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Conceitos introdutórios sobre empreendedorismo e pequenos negócios Edelvino Razzolini Filho* Neste capítulo serão apresentados os conceitos básicos sobre empre- endedorismo e gestão de pequenos negócios, de forma que fique es- tabelecido o marco inicial para quem desejar entender o fenômeno do empreendedorismo. Introdução Antes de qualquer outra coisa, vale a pena indagar sobre as razões que levam um indivíduo a abrir uma empresa. Poderíamos nos perguntar se é pelo lucro. Com certeza, qualquer um que inicie um em preendimento vai desejar obter lucro com ele. Porém, essa não é a única, muito menos a princi pal motivação para um empreendedor. É sobre isso que vamos discorrer neste capítulo: quais as razões que levam alguém a empreender. Para entendermos essas questões, apresentaremos os principais moti- vos, identificados na literatura e em pesquisas sobre empreendedorismo, que levam alguém a empreender, posteriormente apresentaremos a forma como o empreendedorismo evoluiu historicamente e, por fim, comentare- mos alguns aspectos do empreendedorismo no Brasil. Motivos para abertura de uma empresa Importante esclarecer que ninguém nasce empreendedor. É um proces- so de aculturamento que ocorre ao longo da vida que vai amadurecendo a pessoa, possibilitando-lhe adquirir conhecimento e desenvolver competên- cias para que, em determinado momento, resolva empreender e, preferen- cialmente, obter sucesso. * Doutor e Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Marke- ting. Administrador de Empresas. Atualmente é professor e coordenador do curso de Gestão da In- formação da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Foi supervisor de vendas e gerente de vendas de diversas empresas distri- buidoras de materiais e equipamentos médico- hospitalares na região Sul do Brasil. Gerente de produtos de indústria far- macêutica com atuação em todo o território na- cional. Foi sócio-diretor da empresa K. R. Consultoria e Assessoria Empresarial Ltda., atuando com treina- mento e consultorias na área de logística. Também foi diretor-presidente da UNIEDUC Cooperativa dos Educadores e Consulto- res de Curitiba. Autor de diversos livros e artigos publicados em revistas e eventos científicos nacio- nais e internacionais. 2 Conceitos introdutórios sobre empreendedorismo e pequenos negócios As razões ou motivos que levam alguém a iniciar um empreendimento são sempre de foro íntimo, ou seja, dizem respeito exclusivamente a cada indivíduo em particular. Contudo, pesquisas revelam alguns traços comuns à maioria dos empreendedores. Assim, segundo Bernardi (2003, p. 66), é possí- vel elencar algumas razões pelas quais as pessoas iniciam um negócio: Necessidade de realização Esse é um dos mais fortes motivos para que se inicie um empreendi- mento. O indivíduo necessita realizar-se como pessoa e como profissional e não encontrando oportunidade no seu ambiente de trabalho, decide ini- ciar um negócio próprio para garantir que poderá implementar suas ideias sem nenhum “freio” externo; o que, na prática, acaba se revelando uma meia verdade, porque fornecedores, clientes, parceiros, governos etc., são fatores limitantes de um empreendimento. De qualquer forma, o indivíduo sente que “assume o controle” da situação e, com isso, sente-se realizado. Implementação de ideias Às vezes, a pessoa trabalha em uma organização que não lhe dá a opor- tunidade para colocar em prática suas ideias visando melhorar processos ou produtos da empresa. Assim, ela resolve iniciar um negócio próprio para ter a liberdade de implementar suas ideias. Isso leva ao surgimento de muitos novos negócios. Geralmente, quando as organizações compreendem a importância da- quilo que se convencionou denominar intraempreendedorismo (quando a organização concede liberdade a seus empregados para agirem como se fossem “donos do negócio”), é mais difícil a saída de pessoas com essas ca- racterísticas. Porém, quando ocorre o oposto, é comum ver indivíduos que deixaram seus empregos unicamente para implementar ideias próprias sobre produtos ou processos de negócios. E, na maioria dos casos, esses in- divíduos obtêm sucesso. Conceitos introdutórios sobre empreendedorismo e pequenos negócios 3 Independência Um dos motivos mais comuns para um negócio próprio é a conquista da independência, seja financeira ou de relações de trabalho. Porém, é im- portante esclarecer que um empreendedor, sobretudo nos estágios iniciais do empreendimento, costuma trabalhar mais do que qualquer outra pessoa dentro do negócio. O empregado sempre tem um determinado horário para cumprir, enquanto que o dono não tem horário para encerrar o expediente. Fuga da rotina profissional Existem pessoas que não suportam a rotina quando têm de fazer sempre a mesma coisa, por mais importantes que possam ser para a organização. Essas pessoas, geralmente, acabam abrindo seu próprio negócio exclusiva- mente para livrar-se da rotina organizacional. Esse motivo tanto pode resultar em um empreendimento de sucesso, quanto em um de fracasso retumbante. Porém, geralmente, essas pessoas possuem características de insatisfação estabelecida que as levam a estar permanentemente inovando o negócio e, com isso, aumentando suas chan- ces de sucesso. Maiores responsabilidades e riscos Semelhante à questão da independência, o desejo de assumir maiores responsabilidades, de correr riscos profissionais, é um dos motivos fortes para uma pessoa iniciar um negócio próprio. Quando desenvolve um negó- cio próprio, o empreendedor assume todas as responsabilidades sobre este. Além disso, também assume a responsabilidade pelos riscos, sendo impor- tante esclarecer que uma das características comum aos empreendedores é que (ao contrário do que muitos pensam) não correm riscos desnecessários. Os empreendedores normalmente calculam os riscos antes de iniciar qual- quer atividade. 4 Conceitos introdutórios sobre empreendedorismo e pequenos negócios Prova de capacidade e autorrealização Muitos indivíduos assumem os riscos de empreender apenas para prova- rem, a si mesmos, que são capazes. Também existem aqueles que resolvem empreender para provar a outras pessoas a sua capacidade de vencer em um negócio próprio. Importante destacar o fato de que aqueles que procuram provar sua ca- pacidade apenas para si mesmos apresentam maior probabilidade de suces- so, enquanto que aqueles que desejam provar aos outros que possuem ca- pacidade apresentam maiores probabilidades de fracasso, pois nesses casos a automotivação é menor. Diretamente relacionada com a prova de capacidade para si mesmo, en- contramos a necessidade de autorrealização, que caracteriza os empreende- dores. A autorrealização é uma das chamadas necessidades secundárias de Maslow1, inerente aos seres humanos, que se manifesta de maneira muito forte nos empreendedores. Maiores ganhos Logicamente, um dos motivos que leva as pessoas a empreenderem é a possibilidade de obterem ganhos maiores do que os obtidos como empre- gados, embora essa não seja uma verdade absoluta, sobretudo nos estágios iniciais do negócio, e muito menos represente real possibilidade de maiores rendimentos por parte do empreendedor, uma vez que o mesmo necessitará reinvestir no próprio negócio uma parcela significativa dos ganhos obtidos. Porém, uma dose de ambição é importante e necessária para quem pre- tende iniciar um negócio próprio. Status Outra razão para iniciar um negócio é a obtenção de status junto aos grupos sociais dos quais a pessoa participa. Essa também é uma das necessi- dades secundárias identificadas por Maslow (necessidade de estima), o que justifica plenamente sua busca pelo empreendedor. Porém, convém desta- car que apenas esse motivo não garantirásucesso ao empreendimento. 1 Abraham Maslow foi um psicólogo comportamen- tal criador da hierarquia das necessidades, sinteti- zada numa pirâmide que representa uma divisão hierárquica a respeito das necessidades humanas em dois grandes grupos: necessidades primárias e necessidades secundárias. Conceitos introdutórios sobre empreendedorismo e pequenos negócios 5 Além dos motivos até aqui relacionados, existem outras razões que podem justificar a abertura de um negócio próprio, conforme segue. Necessidade A falta de uma oportunidade de emprego pode levar o indivíduo a abrir seu próprio negócio. Esse fenômeno é mais comum de ocorrer com pessoas com mais idade, que encontram dificuldades no mercado de trabalho. Em momentos de crise econômica é comum percebermos aumento nos índices de abertura de novos negócios, indicando que as pessoas co- meçam um novo negócio apenas para resolver um problema temporário, o que também justifica os elevados índices de mortalidade de empresas com pouco tempo de existência, que também crescem nesses períodos. Vocação Existem indivíduos que apresentam vocação para exercer um determina- do tipo de trabalho e, como consequência, não se sentem muito à vontade recebendo ordens em uma organização que não lhes oportuniza a realização daquele trabalho. Por exemplo, uma pessoa que gosta muito de cozinhar e vai trabalhar em uma atividade administrativa, certamente não se sentirá re- alizada em sua atividade profissional; surgindo a oportunidade de abrir um restaurante, por exemplo, essa pessoa partirá para essa iniciativa e, com isso, realizará sua vocação pessoal. Empreendimentos iniciados sob essas circunstâncias são aqueles que apresentam enormes possibilidades de sucesso. Pressões familiares Às vezes o indivíduo passa por momentos em que seu rendimento não é compatível com o padrão de gastos familiares (ganha menos do que neces- sita), e