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LEVANTAMENTO DOS RESÍDUOS GERADOS PELA CONSTRUÇÃO CIVIL NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Gabriela Mendes de Carvalho Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheira. Orientador: Jorge dos Santos Rio de Janeiro, Agosto de 2017 LEVANTAMENTO DOS RESÍDUOS GERADOS PELA CONSTRUÇÃO CIVIL NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Gabriela Mendes de Carvalho PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRA CIVIL. Examinado por: ______________________________________________ Prof: Jorge dos Santos, D. Sc. ______________________________________________ Prof: Luís Antônio Greno Barbosa, D.Sc. ______________________________________________ Prof: Wilson Wanderley da Silva ______________________________________________ Prof: Willy Weisshuhn. M. Sc. Rio de Janeiro Agosto de 2017 iii Carvalho, Gabriela Mendes Levantamento de Resíduos Gerados pela Construção Civil na Cidade do Rio de Janeiro/ Gabriela Mendes de Carvalho – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2017. XV, 99 p.: il.; 29,7cm Orientador: Jorge dos Santos Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de Engenharia Civil, ênfase em Construção Civil, 2017. Referências Bibliográficas: p. 93-99. 1. Resíduos da Construção Civil. 2. Rio de Janeiro. I. Santos, Jorge. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Civil ênfase em Construção Civil. III. Título. iv À minha família. v AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais e irmã por todo o amor, carinho e suporte para que eu alcançasse todos os meus sonhos. Ao meu orientador, Jorge Santos, por toda e dedicação, não somente comigo, mas, também, com todos os diversos alunos que recorrem a ele por ser um professor atencioso. Por toda a paciência com os apertados prazos para elaboração do projeto e por compreender que seus alunos não tem apenas esta atividade. Por nunca se negar a orientar algum aluno, mesmo com a agenda bem carregada. Existem sempre dois caminhos a se trilhar, um deles é sempre mais fácil. À Bruna Maffei por ter me acompanhado desde o primeiro dia de aula (quando eu a escolhi como amiga), em momentos bons e ruins. Por ser uma entusiasta das conquistas de todas as pessoas que tem o privilégio de fazer parte da sua vida. E por ser a pessoa mais solícita que já conheci. À Aline Esperança por ser a ouvinte mais paciente de todas as lamúrias e reclamações que já proferi. Por ser – quase que maternalmente – compreensiva com meus momentos de insatisfação. E por ter sido uma exímia professora, não somente para mim, como para outros alunos que tiveram a oportunidade de aprender com ela. À Luisa Mendes por toda disposição e companheirismo. Por estar sempre disposta a me acompanhar, independente de onde fosse. Por ter me feito feliz em diversos momentos, simplesmente por se fazer presente. Por ter me feito reaprender a amar. E por ter trazido à minha vida, seu companheiro de alma – Leandro. vi Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos requisitos necessários para obtenção do grau de Engenheira Civil. Levantamento de Resíduos da Construção Civil na Cidade do Rio de Janeiro Gabriela Mendes de Carvalho Agosto/2017 Orientador: Jorge dos Santos Curso: Engenharia Civil A cadeia produtiva da construção civil é responsável pela geração de importantes impactos ambientais em todas as etapas do seu processo: extração de matérias primas, produção de materiais, construção, uso e demolição. A utilização indiscriminada de matérias-primas não-renováveis causa problemas como, principalmente: escassez de áreas de deposição de resíduos, esgotamento de recursos naturais, problemas de saneamento urbano e contaminação ambiental. É fundamental que os geradores deste tipo de resíduos tenham consciência dos impactos que a atividade do setor causa ao meio ambiente e que seja respeitada toda legislação e normativos com o objetivo de minimizar estes efeitos. O presente trabalho apresenta uma pesquisa bibliográfica e estudo de caso sobre a gestão de resíduos da construção civil, com o objetivo de identificar as características (quantitativas e qualitativas) de geração de resíduos em obras tipicamente residenciais no Rio de Janeiro, assim como a cultura do setor em relação ao gerenciamento deste material para avaliar criticamente se todos os esforços estão sendo empregados para que as obras realizadas ocorram de maneira sustentável. Palavras-chave: Gerenciamento de resíduos, Resíduos da Construção Civil, Sustentabilidade. vii Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Civil Engineer. Study of Construction Waste in the City of Rio de Janeiro Gabriela Mendes de Carvalho Agosto/2017 The productive chain in the construction industry is responsible many relevant environmental impacts in all stages of its process: extraction of raw materials, production of materials, construction, use and demolition. The indiscriminate use of non-renewable raw materials can cause problems such as: lack of waste disposal areas, ending natural resources, urban sanitation problems and environmental contamination. It is essential that those responsible for this type of waste are made aware of the impacts those activities can cause to the environment and that all legislation and regulations must be respected to minimize these effects. This work presents a bibliographical research and a case study on construction waste management. The objective of identifying characteristics (quantitative and qualitative) of waste generation in residential constructions in Rio de Janeiro, as well as the main perception of society when managing this kind of waste to critically evaluate whether all efforts are being employed to ensure that the construction sites are sustainable. Palavras-chave: Managing of Construction Waste, Construction Waste, Sustainability. viii ÍNDICE 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 1 1.1 Considerações Iniciais ....................................................................................... 1 1.2 Justificativa ........................................................................................................ 1 1.3 Objetivo ............................................................................................................. 2 1.4 Metodologia ....................................................................................................... 2 1.5 Estrutura do Trabalho ........................................................................................ 2 2 A CONSTRUÇÃO CIVIL E O CRESCIMENTO URBANO DO RIO DE JANEIRO ........................................................................................................4 2.1 Evolução Urbana do Rio de janeiro................................................................... 4 2.2 Planejamento Urbano ........................................................................................ 