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PINTO FERREIRA :Í-?;
M'
Curso de Organização Social
e Política Brasileira
1972
JOSÉ KONFINO
editor
■ii
p-vr ^iT-
V
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( - < , /
m-r
CURSO DE ORGANIZAÇÃO SOCIAL E
POLÍTICA BRASILEIRA
1
//
PINTO FERREIRA
Curso de Organização Social
8 Política Brasileira
JOSÉ KONFINO — editor
Av. Erasmo Braga, 227 — 1.® and., sede própria
Caixa Postal 2.746 — ZG-00 — Enderêço telegráfico Konfino
Rio de Janeiro
!!-■
I l i
TRABALHOS DO AUTOR
1) Novos Rumos de Direito Público. Esgotado. 1937.
2) Teoria Científica do Conhecimento. Esgotado. 1938.
8) Sociologia das Revoluções. Esgotado. 1939.
4) Ologênese Ciclo-Social. Esgotado. 1939.
5) Teoria do Espaço Social. Esgotado. 1939.
6) Wahrscheinlichkeitslogik und Soziologie. Esgotado. 1940.
7) VoN WiESE und die zeitgenoessische Bezeihungslehre. Esgotado.
1941. 2.a Edição, 1959.
8) Da Soberania. Recife. Esgotado. 1943.
9) Formação, Desenvolvimento e Fins do Estado. Esgotado. 1945.
10) PITIRIN A. SOROKIN y ei Concepto de Ia Sociologia Relacionai,
México, 1945. , „ ., • i-
11) A Democracia Socialista, e os Novos Rumos do Presidencialismo
Brasileiro. 1946.
12) Da Constituição. 1946. 2. Edição. 1956.
13) Democracia y Planificacion. México. 1947.
14) The Marxian Socialism. 1947. 2.^ Edição, 1968.
15) Laski e o Estado Moderno. 1948. 2.® Edição, 1956.
16) Analysis of Mind and Hipnosis. 1948.
17) The Concept of Neus. 1948.
18) Korzybski and a New Interpretation of Socialism. 19481 2.
Edição, 1952.
19) Princípios Gerais de Direito Constitucional Moderno. 1948.
2.®- Edição, 2 vols. 1951. 3.® Edição, 2 vols., 1955. 4.®" Edição,
2 vols., 1962. 5.» Edição, 2 vols., 1971.
20) Emory S. Bogardus y los Nuevos Fundamentos do Ia Morfo-
logia Social. México. 1949.
21) Pernambuco e seu Destino Histórico. 1950.
22) Introdução à Filosofia Científica. 1951.
231 Tradição e Progresso. 1952.
oA\ Novos Rumos da Filosofia, Jurídica. 1952.
25 5 CAMÕES e a Cultura Luso-Brasileira. 1953.
26) Tobias Barreto e a Nova Escola do Recife. 2.» Edição, 1958.
27) A Democracia Socialista. 1953.
28) Tobias Barreto et Ia Sociologie Brésilienne. 1954.
29) Petite Histoire de Ia Littératiíre Brésilienne. 1954. 2.® Edição,
1960.
30) El Problema de Ia Reforma Agraria. México. 1954.
/ Trabalhos do Autor
31) Atualidada de Tobias Barreto, 1954.
32) Sociologia. 2 vols. 1955. 2.® Edição, 1969.
33) A Dinâmica Social e a Lei do Progresso. 1955.
Traduzido para o espanhol com o título: Visión Panoramica
de Ia Dinamica Social. México. 1957.
34) Filosofia da História Literária. 1955.
35) Nuevos Fundamentos de Ia Espaciologia Social. México. 1955.
36) Interpretação da Literatura Brasileira. 1957. Trabalho pre
miado pela Academia Pernambucana de Letras e com o Prêmio
Silvio Romero da Academia Brasileira de Letras.
37) Notas Críticas sobre a Filosofia Marxista. 1957.
Traduzido para o alemão com o título: Kritische Anmerkun-
gen zur Marxistischen Philosophie. 1959.
Traduzido para o russo com o título: Krítikii zamietki
etsnositsno filosofia marksísta. 1962.
38) Teoria Geral do Estado. 2.^ Edição. Rio de Janeiro. 1957.
2 vols. (1.^ Edição com o título: Da Soberania)^
39) Panorama da Sociologia Brasileira. 1958.
40) Polêmicas. 1958.
41) Ás Técnicas da Democracia. 1959.
42) O Regime Eleitoral. 1959.
43) Síntese da Contribuição de Durkheim à Sociologia. 1959.
Traduzido para o espanhol com o título: Síntese de Ia
Contribución de Durkheim à Ia Sociologia. México. 1959.
44) Die Deutsche Einwanderung in Bresilien. 1959.
45) Concepto y Classificación de los Procesos Socíales. México.
1959. . ,
46) Pequena História da Literatura Brasileira, especialmente nos
séculos XIX e XX. 1959. ^ ,, .1 . 4. :;o
Traduzido para o russo com o título: Karotkaia istoriia
brasiliiskoi literaturi, spetsialne stoletia 19-20. 1959.
47) El Parlamentarismo. Buenos Aires. 1^60. _
48) A Reforma Agrária. 1.^ Edição, 1960. 2. Edição, 1960. 3.
Edição, 1964.
49) Las Clases Sociales. México. 1961.
50) Die Politischen Partein Brasiliens. 1961 • Po
Traduzido para o espanhol com o titulo: Los
líticos en Brasil y su Desenvolvimento Historico. México.
1962.
51) A Odisséia de Santa Maria, no Jornal de Literatura Estran
geira. Moscou. 1961. - .
52) As Constituições Modernas da Europa e Asia.
53) As Imunidades Parlamentares. 1962.
54) O Município. 1963. . ry t ioaq
55) O Regime dos Estados na Federação Brasileira, Brasília. 19bd.
56) Do Orçamento. 1964. 4 o a
57) Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro. 1964.
Edição, 1970.
58) ^^^Conãtituições dos Estados no Regime Federativo. Brasília.
59) Capitais Estrangeiros e Dívida Externa do Brasil. São Paulo.
1965.
Trabalhos do Autor VII
GO) A Inflação. 1965. 2.^ Edição. Rio de Janeiro. 1967.
Traduzido para o espanhol com o título: La Inflación.
México, 1966.
61) O Poder Executivo na República Brasileira. 1967.
62) Autonomia dos Municípios-Capitais. Recife. 1967 (mimeo).
63) A Suspensão dos Direitos Políticos e seus Efeitos (mimeo).
Recife. 1968.
64) Personalidade Jurídica, Autonomia e Patrimônio da Facul
dade de Direito do Recife (mimeo). Recife, 1968. 2.^ Edição,
1970.
65) As Técnicas do Parlamentarismo. 1968.
66) Um Discurso de Paraninfo. 1968.
67) A Evolução do Federalismo Brasileiro. Recife. 1969.
68) Sociologia do Desenvolvimento. Recife. 1970.
69) A Universidade no Mundo. Recife. 1971.
70) As Escalas em Ciências Sociais. Recife. 1971.
71) Neo-Colonialismo e Desnacionalização da Economia Brasileira.
1971.
72) A Idéia da Universidade e a Recente Reforma Universitária
Alemã. 1971.
73) A Competência Tributária da União no Regime Constitucional
Brasileiro. 1971.
74) Curso de Educação Moral e Cívica. 1972.
75) Pesquisa Social. Recife. 1972.
76) Curso de Organização Social e Política Brasileira. 1972.
\ \
w
PREFÁCIO
\\
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W
^ n
í I
'?•
" .1
PREFÁCIO
A nova geração necessita conhecer a realidade nacional,
na riqueza da sua ecologia e nxi ascensão do seu desenvolvi
mento. O Brasil, nação a seu modo imperiol peUi vtsao do
seu futuro, enriquecido pela ^ autenticidade do seu huma
nismo, é uma grande experiência vitoriosa no mundo tro
pical, criando uma civilização autônoma, onde outros países
falharam. . . , - j
O Brasil deve ser uma nação original, que nao deve
imitar ninguém, como pais gigante e continental, a criar o
seu próprio modelo de ascensão social, desenvolvimento
e progresso. . .
Para isso é preciso conhecer a sua organização e insti
tuições sociais, a história das suas lideranças políticas, as
fases diversas de sua evolução econômica como sustentáculo
da vida social, os seus padrões pedagógicos, a história social
das suas cidades e engenhos poéticos plantados à beira do3
rios, o humanismo da sua democracia racial equilibradora de
conflitos sociais, o ritmo, do seu desenvolvimento, a beleza
esplendente da sua ecologia e de sua paisagem social. ^
A ascensão do Brasil como uma superpotência mundia^
no século XXI é uma vigorosa possibilidade geopoUtica. As
gerações novas devem estar atentas a êste despertar.
É o fim a que se destina êste manual — de resto redi
gido em forma didática — relembrando êste despertar da
consciência nacional e especialmente das novas gerações para
a visão do Brasil de amanhã.
Recife, 16 de julho de 1970 a 1^ de fevereiro de 1971.
Rua Herminia Lins, 25
Luiz Pinto Ferreira
1.» PARTE
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA ORGANIZAÇÃO
SOCIAL E política
CAPÍTULO I
FUNDAMENTOS DA ORGANIZAÇÃO SOCIAL
E POLÍTICA
1 A criação da cadeira de Organização Social e
Política Brasileira
A origem da criação da disciplina hoje intitulada Orga^
nização Social e Política Brasileira, no curso médio do nosso
ensino, se prende à necessidade de transmitir no coração da
juventude os conhecimentos da vida, da sociedade, da eco
nomia, da cultura,em suma da realidade brasileira, a fim de
transformar os jovens em cidadãos úteis à pátria.
Somente o saber e a cultura tornam os países gloriosos
e emancipados. O conhecimento da realidade brasileira habi
lita a melhor vincular o coração e o sentimento no amor
à pátria e no cálido sentimento de fraternidade e solidarie
dade humanas.
Antigamente se ensinava no país a disciplina chamada
Instrução Moml e Cívica. Hoje se ensinam ambas as ma
térias. Na França a nomenclatura é de Instrução Cívica^
nos Estados Unidos a cadeira denomina-se Oovêmo Ame
ricano. j - ' u 1 ,
Como a educação e a base do desenvolvimento, e a ins
trução é a grande arma de cabeceira da democracia, daí o
empenho de ministrar as bases da organização da pátria na ^
juventude do país, para que possa amá-la. \\
6 Curso de Organização Social e Política Brasileira
Transmitindo assim seu patrimônio espiritual e cultural
intacto e enriquecido às gerações do porvir.