começa a ser pressionado pela família para buscar maiores ganhos. Esse comportamento pode atrapalhar o desenvolvimento pessoal e profis- sional do indivíduo. Porém, também pode representar uma oportunidade de buscar novas fronteiras/limites para seu desempenho profissional com 6 Conceitos introdutórios sobre empreendedorismo e pequenos negócios a abertura de um negócio próprio. Contudo, um negócio aberto sob essa perspectiva, se não for bem planejado e executado, com coerência às com- petências do empreendedor, apresenta um elevado potencial de fracasso. Visão de uma oportunidade Essa é uma habilidade típica do empreendedor. Enxergar oportunidades onde os outros não conseguem perceber. Empreendedores com a capaci- dade de perceber oportunidades, sobretudo antes que os demais, possuem grandes chances de sucesso. Enfim, é oportuno destacar que independente do número de característi- cas apresentadas e do grau em que cada uma se manifeste, sempre será ne- cessário possuir (ou adquirir) conhecimentos técnicos suficientes para gerir o negócio. A seguir, apresentaremos uma breve evolução histórica do empre- endedorismo. Evolução histórica do empreendedorismo Se pararmos para pensar nas origens do empreendedorismo, vamos per- ceber que quando o homem começou a caçar para se alimentar e desen- volveu armas para poder enfrentar animais maiores do que ele, certamente esse primeiro hominídeo já demonstrava características empreendedoras. A descoberta do fogo (na verdade, como conservá-lo e, mais tarde, como produzi-lo) e a invenção da roda, por exemplo, provavelmente foram obras de indivíduos empreendedores. Porém, o empreendedorismo somente começa a ser analisado mais tarde. Por volta do século XII entendia-se como empreendedor aquele indivíduo que incentivava brigas de rua para lucrar com apostas. Mais tarde, no século XVI entendia-se como empreendedor o indivíduo que comandava uma ação militar, uma vez que se vivia um período histó- rico em que a conquista de terras era de fundamental importância. Somen- te depois, no século XVII, é que os economistas começaram a estudar mais detalhadamente o fenômeno do empreendedorismo e passa-se a entender como empreendedor o indivíduo que criava e dirigia um empreendimen- to; assim, o empreendedor passou a ser visto como um agente importante Conceitos introdutórios sobre empreendedorismo e pequenos negócios 7 de mudança. Porém, nessa fase, os economistas diferenciavam a figura do empreendedor da figura do capitalista, entendendo o empreendedor como quem assumia os riscos, enquanto o capitalista era quem fornecia o capital. No século XX, o empreendedorismo ganha uma nova dimensão, sendo entendido como um fenômeno abrangente responsável pela geração de emprego e renda em diferentes momentos históricos de dificuldades eco- nômicas, como a crise da bolsa nos Estados Unidos em 1929, as duas grandes guerras mundiais, a guerra do Vietnã e a crise do petróleo em 1973. Nesses momentos, os empreendedores foram responsáveis pela criação de empre- go e renda nas economias afetadas por dificuldades. A partir dos anos 1980, o fenômeno do empreendedorismo ganhou força e passou a ser incluído nos currículos das escolas de administração, a ser estudado como uma prática importante para as economias e, ainda, a ser estimulado por governos e instituições de diversas origens. Portanto, é importante compreender o que é o empreendedorismo e, para isso, vamos ver alguns conceitos sobre o tema. Conceito de empreendedor e empreendedorismo Joseph Schumpeter, economista do século XX, retoma os estudos de Jean Batiste Say e define o empreendedor como “aquele que destrói a ordem eco- nômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização ou pela exploração de novos recursos mate- riais” (SCHUMPETER apud DORNELAS, 2001, p. 37). O autor introduziu, assim, o conceito de “destruição criativa” para o empreendedorismo. Para Kirzner (1973, apud DORNELAS, 2001, p. 37), o empreendedor “é aquele que cria um equilíbrio, encontrando uma posição clara e positiva em ambiente de caos e turbulência” Jeffry Timmons (1990, apud DORNELAS, 2001, p. 19) define o empreende- dorismo como “uma revolução silenciosa, que será para o século XXI mais do que a Revolução Industrial foi para o século XX”. Segundo Filion (1999, p. 19), “um empreendedor é uma pessoa que ima- gina, desenvolve e realiza visões”. 8 Conceitos introdutórios sobre empreendedorismo e pequenos negócios Por sua vez, Shapero (apud URIARTE, 1999, p. 49) , conceitua o empreen- dedor como “alguém que toma a iniciativa de reunir recursos de uma manei- ra nova ou para reorganizar recursos de maneira a gerar uma organização, relativamente independente, cujo sucesso é incerto”. Já para Dornelas (2001), o empreendedorismo não é um modismo, é uma consequência das mudanças tecnológicas e sua rapidez é aliada à competi- ção na economia globalizada. Dessa forma, podemos definir empreendedor como [...] toda e qualquer pessoa que tem a coragem de ser a condutora de sua própria história, de criar fatos novos com base na realidade existente, por mais que essa realidade possa parecer nebulosa e difícil, sem perspectivas e insegura. São pessoas empreendedoras aquelas que acreditam ser possível mudar e fazem as mudanças, apesar de tudo e de todos. (RAZZOLINI FILHO, 2010) Analisando-se todos os conceitos citados, podemos entender que o em- preendedorismo é uma prática que pode ser aprendida e, por sua vez, ensi- nada. Ou seja, claro que existem indivíduos com uma predisposição nata para o empreendedorismo. Porém, essa é uma prática passível de ser aprendida. Uma vez que o empreendedorismo passou a ser ensinado nas escolas, ocorreu um crescimento dos empreendimentos em diferentes pontos do globo terrestre. Sobre o crescimento do empreendedorismo discorremos a seguir. Crescimentodo empreendedorismo Existem diversos estudos demonstrando que o empreendedorismo e o surgimento de pequenos negócios cresceram significativamente a partir dos anos 1980, mais do que em qualquer outro período do século XX (DRUCKER, 1987; FILION, 1999; THORNTON, 1999). O Brasil, por exemplo, comparado com países no mesmo estágio de desenvolvimento, ocupa a sexta posição entre os países com maiores taxas de empreendedorismo apresentadas pela Taxa de Empreendedores em Estágio Inicial (TEA), equivalendo a 18,8 mi- lhões de pessoas, demonstrando um crescimento em relação às últimas pes- quisas realizadas (GEM, 2009). O que os estudos têm demonstrado é que essa evolução parece decorrer de mudanças estruturais no mundo do trabalho, principalmente nas últimas décadas do século XX, que elevaram as taxas de desemprego na imensa maioria dos países do mundo capitalista. A falta de emprego leva as pessoas a buscarem na abertura de um negócio próprio uma alternativa de trabalho Conceitos introdutórios sobre empreendedorismo e pequenos negócios 9 para sua sobrevivência. Filion (1999) chama essa categoria de empreendedor de “involuntário”, normalmente, caracterizados como jovens recém-formados e aquelas pessoas demitidas em razão de processos de fusões, privatizações e reengenharia. Para ele, os “empreendedores involuntários tendem a optar pelo autoemprego, mas não são empreendedores no sentido geralmente aceito do termo. Criam uma atividade de negócio, mas não são movidos pelo aspecto da inovação” (FILION, 1999, p. 18). Assim, surge importante preocupação com esse tipo de empreendedoris- mo: as elevadas taxas de mortalidade desses negócios. Segundo o Sebrae- -SP (2010), 27% fecham ainda no seu primeiro ano de atividade. Além disso, o estudo relata que entre as principais causas para o fechamento de empre- sas encontram-se: comportamento empreendedor pouco desenvolvido; � falta de planejamento prévio; � gestão deficiente do negócio; � insuficiência de políticas de apoio; � flutuações na conjuntura econômica; � problemas pessoais dos proprietários. � Entretanto, o processo de modernização tecnológica e gerencial, além da modernização dos processos de trabalho vividos no Brasil a partir da segun- da metade dos anos 1980, também foram motivadores para a abertura de novos negócios. O próprio fenômeno da terceirização, decorrente dessa mo- dernização, também levou ao surgimento de muitos novos negócios. Segundo a pesquisa GEM (2009), realizada em 59 países, no Brasil existe uma avaliação positiva em relação tanto à existência de oportunidades no ambiente quanto à existência de capacidade individual para a abertura de novos negócios. Isso permite depreender que a sociedade brasileira é bas- tante receptiva aos empreendedores e aos novos empreendimentos, da mesma forma que tem se acostumado a ver cada vez mais histórias relacio- nadas com a criação de novos negócios sendo apresentadas na mídia. A pesquisa demonstra que 39% dos empreendimentos ainda surgem por necessidade (o empreendedorismo chamado de involuntário por Filion), enquanto que 61% dos novos negócios decorrem da análise de oportunidades. 10 Conceitos introdutórios sobre empreendedorismo e pequenos negócios Na pesquisa de 2008 o Brasil ocupava o 13.º lugar em empreendedo- rismo, e em 2009 ocupou a 14.