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Título: Eu não quero!
Autor: Gina Wilkins 
Título original: I Won't
Dados da Edição: Editora Nova Cultural 1995
Publição original: 1995
Género: Romance contemprâneo
Digitalização e correção: Nina
Estado da Obra: Corrigida
EU QUERO Maddie Carmichael sempre foi uma pessoa de bom senso. Mas durante as férias perdeu a cabeça pelo sexy Case Brannigan. Antes de perceber, ela já se encontrava no altar, esperando, esperando e esperando...
EU NÃO QUERO Case Brannigan, ex-oficial do DEA, estava ansioso para descansar. Então, encontrar uma mulher como Maddie era um sonho que se tornava realidade. Isto é, até que foi chamado no dia do casamento para uma última missão...
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CAPITULO I
Case Branning começou a assobiar ao lidar com o nó da gravata. O mais estranho de tudo é que a ideia o deixava feliz. Muitos não acreditariam. Ele mes​mo achava difícil crer que em meia hora estaria se casando.
Os sons exóticos e o perfume que pairavam no ar de Cancún, México, infiltravam-se através das janelas do chalé do hotel, pareciam acrescentar mais fantasia ao clima sedutor.
Os murmúrios de uma conversa, seguida de risadas aba​fadas chegaram aos seus ouvidos, para em seguida sumir à distância; pelos menos duas pessoas haviam passado pró​ximo ao chalé. Sentiu um desejo estranho de correr até a janela e convidá-las para o casamento.
Embora soubesse que não podia modificar nada, de re​pente desejou que a cerimónia não fosse tão simples; apenas os noivos, o juiz de paz e sua esposa, que serviriam como testemunhas. Viu-se desejando que acontecesse num estilo mais tradicional; muitas flores, laços, padrinhos, damas de honra, família e amigos.
Tradição era o que Case sentia falta, algo que sempre ansiara ter na vida e nunca experimentara por causa de sua educação nada comum. Agora, aos trinta e cinco anos de idade, estava determinado a mudar. Daquele momento em diante, teria uma vida normal com esposa, filhos, uma casa com jardim, cachorros, talvez dois, jantares aos do​mingos, acampamento com as crianças e coisas assim.
Lembrou-se de como era agradável acampar, dormir qua​se ao relento no meio do mato.
Suspirou ao checar a própria aparência no espelho. O cabelo escuro habitualmente em desalinho, estava agora perfeitamente penteado para trás. O terno preto impecável, a camisa de cambraia branca... Quem o visse, na certa não o reconheceria, concluiu com uma risadinha de satisfação.
Voltou-se em direção à cama, onde largara a licença de casamento e a caixinha preta de veludo com as alianças. Guar​dou-as no bolso interno do paletó. Assim que tivesse oportu​nidade, compraria uma aliança de brilhantes para Maddie usar com a aliança de casada, prometeu. Ou será que ela iria preferir esmeraldas em vez de brilhantes, ou quem sabe rubis?
Havia muito o que aprender a respeito da futura esposa; conhecera-a havia apenas duas semanas. Riu suavemente. Quem acreditaria em algo assim?
Viera à Cancún pretendendo relaxar, fazer uma avaliação do que faria com a resto de sua vida. Após vários anos trabalhando para o governo, cansado e desgastado, de re​pente viu-se ansiando por algo que não conseguia definir, que não era capaz de entender. Mas tudo ficou claro ao conhecer Maddie, a doce Maddie Carmichael. Sabia agora que era justamente o que faltava em sua vida; uma mulher especial, amiga, amante, companheira.
Assim que a conhecera, soubera quase que instantanea​mente que ela seria a esposa que sonhara; uma garota de família, com raízes profundamente plantadas em sua pró​pria comunidade, bonita, naturalmente meiga, um pouco ingénua. E mais; gostava de cozinhar, pois era sócia do pai num restaurante especializado em comida caseira, na cida-dezinha em que nascera e se criara no Mississipi. Adorava crianças, e seus passatempos favoritos eram pintura e tra​balhos com agulha.
Case concluiu que não poderia encontrar ninguém mais per​feito, e começou a cortejá-la com determinação. Impressionara-a profundamente com tantas atenções, deliberadamente a man​teve tão deslumbrada e aturdida, que após ter ela mesmo ter admitido não ser do tipo impulsivo, acabara por aceitar casar-se com um homem que era pouco mais do que um estranho.
Case lhe prometera a lua, e tinha toda a intenção de dar à ela. Era o mínimo que Maddie merecia por resgatá-lo de uma vida sem graça, amarga e solitária.
pensar que jamais precisara fazer o menor esforço para ter qualquer mulher que desejasse. Mas, até então, não se interessara por nenhuma outra desta maneira.
Concluiu que estava apresentável ao olhar-se uma última vez no espelho. Meia hora apenas de solteiro, meia hora a mais de solidão.
Tocou no bolso, certificando-se de que a licença e as alian​ças estavam ali. Percebeu a mão um pouco trémula, tensão talvez, afinal ainda não fizera amor com sua bela noiva. Desta vez queria que tudo acontecesse de acordo com a tradição: namoro, casamento, lua-de-mel. Sua pulsação ace​lerou ao pensar no longa noite diante de si.
De repente, uma série de batidas à porta tirou-o do de​vaneio. Quem poderia ser? Maddie ficara de encontrá-lo na casa do juiz de paz, e não esperava ninguém.
Atravessou o quarto e foi atender. Mas, ao fazer isso, não conseguiu evitar soltar uma praga. Tentou tornar a fechar a porta sem conseguir.
Vim falar com você — disse uma ruiva estonteante num tom rouco que ele tanto conhecia.
Vá embora, Jade. Estou ocupado.
Precisamos conversar. É importante.
Dentro de meia hora estarei me casando, droga, me deixe em paz!
Jade o fitou com o olhos verdes repletos de pesar. Case não gostou. Nunca vira aquele olhar nela.
Lamento, mas creio que terá que adiar a cerimónia — disse ela, calmamente.
Case balançou a cabeça, um mau pressentimento assaltou-o.
—	Você deve estar brincando...
Não estou. Não costumo brincar com coisas sérias. — A ruiva tirou algo do bolso do blazer impecável que usava.
Creio que isso o convencerá — disse com cuidada inflexão na voz.
Case gelou.
"Oh, droga, Maddie. Eu sinto muito".
Maddie verificou as horas pela vigésima vez em menos de vinte minutos, ciente de estar sendo furtivamente ob-
servada pelo juiz de paz e por sua esposa. Case estava atrasadíssimo! Se não fosse o seu atraso, a cerimónia já teria terminado! Já estariam casados! "Onde estaria ele?" 
—	Gostaria de chamar o hotel outra vez, srta. Carmichael? —	o juiz de paz perguntou num inglês carregado de sotaque.
Maddie forçou um sorriso e negou com a cabeça. Já telefonara duas vezes para o quarto de Case e não obtivera resposta.
—	Ele deve estar a caminho. Talvez preso no trânsito —	Assegurou.
O senhor e a senhora Ruiz assentiram, embora Maddie percebesse a dúvida neles. Deviam pensar que o noivo dera no pé.
"Oh, Deus! E se tiverem razão? pensou em pânico. Mas então o que estava fazendo ali? Como se envolvera numa si​tuação tão humilhante? Viera a Cancún em viagem de férias, de bem merecidas férias. Saíra do Mississipi esperando poder descansar, divertir-se um pouco, injetar uma dose de excitação na rotina que era sua vida, mas não esperava envolver-se em nenhum romance e, com toda a certeza, não planejara casar-se! Mas ali estava ela, diante de um juiz de paz, pronta para se casar com um homem que, acidentalmente, conhecera na praia havia apenas duas semanas!
"Mas onde Case se metera?
Passou as palmas das mãos úmidas nos lados do vestido branco. Em seguida, afastou uma mecha de cabelo castanho do rosto. Case chegaria em seguida, assegurou ao lembrar da emoção que havia nos extraordinários olhos cinzentos ao imploraram-lhe que se casasse com ele. Não a fitaria daquela maneira se mentisse.
Uma batida à porta a fez prender o fôlego. Case? Voltou-se em direção ao som.
A garota que entrou na sala era alguém que Maddie reconheceu de imediato.
—	Carmelita? O que faz aqui? —- perguntou, surpresa.
Carmelita trabalhava no hotel em que ela e Case estavamhospedados. Maddie simpatizara com a garota, tanto que começou a gostar dela como a uma amiga. E, necessitando! conversar a respeito de suas dúvidas quanto ao casamento com um total estranho, confidenciou-secom ela, que era jovem e romântica o suficiente para fascinar-se pela paixão que nascia diante de seus olhos. Ela até dera a Maddie um lencinho branco de renda para usar durante a cerimónia. Para dar sorte, dissera a garota, sorrindo.
Mas Carmelita agora não sorria. Seus olhos castanhos estavam repletos de solidariedade.
	Trouxe um bilhete para você — disse, e estendeu a mão.
Maddie olhou para o papel dobrado, com apreensão. De imediato soube o que estava escrito nele.
Ele não virá, não é? — sussurrou.
Carmelita fez um sinal negativo com a cabeça.
Ele precisou ir embora. Leia.
Algo no modo como a garota a fitara, deixou-a tensa.
Quando ele partiu?
Há pouco. Eles... ele parecia estar com muita pressa.
Eles? Case não foi sozinho?
—	Não... Havia uma mulher com ele. Ela foi procurá-lo no hotel. Muito bem vestida, ruiva, alta... Mas talvez seja sua irmã — Carmelita sugeriu, prestativa, sem saber que Case várias vezes afirmara ser filho único. — Talvez tenha surgido alguma emergência. Leia o bilhete, Maddie.
A mão de Maddie tremia quando finalmente desdobrou o papel, cautelosamente, como se receasse que fosse explodir em sua mão. Em seguida leu:
"Maddie, minha querida, eu sinto muito, mas o casamento terá de ser adiado. Aconteceu algo urgente: Preciso ir embora. Vá para casa e espere por mim. Ligarei assim que for possível. Case"
Algo no íntimo de Maddie morreu, e foi substituído por uma outra coisa, concebida da mágoa, da tristeza e da frustração.
A doce Maddie Carmichael nunca mais tornaria a ser a mesma.
CAPITULO II
O endereço que Case obteve do rapazinho de​sajeitado que o atendeu no posto de gasoli​na, provou ser mais confiável do que ele esperava. De acordo com suas instruções, assim que virou à esquerda, no terceiro farol, após ter passado pela avenida principal da pequena cidade de MitchelFs Fork, Mississipi, Case descobriu que finalmente chegara ao seu destino.
