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INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL CECÍLIA MARIA DE MELO BARCELOS FACULDADE ASA DE BRUMADINHO DIREITO ERNAINE JUNIOR DO CARMO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES: Evolução histórica do direito das obrigações BRUMADINHO 2014 ERNAINE JUNIOR DO CARMO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES: Evolução histórica do direito das obrigações Trabalho apresentado como requisito parcial para obtenção de pontos na disciplina Direito Civil I do 3º período do Curso de Direito da Faculdade Asa de Brumadinho. Área: Direito das obrigações Prof. Orientador: Alexandre Torido. BRUMADINHO 2014 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 5 2. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES: CONCEITO E IMPORTÂNCIA .................................... 5 3. FONTES DAS OBRIGAÇÕES CIVIS ............................................................................... 7 3.1. Lei ............................................................................................................................... 7 3.2. Contrato ....................................................................................................................... 7 3.3. Declaração unilateral de vontade.................................................................................. 8 3.4. Ato ilícito .................................................................................................................... 9 3.5. Decisão judicial ........................................................................................................... 9 4. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES ....................................... 9 5. O CONTEÚDO DO DIREITO DAS OBRIAÇÕES NA ATUALIDADE ......................... 16 5.1. Obrigações propter rem.............................................................................................. 17 5.2. Elementos constitutivos da obrigação ........................................................................ 17 5.2.1. Sujeitos da relação obrigacional (elemento subjetivo) .......................................... 17 5.2.2. Objeto da relação obrigacional (elemento objetivo) ............................................. 18 5.2.3. Vínculo jurídico da relação obrigacional (elemento abstrato) ............................... 18 5.4. Obrigações de dar ...................................................................................................... 18 5.4.1. Obrigação de dar coisa certa ................................................................................ 19 5.4.2. Obrigação de dar coisa incerta ............................................................................. 19 5.5. Obrigação de fazer ..................................................................................................... 20 5.5.1 Obrigação de fazer pessoal ................................................................................... 20 5.5.2 Obrigação de fazer impessoal ............................................................................... 20 5.6. Obrigações de não fazer ............................................................................................. 20 6. CLASSIFICAÇÕES DAS OBRIGAÇÕES ...................................................................... 21 6.1. Obrigações Simples e composta ................................................................................. 21 6.2. Obrigações líquida e ilíquida...................................................................................... 21 6.3. Obrigação principal e acessória .................................................................................. 22 6.3.1. Obrigação com cláusula penal ............................................................................. 22 6.4. Obrigação de meio e obrigação de resultado .............................................................. 22 6.5. Obrigações alternativas .............................................................................................. 23 6.6. Obrigações solidárias ................................................................................................. 23 6.7. Obrigações divisíveis e indivisíveis ........................................................................... 23 7. TRANSMISSÃO DE OBRIGAÇÕES .............................................................................. 23 7.1. Cessão de crédito ....................................................................................................... 23 7.2. Assunção da dívida .................................................................................................... 24 8. ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES........................................................................ 24 8.1. Do pagamento........................................................................................................... 24 8.2. Do pagamento em consignação .................................................................................. 25 8.3. Do pagamento com sub-rogação ................................................................................ 25 8.4. Da imputação de pagamento ...................................................................................... 26 8.5. Da dação em pagamento ............................................................................................ 26 8.6. Da novação ................................................................................................................ 26 8.7. Da compensação ........................................................................................................ 27 8.8. Da confusão ............................................................................................................... 27 8.9. Da remissão da dívida ................................................................................................ 27 8.9.1. Remissão x solidariedade .................................................................................... 28 9. INADIMPLÊNCIA .......................................................................................................... 28 CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 29 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 30 5 1. INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho é analisar o direito das obrigações conceituando-o e mostrando sua importância nas relações existentes entre as pessoas bem como a garantia da segurança jurídica. Também será abordada a evolução histórica do direito das obrigações bem como suas fontes, para melhor compreensão sobre sua origem, aplicação e grandes contribuições para que se chegasse a sua atual configuração. Com base em conceitos de renomados doutrinadores será ilustrado de forma clara e concisa a evolução e aplicação deste que está sempre presente em nossas vidas sejam nas mais simples relações obrigacionais ou em sua maior complexidade. 2.DIREITO DAS OBRIGAÇÕES: CONCEITO E IMPORTÂNCIA Odireito das obrigações tem por objeto regular no âmbito do Direito Civil as relações intersubjetivas de ordem patrimonial, surgindo assim um vínculo jurídico onde, o sujeito passivo (devedor) assume uma prestação em favor do sujeito ativo (credor). O direito das obrigações consiste num complexo de normas que regem as relações jurídicas de ordem patrimonial, que têm por objeto prestações de um sujeito em proveitode outro. Visa, portanto, regular aqueles vínculos jurídicos1 em que ao poder de exigir uma prestação, conferido a alguém, corresponde um dever de prestar, imposto a outrem [...] (DINIZ, 2014, p.19). Quanto a sua etimologia a palavra obrigação, advém do latim obligatio (em que ob dá uma ideia de sujeição, e ligatio, a noção de vínculo).Caio Mario da Silva Pereira(2005, p. 3) reforça que a “obrigação é o vinculo jurídico em virtude do qual uma pessoa pode exigir de outra prestação economicamente apreciável”. Conceituando o Direito das Obrigaçõesobservamos sua importância para segurança jurídica onde as relações existentes na sociedade possam ser realizadas com amparo legal. O conteúdo do Direito das Obrigações para Maria Helena Diniz é a prestação patrimonial, medianteda ação ou omissão do devedor que está vinculado ao credor de modo que este possa 1O vinculo jurídico é o elemento abstrato da relação obrigacional e é aquele que lhe confere exigibilidade e coercibilidade; preza, pois, pelo cumprimento do compromisso fixado entre os sujeitos em relação a determinado objeto, lançando a responsabilidade sobre aquele que violar o acordado. (Além da sala de aula/ Vínculos jurídicos das obrigações – Patrícia DonzeleCielo Disponível em <http://profpatriciadonzele.blogspot.com.br/2013/02/o-vinculo-juridico-na-obrigacoes.html> Acesso em 24 setembro 2014). 