6 3 LEGISLAÇÃO APLICADA A RESÍDUOS ................................................... 10 3.1 Âmbito Federal ................................................................................................ 10 3.2 Âmbito Estadual .............................................................................................. 12 3.3 Âmbito Municipal ........................................................................................... 13 3.4 Normas Técnicas ............................................................................................. 16 4 RESÍDUOS SÓLIDOS E DA CONSTRUÇÃO CIVIL .................................... 19 4.1 Conceito e Classificação dos Resíduos ........................................................... 19 4.2 Aspectos Históricos da Geração de Resíduos ................................................. 20 4.3 Estimativa de Resíduos Gerados no Brasil ...................................................... 23 4.3.1 Resíduos Sólidos Urbanos ....................................................................... 23 4.3.2 Resíduos de Construção Civil .................................................................. 24 4.4 Estimativa da Geração de RCC no Rio de janeiro .......................................... 26 4.5 Cultura do Setor da Construção Civil .............................................................. 29 4.6 Tratamento de RCC ......................................................................................... 30 4.7 Gestão Pública ................................................................................................. 33 4.8 Indicadores de Sustentabilidade ...................................................................... 37 ix 5 DIRETRIZES PARA O GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS ....................... 39 5.1 Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil ............................ 41 5.2 Destinação Final .............................................................................................. 46 5.3 Destinação de Resíduos na Cidade do Rio de Janeiro ..................................... 47 5.3.1 Centro de Tratamento de Resíduos CTR–Rio Seropédica ....................... 47 5.3.2 Estações de Transferência de Resíduos – ETRs ...................................... 48 5.3.3 Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho – Encerrado ......................... 51 5.3.4 Unidades Particulares ............................................................................... 52 6 RESÍDUOS GERADOS PELA CONSTRUÇÃO CIVIL ................................... 53 6.1 Tipologia e Composição do RCC .................................................................... 53 6.1.1 Rio de Janeiro ........................................................................................... 54 6.2 Quantitativo de RCC ....................................................................................... 55 6.3 Perdas e desperdícios ....................................................................................... 56 7 RECICLAGEM E REAPROVEITAMENTO DE RESÍDUOS .......................... 59 7.1 Reciclagem de RCC no Brasil ......................................................................... 60 7.2 Reciclagem Primária e Secundária .................................................................. 62 7.2.1 Solos excedentes (Classe A): ................................................................... 63 7.2.2 Madeira (Classe B):.................................................................................. 64 7.2.3 Papel, papelão e plástico (Classe B): ....................................................... 64 7.2.4 Metais (Classe B): .................................................................................... 64 7.2.5 Vidro (classe B): ...................................................................................... 65 7.2.6 Gesso (Classe B): ..................................................................................... 65 7.2.7 Alvenaria, concreto, argamassas e cerâmicos (Classe A): ....................... 66 7.3 Impactos da Reciclagem .................................................................................. 70 7.4 Tecnologia/Estudos ......................................................................................... 71 7.5 Alternativas para o Aumento e a Melhoria da Reciclagem ............................. 71 8 ESTUDO DE CASO .................................................................................. 73 8.1 Empresa ........................................................................................................... 73 8.2 Práticas de Gerenciamento de Resíduos .......................................................... 73 8.2.1 Aspectos Metodológicos .......................................................................... 74 x 8.2.2 Locais de Acondicionamento e Separação dos Resíduos ........................ 74 8.2.3 Educação Ambiental ................................................................................ 77 8.3 Primavera Residencial ..................................................................................... 78 8.3.1 Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil – PGRCC .... 81 8.3.2 Relatório de Implantação e Acompanhamento - Quantitativos de Geração de Resíduos ............................................................................................................. 84 8.4 Considerações Finais ....................................................................................... 88 9 CONCLUSÕES ........................................................................................ 89 ANEXO A .................................................................................................. 91 ANEXO B ................................................................................................... 92 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 93 xi LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Macrozonas da cidade do Rio de Janeiro. (Fonte: Plano Diretor, 2011) ........ 7 Figura 2 – Áreas de Planejamento da cidade do Rio de Janeiro. (Fonte: Plano Diretor, 2011) ................................................................................................................................ 9 Figura 3 – Evolução da legislação relativa ao gerenciamento de resíduos na cidade do Rio de Janeiro. (Fonte: Ferreira, Moreira, 2013. Adaptada pelo autor) ......................... 10 Figura 4 - Disposição Final dos RSU coletados no Brasil (t/ano). *Fonte: ABRELPE, 2015. ............................................................................................................................... 23 Figura 5 – Destinação Adequada de resíduos. (Fonte: Reportagem do Jornal O Globo, levantamento da ABRELPE, 27/03/2017) ..................................................................... 