2 — Do objeto da disciplina Organização Social e Polí
tica Brasileira
A disciplina Organização Social e Política Brasileira
tem um conteúdo amplo. A sua finalidade é de transmitir
os ensinamentos necessários para que o cidadão se comporte,
ainda na miniatura da alma de criança, no respeito e no
culto das instituições do país.
Ela pode dividir-se em duas partes, uma parte geral
e uma parte especial.
A Parte Geral examina os seguintes pontos: a) a socie
dade e o povo; b) a sociedade política e o Estado; c) as for
mas de govêrno e os regimes políticos d) a dinâmica da
sociedade política, a saber, os partidos políticos e a demo
cracia; e) a ordem jurídica, as constituições, os códigos, as
leis, o direito em suma.
Por sua vez, a Parte Especial tem por objeto:
a) o conhecimento da organização político-administra-
tíva do país; b) os direitos do homem e do cidadão; c) a evo
lução econômica e social da pátria brasileira; d) a compo-
QiVão racial da nossa população; e) a organização da f^i-
, l e do casamento; f) o valor da educação e_ da cultura
Tin qociedade; g) o papel da religião na formaç^ sentimen
tal e cultural do país; h) as características da população
^'^^Pqhio a Instrução Moral e Cívicay a nova disciplina
nra^izooão Social e Política visa formar e consolidar o
espírito público desde as novas gerações, modelando ins-l^ições da comunidade em costumes sadios e em uma solid
tradição moral. , .Ê o que já dizia HORÁCIO: ''De que valem as leis
sem os Costumes? Resultarão vãs".
. n n I. . ( I
n' n QUESTIONÁRIO
^ Organização
2 — Qual a sua finalitadè? i
3 — Qual a frase de Horáiéâo ^ leis e os costumes?
Capítulo II
CONCEITO DE ORGANIZAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA
1 O homem como animal social
O homem é um ser destinado a conviver em sociedade.
Não se pode compreender o homem isolado. Por isso ja
ARISTÓTELES, sábio grego do mundo antigo, dizia com
razão que o homem é tm animal social. Dizia que era um
animal político, mas a sua frase é hoje entendida numa
acepção ampliativa. - ,
Desde a sua origem, o homem vive agrupado em íami-
lia. As famílias se associam em clãs, tribos, e estas em
aldeias, cidades e Estados. • j j ?
O que é que leva o homem a viver em socieaaüe.
Dois fatores fundamentais e de relêyo: o instinto e a
inteligência. O instinto de defesa, de sociabilidade, de p
criação, como ainda de outro lado a compreensão de qu
o esforço conjugado e a ajuda mútua sao indispensável
para a. sobrevivência e o progresso, levando assim o homem
à necessidade inevitável da vida social.
2 A famüta, os clãs, a tribo e o Estado
A forma histórica da organização do homem é a famí
lia. A família é a unidade social baseada no casamento.
A família também pode ser entendida como o grupo for
mado pelos pais, filhos e parentes mais próximos.
As famílias articuladas por um ascendente comum for
mam os clãs. Os clãs se dizem clãs totêmicos (da palavra
totem), quando ligados por um ancestral comum simbólico.
Mas os clãs têm a necessidade de associar-se mais am
plamente em organizações, que são as tribos. Estas sao
sociedades maiores, que resultam da reunião das famílias
clãs, a fim de obter alimentos, defender-se do inimigo
comum, tendo sempre costumes e tradições semelhantes.
por fim, da associação das tribos surge o Estado.
O Estado é a sociedade politicamente organizada.
O Estado é o agrupamento humano, fixado sôbre um
território determinado e com um comando central ou
soberano.
I \
® Curso de Organização Social e Política Brasileira
A palavra soberania deriva do latim superanus, e signi
fica o poder mais alto de decisão na comunidade.
3 — A organizado sodaX
A sociedade não pode sobreviver sem estar organizada.
Para conseguir alimentos, para caçar e pescar, para defen
der-se no mundo primitivo perigosamente hostil, o homem
necessita estar organizado em conjunto com os seus seme
lhantes.
O que é assim organização social?
A organização social é o conjunto de elementos ou par
tes de uma entidade (Estado, família), emprêsas que se
justapõem e se integram para conseguir os fins necessários
da convivência humana.
Entre os principais elementos da organização social de
um país se mencionam:
a) a maneira de agir, de pensar e de servir, os modos
de vida de um povo; b) as itnstituições sociais dominantes,
como o Estado, a Igreja, a família, a propriedade; c) a to
talidade das crenças, costumes, tradições, folclore, existentes
na sociedade; d) a totalidade dos grupos sociais (econômi
cos, profissionais, culturais, religiosos, etc.) incluídos na
sociedade global; e) os estatutos e a composição da socie
dade classificada em partes, que se chamam de classes
sociais ou camadas sociais.
Há diversos tipos e modalidades de organização social,
como a organização política, a organização econômica, a
organização religiosa, a organização pedagógica, etc.
QUESTIONÁRIO
1 — Porque o homem é um animal social?
2 — Quais os fatôres essenciais que levam o homem a asso
ciar-se?
3 — Que é ai família?
4 — Como definir um clã?
5 — O que é a tribo?
6 — Como se cotiíipreende o Estado e como defini-lo?
7 _ o que se dew ratender por soberania?
8 — Qual o significado da palavra drganização e seus prin
cipais tipos? *
Capítulo III
A SOCIEDADE E OS GRUPOS SOCIAIS ! !
1 — A soéiedade e a classificação dos grupos
A sociedade é a reunião de diverscbs pessoas Que se asso
ciam para um determinado fim. Há sempre um objetivo
a conseguir, como a procura do alimento, vestuário, a cons
trução de casa ou habitação, a necessidade de defesa contra
o perigo comum, a união conjugada para trabalhos coletivos,
a realização de ideais e crenças.
A sociedade é assim um fato natural, necessário e uni
versal. Onde se encontra o homem, aí se encontra também
a sociedade.
Encontra-se também a sociedade nos animais, como a
admirável organização das formigas, das abelhas, mas com
base no instinto.
No homem surge a razão, aparece a inteligência. Esta
razão pensante, êste espirito pensante, como a mais alta
floração da natureza, permite a manifestação da linguagem,
da ciência, da filosofia, da religião, da moral, do progresso
em suma, chamada de civilização.
Procura-se às vêzes^^istinguir entre as diversas formas
de convivência humana, discriminando as massas ou nvidti-
dões, os grupos sociais e as comunidades. É a classificação
proposta por von WIESE.
Outros autores dividem os grupos sociais de acordo
com os contatos sociais que se fazem entre as pessoas.
COOLEY classifica os grupos sociais em: a) primários, de
contatos pessoais diretos como a família, o grupo de recreio,
a comunidade; b) secundários, de contato indireto, como o
Estado, a Humanidade; c) mtermedidrios, do contato di
reto mas não permanente: grupos profissionais, econômi
cos, religiosos, partidos políticos.
Ainda outros autores classificam os grupos nas seguin
tes categorias: 1 — nJatura^, de base biológica, a que o in
divíduo pertencepelo nascimento; 2 — mtericUmais, a que
a pessoa pertence voluntàriamente, como a escola, o grupo
de trabalho, a sociedade desportiva; 3 — permanentes, que
são grupos estáveis, com longa vida, como a família e o
Estado; 4 — temporários, como os grupos de duração pas
sageira, como uma reunião dançante, uma excursão, etc.
\\
10 Curso de Organização Social e Política Brasileira
2 — A comunidade
A palavra comunidade tem um significado especial. Ela
pode ser entendida como um grupo social de contatos na
sua maioria diretos e formados de indivíduos que habitam
uma área delimitada (aldeia, vila, fazenda, engenho, etc.)
A comunidade sempre se apresenta com relações de vi
zinhança entre os seus membros. Embora não sendo neces-
sàriamente parentes, vivem a pouca distância, se comuni
cam com facilidade, têm contatos pessoais permanentes, com
uma forma de convivência menos artificial e mais orgânica.
A comunidade tem assim uma forma de vida espontânea e
natural.
Como tipos de comunidades, podemos assinalar a co
munidade do Engenho Lagoa Sêca, a comunidade da Fazen-
da_Santa Osita, para assinalar e representar os habitantes
de tais regiões.
g — Grupos sociais impo&tantes
Na atualidade se destacam alguns grupos sociais ini-
portantes, que devem ser relembrados. Há os grupos bioló
gicos, representados pela famíUa; os grupos pedagógicos,
como a escola, a vndversicUide; os grupos econômicos, como
0 sindicado-, os grupos recreativos, como os clubes de futebol
e as sociedades de dança; os grupos políticos, como os par
tidos, os mimicípios, o Estado; os grupos religiosos, como
a Iareia; os grupos internacionais, como a Organizarão das
ünidas (ONU).
Em tais grupos vive necessàriãmente o homem. Êste
não pode prescindir de certo número dêles, indispensável à
formação da sua personalidade, da sua cultura, à defesa dos
seus interêsses.
QUESTIONÁRIO
• I
1 — O que é uma sociedade?
2 — Como se,clasp^ficam os grupos sociais?
3 __ O que são grupos primários?
4 — O que são grupos secundários?
5 — Mencionar alguns grupos sociais de importância.
6 —- Definir o que seja uma comunidade.
Capítulo IV
AS RELAÇÕES SOCIAIS
1 — A mteraçãso social !
Nenhuma vida na sociedade é possível sem que as
pessoas tenham relações sociais umas com as outras. A vida
em sociedade é destarte formada por uma série múltipla
ou uma trama de relações sociais.
As relações sociais também se chamam de interações
humamas, isto é, um conjunto ou uma série de ações ou
reações recíprocas, mediante as quais os homens se apro
ximam ou se afastam, se associam ou se desassociam mu
tuamente.
Os diversos modos de interação social, pelos quais os
indivíduos ou os grupos sociais atuam ou se influenciam uns
sobre os outros, se chamam de relações sociais ou processos
sócias.
A relação social é o aspecto estático do processo social.
O processo social é o aspecto dinâmico da relação social.
Ambos têm o mesmo significado, apenas de acordo com o
ângulo de visão com que são vistos, no aspecto estático ou
no aspecto dinâmico.