Uma tabuleta no alto, na entrada do restaurante o iden​tificou: "Mike e Maddie's"
O nome fez Case afrouxar o nó da gravata, que de repente parecia sufocá-lo. Era intrigante o modo como conseguia re-tratá-la diante dos olhos após todos aqueles meses. Era como se a tivesse visto há apenas alguns minutos. A expressão doce no rosto oval e perfeito, os sedosos cabelos longos, naquela incrível cor castanho-avermelhados. A boca sensual, normal​mente sem pintura, porque como ela mesmo admitira, os ba​tons tinham a tendência a desaparecer de seus lábios. Mas a Case aquilo não importava, porque a beleza natural de Mad-die fora o que mais o atraíra na primeira vez que a vira. Em seguida, foram os enormes olhos azuis, parcialmente ocultos pelos óculos que precisava para compensar a miopia. Lem​brou-se de como perdera o fôlego ao vê-los expostos quando removera-lhe os óculos para beijá-la pela primeira vez.
Os incríveis olhos azuis, aliados aos traços perfeitos, e a um sorriso sensual, sugeriam uma mulher frágil, que precisava de proteção, e Case arrependia-se amargamente de sua no​breza nada típica, que o impedira de levá-la para a cama na primeira oportunidade surgida. Quando pela primeira vez a abraçou, Case teve a impressão de que começava a flutuar, de que o mundo sumia à sua volta. Por um breve instante, ele não teve consciência de mais nada além da proximidade dela, das mãos delicadas em seus ombros, do perfume e do calor do seu corpo sedutor pressionado contra o seu.
Ao entrar no estacionamento lotado, sua Ferrari pareceu uma estranha no ninho entre as várias picapes e caminhonetes estacionadas ali, fazendo-o pensar se não deveria trocá-la por um jeep. Afinal, estava a fim de adaptar-se ao lugar.
O saguão de entrada do restaurante fora designado para dar ideia de se estar entrando num armazém do século passado, com mercadorias em rolos e em sacos de aninhagem como eram vendidas antigamente. Nas prateleiras, havia potes de geléias, mel, balas e livros de receitas.
O restaurante encontrava-se totalmente lotado, a maioria dos frequentadores vestidos em suas melhores roupas de domingo, fazendo Case suspeitar que o local devia ser uma parada obrigatória após a igreja.
Procurou por Maddie e não a viu, mas precisava ser pa​ciente; sua intuição raramente falhava, e agora dizia que ela estava ali.
Uma mulher'alta, magra e desengonçada usando unifor​me azul claro aproximou-se.
Está sozinho? — perguntou, naquele .sotaque típico da região rural do Mississipi, o qual Case já começava a se acostumar.
Sim, mas... — respondeu, embora não esperasse ficar sozinho por muito tempo mais. — Saberia me dizer onde posso encontrar...
Sua pergunta foi interrompida por um assobio estridente. Em seguida, um homem avisou de algum lugar atrás dela:
—	A mesa quatro está pronta, Hazel!
Ela acenou, e olhou para os garranchos que fizera no bloco de anotações que trazia na mão por um instante antes de avisar, sem tomar fôlego:
—	Anderson-Stewart-sua-mesa-está-pronta. — Em segui​da olhou de volta para Case. — Nome?
Ligeiramente desconcertado com a falta de cerimónia, Case começou a responder.
—Branni...
Mas novamente foi interrompido, desta vez por um ho​menzarrão que queria uma cerveja.
—	Cervejaaaa! — gritou Hazel. — Mesa cinco!
Em seguida, ela tornou a olhar para Case, como se fosse uma surpresa ele ainda estar à espera. 
 — Como disse que era seu nome, sr....
—	Branning. Estou à procura de...
Uma loira, trazendo nos braços uma pilha de menus plas​tificados acabava de entrar no restaurante. Com as costas voltadas para Case, ela depositou-os sobre a estante de ma​deira que havia na recepção, justamente onde Case se en​contrava recostado. Ele suspirou e afastou-se do seu cami​nho, notando de relance que a loira era jovem e esbelta, e que o uniforme azul caía bem melhor nela do que em Hazel.
—	Muitas pessoas aguardando mesa? — a loira perguntou a Hazel quando os menus estavam seguramente guardados na estante.
Case enrijeceu-se ao som daquela voz. Olhou para ela mais atentamente. Não podia ser...
—	Não muitas. Dois casais e uma família de seis. Oh... e este aqui — informou Hazel, olhando para Case como quem pede desculpas. — Desculpe, como é mesmo o seu nome?
A loira o fitou e pareceu gelar. Ela e Case falaram ao mesmo tempo.
Branning.
Branning!?
Maddie?
Mas o que ela fizera com os cabelos? Não eram longos, li​geiramente ondulados e castanho-avermelhados? O cabelo de Maddie agora, além de loiro estava bem mais curto, e penteado como se ela usasse os dedos como pente. E os óculos? Não estava mais usando-os e expunha totalmente os enormes olhos azuis, agora realçados por cílios longos e habilidosamente es​curecidos. E o batom nos lábios carnudos tinha um tom rosado escuro, quase vermelho, e ela não desaparecera com ele.
E, como Case, Maddie também emagrecera, mas não ha​via motivo para se acreditar que ela passara por problemas de saúde. Falando com franqueza, ela estava bem disposta, em excelente forma física e... estonteante.
—	Maddie? — repetiu Case enquanto ela continuava fi​ tando-o. O rosto, que empalidecera ao vê-lo, agora corara.
Sorriu satisfeito com seu rubor. Claro, fora uma surpresa e tanto vê-lo. Não podia culpá-la.
Mas, de repente, percebeu que seu rubor, que ele arro​gantemente atribuíra ao embaraço causado pelo prazer de vê-lo, fora motivado pela fúria.
Maddie tinha o queixo erguido e um brilho de desafio nos olhos ao dizer duas palavras que o transtornaram:
—	Vá embora.
Case ficou com a cara no chão. Na verdade, não esperava que ela fosse atirar-se em seus braços, mas... Com toda a certeza não ouvira direito.
Sou eu, Maddie, Case... — disse, sem animação, sa​ bendo que ela já percebera de quem se tratava.
Vá embora — Maddie repetiu num tom mais alto, chamando a atenção dos demais.
Ouça, Maddie... — Case não acreditava. Aquela não podia ser a mulher que ele conhecera há seis meses em Cancún. A suave e doce Maddie, com quem ele estivera prestes a se casar, que costumava corresponder de modo tão intenso a seus beijos e carícias. Ela não teria uma irmã gémea?
Maddie? — tornou a perguntar, inseguro.O que está havendo, Maddie? — perguntou um homem que possuía olhos azuis e cabelos da mesma cor que Maddie possuía antes. Aproximou-se deles.
Hazel pigarreou.
Este senhor deseja uma mesa e Maddie... uh... ela quer que ele saia do restaurante.
Estamos lotados — disse Maddie, os olhos presos nos de Case. — Ele terá de procurar outro local para almoçar, de preferência num outro estado.
Hazel arregalou os olhos, chocada.
O homem que Case presumiu ser o pai de Maddie também pareceu chocado.
—	Madelyn! Esses são modos de tratar um cavalheiro? Afinal, o que está havendo aqui?
—	Isso é o que a maioria de nós gostaria de saber —interveio Hazel.
Case ignorou a todos, exceto a Maddie.
Nós precisamos conversar — disse a ela.
Não vê que estou ocupada? — Maddie atirou a cabeça para trás,' as ondas suaves dos cabelos loiros esvoaçaram em torno do seu rosto. Em seguida afastou-se.
Case a seguiu.
—	Maldição, Maddie...
O pai dela, Hazel e um outro homem, grandalhão e usan​do barba foram em direção à porta e após Maddie ter pas​sado, bloquearam a saída de Case.
—	Ainda não percebeu que a moça não quer falar com você? — O grandalhão resmungou atrás da barba negra.
Case não sabia de onde ele tinha surgido, mas observou cautelosamente seus braços e musculosos antes de voltar-se para o outro homem, menor e menos intimidante.
Você é o pai de Maddie?
Sim, sou Mike Carmichael? E você?
Case Branning. Tenho certeza que Maddie deve ter falado a meu respeito. Vim para vê-la, precisamos conversar.
Lamento, mas ela nunca mencionou nenhum Case Branning.
Quer que eu o ponha para fora, Mike? -— ofereceu o barbudo.
Instintivamente, Case recuou. Mike percebeu que ele mancava.
—	Deixe comigo, Andy. Volte para o seu almoço.
Case ainda não se recuperara do golpe que recebera ao descobrir que ninguém ali sabia de sua existência. Maddie o levara a crer que ela e o pai eram muito chegados, por que então não lhe contara que eles estavam comprometidos?
Mas não era de estranhar, após o modo como ela o re​cebera. Ela não se considerava mais como sendo uma pessoa comprometida. Esclareceria isso na primeira oportunidade.
Mike Carmichael ainda o observava, cauteloso, e Case tentou o melhor de si para se parecer como um respeitoso futuro genro. Sorriu e estendeu-lhe a mão.
—É um prazer conhecê-lo, sr. Carmichael, sou Case Branning, noivo de sua filha.
Mike Carmichael balançou a cabeça. Felizmente, naquele momento, com o restaurante lotado, ele não podia parar para conversar.
Se você não se importa... preciso ir ver o que acontece na cozinha — avisou Mike, quando foi chamado de três direções diferentes.
Só um minuto... Eu queria saber onde posso encontrá-la.
Não me pareceu que Maddie pretendesse tornar a vê-lo — comentou Mike, estudando-o.
Ela está zangada comigo, mas garanto que me per​doará assim que eu tiver a chance de explicar o que houve...
Você não vem, Mike! Precisamos de você na cozinha! — Alguém gritou.
Mike suspirou, e passou a mão através dos cabelos ralos.
Preciso ir. Na certa Maddie foi para casa. Peça o endereço a Hazel. Mas veja lá o que pretende fazer com minha filha.
Não se preocupe — Case prometeu, impaciente, que​ rendo ver Maddie o mais depressa possível.
Mike ainda hesitou, mas logo em seguida afastou-se. Case aproximou-se de Hazel.
—	O endereço, por favpr? — pediu, sem mais preâmbulos, sabendo que ela não perdera uma só palavra trocada entre ele e Mike Carmichael.
Hazel fitou-o dos pés à cabeça.
—	Onde foi que vocês se conheceram?
Case nunca fora de dar muitas explicações e precisou fazer força para não gritar com ela, para que desistisse das fofocas e lhe desse logo o maldito endereço. Mas algo lhe dizia que nada obteria dela se não tivesse paciência.
Nos conhecemos em Cancún — admitiu.
Ah-hah! Eu bem que desconfiei. Maddie voltou diferente das férias. Clareou os cabelos, comprou lentes de contato e vive de regime; o que come, mal dá para manter um passarinho vivo. Sabe que ela andou saindo com Jackson Babbit, quando todos sabem que espécie de pessoa ele é? E agora, vive dizendo que pretende vender sua parte na sociedade do restaurante, e que irá para a Europa, e não sabe quando voltará.
