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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS CLARA BARCELOS DE MENEZES GEORGE MICHAEL LAMUNIER PATRICIA CRISTINI VIEIRA CARMO VANESSA MATTOS DA SILVA GOIÂNIA 2018 CLARA BARCELOS DE MENEZES GEORGE MICHAEL LAMUNIER PATRICIA CRISTINI VIEIRA CARMO VANESSA MATTOS DA SILVA Trabalho apresentado ao curso de graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Ciências Sociais, para obtenção de nota na disciplina Ciência Política. Orientação: Prof. Francisco Mata Machado Tavares GOIÂNIA 2018 INTRODUÇÃO A política surge na Grécia Antiga, num período da história em que a mitologia se sobrepunha ao pensamento lógico e racional. Existem vários fatores para a origem da política, mas o determinante foi o surgimento da Pólis (cidade-estado). A política nasce então como um meio para a organização social dessa cidade, daí então a agricultura e o comércio são instituídos como base econômica, e os cidadãos discutem e elaboram leis para administração desse local. Quando o assunto é ciência política, filósofos e cientistas andam por caminhos diferentes, os filósofos pensam o mundo como deveria ser, e os cientistas estudam o mundo como ele é através de métodos de pesquisas, dados empíricos e estatísticas. A relação existente entre ciência e política tem raízes na filosofia clássica, é repaginada com os estudos de Max Weber e instituída como uma disciplina -Ciência Política- em meados do século XlX, buscando estudar de forma sistemática, empírica e racional os fenômenos ligados às estruturas políticas. E assim a política surgiu em todos os sistemas que temos notícia, desde os mais simples aos mais complexos, sempre será possível observar uma estrutura política com intuito de manter a ordem interna e externa. Existe uma discussão no campo da Ciência Política sobre seu objeto de estudo, há quem acredite que o foco central é o Estado e outros acreditam que o foco é o Poder. A maioria dos cientistas políticos defende o segundo, o Poder, por ser mais abrangente e por atuar em diversas áreas das relações humanas. No decorrer deste trabalho, sintetizaremos alguns desses conceitos de Poder e sua atuação, que não se restringe apenas no campo político. Para entender essa relação entre Estado e Poder, podemos fazer uma breve analogia com o livro “A sociedade dos indivíduos (1939)”, do escritor e sociólogo Norbert Elias. Em seu livro, o autor tenta romper com o mito de que indivíduo e sociedade são coisas distintas, segundo o autor: [...] Considerados num nível mais profundo, tanto os indivíduos quanto a sociedade conjuntamente formada por eles são igualmente desprovidos de objetivo. Nenhum dos dois existe sem o outro. Antes de mais nada, na verdade, eles simplesmente existem [...] “a sociedade é o objetivo final e o indivíduo é apenas um meio”. (Elias, 1939, pag. 18, grifo do autor) Neste contexto o Poder é o objetivo final e o Estado apenas o meio utilizado para o exercício do poder, sob o mesmo ponto de vista do indivíduo e a sociedade, nenhum dos dois existem sem o outro. Entretanto, diversos autores em épocas e contextos históricos relativamente diferentes, conceituam e explicam o Estado e o Poder de maneiras diferentes. De modo geral, considera-se Estado toda comunidade de pessoas fixadas em um território onde se tenha um modo de organização da convivência, seja democrático, ditatorial ou hierárquico. O filósofo francês Montesquieu, afirmou em sua obra “O Espírito das Leis, (1748)”, que o poder do Estado deveria dividir-se em funções específicas Legislativo, Executivo e Judiciário, atribuídas a órgãos independentes. Essa teoria redefiniu o poder do Estado de forma que este passasse a ser limitado, ou seja, o poder era limitado pelo próprio poder. Rousseau incorpora essa ideia em sua obra-prima “Do contrato Social, 1762”, no qual diz que através de um “pacto social” as pessoas poderiam escapar da “selvageria natural” e isso só seria possível se os homens alienassem parte dos seus direitos ao Estado. Max Weber (1991, p.33) apresenta um clássico conceito de poder ao afirmar que: "poder significa toda probabilidade de impor a vontade numa relação social, mesmo contra resistências, seja qual for o fundamento dessa probabilidade". Em sua obra “A política como vocação, 1918”, Weber define o Estado como uma entidade que reivindica o monopólio do uso legítimo da força física. Os fundamentos que se baseiam essa legitimidade são justificados em três legitimações básicas do domínio, legal, tradicional e carismático: Dominação legal: Simboliza as leis, na nossa sociedade corresponde a estrutura moderna do Estado onde qualquer direito pode ser criado e modificado através de um estatuto sancionado corretamente, este tipo de dominação pode ser representado pela “burocracia”. Dominação tradicional: Onde a autoridade é, pura e simplesmente, suportada pela existência de uma fidelidade tradicional. O patriarcalismo é o tipo mais puro desta dominação. Por fim, a dominação carismática se dá pela devoção afetiva à pessoa que domina, e nesse caso, quem “manda” ou exerce o poder é o líder e quem obedece é o apóstolo. Com essa definição de Estado e Poder, Weber mostra a ingenuidade dos que veem no Estado o instrumento de uma idealizada paz social, mostrando a partir de seus conceitos a verdadeira intenção por traz daqueles que dominam o Estado, os agentes do governo e administradores da política. Outros