ª posição, mostrando uma estabilidade em termos das taxas de empreendedorismo no país. Assim, o empreendedoris- mo cresce, não apenas no Brasil, mas em todas as economias em desenvolvi- mento e mesmo naquelas já desenvolvidas. Ampliando seus conhecimentos Neste tópico, indicamos sites na internet ou livros, para que você possa avançar um pouco mais no assunto. <www.rs4e.com/portal/caracteristicas_empreendedor>. Acesso em: 30 abr. 2010. É um site português, de um projeto que objetiva levar as noções de em- preendedorismo a estudantes dos 6 aos 25 anos. <www.sebraesp.com.br/faq/criacao_empresa/empreendedor/caracte- risticas_empreendedor>. Acesso em: 1 maio 2010. Nesse link o Sebrae-SP indica algumas das principais características que o empreendedor deve apresentar. <http://sucesso.powerminas.com/10-caracteristicas-de-um-empreende- dor-de-sucesso/>. Acesso em: 2 maio 2010. Esse link contém um texto sobre 10 características de empreendedores de sucesso. <www.administradores.com.br/informe-se/artigos/o-empreendedor- no-brasil/29868/>. Acesso em: 28 abr. 2010. Trata-se de um artigo sobre a figura do empreendedor no Brasil. Referências BERNARDI, Luiz Antonio. Manual de Empreendedorismo e Gestão: fundamen- tos, estratégias e dinâmicas. São Paulo: Atlas, 2003. DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. Rio de Janeiro: Campus, 2001. Conceitos introdutórios sobre empreendedorismo e pequenos negócios 11 DRUCKER, Peter F. Inovação e Espírito Empreendedor – Entrepreneurship. São Paulo: Thomson Pioneira, 2001. FILION, L. J. Diferenças entre sistemas gerenciais de empreendedores e operado- res de pequenos negócios. Revista de Administração de Empresas, São Paulo: RAE, v. 39, n. 4, out./dez. 1999, p. 6-20. FILION, L. J. O planejamento do seu sistema de aprendizagem empresarial: identi- fique uma visão e avalie o seu sistema de relações. Revista de Administração de Empresas (RAE), São Paulo, jul./set., p. 63-71, 1991. ______. Empreendedorismo: empreendedores e proprietários-gerentes de pe- quenos negócios. Revista de Administração da Universidade de São Paulo (Rausp), São Paulo, abr./jun,1999. GLOBAL Entrepreneurship Monitor (GEM). Disponível em: <http://200.249.132. 92:8080/notitia/dowload/Pesquisa-GEM-2009.pdf>. Acesso em: 2 maio 2010. KIRZNER, Israel. Competition and Entrepreneurship. Chicago: University of Chi- cago Press, 1973. RAZZOLINI FILHO, Edelvino. Empreendedorismo: dicas e planos de negócios para o século XXI. Curitiba: Ibpex, 2010. SCHUMPETER, Joseph Alois. Change and the Entrepreneur: postulates and pat- terns of entrepreneurial history. Cambridge: Harvard U.P., 1949. SEBRAE-SP. 10 Anos de Monitoramento da Sobrevivência e Mortalidade de Empresas. Disponível em: <www.sebraesp.com.br/sites/default/files/livro_10_ anos_mortalidade.pdf>. Acesso em: 4 maio 2010. THORNTON, Patricia H. The sociology of entrepreneurship. Annual Review So- ciology, 103 Palo Alto, v. 25, p. 19-46, 1999. TIMMONS, Jeffry A. New Venture Creation: Entrepreneurship for the 21st Cen- tury, 4. ed., Boston: Irwin, 1990. URIARTE, L. R. Tendências empreendedoras das profissões. In: ENCONTRO NA- CIONAL DE EMPREENDEDORISMO, 1., 1999. Florianópolis. Anais... Florianópolis: UFSC. 12 Conceitos introdutórios sobre empreendedorismo e pequenos negócios Riscos para as MPEs Edelvino Razzolini Filho* Este capítulo tem como objetivos demonstrar que empreender não é apenas um bom negócio, que é necessário ter os “pés no chão” porque os riscos existem; relacionar os principais motivos de fechamento de empresas; apresentar algumas fontes de ideias para os empreendimentos. Introdução Quando se estuda a questão do empreendedorismo e do gerenciamento dos pequenos negócios, é possível perceber que existem alguns aspectos desconsiderados pelos empreendedores no momento de iniciar o negócio. Esses aspectos desconsiderados são chaves para o sucesso, ou o fracasso, do novo negócio, uma vez que podem esconder algumas surpresas desagradá- veis ao empreendedor. Todo negócio apresenta um determinado ciclo de vida e, como conse- quência, exige cuidados específicos em cada uma das etapas desse ciclo. Apenas para que se tenha uma ideia da importância dos pequenos negó- cios, é interessante entender que até os anos 1980, as empresas que tinham menos de 100 funcionários eram irrelevantes para a economia nacional, não sendo consideradas no planejamento público. Atualmente, de cada 100 empresas no Brasil,98 são micro ou pequenas empresas. Além disso, quase metade da mão de obra do país, algo em torno de quarenta milhões de tra- balhadores, está empregada nessas empresas. Os riscos apresentados à sobrevivência das empresas são consideráveis e, por isso, não devem ser desconsiderados pelos empreendedores. Em média, 40% das empresas citadas na lista Fortune 500 (da Revista Fortune), há uma década já não existem mais. Outro dado interessante de ser considerado é que das 12 empresas que formaram o índice Dow Jones em 1990, apenas a General Electric (GE) sobreviveu com o mesmo tamanho que possuía na época. Ou seja, é preciso compreender que existem riscos à sobrevivência das pequenas e médias empresas (PMEs). Sobre isso é que se discorre neste capítulo. * Doutor e Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Marke- ting. Administrador de Empresas. Atualmente é professor e coordenador do curso de Gestão da In- formação da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Foi supervisor de vendas e gerente de vendas de diversas empresas distri- buidoras de materiais e equipamentos médico- hospitalares na região Sul do Brasil. Gerente de produtos de indústria far- macêutica com atuação em todo o território na- cional. Foi sócio-diretor da empresa K. R. Consultoria e Assessoria Empresarial Ltda., atuando com treina- mento e consultorias na área de logística. Também foi diretor-presidente da UNIEDUC Cooperativa dos Educadores e Consulto- res de Curitiba. Autor de diversos livros e artigos publicados em revistas e eventos científicos nacio- nais e internacionais. 14 Riscos para as MPEs Motivos de fechamento de pequenos e médios negócios São muitos os motivos que podem provocar o encerramento de um ne- gócio. Desde a falta de visão de negócios por parte do empreendedor até uma forte crise econômica para o seu setor de atividade, passando por pro- blemas de gestão, planejamento e, até mesmo, problemas de saúde do dono do negócio. Assim, é necessário compreender os motivos que levam a uma “taxa de mortalidade” de 27% das empresas apenas no primeiro ano de vida e de 70% nos três primeiros anos de existência do negócio (SEBRAE-SP, 2010). No estudo do Sebrae-SP de 2010 podemos identificar os principais motivos para o fechamento de um negócio, que nos permitem sua classificação em grupos distintos, conforme se relaciona a seguir. Importante esclarecer que um motivo poderia enquadrar-se em mais de uma das categorias apresentadas. Apenas se adotou uma classificação para servir como forma de representar didaticamente o tema, sem qualquer preocupação mais rigorosa (metodológica) quanto à categorização dos mesmos. É muito difícil classificar um motivo em uma ou outra categoria, uma vez que mesmo para profissionais com muita experiência, identificar correta- mente a fonte de um problema organizacional é sempre difícil, pois é mais comum identificar-se os efeitos de um problema do que suas causas reais. Motivos econômico-financeiros Os motivos econômico-financeiros podem ser descritos como aqueles que afetam o ativo das empresas, ocasionando problemas de difícil solução, entre esses, podemos relacionar: Alterações na conjuntura econômica � – claro que quando a econo- mia, seja nacional ou internacional, sofre alterações, qualquer negócio sofre consequências, sobretudo os pequenos negócios que estão em seus estágios iniciais. Isso ocorre porque as pessoas (clientes) são afe- tadas e, como resultado, alteram seus padrões de compra. Falta de capital de giro � – o capital de giro é essencial para financiar o dia a dia dos negócios e, quando ocorre falta, o negócio fica compro- metido porque não consegue sustentar o mesmo nível de operações. Riscos para as MPEs 15 Excesso de imobilizações financeiras � – quando o empreendedor, por qualquer motivo, realiza aplicações de recursos de forma inade- quada, investindo em imóveis ou equipamentos, por exemplo, pode comprometer os recursos do empreendimento pelo fato que imobili- zações são mais difíceis de serem transformadas rapidamente em di- nheiro, se necessário. Falta de política de crédito aos clientes � – não ter clareza suficiente na hora de conceder créditos pode comprometer o fluxo de caixa do empreendimento, ocasionando falta de recursos para financiar o fun- cionamento operacional. Falta de controle de custos � – os custos devem ser motivo de preocu- pação permanente dos empreendedores, devendo ser cortados per- manentemente. Quando não se controla adequadamente os custos, as margens podem ser comprimidas a tal ponto que não gerem o neces- sário retorno para financiar o desenvolvimento do negócio. Gestão financeira deficiente � – de certa forma, isso está contempla- do em outros tópicos anteriores. A gestão financeira é fundamental para que exista um equilíbrio no fluxo de caixa da organização, por- que sem dinheiro para financiar as operações diárias, o negócio tende a naufragar. Motivos comportamentais Por motivos comportamentais, entendemos aqueles relacionados com decisões pessoais do empreendedor, resultado do seu comportamento característico. Um comportamento empreendedor pouco desenvolvido � – às ve- zes, as pessoas resolvem empreender pelos motivos errados, não apre- sentando as características comportamentais necessárias ao sucesso de um empreendimento. Assim, é necessário que o empreendedor de- senvolva melhor as características empreendedoras antes de se aven- turar em um negócio próprio. Dificuldades pessoais dos proprietários � – às vezes, os indivíduos apresentam dificuldades, por exemplo, na questão do gerenciamento financeiro. Isso é natural e deve ser compreendido a partir de uma sin- cera autoanálise por parte do empreendedor, visando suprir eventuais deficiências. 