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Bernardinho fala sobre gestão Bernardo Rocha de Rezende, de 54 anos, há algum tempo não pode ser identificado apenas como "Bernardinho do vôlei". Ele também pode ser chamado de empresário, líder , escritor e palestrante. Formado em Economia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio, há 30 anos é sócio de uma rede de restaurantes, além de ter participação em uma empresa de ensino à distância, ser sócio de uma fabricante de bicicleta e de academias de ginástica. Também é autor do livro Transformando Suor em Ouro, que vendeu mais de 400 mil cópias. Isso sem falar das seis medalhas olímpicas, sendo uma como jogador e cinco consecutivas como técnico da seleção brasileira de vôlei. Bernardinho veio a Florianópolis para ministrar uma palestra falou sobre os desafios dos líderes, segredos para engajar a equipe e os planos para o futuro. Confira: Diário Catarinense — O que é essencial para um líder se destacar e ser uma referência para sua equipe? Bernardinho — A liderança é basicamente você respeitar a essência da sua área. Ou seja, toda instituição, seja ela uma empresa, um time, uma família, tem princípios e valores que não são negociáveis. O líder é aquele que não permite transgressões, ele respeita as essências. Nós acreditamos fundamentalmente no trabalho em equipe, preparação e tudo aquilo que envolve esses dois aspectos. O líder tem que entender que não é um concurso de popularidade, tem que fazer aquilo que é certo, não aquilo que é conveniente. Isso serve para qualquer área. DC — No mundo corporativo, assim como no esporte, há uma alta rotatividade. Como engajar a equipe? Bernardinho — As pessoas muitas vezes pensam muito a curto prazo. Ter o maior benefício a curto prazo e não pensam em construir algo mais sólido. Não pode também abrir mão de oportunidades, mas essa busca permanente pelo reconhecimento, pela remuneração imediata, é uma coisa muito do mundo de hoje, que de alguma forma precisa ser trabalhada. O pior momento do ano para nós do voleibol começa agora, que é o momento que acaba o campeonato, as jogadoras saem e começam as negociações. Você vê muito isso, agentes pensando a curto prazo, sem pensar em planejar uma carreira. Se as pessoas se motivam apenas por dinheiro, acho que tem alguma coisa errada. Existe muito mais que a necessidade financeira, existe a paixão pela realização. Se eu for contratar uma jogadora no clube e a primeira pergunta do agente é dinheiro, já cria em mim uma certa resistência. DC — E como motivar esses profissionais e atletas diante de resultados negativos? Bernardinho — Quando eu era um jovem treinador, eu achei que era capaz de motivar a todos, mas isso não é possível. Você motiva aqueles que já têm uma chama. Existe um porquê de motivação ali dentro e você consegue dar um oxigênio, consegue intensificar aquela chama. Mas se não tem a chama, aí não dá para acender. Mas nos maus momentos, a coisa mais importante é a proximidade de você demonstrar o seu comprometimento. Então eu acho que a proximidade e seu engajamento na causa, o seu comprometimento com eles, é algo muito importante para que eles se sintam parte de algo, se sintam apoiados neste momento. Na temporada passada, nós ganhamos de uma equipe que era muito mais forte que a nossa, e foi a vitória do coletivo sobre ações individuais. Então líder tem que mostrar proximidade, e assumir a parcela maior de responsabilidade. DC — A coletividade e o trabalho seriam então os segredos de uma equipe vencedora, acima dos talentos individuais? Bernardinho — É claro que você não quer abrir mão do talento. No mundo tão individualista, você criar ambientes de coletividades fortes não é simples, mas eu acredito tanto nisso sendo realmente um pilar de sucesso, que eu não trabalho de forma diferente. Claro que eu quero grandes jogadores, mas grandes jogadores que estejam dispostos a trabalhar em equipe. O Michael Jordan tinha uma frase que ele dizia o seguinte: "eu posso até ganhar uma partida, mas nunca vou ganhar um campeonato, que para ganhar um campeonato eu preciso de um time". Nós vivemos em um mundo onde se cultua muito a individualidade e isso é algo muito perigoso, na minha opinião. Ou nós todos vencemos, ou vamos perder todo mundo. DC — Há mais de 30 anos, você entrou como sócio de um restaurante no Rio de Janeiro. Como estão este e os outros negócios? Bernardinho — Eu sou sócio de basicamente três negócios. O primeiro deles foi o Delírio Tropical, temos hoje 10 casas. Agora são 30 anos, um sucesso absoluto, no Rio de Janeiro todos conhecem. Quando entrei de sócio, eu não entendia nada de restaurante, mas eu entendo um pouco de pessoas. Eu conheci os dois sócios majoritários, que se dedicam de uma forma ao time, ao negócio, e isso me seduziu há 30 anos. Eu tinha vinte e poucos anos, era atleta ainda e entrei sócio deles na primeira casa. As pessoas que são o diferencial, elas são o grande tesouro nesta história toda. Depois eu fui convidado para entrar de sócio em uma rede de academias, pequeníssima, que hoje é muito grande, que é a Bodytech/Fórmula. É uma empresa que tem crescido muito, temos mais de 50 unidades e de 100 mil alunos. Agora, mais recentemente, para manter a forma eu comecei a pedalar no Rio e conheci uma marca, que é a Specialized, e fui convidado a entrar de sócio no negócio. Abrimos a segunda loja na Zona Sul do Rio de Janeiro. DC — E ano passado você também entrou em um negócio de educação à distância... Bernardinho — Exato, esse é meu novo negócio. Eu acredito no esporte como uma ferramenta de educação. É da área de cursos online e se chama Eduk. Conheci as pessoas, os investidores, e depois as operações, e isso me seduziu para o negócio. Tem cursos interessantíssimos para as pessoas empreenderem e se capacitarem. DC— Ainda tem alguma área que gostaria de atuar? Bernardinho — Eu tenho um grande amigo da Editora Sextante. Eu adoro livros e adoro essa parte. Eu sempre brinco que o dia que eu parar eu quero ser sócio da editora, porque acho fantástico. Um dos meus dois livros, o Transformando Suor em Outo é da Sextante e vendemos mais de 400 mil cópias. Gosto de ler demais e de escrever também. DC — Mas independentemente de novos negócios e livros, o futuro também será nas quadras? Bernardinho — Quadra é a minha paixão maior. Eu vejo isso como uma responsabilidade. Sou tão privilegiado, mas todo privilégio vem acompanhado de uma responsabilidade. Preciso doar, de alguma maneira, preciso fazer alguma coisa, porque eu tenho recebido tanto. Só uma coisa me move hoje, é a paixão, adorar o que eu faço. Mas eu adoro o processo, eu não me vejo longe da quadra. Eu não conseguiria me aposentar. Um bom treino me dá uma satisfação que você não tem noção. Após leitura do texto, faça uma reflexão em grupo e responda as questões abaixo: 1 – Trace um perfil desse líder, citando suas características mais marcantes. 2 – A partir das teorias de liderança discutidas na aula, o que vocês identificam neste perfil que justifica o protagonista desse artigo ser considerado um líder de sucesso? 3 – Esse perfil de líder é coerente ou adequado com o contexto atual e futuro de nossas organizações? Comente.
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