Os processos sociais básicos são os seguintes: a) coo
peração; b) oposição.
Para que exista interação é preciso que haja um contato
social entre as pessoas ou grupos.
O contato social é o encontro direto ou indireto, per
manente ou transitório, entre pessoas ou grupos sociais.
Provocando seja a aproximação ou o afastamento.
Os contatos sociais podem ser de duas categorias:
a) priTnârios ou diretos, que se verificam face a face, em
associações íntimas; h) contatos secundários ou indiretos,
"caracterizados pela exterioridade e por maior distância",
como a carta, telefone, telegrama, televisão, etc.
2 — Cooperação, aoowodação e assimilação
Os principais processos sociais que levam os homens a
se aproximarem são a cooperação, a acomodação e a assi
milação.
Os homens tem necessidade de uma convivência pacífica,
de uma congregação e^ harmonia de esforços para a conquista
dos fins sociais, e tais processos são fatos naturais que os
aproximam.
Curso de Organização Social e Política Brasileira
A cooperação é a ação de diversas pessoas que traba
lham em conjunto para a realização de um objeto comum.
A acomodaçãjo é uma maneira de convivência social que
faz terminar os conflitos e divergências. É um ajustamento
de pessoas ou grupos até então hostis.
A assimilação é uma etapa final da acomodação, quando
indivíduos ou grupos, antes com profundas dissimilaridades,
alteram as suas atitudes e suas concepções de vida e se
identificam em seus interêsses, objetivos e pontos de vista,
partilhando novas crenças e atitudes.
3 — Competição e conflito
As pessoas e grupos também podem apresentar diver
gências se opondo mutuamente na sociedade. É o processo
básico da oposição, que assume formas mais intensas com
a competição e o conflito.
A competição é a forma de interação social pela qual
os homens e os grupos procuram apossar-se de recursos, bens
ou posições sociais e econômicas que existem em quantidade
inferior aos desejos dos concorrentes.
O oonflito é uma forma mais violenta de competição.
É a forma consciente e deliberada de eliminação ou domi
nação do adversário, eis que "cada um sabe que só pode
ganhar o prêmio derrotando o outro". Fase mais aguda de
um conflito é a guerra, como a luta armada entre nações.
QUESTIONÁRIO
. 1 — O que é interação social?
2 — Distinguir relação social e processo social.
3 — Definir os seguintes têrmos: cooperação, acomo
dação, assimilação, competição e conflito.
Capítulo V
A ESTRUTURA SOCIAL
1 Estmtwfds sociais
A estrutura social é o conjunto de relações sociais exis-
tentes ; e asp^to estótico da própria organização. Com-
preende^r coM^inte tôdas as rtíações sociais padroni
zadas e essenciais entre as pessoas que compõem um mesmo
grupo ou entre grupos da mesma seriedade
A Estrutura Social
Na estrutura social se processa uma diferenciação da
sociedade em grupos diversos, ou se baseando em um só
laço, ou em laços múltiplos, subdividindo-se os grupos em
camadas ou estratos. j j
2 — O es-paço social
O espaço social distingue-se naturalmente do espaço
físico e do espaço geográfico, com o que não deve ser con
fundido. Êle é estudado^ ^ em sociologia pela espaciologia
social.
O espaço físico é aquêle em que ocorrem os fenômenos
geográficos ou físicos, em que não se encontra a presença
do homem. Tais fenômenos físicos, como as chuvas, os relâm
pagos, os trovões, as geadas, as erosões, o fluir dos rios,
ocorrem no mundo do universo físico. A distância entre tais
fenômenos se mede por metros, o tempo por uma contagem
exata de horas, ou suas divisões, ou multiplicações.
O espaço social é exatamente outro, aquêle em que
decorrem ações humanas, onde a presença do ser huinano
é indispensável, como nos casamentos, divórcios, aniver
sários, danças, eleições, etc.
A distância social se mede por outras categorias, pelos
sentimentos sociais, prevenções, hierarquia, posições econô
micas e sociais de podei: e prestígio. Assim, um general e
um soldado podem estar próximos no espaço físico, um ao
lado do outro, mas a distância social entre ambos é imensa,
de poder e prestígio, isto é, a distância social é diversa da
distância física.
3 — Clcusses soGWÀs
A classe social é o conjunto de pessoas que se distinguem
pelos traços específicos de cultura e de situação econômica.
É um estrato social não-hereditário, cujos membros se
reputam socialmente iguais por^ causa das semelhanças de
profissão, educação, nível econômico, comportamento reli
gioso, atitudes morais"e políticas, habitação em certas áreas
residenciais, padrões de namôro e sexualidade, formas e tipos
de consumo, pelas mesmas condições de vida e de existência.
As classes sociais se dividem geralmente em três cama
das: 1) a classe alta ou superior, englobando cêrca de 5%
da sociedade; 2) a classe média, abrangendo aproximada-Curso de Organização Social e Política Brasileira
mente 30 a 35% da sociedade; 3) a classe baixa conglo-
bando 60 a 65% da sociedade.
A sociedade forma assim uma espécie de pirâmide, em
cujo ápice está a classe alta, a seção mediana é formada
pela classe média e a base pela classe baixa.
A classe alta é a burguesia abastada, a alta plutocra-
cia; a classe inferior é o campesinato e o proletariado.
São os seguintes os indicadores e índices distintivos da
classe social: 1) nível de educação; 2) montante de renda;
3) valor locativo da casa; 4) categoria funcional.
4 — Statiis social
O Statíis social é a posição que o indivíduo ocupa na
sociedade ou em cada grupo a que pertence.
A pessoa pode ter um status superior, quando desempe
nha um papel de relêvo na sociedade, um status médio
quando exerce uma posição neutra, e um status inferior,
quando exerce uma posição subordinada.
Um diretor de uma Faculdade, por exemplo, ocupa um
status superior, já um contínuo ou servente ocupa um status
inferior.
A pèssoa pode ter tantas posições ou status quantos
grupos a que pertencer. Pode ser um chefe de família e
simultâneamente um professor e um líder político.
Já o papel social representa o aspecto dinâmico do
status, é na realidade o desempenho de direitos e deveres
que constituem o status.
5 — Estratificação social
A estratificação social é a diferenciação da sociedade
em camadas hieràrquicamente superpostas.
A palavra procede do latim stratus, estrato ou camada.
A estratificação pode ser horizontal quando as camadas
ou classes têm o mesmo valor, significado e importância so
cial; pode ser vertical, quando se acham superpostas em
camadas diferentes de situação, nível e importância social.
Exemplo de uma estratificação horizontal: os grandes
banqueiros e grandes industriais.
Eimmplo de uma estratificação vertical: a burguesia e
o proletariado^ , ^
A ®sl^fificação é üm fato social universal. Na velhaRoma existiam os patariaios e plebeus, na idade média os
A Estrutura Social 15
senhores feudais e os vassalos, no mundo atual a burguesia
e o proletariado.
Cumpre ainda distinguir as três seguintes formas prin
cipais de estratificação social: 1) Estratificação polUicjCf,
que é a diferenciação da sociedade em governantes e gover
nados; 2) Estratifióação econômica, baseada no grau de ri
queza e de renda; 3) Estratificação profissional, fundamen
tada na diferença das profissões e na hierarquia dos salários.
São estas as principais formas de estratificação social,
que assim opera naturalmente na sociedade.
6 — Mobilidade social
A mobilidade social significa o movimento dos indiví
duos, grupos e valôres dentro dos quadros da sociedade.
A mobilidade tanto pode ser vertical como horizontal.
A mobilidade horizontal é o deslocamento de uma classe,
um indivíduo, um valor ou um grupo na mesma esfera ou
nível social.
A mobilidade vertical é o deslocamento de classes, in
divíduos, valôres ou grupos para outra esfera ou nível social
diferente. A mobilidade vertical pode ser ascendente ou
descendente, quando o deslocamento se processa para capas
ou níveis sociais superiores ou inferiores.
Exemplo de mobilidade horizontal: um grande fazen
deiro e criador de gado que se transforma em grande ban
queiro, com o mesmo nívèl de renda.
Exemplo de mobilidade vertical descendente: uma pro
fessora que se transforma em servente; exemplo de mobili
dade vertical ascendente: uma servente que se transforma e
adquire o stalus de professôra.
Diversos são os canais de ascensão social, como as uni
versidade, as escolas, a igreja, o exército, os bancos, etc.
QUESTIONÁRIO
1 — O que é espaço social ?
2 — Qual a diferença entre espaço social e espaço geo-
gráfico ? ,.
3 — Que se entende por classe social?
4 — Como se representam as seções da pirâmide social?
5 _ Quais os principais indicadores de classes sociais?
6 — Definir status e papel social.
7 — Que se entende por estratificação social?
16 Curso de Organização Social e Política Brasileira
8 — Quais os principais tipos de estratificação social?
9 — Qual a estratificação social de sua classe?
10 — O que é mobilidade social?
11 — Como se classificam as espécies de mobilidade social?
12 — Mencionar alguns exemplos de mobilidade social.
Capítulo VI
A CULTURA
1 — Noção de cidtura
As sociedades se apresentam com determinados carac
teres e sinais distintivos nas diversas regiões da terra. Rece
bem influência do ambiente, da tradição, do mundo circun-
dante, sofrem a influência dos fatores raciais, são assim
grupos nitidamente diferenciados; têm um estilo de vida
próprio, um determinado comportamento coletivo indivi-
duante. Tudo isto constitui por conseguinte a sua cultura.
O que é assim a cultura?
A cultura é o conjunto de bens espirituais e culturais
que caracterizam os grupos humanos.
A cultura é o conhecimento do grupo armazenado (na
memória dos homens, nos livros, nos objetos) para uso
futuro.
A cultura é em^ suma o conjunto de crenças, costumes,
normas, artes, hábito de alimentação, técnicas, artefatos,
em suma todo o patrimônio material e espiritual da socie
dade.
Nenhuma sociedade vive sem a sua cultura própria,
que pesa sôbre a geração dos vivos. A sua aquisição da
aprendizagem e da educação é necessária, por isso a cultura
é uma herança social.
Divide-se geralmente a cultura em dois aspectos bási
cos : a cultwra Tnxiierial e a cvltura espinrUual.