6 exigir que seja cumprido o título obrigacional por parte daquele, caso não seja cumprida espontaneamente a obrigação, o credor poderá exercer o direito subjetivo movimentando assim a máquina judiciária para reparar o dano executando assim o patrimônio do devedor.(2014, p. 19). Marcada pelo consumismo que é fomentado pela mídia, a sociedade hodierna para satisfazer seus anseios e necessidades se vê cada vez mais impulsionada a criar vínculos obrigacionais onde as obrigações se tornam recíprocas entre as partes. O direito das obrigações assume papel preponderante nestas relações jurídicasque surgem da vontade entre ambas as pessoas envolvidas na relação obrigacional,encontrando no direito positivadoformas legais para regular os negócios jurídicosefetivando o cumprimento das obrigações que estão no título obrigacional,de forma que havendo lide2, esta possa ser levada ao poder judiciário para que o conflito seja resolvido. O ordenamento social segundo Caio Mário da Silva Pereira 2005, p. 5“[...] é repleto de deveres, onde o indivíduoassume diariamente diversas obrigações, como por exemplo para com sua Pátria, seja no que se refere a política, no exercício de sua cidadania, e há também que se observar suas relações sociais que podem ser dividas dentro das micro sociedades em que ele vive (família, trabalho, escola, vizinhança etc...). Desde sua origem ficou comprovada a necessidade do homem em manter tais relações para alcançar seus ensejos. Hoje o indivíduo se vê envolvido por essas experiências onde muitas passam despercebidas por serem tão habituais em seu cotidiano, o simples fato de ir a uma padaria comprar um pão ou um leite cria uma relação obrigacional cujo vínculo obrigacional é a vontade das partes, (aquele que coloca seus produtos à venda e aquele que se propõe a comprá-los). Situações como esta não alcançam o âmbito da jurisdição, diantedo cumprimento das obrigações pelas partes que, por si só se resolvem de forma a garantir a segurança jurídica e o bem comum. Há também obrigações de cunho natural que não estão positivadas como as obrigações civis, são elas morais, espirituais e de cortesia, ao ajudar um idoso a atravessar a rua, não está o indivíduo cumprindo uma obrigação da qual não possa se abster, mas de fato sabemos que é um dever natural realizar tais obrigações para que se possa manter uma boa convivência e desenvolver uma sociedade ondes os indivíduos pratiquem os bons costumesreciprocamente[...]”,mas como já mencionou Ives Granda Martins “O homem é um ser pacífico que nunca viveu em 2A lide é objeto principal de toda a cadeia normativa de um país. Ela é o conflito de interesses qualificados pela pretensão de um interessado à resistência de outro. (Direito processual – Composição da lide/ Pleno lure. Disponível em <http://www.plenoiure.com.br/2013/04/composicao-da-lide.html> Acesso em 24 setembro 2014). 7 paz”. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/rev_67/artigos/art_min_ives.htm> Acesso em: 02 de setembro 2014.Diante de tais palavras outras experiências que são provadas pelo homem acabam adentrando os limites da jurisdição. No exemplo anteriormente citado, qual seria a reação do padeiro caso não lhe fosse conferido o valor pelos pães,por parte do indivíduo que os adquiriu? Em sentindo técnico-jurídico estamos diante de uma lide, ou seja, um conflito de interesses intersubjetivo caracterizadopela pretensão resistida, o devedor (aquele que recebeu os pães), não quer pagar por eles, por sua vez o credor (aquele que tem o direito de receber pelos pães), diante de tal situação tem o direito subjetivo de buscar o judiciário para resolver esta lide.Situações como estas ocorrem diariamente, assim como outras relações obrigacionais mais complexas que podem ou não adentrar no âmbito judicial, cabendo ao Direito das Obrigações regular tais relações de forma a garantir o cumprimento obrigacional ao qual cada uma das pessoas envolvidas se propôs. 3. FONTES DAS OBRIGAÇÕES CIVIS A expressão fontes das obrigações tem como conceito a origem, como nasce ou se realiza uma obrigação. Como fontes específicas do direito das obrigações em nosso ordenamento jurídico podemos citar, a lei; o contrato; a declaração unilateral de vontade; ato ilícito e sentença judicial. 3.1. Lei Nas palavras de Maria Helena Diniz a lei é a fonte primária ou imediata de todas as obrigações, uma vez que os vínculos obrigacionais são relações jurídicas que para tal se valem do Direito positivado para garantir que tais vínculos obrigacionais possam ser celebrados e cumpridos. O Código Civil de 2003 traz do artigo 233 ao artigo 480 normas que irão regular o direito das obrigações, servido assim como fonte norteadora tanto para legislador no que se refere à criação e alteração de leis, quanto para o judiciário que as interpretaram diante da especificidade de cada caso, além é claro de orientar o indivíduo em suas relações obrigacionais. 3.2. Contrato Como observamos as pessoas realizam constantemente acordos que fazem surgir obrigações sejam unilaterais ou bilaterais. No entanto nem todos os acordos precisam ser 8 formalizados por um contrato, no entanto com frequentemente uma das partes não cumpre com sua obrigação. Um exemplo comum é o de compra e venda onde a coisa pode não ser entregue ou não ser paga havendo então o descumprimento de uma obrigação. O contrato formalizado é fundamental para a aquele que foi lesado, pois é o instrumento que poderá ser utilizado como prova material. Buscando assim no poder judiciário aquele que foi lesado garantir seus direitos. “O contrato é a mais utilizada fonte de obrigação, que é o vínculo de direito em que um sujeito passivo (devedor) tem de dar, fazer ou não fazer uma prestação a um sujeito ativo (credor), sendo que o não cumprimento o sujeita à perda de seus bens para o pagamento ao credor. Para se caracterizar uma obrigação são necessários três elementos: pessoas, prestação e vínculo jurídico. Assim, o contrato deve conter cláusulas que abranjam, no mínimo, estes elementos constitutivos da obrigação.”.Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/contratos/dicas> Acesso em: 22 setembro 2014).O Código Civil regula em seu artigo 104 sobre a validade do negócio jurídico. Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei. 3.3. Declaração unilateral de vontade Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2011, p.459), negócios jurídicos unilaterais ocorrem com uma única manifestação de vontade alguns exemplos a serem citados são, o testamento, a instituição de fundação, a renúncia de herança, a procuração, a confissão de dívida e outros. A declaração unilateral de vontade é divida em receptícios, aqueles cujo destinatário precisa tomar ciência da sua existência para que produza efeitos; como exemplos podem ser citados a denúncia ou resilição de um contrato e na revogação de mandato. Há também os não receptícios, onde o conhecimento por parte de outras pessoas é irrelevante, por exemplo, no testamento e na confissão de dívida. 9 3.4. Ato ilícito De acordo com os artigos 186 e 187 do Código Civil “Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”. “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo excede manifestadamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.”. O artigo 927 do Código Civil nos diz que “Aquele que por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.”. A conduta humana que viola a ordem jurídica seja ela por ação ou omissão é chamada de ato ilícito. O Código Civil expressa bem que o dano causado a outrem faz nascer uma obrigação, essa obrigação é a de reparar o dano seja ele material ou moral. 