dos judeus ou de sírios vivendo em outro país que o seu de origem. Chama-se por sua vez difusão cultural a extensão de um elemento de uma^ cultura para outra, ou a propagação de elementos culturais de uma sociedade paraoutra. Por exem- 18 Curso de Organização Social e Polítíca Brasileira pio: a minissaia propagou-se da Inglaterra para o mundo ocidental. Enfim a mudança cultural é a substituição de traços, complexos elementos e instituições da cultura, provocados pela difusão ou pela invenção. Tais são em suma as principais notas distintivas da cultura. QUESTIONÁRIO 1 — Que se entende por cultura? 2 — Quais os aspectos básicos da cultura? 3 — O que é cultura espiritual? 4 — O que é cultura material? 5 — Definir: Transmissão cultural, acumulação, continui dade, integração, aculturação, retardamento, margina lidade, difusão, mudança. Capítulo VII O DESENVOLVIMENTO NACIONAL 1 — A idéia do desenvolvimento A idéia do desenvolvimento é hoje noção básica da po lítica, da sociologia e da economia. É uma palavra mágica que soa com entusiasmo na mente dos políticos e estadistas. Com ela se estimulam as energias nacionais e se acalenta a idéia do progresso. Por vêzes se usam indistintamente as noções de desen volvimento, crescimento econômico e progresso. As Constituições do Brasil de 1967 e 1969 aludem repe tidas vêzes ao desenvolvimento. O que é o desenvolvimento? O desenvolvimento significa a passagem de uma socie dade agrária, baseada na produção de produtos agrícolas, em uma sociedade^ industrial, com as mudanças sociais e de mentalidade decorrentes de tal transformação. Todas as nações atuais buscam o desenvolvimento, com a sua meta principal que é a industrialização. O papel relevante que a industrialização representa e de tal significado que inclusive se formulou a seguinte da sociologia e da economia, que é a lei de PETTY-CLARK-: São ricos os países industriais, são pobres os países agrí colas. I o Desenvolvimento Nacional 19 Geralmente se dividem as nações, conforme o seu grau de desenvolvimento, em três grupos: a) nações desenvol vidas; b) nações em desenvolvimento; c) nações subdesen volvidas. 2 — Os caracteres do desenvolvimento Há determinados caracteres distintivos que permitem diferenciar os países desenvolvidos e os países subdesen volvidos. \ \ Tais caracteres se chamam testes mi indicadores do desenvolvimento. Os testes ou indicadores são primámos e secicndÁrios. O principal indicador primário é o grau de industrialização. São em geral os seguintes caracceres dos países subde senvolvidos: a) forte mortal.dade, sobretudo a mortalidade infantil; b) vida média baixa da população, de 30 a 40 anos; c) forte fecundidade da mulher, com ausência da limitação de' filhos e visível explosão demográfica; d) alimentação insuficiente, com um número de calorias inferior a 2.500 e alimentação fraca de proteínas; e) forte proporção de analfabetos, acima de 50%; f) forte proporção de agricul tores e pescadores; g) inferioridade social da mulher e ausên cia de trabalho fora do. lar ; h) trabalho de menores a co meçar de 10 anos, ou mesmo antes; i) debilidade da classe média; j) regime autoritário com ausência das instituições democráticas; 1) insuficiente industrialização e tecnologia. Dêstes indicadores a industrialização é o elemento deci sivo, eis que a industrialização provoca a maior riqueza ou renda absoluta nacional da comunidade. 8 — A riqueza das nações: o PNB e a renda per capita A riqueza das nações se mede de um modo geral pelo seu PNB ou produto nacional bruto, isto é, tudo que uma nação produz durante um ano. Tal riqueza é hoje medida em dólares, como a moeda* de liquidez internacional. As nações mais ricas ou a,s grandes superpotências são os Kstados Unidos e a URSS, áo lado das seguintes grandes potências: Alemanha Ocidental, Reino Unido, França, Japão, China, Itália, Canadá, índia.^ Eis o PNB das dez potências mundiais, isto é, dos 10 países de maior ^vulto, em 1965, bem como a renda p^r capita, e em bilhões de dólares: 20 Curso de Organização Social e Política Brasileira PNB (1965) PNB per capita (1965) 1) Estados Unidos 692,3 3.5?7 2) UKSS 297 1.288 3) Alemanha Ocidental (inclusive Berlim Ocidental).. 112,4 1.095 4) Reino-Unido 98,5 1.804 5) França 94,1 1.924 6) Japão 84 857 7) China 60 75 8) Itália 56,8 1.101 9) Canadá 48,3 2.464 10) índia 48,3 99 É interessante ainda assinalar a posição de 19 países contendores que se colocam abaixo das grandes potências mundiais, entre êles o Brasil: - ' PNB (1965) PNB per capita (19Ô5) 11) Polônia 30,3 962 12) Alemanha Oriental 1.574 13) Brasil 23 280 14) Austrália 22,9 2.009 15) Tchecoeslováquia 22 1.554 16) México 19,4 455 17) Suécia 19,3 2.497 18) Romênia 14,4 757 19) Argentina 11 492 20) Paquistão 10,5 91 21) Indonésia 99 22) África do Sul 9,26 503 23) África do Sudoeste 9,26 503 24) Nova Zelândia 5,1 1.392 25) Colômbia .. 5 277 26) RAU .. 166 27) Nigéria ... 83 28) Tailândia ij 126 29) Israel 1.334 30) Taiuã 221 o Brasil Como Potência Latino-Âmericana 21 Na atualidade, por estranho que pareça, tende a am pliar-se a diferença de PNB e de renda per capita entre os países desenvolvidos e os países subdesenvolvidos. Êste é um dos aspectos mais graves da presente conjuntura inter nacional. A renda per capita é a renda anual de que dispõe cada habitante de uma coletividade nacional, é a sua renda anual. Como se obtém a renda pçr capitai Ela é o resultado da divisão por habitante da renda nacional. Suponhamos um país com 80 bilhões de dólares de renda nacional (PNB) e com 40.000.000 de habitantes. A sua renda per capita é a seguinte: 80.000.000.000 Renda per capita = — 2.000 40.000.000 Êste número de 2.000 dólares é a renda per capita dos países em aprêço. QUESTIONÁRIO 1 — O que significa a palavra desenvolvimento? 2 — Quais as Constituições do Brasil que falam de desen volvimento? 