autores também conceituaram o poder segundo sua perspectiva, porém, influenciados por conceitos anteriores e pelo contexto histórico em que estavam inseridos. Entre eles podemos citar: Pierre Bourdieu: Para Bourdieu, o poder está nas entrelinhas dos sistemas simbólicos, a língua, a arte, a religião, mito, de modo quase imperceptível. “O poder simbólico é, com efeito, esse poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem” (BOURDIEU, 1989, p.7). Michael Foucault: Para ele não existe apenas o poder limitado apenas a um aparato estatal, mas sim relações de poder, que através de seus mecanismos atua como uma força coagindo, disciplinando e controlando os indivíduos. “Por trás de todo saber, de todo conhecimento, o que está em jogo é uma luta de poder” (FOUCAULT, 2002, pg.51) Hannah Arendt: Define poder como “a capacidade humana de atuar em harmonia” a partir da “ação comunicativa” ou “poder comunicativo”, segundo a autora, “o poder passa a existir entre os homens quando eles agem juntos, e desaparece no instante em que eles se dispersam” (ARENDT, 1997, p. 212). Jürgen Habermas: Fundamentou seu conceito de poder na teoria de Max Weber, ação racional /estratégica, como também em Hannah Arendt do poder comunicativo. Nesse sentido, o poder é percebido como uma “força motivadora das convicções produzidas através do discurso e compartilhadas intersubjetivamente” (HABERMAS, 2003, p. 186). Em suma, podemos afirmar que em qualquer aspecto das relações humanas e em qualquer lugar do mundo haverá um “Estado” (representado por um indivíduo, coletividade, instituição ou sistema) que luta pelo poder, eque toda forma de poder tem como finalidade a dominação. Sendo assim, ao fazer uma distinção sobre o que é o principal objeto de estudo na ciência política talvez torne-se incoerente, de modo que não seja possível fazer essa separação pois, se há um “Estado” haverá uma forma de Poder (ou mais) e vice-versa. Indubitavelmente, cada um desses autores e os conceitos criados por eles foram de suma importância nos fundamentos da sociologia, filosofia e posteriormente na ciência política, e apesar dessa pluralidade de conceitos, não podemos afirmar que tal conceito é melhor ou pior da mesma forma que não podemos dizer que esse ou aquele autor está errado. Cada um deles deixaram grandes contribuições para a criação de uma nova ciência. Vale ressaltar que cada um desses autores foram relativamente influenciados pelo contexto histórico e pela época em que escreviam, contudo, esses conceitos e fundamentos teóricos são estudados e aplicados até os dias atuais. CONCLUSÃO Com os conceitos e teorias estudados neste primeiro semestre, podemos facilmente identificar, ou, ao menos ter uma noção de como estes conceitos estão presentes na “vida real” e sua forma de atuação. A partir disso, começamos a analisar as situações do cotidiano de maneira diferente. É possível dizer que, não existe apenas um único “tipo” de poder atuando em nossa sociedade e até mesmo no governo. Talvez, os partidos políticos se organizem a partir do conceito weberiano (ação racional /legal) justificando os “meios segundo fins”, como também pode ser explicado por Talcott Parsons, em que a luta pelo poder se resume em um único sistema com a finalidade de manter a sociedade coesa. Contudo, esses conceitos não estão restritos apenas no meio político, e como identificou Foucault, estão presentes em qualquer relação humana. O poder disciplinar conceituado por Michael Foucault, pode ser visto nas escolas, quartéis, presídios e até mesmo na educação dos filhos em casa. Além disso, esse poder disciplinar pode estar “acompanhado” do poder simbólico que está presente na religião, nos mitos, nas crenças, que de certo modo limita as ações dos indivíduos de maneira sutil e consequentemente disciplinando-os. Para chegar a essas interpretações, é preciso ter uma fundamentação teórica e métodos específicos para cada situação, podendo assim fazer uma análise crítica que não se limita a uma opinião própria ou um mero criticismo, e esta é a importância deste conhecimento. Sabemos que toda forma de ciência está em constante evolução, sendo recriada e redescoberta a cada dia de maneira incalculável. Os conceitos que foram criados há séculos passados são estudados até hoje, a partir deles outros conceitos e teorias serão criados com base nos anteriores. A exemplo disso, podemos citar dois autores americanos, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, ambos professores de Harvard. A partir dos conceitos já existentes do que é uma democracia, os autores escreveram o livro “How democracies die” (“Como as democracias morrem”). Ao analisarmos o conteúdo do livro, comparado a realidade de muitos países que se dizem "democráticos" incluindo o Brasil, podemos dizer (talvez de forma assustadora) que em um futuro não muito distante, este será um novo conceito teórico na ciência política. Referências Bibliográficas BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. São Paulo: Bertand Brasil, 1989. HABERMAS, Jürgen. O Conceito de Poder de Hannah Arendt. In: Freitag, Bárbara & Rouanet, S.P. (org.) Habermas, Coleção Grandes Cientistas Sociais. 3ª edição. São Paulo: Editora Ática, 1993. POGREBINSCHI, Thamy. Foucault: para além do poder disciplinar. Revista Lua Nova, 63, 2004. WEBER, Max. A Política como Vocação. Várias edições.
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