3.5. Decisão judicial A decisão judicial constitutiva também é uma fonte imediata de obrigações, existem relações jurídicas que só irão gerar obrigações através de determinação judicial. Tais decisões podem utilizar mecanismos para garantir o cumprimento de obrigações que surgem seja através de contratos, atos ilícitos e outros. É importante ressaltar que através da decisão judicial podem surgir obrigações onde o descumprimento de uma obrigação anterior pode levar o Estado-Juiz através de sua jurisdição criar novas obrigações como exemplo perdas e danos que serão estipulados de acordo com o prejuízo causado. 4. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES Após conceituarmos o direito das obrigações e sua importância nas relações que hodiernamente ocorrem na sociedade,se faz necessário compreender como surgiu tal direito. Analisando a história das obrigações e como as relações eram regidas em tempos que o direito das obrigações ainda estava em sua gênese. CAENEGEM, 2000, p. 277 apudBruna Lyra Duque - Análise histórica do direito das obrigações; comenta que,a análise de alguns marcos históricos das relações obrigacionais é de extrema importância para o estudo deste campo do Direito Civil, principalmente se for levado em conta que o direito é uma estrutura ‘social mutável, imposta à sociedade; é afetado por mudanças fundamentais dentro da sociedade e é, em ampla escala, um instrumento assim como um produto dos que detêm o poder’. Disponível 10 em:<http://jus.com.br/artigos/10030/analise-historica-do-direito-das- obrigacoes#ixzz3EGSao2ab> Acesso em: 24 de setembro 2014. Caio Mario da Silva Pereirafaz menção a três momentos que ele diz serem fundamentais na evolução histórica da obrigação onde, há a ideia de obrigação na fase pré- romana, depois o conceito romano, e, após, a sua noção moderna.É importante frisar que, mesmo diante desta tripartição não quer dizer que tenha havido três tipos distintos de obrigações em tais períodos, nem tão pouco que,em cada um destes tenham se mantido sem alteração. Nestes tempos remotos não havia um direito obrigacional.Incialmente a civilização utilizava meios hostis, onde as guerras entre grupos eram motivadas pela desconfiança de um em face do outro, o que dificultava o entendimento entre eles, pois sempre que se encontravam era justamente para se enfrentarem. Dentro dos próprios grupos não se reconhecia os direitos individuais, o que era um grande entrave para que se houvessem tais relações jurídico-obrigacionais por parte de seus membros.(2005, p. 8) O surgimento da ideia de obrigação deve ter ocorrido com caráter coletivo, quando todo um grupo empreendia negociações e estabelecia um comércio, se bem que rudimentar, com outro grupo inteiro, ainda que os participantes da negociação não fossem mais que uma parte ou uma delegação da tribo ou do clã, mas também convocando todos os elementos válidos à guerra, contra o grupo infrator da convenção. [...] (PEREIRA, 2005 P. 8). Com o passar do tempo o liame obrigacional passa da coletividade para o individual e ganha personalização, mas a punição sancionada como garantia de fé contratual continuava a ser aplicada ao infrator e era dirigida ao seu próprio corpo, este é o chamado período do direito romano que na visão de Carlos Roberto Gonçalves (2011 p. 32) já se encontra nitidamente estruturado desde o seu princípio onde o direito obrigacional já fazia distinções entre os chamados direitos de crédito3 dos direitos reais4.Havia também uma separação entre os direitos privados em direitos pessoais5, direitos reais e direitos obrigacionais caracterizado pela relação patrimonial entre pessoas. 3 O direito de crédito realiza-se por meio da exigibilidade de uma prestação a que o devedor é obrigado, exigindo, desse modo, sempre, a participação ou colaboração de um sujeito passivo. (Carlos Roberto Gonçalves, Teoria Geral das Obrigações, 2011 p. 20). 4 O direito real pode ser definido como o poder jurídico, direto e imediato, do titular sobre a coisa, com exclusividade e contra todos. (Carlos Roberto Gonçalves, Teoria Geral das Obrigações, 2011 p. 23). 5 Constitui uma relação de pessoa a pessoa e tem, como elementos, o sujeito ativo, o sujeito passivo e a prestação. (Carlos Roberto Gonçalves, Teoria Geral das Obrigações, 2011 p. 23). 11 “Na fase inicial, todavia, em razão da vinculação das pessoas, o devedorrespondia com o próprio corpo pelo cumprimento da obrigação.” (GONÇALVES, 2011, p. 32). O descumprimento da obrigação tornava o devedor posse do credor que o submetia à condição de escravo. O condenado, se dentro de trinta dias não satisfizesse seu débito, era entregue ao credor, o qual procedia à manusiniectio, isto é, com o auxílio dos seus, tomava-se dono dele e depois de tê-lo tido sessenta dias acorrentado e exposto inutilmente durante três dias no mercado, sem que alguém se apresentasse para liberá-lo, tinha direito de matá-lo ou vendê-lo além do Tibre porque nenhum cidadão romano podia ser reduzido à escravidão dentro do território. Disponível em: <http://www.gontijo- familia.adv.br/material-juridico/direito-romano/> Acesso em 27 de setembro 2014. Segundo GONÇALVES (2011, p.33) [...] no ano 428 a.C. houve uma evolução considerável no direito pessoal, tal processo evolutivo foi a chamada Lex PoeteliaPapiria, que aboliu a execução sobre a pessoa do devedor, deslocando-a para os bens que ele possuía (pecuniaecreditaebonadebitoris, non corpus obnoxium esse6), reforçando assim o caráter patrimonial no que se refere ao direito das obrigações, utilizando-se desta durante séculos. No século VI o Corpus Iuris Civilis, sujeitava-se o devedor a uma prestação garantida por seu patrimônio, uma obrigação provinda da vontade [...].“A obrigação como provinda da vontade, sujeitando o devedor a uma prestação, um dare, um facere,ou um prestare, e não uma sujeição do corpo ou da pessoa do obrigado.” (PEREIRA, 2005, p.11). Caio Mario da Silva Pereira aponta o fim das Repúblicas como a fase inicial da evolução histórica da obligatio onde escritores romanistas como Arangio Ruiz subdividem-na.O direito medieval conservou tal concepção da época clássica, porém introduzindo um maior teor de espiritualidade, com a confusa ideia de peccatum quanto a falta de cumprimento da obrigação equiparando-a a mentira, e condenada toda quebra da fé jurada. O pacto sunt servanda configurado pelo amor a palavra empenhada, era segundo teólogos e canonistas o respeito aos compromissos, que introduziu maior conteúdo de moralidade com a investigação da causa. O Código Napoleão manteve tal concepção em seu artigo 2.093 “lesbiensdudébiteursontlegagecommun de sescreanciers” ou seja (os bens do devedor são a garantia comum de seus credores). (GONÇALVES, 2011, p. 33). 6 Instruções de Direito Civil, Caio Mário da Silva Pereira, p. 10 12 É a partir do direito moderno que mesmo sem grandes modificações em relação à noção romana, que o Código Napoleão em seu artigo 1.101 por intermédio de Pothier7 se inspira nas Institutas8 para definição do contrato. Nas Institutas de Gaio, temos (III,88): "Agora, passemos às obrigações, cuja principal classificação é em duas espécies: toda obrigação ou nasce de um contrato ou de um delito". No Libro, temos que "as obrigações ou nascem do contrato ou de delito ou, por certo direito próprio, de várias figuras de causas". Já para Justiniano, "a divisão seguinte às classifica em quatro espécies: ou nascem de um contrato ou como de um contrato ou de um delito ou como de um delito". Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/17115/obrigacoes-e-contratos-no-direito-romano/2> Acesso em: 14 de outubro 2014. O artigo 1.101 do Código Napoleão define o contrato como “Le contrat est une convention par laquelle une ou plusieurspersonness'obligent, envers une ou plusieursautres, à donner, à faire ou à ne pasfairequelquechose”.Ou seja,(uma convenção pela qual uma ou várias pessoas se obrigam, para com a outra ou outras dar, fazer ou não fazer qualquer coisa). Disponível em: < http://www.noronhaadvogados.com.br/interna.asp?url=artigos/detalhes&lang=PT&id=7977 > Acesso em: 14 de outubro 2014. A vontade plena é atribuída à força geradora do vínculo onde é aceita a impessoalidade da obrigação. Em face à visão romana eao direito moderno este se distancia daquela no que tange a impessoalidade do vínculo. Alguns exageros foram cometidos por escritores mais recentes da época que se opunham a noção quiritária9 e a personalização da obrigação, chegando a classificar esta como relação que se estabelece entre o credor e o patrimônio do devedor, posteriormente alcançando uma definição ainda mais errônea, a de relação entre dois patrimônios. Com a evolução das obrigações no direito moderno essa concepção de relação que se estabelecia entre pessoa e bens não era adequada, pois, as relações jurídicas se estabelecem entre pessoas, mas há que se observar de tal conceito o vínculo que repercuti sempre no 7 Robert Joseph Pothier (Orleans, 09 de janeiro de 1699 – ibidem, 02 de março de 1772, Orleans) foi um jurista francês. Seus tratados sobre diversas questões de direito civil (venda, casamento, propriedade, locação...) exerceu uma influência direta e substancial sobre as redação do Código Civil francês de 1.804. Disponível em: < http://es.wikipedia.org/wiki/Robert_Joseph_Pothier> Acesso em: 14 de outubro 2014. 