3 — Como se classificam as nações quanto ao grau de de senvolvimento ? 4 — Quais os principais indicadores ou testes de desenvol vimento? 5 — Que se entende por PNB? 6 — Que se entende por renda per capita? 7 — Quais as nações mais ricas do mundo em PNB? 8 — Qual o PNB do Brasil? 9 — Qual a renda per capita do Brasil? Capítulo VIII O BRASIL COMO POTÊNCIA LATINO-AMERICANA 1 A gra/ndeza do Brasil O Brasil^ de certo modo ocupa uma posição privilegiada no mundo e isto é um motivo de justo orgulho para os bra sileiros. A herança moral, espiritual e material transmi- 22 Curso de Organização Social e Política BrasUeira tida como um precioso legado pelos nossos antepassados, pelo seu trabalho, seu amor à pátria, seu sangue, deve ser entrepe intata e enriquecida às novas gerações de amanhã. A posição do Brasil no ano 2000 será possivelmente de uma po.encia mundial. O poder de uma nação deve ser med do através de determinadas variáveis chaves que per mitam aquilatar o seu grau de desenvolvimento, fôrça e piesngio mundial. É possível então projetar determinadas variaveis chaves na sociedade. _ Tais variáveis compreendem principalmente a j^opnla^ pao, o produto nacioYial bruto (PNB), a alfabctização, as fontes de energia, o poder militar. PelR sua população, que é uma das maiores do mundo, ocupa o^ Brasil uma posição de destaque. Em 1965, a sua população atingiu 82.200.000 habitantes, com uma taxa de crescimento anual de 3,1. No ano 2000 a população do Bra sil deverá atingir 212.000.000 de habitantes. O PNB do Brasil de 1965 foi de 23 bilhões de dólares, o maior da América Latina, superior ao do México (19,4 bilhões) e da Argentina (11 bilhões de dólares), devendo atingir uma média de 107 bilhões de dólares no ano 2000. A renda per capita do Brasil em 1965 era de 280 dó lares, devendo alcançar a média de 506 dólares por pessoa no ano 2000. Verifica-se por conseguinte que o Brasil é a maior po tência latino-americana em população e renda nacional ab soluta (PNB), como também o é em recursos naturais e poder militar. Isto lhe concede invejável posição para a es calada do podermundial nas próximas gerações. A juventude brasileira não deve descuidar-se do seu desempenho com entusiasmo ao progresso e crescimento ewnômico ou espiritual do País. Para assim libertar a na ção de todas as servidões, tanto da servidão econômica como da servidão da ignorância. 2 A dist/nbuição da renda A riquéza da nação brasileira, como a de tôdas as na ções, ^ acha dividida pelas classes e camadas sociais do povo Ha mna Bir^ide da renda. da renda tem sido feitapor diferentes pesquisadores. i o Brasil Como Potência Latino-Americana 23 Esta renda está assim distribuída em 1969, calculada em 350 dólares por pessoa: População Renda per Renda Total j | % da (1.000 capita (1.000.000 população habitantes) (dólares) (dólares) 50 45.000 130 5.850 40 36.000 250 12.600 9 8.100 880 7.128 1 90.000 6.500 5.850 100 350 31.428 O Estado contemporâneo, que é um Estado baseado no bei7i-estar social, que os estudiosos inglêses e norte-ame ricanos chamam de social loelfare State, procura sempre um equilíbrio mais harmônico e justo na distribuição da renda a fim de estabelecer a justiça social. QUESTIONÁRIO- 1 — Quais são as variáveis chaves que permitem aquilatar a grandeza de uma nação? 2 — Qual a posição do Brasil na América Latina? 3 — Qual o PNB do Brasil em 1965? 4 — Qual a renda per capita do Brasil em 1965? 5 — Qual a população do Brasil estimada em 1965? 6 — Que se entende por PNB? 7 — Que se entende por renda per capita? 8 — Como se obtém a renda per capita? 2.^ PARTE A SOCIEDADE POLÍTICA capítulo IX o ESTADO 1 — A pcda/vra Estado A palavra Estado é de origem italiana, surgiu na Re nascença, para designar uma comunidade política, como por exemplo o Estado de Florença. Antigamente se usavam as expressões seguintes: polü entre os gregos e república en tre os romanos. O Estado é no fundo a sociedade politicamente orga nizada. No Brasil, a palavra Estado tanto se emprega para designar o poder central, a União (o Estado brasileiro), como os podêres locais, como o Estado de Pernambuco. 2 — O conceito de Estado O Estado é sobretudo hoje em dia a sociedade ou a nação politicamente organizada. Êle é tão antigo quase como a própria humanidade. Resulte da aglomeração de famílias e tribos, na necessidade de fortalecer a unidade do grupo, de manter a ordem interna, de assegurar a defesa externa contra os inimigos comuns, de consolidar o patrimônio cultural e material da comuni dade. Como defini-lo? Curso de Organização Social e Política Brasileira O Estado é aquela sociedade em que se processa uma deferenciação entre governantes e governados, e onde os governantes detêm o monopólio de coação legal. O Estado também pode ser definido como o agrupa mento humano, fixado sôbre um território determinado e dispondo de um comando central. Êste comando central é geralmente soberano. 3 — Elementos constitutivos do Estado O Estado pode ser visto como formado de três elementos constitutivos: a) o povo; b) o território; c) o govêrno. O povo é a totalidade de pessoas que habitam uma socie dade, um determinado espaço geográfico. Distingue-se natu ralmente do eleitorado, que é o conjunto de cidadãos que dispõem do direito de voto. O território é o espaço físico e o geográfico onde habita a coletividade humana e sôbre o qual o Estado exerce o seu poder de comando. É o território sôbre o qual o Estado tem a sua soberania. i Êste território abrange ainda o subsolo, a atmosfera ou õ espaço aéreo correspondente ao território, a plataforma continental e as águas territoriais. Antigamente as águas territoriais iam até o alcance da bala de canhão. Hoje as águas territoriais do Brasil, segundo recente decisão do govêrno em 1970, alcançam até 200 milhas da costa. Êste alcance do mar territorial é admitido por 9 países latino-americanos, entre êles a Argentina, Uruguai, Peru e Equador. Com isso se visa a defesa das riquezas marítimas, a pesca, o petróleo, além da defesa do país. O outro elemento do Estado é o govêrno, com o conjunto de pessoas que dirigem o Estado. Êste govêrno exerce geral mente o poder da soberania. 