30 Figura 6 – Lixões em Operação no Estado do Rio de Janeiro. (Fonte: Reportagem do Jornal O Globo, levantamento da ABRELPE, 27/03/2017) .......................................... 40 Figura 7 – Modelo de Quadro Resumo do PGRCC. (Fonte: Resolução SMAC n° 604/2015) ....................................................................................................................... 43 Figura 8 – Previsão da Utilização de Agregados Reciclados. (Fonte: Resolução SMAC n° 604/2015) ................................................................................................................... 44 Figura 9 – Modelo de Relatório de Implantação e Acompanhamento.(Fonte: Resolução SMAC n° 604/2015) ...................................................................................................... 45 Figura 10 – Centro de Tratamento de Resíduos – CTR-Rio (Fonte: Site CICLUS, imagem set/2016) ........................................................................................................... 48 Figura 11 – Fluxo de Resíduos Coletados no Rio de Janeiro e destinados ao CTR-Rio (Fonte: Adaptado, COMLURB) .................................................................................... 49 Figura 12 – ETR – Caju (Fonte: PMGIRS Rio de Janeiro 2017-2020) ......................... 49 Figura 13 – ETR Jacarepaguá (Fonte: PMGIRS Rio de Janeiro 2017-2020) ................ 50 Figura 14 – ETR Jacarepaguá (Fonte: PMGIRS Rio de Janeiro 2017-2020) ................ 50 Figura 15 – ETR Santa Cruz (Fonte: PMGIRS Rio de Janeiro 2017-2020) .................. 51 Figura 16 – ETR Bangu (Fonte: PMGIRS Rio de Janeiro 2017-2020) ......................... 51 Figura 17 – Composição de RCC no Brasil. (Fonte: Blumenschein, 2007) .................. 54 Figura 18 – Composição Gravimétrica de RCC no Rio de Janeiro. (Fonte: Ferreira, Moreira, 2013)................................................................................................................ 55 Figura 19 – Desperdícios em Construções. (Fonte: Parisotto, 2013) ............................. 57 Figura 20 – Quantidade de RCD reaproveitado em países da Europa (Fonte; Morand, 2016) .............................................................................................................................. 61 Figura 21 – Resultados de ensaios a compressão de corpos de prova. (Fonte: Assis, 2015) .............................................................................................................................. 70 Figura 22 – Etapa de Estrutura – Detalhe para o posicionamento da caçamba para deposição de resíduos. .................................................................................................... 76 Figura 23 – Preparação do canteiro de obras. ................................................................ 76 Figura 24 - Preparação do canteiro de obras. ................................................................. 77 Figura 25 – Primavera Residencial concluído - Fachada ............................................... 78 Figura 26 – Galpão de estacionamento antes do início da obra – Fachada.................... 78 Figura 27 – Galpão de estacionamento antes da obra – Interior .................................... 79 xii Figura 28 – Etapa de demolição do segundo pavimento do galpão. .............................. 79 Figura 29 – Finalização da etapa de demolição. ............................................................ 79 Figura 30 – Fachada do prédio em junho/2016 (à esquerda) e novembro/2016 (à direita) ........................................................................................................................................ 80 Figura 31 – Etapa de Acabamento. ................................................................................ 80 xiii LISTA DE TABELAS Tabela 1 – IBGE – Resultados Censo 2010 ..................................................................... 4 Tabela 2 - Extrapolação de valores para estimativa de produção de RSU em 2017 (*Fonte: elaboração do autor. Dados: ABRELPE, 2015 e IBGE, 2017) ....................... 23 Tabela 3 – Geração e Coleta de RSU no Estado do Rio de Janeiro. (*Fonte: ABRELPE, 2015) .............................................................................................................................. 24 Tabela 4 – Estimativa de geração de RCC em alguns países. (*Fonte: IPEA, 2012) .... 25 Tabela 5 - Extrapolação de valores para estimativa de produção de RCD em 2017 (*Fonte: elaboração própria. Dados: ABRELPE e IBGE) ............................................. 26 Tabela 6 - Quantidade de RCD coletada. (Elaboração Própria. Dados SNIS, 2015 e IBGE, 2017) ................................................................................................................... 27 Tabela 7 – Quantidade de RCD coletada no Rio de Janeiro. (Elaboração Própria. Dados SNIS, 2015) .................................................................................................................... 27 Tabela 8 – Quantidade de RCD coletada 2014 – Rio de Janeiro. (Elaboração Própria. Dados: SNIS, 2015 e IBGE, 2017) ................................................................................ 28 Tabela 9 - Extrapolação de valores para estimativa de produção de RCD em 2017 (*Fonte: elaboração própria. Dados: SNIS, 2015 e IBGE, 2017) .................................. 28 Tabela 10 – Comparação entre a produção de RCD per capta no Brasil e no Rio de Janeiro. (Fonte ABRELPE, 2015 e IBGE, 2017)........................................................... 28 Tabela 11 – Licenciamento Ambiental no Rio de Janeiro. (Fonte: elaboração própria) 36 Tabela 12 – Relação de Empresas Licenciadas para destinação de Resíduos de Construção Civil na cidade do Rio de janeiro. (Fonte: SMAC, atualização em 09/03/2016) .................................................................................................................... 41 Tabela 13 – Estimativa de RCC gerados na cidade do Rio de Janeiro. (Fonte: COPPE, 2015) .............................................................................................................................. 56 Tabela 14 – Estimativa de porcentagem de RCD reciclado no país. (Adaptado. ABRECON, 2016) ......................................................................................................... 61 Tabela 15 – índices de geração de RCC praticados pela Orquin. .................................. 82 Tabela 16 – Cálculo do volume movimentado de solo. ................................................. 83 Tabela 17 – Previsão da quantidade de resíduos que serão gerados durante a execução da obra. ........................................................................................................................... 