8 Institutas de Gaio (GaiInstitutionumCommentariiQuattuor), escrito por volta de 161 d.C., é um manual didático de direito romano, mas que é de inestimável valor pelas informações que fornece sobre o direito romano clássico. Foi descoberto, em 1816, pelo historiador Niebuhr. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Institutas_de_Gaio> Acesso em: 14 de outubro 2014. 9 Propriedade quiritária: Pressupõe, naturalmente, que seu titular seja cidadão romano. Outro pressuposto, é que a coisa, sobre que recaía a propriedade quiritária, possa ser objeto dela. Então nesta condição todas as coisas corpóreas in commercio, exceto os terrenos provinciais. Disponível em: <http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Direito-Romano/499478.html> Acesso em: 14 de outubro 2014. 13 patrimônio do devedor. O patrimônio será atingido tão somente na execução uma vez que, este foi colocado como garantia geral de cumprimento. O objeto é uma prestação que pode ser a entrega de uma coisa ou a realização de uma ação humana específica. Existem obrigações que somente o devedor poderá cumprir outras permitem que o dareou facerepossam ser cumpridos por um terceiro, havendo descumprimento a execução caisobre o patrimônio dado como garantia.(PEREIRA, 2005). Nessa evolução segundo Carlos Roberto Gonçalves, acompanhando a história expansionista da economia o direito das obrigações passou por várias transformações, na Antiguidade com o período rural, Idade Média com o desenvolvimento do comércio e a Revolução Industrial com recente evolução tecnológica. A época romana marcada pelo individualismo econômico, e da autonomia da vontade, volta-se para uma mudança coletiva, motivada por seus movimentos sociais, as pessoas vinculam-se aos contratos tendo por base o princípio da ordem pública, garantia desegurança jurídica nas relações. No direito moderno o Estado amplia sua intervenção limitando a liberdade de ação do indivíduo. O contrato tem função importante nas relações jurídicas, o que Carlos Roberto Gonçalves chama de “socialização dos riscos” no âmbito da responsabilidade civil. [...] o direito obrigacional moderno, especialmente neste século, já inova sobre as concepções dominantes anteriormente encaminhando-se no sentido de sofrear a autonomia da vontade, que no século XIX tão longe fora, e, com o dirigismo, assegurar a predominância do princípio da ordem pública. Cresce a intervenção do Estado em detrimento da liberdade de ação do indivíduo[...] (PEREIRA, 2005, p. 13). O Código Civil de 1916, segundo Carlos Roberto Gonçalves sofreu influências do direito alemão, e tinha os livros da Parte Especial distribuídos de forma diversa do BGB10,Direito de família foi disposto logo após a Parte Geral, seguido do Direito das Coisas, e posteriormente o livro do Direito das Obrigações que antecedia o do Direito das Sucessões. Tal orientação era o reflexo do Brasil quanto ao período em que foi elaborado o Código Civil 1916, cuja sociedade agrária e conservadora,que conferia importância patrimonial ao “pai de família” e ao “proprietário”, além do individualismo econômico e jurídico daquele período.(2011, p. 33). 10 O Código Civil da Alemanha ( German BGB ou BGB) é o Código Civil de Alemanha . Sua escrita começou em 1881 , e entrou em vigor em 01 de janeiro de 1900 , considerando-o um projecto de vanguarda para a época. 14 A valorização que o código civil brasileiro de 1916 deu a propriedade, o individualismo e a liberdade teve com fonte inspiradora a legislação francesa com o seu liberalismo. As relações obrigacionais que se valeram de tais normas caracterizavam-se pelo individualismo onde as partes celebravam seus contratos livremente, acordos que se tornavam lei entre as partes. Tal concepção individualista só foi interrompida com o novo código civil de 2002, devido ao desequilíbrio nas relações contratuais, cláusulas abusivas e a má fé. É uma nova forma de celebrar contratos pautados no princípio da socialidade garantindo obem comum e a função social do contrato. Disponível em: <http://ceaddh.dihitt.com/n/educacao/2012/03/31/evolucao-historica-do-direito-das- obrigacoes> Acesso em: 16 de outubro 2014. No início do século XIX surge um movimento social que utiliza o liberalismo como pressuposto para diminuir o poder e os abusos do Estado. A burguesia surge como a classe detentora do poder econômico neste período em que a propriedade era o centro do ordenamento civil, como um direito absoluto, acima dos demais direitos, tendo no contrato a manifestação da vontade sobre o direito absoluto da propriedade, permitindo a circulação de bens. A burguesia teve grande influência durante o século XIX no que diz respeito à elaboração de normas, e valendo-se delas ao que lhe era conveniente. Embora o código civil brasileiro de 1916 tivesse nascido no século XX sofreu grande influência de valores do século passado como exemplo temos a afirmação de que o sucesso pessoal significava o acúmulo de bens o que era bem peculiar ao sistema capitalista, a propriedade era um valor absoluto necessário para a realização da pessoa humana. O código vislumbrava os interesses individuais e não tutelava o próprio indivíduo em si. Diante de tais aspectos conservadores e individualistas que colocavam a figura do homem e a propriedade como centrais sustentadas pela vontade burguesa daquele período, o código civil de 1916 tem sua estrutura desestabilizada com a Constituição Federal de 1988 que traz em texto o princípios como da dignidade da pessoa humana. A partir de uma ampliação do significado do princípio da dignidade humana o ordenamento jurídico trilha um caminho para a humanização. A palavra pessoa equivalendo-se a ser humano surge em nosso ordenamento como conceito jurídico os direitos da personalidade ganham status defendendo a integridade física, 15 intelectual e moral. Com essa humanização do direito privado a pessoa se torna o bem jurídico mais importante tomando assim o lugar do patrimônio. Os valores da época existentes no ordenamento civil não foram excluídos, ocorreram ajustes de modo que a pessoa tivesse uma maior proteção pelo código é um direito que existe pelos homens e para os homens. O patrimônio para o homem não deixa de ter sua importância e necessidade para o seu desenvolvimento e até mesmo garantia da dignidade da pessoa humana O que se fez foi tirar essa visão jurídica do direito de propriedade não como um fim em si mesmo, mas como um meio de alcance da plena dignidade humana. Assim passa a tratar não mais no bem objeto do direito, mas da propriedade como um direito que tutela uma situação natural, inata do ser humano, que é a posse de bens.Jéssica D´Eça BarbosaDisponível em: <http://ceaddh.dihitt.com/n/educacao/2012/03/31/evolucao-historica-do-direito-das- obrigacoes> Acesso em: 16 de outubro 2014. No final do século XIX existia uma tendência para se unificar o direito privado de modo que disciplinaria em conjunto e uniformemente o direito civil e o direito comercial. Diversos autores de vários países defenderam tal posição. No Brasil Teixeira de Freitas compunha a lista dos que apoiavam o movimento, chegando a propor ao Governo um esboço criado por ele de um Código Civil cujo nome mais apropriado segundo ele seria Código de Direito Privado. Países como Suíça, Canadá, Itália e Polônia obtiveram êxito na unificação, porém não se pode utilizar tal fenômeno jurídico como a compra e venda e a prescrição submetendo-as a regras diferentes, de natureza civil e comercial, uma vez que as experiências do movimento indicavam que uma uniformização que deveria ser comum a toda matéria de direito privado, mantendo a especificidade quanto a atividade mercantil constituindo objeto de especialização e autonomia. A melhor solução seria