A cultura material é a totalidade dos objetos, instru-
menms e equix>amentos materiais (ferramentas, edifícios,
as idéias S^Mina?^^' automóveis, etc.), que corporificam
totaliza as idéias, crenças, senti-
™®«taiç6es, valôres, conhecimentos,ciência, mcnica, manifestações reliigiosas e artísticas de uma
A Cultura 17
Ambos os aspectos da cultura se integram no conceito
da cultural total, espiritual e material ao mesmo tempo.
2 — Caracteres fundamentais das culturas: transmis
são, acumulação, integração, aculturação, retardamem,to,
marginalidade, difusão, mudança.
As culturas nascem, se desenvolvem e progridem, por
vêzes se retardam e desaparecem, emprestam e difundem
seus elementos a outras sociedades ou ainda destas recebem
novos elementos espirituais e materiais.
O primeiro característico básico da cultura é a trans
missão. Toda sociedade tránsmite o seu patrimônio cultural
às novas gerações. Os ensinamentos são transmitidos de
geração a geração através da educação. É a herança cul
tural do grupo.
Segundo caracterísco da cultura é a acumulação. A nor
ma básica é a de que sempre crescem a soma de conheci
mentos e o patrimônio cultural e moral. Tal crescimento é
cumulativo, embora não seja uniforme e contínuo.
Terceiro elemento distintivo de cultura é a continvida^
de. As gerações do presente nunca perdem totalmente as
suas raízes com as gerações do passado. Há laços de conti
nuidade reais e duradouros entre as diversas gerações.
Quarto traço característico é a integração. Mediante
ela'os diversos elemeptos da cultura se harmonizam e se
articulam em uma totalidade orgânica e em uma unidade.
Quinta nota distintiva é o retardamento. Muitas vêzes
os diversos setores da cultura não crescem de maneira uni
forme, uns se atrasam em relação a outros, e daí o fenô
meno do retardamento cultural.
Outro traço distintivo é a acultura/Ção. O que significa
a aculturação? É a modificação de uma cultura através dos
contatos sociais diretos ou indiretos que ela tem com cultu
ras diferentes.
É de assinalar-se que pode ocorrer ainda o caso da
marginalidade das culturas, através de conflitos mentais
proporcionados pela posição da pessoa diante de duas cul
turas diferentes, como o caso dos judeus ou de sírios vivendo
em outro país que o seu de origem.
Chama-se por sua vez difusão cultural a extensão de um
elemento de uma^ cultura para outra, ou a propagação de
elementos culturais de uma sociedade paraoutra. Por exem-
18 Curso de Organização Social e Polítíca Brasileira
pio: a minissaia propagou-se da Inglaterra para o mundo
ocidental.
Enfim a mudança cultural é a substituição de traços,
complexos elementos e instituições da cultura, provocados
pela difusão ou pela invenção.
Tais são em suma as principais notas distintivas da
cultura.
QUESTIONÁRIO
1 — Que se entende por cultura?
2 — Quais os aspectos básicos da cultura?
3 — O que é cultura espiritual?
4 — O que é cultura material?
5 — Definir: Transmissão cultural, acumulação, continui
dade, integração, aculturação, retardamento, margina
lidade, difusão, mudança.
Capítulo VII
O DESENVOLVIMENTO NACIONAL
1 — A idéia do desenvolvimento
A idéia do desenvolvimento é hoje noção básica da po
lítica, da sociologia e da economia. É uma palavra mágica
que soa com entusiasmo na mente dos políticos e estadistas.
Com ela se estimulam as energias nacionais e se acalenta a
idéia do progresso.
Por vêzes se usam indistintamente as noções de desen
volvimento, crescimento econômico e progresso.
As Constituições do Brasil de 1967 e 1969 aludem repe
tidas vêzes ao desenvolvimento.
O que é o desenvolvimento?
O desenvolvimento significa a passagem de uma socie
dade agrária, baseada na produção de produtos agrícolas,
em uma sociedade^ industrial, com as mudanças sociais e
de mentalidade decorrentes de tal transformação.
Todas as nações atuais buscam o desenvolvimento, com
a sua meta principal que é a industrialização.
O papel relevante que a industrialização representa e
de tal significado que inclusive se formulou a seguinte
da sociologia e da economia, que é a lei de PETTY-CLARK-:
São ricos os países industriais, são pobres os países agrí
colas. I
o Desenvolvimento Nacional 19
Geralmente se dividem as nações, conforme o seu grau
de desenvolvimento, em três grupos: a) nações desenvol
vidas; b) nações em desenvolvimento; c) nações subdesen
volvidas.
2 — Os caracteres do desenvolvimento
Há determinados caracteres distintivos que permitem
diferenciar os países desenvolvidos e os países subdesen
volvidos. \ \
Tais caracteres se chamam testes mi indicadores do
desenvolvimento. Os testes ou indicadores são primámos e
secicndÁrios. O principal indicador primário é o grau de
industrialização.
São em geral os seguintes caracceres dos países subde
senvolvidos: a) forte mortal.dade, sobretudo a mortalidade
infantil; b) vida média baixa da população, de 30 a 40 anos;
c) forte fecundidade da mulher, com ausência da limitação
de' filhos e visível explosão demográfica; d) alimentação
insuficiente, com um número de calorias inferior a 2.500
e alimentação fraca de proteínas; e) forte proporção de
analfabetos, acima de 50%; f) forte proporção de agricul
tores e pescadores; g) inferioridade social da mulher e ausên
cia de trabalho fora do. lar ; h) trabalho de menores a co
meçar de 10 anos, ou mesmo antes; i) debilidade da classe
média; j) regime autoritário com ausência das instituições
democráticas; 1) insuficiente industrialização e tecnologia.
Dêstes indicadores a industrialização é o elemento deci
sivo, eis que a industrialização provoca a maior riqueza ou
renda absoluta nacional da comunidade.
8 — A riqueza das nações: o PNB e a renda per capita
A riqueza das nações se mede de um modo geral pelo
seu PNB ou produto nacional bruto, isto é, tudo que uma
nação produz durante um ano. Tal riqueza é hoje medida
em dólares, como a moeda* de liquidez internacional.
As nações mais ricas ou a,s grandes superpotências são
os Kstados Unidos e a URSS, áo lado das seguintes grandes
potências: Alemanha Ocidental, Reino Unido, França, Japão,
China, Itália, Canadá, índia.^
Eis o PNB das dez potências mundiais, isto é, dos 10
países de maior ^vulto, em 1965, bem como a renda p^r
capita, e em bilhões de dólares:
20 Curso de Organização Social e Política Brasileira
PNB
(1965)
PNB per capita
(1965)
1) Estados Unidos 692,3 3.5?7
2) UKSS 297 1.288
3) Alemanha Ocidental
(inclusive Berlim Ocidental).. 112,4 1.095
4) Reino-Unido 98,5 1.804
5) França 94,1 1.924
6) Japão 84 857
7) China 60 75
8) Itália 56,8 1.101
9) Canadá 48,3 2.464
10) índia 48,3 99
É interessante ainda assinalar a posição de 19 países
contendores que se colocam abaixo das grandes potências
mundiais, entre êles o Brasil:
-
' PNB
(1965)
PNB per capita
(19Ô5)
11) Polônia 30,3 962
12) Alemanha Oriental 1.574
13) Brasil 23 280
14) Austrália 22,9 2.009
15) Tchecoeslováquia 22 1.554
16) México 19,4 455
17) Suécia 19,3 2.497
18) Romênia 14,4 757
19) Argentina 11 492
20) Paquistão 10,5 91
21) Indonésia 99
22) África do Sul 9,26 503
23) África do Sudoeste 9,26 503
24) Nova Zelândia 5,1 1.392
25) Colômbia .. 5 277
26) RAU .. 166
27) Nigéria ... 83
28) Tailândia ij 126
29) Israel 1.334
30) Taiuã 221
o Brasil Como Potência Latino-Âmericana 21
Na atualidade, por estranho que pareça, tende a am
pliar-se a diferença de PNB e de renda per capita entre os
países desenvolvidos e os países subdesenvolvidos. Êste é
um dos aspectos mais graves da presente conjuntura inter
nacional.
A renda per capita é a renda anual de que dispõe cada
habitante de uma coletividade nacional, é a sua renda anual.
Como se obtém a renda pçr capitai Ela é o resultado
da divisão por habitante da renda nacional.
Suponhamos um país com 80 bilhões de dólares de renda
nacional (PNB) e com 40.000.000 de habitantes.
A sua renda per capita é a seguinte:
80.000.000.000
Renda per capita = — 2.000
40.000.000
Êste número de 2.000 dólares é a renda per capita
dos países em aprêço.
QUESTIONÁRIO
1 — O que significa a palavra desenvolvimento?
2 — Quais as Constituições do Brasil que falam de desen
volvimento?
3 — Como se classificam as nações quanto ao grau de de
senvolvimento ?
4 — Quais os principais indicadores ou testes de desenvol
vimento?
5 — Que se entende por PNB?
6 — Que se entende por renda per capita?
7 — Quais as nações mais ricas do mundo em PNB?
8 — Qual o PNB do Brasil?
9 — Qual a renda per capita do Brasil?
Capítulo VIII
O BRASIL COMO POTÊNCIA LATINO-AMERICANA
1 A gra/ndeza do Brasil
O Brasil^ de certo modo ocupa uma posição privilegiada
no mundo e isto é um motivo de justo orgulho para os bra
sileiros. A herança moral, espiritual e material transmi-
22 Curso de Organização Social e Política BrasUeira
tida como um precioso legado pelos nossos antepassados,
pelo seu trabalho, seu amor à pátria, seu sangue, deve ser
entrepe intata e enriquecida às novas gerações de amanhã.
A posição do Brasil no ano 2000 será possivelmente
de uma po.encia mundial. O poder de uma nação deve ser
med do através de determinadas variáveis chaves que per
mitam aquilatar o seu grau de desenvolvimento, fôrça e
piesngio mundial. É possível então projetar determinadas
variaveis chaves na sociedade.
_ Tais variáveis compreendem principalmente a j^opnla^
pao, o produto nacioYial bruto (PNB), a alfabctização, as
fontes de energia, o poder militar.
PelR sua população, que é uma das maiores do mundo,
ocupa o^ Brasil uma posição de destaque. Em 1965, a sua
população atingiu 82.200.000 habitantes, com uma taxa de
crescimento anual de 3,1. No ano 2000 a população do Bra
sil deverá atingir 212.000.000 de habitantes.