Case franziu o cenho, a mente a mil. Quem seria Jackson Babbit? Que espécie de pessoa ele era? O que haveria de verdade nesse plano de Maddie de ir para a Europa? Apro​veitou a pausa que Hazel fez para respirar.
—	Tenho pressa. Você poderia me dar o endereço?
Ignorando o caos controlado em torno de si, Hazel balançou a cabeça, ainda seguindo a própria linha de raciocínio.
—	Alguém deveria tê-la acompanhado a essa viagem ao México. Não é do seu feitio viajar sozinha como fez, mas Maddie estava irredutível... Era uma outra pessoa quando retornou. Antes de ir, parecia plenamente satisfeita com as coisas por aqui.
Hazel apontou um dedo na direção de Case, como se tivesse decidido que ele era o culpado pela mudança em Maddie.
Desde então ela vem agindo como uma dessas mulheres liberadas, sempre pronta a dar opinião, se alguém pede ou não, e nunca mais compareceu às reuniões do Charity Club. Ainda bem que sua mãe não está viva para presenciar isso. Nunca deixou de haver uma Carmichael presente nes​sas reuniões, desde que o clube foi fundado.
Por favor... o endereço?
E agora ela decide que precisa partir para longe para se encontrar. Onde já se viu? Não sei por que meteu na cabeça que só poderá fazer isso na Europa. "Você poderá se encontrar aqui mesmo em Mitchéll's Forkl!, eu lhe disse. "Onde esteve escondida nos últimos vinte e seis anos."
Por favor, eu só queria...
Sabe o que ela respondeu? Que a antiga Maddie Carmichael, desde que nasceu viveu escondida aqui em MitchelFs Fork, mas tinha certeza de que havia uma outra Maddie Carmichael escondida em algum lugar, e pretendia descobri-la. Você já ouviu um absurdo maior?
Toda aquela conversa desconexa deixava Case ainda mais ansioso para ver Maddie.
—	Ouça... — disse, lançando um olhar que fez Hazel recuar. — Vai me dar o endereço, ou terei que descobrir sozinho?
Para sua surpresa, Hazel riu, nada intimidada.
—	Gosto de homens decididos. Você me lembra Roy, meu último marido, ele costumava...
Case perdeu a paciência.
O endereço! — gritou, fazendo com que todos ali olhas​sem em torno em expectativa.
Quer que eu o ponha para fora? — ofereceu o barbudo da mesa há alguns metros.
Não, Andy. Termine seu almoço. Nosso amigo está de saída.
E, para o alívio de Case, Hazel rabiscou o endereço num pedaço de papel.
Maddie caminhava de um lado para o outro no quarto quando o telefone tocou. Olhou para o aparelho como se esperasse ver quem estava do outro lado da linha. Atendeu no terceiro toque.
Maddie? É Jill.
O que houve, Jill?
Boa pergunta. Você deve saber.
Saber o quê?
Por que diabos não me contou que estava noiva? Ho​nestamente, nós sempre fomos...
Noiva? Mas do que é que você está falando?
O mesmo que todos na cidade. Que um homem maravilhoso entrou no restaurante e apresentou-se como sendo seu noivo, e isso, diante da população inteira da cidade. O que você anda escondendo, hein? Ele tem alguma coisa a ver com a sua tão sonhada viagem à Europa? E quanto a Jackson? Ele sabe desse noivado?
Maddie estremeceu. Jackson! Oh, céus! Quem Case Bran-ning julgava ser, apresentando-se na cidade como sendo seu noivo? Se acreditava que ainda existia algum compro​misso unindo-os, ela pretendia esclarecer que ele estava enganado, e o mais breve possível.
Deve haver algum equívoco. Juro que não estou noiva! De ninguém!
Mas isso não é o que o "seu" noivo anda dizendo por aí — retrucou Jill.
Eu já disse que não existe nenhum noivo!
Calma... não precisa se exaltar.
Desculpe, Jill, mas essa história toda está me dando nos nervos.
Entendo... Mas quem é esse homem afinal? Você o conhece? E por que ele inventaria esse noivado?
É uma longa história, mas prefiro não falar por telefone.
Me dê um tempo, e conversaremos assim que for possível.
Vou querer saber dos mínimos detalhes — Jill deu uma risadinha antes de desligar.
Maddie soltou um gemido.O telefone tornou a tocar minutos depois. Era a sra. Underwood, que conhecia os Carmichael desde antes de Maddie ter nascido. Frequentavam a mesma igreja.
Oh, Maddie, minha querida... Então é verdade que você e Jackson resolveram se amarrar? Foi uma surpresa.
Mas ainda bem, porque eu não suportava a ideia de você vivendo sozinha na Europa.
Não estou noiva de Jackson, sra. Underwood, se é sobre o que se refere.
Mas então, de quem você está noiva?
De ninguém. Essa história de noivado não passa de um equívoco. — Maddie tentou adivinhar quantas vezes teria de dizer aquilo antes que o dia terminasse. Sabia bem como as notícias se espalhavam rápido em MitcheU's Fork. Case surgira no restaurante há menos de uma hora!
Mas foi Sarah Kennedy quem disse ter ouvido a notícia da boca de Martha Jean. Martha contou que seu noivado foi anunciado esta tarde no restaurante.
Martha não está bem informada, sra. Underwood. Sin​ to muito, mas preciso desligar.
Mas... mas....
A sra. Underwood continuava gaguejando quando Maddie desligou. Era a primeira vez na vida que deixava alguém falando sozinho, e tudo por culpa de Case Branning.
Gemeu quando o telefone tocou em seguida. Ignorou-o. Não suportaria ouvir aquela história novamente.
Correu para o quarto e trocou o uniforme azul por algo mais confortável; vestiu camiseta, short e calçou um par de ténis velho.
Saiu de casa; precisava ficar sozinha antes de enfrentar Case Branning, e sabia que não tinha muito tempo.
CAPITULO III
Case começava a suspeitar que Hazel deliberadamente o enganara. Dirigia já há dez mi​nutos e o único sinal de vida ali eram as vacas no pasto ao longo da estrada.
Foi com alívio que avistou logo adiante a fazenda. Seu otimismo cresceu ao se aproximar. A casa da fazenda era excelente, igualzinha à que sonhava viver quando resolvesse retirar-se para conviver com a natureza.
Era branca, dois pavimentos com janelas de persianas, e em torno havia um jardim de azaléias, muitas árvores frondosas e um bem-cuidado gramado. Também não faltava a cerca branca de madeira e, dentro dela, dois cachorros que brincavam e latiam.
Ao lado, havia uma outra casa, bem menor, talvez fosse a residência dos hóspedes, ou então dos empregados. Per​feito. Case apostaria qualquer dinheiro como a Maddie Car​michael que conhecera em Cancún havia nascido e crescido naquele lugar.
Estacionou o carro diante da entrada da fazenda. Os dois cachorros vieram em sua direção, os rabos abanando, como se estivessem satisfeitos de vê-lo. Case acariciou-os tentando adivinhar qual era sua raça; ambos eram grandes, baru​lhentos e amigáveis.
Uma mulher idosa, com um rosto simpático surgiu de trás da casa.
Posso ajudá-lo?
Estou à procura de Maddie Carmichael. Sou Case Branning.
A mulher examinou-o dos pés à cabeça, porém Case não deu importância; começava a se acostumar a ser examinado como uma cobaia de laboratório.
Maddie deve estar no quarto. — A mulher encolheu os ombros. — Toque a campainha e pergunte por ela. Preciso ir cuidar de minhas roseiras.
Não se prenda por minha causa — Case murmurou, embora ela já tivesse se afastado.
Subiu os quatro degraus de entrada e tocou a campainha. Um homem de pernas tortas veio atender e fitou-o com curiosidade. Case tentou adivinhar quem seria. Talvez fosse o caseiro.
Estou à procura de Maddie Carmichael. Ela está?
Maddie? — O homem dirigiu-lhe o já familiar olhar perscrutador de alto a baixo. — Ela não está.
Case imediatamente suspeitou que Maddie o instruíra para despistá-lo.
—	Disseram-me que a encontraria aqui.
Mas "eu" estou dizendo que ela não está.
Case já começava a se aborrecer.
Posso saber com quem estou falando?
Sou Frank, e trabalho aqui.
Você deve ser o marido da empregada...
—	Sou o empregado. Algum problema? — Frank o corrigiu.
Case começou a sentir a cabeça latejar. Tomou fôlego.
O único problema aqui é que preciso falar com Maddie. Apreciaria muitíssimo se alguém me informasse onde po​derei encontrá-la.
Você é aquele que disse para todo mundo na cidade que é o noivo dela?
Como soube disso? — Case indagou, transtornado.
Frank encolheu os ombros.
As notícias se espalham depressa por aqui.
Tem certeza de que não foi um passarinho quem con​tou? Não fazia uma hora que ele chegará à cidade! — Mas
você acertou. Sou o noivo de Maddie.
Sério? Pelo que ouvi, primeiro terá de convencê-la disso.
É exatamente o que pretendo fazer assim que tiver chance.
Por que não tenta encontrá-la no riacho? — sugeriu Frank, parecendo ter chegado a uma conclusão. — Está vendo aquele bosque? O riacho passa por dentro dele e é lá que Maddie costuma ir quando está com algum problema.
Irei até lá. Obrigado.
Não precisa agradecer. Vou entrar agora. Tenho um bolo no forno. Boa sorte.
Obrigado — Case repetiu justamente quando Frank fechou a porta.
Que coisa mais estranha... — Case murmurou intrigado com o tal Frank, ao manquejar em direção ao bosque.
Esperava encontrar logo o tal riacho porque embora ti​vesse recuperado grande parte de sua antiga forma física, não tinha certeza se suportaria uma caminhada extenuante.
Era um lugar tranquilo apesar do barulho de uma cascata que descia até o vale. Uma brisa de fim de maio ondulava o riacho, e fazia as flores silvestres dançarem ao seu sabor.
No alto das árvores, as folhas novas da primavera farfalhavam com a brisa, e lançavam sombras dançantes no chão.
Maddie se encontrava sentada sobre a relva, as costas apoiadas numa árvore, os olhos fechados enquanto ouvia o canto dos pássaros e o tagarelar distante de dois esquilos brincalhões.
Ela normalmente sentia-se em paz no bosque. A natureza era um excelente sedativo para seus nervos estressados em excesso. Mas, naquele dia, nem a mãe natureza conseguia acalmar a ansiedade que Case Branning despertara nela ao ressurgir inesperadamente na cidade.
Maddie.
Por favor, vá embora. — A presença dele ali não a surpreendeu.
