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PROCESSO CIVIL IV – WEB IX 1ª) Maurício promove execução por título extrajudicial em face da Fazenda Pública, para cumprimento de obrigação de fazer, observando o disposto entre o art. 815 e art. 821 do CPC. Esta, ao ser citada, aduz em sua defesa que há error in procedendo, eis que tem a prerrogativa de ser executada por modelo próprio estatuído no art. 910 do NCPC. A quem assiste razão? RESPOSTA: O procedimento previsto no artigo 910 do NCPC refere -se apenas para obrigações de pagar, eis que a Fazenda Pública possui bens impenhoráveis e deve realizar o cumprimento por uma sistemática própria (precatório ou RPV requisição de pequeno valor). Para obrigação de fazer, não fazer ou mesmo para entrega de coisa a Fazenda Pública deverá ser executada n os mesmos moldes das regras estatuídas para a execução entre particulares. Neste caso assiste razão a Maurício. DOUTRINA: Guilherme Pupe da Nóbrega A execução é atividade jurisdicional voltada para a satisfação de direito já reconhecido, seja por construção que culmina em decisão judicial, seja por atribuição legal de certeza, liquidez e exigibilidade a uma obrigação. O rito que deverá reger a execução variará conforme se trate de título executivo judicial ou extrajudicial. Há, contudo, outras peculiaridades que terão o condão de repercutir no procedimento que levará a cabo a execução. É esse o caso da execução de obrigação de pagar quantia certa direcionada contra a Fazenda Pública, modalidade especial de execução que se justifica, primordialmente, em razão do regime constitucional de precatórios (artigo 100 da Constituição)1, que impõe à Fazenda Pública forma diferenciada de pagamento judicial em razão (i) da indisponibilidade e da impenhorabilidade dos bens públicos; (ii) da isonomia e (iii) do necessário planejamento orçamentário. Mais bem explicando, uma vez instada a pagar judicialmente um débito já reconhecido por decisão judicial ou dotado de liquidez, certeza e exigibilidade por força de lei, descabe à Fazenda Pública escolher ou não pagar ou que débitos pagar, notadamente à falta de dotação orçamentária para tanto. Não há espaço, tampouco, para que o ente Fazendário, não podendo realizar o pagamento espontaneamente, sofra constrição de patrimônio que, ao fim e ao cabo, é afetado ao interesse público e protegido constitucionalmente. Daí o regime de precatórios, que, por força, mesmo, de hierarquia normativa, subordina o regramento processual da execução de obrigação de pagar quantia certa contra a Fazenda Pública, para destacá-la da vala comum. No Código de Processo Civil de 1973, a execução contra a Fazenda Pública era regulada pelos artigos 730 e 731, dispositivo imune à mudança implementada pela lei 11.232/2005, que introduziu o rito do cumprimento de sentença. Isso quer dizer que, sob a égide do Código anterior, a execução de obrigação de pagar quantia certa contra a Fazenda Pública seguia, sempre, o rito da execução fundada em título extrajudicial, a exigir aviamento de petição inicial e nova citação, na contramão do sincretismo propugnado pelas minirreformas processuais levadas a cabo ao longo dos anos. Com o CPC/2015, contudo, houve a cisão: a execução de obrigação de pagar quantia certa contra a Fazenda Pública fundada em título judicial passou a seguir o rito do cumprimento de sentença, regulado pelos artigos 534 a 535; a execução fundada em título extrajudicial, de sua vez, encontrou normatização no artigo 910. Por força do § 3º do artigo 910, grande parte da execução fundada em título extrajudicial é regulada pelos dispositivos regentes do cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública, motivo por que nosso exame se concentra, à partida, no artigo 534. Pois bem, o caput e os incisos do artigo 534 replicam o artigo 524 do CPC/2015, elucidando o que deverá constar do demonstrativo