O PNB do Brasil de 1965 foi de 23 bilhões de dólares,
o maior da América Latina, superior ao do México (19,4
bilhões) e da Argentina (11 bilhões de dólares), devendo
atingir uma média de 107 bilhões de dólares no ano 2000.
A renda per capita do Brasil em 1965 era de 280 dó
lares, devendo alcançar a média de 506 dólares por pessoa
no ano 2000.
Verifica-se por conseguinte que o Brasil é a maior po
tência latino-americana em população e renda nacional ab
soluta (PNB), como também o é em recursos naturais e
poder militar. Isto lhe concede invejável posição para a es
calada do podermundial nas próximas gerações.
A juventude brasileira não deve descuidar-se do seu
desempenho com entusiasmo ao progresso e crescimento
ewnômico ou espiritual do País. Para assim libertar a na
ção de todas as servidões, tanto da servidão econômica como
da servidão da ignorância.
2 A dist/nbuição da renda
A riquéza da nação brasileira, como a de tôdas as na
ções, ^ acha dividida pelas classes e camadas sociais do
povo Ha mna Bir^ide da renda.
da renda tem sido feitapor diferentes pesquisadores.
i
o Brasil Como Potência Latino-Americana 23
Esta renda está assim distribuída em 1969, calculada
em 350 dólares por pessoa:
População Renda per Renda Total j |
% da (1.000 capita (1.000.000
população habitantes) (dólares) (dólares)
50 45.000 130 5.850
40 36.000 250 12.600
9 8.100 880 7.128
1 90.000 6.500 5.850
100 350 31.428
O Estado contemporâneo, que é um Estado baseado no
bei7i-estar social, que os estudiosos inglêses e norte-ame
ricanos chamam de social loelfare State, procura sempre
um equilíbrio mais harmônico e justo na distribuição da
renda a fim de estabelecer a justiça social.
QUESTIONÁRIO-
1 — Quais são as variáveis chaves que permitem aquilatar
a grandeza de uma nação?
2 — Qual a posição do Brasil na América Latina?
3 — Qual o PNB do Brasil em 1965?
4 — Qual a renda per capita do Brasil em 1965?
5 — Qual a população do Brasil estimada em 1965?
6 — Que se entende por PNB?
7 — Que se entende por renda per capita?
8 — Como se obtém a renda per capita?
2.^ PARTE
A SOCIEDADE POLÍTICA
capítulo IX
o ESTADO
1 — A pcda/vra Estado
A palavra Estado é de origem italiana, surgiu na Re
nascença, para designar uma comunidade política, como por
exemplo o Estado de Florença. Antigamente se usavam as
expressões seguintes: polü entre os gregos e república en
tre os romanos.
O Estado é no fundo a sociedade politicamente orga
nizada.
No Brasil, a palavra Estado tanto se emprega para
designar o poder central, a União (o Estado brasileiro),
como os podêres locais, como o Estado de Pernambuco.
2 — O conceito de Estado
O Estado é sobretudo hoje em dia a sociedade ou a
nação politicamente organizada.
Êle é tão antigo quase como a própria humanidade.
Resulte da aglomeração de famílias e tribos, na necessidade
de fortalecer a unidade do grupo, de manter a ordem interna,
de assegurar a defesa externa contra os inimigos comuns,
de consolidar o patrimônio cultural e material da comuni
dade.
Como defini-lo?
Curso de Organização Social e Política Brasileira
O Estado é aquela sociedade em que se processa uma
deferenciação entre governantes e governados, e onde os
governantes detêm o monopólio de coação legal.
O Estado também pode ser definido como o agrupa
mento humano, fixado sôbre um território determinado e
dispondo de um comando central. Êste comando central é
geralmente soberano.
3 — Elementos constitutivos do Estado
O Estado pode ser visto como formado de três elementos
constitutivos: a) o povo; b) o território; c) o govêrno.
O povo é a totalidade de pessoas que habitam uma socie
dade, um determinado espaço geográfico. Distingue-se natu
ralmente do eleitorado, que é o conjunto de cidadãos que
dispõem do direito de voto.
O território é o espaço físico e o geográfico onde habita
a coletividade humana e sôbre o qual o Estado exerce o seu
poder de comando. É o território sôbre o qual o Estado tem
a sua soberania. i
Êste território abrange ainda o subsolo, a atmosfera
ou õ espaço aéreo correspondente ao território, a plataforma
continental e as águas territoriais. Antigamente as águas
territoriais iam até o alcance da bala de canhão.
Hoje as águas territoriais do Brasil, segundo recente
decisão do govêrno em 1970, alcançam até 200 milhas da
costa. Êste alcance do mar territorial é admitido por 9 países
latino-americanos, entre êles a Argentina, Uruguai, Peru e
Equador. Com isso se visa a defesa das riquezas marítimas,
a pesca, o petróleo, além da defesa do país.
O outro elemento do Estado é o govêrno, com o conjunto
de pessoas que dirigem o Estado. Êste govêrno exerce geral
mente o poder da soberania.
4 — A soberania
A palavra soberania vem do latim medieval superanus.
empregada no sentido moderno por
A Da Rejmblica (1576).
e 1.Í" ^ decisão em última instância.Se ha var.os poderes na sociedade o do chefe de família,
o do sindicato, o dos clubes fat^cU^s T naturalmente
necessário que exista um poder mX eSp! que é o poder
Formas ou Tipos de Estado 27
soberano ou o poder dotado de soberania, que decide os con
flitos.
A soberania divide-se em interna e externa ou inde
pendência.
A soberania é assim um poder superior aos demais
podêres.
QUESTIONÁRIO
1 — De onde se origina a palavra Estado?
2 — Como se define o Estado?
3 — Quais os elementos constitutivos do Estado?
4 Qual o alcance das águas ou do mar territorial?
5 — Que se entende por soberania?
6 — O que é o território do Estado?
Capítulo X
FORMAS OU TIPOS DE ESTADO
1 Os tipos de Estado
O Estado se divide em dois grandes tipos: o Estado
simples e o Estado composto^
O Estado simples é aquele que não se divide em partes
internas que merecem o nome de Estado. Exemplos: a Fran
ça atual é um Estado unitário ou simples constituído por
90 departamentos; o Brasil durante o Império (1822-1889)
com as suas províncias descentralizadas.
O Estado composto é aquêle que se divide em partes
internas que merecem o nome de Estado.
Entre as principais formas de Estado composto se men
cionam as seguintes: a União pessoal, a União real, a União
incorporada, a Confederação de Estados e o Estado federal.
Só a última dessas formas, a saber o Estado federal, tem
hoje importância histórica.
Na União pessoal um soberano governa dois Estados
enquanto vive ou durante um certo tempo.
Na União real dois Estados soberanos se reúnem sob
o domínio de um só soberano em caráter definitivo.
Na União incorporada dois ou mais Estados se fundem,
mas conservam o direito de secessão.
Na Confederação de Estados, cada Estado associado
conserva a sua soberania.
Curso de Organização Social e Política Brasileira
2 — O Estado federal
O Estado federal se originou das condições atuais de
países com uma grande extensão territorial, com diversidade
de interêsses regionais e nos quais se procurou unir em
síntese política proveitosa a unidade nacional diante da
pluralidade dos interêsses regionais.
O Estado federal é aquêle tipo de Estado composLo
formado com duas ordens de competências ou dois governos
(o govêrno central e os governos estaduais), no qual o go-
vêmo central dispõe da sobedoria e os governos estaduais
dispõem de um poder limitado de organização política e
constitucional.
O Estado federal pode originar-se de duas maneiras:
a) pelo^ tratado, quando diversos Estados soberanos
renunciam à sua soberania, transferida à União que se
fomia, como nos Estados Unidos em 1787; h) por um
movimento nacional, quando as antigas províncias do Estado
unitário se transformam em Estados membros da federação,
como no Brasil em 1891.
São exemplos de Estado federal hoje em dia, entre
outros: os Estados Unidos, Brasil, Argentina, México, Aus
trália, URSS, Canadá, índia, etc.
3 — O Federalismo Brasileiro
O Brasil constitui uma repúbhca federativa desde 1891
até a presente data, com a sua última Constituição que é
a de 1969.
Entre os principais elementos que caracterizam o fe
deralismo brasileiro se mencionam os seguintes:
a) a existência da União ou do poder central dotado de
soberania e com uma constituição; b) a existência dos
Estados-membros da federação, dotados de autonomia cons
titucional de acôrdo com os princípios da Constituição fe-
deral e com autonomia política local com os seus três podêres
(legislat^o, ex^çutivo, judiciário); c) a descentralização ad-
® direito de intervenção da União nosEstadc»-a fim obrigá-los a cumprir os seus
' <lWdo preciso; e) a proibição dosEstados-membros de agüêèm na esfera legislativa e admi-
Mtrativa pr^^ com desrespeito, às leis como à Cons
tituição Federal, /) a existência djb Supremo Tribunal
0 Povo
Federal, como órgão supremo do Poder Judiciário, encar
regado de velar pela defesa do regime constitucional.
questionário
1 — Como se classificam os Estados?
2 — Que se entende por Estado simples?
3 — Que se entende por Estado composto?
4 Quais as principais formas do Estado composto.
5 — o que é Estado federai? , ^
6 Mencionar os principais caracteres do Estado teaerai
brasileiro.
Capítulo XI
O POVO
1 o sentido da palavra povo
A palavra povo vem do latim poptdus. Ela é usada em
vários sentidos, como multidão, massa, plebe, população,
conjunto de cidadãos, nação, país. Estado. Muitas dessas
significações permanecem no vocabulário atual da língua^
Podem-se atualmente distinguir as seguintes acepções
da palavra povo, além daquelas há pouco mencionadas:
u) a significação natural (ia palavra povo, como o conjunto
de pessoas que vivem em lugar de pequena dimensão (aldeia,
vila, engenho, fazenda, montanha, beira de rio), ou ainda
como multidão, massa, turba ou afinal como a parte humilde,
pobre e desfavorecida de uma sociedade; b) no sentido res
tritamente político, contudo, o povo é a própria populaç^,
o próprio elemento humano constitutivo e integrante do
Estado.
2 — Povo, riação e Estado
O povo é o elemento humano ou a população do Estado.
Nem todo povo forma uma nação, a nação assim é um con
ceito diferente de povo'.'