83 Tabela 18 – Previsão de resíduos total. .......................................................................... 84 Tabela 19 – Total de Resíduos gerados obtidos através da NTRs e Manifesto de Resíduos. ........................................................................................................................ 85 Tabela 20 – Resumo com o total dos resíduos gerados. ................................................ 85 Tabela 21 – Relação dos transportadores que retiraram material da obra. .................... 87 Tabela 22 – Relação dos destinatários de RCC gerados pela obra. ............................... 87 xiv LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Distribuição de municípios com processamento de RCC – Região Sudeste. (Fonte: IPEA, 2012) ....................................................................................................... 33 Gráfico 2 - Tipo de processamento entre municípios da região Sudeste. (Fonte: IPEA, 2012) .............................................................................................................................. 33 Gráfico 3 – Composição de RCD que chegam às usinas de reciclagem. (Adaptado. ABRECON, 2016) ......................................................................................................... 62 Gráfico 4 – Tipos de Resíduos Gerados durante a obra do Primavera Residencial. (Elaboração Própria) ...................................................................................................... 86 xv ABREVIAÇÕES RCC – Resíduo da Construção CivilRCD – Resíduo de Construção e Demolição ABRECON – Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição RSU – Resíduos Sólidos Urbanos ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos PMGRCC – Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil PGRCC – Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil SiAC – Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas e Serviços e Obras da Construção Civil PBQP-H – Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat NTR – Nota de Transporte de Resíduos INEA – Instituto Estadual do Ambiente RIA – Relatório de Implantação e Acompanhamento ETRs – Estações de Transferência de Resíduos 1 1 INTRODUÇÃO 1.1 Considerações Iniciais O desenvolvimento e o crescimento dos grandes centros urbanos trazem à sociedade o problema da crescente geração de Resíduos Sólidos. De acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos de 2015 realizado pela ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, o Brasil gerou em um ano uma quantidade de 79,9 milhões de toneladas de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) e o Estado do Rio de Janeiro é responsável pela geração de quase 8 milhões deste total. Segundo Pinto (1999), em cidades brasileiras de médio e grande porte, os resíduos originados de construções e demolições representam de 40 a 70% de todos os sólidos nas cidades brasileiras, cujo destino incorreto traz prejuízos econômicos, sociais e ambientais. Corroborando com este valor, segundo dados fornecidos pela Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (ABRECON), em 2013, os resíduos da construção e demolição no Brasil representam 2/3 dos resíduos sólidos urbanos, o dobro do volume de resíduos domiciliares (FERREIRA e MOREIRA, 2013). A disposição irregular deste material pode causar enchentes, perda de infraestrutura de drenagem por entupimento de galerias e assoreamento de canais, além de proliferação de vetores, poluição e aumento desnecessário de custos da administração pública. O processo de urbanização dos municípios brasileiros por consequência do aumento da população – que cresceu 0,77% em 2017, segundo dados do IBGE – tem contribuído para o aquecimento das atividades de construção civil e um aumento da geração de Resíduos da Construção Civil (RCC). 1.2 Justificativa O RCC ocupa um grande volume para disposição final, o que cria a necessidade de grandes espaços e infraestrutura para destinar os resíduos que não serão reutilizados. A cidade do Rio de Janeiro veio passando nos últimos anos por um processo de 2 transformação devido ao crescimento urbano e, também, por sediar grandes eventos esportivos internacionais (Copa do Mundo de Futebol 2014 e Olimpíada de 2016). Esse processo faz gerar um grande volume de RCC que requer a existência de locais adequados para sua disposição final, como aterros sanitários. Como a cidade do Rio de Janeiro não possui um amplo território livre para este fim, os resíduos gerados que não são reciclados acabam sendo levados para outros municípios gerando um custo para a cidade por utilizar o aterro e por transportar para uma maior distância. 1.3 Objetivo O presente trabalho tem como objetivo geral apresentar um panorama da gestão de RCC e seus impactos associados. Procura-se elaborar um diagnóstico qualitativo e quantitativo do gerenciamento do RCD – Resíduos de Construção e Demolição gerados pelo setor da Construção Civil tomando o Rio de Janeiro como cenário. Para avaliar na prática os aspectos bibliográficos levantados é realizado estudo de caso em obra de edificações executada na cidade do Rio de Janeiro. 1.4 Metodologia O presente trabalho foi desenvolvido a partir de duas etapas. A primeira consistiu em uma revisão bibliográfica em livros, artigos, teses, estudo e legislação aplicável ao tema. A segunda envolveu o estudo de caso sobre o Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil adotado por uma empresa construtora abordando uma obra residencial escolhida para avaliação. 1.5 Estrutura do Trabalho O trabalho está dividido em nove capítulos. No primeiro, a introdução traz um panorama sobre a importância do tema, objetivo e a metodologia utilizada. O segundo capítulo apresenta o contexto de como ocorreu a evolução urbana na cidade do Rio de Janeiro. O terceiro capítulo aponta toda a legislação aplicada ao gerenciamento de resíduos da construção civil que tem direta influência sobre os geradores da cidade do Rio de Janeiro. O quarto capítulo traz conceitos sobre os resíduos sólidos urbanos e 3 resíduos de construção civil, além de uma estimativa da quantidade gerada no Brasil e no Rio de janeiro. O quinto capítulo aborda as práticas de gerenciamento de resíduos que devem ser aplicadas em conformidade com as legislações aplicáveis e aos métodos de disposição ambientalmente adequados. O sexto capítulo trata dos principais tipos de resíduos que são gerados pelo setor. O capítulo 7 aborda a reciclagem de resíduos gerados pela construção civil. O oitavo capítulo apresenta o estudo de caso realizado em uma obra residencial para evidenciar como feito, na prática, o gerenciamento que foi abordado no capítulo cinco. Por fim, o capítulo nove apresenta a conclusão do trabalho e as considerações finais. 