4 — A soberania A palavra soberania vem do latim medieval superanus. empregada no sentido moderno por A Da Rejmblica (1576). e 1.Í" ^ decisão em última instância.Se ha var.os poderes na sociedade o do chefe de família, o do sindicato, o dos clubes fat^cU^s T naturalmente necessário que exista um poder mX eSp! que é o poder Formas ou Tipos de Estado 27 soberano ou o poder dotado de soberania, que decide os con flitos. A soberania divide-se em interna e externa ou inde pendência. A soberania é assim um poder superior aos demais podêres. QUESTIONÁRIO 1 — De onde se origina a palavra Estado? 2 — Como se define o Estado? 3 — Quais os elementos constitutivos do Estado? 4 Qual o alcance das águas ou do mar territorial? 5 — Que se entende por soberania? 6 — O que é o território do Estado? Capítulo X FORMAS OU TIPOS DE ESTADO 1 Os tipos de Estado O Estado se divide em dois grandes tipos: o Estado simples e o Estado composto^ O Estado simples é aquele que não se divide em partes internas que merecem o nome de Estado. Exemplos: a Fran ça atual é um Estado unitário ou simples constituído por 90 departamentos; o Brasil durante o Império (1822-1889) com as suas províncias descentralizadas. O Estado composto é aquêle que se divide em partes internas que merecem o nome de Estado. Entre as principais formas de Estado composto se men cionam as seguintes: a União pessoal, a União real, a União incorporada, a Confederação de Estados e o Estado federal. Só a última dessas formas, a saber o Estado federal, tem hoje importância histórica. Na União pessoal um soberano governa dois Estados enquanto vive ou durante um certo tempo. Na União real dois Estados soberanos se reúnem sob o domínio de um só soberano em caráter definitivo. Na União incorporada dois ou mais Estados se fundem, mas conservam o direito de secessão. Na Confederação de Estados, cada Estado associado conserva a sua soberania. Curso de Organização Social e Política Brasileira 2 — O Estado federal O Estado federal se originou das condições atuais de países com uma grande extensão territorial, com diversidade de interêsses regionais e nos quais se procurou unir em síntese política proveitosa a unidade nacional diante da pluralidade dos interêsses regionais. O Estado federal é aquêle tipo de Estado composLo formado com duas ordens de competências ou dois governos (o govêrno central e os governos estaduais), no qual o go- vêmo central dispõe da sobedoria e os governos estaduais dispõem de um poder limitado de organização política e constitucional. O Estado federal pode originar-se de duas maneiras: a) pelo^ tratado, quando diversos Estados soberanos renunciam à sua soberania, transferida à União que se fomia, como nos Estados Unidos em 1787; h) por um movimento nacional, quando as antigas províncias do Estado unitário se transformam em Estados membros da federação, como no Brasil em 1891. São exemplos de Estado federal hoje em dia, entre outros: os Estados Unidos, Brasil, Argentina, México, Aus trália, URSS, Canadá, índia, etc. 3 — O Federalismo Brasileiro O Brasil constitui uma repúbhca federativa desde 1891 até a presente data, com a sua última Constituição que é a de 1969. Entre os principais elementos que caracterizam o fe deralismo brasileiro se mencionam os seguintes: a) a existência da União ou do poder central dotado de soberania e com uma constituição; b) a existência dos Estados-membros da federação, dotados de autonomia cons titucional de acôrdo com os princípios da Constituição fe- deral e com autonomia política local com os seus três podêres (legislat^o, ex^çutivo, judiciário); c) a descentralização ad- ® direito de intervenção da União nosEstadc»-a fim obrigá-los a cumprir os seus ' <lWdo preciso; e) a proibição dosEstados-membros de agüêèm na esfera legislativa e admi- Mtrativa pr^^ com desrespeito, às leis como à Cons tituição Federal, /) a existência djb Supremo Tribunal 0 Povo Federal, como órgão supremo do Poder Judiciário, encar regado de velar pela defesa do regime constitucional. questionário 1 — Como se classificam os Estados? 2 — Que se entende por Estado simples? 3 — Que se entende por Estado composto? 4 Quais as principais formas do Estado composto. 5 — o que é Estado federai? , ^ 6 Mencionar os principais caracteres do Estado teaerai brasileiro. Capítulo XI O POVO 1 o sentido da palavra povo A palavra povo vem do latim poptdus. Ela é usada em vários sentidos, como multidão, massa, plebe, população, conjunto de cidadãos, nação, país. Estado. Muitas dessas significações permanecem no vocabulário atual da língua^ Podem-se atualmente distinguir as seguintes acepções da palavra povo, além daquelas há pouco mencionadas: u) a significação natural (ia palavra povo, como o conjunto de pessoas que vivem em lugar de pequena dimensão (aldeia, vila, engenho, fazenda, montanha, beira de rio), ou ainda como multidão, massa, turba ou afinal como a parte humilde, pobre e desfavorecida de uma sociedade; b) no sentido res tritamente político, contudo, o povo é a própria populaç^, o próprio elemento humano constitutivo e integrante do Estado. 