A nação é o povo constituído por uma certa comunhão
de origem, de língua, de tradições, de sentimentos comuns,
com um patrimônio moral e espiritual, idêntico, entrelaçado
pela amizade cívica, animado pelo ideal da grandeza e pros
peridade do país.
30 Curso de Organização Social e Política IJrasileira
O Estado é a nação politicamente organizada. "En
quanto o Estado — diz DELOS — organiza uma ordem
jurídica exterior e legal, a Nação afeta o homem no seu
mais íntimo recesso e marca-o com o seu gênio nacional".
A nação nem sempre coincide com o povo ou com o
Estado.
Há nações sem Estado, como acontece com os ciganos,
e acontecia antigamente com os judeus, que só no século XX
fundaram o seu Estado, o Estado de Israel.
( Há povos com várias nações, como a Iugoslávia, formada
de sérvios, croatas e eslovenos, os Estados formados por
múltiplas nações, como a URSS, constituída de cêrca de
40 nações.
Muitas vêzes uma nação pode ser partilhada por di
versos Estados, como a Polônia dividida pela Rússia, Áustria
e Prússia.
3 — A Pátria
Quando a nação possui durante largo tempo um terri
tório próprio e goza de independência e unidade, conser
vando a sua. personalidade moral através dos séculos, ela
se organiza, como uma só pátria.
A palavra pátria significava a princípio a terra dos
antepassados {terra patrum), o território habitado por
nossos antepassados.
A idéia de pátria é complexa e envolve múltiplos senti
mentos, a saber: a) a idéia do território comum e da soli
dariedade humana entre os seus habitantes; 6) a vinculação
afetiva e cívica entre os habitantes do presente e as raízes
de tal sentimento projetadas no passado; c) o elemento
material e humano formado pelo território e pelos habi
tantes, é o Qorpo da na^; d) a stia alma, isto é, a unidade
de crenças, moral, idéias, sentimentos da religião, língua,
costumes, aspirações, tudo entrelaçado numa síntese orgâ
nica comum.
A pátria é, assim, uma verdadeira pessoa moral.
4 — O patriotismo
O ® o amor à pátria, o devotamento à sua
pandeza, o culto dos antepassados, o enleio telúrico pela
beleza e fascínio do mundo onde se iasceu
•X- ^ o amor à pátria, que significa sempre um ideai de engrandecimento comuni-
0 Poder Político 31
Mas O amor à pátria não se opõe ao amor à humanidade.
"Um amor que nada admite superior à Pátria — es
clarece DE HOVRE — desampara o homem e acaba por
desamparar a Pátria". Daí afirmar CHESTERTON que
patriotismo degenera em vício quando transformado em
virtude suprema.
QUESTIONÁRIO
1 — Que se entende por povo ?
2 — O que é uma nação? \
3 — Qual a diferença entre povo e nação?
4 — Que se entende por pátria?
5 — o que significa o patriotismo?
CAPÍTULO XII
O PODER POLÍTICO
1 o poder politioo e a soberania
O poder é a capacidade de impor a vontade própria na
vida social, mesmo contra a resistência de vontades alheias.
O poder é um elemento constitutivo do Estado, for
mando a sua autoridade. A autoridade jiolítica é o próprio
poder revestido de um conteúdo moral e legal.
A autoridade política do Estado é soberana, sendo assim
a soberania a autoridade suprema do Estado.
Admite-se que só há Estado quando há soberania.
2 — lÁmites (ho poder do Estado
A autoridade do Estado é soberana, mas a soberania
não significa absolutismo. O poder do Estado é soberano,
mas não é absoluto.
Assim sendo o poder sofre limitações, e estas limitações
são de natureza externa e natureza interna.
As limitações externas à soberania provêm da própria
convivência com outros países do mundo, expressas em tra
tados, convenções, pactos, acordos, etc.
As limitações internas ao poder do Estado são, entre
outras, as seguintes: a) a constituição como lei fundamental
do Estado; b) os costumes; c) os princípios de justiça e
32 Curso de Organização Social e Política Brasileira
direito natural respeitando a dignidade da pessoa humana;
d) os direitos do cidadão e dos demais grupos sociais; e) as
leis morais, para que o Estado se apresente como um padrão
de dignidade.
3 — As fontes do poder pelitioo
O poder político implica na autoridade de mandar, de
impor obediência e por conseguinte de ser realmente obe
decido.
A autoridade exerce um comando e êste deve receber
respeito e obediência, o cidadão sendo obrigado a cumprir
e respeitar os comandos legais.
Mas é preciso encontrar uma base moral e um funda
mento ético para o dever de obediência, do contrário êste
tende a descumprir os preceitos do Estado, por reputá-los
injustos.
Por isso mesmo, os filósofos e o homem comum do povo
sempre se preocuparam com as razões e os motivos da sua
obediência.
Os filósofos deram resposta a tais perguntas, como
PLATÃO, ARISTÓTELES, MAQUIAVEL, LOCKE, ROUS-
SEAU, MONTESQUIEU, HEGEL, KANT, entre inúmeros
outros.
Responde-se então a estas perguntas: A qu&m pertence
o poder e como êle nasce?
São as seguintes as respostas: a) o poder nasce de Deus
e pertence a Deus, é a fórmula das teocracias; b) o poder
pertence ao rei e nasce com o rei, é a fórmula da monarquia
absoluta expressa por LUÍS XIV: "O Estado sou eu";
c) o poder pertence a uma classe e nasce com uma classe,
é fórmula das aristocracias e das oligarquias; d) o poder
pertence ao próprio Estado e nasce com o Estado, é a fór
mula das ditaduras totalitárias; e) o poder nasce com o
povo e pertence ao povo, é a fórmula da democracia.
quistos
^ ^ po-üo corno fonte do poder político e suo^ cori-
tos 1 1
® povo é a fonte do poder políti^*
A Francesa de 1789, da Revolução No^
® Revolução Párlamentarista inglesade 1688.
o Poder Político 33
O poder político repousa na vontade da maioria, do
eleitorado que governa por intermédio dos seus. representan
tes (presidente, governadores, Congresso Nacional, etc.).
Mas a ascensão do povo para a conquista dos seus
direitos foi lenta. Os reis se sentiram os únicos donos do
poder, era a sob&rania do rei.
Com o ciclo das grandes revoluções ocidentais (Ingla
terra, Estados Unidos, França), o povo conquistou os seus
principais direitos civis privados (liberdade de consciência,
de religião, de expressão do pensamento, etc.) ou os seus
direitos políticos (direito de voto, de representação, de for
mação de partidos, etc.) y
Mais tarde conseguiu o povo conquistar outrosdireitos
de natureza social e econômica, como o salário-mínimo, a
estabilidade, o fundo de garantia, o auxílio à gestante, o
seguro social, completando a sua evolução na conquista do
poder político.
5 A separação de podêres
O poder político se encontra hoje em dia dividido em
três grandes ramos: o Poder Legislativo, o Poder Executivo
e o Poder Judiciário.
É a teoria da separação de podêres que foi formulada
por JOÃO LOCKE na Inglaterra e por MONTESQUIEU
na França, êste último no seu livro Do Espírito das Leis,
publicado em 1748.
A teoria da separação rígida dos três podêres foi pela
primeira vez concretizada na Constituição norte-americana
de 1787.
Para que se separam os podêres? Para limitá-los e
contê-los, num sistema de freios e contrapesos. "Para evitar
0 despotismo" — dizia MONTESQUIEU — "é preciso que o
poder detenha o poder".
O Poder Legislativo é o poder que elabora, revoga, altera
e emenda a lei.
O Poder Executivo é o poder que administra a coisa
pública. , ,.
O Poder Judiciário e o .poder que aplica as leis.
É esta a separação tripartida do poder.
QUESTIONÁRIO
1 o que significa o poder?
2 Que se entende por autoridade política?
36 Curso de Organização Social e Política Brasileira
Mais tarde São Tomás de Aquino chama as formas
puras de governos legítimos e as formas impuras de governos
ilegítimos em seu livro Do Regime dos Príncipes.
Outro pensador político italiano da Renascença, Ma-
QUIAVEL, publicou um ensaio intitulado O Príncipe, onde
apenas menciona uma classificação dualista, a saber, a mo-
vnarquia e a república.
Uma classificação moderna pode catalogar as seguintes
formas de govêrno: a) monarquia; b) aristocracia; c) dita
dura, d) democracia.
3 — Conceitos de monarquia, aiistocracia, ditadura e
Democracia
A monarquia é o govêrno de uma só pessoa, na sua
acepção histórica inicial, mas hoje em dia outros órgãos se
associam junto ao monarca, às vêzes preponderantemente.
A monarquia pode ser: a) absoluta, quando o rei exerce
o poder de uma forma ilimitada; b) constitucional quando
o monarca está submetido a uma lei fundamental ou cons
tituição, que disciplina a sua vontade; c) parlamentar,
quando o monarca governa por intermédio do parlamento,
eleito pelo povo em eleições periódicas, e que designa um
ministério ou gabinete, que tem a missão de governar.
A aristocracia é o govêrno de uma classe privilegiada.
É o que ocorreu na velha Grécia, em Roma, Cartago e nas
cidades da Idade Média, com a república dos doges em Ve
neza, Gênova, Florença, etc.
A ditadura é a concentração dos podêres do Estado em
um só órgão, é a hipertrofia do poder executivo. Há dois
tipos principais de ditaduras: as ditaduras de direita (Por
tugal, Espanha, a Alemanha de Hitler, a Itália de Musso-
lini) e as ditaduras de esquerda ou ditadura do prole
tariado (União Soviética, desde 1917, China marxista desde
1949, Cuba, etc.).
Já a democh^acia é o govêrno constitucional do povo, é
a forma de govêrno predominante no Ocidente europeu e no
mundo norte-americano (França, Itália, Alemanha Ociden
tal, Estados Unidos, etc.).
questionário
1 — Que se entende por govêrào?
2 — Que se entende por governar ?
37
A Democracia
3 _ Como se classificam as formas de governo?
4 — o que é monarquia?
5 — o que é aristocracia?
6 — O que é ditadura?
7 — O que é democracia?
Capítulo XV
Á DEMOCRACIA
1 — o conceito da democracia .
A democracia é um ideal acalentado pelo espírito hu
mano que se realiza lentamente na história. É de essência
evangélica e repousa num sentimento, que é o respeito à
eminente dignidade do homem.