16 Riscos para as MPEs Pouca informação � – vivemos numa época em que informação é fun- damental para se conseguir resultados. Assim, o empreendedor deve identificar fontes de informações e buscar as informações necessárias para tomar as melhores decisões possíveis. Falta de experiência e preparo empresarial � – essa é uma situação muito comum de ser encontrada, principalmente nos pequenos negó- cios. Aqui também é necessário uma autoanálise para verificar quais as deficiências a serem supridas com treinamentos, cursos de capaci- tação etc. Motivos ambientais Relacionamos, neste tópico, algumas questões relacionadas com o am- biente em que os negócios se inserem. Insuficiência de políticas públicas de apoio � : embora exista um pro- fundo interesse governamental pelas questões do empreendedoris- mo, pode ser que na área específica de atuação do negócio não exis- tam políticas públicas que apoiem investimentos. Localização inadequada � : o espaço geográfico de atuação é de fun- damental importância para muitos negócios. Assim, é recomendável consultar especialistas em estudos de localização para assegurar-se que o negócio estará bem localizado. Dificuldades de suprimentos de matéria-prima � : também por ques- tões ambientais, pode acontecer de o empreendedor instalar-se em determinado local e, em determinado momento, encontrar dificulda- de de suprimentos de matéria-prima, ou porque se exauriu o recurso no local, ou porque o fornecedor que existia não existe mais, ou por qualquer outro motivo. Isso pode ser um problema gravíssimo se hou- ver dependência excessiva de determinada fonte de suprimentos. Tecnologia ultrapassada � : em determinados ramos de negócios as evoluções tecnológicas são frequentes e muito rápidas, fazendo com que o negócio possa ficar defasado tecnologicamente, comprometen- do sua sobrevivência. Riscos para as MPEs 17 Motivos administrativos Falta de planejamento prévio � : é senso comum, entre todos os estu-diosos do tema empreendedorismo, que o planejamento é requisito fundamental. Administração deficiente do negócio � : sem competência de geren- ciamento é quase impossível que um negócio se desenvolva. É neces- sário que o empreendedor domine conceitos básicos de gestão para ter chances de sobrevivência. Desconhecimento do negócio � : existem muitos empreendedores que resolvem iniciar um negócio apenas porque viram que aquele ramo está “dando dinheiro”. Assim, aventuram-se em um ramo de negócio sobre o qual não conhecem nada. Falta de qualidade dos produtos e/ou serviços � : esse é um requisito básico nos dias atuais. Se o negócio não apresentar um padrão de qua- lidade mínimo satisfatório para competir, certamente estará fadado ao fracasso. Falta de qualificação do pessoal � : o principal recurso para o sucesso de qualquer empreendimento são as pessoas que o compõem. Se as pessoas não tiverem a qualificação mínima desejável (e necessária), certamente o negócio ficará comprometido. Outros motivos Entre os motivos que levam um negócio a fechar as portas, certamente dois são bastante frequentes, os problemas societários e os problemas de sucessão. Problemas societários � : problemas societários acontecem quando o empreendedor busca um sócio (ou mais de um) para financiar uma ideia de negócio. Isso é bastante comum, uma vez que às vezes o em- preendedor tem a ideia, mas não tem os recursos financeiros suficien- tes. Porém, é preciso escolher muito bem quem será sócio no negócio, como serão as regras de mando, divisão de resultados etc., para evitar conflitos que acontecem com mais frequência que o desejável. 18 Riscos para as MPEs Problemas de sucessão familiar � : esse problema é muito comum em estágios mais adiantados da existência do empreendimento, quando o empreendedor precisa ser substituído no comando do negócio (por motivos de saúde, falecimento ou qualquer outro), e não tem um her- deiro preparado para sucedê-lo. Os problemas sucessórios são comuns e devem ser planejados com antecedência para evitar comprometer a continuidade do negócio. Claro que existem muitos outros motivos que levam ao fechamento de uma empresa, como a carga tributária, a falta de acesso a crédito barato, entre tantos outros. Porém, o objetivo foi relacionar alguns aspectos signifi- cativos que afetam diretamente o empreendedor e o empreendimento. Além das causas para o fechamento dos pequenos e médios negócios, existem outros motivos de fracasso dos empreendedores, conforme apre- sentamos na sequência. Motivos de fracasso dos empreendedores Neste tópico, relacionamos alguns motivos de fracasso dos empreende- dores, não dos empreendimentos. Ou seja, no tópico anterior, destacamos motivos que levam ao fechamento dos negócios, mesmo que relacionados aos indivíduos. Aqui, pretendemos apresentar alguns motivos do fracasso pessoal, uma vez que quando o indivíduo fracassa, porque o negócio “foi mal”, o seu estado psicológico será diferente daquele quando o fracasso é decorrência de atitudes ou comportamentos pessoais. Lealdade em relação a colegas � : muitas pessoas iniciam um negócio e não sabem separar a amizade do negócio; assim, ouvem conselhos de amigos e, para não desagradá-los, acabam colocando em prática algumas coisas. Concedem crédito a amigos, trazem amigos para tra- balhar no negócio, simplesmente porque são amigos, não consideran- do a competência destes, entre outros erros comuns. Convém, aqui, lembrar o ditado popular: amigos, amigos; negócios à parte. Caso o empreendedor saiba separar a amizade dos negócios, certamente es- tará em melhores condições para o sucesso. Visão estreita � : muitas vezes, o indivíduo inicia um novo negócio com uma visão limitada, vislumbrando apenas uma ou poucas possibilida- Riscos para as MPEs 19 des para o negócio. A visão estreita é exatamente isso, não enxergar no- vas ideias, novas possibilidades para um mesmo produto ou processo. Trabalho isolado � : outro motivo comum de fracasso do empreende- dor é a falta de contato com clientes, fornecedores, prestadores de serviços etc., o que pode comprometer os resultados do negócio pelo simples fato de que o empreendedor não é conhecido e, por isso, não compreendido por seus parceiros de negócio. Orientação para a tarefa � : quando o indivíduo é orientado para tare- fas, tende a se perder com o excesso de detalhes, sem preocupar-se com o que realmente importa: o todo do negócio. Assim, é preciso que o empreendedor ocupe-se em “gerenciar a floresta, e não cada árvore em detalhes”. Não deve haver uma excessiva preocupação com o de- talhamento de cada tarefa. O importante é a execução do processo como um todo. Falta de formação especializada � : é preciso compreender a necessi- dade do negócio em termos específicos para a execução de processos. Assim, quando o empreendedor não tiver a formação específica para aquele negócio, deve buscar o conhecimento que lhe faltar, uma vez que muitos empreendedores fracassam justamente por não possuí- rem a formação técnica naquele negócio. Diferenciando ideias de oportunidades Às vezes, as pessoas confundem ideias e oportunidades, não compreen- dendo que uma ideia é um projeto ou um plano que o indivíduo concebe e pode ou não implementar, enquanto que uma oportunidade é algo que surge no ambiente e apresenta uma determinada característica temporal, devendo ser aproveitada (ou não) num determinado lapso de tempo, sob pena de não poder ser mais aproveitada caso se deixe passar esse tempo adequado (daí a expressão “janela de oportunidade”). Assim, as ideias são sempre oriundas do indivíduo (internas), a partir de sua experiência de vida, sua história, cultura, conhecimentos etc. Por outro lado, as oportunidades são decorrência de fenômenos externos, ambientais, e podem (ou não) ser transformadas em ideias para os negócios. 20 Riscos para as MPEs Segundo Dolabela (1999), uma das causas de fracasso para os negócios é exatamente o fato de não se saber distinguir entre ideias e oportunidades, uma vez que identificar e agarrar uma oportunidade é uma das grandes vir- tudes dos empreendedores de sucesso. Exatamente em função da existência de oportunidades é que se reco- menda ao empreendedor uma constante análise do ambiente onde está in- serido; e essa é uma competência que se desenvolve pela prática constante. Além disso, não se deve esquecer que a partir de uma oportunidade é que existe uma ideia, mas apenas com estudo de viabilidade (por meio do plano de negócio) é que se verifica o potencial para um negócio, ou não. Alguns aspectos sobre as oportunidades Como comentado anteriormente, as oportunidades estão no ambiente e apresentam algumas características relevantes, entre as quais se destacam: Caráter de temporalidade � – não são permanentes, uma vez que a partir do momento que alguém a identifica e aproveita, deixa de ser oportunidade para outros. Ajuste ao indivíduo � – uma oportunidade não é aproveitável por to- das as pessoas, uma vez que as características individuais determinam o ajuste ao indivíduo à oportunidade (história de vida, conhecimentos, motivação etc.). Reconhecimento � – embora a literatura disponível apresente diversos métodos, reconhecer e aproveitar uma oportunidade depende mais da capacidade individual do que de técnicas ou métodos. Desafio � – uma oportunidade geralmente se encontra onde existem in- consistências, lacunas de informações e outros aspectos que dificultam sua percepção, embora quanto mais imperfeito seja o mercado, mais chances de localizar oportunidades existem. Assim, o empreendedor tem o enorme desafio de identificar oportunidades entre o caos. Em síntese, uma oportunidade é sempre um alvo em movimento, exigin- do atenção constante às mudanças