2 — Povo, riação e Estado O povo é o elemento humano ou a população do Estado. Nem todo povo forma uma nação, a nação assim é um con ceito diferente de povo'.' A nação é o povo constituído por uma certa comunhão de origem, de língua, de tradições, de sentimentos comuns, com um patrimônio moral e espiritual, idêntico, entrelaçado pela amizade cívica, animado pelo ideal da grandeza e pros peridade do país. 30 Curso de Organização Social e Política IJrasileira O Estado é a nação politicamente organizada. "En quanto o Estado — diz DELOS — organiza uma ordem jurídica exterior e legal, a Nação afeta o homem no seu mais íntimo recesso e marca-o com o seu gênio nacional". A nação nem sempre coincide com o povo ou com o Estado. Há nações sem Estado, como acontece com os ciganos, e acontecia antigamente com os judeus, que só no século XX fundaram o seu Estado, o Estado de Israel. ( Há povos com várias nações, como a Iugoslávia, formada de sérvios, croatas e eslovenos, os Estados formados por múltiplas nações, como a URSS, constituída de cêrca de 40 nações. Muitas vêzes uma nação pode ser partilhada por di versos Estados, como a Polônia dividida pela Rússia, Áustria e Prússia. 3 — A Pátria Quando a nação possui durante largo tempo um terri tório próprio e goza de independência e unidade, conser vando a sua. personalidade moral através dos séculos, ela se organiza, como uma só pátria. A palavra pátria significava a princípio a terra dos antepassados {terra patrum), o território habitado por nossos antepassados. A idéia de pátria é complexa e envolve múltiplos senti mentos, a saber: a) a idéia do território comum e da soli dariedade humana entre os seus habitantes; 6) a vinculação afetiva e cívica entre os habitantes do presente e as raízes de tal sentimento projetadas no passado; c) o elemento material e humano formado pelo território e pelos habi tantes, é o Qorpo da na^; d) a stia alma, isto é, a unidade de crenças, moral, idéias, sentimentos da religião, língua, costumes, aspirações, tudo entrelaçado numa síntese orgâ nica comum. A pátria é, assim, uma verdadeira pessoa moral. 4 — O patriotismo O ® o amor à pátria, o devotamento à sua pandeza, o culto dos antepassados, o enleio telúrico pela beleza e fascínio do mundo onde se iasceu •X- ^ o amor à pátria, que significa sempre um ideai de engrandecimento comuni- 0 Poder Político 31 Mas O amor à pátria não se opõe ao amor à humanidade. "Um amor que nada admite superior à Pátria — es clarece DE HOVRE — desampara o homem e acaba por desamparar a Pátria". Daí afirmar CHESTERTON que patriotismo degenera em vício quando transformado em virtude suprema. QUESTIONÁRIO 1 — Que se entende por povo ? 2 — O que é uma nação? \ 3 — Qual a diferença entre povo e nação? 4 — Que se entende por pátria? 5 — o que significa o patriotismo? CAPÍTULO XII O PODER POLÍTICO 1 o poder politioo e a soberania O poder é a capacidade de impor a vontade própria na vida social, mesmo contra a resistência de vontades alheias. O poder é um elemento constitutivo do Estado, for mando a sua autoridade. A autoridade jiolítica é o próprio poder revestido de um conteúdo moral e legal. A autoridade política do Estado é soberana, sendo assim a soberania a autoridade suprema do Estado. Admite-se que só há Estado quando há soberania. 2 — lÁmites (ho poder do Estado A autoridade do Estado é soberana, mas a soberania não significa absolutismo. O poder do Estado é soberano, mas não é absoluto. Assim sendo o poder sofre limitações, e estas limitações são de natureza externa e natureza interna. As limitações externas à soberania provêm da própria convivência com outros países do mundo, expressas em tra tados, convenções, pactos, acordos, etc. As limitações internas ao poder do Estado são, entre outras, as seguintes: a) a constituição como lei fundamental do Estado; b) os costumes; c) os princípios de justiça e 32 Curso de Organização Social e Política Brasileira direito natural respeitando a dignidade da pessoa humana; d) os direitos do cidadão e dos demais grupos sociais; e) as leis morais, para que o Estado se apresente como um padrão de dignidade. 3 — As fontes do poder pelitioo O poder político implica na autoridade de mandar, de impor obediência e por conseguinte de ser realmente obe decido. A autoridade exerce um comando e êste deve receber respeito e obediência, o cidadão sendo obrigado a cumprir e respeitar os comandos legais. Mas é preciso encontrar uma base moral e um funda mento ético para o dever de obediência, do contrário êste tende a descumprir os preceitos do Estado, por reputá-los injustos. Por isso mesmo, os filósofos e o homem comum do povo sempre se preocuparam com as razões e os motivos da sua obediência. Os filósofos deram resposta a tais perguntas, como PLATÃO, ARISTÓTELES, MAQUIAVEL, LOCKE, ROUS- SEAU, MONTESQUIEU, HEGEL, KANT, entre inúmeros outros. Responde-se então a estas perguntas: A qu&m pertence o poder e como êle nasce? São as seguintes as respostas: a) o poder nasce de Deus e pertence a Deus, é a fórmula das teocracias; b) o poder pertence ao rei e nasce com o rei, é a fórmula da monarquia absoluta expressa por LUÍS XIV: "O Estado sou eu"; c) o poder pertence a uma classe e nasce com uma classe, é fórmula das aristocracias e das oligarquias; d) o poder pertence ao próprio Estado e nasce com o Estado, é a fór mula das ditaduras totalitárias; e) o poder nasce com o povo e pertence ao povo, é a fórmula da democracia. quistos ^ ^ po-üo corno fonte do poder político e suo^ cori- tos 1 1 ® povo é a fonte do poder políti^* A Francesa de 1789, da Revolução No^ ® Revolução Párlamentarista inglesade 1688. o Poder Político 33 O poder político repousa na vontade da maioria, do eleitorado que governa por intermédio dos seus. representan tes (presidente, governadores, Congresso Nacional, etc.). Mas a ascensão do povo para a conquista dos seus direitos foi lenta. Os reis se sentiram os únicos donos do poder, era a sob&rania do rei. Com o ciclo das grandes revoluções ocidentais (Ingla terra, Estados Unidos, França), o povo conquistou os seus principais direitos civis privados (liberdade de consciência, de religião, de expressão do pensamento, etc.) ou os seus direitos políticos (direito de voto, de representação, de for mação de partidos, etc.) y Mais tarde conseguiu o povo conquistar outrosdireitos de natureza social e econômica, como o salário-mínimo, a estabilidade, o fundo de garantia, o auxílio à gestante, o seguro social, completando a sua evolução na conquista do poder político. 