4 2 A CONSTRUÇÃO CIVIL E O CRESCIMENTO URBANO DO RIO DE JANEIRO A Construção Civil sempre se coloca como protagonista na implantação de infraestrutura de pavimentação, saneamento e habitação, marcando com vigor o processo de transformação continuado a que se sujeitam às cidades, na busca contínua pela viabilização dos assentamentos humanos que, na sociedade pós-industrial, caracterizam-se como urbanos e adensados. A urbanização das cidades brasileiras, em geral, tem ocorrido de maneira espontânea e não ordenada, principalmente, devido a planejamentos e fiscalização ineficientes por parte do poder público (Almeida, 2013). De acordo com o Censo Demográfico de 2010 realizado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 96,71% da população do Estado do Rio de Janeiro reside em espaços urbanos. Sendo que no município do Rio de Janeiro, em 2010, 100% da população já residia em espaço urbano. Tabela 1 – IBGE – Resultados Censo 2010 2.1 Evolução Urbana do Rio de janeiro A estrutura espacial de uma cidade capitalista não pode ser dissociada das práticas sociais e dos conflitos existentes entre as classes urbanas. Com efeito, a luta de classes também reflete-se na luta pelo domínio do espaço, marcando a forma de ocupação do solo urbano. Por outro lado, nas cidades capitalistas, a forma de organização do espaço tende a condicionar e assegurar a concentração de renda e de poder na mão de poucos, realimentando assim os conflitos de classe. (Abreu, 2013) A construção civil faz parte intimamente de toda transformação e evolução dos espaços urbanos. As mudanças na forma de ocupação podem ser motivadas por Local População Urbana População Urbana (%) População Rural Total da População Estado Rio de Janeiro 15.466.996 96,71% 526.587,00 15.993.583 Município Rio de janeiro 6.323.037 100,00% - 6.323.037 5 inúmeros fatores, porém as obras de modernização, ampliação, demolição e ocupação de novos espaços sempre dependerão da construção civil para implementação.A evolução do espaço urbano do Rio de Janeiro se deu, em grande parte do tempo, de maneira desordenada, seguindo fluxos de interesses econômicos e teve alguns marcos importantes de intervenção estatal para controle e organização. Segundo Abreu (2013), a primeira década do século XX representa, para a cidade, uma época de grandes transformações, motivadas, sobretudo, pela necessidade de adequar a forma urbana às necessidades reais de criação, concentração e acumulação de capital. O Prefeito Pereira Passos deu início à transformação do Rio de Janeiro visando uma reforma urbana que promovesse saneamento básico e ao embelezamento da cidade. Assim, foram demolidos diversos cortiços onde vivia uma população de baixa renda em condições insalubres para o alargamento e aberturas de ruas. O Período Passos (1902-1906) foi um período revolucionador da forma urbana carioca que passou a adquirir a partir de então uma fisionomia totalmente nova e condizente com as determinações econômicas e ideológicas do momento. O período representa para o Rio de Janeiro a superação efetiva da forma e das contradições da cidade colonial-escravista e o início da transformação em espaço adequado às exigências do modo de produção capitalista. A destruição de grande número de cortiços fez surgir um déficit habitacional que, por sua vez, resultou no surgimento de uma nova forma de organização urbana: favela. A população pobre que precisava residir próximo ao local de trabalho adotou uma nova forma de moradia. O período de 1930-1950 foi marcado pelo grande crescimento populacional ocasionado pelo fluxo migratório em direção ao Rio de Janeiro que era a capital da república na época. Este aumento contribuiu para o crescimento dos subúrbios especialmente daqueles situados nas fronteiras como Pavuna, Anchieta ou Baixada Fluminense e para a expansão das favelas, sobretudo as localizadas na zona sul. O crescimento populacional das áreas periféricas da cidade está intimamente ligado a quatro fatores: obras de saneamento realizadas; eletrificação da Central do Brasil; instituição da tarifa ferroviária única; e a abertura da Avenida Brasil. Destes fatores resultou a “febre imobiliária”, que se refletiu principalmente do retalhamento intenso dos terrenos existentes para a criação de loteamentos, muitos dos quais foram abertos sem qualquer aprovação oficial (Abreu, 2013). 6 Ainda, o período 1930-1950 deu início ao processo de verticalização da cidade inicialmente partindo dos bairros localizados na zona sul, principalmente a orla de Copacabana. Um estímulo dado ao setor da construção civil fez nascer a ideia de status para a posição social de morar próximo à orla vendeu novamente a zona sul da cidade. Substituindo as unidades unifamiliares, que foram sendo demolidas, por edifícios de vários pavimentos. A introdução do concreto armado, permitiu à empresa imobiliária a transformação da aparência da zona sul, sem que para isso precisasse incorporar novas áreas ou fazer altos investimentos em infraestrutura urbana. “De fato, o concreto armado, por diminuir o custo unitário da habitação, viabilizou o desejo de grande parte da classe média carioca de “morar na zona sul”, desejo esse que foi capitalizado intensamente pela empresa imobiliária em suas campanhas publicitárias.” (Abreu, 2013) Os períodos seguintes foram marcados por um grande surto de obras públicas que beneficiavam apenas o centro e à zona sul devido à maior concentração de capital nestes locais e ao continuado processo de verticalização da cidade (que ocorre até os dias presentes) seguindo o sentido dos locais com maior concentração de renda. 2.2 Planejamento Urbano A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 trata em seu capítulo 2 da Política Urbana a ser executada pelo Poder Público Municipal e tem como objetivo ordenar o pleno funcionamento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. O texto traz a obrigatoriedade de elaboração de Plano Diretor para cidades com mais de 20 mil habitantes com o objetivo de centralizar as informações referentes ao planejamento da cidade impedindo que ocorra um crescimento desordenado como muitas vezes ocorreu no passado e foi descrito no item 2.1. O atual Plano Diretor do Rio de Janeiro foi instituído pela Lei Complementar n° 111 de 2011. Esta Lei está organizada em seis tópicos, que se relacionam entre si: I) Da Política urbana e Ambiental II) Do Ordenamento Territorial III) Dos Instrumentos da Política Urbana 7 IV) Das Políticas Públicas Setoriais V) Das Estratégias de implementação, Acompanhamento e Controle do Plano Diretor VI) Disposições Gerais, Transitórias e Finais O ordenamento territorial estabelece a organização do território a partir do zoneamento e das diretrizes de uso e ocupação do solo ditando os padrões de ocupação a serem seguidos no processo de adensamento da cidade. O Plano, antes de apresentar as soluções para os problemas estruturais urbanos (herdados por maneiras equivocadas de gerir a cidade), expõe