a unificação do direito das obrigações e não a do direito privado como defendiam alguns doutrinadores. Mantendo assim os institutos que caracterizavam o direito comercial, mantendo a peculiaridade de cada ramo do direito civil como o direito de família, das sucessões, das obrigações ou das coisas, sem descaracteriza-los. Em 1941 Orozimbo Nonato, Philadelpho Azevedo e HahnemannGuimarães apresentaram o seu Anteprojeto de Código de Obrigaçõespara o qual fixaram princípios gerais, comuns a todo o direito privado que abrangiam a matéria mercantil. Tempos depois 16 Francisco Campos com incumbência de redigir um projeto de Código Comercial, declara adesão à tese unificadora. Caio Mario da Silva Pereira também partilhando da mesma ideia, em 1961 com a tarefa de elaborar um projeto de Código de Obrigações. Como não havia mais questões comerciais que se resolvessem pelo código comercial de 1850 obsoleto para a época tais questões eram tratadas no código civil. (GONÇALVES, 2011) Na prática jurisprudencial, essa unidade das obrigações já era um fato consagrado, o que se refletiu na ideia rejeitada de um Código só para reger as obrigações, consoante projeto elaborado por jurisconsultos da estatura de Orozimbo Nonato, Hahnemann Guimarães e Philadelpho Azevedo. (GONÇALVES, 2011, p. 36). Diante de tais situações que não vigoraram o código civil de 2002 teve sua elaboração cofiada a Miguel Reale, que convidou outros juristas para auxiliá-lo. O código civil traz na parte especial dos artigos 233 ao 480 a regulamentação do direito das obrigações. 5. O CONTEÚDO DO DIREITO DAS OBRIAÇÕES NA ATUALIDADE Nas palavras de Maria Helena Diniz, o direito das obrigações cuja natureza patrimonial vincula pessoas entre si, está compreendido em conceitos e princípios estabelecidos no próprio Código Civil em seus artigos 233 a 480 onde estão subordinadas quase todas as obrigações. No aspecto de sua natureza estão relacionadas às suas modalidades, efeitos, forma de cumprimento, transmissão, extinção entre outros. (2014, p. 35) Os princípios basilares do direito das obrigações são pressupostos indispensáveis para orientar de forma clara e precisa as relações existentes neste ramo do direito privado, principalmente no que tange a lei sua fonte primária, onde o ordenamento tem o poder de limitar tais relações evitando abusos e atos que possam prejudicar a segurança jurídica, algo bem distante do que já foi o direito das obrigações em tempos remotos. Várias modalidades ou espécies de obrigações, que hodiernamente fazem parte da vida das pessoas, e que, como já foi dito anteriormente, na sua maioria passam despercebidas pela sua simplicidade, sejam elas no pagamento de uma passagem em um ônibus de casa para o trabalho ou um simples empréstimo do dinheiro para se pagar tal passagem. Carlos Roberto Gonçalves destaca que, [...] podemos classifica-las em categorias que são reguladas por normas específicas como mencionamos tais normas se encontram no código civil de 2002 e seguem diferentes critérios. Essa classificação é imprescindível para que se saiba em qual categoria estão cada uma das espécies de obrigações. Para o autor não há 17 uniformidade de critérios entre doutrinadores o que pode variar suas classificações de acordo com a metodologia empregada. Desde o direito romano, as obrigações se distinguem basicamente, quanto ao objeto, em obrigações de dar, fazer e não fazer. É uma classificação objetiva, pois considera a qualidade da prestação que o objeto da obrigação. [...] (2011, p. 53) 5.1. Obrigações propterrem Este trabalho não tem como propósito aprofundar no estudo das obrigações propterrem, mas seria importante uma breve conceituação desta, uma vez que, tal modalidade faz parte do direito das obrigações. As obrigações propterrem ou também chamadas obrigações reais nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves são aquelasque recaem sobre uma pessoa, por força de determinado direito real. Seria uma relação entre pessoa e coisa onde surge uma obrigação por parte daquele que é titular do domínio ou detentor de determinada coisa. (2011, p. 27) Como podemos observar tal obrigação consiste nos direitos e deveres de uma pessoa regulados em uma relação jurídica que surge do domínio que o sujeito tem pela coisa. Como exemplo de obrigação propterrem temos o condômino que deve contribuir para a conservação da coisa comum. 5.2.Elementos constitutivos da obrigação “A obrigação se compõe dos elementos próprios das relações jurídicas em geral.Modernamente, consideram-se três os seus elementos essenciais: a) o subjetivo, concernente aos sujeitos da relação jurídica (sujeito ativo oucredor e sujeito passivo ou devedor); b) o objetivo ou material, atinente aoseu objeto, que se chamaprestação; e c) o vínculo jurídico ou elementoimaterial (abstrato ou espiritual)”. (GONÇALVES, 2011, p. 39). 5.2.1. Sujeitos da relação obrigacional (elemento subjetivo) Como elemento subjetivo da obrigação podemos identificar uma duplicidade de sujeitos onde o sujeito passivo ou devedor aquele que tem o dever de cumprir a prestação e o sujeito ativo é o credor da obrigação aquele que tem o direito de exigir o cumprimento da 18 prestação. Além desta classificação os sujeitos da relação podem ser pessoa(s) física(s) ou pessoa(s) jurídica(s). 5.2.2. Objeto da relação obrigacional (elemento objetivo) A prestação que pode ser positiva ou negativa é o objeto como citado anteriormente da obrigação. É a atuação do devedor que consiste em dar, fazer ou não fazer algo pré- estabelecido no título obrigacional. Objeto da obrigação é sempre uma conduta ou ato humano: dar, fazer ou não fazer (dare, facere, praestare, dos romanos). E se chama prestação, que pode ser positiva (dar e fazer) ou negativa (não fazer). Objeto da relação obrigacional é, pois, a prestação debitória. É a ação ou omissão a que o devedor fica adstrito e que o credor tem o direito de exigir. (GONÇALVES, 2011, p.41) 5.2.3. Vínculo jurídico da relação obrigacional (elemento abstrato) O vínculo jurídico é o liame existente entre o credor (sujeito ativo) e o devedor (sujeito passivo), possibilitando àquele exigir deste que cumpra a prestação a qual se obrigou. Como vimos são nas fontes das obrigações que nasce o direito das obrigações e também onde surge o vínculo jurídico. 5.4. Obrigações de dar A Obrigação de dar (ad dandum) consiste na entrega ou restituição de coisa móvel ou imóvel. Os atos de entrega ou restituição da coisa são chamados de tradição. A obrigação de dar é obrigação de prestação de coisa, que pode serdeterminada ou indeterminada. O Código Civil a disciplina sob os títulosde “obrigações de dar coisa certa” (arts. 233 a 242) e “obrigações de darcoisa incerta” (arts. 243 a 246).(GONÇALVES, 2011, p. 58) Como exemplo de obrigação de dar podemos citar um relação obrigacional de compra e venda de um veículo. No mesmo título poderão existir várias obrigações. Aquele que compra o veículo assume a obrigação de pagar por ele, tornando-se devedor da obrigação de pagar pelo automóvel, por sua vez a concessionária torna-se credora desta obrigação. A concessionária também tem como obrigação a entrega da coisa de acordo com que foi estipulado no título, o que torna esta devedora de tal obrigação na qual o aquele que comprou o veículo se torna o credor. 19 5.4.1. Obrigação de dar coisa certa Expressa no código civil dos artigos 233 a 241, obrigação de dar coisa certa é aquela em que o devedor se obriga a entregar ou restituir ao credor coisa individualizada definida no título obrigacional. É o que no direito romano trata-se da species, coisa inconfundível com outra, obrigando o devedor à prestação da coisa designada como expressa o artigo 313 do código civil “O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa”. Nas obrigações de dar coisa certa o não cumprimento da prestação observar-se-á os artigos 234 não havendo culpa do devedor “Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos” e 236 havendo culpa do devedor “Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos”. Em caso de perda da coisa a culpa do devedor também será levada em consideração nos artigos 234 “Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos” e 235 “Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu”. 