Etimològicamente, a palavra deriva do grego demos
ou povo e cratein governar. É o govêrno do povo.
Lincoln afirmou: a democracia é o govêrno do povo
pelo povo e para o povo. É uma definição famosa do regime.
Nas democracias o povo ou o corpo eleitoral, formado
pelos cidadãos adultos com o direito de voto, elege periodi
camente os principais agentes.do govêrno, do legislativo e
do executivo, escolhidos livremente e sem coação como os
seus principais representantes.
A democracia existiu imperfeitamente no mundo antigo
(grego e romano), mas adquiriu plenitude no mundo mo
derno, onde se opõe às místicas do totalitarismo.
2 — Tipos de democracia
A democracia se apresentou na história com três tipos
mais importantes: a) democracia direta; b) democracia re
presentativa; c) democracia mista.
A democracia direta realiza-se na antiga Grécia, quando
o povo se reunia na praça pública ou ágora e decidia os seus
problemas. Hoje ainda existe na Suíça. Teve existência his
tórica em comunidades pouco numerosas, como em Atenas,
com o seu corpo de cidadãos de apenas 10.000 pessoas.
A democracia representativa é aquela em que o eleito
rado escolhe os agentes do poder executivo e do legislativo,
os quais, em seu nome, exercerão as funções do govêrno.
É a modalidade da democracia contemporânea (Estados Uni
dos, Alemanha Ocidental, França, Itália, etc.).
38 Curso de Organização Social e Política Brasileira
A democracia mista é uma combinação da precedente:
0 povo gnverna por intermédio dos representantes, mas con
serva uma maior vigilância e fiscalização sôbre êles por
intermédio de alguns instrumentos de ação.
Quais são tais expedientes de controle do povo sôbre
os governantes?
São os seguintes: o recall, ou iniciativa popular, o refe-
rendum e o plebiscito.
O recall ou direito de revogação é o poder que tem o
eleitorado de destituir ou revogar os mandatos dos legisla
dores e chefes do executivo, principalmente dos primeiros.
Funciona nos Estados Unidos, Suíça, Áustria, etc.
A midativa popular é o poder conferido ao eleitorado
de propor projetos de lei, poder que só é próprio normal
mente do legislativo ou mais raramente do Executivo na
chamada democracia representativa.
O refer&ndum é a decisão popular sôbre uma medida
legislativa. Difere do plesbicito, que é uma votação popular
sôbre uma medida ou um ato do executivo.
QUESTIONÁRIO
1 — Que se entende por democracia?
2 — Quais os principais tipos de democracia? Como defi
ni-los?
3 — O que é direito de revogação?
4 — O que é iniciativa popular?
5 Como distinguir o referendum e o plebiscito^
Capítulo XVI
PARLAMENTARISMO E PRESIDENCIALISMO
1 — Noção do pmlÁJt/m^twrisrm
O parlamentarismo nasceu na Inglaterra por volta do
ano de 1688, com o seu BiR of Rights, ou Declaração dos
Direitos. Substituiu o governo absoluto por uma modali
dade de govêmo constitucional mais legitimamente fundado
nas aspirações populares.
A Inglatewa^ é assim a mãe ou a terra madre do parlamentarismo, hojé adotado na França^ Itália, Alemanha Oci-
Parlamentalismo e Presidencialismo 39
dental, Suécia, Noruega, Bélgica, Holanda, Canadá, índia
e inúmeros outros países.
No parlamentarismo o govêrno é formado por uma co
missão ou gabinete — daí o nome govêrno de gabinete —
eleitos pela maioria parlamentar existente no Parlamento e
também revocável pela vontade desta mesma maioria par
lamentar.
No parlamentarismo há uma dualidade do poder exe
cutivo: a) o chefe de Estado, que é o monarca ou o Presi
dente da República; b) o chefe de govêrno, que é o Primei-
ro-Ministro.
Há monarquias parlamentares como a tradicional Ingla
terra e também repúblicas parlámentares (França, Itália,
Alemanha Ocidental).
2 — Ntoção do presidencialismo
O presidencialismo nasceu com o regime constitucional
norte-americano, mais exatamente com a sua Constituição
de 1787.
O govêrno presidencial é aquêle em que o Presidente da
República, como a figura mais importante no regime, de
cide com independência a política nacional, não podendo ser
destituído pela ação da maioria congressual.
No presidencialismo há uma unidade do poder executivo,
eis que o Presidente da República é simultâneamente chefe
de Estado e chefe de govêrno.
Originário dos Estados Unidos noséculo XVIII, o
presidencialismo se expandiu na América Latina e foi ado
tado pelo México, Argentina, Colômbia, Venezuela, etc., bem
como pelo Brasil desde a sua Constituição republicana de
24 de fevereiro de 1891.
QUESTIONÁRIO
Que se entende por parlamentarismo?
2 Quando surgiu na história política?
3 — Existe unidade ou dualidade de poder executivo no
regime parlamentar?
5 — Qual o país que primeiro adotou o presidencialismo?
Q — Quando o Brasil adotou o presidencialismo? Em que
constituição?
Capítulo XVII
OS PARTIDOS POLÍTICOS
1 — As divergências de opinião
Os homens têm na sociedade diversas opiniões a respeito
dos mais diversos assuntos; religião, economia, casamento,
divórcio, política, etc. Há o diálogo das opiniões. No regime
democrático, cada um tem o direito de expressar livremente
a sua opinião, e a liberdade de cada um termina onde começa
a liberdade alheia.
Assim pode-se pensar que o Estado deve fazer uma re
forma agrária, ou se achar que não há necessidade de tal
reforma; pode-se ser favorável ou contrário ao divórcio;
pode-se admitir ou não o voto das mulheres e dos analfa
betos. São opiniões diversas que se legitimam no regime
democrático. A democracia permite que tais opiniões se re
velem püblicamente, aceitando a decisão da opinião pública
expressa pelo voto.
Daí dizer Laski que o verdadèiro democrata deve admi
tir que a opinião do adversário pode ser correta eventual
mente e deve ser tolerante com a opinião dos demais.
2 — A opinião pública
A opinião pública é a opinião geral do povo ou a opinião
da vontade geral da comunidade. ROüSSEAU a chamou a von
tade de todos, que é sempre a vontade da maioria.
A opinião pública não é una e indivisa: há a opinião
da maioria e a opinião das minorias discordantes. Há assim
várias correntes de opinião pública. A opinião da maioria
é a opinião prevalecente nas democracias.
^ Ela se expressa de diversas maneiras, pelo rádio, tele
visão, livros, revistas, jornais, periódicos, mas tem nas de-
niocracias um órgão específico que a revela, que são os par
tidos políticos.
3 Os Partidos Políticos
. 1 partidos políticos são associações permanentes decidadaos para d exereício da ação política.
J- a ® grupos sociais dotados atualmente, emdiversos Pajses de personalidade jurídica de direito público,
como no Jorasil. •' ^
Os Partidos Políticos
Os partidos políticos são assim grupos de pessoas que
têm a mesma opinião sôbre os problemas de organização da
sociedade e de Estado, que se associam para a conquista do
poder político propondo-se a realizar um determinado pro
grama.
O Estado democrático é um Estado que consagra a plu
ralidade de partidos políticos. É assim chamado de Estado
pluripartidá^.
Tal pluralidade de partidos permite por conseguinte que
os cidadãos se agrupem de acôrdo com as suas convicções
e opiniões em grandes arregimentações partidárias. Esta di
versidade de partidos permite assim conseqüentemente a
diversidade de manifestação de pontos de vista e de con
vicções.
Já as ditaduras são geralmente Estados de um só par
tido. Chama-se tal tipo de Estado unipartidáHo. Prevalece
só uma opinião e uma crença política dominante. A União
Soviética admite só um partido único, assim também acon
teceu com a Alemanha na época do nacional-socialismo
(Hitler) e na Itália (com Mussolini). Formaram-se os
partidos únicos, o Partido Comunista na URSS, o partido
nazista, na Alemanha e o partido fascista na Itália.
Quais as vantagens, do Estado pluripartidário ? Elas
são as seguintes: a) asseguram a expressão de liberdade
política e privada do cidadão; b) permitem o rodízio do
poder, isto é, um partido majoritário pode tornar-se mino
ritário ou vice-versa; c) tal alternância é útil ao progresso
e alivia as tensões sociais.
4 — o direito de voto
As democracias se baseiam no corpo eleitoral, de cida
dãos que dispõem do poder de voto e elegibilidade (direito
de ser votado).
O voto é pessoal, pois ninguém pode votar por procura
ção, é igual, pois a cada cidadão corresponde um voto, é
secn-eto pois se vota em segredo em cabine indevassável e
é livre ou isento de pressões externas.
No Brasil o problema de voto das eleições e dos par
tidos é regulado, além dos dispositivos existentes na Consti
tuição de 1969, por três diplomas legislativos: o Código
Eleitoral (1965), a Lei Orgâniéa dos Partidos Políticos
(1971) e a Lei das Inegihilidades (1970).
42 Curso de Organização Social e Politíca Brasileira
1 — O que significa a opinião pública?
2 — Que se entende por partido político?
3 — A democracia é um Estado-de-partidos?
4 — Qual a distinção entre Estado unipartidário e Estado
pluripartidário?
5 — Enuncie as vantagens e conveniências do Estado pluri
partidário.
6 — Quais os caracteres do voto?
3.® PARTE
AS NORMAS E A ORDEM JURÍDICA
DA SOCIEDADE POLÍTICA
Capítulo XVIII
AS CONSTITUIÇÕES
1 — A palavra constituição
A palavra constituição procede do grego politéia e já
era empregada por Aristóteles. Mais tarde os romanos
usavam a expressão rempublidam comUtuere, organizar ou
constituir a República, de onde se originou o têrmo consti-
tutio e depois a palavra constituição.
A palavra constituição é usada num sentido amplo e
num sentido restrito.
No sentido amplo a constituição é a própria ordem que
regula o Estado, o conjunto de elementos (regras jurídicas,
costumes, documentos sobre o Estado e o governo). Todos
os Estados têm assim uma constituição.
No sentido restrito a constituição é o conjunto de nor
mas que: anunciam os órgãos do poder público; determinam
a sua competência e atribuições; declaram o regime político
e a forma de govêrno; fixam o sistema tributário nacional;
proclamam os^ direitos do homem e^ as garantias constitucio-
mais; determinam a ordem econômica, social e cultural;
estabelecem o sistema de desenvolvimento e de segurança
nacional.