a composição da cidade e o ordenamento das suas diferentes regiões (Macrozonas e Regiões Administrativas). O Rio é dividido em quatro macrozonas de ocupação (assistida, incentivada, condicionada e controlada), conforme delimitado na Figura 1. Estas são definidas a partir da avaliação de fatores espaciais, culturais, econômicos, sociais, ambientais e de infraestrutura urbana. O objetivo das Macrozonas é de orientar: o controle das densidades, da intensidade de expansão da ocupação urbana; a aplicação dos instrumentos da política urbana; e indicar prioridades de investimentos públicos e privados. (Almeida, 2013) Figura 1 – Macrozonas da cidade do Rio de Janeiro. (Fonte: Plano Diretor, 2011) a) Controlada: onde o adensamento populacional, a intensidade construtiva será limitada, a renovação urbana se dará preferencialmente pela reconstrução ou 8 pela reconversão de edificações existentes e o crescimento das atividades de comércio e serviços em locais onde a infraestrutura seja suficiente, respeitadas as áreas predominantemente residenciais; b) Incentivada: onde o adensamento populacional, a intensidade construtiva e o incremento das atividades econômicas e equipamentos de grande porte serão estimulados, preferencialmente nas áreas com maior disponibilidade ou potencial de implantação de infraestrutura; c) Condicionada: onde o adensamento populacional, a intensidade construtiva e a instalação das atividades econômicas serão restringidos de acordo com a capacidade das redes de infraestrutura e subordinados à proteção ambiental e paisagística, podendo ser progressivamente ampliados com o aporte de recursos privados; d) Assistida: onde o adensamento populacional, o incremento das atividades econômicas e a instalação de complexos econômicos deverão ser acompanhados por investimentos públicos em infraestrutura e por medidas de proteção ao meio ambiente e à atividade agrícola. Além da divisão em macrozonas e orientações quanto à estruturação das mesmas, é apresentada a subdivisão do território em 5 áreas de planejamento (AP), conforme Figura 2. Estas áreas de planejamento agrupam Regiões Administrativas (RA) que, por fim, são formadas pelos bairros. 9 Figura 2 – Áreas de Planejamento da cidade do Rio de Janeiro. (Fonte: Plano Diretor, 2011) Determinadas as delimitações do território, por fim, a ocupação do solo urbano deve ocorrer por meio da regulação urbanística. Esta sendo em função da capacidade da infraestrutura, da rede de transportes, acessibilidade da proteção ao meio ambiente natural, e da qualidade da ambiênciaurbana. Pretendendo-se regular as áreas já ocupadas ou até mesmo comprometidas, por meio da limitação da densidade demográfica, intensidade de construção e atividades econômicas. 10 3 LEGISLAÇÃO APLICADA A RESÍDUOS A Figura 3 ilustra o cenário evolutivo da legislação aplicada ao gerenciamento de resíduos a partir da edição da Resolução CONAMA 307. A legislação relativa ao gerenciamento de resíduos está estabelecida no âmbito federal, estadual e municipal. As Leis Federais estabelecem diretrizes gerais e delegam aos estados e municípios a responsabilidade por estabelecer regras para a seleção e classificação de resíduos gerados pela produção, disposição provisória nos locais de produção; transporte e disposição final. Figura 3 – Evolução da legislação relativa ao gerenciamento de resíduos na cidade do Rio de Janeiro. (Fonte: Ferreira, Moreira, 2013. Adaptada pelo autor) 3.1 Âmbito Federal A) Lei Federal n° 9.605/1998 11 Popularmente conhecida como “lei de crimes ambientais”, ela estabelece os crimes contra o meio ambiente; contra a flora; da poluição e outros crimes ambientais; dos crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural; e dos crimes contra a administração ambiental. Assim, dispõe sobre sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas. B) Resolução CONAMA 307/2002 Esta resolução é considerada o principal marco regulatório para a gestão de RCC. O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA traz em seu texto definições e classificação sobre os resíduos (que são abordados em detalhe no item 4.1) e os agentes envolvidos em todo processo de gestão deles; dispõe sobre as responsabilidades dos municípios em implementarem seus planos integrados de gerenciamento de RCC; diretrizes critérios e procedimentos para o manejo adequado destes resíduos. Esta resolução será citada algumas vezes ao longo do presente trabalho, bem como as resoluções que alteram parte do texto original de 2002: Resolução nº 469/2015 (altera o inciso II do art. 3º e inclui os § 1º e 2º do art. 3º), Resolução nº 448/12 (altera os artigos 2º, 4º, 5º, 6º, 8º, 9º, 10 e 11 e revoga os artigos 7º, 12 e 13), Resolução nº 431/11 (alterados os incisos II e III do art. 3º) e Resolução nº 348/04 (alterado o inciso IV do art. 3º). C) Lei Federal n° 11.445/2007 Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico. Considera o manejo de resíduos sólidos como parte integrante do saneamento básico de responsabilidade do Estado prover para a população mesmo que mediante a cobrança pelo serviço. Esta lei não especifica os resíduos de construção civil. D) Lei Federal n° 12.305/2010 A Lei n° 12.305 instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Dentre os principais marcos da lei destacam-se: o estabelecimento da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; Estabelece como instrumentos da Política a coleta seletiva e a logística reversa; Obriga o encerramento de lixões e vazadouros em até quatro anos; reconhece o resíduo sólido como um bem econômico e 12 de valor social, gerador de trabalho, renda e promotor de cidadania; As empresas de construção civil ficam sujeitas à elaboração do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos; “Responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei;” “Logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.” E) Decreto Federal n° 7.404/2010 Regulamenta a Lei no 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, cria o Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa. Este Decreto estabelece normas para execução da Política Nacional de Resíduos Sólidos que integra a Política Nacional do Meio Ambiente e articula-se com as diretrizes nacionais para o saneamento básico e com a Política Federal de Saneamento Básico. 3.2 Âmbito Estadual A) Lei Estadual n° 4.191/2003 Dispõe sore a Política Estadual de Resíduos Sólidos. Ficam estabelecidos, na forma desta Lei, princípios, procedimentos, normas e critérios referentes à geração, acondicionamento, armazenamento, coleta, transporte, tratamento e destinação final dos 13 resíduos sólidos no Estado do Rio de Janeiro, visando controle da poluição, da contaminação e a minimização de seus impactos ambientais. 