—Não vou embora enquanto não conversarmos.
Maddie o fitou. Naquele terno escuro, camisa branca e gravata azul, ele estava muito elegante para um passeio no bosque. Percebeu que emagrecera e tinha um pouco de olheiras, mesmo assim continuava sendo o homem mais atraente que ela conhecia.
Case deu alguns passos em sua direção e ela não pôde deixar de notar que mancava. O que teria acontecido? O que viera fazer em MitchelFs Fork?
Case pigarreou.
Achei impressionante o quanto você mudou — disse.
Você também mudou.
Passei dois meses num hospital.
Maddie concluiu que ele devia esperar que ela fosse ar​rancar os cabelos tamanha era sua preocupação. Porém, guardou as emoções para si.
Sinto muito, Case.
Não está interessada em saber o que houve comigo?
Falando com franqueza... não estou.
Mas o que está havendo com você? — explodiu Case.— Por que está tão zangada? Pelo seu modo de agir está parecendo que sumi sem dar explicações.
"Oh, ele tinha razão. Recebera seu recado: Vá para casa, e espere por mim". Só não dissera até quando. Podia ver as palavras no bilhete claramente, assim como a piedade nos olhos castanhos de Carmelita ao falar sobre a misteriosa ruiva com quem ele fora embora.
Não estou zangada, Case, estou grata. Ao parti daquele modo você poupou-me de uma cena bastante embaraçosa.
Sério? Você quer dizer, igual àquela que você causou no restaurante?
Maddie corou, mas não desviou o olhar.
—	Refiro-me a Cancún. Seu bilhete de última hora poupou-me o grande embaraço de ter de confessar que havia mudado de ideia.
Case arregalou os olhos.
—	Quer que eu acredite que de qualquer modo você não teria se casado comigo? Mesmo se eu não tivesse sido chamado aos Estados Unidos numa emergência?
Chamado de volta numa emergência. Era uma maneira interessante de encarar o mal que fizera. Maddie tentou disfarçar o amargor na voz.
—	Lamento muito decepcioná-lo, mas quando acordei naquela manhã, comecei a suspeitar que estava para cometer um grande erro. Não podia me casar com um estranho.
Você só pode estar dizendo isso para que eu acredite que foi você quem desistiu.
Pense o que desejar, agora já não importa— Maddie encolheu os ombros. — Graças a Deus enxerguei a tempo que seria uma loucura. Seja lá o que fosse, acabou.
Não, ainda não acabou.
Ele falou com tal veemência, que a fez instintivamente apertar o abraço em torno dos joelhos dobrados. Não per​mitiria que ele a intimidasse. A nova Maddie Carmichael nada tinha a ver com aquela garota assustada de antes. Mas era difícil não se intimidar estando sentada no chão e ele em pé.
Levantou-se o fitou-o.
Enfrente isso, Case. O que houve entre nós não passou de um romance de férias, uma empolgação que logo termi​nou. Nós nunca... nem... você sabe.
Nunca fomos para a cama juntos? Foi esse o meu grande erro. Se nós tivéssemos sido amantes em Cancún, não estaríamos aqui argumentando. Você saberia que me pertencia.
Sua presunção a fez ferver de raiva. Ela devia ter es​tado cega em Cancún para não enxergar a arrogância que existia atrás de tanto charme. Estivera tão envolvida naquele clima sedutor que perdera totalmente a sensatez. Com toda a sua esperteza, Case havia arrancado um "sim" dela durante um passeio de mãos dadas na praia, numa noite de luar, após um romântico jantar à velas. Sussur​rara em seu ouvido que a desejava, que precisava dela, e que ela era a mulher por quem estivera esperando a vida inteira.
No vôo de volta ao Mississipi, quando tinha os olhos ver​melhos de tanto chorar e o orgulho ferido foi que lhe ocorreu que Case nem uma só vez dissera que a amava.
Aquelas lembranças dolorosas a encheram de revolta. Er​gueu o queixo com altivez.
—	Não pertenço a você, Case Branning, nem a ninguém.
O modo arrogante como Case a fitou, as sobrancelhas erguidas, a fez ter vontade de esmurrá-lo no nariz! A antiga Maddie jamais ocorreria um gesto tão violento e tão pouco feminino.
Tomou fôlego, determinada a resolver a situação da ma​neira mais civilizada possível.
Ouça, Case, não sei exatamente o que você veio fazer aqui, nem o que deseja de mim, mas a verdade é que não me considero mais sua noiva. Nós somos praticamente dois estranhos e o que houve no México foi... uma empolgação. Muito luar, muita dança, muito champanhe... Felizmente, nos demos conta disso a tempo. E, pessoalmente, prefiro que continue tudo como está.
Não mudei de ideia quanto a me casar com você. Fui chamado às pressas de volta aos Estados Unidos. Negócios.
Maddie preferiu não retrucar, embora tivesse todos os motivos para fazer isso.
—	E quanto ao restante... o que você disse sobre o luar, o champanhe... é puro disparate e posso provar isso — Case acrescentou, segurando-a pelos ombros..
Maddie fitou-o com suspeita, cônscia do calor de suas mãos penetrando através da malha fina da camiseta.
—	Me deixe em paz, Case...
— Não há luar agora — interrompeu-a. Ergueu o queixo para indicar o sol brilhando na tarde de primavera. — E há seis meses não dançamos e nem tomamos champanhe juntos.
Não sei o que você espera...
Queria apenas deixar claro isso. 
Maddie tentou afastá-lo. Abriu a boca para protestar, pedir-lhe que parasse. Depois disso, não teve consciência de mais nada, além de que Case a beijava com ardor e paixão. Os lábios dele clamaram pelos dela, numa insistên​cia que ela não poderia ignorar, mesmo que quisesse.
Ninguém jamais a beijara como Case a beijava. Nenhum outro homem conseguira fazer seus joelhos fraquejarem, sua mente girar, sua pele ferver. Até Case beijá-la pela primeira vez, há seis meses, sempre julgava que aquelas reações exis​tiam apenas na ficção. Com Case, vira os fogos de artifício que julgava existirem apenas nas novelas.
As mãos másculas deslizavam por seu corpo, como se reiterando-se das curvas suaves, verificando as mudanças. Maddie não pôde deixar de notar o quanto ele havia ema​grecido. Tentou ignorar a própria curiosidade; não queria saber o que acontecera com ele, nem o quanto sofrera. Não deveria ficar ali, beijando-o com aquela ânsia louca.
Afastou os lábios dos dele e abaixou a cabeça, tentando desesperadamente recobrar a calma.
Nem luar, e nem champanhe — murmurou Case. — Você me pertence, e isso desde que a convidei para aquele primeiro drinque em Cancún. Admita isso.
Eu... eu... — Em pânico, Maddie desvencilhou-se dele e correu para longe, para a segurança da fazenda.
Ouviu-o chamá-la, praguejar, enquanto com dificuldade tentava segui-la. Mas não parou. Precisava colocar alguma distância entre eles, recobrar-se dos efeitos daquele beijo antes do próximo confronto. Não conseguia pensar com cla​reza quando Case a beijava.
Case deu dois passos antes de perceber que jamais a alcançaria. Parou e afrouxou o nó da gravata. Droga! pra​guejou. Nada estava acontecendo do modo como planejara!
Tentou se acalmar, raciocinar. Fora presunção assumir que ela fosse atirar-se em seus braços assim que o visse, que concordaria em recomeçarem de onde haviam parado há seis meses. A verdade é que nem sequer questionara se ela estaria ou não esperando-o. E fora um choque saber que Maddie estava saindo com outra pessoa. Mas seja lá qual fosse a importância desse tal Jackson, ela corres​pondera ao seu beijo com o mesmo ardor de antes, não importava o quanto se esforçasse para convencê-lo de que tudo mudara.
Diacho! Maddie parecia acreditar que fora abandonada de modo calculado diante do juiz de paz. Se pelo menos tivesse tido tempo para vê-la antes de partir...
Obviamente, o bilhete que enviara não fora suficiente e, para piorar tudo, nos últimos seis meses estivera incapa​citado de entrar em contato.com ela; primeiro por ter sido forçado a ir até os confins da Colômbia para contatar uma pessoa e, em seguida, por ter estado hospitalizado num país estranho, e não recuperado o suficiente para pensar em ir procurá-la para se casarem.
Mas, assim que o médico assegurou que não ficaria in​válido, seu primeiro pensamento foi procurar por ela. Tentou localizá-la, telefonando para todos os Carmichael do Mis​sissipi, até finalmente ouvir alguém confirmar o endereço, só que naquele momento ela não se encontrava em casa. Case preferiu não deixar nenhum recado e fazer-lhe uma surpresa. Estava tão ansioso por tornar a vê-la que não poderia esperar nem mais um minuto.
Só que quem acabou se surpreendendo fora ele. Mas explicaria tudo a ela, se conseguisse tempo suficiente para isso.
Convencera-se que era um bom sinal Maddie estar tão zangada. Se a encontrasse apaziguada e fria, aí en​tão começaria a se preocupar. Porém, pelo tumulto de emoções que sentira nela ao beijá-la, soube que não lhe era indiferente.
Precisava convencê-la de que a amava, porque não con​seguia suportar o pensamento de perdê-la.
Maddie estava no quarto, encolhida numa poltrona perto da janela quando ouviu baterem à porta.
—	O jantar está para ser servido — anunciou tia Nettie, abrindo a porta sem esperar ser convidada. — Mas você ainda não está pronta? Estão todos a sua espera. Ande, apresse-se! Quero vê-la bem bonita esta noite.
Maddie esteve prestes a dizer que não estava com fome, mas de repente lembrou-se da ocasião especial. Infelizmente não havia como escapar do jantar naquela noite.
Pode deixar, titia. Descerei em seguida.
E não desça com essa cara de poucos amigos — avisou sua tia, exatamente no mesmo tom que usava quando Maddie era apenas uma garotinha. — Frank passou horas preparando o jantar de aniversário de seu avô. Fez até um bolo de chocolate. Precisamos demonstrar que apreciamos seu esforço.
Farei isso, titia — murmurou Maddie, obediente, exa​tamente como fazia na infância.
Arrumou-se rapidamente e, minutos depois, antes de des​cer, tirou uma caixa embrulhada para presente de dentro do armário. Seu avô paterno completava oitenta e nove anos de idade e a noite seria festiva. Não permitiria que Case Branning a arruinasse, concluiu, indo em direção ao som das vozes alegres e dos risos na sala de jantar. Tentaria esquecê-lo...
E, de repente, o viu. Case encontrava-se na sala de jantar, rodeado pelos membros da família, obviamente respondendo pergunta atrás de pergunta. Sorriu ao vê-la entrar, dando a impressão que pretendia ficar para o jantar.