5.4.2. Obrigação de dar coisa incerta A obrigação de dar coisa incerta é aquela cuja definição depende da caracterização da qualidade da coisa, subsistindo, no entanto, o gênero e a quantidade artigo 243 do código civil. O título irá definir quando será feita a tradição11 que só poderá ser realizada após a concentração12, em regra a concentração será feita pelo devedor artigo 244 do código civil, caso no título estipule o contrário ficará a escolha por parte do credor. O devedor não será obrigado a prestar coisa melhor, no entanto não poderá dar coisa pior. Diferentemente da obrigação de dar coisa certa o devedor não poderá se eximir da sua obrigação alegando perda da mesma antes da concentração nem mesmo por força maior ou caso fortuito é o que expressa o artigo 246 do código civil. 11 Tradição é o ato de entrega ou restituição da coisa móvel ou imóvel. 12 Concentração é o ato de escolha da coisa que até então era incerta em coisa certa. 20 5.5. Obrigação de fazer A obrigação de fazer ou positiva deriva da prestação de serviço em geral, seja este material ou imaterial, como exemplo a realização de obras e artefatos, ou a prestação de fatos que tenha utilidade para o credor. O devedor executa tais atos ou serviços a favor do credor, o título ou a vontade das partes poderá em alguns casos permitir que a obrigação seja cumprida por terceiros ou até mesmo em favor de terceiros. Os artigos 247 a 249 do código civil em seu capítulo II expressam sobre as obrigações de fazer. Como exemplo podemos citar um professor que assume com seu aluno a obrigação de lhe dar aulas particulares, estaria este docente assumindo uma obrigação de fazer, ou seja, prestar um serviço. 5.5.1 Obrigação de fazer pessoal A obrigação de fazer pessoal ou intuitu personae é aquela que somente pode ser cumprida pelo devedor,estipulado no título que a prestação não poderá ser cumprida por terceiro o que torna a obrigação infungível. Em caso de não cumprimento da prestação por dolo do devedor o artigo 247 do código civil expressa sobre reparos com perdas e danos. A ausência de culpa por parte do devedor resolver-se-á a obrigação, havendo culpa este responderá por perdas e danos como prevê o artigo 248 do citado código. 5.5.2 Obrigação de fazer impessoal Diferentemente da obrigação de fazer pessoal a obrigação de fazer impessoal permite que um terceiro possa cumprir a prestação a qual o devedor se obrigou, também chamada de obrigação fungível. O artigo 249 do códigocivil regula a situação em que terceiro não cumpra com a obrigação bem como em seu parágrafo único autorizando o credor a executar o fato, mesmo sem autorização judicial em casos de urgência, sendo ele ressarcido posteriormente. 5.6. Obrigações de não fazer Também classificada como obrigação negativa, a obrigação de não fazer é um ato de abstenção por parte de devedor, onde este através do título assume a obrigação de não praticar o ato que poderia livremente fazer, caso não estivesse obrigado a não fazê-lo. O capítulo III do código civil aborda em seus artigos 250 e 251 as obrigações de não fazer. Como exemplo podemos citar o locatário de uma imóvel que assume a obrigação de não fazer alterações no imóvel que estejam estipuladas no título. 21 6. CLASSIFICAÇÕES DAS OBRIGAÇÕES 6.1. Obrigações Simples e composta Existem obrigações nas quais não encontramos positivadas no direito são as chamadas obrigações naturais, já mencionadas anteriormente que tem cunho moral e não são aplicadas sanções por parte do Estado caso sejam descumpridas. Tais obrigações nas palavras de Maria Helena Diniz “constitui mero dever de consciência, cumprido apenas por questão de princípios; logo sua execução é, sob o prisma jurídico, mera liberalidade. É o exemplo da obrigação de cumprir determinação de última vontade que não tenha sido expressa no testamento, bem como o da obrigação de socorrer pessoas necessitadas.” (2014, p. 70). A obrigação civil por sua vez está positivada de modo que não cumprimento poderá acarretar em ação judicial, onde o credor lesado terá o direito subjetivo de exigir o cumprimento da obrigação por parte do devedor que não a cumpriu, podendo o devedor ter seu patrimônio executado para o cumprimento de tal obrigação seja ela positiva ou negativa. Na obrigação civil há um vínculo jurídico que sujeita o devedor à realização de uma prestação positiva ou negativa no interesse do credor, estabelecendo um liame entre os dois sujeitos, abrangendo o dever da pessoa obrigada (debitum) e sua responsabilidade em caso de inadimplemento (obligatio), o que possibilita ao credor recorrer à intervenção estatal para obter a prestação, tendo como garantia o patrimônio do devedor. (DINIZ, 2014, p. 70). As obrigações podem ser classificadas como simples e composta em uma relação obrigacional podemos observar como obrigação simples aquela onde há apenas um sujeito passivo (devedor) e um sujeito ativo (credor), um exemplo simples seria uma passageiro que paga ao taxista o valor da rodada, podemos observar um devedor (passageiro) e um credor (taxista). As obrigações em que existe pluralidade de sujeitos sejam ativos e/ou passivos são classificadas como obrigações compostas. Como exemplo podemos citar irmão que vendem um imóvel deixado como herança para uma pessoa de forma a partilhar o dinheiro, como se observa temos os irmãos compondo a multiplicidade de pessoas e o comprador. A multiplicidade pode existir em qualquer um dos polos ou até mesmos em ambos. 6.2. Obrigações líquida e ilíquida A obrigação líquida é aquela obrigação certa e definida, não deixando dúvida quanto a prestação. “A obrigação líquida é aquela obrigação certa, quanto à sua existência, e determinada quanto ao seu objeto, como dispunha, de forma elegante e concisa, o artigo 22 1.533do código civil de 1916.” (GONÇALVES, 2011, p. 208). A obrigação deixa claro que o objeto é certo e individuado, determinando assim a prestação quanto à sua espécie, quantidade e qualidade. Essa modalidade é expressa por uma cifra, por um algarismo, quando se trata de dívida em dinheiro. Quando vai ao supermercado comprar um refrigerante, por exemplo, o valor já está definido e a própria coisa também, um refrigerante, da marca X, de sabor Y, de um litro. A obrigação ilíquida por sua vez não se tem a princípio a definição do objeto de sua prestação, está obrigação é incerta pelo menos até que ocorram situações previstas no título que a torne uma obrigação líquida, pois não há como cumprir uma obrigação cuja prestação não esteja definida. Um exemplo seria a conta de água. É uma obrigação ilíquida, sua incerteza gera uma expectativa quanto à obrigação, que se tornará liquida em um determinado momento, neste caso quando o devedor estiver de posse da conta. 6.3. Obrigação principal e acessória A obrigação principal é aquela que não depende de outra para ser exigida, diferentemente da acessória que está vinculada a uma obrigação, a obrigação acessória depende da existência de outra que a subordina. Ao comprar um automóvel no contrato estão previstas as formas de pagamento como exemplo por prestações, esta é a obrigação principal daquele que comprou o veículo, mas existem cláusulas que preveem multa por atraso no pagamento das prestações, esta seria uma obrigação acessória que surge apenas com o descumprimento da obrigação principal. 6.3.1. Obrigação com cláusula penal É uma obrigação na qual será aplicada uma penalidade ao devedor pelo descumprimento de uma obrigação. Como exemplo de cláusula penal temos as multas os juros geralmente aplicados pela mora do devedor quanto ao cumprimento da obrigação principal. Toda cláusula penal é obrigação acessória, porém nem toda obrigação acessória é cláusula penal. 6.4. Obrigação de meio e obrigação de resultado Quanto ao fim a que se destina, a obrigação podemos classifica-las de meio e de resultado. A obrigação de meio é aquela em que o devedor se obriga a utilizar seus meios e conhecimentos técnicos para a obtenção de um resultado em favor do credor, não responsabilizando por este. Um professor quando assume a obrigação de dar aulas não se responsabiliza pelo resultado final que seria o aprendizado dos alunos. Já a obrigação de resultado o devedor dela se exonera tão 23 somente com o resultado prometido. Um mecânico quando assume a responsabilidade de solucionar o problema de um veículo não pode finalizar seu trabalhose não sanar o problema. 