ambientais, representando sempre enor- mespossibilidades para o empreendedorismo. Riscos para as MPEs 21 Uma oportunidade vai ser suportada por uma ideia de um produto ou serviço que vai criar, ou agregar, valor para um cliente. Um empreendedor competente vai dar forma às oportunidades, por meio de ideias para seu aproveitamento. Convém lembrar que existem mais ideias do que boas oportunidades para negócios. Assim, vamos apresentar a seguir algumas possíveis fontes de ideias para a geração de novos negócios. Fontes de ideias para novos negócios Algumas fontes de ideias para a criação de novos negócios são óbvias e estão facilmente disponíveis, outras não estão tão facilmente disponíveis. Assim, vamos apresentar algumas fontes que podem ser utilizadas pelo em- preendedor para iniciar um novo empreendimento. Revistas especializadas � : atualmente, existem no mercado editorial vários títulos específicos voltados aos negócios. Assim, a leitura de re- vistas de negócios pode ser uma excelente fonte de ideias. Empregos anteriores � : o empreendedor pode extrair ideias para no- vos negócios a partir de sua experiência acumulada em empregos an- teriores. Um exemplo é o ressurgimento da máquina fotográfica Pola- roid, que um grupo de ex-funcionários relançou a partir da ideia de um novo tipo de filme. Franquias � : as franquias representam uma boa opção, sobretudo para quem não tem conhecimento profundo em determinado setor de negócios, uma vez que os procedimentos para sua operação são pré- -formatados e, com isso, o empreendedor já sabe de antemão os prin- cipais recursos de que necessitará. Patentes � : uma pesquisa junto aos órgãos competentes pode revelar oportunidades para que o empreendedor compre os direitos sobre uma determinada patente, o que lhe assegurará atuar no mercado por um determinado tempo sem concorrência para o produto patenteado. Licença de produtos � : existem muitas empresas que licenciam pro- dutos para produção por terceiros. Assim, uma fonte de ideias para o empreendedor é buscar empresas desse tipo. 22 Riscos para as MPEs Feiras e exposições � : as feiras e as exposições de determinados seg- mentos de negócios podem ser uma excelente fonte de ideias para novos negócios. Assim, é recomendável a visita a esses eventos, para estabelecer contatos produtivos. Instituições de ensino e institutos de pesquisa � : as universidades e outras instituições de ensino, bem como institutos de pesquisa sem fins lucrativos, podem ser excelentes fontes de ideias. Os estudantes e os pesquisadores dessas instituições estão sempre propondo novas ideias de negócios e/ou produtos e serviços que acabam ficando dis- poníveis nas bibliotecas. Contatos profissionais � : estabelecer contatos periódicos com conta- dores, gerentes de bancos, associações de empreendedores, associa- ções comerciais, advogados de patentes e outros profissionais liberais, pode ser uma excelente fonte de ideias. Serviços de consultoria � : prestar serviços de consultoria pode ser uma excelente oportunidade de aprendizagem e conhecimento. Também pode ser uma boa ideia contratar os serviços de uma consultoria. Aquisições � : adquirir um negócio existente, que esteja atravessando um período de dificuldades, pode ser uma excelente oportunidade. Claro que essa lista não esgota todas as possibilidades, uma vez que o em- preendedor pode ter ideias a partir da observação do que se passa à sua volta, enquanto caminha pela rua pode estudar ideias que deram certo em outros lugares (até mesmo em outros países), pode utilizar sua experiência enquan- to consumidor, analisar modificações na demografia ou mudanças socioeco- nômicas, copiar ideias já existentes, entre tantas outras possibilidades. O importante é que o empreendedor faça uso de suas habilidades pes- soais para transformar ideias em oportunidades, fazer com que sua visão de negócio ganhe vida, transformando coisas que podem ser melhoradas, am- pliando ideias já existentes a partir de sua capacidade criativa, combinando recursos de novas formas. Riscos para as MPEs 23 Ampliando seus conhecimentos Neste tópico, indicamos sites na internet ou livros, para que você possa avançar um pouco mais no assunto. <www.planodenegocios.com.br/dinamica_novanoticia.asp?tipo_ tabela=novanoticia&id=181>. Acesso em: 30 abr. 2010. Artigo sobre o im- pacto da carga tributária sobre os negócios. <www.igf.com.br/aprende/dicas/dicasResp.aspx?dica_Id=571>. Acesso em: 2 maio 2010. Trata-se de um texto do professor Dornelas sobre os moti- vos de fechamento de empresas. Referências DOLABELA, Fernando Celso. O Segredo de Luiza. São Paulo: Cultura, 1999. SEBRAE-SP. 10 Anos de Monitoramento da Sobrevivência e Mortalidade de Empresas. Disponível em: <www.sebraesp.com.br/sites/default/files/livro_10_ anos_mortalidade.pdf>. Acesso em: 4 maio 2010. 24 Riscos para as MPEs Características dos empreendedores Edelvino Razzolini Filho* Neste capítulo apresentaremos as características mais comuns aos em- preendedores e como identificá-las e introduzir a questão do plano de negó- cios como um qualificador ao empreendedor. Introdução Uma característica pode ser entendida como algo que descreve, identifi- ca um indivíduo, um grupo ou um objeto qualquer. Porém, assim como cada indivíduo apresenta características próprias, que compõem sua personali- dade, também os empreendedores apresentam características individuais únicas. Portanto, assim como é possível agrupar os indivíduos em grupos com características comuns, também os empreendedores apresentam ca- racterísticas que podem reuni-los em grupos distintos. Ocorre que existem várias semelhanças entre os empreendedores bem- -sucedidos, o que significa que se forem adotados os mesmos comporta- mentos ou desenvolvidas as mesmas características, aumentam as probabi- lidades de se alcançar sucesso no empreendimento. Existem na literatura diversos estudos que buscam apresentar as carac- terísticas dos empreendedores e, neste capítulo, buscamos apresentar algu- mas que são comuns à maioria dos empreendedores. O fato de o indivíduo não apresentar uma ou outra das características não significa que possuiu menor potencial empreendedor. Significa simples- mente que se trata de um indivíduo com características diferentes de outro indivíduo. Características dos empreendedores Algumas das características comuns à maioria dos empreendedores são relacionadas a aspectos comportamentais, entre as quais se relacionam: * Doutor e Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Marke- ting. Administrador de Empresas. Atualmente é professor e coordenador do curso de Gestão da In- formação da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Foi supervisor de vendas e gerente de vendas de diversas empresas distri- buidoras de materiais e equipamentos médico- hospitalares na região Sul do Brasil. Gerente de produtos de indústria far- macêutica com atuação em todo o território na- cional. Foi sócio-diretor da empresa K. R. Consultoria e Assessoria Empresarial Ltda., atuando com treina- mento e consultorias na área de logística. Também foi diretor-presidente da UNIEDUC Cooperativa dos Educadores e Consulto- res de Curitiba. Autor de diversos livros e artigos publicados em revistas e eventos científicos nacio- nais e internacionais. 26 Características dos empreendedores Ter uma pessoa como referência � – o empreendedor sempre apre- senta uma pessoa que lhe serve como modelo, como fonte de inspira- ção. Pode ser um familiar, um amigo, um empresário de sucesso ou um personagem histórico. O importante é que o empreendedor use essa referência como um padrão de comportamento a ser seguido. Ter iniciativa, autoconfiança e determinação � – o empreendedor é um indivíduo que sempretoma a iniciativa, não fica à espera de que as coisas aconteçam. Além disso, é autoconfiante e determinado. Capacidade de dedicação ao trabalho � – uma característica interes- sante, porque muitos pretensos empreendedores iniciam um empre- endimento pensando que vão trabalhar menos. Na verdade, o empre- endedor é sempre o primeiro a chegar e o último a sair, uma vez que está sempre comprometido com o negócio. Perseverança � – perseverar é uma virtude fundamental, porque conti- nuar no seu intento quando outros já desistiram, ou quando as pesso- as à sua volta lhe recomendam desistir, é um desafio enorme, difícil de ser suportado. Saber fixar metas e atingi-las � – é importante que os objetivos sejam fixados corretamente para que possam ser factíveis. Um objetivo ina- tingível acaba sendo altamente desmotivador. Ter intuição � – é necessário conseguir ver o que os outros não veem e confiar nos seus instintos quando os outros não acreditam. Ser um “sonhador-realista” � – o empreendedor ajusta seus sonhos à realidade que sabe poder controlar ou modificar. Assumir riscos calculados � – é importante desmistificar a ideia de que o empreendedor é alguém que arrisca sempre. É verdade que o em- preendedor arrisca. Porém, somente corre riscos calculados, porque é realista em relação aos seus sonhos. Ser líder � – precisa ser alguém capaz de motivar outras pessoas a se- guir suas ideias e a acreditar nos seus ideais. Portanto, o empreende- dor normalmente apresenta fortes traços de liderança. Tolerância com incertezas � – não é fácil ser tolerante em ambientes incertos, que geram mais dúvidas que respostas. Porém, o empreen- dedor deve conseguir reagir bem às incertezas, adaptando-se às dife- rentes situações. Características dos empreendedores 27 Perceber o ambiente e buscar oportunidades � – a análise ambiental é fundamental para identificar oportunidades. O empreendedor apre- senta a característica de perceber fácil