5 A separação de podêres O poder político se encontra hoje em dia dividido em três grandes ramos: o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder Judiciário. É a teoria da separação de podêres que foi formulada por JOÃO LOCKE na Inglaterra e por MONTESQUIEU na França, êste último no seu livro Do Espírito das Leis, publicado em 1748. A teoria da separação rígida dos três podêres foi pela primeira vez concretizada na Constituição norte-americana de 1787. Para que se separam os podêres? Para limitá-los e contê-los, num sistema de freios e contrapesos. "Para evitar 0 despotismo" — dizia MONTESQUIEU — "é preciso que o poder detenha o poder". O Poder Legislativo é o poder que elabora, revoga, altera e emenda a lei. O Poder Executivo é o poder que administra a coisa pública. , ,. O Poder Judiciário e o .poder que aplica as leis. É esta a separação tripartida do poder. QUESTIONÁRIO 1 o que significa o poder? 2 Que se entende por autoridade política? 36 Curso de Organização Social e Política Brasileira Mais tarde São Tomás de Aquino chama as formas puras de governos legítimos e as formas impuras de governos ilegítimos em seu livro Do Regime dos Príncipes. Outro pensador político italiano da Renascença, Ma- QUIAVEL, publicou um ensaio intitulado O Príncipe, onde apenas menciona uma classificação dualista, a saber, a mo- vnarquia e a república. Uma classificação moderna pode catalogar as seguintes formas de govêrno: a) monarquia; b) aristocracia; c) dita dura, d) democracia. 3 — Conceitos de monarquia, aiistocracia, ditadura e Democracia A monarquia é o govêrno de uma só pessoa, na sua acepção histórica inicial, mas hoje em dia outros órgãos se associam junto ao monarca, às vêzes preponderantemente. A monarquia pode ser: a) absoluta, quando o rei exerce o poder de uma forma ilimitada; b) constitucional quando o monarca está submetido a uma lei fundamental ou cons tituição, que disciplina a sua vontade; c) parlamentar, quando o monarca governa por intermédio do parlamento, eleito pelo povo em eleições periódicas, e que designa um ministério ou gabinete, que tem a missão de governar. A aristocracia é o govêrno de uma classe privilegiada. É o que ocorreu na velha Grécia, em Roma, Cartago e nas cidades da Idade Média, com a república dos doges em Ve neza, Gênova, Florença, etc. A ditadura é a concentração dos podêres do Estado em um só órgão, é a hipertrofia do poder executivo. Há dois tipos principais de ditaduras: as ditaduras de direita (Por tugal, Espanha, a Alemanha de Hitler, a Itália de Musso- lini) e as ditaduras de esquerda ou ditadura do prole tariado (União Soviética, desde 1917, China marxista desde 1949, Cuba, etc.). Já a democh^acia é o govêrno constitucional do povo, é a forma de govêrno predominante no Ocidente europeu e no mundo norte-americano (França, Itália, Alemanha Ociden tal, Estados Unidos, etc.). questionário 1 — Que se entende por govêrào? 2 — Que se entende por governar ? 37 A Democracia 3 _ Como se classificam as formas de governo? 4 — o que é monarquia? 5 — o que é aristocracia? 6 — O que é ditadura? 7 — O que é democracia? Capítulo XV Á DEMOCRACIA 1 — o conceito da democracia . A democracia é um ideal acalentado pelo espírito hu mano que se realiza lentamente na história. É de essência evangélica e repousa num sentimento, que é o respeito à eminente dignidade do homem. Etimològicamente, a palavra deriva do grego demos ou povo e cratein governar. É o govêrno do povo. Lincoln afirmou: a democracia é o govêrno do povo pelo povo e para o povo. É uma definição famosa do regime. Nas democracias o povo ou o corpo eleitoral, formado pelos cidadãos adultos com o direito de voto, elege periodi camente os principais agentes.do govêrno, do legislativo e do executivo, escolhidos livremente e sem coação como os seus principais representantes. A democracia existiu imperfeitamente no mundo antigo (grego e romano), mas adquiriu plenitude no mundo mo derno, onde se opõe às místicas do totalitarismo. 2 — Tipos de democracia A democracia se apresentou na história com três tipos mais importantes: a) democracia direta; b) democracia re presentativa; c) democracia mista. A democracia direta realiza-se na antiga Grécia, quando o povo se reunia na praça pública ou ágora e decidia os seus problemas. Hoje ainda existe na Suíça. Teve existência his tórica em comunidades pouco numerosas, como em Atenas, com o seu corpo de cidadãos de apenas 10.000 pessoas. A democracia representativa é aquela em que o eleito rado escolhe os agentes do poder executivo e do legislativo, os quais, em seu nome, exercerão as funções do govêrno. É a modalidade da democracia contemporânea (Estados Uni dos, Alemanha Ocidental, França, Itália, etc.). 38 Curso de Organização Social e Política Brasileira A democracia mista é uma combinação da precedente: 0 povo gnverna por intermédio dos representantes, mas con serva uma maior vigilância e fiscalização sôbre êles por intermédio de alguns instrumentos de ação. Quais são tais expedientes de controle do povo sôbre os governantes? São os seguintes: o recall, ou iniciativa popular, o refe- rendum e o plebiscito. O recall ou direito de revogação é o poder que tem o eleitorado de destituir ou revogar os mandatos dos legisla dores e chefes do executivo, principalmente dos primeiros. Funciona nos Estados Unidos, Suíça, Áustria, etc. A midativa popular é o poder conferido ao eleitorado de propor projetos de lei, poder que só é próprio normal mente do legislativo ou mais raramente do Executivo na chamada democracia representativa. O refer&ndum é a decisão popular sôbre uma medida legislativa. Difere do plesbicito, que é uma votação popular sôbre uma medida ou um ato do executivo. QUESTIONÁRIO 1 — Que se entende por democracia? 