44 Curso de Organização Social e Política Brasileira
2 — Definições sôbre a constituição
Inúmeras são as definições dadas sôbre a constituição.
Vejamos algumas:
Orban : "É a lei fundamental do Estado, anterior e
superior a. todas as outras leis".
CoOLEY: "É o corpo de regras e máximas de acôrdo
com as quais os podêres da soberania são habilidosamente
exercidos".
p. Ferreira: "é a super-lei fundamental do Estado".
As constituições se colocam numa estrutura escalonada,
hierárquica, acima das demais leis. As leis não podem con
trariar o espírito e a letra das constituições.
Os povos devem cultivar o culto da constituição e das
leis. Êsse culto enobrece os países e lhes revigora o senso
moral, é útil ao seu desenvolvimento.
Alguns conceitos são mencionados a respeito:
MONTESQUIEU: "A menor mudança numa constituição
destrói-lhe os princípios c causa-lhe a ruína".
Bentham: "A melhor constituição para um povo é
aquela à qual está acostumado".
Erasmo: "Nunca se troca a constituição de um povo
sem perturbações".
TÁCITO: "Desgraçada a República de muitas leis".
HORÁCIO: "De que valem as leis sem os costumes? Resul
tarão vãs".
3 — Tipos de Constituição
As constituições podem ser classificadas em diversos
tipos. As formas naais importantes de constituição são as
seguintes: a) constituições escritas e costumeiras; b) cons
tituições rígidas e flexíveis; c) constituições votadas e ou
torgadas.
A constituição escrita consta de documentos formais e
solenes, consignada em fôlhas de papel, estabelecendo de
modo claro a ox*ganização do Estado. Como exemplos de
constituição escrita, podem ser citadas a Constituição dos
Esta(ms Unidos de 1789, a da França de 1958, a do Brasil
de 1969, entre pptras.
A con^ituição costumeira era predominante até o fim
do século compondo-se de costumes, usos, praxes,
documentos escritos isolados. O seu exemplo atual é a Cons
tituição da Inglaterra. I ^
As Constituições
A constituição flexível é a que pode ser alteradapelo
Congresso ou pelo Parlamento por uma maioria absoluta ou
simples. . .
A constituição rígida exige solenidades especiais e uma
tramitação mais demorada de reforma. Ou se prescreve uma
maioria qualificada, ou um referendum constitucional com
a publicação da lei magna por uma aprovação do povo nas
urnas eleitorais, por um referendum constitucional.
As constituições ainda podem ser votadas ou outorga
das. No 1.° caso são elas elaboradas por assembléia cons
tituinte ou parlamentos investidos de tal atribuição. No 2.
caso são promulgadas e concedidás pelo soberano, pelo dita
dor, pelo chefe de govêrno provisório.
As constituições do Brasil de 1821 e 1937 foram outoi-
gadas; as de 1891, 1934 e 1946, foram votadas e promulga
das por assembléia constituinte; a de 1967 voi votada. Pro
mulgada e decretada pelo Congresso, investido de poder
constituinte pelo Ato Institucional n.° 4 de 1966.
4 o Poder Gonstituinte
O poder constituinte é o poder de elaborar ou de revisar
uma constituição. São assim duas as funções principais do
poder constituinte: 1) ela^opr ou criar originàriamente
uma constituição; 2) reformá-la.
A teoria do poder constituinte foi elaborada por Sieyes,
durante a revolução francesa. Êle distinguia o poder cons
tituinte ou Vútestas constitueris e o poder constituído ou
potestas cmistüuta. Êsse último se desdobra em três ramos:
Legislativo, Executivo, Judiciário.
Já uma Assembléia Constituinte é a assembléia ou
corpo representativo, eleito pelo povo, e encarregado de ela
borar ou revisar a lei magna de um país.
QUESTIONÁRIO
^ j)e onde vem a palavra constituição?
2 — Qual. o sentido amplo, das constituições?
3 Qual K) sentido usual e moderno da Constituição?
4 Defirar uma constituição,
5 Como se classificam as constituições?
Q Que países têm constituições escritas?
7 Mencione um país com constituição costumeira.
8 Que se entende por poder constituinte?
Capítulo XIX
A LEI
1 — O conceito do direito
O direito é o conjunto de condições existenciais e evo-
lucionais da sociedade asseguradas coativamente pelo poder
público. É a definição de Tobias Barreto.
É própria do direito a idéia de coação ou de sanção.
A coerção é a possibilidade de uma sanção contra o agente
que viola a lei. As normas jurídicas são assim dotadas de
um caráter de coercibilidade.
Nisto o direito se distingue de moral, que é sancionada
pela opinião pública.
2 — A Lei
Lei é a norma de conduta emanada do poder público
competente a fim de reger as relações sociais de uma de
terminada comunidade. É a norma de conduta emanada do
poder competente para legislar.
Clóvis Beviláqua define: "É a ordem, ou a regra geral
obrigatória que, emanada de uma autoridade competente e
reconhecida, é imposta coativamente à obediência de todos".
No Brasil pela Constituição de 1969, a competência para
elaborar as leis, pertence principalmente ao Poder Legisla
tivo com a colaboração do Poder Executivo.
O poder legislativo é exercido no plano federal pelo
Congresso Nacional, no plano estadual pelas Assembléias
Legislativas dos Estados membros da federação, e no âmbito
local pelas Câmaras Municipais. Surgem então as leis fede
rais, as leis estadvxiis e as leis municipais.
3 — O processo legislativo
1 acordo com a Constituição Brasileira de 1969, na
e aooraçâo das leis federais, há atos de exclusiva compe-
ncia do Congresso, Nacional, atos de competência exclu-
ava do Presidente da República.
Ao Congresso Nacfpnal compete a elaboração de:
i — emendas à Constituição ou leis que alteram ou modi-
Lcani as antigas constituições; II — Uis oomplementa/res da
Constituição ou leis que completam os predeitos do Código
A Lei 47
niagno; III — leis ordinárias, estabelecendo e formulando
normas sôbre assuntos que não sejam do conteúdo do Código
Magno; IV — resoluções legislativas; V — decretos legis
lativos.
Já ao presidente da República compete: I — a elabo
ração de emendas à CoTistituição; II — a elaboração de leis
delegadas, ou seja, leis que procedem de resoluções do Con
gresso Nacional outorgando ao Presidente podêres para le
gislar; III — a iniciativa de determinadas leis, como as leis
sôbre matéria financeira; IV — a expedição de deoretos-
leís ou decretos com fôrça de lei nos casos de urgência e
de interêsse público rate^ nte e desde que não provoquem
aumento de despesa e^brqpgurança nacional, finanças pú
blicas, incluindo normas fnliutárias, criação de cargos pú
blicos e fixação de vencimentos.
O Congresso Nacional poderá aprovar ou rejeitar os
decretos-leis no prazo de 60 dias, mas findo tal.prazo, nada
deliberando, serão tidos como aprovados.
4 — A elaboração da lei
A elaboração das leis começa com a apresentação de
projetos de lei ao Congresso Nacional que pode ser efetivada
pelos Senadores, Deputados Federais e pelo Presidente da Re
pública.
O projeto, depois de aprovado por uma das Câmaras,
é em seguida apreciado e votado pela Câmara revisora.
Quando a Câmara revisora aprova o projeto, êle é en
caminhado a sanção ou promulgação.
Se porém a Câmara revisora o emendar, será o projeto
de lei devolvido à Câmara iniciadora para novamente apre
ciá-lo. Em caso de rejeição será arquivado.
No Brasil há um regime bicameral, isto é, as duas câma
ras colaboram na feitura da lei. Contudo em outros países,
em vez de bicameralismo, há unicameralismo, como na
Tchecoslováquia, em que o Parlamento nacional se compõe
de uma só câmara, a única que assim elabora a lei.
5 — Sanção e promulgação das leis
A sanção é ato pelo qual o Presidente da República
aprova o projeto lei votado pelo Congresso.
A promulgação é o ato pelo qual o Presidente da Repú
blica dá fôrça obrigatória à lei, apondo a sua assinatura no
48 Curso de Organização Social e Política Brasileira
diploma legislativo e mandando publicá-lo na imprensa
oficial.
Se a lei não for promulgada pelo Presidente da Repú
blica, no prazo legal, fa-lo-á o Presidente do Senado e se
êste não o fizer no prazo prev.sto será a lei promulgada
pelo Vice-Presidente do Senado.
Há leis que exigem a sanção do Presidente, outras que
apenas exigem a promulgação sem a sanção.
Uma vez publicada a lei, ela se torna conhecida dos
cidadãos e tem força obrigatória. Ninguém se excusa da
ignorância da lei, não podendo alegar que da mesma não
tem conhecimento ou notícia.
6 — 0 V€to
O Presidente da República pode opor-se ao projeto de
lei do Congresso e VQtá-lo.
O v^o é por conseguinte a negação do Presidente da
República a aprovar um projeto de lei. Em caso de vfto,
contudo a palavra final compete ao Congresso.
Então o Presidente encaminha ao Congresso o projeto
vôtado, justificando as suas razões, mas o Congresso em
reunião conjunta da Câmara dos Deputados e do Senado
pode opor-se ao veto mediante o voto da maioria de 2/3
dos seus membros.
O voto é uma instituição que procede do direito público
romano, da velha Roma e significa em latim: opo-nívo-me.
7 — O Decreto
O decreto é qualquer ato do poder executivo no exercício
das suas atribuições legais e que contém um comando ou uma
determinação.
Os decretos pode ser: I — gei-ais ou regidamentaives,
estabelecendo as condições e a maneira como a lei deve ser
cumprida e executada, são os regulamentos administrativos;
II — especiais ou individuais quando relativos a situações
jurídicas particulares, individuais, medidas de natureza P""
rarnente administrativa (decretos de nomeação, de trans
ferência de funcionários, decretos de demissões, condeco
rações, etc.).
O decreto não pode ser elaborado violando a lei. Esta
tem uma hierarquia jurídica superior ao decreto.
A Lei 49
QUESTIONÁRIO
1 — Como se define o direito?
2 — Que se entende por lei? \
3 — Quais as leis existentes no Brasil além da lei federal?
4 — A que órgãos compete elaborar a lei federal?
5 — Quais as fases de elaboração das leis?
6 — Qual a distinção entre

Mais conteúdos dessa disciplina