e claramente o ambiente onde se insere e, a partir daí, identificar oportunidades. Foco em resultados � – aproveitar as oportunidades para atingir os objetivos. Gerar os resultados desejados é uma das mais interessantes características do empreendedor, que sabe sempre manter o foco no que realmente interessa: os resultados desejados. Acreditar no que faz � – quando todos duvidam o empreendedor acre- dita. Apresenta uma profunda crença naquilo que realiza e sua convic- ção o faz ir em frente sempre. A lista de características dos empreendedores não se esgota aqui, porém, as que relacionamos são comuns à maioria deles e podem ser estudadas e copiadas por quem desejar ser um empreendedor. Por essas características poderem ser aprendidas é que as instituições de ensino estão incluindo o empreendedorismo em seus currículos. Respostas necessárias para ser um empreendedor Muitas vezes, as pessoas indagam sobre o que devem fazer para serem empreendedoras. O que se recomenda, nesses casos, é uma profunda re- flexão sobre suas motivações pessoais, sua competência e outros aspectos relevantes que merecem consideração. Apresentamos, a seguir, alguns ques- tionamentos a serem feitos pelos empreendedores para assegurar que esta- rão tomando a melhor decisão. Refletir antes de agir é sempre uma necessidade na vida de qualquer pessoa. Para o empreendedor isso é sempre mais importante e necessário, porque vai envolver a aplicação de recursos que, muitas vezes, representam a economia de anos. Assim, pensar antes de agir é sempre importante, e as questões propostas são fundamentais porque impactam sobre a qualidade de vida do empreendedor. Estou ciente dos riscos que terei que assumir? � – muitas vezes o empreendedor não tem plena consciência dos riscos inerentes ao ne- gócio. É importante lembrar que o empreendedor assume riscos de 28 Características dos empreendedores forma consciente e calculada. Assim, é preciso estar claro que sempre existem riscos no gerenciamento de um negócio, independente do seu porte, e esses riscos precisam ser ponderados pelo empreendedor. Qual o meu grau de informação sobre o ramo que pretendo atuar? � – conhecer o ramo em que se pretende atuar é o mínimo que se espera de alguém que vai abrir seu próprio negócio. Contudo, na prática, não é o que se percebe. Muitos candidatos a empreendedor iniciam um negócio sem um grau de informação sobre o ramo de negócios que lhes permita chances mínimas de sucesso, engrossando a lista dos ne- gócios que fecham as portas ainda no primeiro ano de existência. Estou preparado para liderar uma equipe de trabalho? � – liderar pessoas é um desafio enorme, exigindo do empreendedor uma gran- de capacidade para motivar as pessoas a enfrentarem junto com ele as adversidades iniciais inerentes a qualquer novo negócio. Tenho paixão pelo ramo de atividade em que pretendo atuar? � – nem sempre as pessoas consideram o tempo que passam no trabalho e, com isso, se não gostarem do que fazem, podem ser infelizes. Um dos requisitos para o sucesso naquilo que se empreende é gostar do que se faz. Mas, mais que simplesmente gostar é preciso se apaixonar pela atividade que se desenvolve. Quanto tempo terei para me dedicar ao meu negócio? � – existem in- divíduos que acreditam ser possível iniciar um novo negócio enquanto permanecem em seu emprego. Dedicando-se parcialmente ao novo negócio. Não que isso seja impossível de ser realizado. Porém, é mais difícil conseguir fazer o negócio decolar sem uma presença constante. Na verdade, ocorre que empreender deve ser mais do que simplesmente ter uma atividade ou uma empresa. Deve ser encarado como um projeto de vida. Assim, o empreendedor está monitorando e gerenciando permanente- mente seu empreendimento ou, ainda, pensando em novas possibilidades. Outras qualificações desejáveis ao empreendedor Além de apresentar as características comuns à maioria dos empreende- dores e realizar um exame de suas pretensões, respondendo às questões- Características dos empreendedores 29 -chave para o sucesso do empreendedor, é preciso possuir a aptidão para gerir um negócio novo, ter habilidade para aprender constantemente e acre- ditar no que faz e fazer com paixão. Assim, podemos relacionar mais algumas qualidades desejáveis a quem se propõe a dirigir um novo negócio, qualquer que seja o seu porte. Domínio de Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) � – as TICs, em um sentido amplo, compõem o conjunto de hardware, software, redes, design e todas as demais facilidades necessárias para seu funcionamento. O empreendedor deve ser capaz de dominar es- sas tecnologias, uma vez que são ferramentas essenciais para qualquer negócio, nos dias atuais. Atenção a novidades e mudanças � – é sempre necessário estar atento ao que acontece ao seu redor, como forma de poder identificar as no- vidades que possam ser incorporadas a produtos, processos e/ou ser- viços. Além disso, analisar o ambiente para identificar mudanças antes que afetem os negócios também é uma qualificação extremamente importante. Habilidades de comunicação � – para dirigir um negócio é necessá- rio estar em contato permanente com pessoas, o que inclui clientes, fornecedores, prestadores de serviços, entre outras. Assim, é preciso saber se comunicar com efetividade. O empreendedor apresenta uma característica de possuir uma comunicação assertiva. Habilidades de negociação � – é essencial possuir essa qualificação para negociar com clientes, fornecedores e funcionários. Habilidades de marketing � – um negócio para alcançar sucesso deve ancorar-se em bons programas de marketing, uma vez que um bom pla- nejamento de marketing pode ser importante diferencial competitivo. Conhecimento do mercado � – sem conhecer adequadamente o mer- cado em que atua o empreendedor tende a fracassar.O conhecimento do mercado significa conhecer as necessidades e/ou desejos dos seus clientes. Solucionar problemas � – o dia a dia organizacional é repleto de pe- quenos e grandes problemas que precisam ser prontamente resolvi- dos para não afetar o andamento das operações. 30 Características dos empreendedores Flexibilidade � – entendida como a capacidade de adaptar-se às mu- danças ambientais, a flexibilidade é uma qualificação essencial para qualquer empreendedor. Aprendizagem contínua � – trata-se de uma qualificação fundamental para os dias atuais, em que o volume de informações que diariamente bombardeia os indivíduos e as organizações é muito grande. Portanto, o empreendedor necessita estar em processo de contínua aprendizagem. Trabalho em equipe � – ninguém consegue realizar nada sozinho. To- dos necessitam de outras pessoas para atingir seus objetivos, sejam pessoais ou organizacionais. Assim, o empreendedor deve saber tra- balhar bem em equipe para alcançar seus objetivos. Domínio de outro idioma � – essa qualificação, obviamente, não im- pede ninguém de empreender. Porém, é uma qualificação importante para o monitoramento das novidades e mudanças que acontecem em outras partes do mundo e que podem ser aproveitadas pelo empre- endedor. Em síntese, o empreendedor precisa aliar conhecimentos tecnológicos com conhecimentos e habilidades de gestão. É fundamental possuir visão de negócios. Além disso, o empreendedor deve sempre ter consciência da importância do trabalho em equipe. O plano de negócios como ferramenta para qualificação do empreendedor Uma importante qualificação para o empreendedor é saber elaborar um plano de negócios para o empreendimento. Um plano de negócios é o “plano de voo” do empreendedor, uma espécie de roteiro seguro para o sucesso do empreendimento. É uma ferramenta de planejamento que serve para orientar o empreen- dedor que pretende iniciar um novo negócio ou expandir um já existente. Trata-se de um documento com a caracterização do negócio, sua forma de operar, as estratégias, o planejamento de marketing para conquistar a fatia de mercado almejada, as projeções de despesas e receitas e os resultados financeiros planejados. Características dos empreendedores 31 Trata-se de uma forma de pensar no negócio e no seu futuro, define aonde o empreendedor pretende ir, como chegar lá, o que fazer, como fazer, quando fazer e os custos para fazer tudo o que se planeja. Um plano de ne- gócios serve para orientar as ações de gerenciamento do negócio e, ainda, para obter financiamento para este. Como descreve completamente o negócio, serve para atrair possíveis sócios e/ou investidores. O plano de negócios antecipa eventuais dificulda- des que somente seriam percebidas na prática quando fosse tarde para tomar providências saneadoras. Além disso, o plano de negócios deve ser elabora- do no intuito de determinar a viabilidade econômico-financeira do negócio e proporcionar clareza de ideias e maior conhecimento sobre a operação. Um bom plano de negócios melhora a qualificação do empreendedor e, ainda, diminui as probabilidades de fechamento do negócio ainda nos está- gios iniciais. Para se elaborar um plano de negócios, devem ser respondidas algumas questões essenciais como as contidas no quadro a seguir: Quadro 1 – Questões-chave para elaboração de um plano de negócios Aspectos a considerar Questões a responder Planejamento Qual é, realmente, o meu negócio? Onde quero chegar com o negócio? Que estratégias utilizarei para atingir os objetivos propostos? Organização Que pessoas necessito para o negócio? Onde encontrá-las e como recrutá-las? Quais são os fatores críticos do negócio? Quem serão meus fornecedores, onde se localizam? Como será a divisão de tarefas e responsabilidades? Marketing Que mercado(s) pretendo atingir? Quem serão meus clientes? Como