CAPITULO IVMike foi a primeira pessoa depois de Case -a vê-la entrar na sala. . — Aproxime-se, meu bem — disse ele à filha. — Quere​mos ser apresentados formalmente ao seu noivo.
—	O que ele está fazendo aqui?
Case não conteve um sorriso.
Eu o convidei para jantar conosco, já que ele estava aqui — Mike admitiu. — Não quero que julgue que não somos hospitaleiros.
Não era para ser um jantar apenas para a família?
Claro mas, de acordo com Case, ele logo fará parte dela — respondeu Mike, obviamente apreciando a confusão da filha.
Maddie respirou fundo, tentando se acalmar.
—	O sr. Branning deve estar brincando com você, papai. Somos apenas conhecidos.
Case riu baixinho, perfeitamente tranquilo.
Tem certeza de que é apenas isso que somos, apenas conhecidos?
Exatamente.
Maddie ficou imóvel por alguns segundos. Em seguida, vol​tou-se para depositar o presente do avô junto aos demais pre​sentes. Precisava de um tempo para se recuperar da surpresa, e pensar em como lidar com a situação embaraçosa.
Tia Nettie a observava atentamente e Maddie evitou seu olhar astuto ao dirigir-se ao aniversariante sentado à ca​beceira da mesa. Inclinou-se e beijou-o no rosto.
—	Feliz aniversário, vovô.
A campainha da porta tocou antes que o velho Carmichael pudesse agradecer.
—	Mais convidados para a minha festa — disse, radiante. Adorava ser o centro das atenções.
Os recém-chegados, Anita, irmã de Mike e seu marido Dan, acompanhados pela filha Lisa, prima de Maddie, dez anos mais velha, e divorciada, e seus gémeos de quinze anos de idade, Kathy e Jeff.
A sala estava lotada e todos falavam ao mesmo tempo, entretanto, no meio do alvoroço, Maddie notou que Case estava atento a tudo o que acontecia ae redor e parecia ignorá-la. Viu seu pai apresentá-lo à irmã.
—	Este é Case Branning... Ele alega ser noivo de Maddie.
Maddie corou diante da exclamação de surpresa de Anita. 
A situação se tornava intolerável, mas seu pai parecia diver​tir-se. Maddie o amava profundamente, mas não era a pri​meira vez que ele a colocava numa situação constrangedora como aquela. Obviamente, agia daquele modo porque perce​bera que Case não seria nenhuma ameaça à paz familiar.
Vai se casar com ele, Maddie? — perguntou Kathy, com a peculiar falta de cerimónia dos adolescentes. — Jul​guei que seu namorado fosse o Jackson Babbit.
Jackson? Minha nossa! As roupas que ele usa... — esse foi Jeff.
Kathy, Jeff, por favor, isso não é da conta de vocês. — A mãe dos gémeos interveio.
Maddie voltou-se para os garotos, pretendendo reforçar gen​tilmente as palavras da prima, mas não chegou a fazer isso.
O que houve com seu rosto, Jeff? — indagou ao notar os hematomas no rosto dele.
Nada... não houve nada — Jeff corou.
Como, não houve nada?
Danny Cooper o esmurrou — disse Kathy.
Cale a boca, Kathy! — protestou o irmão, obviamente embaraçado. De repente, se tornara o centro das atenções.
Algo precisa ser feito em relação às atitudes de Danny Cooper e de sua turma antes que alguém se machuque seriamente — disse Anita, demonstrando preocupação. — O que o delegado McAdams está esperando para tomar providências?
Você não sabe? — indagou Nettie, com cinismo. — A fábrica dos Cooper é que garante empregos por aqui e, temendo represálias, ninguém tem coragem de tomar nenhu​ma atitude contra Danny.
Já me ocorreu fazer queixa dele ao pai, mas Lisa me fez desistir — declarou Dan, tio de Maddie, e avô de Jeff.
Prefiro não me envolver com essa gente — disse Lisa. Voltou-se para Maddie. — Danny vive atormentando Jeff mas, se nos queixarmos, será pior. Que espécie de vingança usaria contra o menino?
Maddie percebeu que Case ouvia tudo atentamente.
Quer dizer então que esse rapazinho manda na cidade? — ele perguntou a Mike, como se não acreditasse no que ouvia.
Infelizmente, é verdade. O pai dele fez o mesmo há vinte anos, e também o avô antes dele. Pode-se dizer que tornou-se uma tradição, mas o problema é que a nova geração é sempre mais perversa do que a anterior.
E ninguém protesta?
Os adultos na sala suspiraram.
Ninguém quer encrenca. Os Cooper são proprietários da fábrica que dá emprego à metade da população — explicou Mike. — E óbvio que não querem arriscar seus empregos.
Além disso, os rapazes não fazem nada de tão drástico.
Surrar meu neto não foi drástico? — queixou-se Anita.
Ora essa, vovó, não precisa exagerar. Ninguém me surrou. Foi apenas uma briguinha.
Anita balançou a cabeça, mas desistiu de continuar argumentando.
—	E quando é que vocês pretendem se casar? — perguntou Jeff, dirigindo-se a Case. Era óbvio que pretendia mudar de assunto. E foi bem-sucedido.
Maddie afastou o cabelo loiro do rosto delicado, e foi ela quem respondeu.
Nunca! Isso é fruto da imaginação dele. Podem tirar isso da cabeça!
Madelyn Kathleen Carmichael! Veja lá como fala! — ralhou Nettie.
Case apenas sorriu antes de assegurar a Jeff:
—Ela está muito zangada comigo.
Maddie respirou fundo. Abriu a boca para protestar, po​rém, Jeff falou antes dela.
—	Sério? E por quê?
Case encolheu os ombros.
É uma longa história, mas vamos dizer que o motivo foi uma falha na comunicação.
Maddie ficou noiva? — Vovô Carmichael, como sempre, era o último a entender o que se passava.
Maddie agora ergueu as mãos, totalmente frustrada. A situação fugia ao seu controle. Levaria tempo para explicar ao avô, e seria extremamente embaraçoso. Com essa cons​tatação em mente, ela endireitou os ombros, ergueu o rosto e preparou-se para enfrentar o problema.
—	Você não entendeu, vovô, eu não estou noiva — negou, esperando que ele entendesse sua aflição e não começasse a fazer perguntas embaraçosas.
Entretanto, Case já se apresentava ao patriarca da família.
Case Branning — disse, estendendo a mão.
Você não é daqui, não é mesmo? — o avô franziu a testa quando não o reconheceu.
Não, senhor, mas vim para ficar. Sua cidade é perfeita para se criar raízes.
O velho assentiu.
—	Maddie precisava mesmo se casar. Já está com quase trinta anos de idade.
Maddie gemeu baixinho. Todos a observavam, como se aguardassem uma explicação. Mas não podia culpá-los.
Não vou me casar com Case, vovô, ele não é meu noivo.
Não? Então, o que ele é seu?
O silêncio na sala aflorou, enquanto todos aguardavam ansiosos por sua resposta, Case inclusive.
—	Ele é... é... — Um amigo? Um conhecido? Um total estranho? Nenhuma das descrições parecia ajustar-se a ele.
Case sorriu.
—	Se não sabe responder, que tal dizer a ele, o que respondeu quando a pedi em casamento em Cancún?
Maddie sentiu-se numa armadilha. Abriu a boca, mas em seguida fechou-a.
Tia Nettie bateu no chão com a bengala.
Fale logo, Maddie. O que foi que você respondeu? Que se casava com ele?
Sim, respondi que sim! -— exclamou, exasperada. —Só que ele...
O sorriso satisfeito de Case alargou.
—	Ela quer dizer que a esta hora já seria minha esposa, se eu não tivesse sido chamado para uma missão urgente —	ele afirmou. — Nós nos casaríamos lá mesmo em Cancún.
—	Quer dizer que você pretendia se casar e não contou a ninguém? — interpôs Mike, visivelmente decepcionado.
O humor desaparecera de sua expressão, e fora substituído pela mágoa.
Maddie e seu pai haviam se tornado bastante chegados desde que sua mãe falecera há cinco anos; ela sabia que ele devia estar se perguntando por que ela escondera algo tão importante. Mas a verdade é que não se sentia capaz de falar sobre sua humilhação com ninguém.
—	Desculpe, papai, mas tive motivos para agir desse modo.
Mike assentiu e lhe sorriu. Maddie concluiu que naquele instante lhe ocorreu que Case não brincava ao se apresentar como sendo seu noivo, e que ela teria de fato se casado com ele se algo importante não a tivesse impedido.
Mas não podia culpá-lo por ter ficado tão surpreso; ela mesmo achava difícil acreditar que estivera prestes a se casar com um homem que era quase que um estranho. Gra​ças a Deus, o destino, na forma de uma ruiva escultural tinha impedido que acontecesse.
Creio que quando uma mulher dá a sua palavra a um homem ela deve cumpri-la.
Para ser sincera... — Nettie não pôdedeixar passar. —	Creio que Maddie foi precipitada ao aceitar a proposta de casamento de um homem que mal conhecia.
Maddie agradeceu a Deus por finalmente ter encontrado um aliado mas, logo em seguida, Nettie estragou tudo ao dirigir-se a Case.
—	Se deseja realmente se casar com minha sobrinha, precisa dar-lhe tempo, cortejá-la da maneira tradicional.
— Esperarei o tempo que for preciso — cedeu Case.
Se eu fosse você... — sugeriu tio Dan, como se Maddie não estivesse presente. — ... eu a convidaria para jantar fora, para ir ao cinema e lhe enviaria flores. As mulheres não resistem a isso. Foi desse modo que conquistei Anita há quase quarenta anos, mas acredito que esse método ainda funcione.
Tio Dan... — Maddie tentou protestar.
Hoje em dia as mulheres é que cortejam os homens e são elas também que pagam os jantares — interveio Jeff, chamando a atenção da avó.
Anita protestou.
—Uma mulher de classe não convida um homem para jantar, e um homem decente não permite que ela pague a conta.
Não diga bobagens, mamãe, vá por mim. O mundo não é mais o mesmo — protestou Lisa. — Só porque emprestei alguns dólares a Charles você e papai se convenceram de que ele é um gigolô. E não é. Ele é o único de quem realmente gostei desde que Bill e eu nos divorciamos.
Um homem jamais deve pedir dinheiro emprestado a uma mulher — insistiu Anita.
De repente, Maddie foi esquecida quando Anita envol​veu-se numa discussão acalorada com a filha.
Nettie resolveu interceder antes que mãe e filha brigas​sem de verdade. Maddie respirou aliviada e tirou vantagem da situação pegando Case pelo braço.
—	Venha comigo. Precisamos conversar e agora!
Meio intrigado, Case permitiu que ela o arrastasse para fora da sala.