2 — Quais os principais tipos de democracia? Como defi ni-los? 3 — O que é direito de revogação? 4 — O que é iniciativa popular? 5 Como distinguir o referendum e o plebiscito^ Capítulo XVI PARLAMENTARISMO E PRESIDENCIALISMO 1 — Noção do pmlÁJt/m^twrisrm O parlamentarismo nasceu na Inglaterra por volta do ano de 1688, com o seu BiR of Rights, ou Declaração dos Direitos. Substituiu o governo absoluto por uma modali dade de govêmo constitucional mais legitimamente fundado nas aspirações populares. A Inglatewa^ é assim a mãe ou a terra madre do parlamentarismo, hojé adotado na França^ Itália, Alemanha Oci- Parlamentalismo e Presidencialismo 39 dental, Suécia, Noruega, Bélgica, Holanda, Canadá, índia e inúmeros outros países. No parlamentarismo o govêrno é formado por uma co missão ou gabinete — daí o nome govêrno de gabinete — eleitos pela maioria parlamentar existente no Parlamento e também revocável pela vontade desta mesma maioria par lamentar. No parlamentarismo há uma dualidade do poder exe cutivo: a) o chefe de Estado, que é o monarca ou o Presi dente da República; b) o chefe de govêrno, que é o Primei- ro-Ministro. Há monarquias parlamentares como a tradicional Ingla terra e também repúblicas parlámentares (França, Itália, Alemanha Ocidental). 2 — Ntoção do presidencialismo O presidencialismo nasceu com o regime constitucional norte-americano, mais exatamente com a sua Constituição de 1787. O govêrno presidencial é aquêle em que o Presidente da República, como a figura mais importante no regime, de cide com independência a política nacional, não podendo ser destituído pela ação da maioria congressual. No presidencialismo há uma unidade do poder executivo, eis que o Presidente da República é simultâneamente chefe de Estado e chefe de govêrno. Originário dos Estados Unidos noséculo XVIII, o presidencialismo se expandiu na América Latina e foi ado tado pelo México, Argentina, Colômbia, Venezuela, etc., bem como pelo Brasil desde a sua Constituição republicana de 24 de fevereiro de 1891. QUESTIONÁRIO Que se entende por parlamentarismo? 2 Quando surgiu na história política? 3 — Existe unidade ou dualidade de poder executivo no regime parlamentar? 5 — Qual o país que primeiro adotou o presidencialismo? Q — Quando o Brasil adotou o presidencialismo? Em que constituição? Capítulo XVII OS PARTIDOS POLÍTICOS 1 — As divergências de opinião Os homens têm na sociedade diversas opiniões a respeito dos mais diversos assuntos; religião, economia, casamento, divórcio, política, etc. Há o diálogo das opiniões. No regime democrático, cada um tem o direito de expressar livremente a sua opinião, e a liberdade de cada um termina onde começa a liberdade alheia. Assim pode-se pensar que o Estado deve fazer uma re forma agrária, ou se achar que não há necessidade de tal reforma; pode-se ser favorável ou contrário ao divórcio; pode-se admitir ou não o voto das mulheres e dos analfa betos. São opiniões diversas que se legitimam no regime democrático. A democracia permite que tais opiniões se re velem püblicamente, aceitando a decisão da opinião pública expressa pelo voto. Daí dizer Laski que o verdadèiro democrata deve admi tir que a opinião do adversário pode ser correta eventual mente e deve ser tolerante com a opinião dos demais. 2 — A opinião pública A opinião pública é a opinião geral do povo ou a opinião da vontade geral da comunidade. ROüSSEAU a chamou a von tade de todos, que é sempre a vontade da maioria. A opinião pública não é una e indivisa: há a opinião da maioria e a opinião das minorias discordantes. Há assim várias correntes de opinião pública. A opinião da maioria é a opinião prevalecente nas democracias. ^ Ela se expressa de diversas maneiras, pelo rádio, tele visão, livros, revistas, jornais, periódicos, mas tem nas de- niocracias um órgão específico que a revela, que são os par tidos políticos. 3 Os Partidos Políticos . 1 partidos políticos são associações permanentes decidadaos para d exereício da ação política. J- a ® grupos sociais dotados atualmente, emdiversos Pajses de personalidade jurídica de direito público, como no Jorasil. •' ^ Os Partidos Políticos Os partidos políticos são assim grupos de pessoas que têm a mesma opinião sôbre os problemas de organização da sociedade e de Estado, que se associam para a conquista do poder político propondo-se a realizar um determinado pro grama. O Estado democrático é um Estado que consagra a plu ralidade de partidos políticos. É assim chamado de Estado pluripartidá^. Tal pluralidade de partidos permite por conseguinte que os cidadãos se agrupem de acôrdo com as suas convicções e opiniões em grandes arregimentações partidárias. Esta di versidade de partidos permite assim conseqüentemente a diversidade de manifestação de pontos de vista e de con vicções. Já as ditaduras são geralmente Estados de um só par tido. Chama-se tal tipo de Estado unipartidáHo. Prevalece só uma opinião e uma crença política dominante. A União Soviética admite só um partido único, assim também acon teceu com a Alemanha na época do nacional-socialismo (Hitler) e na Itália (com Mussolini). Formaram-se os partidos únicos, o Partido Comunista na URSS, o partido nazista, na Alemanha e o partido fascista na Itália. Quais as vantagens, do Estado pluripartidário ? Elas são as seguintes: a) asseguram a expressão de liberdade política e privada do cidadão; b) permitem o rodízio do poder, isto é, um partido majoritário pode tornar-se mino ritário ou vice-versa; c) tal alternância é útil ao progresso e alivia as tensões sociais. 