farei para conquistar o mercado? Quem serão meus concorrentes? Finanças Quanto vou investir? Quais os recursos que serão necessários em cada fase do negócio? Qual o retorno que posso esperar do negócio? Quais serão os impostos incidentes sobre o negócio? Como se pode perceber, as perguntas são abrangentes e cobrem todas as áreas do negócio, permitindo que, ao respondê-las, o empreendedor tenha uma visão ampla e clara das possibilidades e dificuldades que enfrentará ao longo dos primeiros estágios do negócio. Ed el vi no R az zo lin i F ilh o. 32 Características dos empreendedores Ao elaborar o plano de negócios, o empreendedor terá maiores possi- bilidades de conseguir superar os percalços existentes no dia a dia dos negócios. Ampliando seus conhecimentos Neste tópico, indicamos sites na internet para que você possa avançar um pouco mais no assunto. <www.sebraesp.com.br/faq/criacao_empresa/empreendedor/caracte- risticas_empreendedor>. Nesse site você encontra algumas características do empreendedor identificadas pelo Sebrae-SP. <www.guiarh.com.br/y49.htm>. Trata-se de um texto do professor Luis Marins, em que ele destaca 10 dicas para quem deseja ser empreendedor. <http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,EMI82612-17189- ,00-AS+DEZ+CARACTERISTICAS+DOS+EMPREENDEDORES+DE+SUCESSO. html> é um artigo da revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, muito interessante, sobre as características dos empreendedores de sucesso. <www.universia.com.br/rue/materia.jsp?materia=12058>. Sinopse de artigo sobre pesquisa realizada para verificar as características dos empre- endedores brasileiros. <http://sucesso.powerminas.com/10-caracteristicas-de-um-empre- endedor-de-sucesso/>. Apresenta uma série de textos sobre empreen- dedorismo. Referências DORNELAS, José Carlos de Assis. Empreendedorismo na Prática: mitos e verda- des do empreendedor de sucesso. Rio de Janeiro: Campus, 2007. SALIM, Cesar Simões; SILVA, Nelson Caldas. Introdução ao Empreendedorismo: despertando a atitude empreendedora. Rio de Janeiro: Campus, 2009. SEBRAE. Histórias de Sucesso: experiências empreendedoras. São Paulo: SEBRAE, 2004. 3 v. Entendendo a questão do porte das empresas Edelvino Razzolini Filho* O objetivo deste capítulo é apresentar as discussões acerca de como se define o porte de uma PME e qual a relevância disso para o empreendedor, devido aos aspectos tributários, à obtenção de financiamentos etc. Introdução No dia a dia, é comum ouvirmos as pessoas afirmarem que desejariam deixar de ser empregados para abrir um negócio próprio. Esse é o sonho de muitas pessoas que trabalham a vida inteira sem, contudo, um dia abrirem um negócio próprio. Por que isso acontece? São muitas as razões que levam as pessoas a se manterem na “zona de conforto” de um emprego estável ou de uma vida sem grandes sobressaltos. Ocorre que ser empreendedor não é uma tarefa fácil, ou simples. Empre- ender um negócio próprio significa abster-se de muitas coisas, abdicar de horas de lazer, diversão com a família e/ou com amigos, para dedicar-se in- tegralmente a um negócio, qualquer que seja ele. Porém, sempre existem aquelas pessoas que decidem “arriscar” e resolvem iniciar um novo negócio. Essas pessoas são conhecidas, atualmente, como empreendedoras, ou seja, são pessoas que decidem empreender. Não se pretende, com essas considerações, desestimular quem quer que seja a empreender um negócio próprio. Apenas se pretende esclarecer o fato que existem dificuldades a serem consideradas ao se decidir por um empre- endimento próprio. Para quem decide construir seu próprio negócio, este será sempre “um grande negócio”, independente do que os outros possam pensar. Mas, tecni- camente, existem diferenças entre os empreendimentos, uma vez que eles são avaliados por estabelecimentos bancários, por empresas fornecedoras etc. Assim, é necessário esclarecer a questão dacategorização do empreen- dimento, ou seja, como se define o tamanho do negócio: se é uma microem- * Doutor e Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Marke- ting. Administrador de Empresas. Atualmente é professor e coordenador do curso de Gestão da In- formação da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Foi supervisor de vendas e gerente de vendas de diversas empresas distri- buidoras de materiais e equipamentos médico- hospitalares na região Sul do Brasil. Gerente de produtos de indústria far- macêutica com atuação em todo o território na- cional. Foi sócio-diretor da empresa K. R. Consultoria e Assessoria Empresarial Ltda., atuando com treina- mento e consultorias na área de logística. Também foi diretor-presidente da UNIEDUC Cooperativa dos Educadores e Consulto- res de Curitiba. Autor de diversos livros e artigos publicados em revistas e eventos científicos nacio- nais e internacionais. 34 Entendendo a questão do porte das empresas presa, pequena empresa ou é um negócio de médio ou grande porte. Porém, o que é uma pequena empresa? E uma microempresa? Como se define o tamanho de uma empresa? São essas as questões, entre outras, que se busca responder neste capítulo. Diferenciando as empresas pelo porte A questão do tamanho do empreendimento é necessária para que seja possível dimensionar adequadamente os recursos necessários para seu funcionamento. Ou seja, um negócio de pequeno porte logicamente não necessitará dos mesmos recursos que um negócio de grande porte. Assim, os fornecedores (de matérias-primas ou componentes, produtos acabados etc.), os estabelecimentos bancários, entre outras organizações com as quais o empreendimento manterá relações comerciais, vão buscar categorizar o seu tamanho para dimensionar a concessão de crédito. Também ao governo interessa saber o porte do empreendimento para definir o tratamento tributário que lhe será dispensado. Portanto, essa ques- tão é importante, embora um tanto confusa para a maioria das pessoas. Segundo Ramos, Carvalho e Cunha (2006), mesmo não tendo a proporção produtiva das grandes empresas, as empresas de menor porte apresen- tam importância significativa não apenas para governos, fornecedores ou instituições financeiras, mas também para a sociedade como um todo, em função de sua representatividade política e social. De um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), no ano de 2002, é possível concluir que as micro, pequenas e médias empresas (MPEs) formam a maior parte do mercado na América Latina e Caribe, compondo um contingente em torno de 65 milhões de organizações de pequeno porte que empregam aproximadamente 110 milhões de pessoas, representando 96% do total de negócios formais e 56% da mão de obra formal na região (RAMOS; CARVALHO; CUNHA, 2006). Especificamente no Brasil, existem em torno de 15 milhões de MPEs, sendo que 4,5 milhões na formalidade e o restante na informalidade. Essas organizações respondem por quase 40 milhões de empregos e por 99% dos negócios realizados no país (SEBRAE, 2010). Para se classificar e definir o que é uma pequena empresa, pode-se criar categorias quantitativas, qualitativas e mistas (ALBUQUERQUE, 2004). Usu- Entendendo a questão do porte das empresas 35 almente, o critério mais utilizado é o quantitativo, porque o tamanho da or- ganização fornece indicativos do seu comportamento econômico e social, de forma significativa (LEONE, 1991, apud ALBUQUERQUE, 2004). Essa cate- gorização das empresas serve como parâmetro para ações dos governos e também é indicativo para solução de problemas específicos. Conforme o Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (Lei 9.841/1999), o critério para classificação de uma empresa de pequeno porte é quantitativo. É considerada como empresa de pequeno porte aquela com receita bruta anual compreendida entre R$433.755,14 e R$2.133.222,00. Por outro lado, uma microempresa é aquela com receita bruta anual inferior a R$433.755,14. É importante destacar que os valores são atualizados perio- dicamente (a atualização, que define os valores aqui considerados, foi em 31/03/2004). O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) uti- liza um critério misto, complementar ao critério do Governo Federal, onde considera como microempresa aquela que na indústria e na construção tenha até 19 funcionários; no comércio, até 9 funcionários. Por pequena empresa, o Sebrae entende como aquela que na indústria e na construção tenha entre 20 e 99 funcionários; e, no comércio, entre 10 e 49 funcionários. Por sua vez, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), utilizan- do critérios qualitativos, aponta outros aspectos a serem considerados na definição de uma pequena empresa, sendo os seguintes: baixa intensidade de capital; � altas taxas de mortalidade e natalidade (fechamento e abertura de � empresas); demografia elevada; � forte presença de proprietários, sócios e membros da família; � poder decisório centralizado; � estreito vínculo entre os proprietários e as empresas; � registros contábeis pouco adequados; � baixo investimento em inovação tecnológica. � Contudo, em determinados ramos de atividade (como o de tecnologia, por exemplo), poucos funcionários podem não caracterizar uma pequena 36 Entendendo a questão do porte das empresas empresa, daí a necessidade de se conjugar vários aspectos, utilizando-se de um critério misto de classificação. Para tanto, o IBGE utiliza a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), versão 2.0, uma vez que: Na Administração Pública e no Sistema Estatístico brasileiro, a prática usual tem sido o uso da variável receita de vendas como ponderador para a determinação da atividade principal, uma vez que é uma variável disponível e, no geral, guarda