Eles são bastante francos — disse Case, assim que chegaram ao portão da fazenda. — Não hesitam em dizer exatamente o que pensam.
Não hesitam em meter o nariz onde não são chamados — Maddie protestou, ainda perturbada com as sugestões que Case recebera de como deveria cortejá-la.
Creio que esse modo de proceder seja natural nas grandes famílias. Não se preocupe com isso, eu me acostumarei.
Nós precisamos conversar seriamente, Case.
—	Estou ouvindo. — Case cruzou os braços diante do peito e recostou-se no portão, um dos pés apoiado nele. Respirou fundo, o olhar percorrendo as cercanias banhadas pelo luar. — Esse lugar é incrível, Maddie. Não admira você não ter pressa em deixá-lo.
Maddie ficou grata pela escuridão esconder-lhe o rubor. Se tornara sensível demais ultimamente quanto a continuar morando com a família; se tornara sensível quanto à várias coisas nos últimos seis meses.
—	Passei algum tempo morando sozinha após ter me formado — disse ela, casualmente. — Tive um apartamento na cidade, perto do restaurante. Mas precisei voltar para cá quando tia Nettie quebrou o quadril numa queda, há dois anos, justamente quando ficamos sem empregada. Mas já que agora tudo entrou nos eixos, quando eu voltar da Europa, pretendo morar sozinha.
Case começou a dizer algo, mas hesitou e, quando falou, foi sobre um outro assunto.
—	Por falar em empregado, conheci o seu esta tarde antes de ir vê-la junto ao riacho.
Frank?
Não acha estranho ter um empregado em vez de uma empregada?
Nem um pouco — Maddie sorriu. — Frank é uma pessoa maravilhosa. Organiza a casa tão bem que não sei mais o que faria sem ele.
Como foi que vocês o encontraram?
Casualmente. Papai já o conhecia de um outro restaurante onde Frank trabalhava. Certa vez, ele apareceu em casa dizendo que perdera o emprego, a esposa.
Ela morreu?
Não. Foi embora com um evangelista — Maddie riu.
Oh.
De qualquer modo, quase sem que déssemos conta, ele havia se mudado para cá e assumira os serviços da casa. Cozinha, limpa, faz compras, cuida de vovô, verifica se tia Nettie toma os remédios, e lentamente tornou-se a pessoa mais importante da casa.
Sua família parece ter tendência a adotar as pessoas que batem à sua porta — comentou Case, com cautela, olhando a distância.
Maddie julgou ter detectado um toque melancólico em seu tom, mas concluiu que devia estar imaginando coisas. Case Branning não tornaria a enganá-la com aquela velha história do órfão coitadinho. Não sabia do que ele andava atrás, mas desta vez não se deixaria iludir.
Por que você veio, Case?
Para reclamar minha mulher.
Que mulher? Que eu saiba você não tem uma, a não ser claro, que esteja se referindo à tal ruiva.
Ruiva?
Eu soube que você deixou Cancún acompanhado de uma belíssima ruiva. Sua chefe, suponho.
Então julgou que eu a tivesse trocado por outra mulher? Maddie, Maddie... — Case deu um passo em sua direção.
Maddie recuou, assustada. Se ele a beijasse...
Afaste-se de mim, Case. Não quero que você me toque. Não me interessa mais saber por que você foi embora. Ja​mais serei sua esposa.
Mas você me deu sua palavra!
E você me deu a sua! Eu estava lá, e você? Onde se encontrava?
 
Você se deu conta de que é a primeira vez que me pergunta isso?
Talvez eu não estivesse interessada. Falando com franqueza, creio que foi o destino que intercedeu por mim. Você me deu o fora, mas evitou que eu cometesse o maior erro da minha vida.
Não teria sido um erro, e garanto que não será agora.
Não se iluda, Case, está acabado. Desta vez não me deixarei levar por seu charme. Tenho novos planos e não pretendo desistir deles só porque você de repente resolveu mudar de vida e se casar.
Mais tarde falaremos sobre seus planos, entre outras coisas. Faço questão que saiba porque precisei par​tir inesperadamente.
Maddie cruzou os braços diante do peito. Como ele ex​plicaria a presença da tal ruiva em Cancún? Era melhor nem tentar vir com mentiras.
—	Estou ouvindo.
Eu disse a você que trabalhava para o governo.
Agente federal.
E verdade ou é mais uma de suas fantasias?	
Droga, Maddie! Fique quietinha e me ouça, está; entendendo?
Maddie assentiu.
Case prosseguiu, no limite da paciência.
—	Não é fantasia. Até pouco tempo trabalhei como agente federal, Divisão de Narcóticos. Era um trabalho árduo, perigoso, estressante, mas eu gostava. Mas quando a conheci stava exausto e ansioso por mudar de vida. Fui a Cancún para descansar e para resolver o que fazer com o restante da minha vida. Cheguei a falar com você sobre isso.
Maddie assentiu. Na época, chegara a acreditar nele, mas agora... já não sabia mais o que pensar.
— De qualquer modo... — prosseguiu ele. — Jade, a tal ruiva... Ela é uma outra agente com quem tenho trabalhado. Ela foi a Cancún para me dar a notícia que meu ex-parceiro, e grande amigo, havia sido capturado por perigosos traficantes de drogas, e que estava sendo mantido preso na selva da Colômbia como refém polí​tico. Alguém precisava tentar libertá-lo, e eu era o me​lhor que eles tinham.
Case falou com tanta naturalidade que Maddie não pôde evitar de aceitar aquilo como verdade. Não duvidava que ele fosse o melhor, seja lá no que fizesse. Sentira na pele como conseguia ser incrivelmente persistente quando dese​java obter algo. Convencê-la a se casar com ele em menos de uma semana era um bom exemplo.
—	E você conseguiu libertá-lo? — indagou, apesar de toda a sua resistência.
Consegui, mas não exatamente na mesma forma física. Ele continua se reabilitando numa clínica, mas sobreviverá.
Você também foi ferido — constatou ela, num tom de voz não tão firme como desejava.
Por pouco não fiquei inválido. — Seu tom de voz, curiosamente, não tinha a menor inflexão.
Maddie prendeu o fôlego, mas manteve silêncio.
—	Não pude entrar em contato com você, Maddie, primeiro por estar na selva da Colômbia onde não havia ne​nhum meio de comunicação, e segundo porque estive hos​pitalizado e em condições nada satisfatórias. Não quis pro​curá-la até saber com certeza que voltaria a caminhar. Ja​mais a procuraria estando numa cadeira de rodas — ele acrescentou, formal. — Entretanto, não deixei de pensar em você um só instante. Corri para cá assim que me recu​perei o suficiente. Liguei antes de vir, mas não a encontrei. Resolvi fazer uma surpresa.
—	E pode ter certeza que me surpreendeu— Maddie tentava aceitar o que acabara de ouvir.
Deveria acreditar no que ele dizia? Case explicara tudo da maneira mais natural possível, sem tentar dourar a pí​lula, mas havia um tom diferente em sua voz. Seria mágoa? Arrependimento? Amargor?
Seja lá o que fosse, Case sofrera e compadecia-se dele. Mas não podia ceder tão facilmente. Havia coisas que ele ainda não esclarecera.
—Por que insiste tanto em se casar comigo, Case?
Ele pareceu hesitar por um instante, procurar pela res​posta certa.
—	Como eu disse à você, vivi em instituições de caridade desde os sete anos de idade. Minha mãe morrera e não cheguei a conhecer meu pai. Quando alcancei a maioridade, comecei a trabalhar para o governo e não parei mais. Passei os últimos quinze anos pulando de cidade em cidade, jamais permanecendo tempo suficiente para criar raízes, nunca certo de que sobreviveria até a próxima designação. Não quero tornar a viver dessa maneira, nunca mais. Estou pronto para fixar-me, casar-me e ter filhos, com você.
Maddie não conseguia falar, um nó em sua garganta blo​queava qualquer palavra que desejasse dizer.
E Case prosseguiu, julgando que seu silêncio fosse um sinal para que prosseguisse.
—	Gostei muito daqui, e de sua família. MitchelFs Fork me parece o lugar ideal para se criar filhos. Podemos comprar uma casa só nossa e algumas terras. Tenho dinheiro suficiente para vivermos sem preocupações até que eu possa encontrar uma nova fonte de renda e...
Pare com isso, Case, nada mudou. Não pretendo ser sua esposa. Você está me enxergando como a pessoa adequada aos seus planos, aquela que cuidará de você, da sua casa e criará seus filhos. Esqueça isso. Dentro do poucos meses, quando eu completar trinta anos, pretendo estar longe deste lugar que você achou tão cheio de atrativos. — Ela fez uma pausa para tomar fôlego. — Você pode estar farto de tantas emoções, de tantas aventuras, mas eu nem as conheço. Pretendo tentar uma vida nova na Europa, conhecer a Irlanda, a Grécia e todos aqueles países exóticos que só conheço por intermédio dos filmes na televisão. E não penso em locais turísticos; pretendo embrenhar-me nos locais onde vivem os nativos, suas vilazinhas, campos. E então, talvez, resolva escalar montanhas, esquiar na neve, enfim, fazer algo realmente ex​citante. E quero estar sozinha!
Você não sabe o que diz. Esses países não oferecem a menor segurança a uma mulher sozinha. Não pode simplesmente chegar a essas cidades estrangeiras, sem conhecer o idioma, julgando que está entrando num paraíso. Confie em mim, sei o que estou dizendo. Você está fantasiando e detestará uma viagem nessas condições. Verá que não é o que deseja, não o que precisa.
"Eu" decido isso.
Será que não percebe a sorte que tem? Possui uma família que a ama, um lar, amigos... não sabe o quanto é valioso acordar todas as manhãs sabendo que as chances de presenciar o fim do dia são boas, que não precisa constantemente olhar em torno tentando descobrir quem empunha uma faca afiada contra as suas costas. Tem tudo o que precisa aqui. Por que ir procurar lá fora?
Isso é algo que eu mesma terei de descobrir.
Sei que deseja aventurar-se, garanto que comigo você viverá uma emoção diferente a cada dia.
Sua incrível arrogância a encheu de fúria e espanto ao mesmo tempo.
O que precisarei fazer para convencê-lo de que não existe mais nada entre nós?
Nada irá me convencer disso, Maddie, esperei muito tempo por você, e não vou desistir tão facilmente - Case aproximou-se, segurando-a pela cintura, os lábios muito proximos dos dela.
— Não, você não pode...
Maddie quis protestar quando ele inclinou a cabeça para beijá-la, mas não resistiu. A velha atração retornara.
CAPITULO V
Um turbilhão de sensações tomou Maddie de assalto quando Case a beijou, a língua ávida explorando cada recanto da boca sedutora. A verdade é que ainda se sentia atraída por ele, ainda o desejava, e precisava pôr um ponto final naquilo.