4 — o direito de voto As democracias se baseiam no corpo eleitoral, de cida dãos que dispõem do poder de voto e elegibilidade (direito de ser votado). O voto é pessoal, pois ninguém pode votar por procura ção, é igual, pois a cada cidadão corresponde um voto, é secn-eto pois se vota em segredo em cabine indevassável e é livre ou isento de pressões externas. No Brasil o problema de voto das eleições e dos par tidos é regulado, além dos dispositivos existentes na Consti tuição de 1969, por três diplomas legislativos: o Código Eleitoral (1965), a Lei Orgâniéa dos Partidos Políticos (1971) e a Lei das Inegihilidades (1970). 42 Curso de Organização Social e Politíca Brasileira 1 — O que significa a opinião pública? 2 — Que se entende por partido político? 3 — A democracia é um Estado-de-partidos? 4 — Qual a distinção entre Estado unipartidário e Estado pluripartidário? 5 — Enuncie as vantagens e conveniências do Estado pluri partidário. 6 — Quais os caracteres do voto? 3.® PARTE AS NORMAS E A ORDEM JURÍDICA DA SOCIEDADE POLÍTICA Capítulo XVIII AS CONSTITUIÇÕES 1 — A palavra constituição A palavra constituição procede do grego politéia e já era empregada por Aristóteles. Mais tarde os romanos usavam a expressão rempublidam comUtuere, organizar ou constituir a República, de onde se originou o têrmo consti- tutio e depois a palavra constituição. A palavra constituição é usada num sentido amplo e num sentido restrito. No sentido amplo a constituição é a própria ordem que regula o Estado, o conjunto de elementos (regras jurídicas, costumes, documentos sobre o Estado e o governo). Todos os Estados têm assim uma constituição. No sentido restrito a constituição é o conjunto de nor mas que: anunciam os órgãos do poder público; determinam a sua competência e atribuições; declaram o regime político e a forma de govêrno; fixam o sistema tributário nacional; proclamam os^ direitos do homem e^ as garantias constitucio- mais; determinam a ordem econômica, social e cultural; estabelecem o sistema de desenvolvimento e de segurança nacional. 44 Curso de Organização Social e Política Brasileira 2 — Definições sôbre a constituição Inúmeras são as definições dadas sôbre a constituição. Vejamos algumas: Orban : "É a lei fundamental do Estado, anterior e superior a. todas as outras leis". CoOLEY: "É o corpo de regras e máximas de acôrdo com as quais os podêres da soberania são habilidosamente exercidos". p. Ferreira: "é a super-lei fundamental do Estado". As constituições se colocam numa estrutura escalonada, hierárquica, acima das demais leis. As leis não podem con trariar o espírito e a letra das constituições. Os povos devem cultivar o culto da constituição e das leis. Êsse culto enobrece os países e lhes revigora o senso moral, é útil ao seu desenvolvimento. Alguns conceitos são mencionados a respeito: MONTESQUIEU: "A menor mudança numa constituição destrói-lhe os princípios c causa-lhe a ruína". Bentham: "A melhor constituição para um povo é aquela à qual está acostumado". Erasmo: "Nunca se troca a constituição de um povo sem perturbações". TÁCITO: "Desgraçada a República de muitas leis". HORÁCIO: "De que valem as leis sem os costumes? Resul tarão vãs". 3 — Tipos de Constituição As constituições podem ser classificadas em diversos tipos. As formas naais importantes de constituição são as seguintes: a) constituições escritas e costumeiras; b) cons tituições rígidas e flexíveis; c) constituições votadas e ou torgadas. A constituição escrita consta de documentos formais e solenes, consignada em fôlhas de papel, estabelecendo de modo claro a ox*ganização do Estado. Como exemplos de constituição escrita, podem ser citadas a Constituição dos Esta(ms Unidos de 1789, a da França de 1958, a do Brasil de 1969, entre pptras. A con^ituição costumeira era predominante até o fim do século compondo-se de costumes, usos, praxes, documentos escritos isolados. O seu exemplo atual é a Cons tituição da Inglaterra. I ^ As Constituições A constituição flexível é a que pode ser alteradapelo Congresso ou pelo Parlamento por uma maioria absoluta ou simples. . . A constituição rígida exige solenidades especiais e uma tramitação mais demorada de reforma. Ou se prescreve uma maioria qualificada, ou um referendum constitucional com a publicação da lei magna por uma aprovação do povo nas urnas eleitorais, por um referendum constitucional. As constituições ainda podem ser votadas ou outorga das. No 1.° caso são elas elaboradas por assembléia cons tituinte ou parlamentos investidos de tal atribuição. No 2. caso são promulgadas e concedidás pelo soberano, pelo dita dor, pelo chefe de govêrno provisório. As constituições do Brasil de 1821 e 1937 foram outoi- gadas; as de 1891, 1934 e 1946, foram votadas e promulga das por assembléia constituinte; a de 1967 voi votada. Pro mulgada e decretada pelo Congresso, investido de poder constituinte pelo Ato Institucional n.° 4 de 1966. 4 o Poder Gonstituinte O poder constituinte é o poder de elaborar ou de revisar uma constituição. São assim duas as funções principais do poder constituinte: 1) ela^opr ou criar originàriamente uma constituição; 2) reformá-la. A teoria do poder constituinte foi elaborada por Sieyes, durante a revolução francesa. Êle distinguia o poder cons tituinte ou Vútestas constitueris e o poder constituído ou potestas cmistüuta. Êsse último se desdobra em três ramos: Legislativo, Executivo, Judiciário. Já uma Assembléia Constituinte é a assembléia ou corpo representativo, eleito pelo povo, e encarregado de ela borar ou revisar a lei magna de um país. QUESTIONÁRIO ^ j)e onde vem a palavra constituição? 2 — Qual. o sentido amplo, das constituições? 3 Qual K) sentido usual e moderno da Constituição? 4 Defirar uma constituição, 5 Como se classificam as constituições? Q Que países têm constituições escritas? 7 Mencione um país com constituição costumeira. 