6.5.Obrigações alternativas É a obrigação que contém duas ou mais prestações com objetos distintos, do qual o devedor se libera com o cumprimento de uma só delas. Regulada nos artigos 252 e §§ a 256, a obrigações alternativas em regra dão ao devedor a escolha da prestação que deseja cumprir, se outra coisa não se estipulou, artigo 252 do código civil. 6.6. Obrigações solidárias É aquela em que existem multiplicidade de credores (solidariedade ativa) ou multiplicidade de devedores (solidariedade passiva), sendo que cada credor terá direito em exigir o cumprimento da obrigação na sua totalidade, como se fosse o único credor artigo 267 do código civil, ou cada devedor estará obrigado pelo débito todo como se fosse o único devedor artigo 272. Recebido o todo por um dos credores cada credor solidáriotem o direito de receber a parte que lhe pertence, ocorrendo o cumprimento da obrigação a um credor solidário estará o devedor liberado da obrigação ou até o montante do que foi pago artigo 269 do código civil. O devedor solidário que cumpre a obrigação num todo tem direito a receber dos codevedores o referente a parte que lhes cabem artigo 283 do código civil. 6.7. Obrigações divisíveis e indivisíveis Previstas nos artigos 257 ao 263 do código civil obrigação divisível é aquela cuja prestação pode ser cumprida de forma parcial, sem prejuízo de sua substância, podendo o cumprimento ser dividido entre os sujeitos. Enquanto a indivisível é aquela cuja prestação não é possível ser cumprida em partes. As obrigações divisíveis e indivisíveis são caracterizadas pela pluralidade de devedores. A natureza da coisa móvel ou imóvel poderá determinar a sua divisibilidade ou não, a vontade das partes etambém a determinação legal prevista no artigo 258 do código civil. 7. TRANSMISSÃO DE OBRIGAÇÕES 7.1. Cessão de crédito Regulamentada pelos artigos 286 a 298 do código civil a cessão de crédito é um negócio jurídico bilateral, pelo qual o credor transfere a outrem seus direitos na relação obrigacional. 24 Artigo 286 C.C. “O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação”. As partes envolvidas na cessão de crédito são o cedente que aquele que cede o crédito (primeiro credor), o cessionário aquele que recebe o direito ao crédito (segundo credor) e o cedido que é o devedor da obrigação independente de qual seja o credor. É importante que o devedor tome ciência da cessão de crédito, para que não venha a correr o risco de pagar o credor errado ou que não saiba quem é o novo credor. 7.2. Assunção da dívida A assunção da dívida é regulada pelos artigos 299 a 303 do código civil, é o negócio jurídico bilateral pelo qual o devedor transfere a outrem sua posição na relação obrigacional. As partes envolvidas são o credor que tem o direito ao crédito o devedor primitivo que é aquele que tem a obrigação inicial de pagar e o segundo devedor é aquele que assume a dívida do primeiro devedor. Diferente da cessão de crédito, na assunção da dívida a notificação ao credor sobre a mudança do polo passivo na relação obrigacional deverá ser expressa e só terá validade com a anuência do credor. 8. ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES 8.1. Do pagamento Pagamento é o meio de execução voluntária e exata, por parte do devedor, da prestação devida ao credor, no tempo, lugar e forma previstos no título obrigacional. Art. 304. “Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor. Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste”. Aquele que cumpre a obrigação, por ter interesse no cumprimento da mesma, ou seja, ele está vinculado à obrigação através do título obrigacional é chamado de interessado, por exemplo, o fiador. 25 O terceiro que cumpre a obrigação sem ter interesse no cumprimento da mesma. Juridicamente não tem interesse, pois não está vinculado a obrigação, ou seja, não está no título obrigacional como interessado é chamado de não interessado, por exemplo um pai que paga a dívida do filho. 8.2. Do pagamento em consignação Regulado no código civil artigos 334 a 345 o pagamento em consignação é o meio indireto do devedor se exonerar da obrigação, consistente, em deposito judicial ou extrajudicial da coisa devida. Art. 334 C.C. “Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e formas legais.” As formas de realizar o pagamento em consignação são judicial e extrajudicial, de acordo com o artigo 334 é possível determinar as duas formas de pagamento em consignação a judicial o devedor fará um deposito da coisa devida onde a coisa julgada em favor do devedor considerará válido o pagamento em consignação também chamada de quitação absoluta que também poderá ocorrer com a aceitação do pagamento em consignação por parte do credor, a quitação relativa é aquela em que ainda não resultou em uma das situações da quitação absoluta. A forma extrajudicial será feita em estabelecimentos bancários somente em casos que envolver dinheiro. O artigo 335 do código civil expressa situações em que o pagamento em consignação serão admitidos. Existem casos que a coisa ficará sob a guarda do próprio devedor. O depositário fiel é aquele que cuja coisa ficará sob sua responsabilidade, esta por sua vez poderá ficar sobre a guarda do devedor ou de um terceiro. 8.3. Do pagamento com sub-rogação A sub-rogação está prevista no código civil em seus artigos 346 a 351, é a substituição de uma pessoa por outra em uma relação obrigacional, ocorrendo a transferência dos direitos do credor para aquele que cumprira obrigação e que não é o devedor. A sub-rogação legal é a imposta por lei, que contempla vários casos em que terceiros solvem dívida alheia, conferindo-lhes a titularidade dos direitos do credor ao incorporar, em seu patrimônio, crédito por eles resgatado. (DINIZ Maria Helena, 2014, p. 294).Por exemplo o devedor solidariedade adquire direitos ao pagar a dívida toda solidariedade. 26 A sub-rogação convencional resulta do acordo de vontade entre o credor e terceiro ou entre devedor e terceiro, dede que tal convenção seja contemporânea do pagamento, e expressamente declarada, pois, se o pagamento é ato liberatório, a sub-rogação não se presume. (DINIZ Maria Helena, 2014, p. 297). 8.4. Da imputação de pagamento A imputação de pagamento consiste na operação pela qual o devedor de dois ou mais débitos da mesma natureza a um só credor, tem o direito de indicar qual dessas dívidas quer pagar por determinação legal. Prevista nos artigos 352 a 355 do código civil tem como requisitos mais de um débito, dívidas líquidas e vencidas, mesma natureza da obrigação, um só credor e um só devedor além da suficiência para pagar pelo menos uma das dívidas. De acordo com artigo 352 o devedor deve indicar qual das dividas serão imputadas (imputação do devedor), caso não o faça caberá ao credor escolher (imputação do credor), e se este também não o fizer será feita a imputação legal. De acordo com os artigos 354 e 355 podemos observar que a imputação cairá sobre juros e posteriormente havendo saldo será abatido na obrigação principal, na imputação legal será observada a dívida que primeiro venceu, caso tenham vencido na mesma data será saldada a dívida mais onerosa respeitando o disposto do artigo 354 do código civil. 8.5. Da dação em pagamento É o acordo liberatório realizado entre credor e devedor pela qual o credor consente em receber prestação diversa daquela firmada no título. O credor deve dar seu consentimento na substituição da coisa e esta concordância pode ser formal ou expressa onde o credor poderá dar a quitação especificando no recibo a coisa dada como pagamento em substituição daquela firmada no título. Há também dação informal ou tácita onde havendo a entrega do recibo na tradição da coisa considera aceita a dação em pagamento. Podemos observar que os requisitos para que haja a dação em pagamento são concordância do credor, o objeto da prestação deve ser diverso podendo inclusive substituir uma obrigação de dar por uma de fazer ou vice e versa e a liberalidade do credor ele deve concordar porém de forma espontânea. 8.6. Da novação Disposto nos artigos 360 a 367 do código civil a novação vem a ser o ato que cria uma nova obrigação, visando extinguir a anterior. A novação pode ser objetiva com distinção do objeto sem a mudança de credor e devedor ou subjetiva que se desmembra em subjetiva 27 passiva onde há mudança do polo passivo (devedor) e subjetiva ativa onde haverá mudança no polo ativo (credor). 