E, assim que Case interrompeu o beijo, em sua mente surgiu um plano desesperado. Ele estava empolgado com a cidade porque era uma novidade, mas em breve estaria tão farto dela que iria embora para nunca mais voltar.
Eu desisto — disse, desvencilhando-se de seus braços.
— Sei que jamais conseguirei convencê-lo.
Isso significa que posso considerá-la como sendo minha noiva?
Não. Significa que não posso evitar que você permaneça na cidade. Tem todo o direito de ficar, se desejar, mas aposto que em breve estará tão entediado que partirá em busca da empolgação da qual tanto se queixa.
Você não sabe o que diz. E se eu decidir ficar? Pretende sair correndo toda a vez que me vir?
Não, mas você ficando ou não, pretendo cuidar da minha vida. Assim que papai conseguir fazer o restaurante funcionar sem mim, pegarei o dinheiro que herdei de meus avós maternos e partirei para a Europa, e sozinha.
Se eu fosse você não apostaria nisso. Se algum dia você for para a Europa, pode contar que irá comigo.
Maddie tentou protestar, antes porém que fizesse isso, a porta da frente abriu-se.
Maddie? — Seu pai chamou-a. — Seu avô está ansioso para abrir os presentes. Só falta você.
Estou indo — disse Maddie e voltou-se quando Case começou a segui-la. — E quanto a você, fique na sua.
Quer que eu vá embora?
Você foi convidado não foi? Não seria amável da minha parte retirar o convite, mas exijo uma condição: pare de insistir com essa história de noivado.
Como você quiser — Case suspirou.
Maddie desejou esmurrá-lo naquele seu nariz arrogante, e em seguida fazer o mesmo com o pai que sorria como um gato que acabara de comer um canário, como diria tia Nettie.
E você, fique caladinho — avisou, ao passar pelo pai com o queixo erguido.
Mas eu não disse nada... — Mike queixou-se.
Case comportou-se maravilhosamente bem durante o jan​tar. Conversou com Mike e com tio Dan, ouviu atentamente as queixas do vovô, discutiu motocicletas com Jeff e flertou abertamente com Anita, com Lisa e com Kathy.
Todos estavam visivelmente impressionados com o fato de ele ser um agente federal. Mike, Dan e Nettie, idolatra​vam todos aqueles que defendiam as leis, e que lutavam contra o tráfico ilegal de drogas. As mulheres da família faziam uma ideia romântica dos agentes que arriscavam suas vidas pela segurança dos cidadãos.
Na hora em que Frank trouxe à mesa o bolo com as velinhas, Maddie tinha a impressão de que todos na sala achavam que ela era louca por continuar rejeitando Case, negando que era seu noivo.
Cantaram Parabéns para Você, inclusive Case, e em se​guida os presentes foram abertos numa espécie de cerimo​nial. Vovô Carmichael parecia deleitado, especialmente emo​cionado com o presente que Maddie lhe dera. Ela havia pintado um pequeno quadro usando como modelo uma an​tiga fotografia do avô num piquenique à beira do riacho com a esposa falecida.
—	Lembro-me perfeitamente desse dia —- disse o velho, se​ gurando o quadro com mãos trémulas. — Obrigado, minha neta.
Maddie beijou-o no rosto.
Excelente ideia a sua — disse Case à Maddie minutos depois. — Eu não conhecia essa sua veia artística.
Obrigada, mas é apenas um hobby.
A campainha tocou naquele instante. Frank ergueu a mão quando Maddie automaticamente levantou-se.
—	Pode deixar que irei atender — avisou.
Jeff, que já havia perdido o interesse pela festa, voltou-se para Case.
Então, você perseguia perigosos traficantes quando foi ferido? — perguntou.
Sim, durante uma missão na selva da Colômbia.
Maddie prendeu o fôlego. Até então não se permitira se​quer imaginar Case ferido, indo parar num hospital na Co​lômbia. Ouvi-lo confessar aquilo de maneira tão franca cau​sou-lhe arrepios. "Baleado. Oh, meu-Deus!"
Esperou não ter demonstrado aquela reação porque todos a observavam. Todos, exceto Jeff, que parecia fascinado por Case.
Alguma vez você precisou atirar em alguém? — insistiu o garoto.
Jeff! — sua mãe e sua avó exclamaram ao mesmo tempo.
Entretanto, o restante do grupo parecia ansioso pela res​posta. Claro, Case definitivamente era uma novidade ali, um animal raro e exótico caminhando pelo terreirodeles. Ninguém naquela sala jamais vira de perto um agente federal, alguém que conhecia o mundo como a palma da mão, que arriscava sua vida em missões perigosíssimas, que vivia aventuras que os habitantes de Mitchell's Fork só viam no cinema.
Maddie estava farta de viver aventuras através dos heróis do cinema e estava pronta para vivê-las pessoalmente. Ain​da não sabia o que exatamente desejava fazer, mas sentia que precisava fazer algo arrojado, audaz, algo que a antiga Maddie Carmichael jamais ousaria fazer.
—	Se você não se importa... — disse Case a Jeff. — prefiro não discutir isso. Vamos dizer apenas que fiz o que era preciso ser feito. Satisfeito?
Aquilo respondeu de modo satisfatório à pergunta de Jeff.
—	Muito interessante... — Alguém que acabara de chegar falara da porta. — Quem é esse amigo de vocês tão perigoso?
—	Jackson! — exclamou Maddie, de repente lembran​do-se por que ele estava ali. Tinham um compromisso.
"Oh, meu Deus!"
Jackson Babbit ergueu uma sobrancelha, intrigado com a maneira de Maddie recebê-lo. Com trinta e três anos de idade, duas vezes divorciado, Jackson era considerado o playboy nú​mero um da cidade, uma reputação adquirida legitimamente. Era um bem-sucedido vendedor de equipamentos agrícolas, que gostava de usar roupas extravagantes. Naquela noite usa​va camisa vermelha, calça preta justíssima, botas e chapéu de caubói, e jóias vistosas, como a pesada corrente de ouro que trazia ao pescoço e os dois anéis nos dedos.
Jackson era um pouco frívolo e materialista, mas era a pessoa mais divertida com quem Maddie já saíra. Ria com facilidade, era brincalhão e sabia como dar atenção a uma mulher. Ela apreciava sua companhia e nos últimos quatro meses saíram juntos algumas vezes, mas esses encontros não passavam de diversão, um modo de chocar a opinião pública, já que ninguém a considerava como sendo do tipo que interessaria alguém como Jackson.
Ela não era essa pessoa, antes de voltar de Cancún, to​talmente mudada.
Maddie já havia deixado claro a Jackson que pretendia sair da cidade em breve e que não tinha a intenção de ir para a cama com ele. E, apesar de ele haver retrucado que a faria mudar de ideia, nunca lhe causara nenhum constrangimento.
Jackson, eu queria me desculpar...
Não me diga que esqueceu que tínhamos um encontro — disse ele, os olhos escuros brilhando, divertidos.
Na verdade, ela esquecera-se que haviam combinado irem à última sessão de cinema, após vovô ter apagado as velinhas. Como aquilo pode ter se apagado totalmente de sua memória?
Case fitava Jackson de um modo que o teria desintegrado, mas o recém-chegado não parecia notar o antagonismo do amigo de Maddie. Lançou um daqueles sorrisos alta volta-gem e com isso mostrou profundas covinhas em ambos os lados do rosto. Ainda sorrindo, foi em direção a Case com a mão estendida.
—	Não creio que já nos conhecemos. Sou Jackson Babbit, você é?...
Case mal tocou sua mão.
Case Branning. Maddie e eu...
Somos amigos — Maddie interveio.
Amigos e noivos — Case corrigiu.
As covinhas no rosto de Jackson aprofundaram.
Parece que temos uma diferença de opinião aqui.
Uma diferença apenas temporária — assegurou Case.
Bastante temporária — asseverou Maddie, lançando a Case um olhar de desafio.
A tensão entre os dois era quase palpável, e Jackson apenas sorria.
E então, Maddie? Ainda temos um encontro?
Claro. Estarei pronta num minuto.
Escute, Maddie... — Case deu um passo em sua direção, porém em seguida hesitou. Devia ter percebido que não havia o que fazer, especialmente diante de toda a família Carmichael.
Você queria falar comigo? — indagou Maddie.
E seus olhares se prenderam por um instante, durante o qual ninguém na sala sequer respirou. Finalmente, Case recuou.
—	Falo com você amanhã.
—	Muito bem — disse ela, respirando aliviada.
Beijou rapidamente o aniversariante, desejou boa noite a todos, e passou o braço pelo de Jackson, para em seguida arrastá-lo para fora da sala.
Parou no corredor para respirar. Dali ouviu trechos da conversa centralizada nela, prosseguindo na sala.
Não sei o que está havendo com essa menina — quei​xava-se tia Nettie.
Ainda não descobri o que ela vê em Jackson — essa fora Anita.
Gostei do seu novo penteado — Kathy comentou de modo inconsequente. — Será que ela vai continuar saindo com Jackson?...
Por que você não quebrou o nariz dele, hein? —sugeriu Jeff.
Jeff! Honestamente, o que faço com você?... — Sua mãe repreendeu, exasperada.
Vamos, Maddie? — Jackson indagou, impaciente.
Sim, vamos... — Maddie não gostou do desespero que ouviu na própria voz. Precisava sair o quanto antes daquela casa.
Para seu alívio, Jackson não tocou no nome de Case no trajeto até o cinema. Ainda bem que o filme era uma comédia leve, estrelada por dois ótimos atores. Foi capaz de rir com suas palhaçadas, e esquecer os acontecimentos estressantes do dia. Duas horas esquecida da inquietação que sentia a respeito do confronto do dia seguinte.
No final da sessão, Jackson ofereceu-lhe um sorvete. Mad​die aceitou, esquecendo-se do regime alimentar que fazia desde que retornara de Cancún.
Foram à única sorveteria aberta àquela hora da noite e Jackson pediu banana split e café para ambos.
Aquele seu amigo... — para o tormento de Maddie, ele começou a dizer assim que a garçonete trouxe os sor​vetes. — Fale-me sobre ele. Por que afirma que é seu noivo?
Provavelmente porque certa vez eu disse que me ca​saria com ele.
Isso deve tê-lo feito chegar à conclusão que tem direitos sobre você.
—	Só que mudei de ideia, e ele, aparentemente, não mudou a dele, mesmo tendo me deixado plantada diante do juiz de paz em Cancún. Veio aqui se desculpar. Alega que precisou partir inesperadamente por razões alheias à sua vontade. Mas perdi o interesse; não desejo ser a mulherzinha adequada a um ex-espião aposentado: Case idealiza casar-se e ter filhos numa cidadezinha do interior porque nunca teve família, e não o culpo por desejar isso. Mas se está acredi​tando que desistirei dos meus planos por causa dele...