8 Que se entende por poder constituinte? Capítulo XIX A LEI 1 — O conceito do direito O direito é o conjunto de condições existenciais e evo- lucionais da sociedade asseguradas coativamente pelo poder público. É a definição de Tobias Barreto. É própria do direito a idéia de coação ou de sanção. A coerção é a possibilidade de uma sanção contra o agente que viola a lei. As normas jurídicas são assim dotadas de um caráter de coercibilidade. Nisto o direito se distingue de moral, que é sancionada pela opinião pública. 2 — A Lei Lei é a norma de conduta emanada do poder público competente a fim de reger as relações sociais de uma de terminada comunidade. É a norma de conduta emanada do poder competente para legislar. Clóvis Beviláqua define: "É a ordem, ou a regra geral obrigatória que, emanada de uma autoridade competente e reconhecida, é imposta coativamente à obediência de todos". No Brasil pela Constituição de 1969, a competência para elaborar as leis, pertence principalmente ao Poder Legisla tivo com a colaboração do Poder Executivo. O poder legislativo é exercido no plano federal pelo Congresso Nacional, no plano estadual pelas Assembléias Legislativas dos Estados membros da federação, e no âmbito local pelas Câmaras Municipais. Surgem então as leis fede rais, as leis estadvxiis e as leis municipais. 3 — O processo legislativo 1 acordo com a Constituição Brasileira de 1969, na e aooraçâo das leis federais, há atos de exclusiva compe- ncia do Congresso, Nacional, atos de competência exclu- ava do Presidente da República. Ao Congresso Nacfpnal compete a elaboração de: i — emendas à Constituição ou leis que alteram ou modi- Lcani as antigas constituições; II — Uis oomplementa/res da Constituição ou leis que completam os predeitos do Código A Lei 47 niagno; III — leis ordinárias, estabelecendo e formulando normas sôbre assuntos que não sejam do conteúdo do Código Magno; IV — resoluções legislativas; V — decretos legis lativos. Já ao presidente da República compete: I — a elabo ração de emendas à CoTistituição; II — a elaboração de leis delegadas, ou seja, leis que procedem de resoluções do Con gresso Nacional outorgando ao Presidente podêres para le gislar; III — a iniciativa de determinadas leis, como as leis sôbre matéria financeira; IV — a expedição de deoretos- leís ou decretos com fôrça de lei nos casos de urgência e de interêsse público rate^ nte e desde que não provoquem aumento de despesa e^brqpgurança nacional, finanças pú blicas, incluindo normas fnliutárias, criação de cargos pú blicos e fixação de vencimentos. O Congresso Nacional poderá aprovar ou rejeitar os decretos-leis no prazo de 60 dias, mas findo tal.prazo, nada deliberando, serão tidos como aprovados. 4 — A elaboração da lei A elaboração das leis começa com a apresentação de projetos de lei ao Congresso Nacional que pode ser efetivada pelos Senadores, Deputados Federais e pelo Presidente da Re pública. O projeto, depois de aprovado por uma das Câmaras, é em seguida apreciado e votado pela Câmara revisora. Quando a Câmara revisora aprova o projeto, êle é en caminhado a sanção ou promulgação. Se porém a Câmara revisora o emendar, será o projeto de lei devolvido à Câmara iniciadora para novamente apre ciá-lo. Em caso de rejeição será arquivado. No Brasil há um regime bicameral, isto é, as duas câma ras colaboram na feitura da lei. Contudo em outros países, em vez de bicameralismo, há unicameralismo, como na Tchecoslováquia, em que o Parlamento nacional se compõe de uma só câmara, a única que assim elabora a lei. 5 — Sanção e promulgação das leis A sanção é ato pelo qual o Presidente da República aprova o projeto lei votado pelo Congresso. A promulgação é o ato pelo qual o Presidente da Repú blica dá fôrça obrigatória à lei, apondo a sua assinatura no 48 Curso de Organização Social e Política Brasileira diploma legislativo e mandando publicá-lo na imprensa oficial. Se a lei não for promulgada pelo Presidente da Repú blica, no prazo legal, fa-lo-á o Presidente do Senado e se êste não o fizer no prazo prev.sto será a lei promulgada pelo Vice-Presidente do Senado. Há leis que exigem a sanção do Presidente, outras que apenas exigem a promulgação sem a sanção. Uma vez publicada a lei, ela se torna conhecida dos cidadãos e tem força obrigatória. Ninguém se excusa da ignorância da lei, não podendo alegar que da mesma não tem conhecimento ou notícia. 6 — 0 V€to O Presidente da República pode opor-se ao projeto de lei do Congresso e VQtá-lo. O v^o é por conseguinte a negação do Presidente da República a aprovar um projeto de lei. Em caso de vfto, contudo a palavra final compete ao Congresso. Então o Presidente encaminha ao Congresso o projeto vôtado, justificando as suas razões, mas o Congresso em reunião conjunta da Câmara dos Deputados e do Senado pode opor-se ao veto mediante o voto da maioria de 2/3 dos seus membros. O voto é uma instituição que procede do direito público romano, da velha Roma e significa em latim: opo-nívo-me. 7 — O Decreto O decreto é qualquer ato do poder executivo no exercício das suas atribuições legais e que contém um comando ou uma determinação. Os decretos pode ser: I — gei-ais ou regidamentaives, estabelecendo as condições e a maneira como a lei deve ser cumprida e executada, são os regulamentos administrativos; II — especiais ou individuais quando relativos a situações jurídicas particulares, individuais, medidas de natureza P"" rarnente administrativa (decretos de nomeação, de trans ferência de funcionários, decretos de demissões, condeco rações, etc.). O decreto não pode ser elaborado violando a lei. Esta tem uma hierarquia jurídica superior ao decreto. A Lei 49 QUESTIONÁRIO 1 — Como se define o direito? 2 — Que se entende por lei? \ 3 — Quais as leis existentes no Brasil além da lei federal? 4 — A que órgãos compete elaborar a lei federal? 5 — Quais as fases de elaboração das leis? 6 — Qual a distinção entre