3.3 Âmbito Municipal A) Lei municipal 3.273/2001 Esta lei normatiza as atividades inerentes ao Sistema de Limpeza Urbana do município do Rio de Janeiro. Dentre os tipos de RSU que estão abrangidos está contemplado no Art. 6° o entulho de pequenas obras e reforma, de demolição ou de construção em habitação unifamiliar ou multifamiliar. B) Decreto n° 21.305/2002 Regulamenta a Lei n.º 3.273, de 6 de setembro de 2001, que dispõe sobre a Gestão dos Serviços de Limpeza Urbana e dá outras providências. Fica atribuída à Companhia Municipal de Limpeza Urbana — COMLURB, na qualidade de órgão municipal competente, a responsabilidade pela Gestão do Sistema de Limpeza Urbana do Município do Rio de Janeiro conforme as disposições contidas na Lei n.º 3.273. C) Resolução SMAC n° 387/2005 No Rio de Janeiro o órgão ambiental competente por licenciar as obras é a Secretaria Municipal do Meio Ambiente – SMAC. A Resolução n° 384 de 24 de maio de 2005 identifica os geradores de RCC que devem obrigatoriamente apresentar Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PGRCC) para o licenciamento de obras. No item 4.7 é descrita as características dos geradores segundo a SMAC. D) Decreto Municipal n° 27.078/2006 Institui o Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PMGRCC) que estipula diretrizes técnicas para a gestão de RCC de pequenos geradores – aqueles que produzem até 2m³ de RCC por semana. E, ainda, institui os Projetos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PGRCC) para 14 empreendimentos que produzem um volume superior a 2m³ de RCC por semana. Por fim, o decreto ainda regulamenta o uso de agregados reciclados em obras e serviços públicos e privados. E) Lei Municipal n° 4.969/2008 Esta Lei Dispõe sobre objetivos, instrumentos, princípios e diretrizes para a gestão integrada de resíduos sólidos no Município do Rio de Janeiro e dá outras providências. Em seu capítulo V, seção III cita o Projeto de Gerenciamento de RCC como obrigação do grande gerador cujo empreendimento requeira a expedição de licença municipal de obra e estabelece os tipos de destinação de acordo com a classe dos resíduos: “I - Classe A (resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados): deverão ser reutilizados ou reciclados na forma de agregados, ou encaminhados a áreas de aterro de resíduos da construção civil, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura; II - Classe B (resíduos recicláveispara outras destinações): deverão ser reutilizados, reciclados ou encaminhados a áreas de armazenamento temporário, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura; III - Classe C (resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação): deverão ser armazenados, transportados e destinados em conformidade com as normas técnicas específicas; IV - Classe D (resíduos perigosos ou contaminados): deverão ser armazenados, transportados, reutilizados e destinados em conformidade com as normas técnicas específicas.” F) Decreto Municipal n° 33.971/2011 Dispõe sobre a obrigatoriedade da utilização de agregados reciclados, oriundos de resíduos da construção civil em obras e serviços de engenharia realizados pelo município do Rio de Janeiro. 15 As obras e serviços de engenharia do Município do Rio de Janeiro, executadas direta ou indiretamente pela administração pública, deverão utilizar agregados reciclados oriundos de resíduos da construção civil. Os agregados podem ser utilizados como: F1) Infra-estrutura: revestimento primário de vias (cascalhamento ou camadas de reforço de subleito, sub-base e base de pavimentos em estacionamentos e vias públicas); passeios; artefatos (blocos de vedação, peças pré-moldadas para revestimento de pavimento, meio-fios, sarjetas, tentos, canaletas, tubos, mourões e placas de muro); drenagem urbana (embasamentos, nivelamentos de fundos de vala, drenos ou argamassas). F2) Edificações: concreto “magro” não estrutural (muros, passeios, contrapisos, enchimentos e alvenarias de vedação); argamassas não estruturais; artefatos (blocos de vedação, peças pré-moldadas para revestimento de pavimento, meio-fios, sarjetas, tentos, canaletas, tubos, mourões e placas de muro). G) Decreto Municipal n° 37.775/2013 Institui o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos - PMGIRS da Cidade do Rio de Janeiro. A atualização do PMGIRS deverá ocorrer a cada quatro anos a partir da publicação do presente Decreto. H) Resolução Conjunta SMAC/SECONSERVA/COMLURB n° 05/2014 Nomeia Grupo de Trabalho para atualizar o PMGIRS da Cidade do Rio de Janeiro instituído pelo Decreto Municipal 37.775, de 10 de outubro de 2013. I) Resolução SMAC n° 604/2015: Determina que as atividades de construção, reforma, ampliação, demolição e movimentação de terra sujeitas ao Licenciamento Ambiental Municipal, de acordo com a legislação vigente, deverão apresentar o Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil – PGRCC no processo administrativo de licenciamento ambiental para análise e visto da SMAC. 16 J) Decreto n° 42.605/2016 Instituiu o PMGIRS da Cidade do Rio de Janeiro para o período 2017-2020, elaborado pela SMAC em parceria com a COMLURB e SECONSERVA. Trata-se da atualização do Plano anterior, instituído pelo Decreto Municipal nº 37.775 de 10 de outubro de 2013. A atualização do Plano incluiu novas Metas e Diretrizes a serem alcançadas até final de 2020. 3.4 Normas Técnicas a) NBR 11174/1990 – Armazenamento de Resíduos Classe II – não inertes e III - inertes Esta norma fixa as condições exigíveis para obtenção das condições mínimas necessárias ao armazenamento de resíduos classes II - não inertes e III – inertes, de forma a proteger a saúde pública e o meio ambiente. b) NBR 8419/1992 – Apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos Esta Norma fixa as condições mínimas para a apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos. A norma define estes resíduos como: aqueles gerados num aglomerado urbano, excetuados os resíduos industriais perigosos, hospitalares sépticos e de aeroportos e portos, já definidos anteriormente. c) NBR 13896/1997 – Aterros de Resíduos não perigosos – Critérios para projeto, implantação e operação Esta norma fixa as condições mínimas exigíveis para projeto, implantação e operação de aterros de resíduos não perigosos, de forma a proteger adequadamente as coleções hídricas superficiais e subterrâneas próximas, bem como os operadores destas instalações e comunidades vizinhas. 