8.7. Da compensação É a possibilidade de extinção de obrigação entre pessoas que são ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra em obrigações distintas. Expressa nos artigos 368 a 380 a compensação tem como requisitos dívidas liquidas e vencidas, coisas fungíveis e credor e devedor um do outro, ou seja, A deve a B R$100,00 e B deve a A R$80,00 se quiserem A e B poderão fazer o “encontro” dessas dívidas. A compensação total ocorre quando ambas as dívidas se extinguem enquanto a compensaçãoparcial apenas uma será extinta. Há ainda compensação legal artigo 386 do código civil onde havendo recusa de uma das partes poderá ser solicitada judicialmente e há a compensação convencional com o acordo entre as partes. 8.8. Da confusão Artigos 381 do código civil. É a aglutinação em uma única pessoa das qualidades de devedor e credor ocorrendo-se a extinção da obrigação. A confusão pode ser total quando a obrigação se extingue num todo e parcial quando a obrigação se extingue parcialmente. Como exemplo podemos citar o herdeiro (único) cujo pai era seu credor, ao herdar o crédito do pai existe o que no direito se chama confusão, pois ele acaba se tornando credor e devedor dele mesmo extinguindo-se assim a dívida totalmente. Como exemplo de confusão parcial podemos citar o mesmo exemplo porém onde exista pelo menos mais um herdeiro neste caso a divida será extinta apenas no que se refere a parte do herdeiro devedor do pai, que deverá cumprir com a parte da obrigação destinada ao outro herdeiro. 8.9. Da remissão da dívida É a liberalidade efetuada pelo credor consistente na exoneração do devedor no cumprimento da obrigação. É o perdão da dívida que pode ser expressa através da manifestação por escrito do credor que dará a quitação especificando o porquê da mesma. A remissão da dívida pode ser de forma tácita onde a simples devolução de um título ou a manifestação da vontade (não expressa),gera o perdão. 28 8.9.1. Remissão x solidariedade Em casos como a solidariedade passiva (multiplicidade de devedores), pode haver remissão de um ou mais devedores por parte do credor o que ocorrerá dedução na prestação em relaçãoà parte referente ao devedor que recebeu a remissão conforme expressa o artigo 388. “A remissão concedida a um dos codevedores extingue a dívida na parte a ele correspondente; de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode cobrar o débito sem dedução da parte remitida”. 9. INADIMPLÊNCIA Quando ocorre o descumprimento das obrigações assumidas ou seu cumprimento de forma incompleta, quebrando assim o dever jurídico criado entre aqueles que se comprometeram a dar, fazer ou se omitir de fazer algo ou alguma coisa. Anteriormente aprendemos que existem obrigações que apenas a pessoa do devedor poderá cumprir, são as chamadas obrigações infungíveis ou personalíssimas, cujo não cumprimento acarretará sanções ao inadimplente. Dispõe o art. 247 do Código Civil:“Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor querecusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exequível”. Já há aquelas obrigações fungíveis que permitem que terceiros possam cumpri-las desde que haja anuência do credor ou esteja estipulada no título, mas existem situações em que mesmo com a terceirização ocorra o inadimplemento da obrigação onde tal situação está regulada no código civil. “Art.249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre aocredor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou moradeste, sem prejuízo da indenização cabível. Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentementede autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendodepois ressarcido”. É importante ressaltar que em cada modalidade das obrigações que foram descritas anteriormente o código civil orienta de forma clara e objetiva como ocorrerá o inadimplemento e quais a consequências do descumprimento das obrigações. 29 CONCLUSÃO Ante todo o exposto verifica-se a importância do direito das obrigações para o ordenamento jurídico. Desde sua gênese até os dias atuais as relações obrigacionais decorrem das mudanças do comportamento social. Neste viés, o Direito das Obrigações surge com mecanismos capazes de regular as relações existentes entre as pessoas de modo a proporcionar segurança jurídica garantido que as relações possam se realizar baseando-se na boa fé sobre a égide da lei. É imensurável a contribuição do direito romano para a evolução da obrigação principalmente quando se abandona a ideia de castigos corporais sanções das quais o indivíduo pagava com o próprio corpo caso não cumprisse suas obrigações, tornando-se escravo e até mesmo pagando com a própria vida. Tais concepções do passadonortearam o direito tornando-o uma ciência cada vez mais adaptada à realidade da sociedade. O código civil brasileiro de 1916 influenciado pelo direito civil francês e alemão, impulsionado pelas revoluções francesa e industrial (século XIX), caracterizava-se pela centralização patrimonial no que se refere às relações entre as pessoas, sem dúvida é um período onde acordos são celebrados sem equilíbrio entre as partes, pois não há uma intervenção estatal capaz de evitar abusos contratuais firmados entre particulares. Somente com a promulgação da nova constituição federal de 1988 há uma mudança evidente nas relações entre os particulares, a pessoa em si ganha status com o princípio da dignidade da pessoa humana, juntamente com a intervenção do Estado evitando abusos e a insegurança jurídica. O novo código civil de 2002 diferentemente do anterior que priorizava a autonomia privada, passa dar relevância a coletividade, questões que envolvem a ordem pública. O direito das obrigações expresso no capítulo especial do código civil em seus artigos 233 ao 480, fonte primária das obrigações, um complexo de normas que regula as relações hodiernas de uma sociedade, relações de ordem patrimonial de suma importância para ordem econômica bem como a garantia da segurança jurídica e o bem comum. Contudo o direito das obrigações está atrelado ao cotidiano das pessoas e na grande maioria dos casos não adentra o mundo jurídico prevalecendo à manifestação da vontade e simples cumprimento das obrigações, que quando não cumpridas dão direito àquele que se sentir lesado buscar o poder judiciário para a solução da lide. 30 REFERÊNCIAS DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 2, teoria geral das obrigações. 29ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014. GONAÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 2, teoria geral das obrigações. 8ª edição. São Paulo: Saraiva, 2011. PEREIRA, Caio Mario. Instruções de direito civil, volume 2, teoria geral das obrigações. 20ª edição. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2005. LEI Nº 10.406, DE JANEIRO DE 2002. Código civil brasileiro. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm> Acesso em: 28/10/2014. 1. INTRODUÇÃO 2.DIREITO DAS OBRIGAÇÕES: CONCEITO E IMPORTÂNCIA 3. FONTES DAS OBRIGAÇÕES CIVIS 3.1. Lei 3.2. Contrato 3.3. Declaração unilateral de vontade 3.4. Ato ilícito 3.5. Decisão judicial 4. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 5. O CONTEÚDO DO DIREITO DAS OBRIAÇÕES NA ATUALIDADE 5.1. Obrigações propterrem 5.2.Elementos constitutivos da obrigação 5.2.1. Sujeitos da relação obrigacional (elemento subjetivo) 5.2.2. Objeto da relação obrigacional (elemento objetivo) 5.2.3. Vínculo jurídico da relação obrigacional (elemento abstrato) 5.4. Obrigações de dar 5.4.1. Obrigação de dar coisa certa 5.4.2. Obrigação de dar coisa incerta 5.5. Obrigação de fazer 5.5.1 Obrigação de fazer pessoal 5.5.2 Obrigação de fazer impessoal 5.6. Obrigações de não fazer 6. CLASSIFICAÇÕES DAS OBRIGAÇÕES 6.1. Obrigações Simples e composta 6.2. Obrigações líquida e ilíquida 6.3. Obrigação principal e acessória 6.3.1. Obrigação com cláusula penal 6.4. Obrigação de meio e obrigação de resultado 6.5.Obrigações alternativas 6.6. Obrigações solidárias 6.7. Obrigações divisíveis e indivisíveis 7. TRANSMISSÃO DE OBRIGAÇÕES 7.1. Cessão de crédito 7.2. Assunçãoda dívida 8. ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES 8.1. Do pagamento 8.2. Do pagamento em consignação 8.3. Do pagamento com sub-rogação 8.4. Da imputação de pagamento 8.5. Da dação em pagamento 8.6. Da novação 8.7. Da compensação 8.8. Da confusão 8.9. Da remissão da dívida 8.9.1. Remissão x solidariedade 9. INADIMPLÊNCIA CONCLUSÃO REFERÊNCIAS
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