Maddie de repente parou de falar. Notara que Jackson tomava seu sorvete em silêncio.
Esta história não deve fazer o menor sentido para você.
Ao contrário. Acho-a extremamente esclarecedora. Então, não pretende se casar com ele?
De jeito algum — Maddie respondeu, rápido demais.
Quer um conselho? Prepare-se, porque ele me pareceu ser do tipo persistente.
Persistente eu também sou. Case em pouco tempo estará tão farto de Mitchell's Fork que não verá a hora de sair daqui. Sabe como a cidade é enfadonha. Você mesmo confessou que já teria dado no pé se seus negócios não o prendessem aqui.
Jack encolheu os ombros.
—	Mitchell's Fork me satisfaz. Já passou aquela sede de mudança. Quando quero mudar de ares, viajo, mas volto sempre.
Maddie franziu a testa. Jack a encorajara a quebrar os laços com os quais ela crescera e fora criada; tinha sido o único a apoiá-la quando falara em querer conhecer novos horizontes. Teria sido apenas conversa fiada? Estaria do mesmo modo enraizado ali como os demais?
Jackson riu baixinho, como se pressentisse suas dúvidas. 
—	Não me olhe com essa cara, Maddie. Assim que eu tiver dinheiro suficiente para manter o estilo de vida ao qual estou acostumado, irei embora, mas isso não é para já. Estou pen​sando em ir para o Caribe, onde o sol brilha sempre...
E onde as mulheres adotaram o topless. Seu descarado!
Maddie ouvira Jackson falar sobre aquilo várias vezes.
E onde mais eu seria feliz?
Maddie reprovou-se por estar aborrecendo Jackson com aquele assunto. Não tinha esse direito. Não sabia o que dera nela.
Jackson... o que eu disse sobre Case ter me deixado plantada diante do juiz de paz, eu gostaria que você...
Esquecesse? Pode deixar.
Obrigada — ela sorriu, grata.
Claro que você terá de prometer que guardará em segredo a minha discrição. Preciso manter minha fama de mau.
Uma fama que você tão cuidadosamente cultiva. Não consigo entender por que é tão determinado em convencer as pessoas que é frívolo e egoísta, quando na verdade existe um coração de ouroescondido atrás dessa sua vaidade exterior.
Fale baixo! Alguém pode ouvi-la! — pediu ele, olhando em torno da sorveteria, como para certificar-se de que ninguém a ouvira. — Sou de fato basicamente frívolo e egoísta, mas em raras ocasiões consigo tendências mais naturais. Mas se isso se repetir com frequência, podem começar a esperar que eu seja assim sempre. Maddie riu.
Sinceramente, Jackson, você é incorrigível.
E não é o que sempre digo?
Tome seu sorvete. Está derretendo — sugeriu ela.
Jackson a deixou em casa logo após a meia-noite. Acom​panhou-a até a porta de entrada, beijou-a levemente no rosto e em seguida se foi.
Maddie fechou a porta atrás de si. Que dia terrível! Como poderia ter imaginado que Case Branning iria surgir nova​mente em sua vida? E, aparentemente, com a intenção de recomeçar de onde parara há seis meses.
Pelo menos agora ela tinha uma explicação para seu com​portamento intrigante. Mas deveria acreditar nele? Parecia uma história romântica demais, ele ter sido chamado para salvar um amigo das garras de vilões terríveis... Uma missão desesperada que terminara com o herói sendo seriamente ferido, com o risco de se tornar inválido para sempre. Esse mesmo herói, ao lutar bravamente para recuperar-se num hospital de um país estrangeiro, fizera um juramento de não retornar inválido para junto da mulher amada.
Sua história era incrível demais para ser verdadeira.
Obviamente, Case havia se ferido seriamente. Perdera peso, ganhara algumas linhas sofridas no rosto, e manquejava li​geiramente, e ninguém jamais poderia fingir aquilo, nem se desejasse. Mas teria acontecido exatamente como ele contara? Como saber se ele era a pessoa que alegava ser?
Maddie surpreendera a si mesmo ao se apaixonar por um total estranho naquela magnífica praia em Cancún; pro​metera casar-se com ele, mesmo sem jamais tê-lo ouvido dizer que a amava. Mas nos últimos seis meses se conven​cera que não fora amor, simplesmente paixão.
Agora ele estava de volta, entretanto, ela havia mudado; não tinha mais certeza se havia perdido a coragem, ou se a encontrara mas, desta vez, não seria fácil enganá-la. Não havia base para aceitar a pretensão dele de desejar um futuro tranquilo ao seu lado.
Só que, infelizmente, seja lá o que tivesse sido, ela ainda se sentia fortemente atraída por ele. Talvez isso se devesse ao fato de ser do tipo que não mudava de amor como mudara a cor dos cabelos, emagrecera e trocara os óculos por lentes de contato.
Mas isso não significava que não conseguiria esquecê-lo; para isso bastaria apenas de um pouco mais de força de vontade.
Talvez Case julgasse que sua metade no restaurante va​lesse mais do que valia na verdade ou, talvez, quem sabe, ele tivesse algum trunfo escondido na manga do elegante paletó. Se fosse isso, ele podia esquecer.
CAPITULO VI
Case passou a segunda-feira procurando uma 'casa para comprar. Tinha dois motivos para fazer isso. Primeiro, pretendia ficar o menor tempo possível hospedado naquele horrível hotel, que era o melhor da re​gião. E segundo, porque preencheria seu tempo até chegar a hora certa de reaproximar-se de Maddie.
Não teria tanta paciência se não a tivesse observado junto de Jackson Babbit na noite anterior. Se suspeitasse que havia algo sério entre os dois, ficaria tentado a fazer algo desesperado, como colocá-la sobre os ombros e levá-la à força até o juiz de paz mais próximo.
Entretanto, fora observá-los furtivamente na sorveteria e, durante a despedida no final da noite, vira o suficiente para convencer-se de que os dois não estavam seriamente envolvidos.
Eles jamais poderiam suspeitar que tinham sido observados porque Maddie, na certa, ficaria furiosa, embora, Case concluiu com um sorriso, pelo que entendera, ela se entregara a ele naquela praia em Cancún, verbalmente, não fisicamente, e Case Branning protegia aquilo que lhe pertencia.
Sherry Hendrick, a corretora de imóveis, percebeu o sor​riso frio de Case com visível ansiedade. Ela era do tipo agitado, uma matrona de meia-idade que vendia imóveis como uma fonte de renda extra. Case imaginou que prova​velmente ela nunca havia feito negócio com alguém parecido com ele. Fez força para sorrir de modo natural.
— A casa é bem maior do que eu tinha em mente —disse, fazendo um gesto em direção ao terreno e arredores da terceira casa que ela lhe mostrava.
As outras duas eram pequenas demais, entretanto, a de agora, possuía um claro potencial, Case decidiu ao dirigi​rem-se à entrada.
Fora construída no estilo vitoriano campestre e plantada no centro de um enorme terreno gramado, entre árvores frondosas e jardins floridos, embora as ervas daninhas to​massem conta do lugar. O portão, ele achou de mau gosto, mas não seria nenhum problema. Um bom carpinteiro daria um jeito nele. Gostou dos pequenos detalhes de vidro colo​rido na porta de entrada.
A casa era interessante e tinha muito a ver com o lar que havia imaginado.
Quantos dormitórios possui? — quis saber.
Cinco ao todo. A suíte principal situa-se no térreo e as demais no andar superior. A casa tem dez anos de cons​trução e seu terreno total mede sete acres. Na área atrás da propriedade existe um pequeno açude, e um terreno ex​celente para uma piscina, caso decida construir uma.
Case assentiu. Cinco dormitórios. Tentou adivinhar quan​tos deles Maddie gostaria de encher de crianças.
—	Muito bom — disse, ao seguir a corretora até o hall de entrada.
Percebeu a escada curva e uma porta à sua esquerda abria-se para uma sala que ele imaginou que fosse uma biblioteca, pelas estantes vazias, e pela maciça escrivaninha posicionada junto à janela. A direita, havia uma enorme sala octogonal; a sala de jantar, Case concluiu, e mental​mente encheu-a com uma mesa, oito cadeiras em torno dela, e no teto, um lustre magnífico. Viu a si mesmo à cabeceira e Maddie à sua direita.
Por causa de seu estilo de vida, ele nunca recebera convi​dados para jantar. Tentou adivinhar se não seria tarde para aprender a recebê-los. Talvez Maddie pudesse ensiná-lo.
—	A casa é imensa — dizia a corretora, interrompendo seu devaneio. — A família que a construiu veio de algum lugar do norte do país. Residiram aqui até a sra. Fielding resolver voltar para junto dos filhos e netos.
Case tocou o corrimão de nogueira polido.
Entendo... vamos ver o restante da casa?
Ele fez o quê? -— Com o telefone na mão, Maddie afundou na poltrona do escritório que havia nos fundos do restaurante.
Fez uma oferta pela casa dos Fielding — sua amiga Jill repetiu.
Mas por que motivo Case escolheria uma casa tão grande?
—	A casa é enorme para um homem sozinho. Possui cinco suítes, três lareiras, biblioteca, uma sala de estar no piso superior, além de copa, cozinha e despensa. E o terreno em volta então? Sei que vale uma fortuna, mas Sherry, a corretora, disse que ele mal a viu e disse que a compraria.
Maddie gemeu. Como poderia imaginar que Case com​praria uma casa um dia após ter chegado à cidade? Não que a escolha a surpreendesse. A casa dos Fielding era impressionante, porém um pouco exagerada, igual a tudo em Case.
Conheço a casa por dentro. Sherry permitiu que eu a visse. É belíssima, mas as cores, com que foi pintada são terríveis. Berrantes demais em contraste com toda aquela madeira escura. Sendo homem, Case não deve ter notado isso. — Havia riso na voz de Jill. — Você sabe quanto eu gosto de decoração e, modéstia à parte, tenho bom gosto.
Não quer que eu a ajude com a nova decoração quando se mudar para lá?
Meta isso na cabeça, Jill. Não vou me mudar para aquela casa!
E melhor dizer isso ao seu noivo — Jill brincou. — Sherry confessou que ele deve ter mencionado você umas cinquenta vezes nas duas horas que passaram juntos.
E ela deve ter dito isso a todo mundo.
Provavelmente. Estou louca para conhecer esse homem misterioso.
—	É mesmo? Eu o apresentarei a você na primeira opor​tunidade. Quem sabe ele decida trocar-me por você.
Jill soltou uma risada.
—De acordo com tudo o que tenho ouvido, estou começando a desejar que ele faça isso. Lisa e Anita estão fasci​nadas

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