de cálculo do crédito exequendo. São duas, apenas, as diferenças: no cumprimento e na execução contra a Fazenda Pública somente é exigida a qualificação do exequente, dispensada a do executado; e é afastada, por certo, a possibilidade de indicação de bens penhoráveis, prevista no inciso VII do artigo 524. O § 1º do artigo 534 vai além para dispor que, em havendo mais de um credor-exequente, cada um deverá apresentar o seu próprio demonstrativo, sem prejuízo da possibilidade de limitação ao litisconsórcio multitudinário (§§ 1º e 2º do artigo 113) em prol da razoável duração do processo e da proteção ao contraditório e à ampla defesa, também titularizados pela Fazenda Pública. O § 2º do artigo 534 consagra o que, para muitos, à luz da jurisprudência2, seria uma obviedade: não cabe contra a Fazenda Pública a multa de dez por cento pelo não- pagamento espontâneo no prazo de quinze dias a contar da intimação, prevista no artigo 523, § 1º. A aparente lógica reside no fato de que não poderia incidir nenhuma apenação contra a Fazenda Pública pela não-prática de um ato que não pode por ela ser praticado, dado o fato de o já mencionado regime constitucional de precatório submeter o pagamento judicial pelo ente Fazendário. Há espaço, todavia, para que se defenda que mais bem resguardaria a isonomia, em lugar do afastamento indiscriminado da multa prevista no § 1º do artigo 523, a simples alteração do momento de sua incidência: em vez de prever o cabimento da multa a partir da intimação da Fazenda Pública, não haveria por que dispensá-la após o exaurimento do prazo constitucional previsto pelo artigo 100, § 5º, da Constituição, ou, em âmbito federal, quanto à requisição de pequeno valor, pelo artigo 17 da lei 10.259/2001 e agora, também, pelo artigo 535, § 3º, II, do CPC/2015. Não foi essa, contudo, a opção legislativa. Indo além, especificamente no que tange ao cumprimento de sentença, o artigo 535 reitera a regra da intimação pessoal do representante judicial da Fazenda Pública para, querendo, no prazo de trinta dias, ofertar impugnação, em que poderá alegar (i) falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia; (ii) ilegitimidade de parte; (iii) inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação; (iv) excesso de execução ou cumulação indevida de execuções; (v) incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução; (vi) qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes ao trânsito em julgado da sentença, vedada, por óbvio, a discussão a respeito de tudo que haja sido alcançado pela eficácia preclusiva da coisa julgada. No que tange à execução fundada em título extrajudicial, vereda outra, a Fazenda Pública será citada para, também no prazo de trinta dias, opor embargos à execução, nos quais poderá alegar "qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa no processo de conhecimento", a teor do que enunciam o caput do artigo 910 e seu § 2º. Questão importante, e que já foi objeto de nossos estudos neste espaço, mas que vale ser repisada, diz respeito ao excesso de execução como matéria alegada pela Fazenda Pública em impugnação ou em embargos. O excesso de execução consta do inciso V do artigo 525 como matéria de impugnação e do inciso III do artigo 917 como matéria de embargos. Há o ônus para o impugnante/embargante, porém, de que seja indicado exatamente em que consiste o excesso (§ 4º do artigo 525 e § 3º do artigo 917). Sob a égide do CPC/1973, a lei 11.382/2006, que introduziu a exigência de declinação do quantum no § 5º do artigo 739-A, se absteve de estendê-la aos embargos à execução contra a Fazenda Pública, regulados, no Código anterior, pelo artigo 741. Nasceu, a partir daí, o debatesobre a (in)aplicabilidade da exigência de indicação, na inicial, do quantum reputado correto quando o excesso de execução fosse fundamento de embargos opostos pela Fazenda Pública. O tema