uma boa proporcionalidade com o valor adicionado. Em algumas atividades, no entanto, a proporcionalidade entre receita de venda e valor adicionado não é efetiva. É o caso da atividade de comércio, onde o valor da receita de revenda tem, normalmente, uma relação bem mais baixa com o valor adicionado do que, por exemplo, na indústria de transformação. Distorção semelhante ocorre em atividades desenvolvidas com a prática de subcontratação da produção a terceiros. Em algumas atividades, ainda, a variável receita de venda não faz sentido, como é o caso nas atividades de intermediação financeira e nas atividades de associações sem fins lucrativos. Nesses casos, o critério deve ser a real finalidade da unidade a ser classificada. (BRASIL, 2009). Embora essa seja a classificação adotada pela administração pública, na prática, os dados sobre valor adicionado por bens e serviços individuais não são disponíveis. Isso leva à utilização de valor das vendas, volume de empre- go ou outra variável que ofereça uma estimativa do valor adicionado. A dificuldade na determinação do porte de um negócio é decorrência do fato que, no atual modelo econômico que vivenciamos, a sociedade vem observando o desenvolvimento de situações em que o ambiente organiza- cional apresenta-se mais dinâmico e turbulento. Esse contexto exige das em- presas uma postura inteligente, ágil e flexível de administrar seus processos (ALVIM, 1998), dificultando qualquer critério estático para sua análise. Na continuação, são apresentados os critérios para classificação do porte de negócios, sob as diversas perspectivas existentes no contexto brasileiro. Critérios utilizados para a classificação do porte de um negócio Como afirmado, são diversos os critérios utilizados para se categorizar um negócio em termos do seu porte, entendido como a dimensão do negócio, lembrando que existem correlações entre o tamanho e a estrutura do negó- cio, onúmero de níveis organizacionais, o grau de burocratização e de pro- Entendendo a questão do porte das empresas 37 fissionalização existentes, o alcance das operações e o alcance de mercado que cada negócio apresenta. Também como mencionado, os critérios podem ser quantitativos, quali- tativos ou mistos, sendo que diferentes organismos utilizam diferentes crité- rios, segundo suas finalidades, conforme veremos a seguir. Critérios quantitativos Os critérios quantitativos são os mais utilizados, sendo que os governos são seus maiores usuários. Além disso, bancos comerciais e outros setores de crédito também utilizam critérios dessa natureza. Entre os critérios mais utilizados estão o faturamento do negócio (ver Lei da Microempresa e da Pequena Empresa), o número de funcionários, o valor do ativo fixo e o patrimônio líquido. Por exemplo, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Ex- terior (MDIC), para identificar o porte de empresas exportadoras, utilizou um critério quantitativo que associa o número de empregados da empresa e o valor exportado por esta no período analisado, distribuídos por ramo de ati- vidade (indústria e comércio/serviços). Esses critérios estão em conformidade com os parâmetros adotados no Mercosul, conforme disposto nas Resoluções Mercosul-GMC 90/93 e 59/98. Eles podem ser vistos na tabela a seguir onde, pelo princípio adotado, prevalece o resultado apurado no maior porte. Tabela 1 – Critérios para definição do porte de empresas exportadoras Porte Indústria Comércio e serviços N.º de empregados Valor exportado N.º de empregados Valor exportado Microempresa Até 10 Até US$400 mil Até 5 Até US$200 mil Pequena empresa De 11 a 40 Até US$3,5 milhões De 6 a 30 Até US$1,5 milhões Média empresa De 41 a 200 Até US$20 milhões De 31 a 80 Até US$7 milhões Grande empresa Acima de 200 Acima de US$20 milhões Acima de 80 Acima de US$7 milhões (M D IC , 2 01 0) 38 Entendendo a questão do porte das empresas Critérios qualitativos Os critérios qualitativos são menos utilizados. Porém, são mais dinâmicos e dependem de avaliações metodológicas e da definição de graus de com- plexidade. Entre os critérios mais utilizados podemos encontrar o grau de envolvimento e conhecimento do dono do negócio, o grau de profissiona- lização, a complexidade das linhas de produtos e dos processos, o volume e a escala de transações, o relacionamento direto e próximo do dono (quanto mais direto e próximo, com clientes e fornecedores, menor o porte do negó- cio), o poder de barganha, entre outros. Como se pode inferir, os critérios qualitativos são complexos e de difí- cil mensuração. Como se mensura o que é complexidade de uma linha de produto (objetivamente)? Como definir o que é grau de profissionalização? Como mensurar o grau de envolvimento do dono de um negócio? Como definir o seu grau de envolvimento? Ou seja, são questões complexas e de difícil resposta. Porém, define-se um critério e adota-se este para comparar o porte das organizações em análise. De qualquer forma, os critérios qualitativos são mais interessantes sob a perspectiva de organizações diferenciadas. Por exemplo, uma empresa de alta tecnologia pode ter poucos funcionários e, sob essa perspectiva, seria de pequeno porte; mas, por outro lado, pode apresentar um faturamento anual acima dos R$2.133.222,00, indicando não ser um negócio de pequeno porte. Para casos como esse, os critérios qualitativos são mais indicados. Critérios mistos Qualquer que seja o critério de análise, se isolado, quantitativo ou qua- litativo, será sempre um critério insatisfatório e incompleto, em razão das contradições que se verificam na prática (ver exemplo da empresa de alta tecnologia). Assim, uma alternativa interessante pode ser a adoção de com- plementar os critérios, combinando-os entre si, utilizando critérios mistos para definir o porte do negócio. Entre os critérios mistos frequentemente mais utilizados, podemos relacionar: Entendendo a questão do porte das empresas 39 Relação entre investimentos e mão de obra empregada � – é possível relacionar os investimentos realizados e o número de pessoas empre- gadas no negócio, como uma forma de mensurar se o volume de in- vestimentos é proporcional ao número de empregos gerados, se a re- lação for alta, tem-se um negócio de alta intensidade de mão de obra; ao contrário, tem-se um negócio de baixa intensidade de mão de obra, podendo caracterizar um negócio de grande porte, por exemplo. Grau de dependência de tecnologia externa � – quanto maior o grau de dependência de tecnologia externa, menor seria o porte da orga- nização, uma vez que não possuiria capacidade para desenvolver sua própria tecnologia, por não ter recursos humanos qualificados em nú- mero suficiente, não dispor de recursos financeiros suficientes para de- senvolver a tecnologia, entre outros aspectos possíveis de se inferir. Suporte e apoio a cidades médias � – quanto maior o porte de um negócio, maior será o seu impacto sobre o nível de atividade econô- mica de uma cidade. Por isso a importância de se mensurar o porte do negócio, pelo suporte que este pode oferecer como apoio ao desen- volvimento de cidades médias. Complemento a atividades mais complexas � – quando o negócio está voltado a produzir para complementar atividades de outras orga- nizações, é possível que seu porte seja menor que o daquelas organi- zações para as quais funciona como complemento. Como se pode perceber, os critérios mistos são interessantes quando se deseja analisar o porte do negócio sob uma perspectiva diferenciada, por exemplo, para medir seu impacto social em determinada região geográfica. Instituições e a utilização dos critérios de classificação Como afirmado, diferentes instituições utilizam diferentes critérios de classificação. Porém, qualquer que seja o critério adotado, o importante é que essas instituições estão sempre dispostas a auxiliar o empreendedor no desenvolvimento do negócio. 40 Entendendo a questão do porte das empresas O critério de porte é utilizado para definir políticas tributárias, políticas de incentivo e de apoio aos novos negócios e, também, a negócios já existentes. Vejamos como algumas instituições utilizam esses critérios. Governos – os governos, das três esferas (federal, estadual e municipal), utilizam os critérios de porte para definir questões tributárias como quais os tipos de tributos incidirão sobre o empreendimento e quais as alíquotas que serão aplicadas. Também utiliza o porte das empresas para definir polí- ticas públicas de incentivo a novos empreendimentos ou mesmo a negócios já estabelecidos. Essas políticas de incentivo são executadas por diferentes órgãos governamentais, como os diversos Ministérios e suas secretarias, de- partamentos ou órgãos independentes, como o Banco Nacional de Desen- volvimento Econômico e Social (BNDES), Conselho Nacional de Desenvolvi- mento Científico e Tecnológico (CNPq), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) etc. Sebrae – o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas é uma entidade privada, sem fins lucrativos, que existe desde 1972 especifi- camente com a missão de promover competitividade e desenvolvimento sustentável de micro e pequenos empreendimentos. Como também tem foco no empreendedorismo, estabelece parcerias com instituições públicas e privadas para desenvolver programas de capacitação, acesso ao crédito, estímulo ao associativismo e à inovação. Também promove feiras e rodadas de negócios com os empreendedores e gestores de negócios de porte pe- queno e micro. Assim, o Sebrae utiliza a classificação para categorizar os ne- gócios que recorrem a ele. IBGE – o Instituto Brasileiro de Geografia
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