foi enfrentado pelo STJ, que, em apelo afetado como paradigma (REsp 1.387.248-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 7/5/2014), segundo o rito dos recursos especiais repetitivos, definiu, ao examinar a questão sob o prisma da impugnação ao cumprimento de sentença, que, fosse em razão da manutenção da redação do artigo 741 pela lei 11.382/2006, fosse em razão da indisponibilidade do interesse público, a exigência de indicação do valor reputado correto quando invocado o excesso de execução não alcançava a Fazenda Pública. Guilherme Pupe da Nóbrega. Advogado. Especialista em Direito Constitucional e Mestre em Direito pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP). Professor de Direito Processual Civil na graduação do IDP. Coordenador-adjunto e professor da pós-graduação em Direito Processual Civil do IDP em Brasília e Goiânia. Foi professor-substituto de Direito Processual Civil e Prática Jurídica na UnB (2013). Diretor-adjunto da Escola Superior da Advocacia da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Distrito Federal (ESA-OAB/DF). Autor de livro e de artigos jurídicos. Palestrante. Fonte: https://www.migalhas.com.br/ProcessoeProcedimento/106,MI241130,11049- Notas+sobre+a+execucao+contra+a+Fazenda+Publica JURISPRUDÊNCIA: TJ-PE - Apelação APL 4580447 PE (TJ-PE) Jurisprudência• Data de publicação: 27/03/2017 Ementa: CIVIL E PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL CONTRA A FAZENDAPÚBLICA MUNICIPAL DE IGARASSU. POSSIBILIDADE. APRESENTAÇÃO DAS NOTAS DE EMPENHO E NOTAS FISCAIS. ARGUMENTO DE DEFESA INSUFICIENTE PARA CONTRADITAR AS PROVAS CONSTITUTIVAS DO DIREITO DA PARTE EXEQUENTE. TÍTULOS PROTESTADOS. CONTRATO DE LICITAÇÃO PARA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. AUSENCIA DE PROVAS DE DESCUMPRIMENTO POR PARTE DO CONTRATADO. DEVER DE PAGAR DA FAZENDA PÚBLICA. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. DECISÃO UNÂNIME. 1. Trata-se de execução por título extrajudicial movida por Pragas Control Saúde Ambiental Ltda ME em face do Município de Igarassu por serviços realizados pela empresa exequente. 2. Afere-se dos autos que o Município apelante em nenhum momento negou satisfatoriamente a prestação do serviço, lançado nas notas fiscais. Ou, ainda, que este não tenha sido realizado nos moldes previstos em contrato licitatório firmado com a prefeitura de Igarassu. Limitando-se apenas a alegar a inexistência de prova que demonstrasse a sua responsabilidade pelo débito. 3. Resta superado o posicionamento de que há impedimento de execução contra a Fazenda Pública baseada em título extrajudicial, na forma da Súmula 279, STJ:"É cabível execução por título extrajudicial contra a Fazenda Pública."4. Ademais, o art. 100 da Constituição Federal apenas exige, em regra, que os pagamentos devidos pela Fazenda Pública feitos ou não por meio de precatórios, decorram de sentença judicial.5. No presente caso, a execução foi devidamente instruída com cópias das notas fiscais de conclusão do serviço e protesto das referidas notas fiscais, não tendo havido a recusa legalmente permitida.6. Não pode o Poder Público eximir-se do pagamento dos serviços prestados, sob pena de enriquecimento sem causa da Administração.7. Demonstrada a execução do serviço e o inadimplemento contratual, fica a Administração Pública obrigada a pagar a quantia ajustada. 8. Além disso, a Fazenda Municipal resume sua fundamentação para oposição dos presentes... Encontrado em: CONTRA A FAZENDA PÚBLICA MUNICIPAL DE IGARASSU. POSSIBILIDADE. APRESENTAÇÃO DAS NOTAS DE EMPENHO E NOTAS... o posicionamento de que há impedimento de execução contra a Fazenda Pública baseada em título extrajudicial..., na forma da Súmula 279, STJ:"É cabível execução por título extrajudicial contra a Fazenda Pública." 4... TJ-PE - Apelação APL 4580447 PE (TJ-PE)
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