17 d) NBR 1004/2004 – Resíduos Sólidos – Classificação Esta norma classifica os resíduos sólidos quanto aos seus riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública, para que possam ser gerenciados adequadamente. A classificação de resíduos envolve a identificação do processo ou atividade que lhes deu origem, de seus constituintes e características. e) NBR 15112: Resíduos da construção civil e resíduos volumosos – Áreas de transbordo e triagem – Diretrizes para projeto, implantação e operação. Rio de Janeiro Esta norma fixa os requisitos exigíveis para projeto, implantação e operação de áreas de transbordo e triagem de resíduos da construção civil e resíduos volumosos. Os resíduos da construção civil são classificados, para os efeitos desta Norma e em conformidade com a Resolução CONAMA nº 307 conforme apresentado no item 4.1. f) NBR 15113: 2004 – Resíduos sólidos da construção civil e resíduos inertes – Aterros – Diretrizes para projeto, implantação e operação Esta norma fixa os requisitos mínimos exigíveis para projeto, implantação e operação de aterros de resíduos sólidos da construção civil classe A e de resíduos inertes visando a preservação de materiais de forma segregada para possibilitar o reuso e. a proteção das coleções hídricas superficiais ou subterrâneas próximas, das condições de trabalho dos operadores dessas instalações e da qualidade de vida das populações vizinhas. g) NBR 15114: 2004 – Resíduos sólidos da construção civil – Áreas de reciclagem – Diretrizes para projeto, implantação e operação Esta norma fixa os requisitos mínimos para projeto, implantação e operação de áreas de reciclagem de resíduos sólidos da construção civil classe A. Deve ser aplicada na reciclagem de materiais já triados para a produção de agregados que poderão ser utilizados em obras de infraestrutura e edificações, de forma segura, sem comprometimento das questões ambientais. 18 h) NBR 15115: 2004 – Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil – Execução de camadas de pavimentação – Procedimentos Esta norma estabelece os critérios para utilização de agregado reciclados de resíduos da construção civil em camadas de reforço do subleito, sub-base e base de pavimentos, bem como camada de revestimento primário em obras de pavimentação. i) NBR 15116: 2004 – Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil – Utilização em pavimentação e preparo de concreto sem função estrutural – Requisitos Esta norma estabelece os requisitos para o emprego de agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil. Os agregados reciclados destinam-se a obras de pavimentação viária; em camadas de reforço de subleito, sub-base e base de pavimentação ou revestimento primário de vias não pavimentadas; e a preparo de concreto sem função estrutural. j) NBR 15849/2010 – Resíduos sólidos urbanos – Aterros sanitários de pequeno porte – Diretrizes para localização, projeto, implantação, operação e encerramento Esta norma especifica os requisitos para localização, projeto, implantação, operação e encerramento de aterros sanitários de pequeno porte, para a disposição final de resíduos sólidos urbanos, estabelecendo as condições exigências mínimas para as instalações de pequeno porte e as condições para a proteção dos corpos hídricos superficiais e subterrâneos, bem como a proteçãodo ar, do solo, da saúde e do bem- estar das populações vizinhas. 19 4 RESÍDUOS SÓLIDOS E DA CONSTRUÇÃO CIVIL 4.1 Conceito e Classificação dos Resíduos O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA através da Resolução n° 307/2002 estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Em seu artigo 2° a Resolução propõe a seguinte definição para RCC: “Resíduos da construção civil: são os provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha;” Em seu Artigo 3º, a Resolução CONAMA n° 307/2002, alterada pelas Resoluções CONAMA n° 348/2004, n° 431/2011 e n° 469/2015, propõe a classificação dos RCC, que deverão seguir a seguinte divisão: I - Classe A - são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como: a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem; b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto; c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meio-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras; II - Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como plásticos, papel, papelão, metais, vidros, madeiras, embalagens vazias de tintas imobiliárias e gesso; (Redação dada pela Resolução nº 469/2015). 20 III - Classe C - são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem ou recuperação; (Redação dada pela Resolução n° 431/11). IV - Classe D - são resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como tintas, solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros, bem como telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto ou outros produtos nocivos à saúde. (Redação dada pela Resolução n° 348/04). É importante ressaltar que o encaminhamento à destinação final ambientalmente adequada não é somente a disposição final dos resíduos em aterros. Ainda há de se esgotar o uso do resíduo até que ele não tenha valor econômico nenhum, quando, por fim, será definido como “rejeito”. “Rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada;” (Lei n° 12.305, Agosto 2010) A Lei n° 12.305, de agosto de 2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, em seu artigo 6º reconhece o resíduo sólido reutilizável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania. Ainda, a destinação final de resíduos inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos competentes. 4.2 Aspectos Históricos da Geração de Resíduos O conceito de sustentabilidade e a preocupação com disposição final de resíduos são questões que nem sempre foram levadas em consideração por pessoas físicas e jurídicas geradoras de resíduos. As primeiras preocupações com a preservação do meio ambiente surgiram como consequência dos efeitos da Segunda Guerra Mundial e com o forte desenvolvimento do setor industrial. No período pós-guerra, as novas tecnologias 21 surgidas levaram à produção de novos bens de consumo, como os produtos descartáveis. A partir de então, a indústria está sempre criando produtos novos e induz aos consumidores, através de propagandas, a nova demanda. Assim, materiais que a natureza leva centenas de anos para decompor passaram a ser utilizados e descartados indiscriminadamente. O aumento na geração e descarte de resíduos faz nascer uma preocupação que veio amadurecendo ao longo dos anos e, hoje, é abordada por todos. Quanto à utilização de resíduos da construção civil reciclados, a primeira aplicação significativa foi registrada, também, após a Segunda Guerra Mundial, na reconstrução das cidades Européias, que tiveram seus edifícios totalmente destruídos e os escombros ou entulho resultante foi britado para produção de agregado visando atender á demanda na época. Assim, pode-se dizer, que a partir de 1946 teve início o desenvolvimento da tecnologia de reciclagem de entulho da construção civil. (Levy, 1995). A constituição federal de 1988 prevê como competência comum da União, dos Estados e dos municípios, em seu artigo 23 VI, a proteção do meio ambiente e o combate a poluição em qualquer de suas formas. E ainda, em seu Artigo 225: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. A questão dos resíduos sempre foi um problema para a sociedade, uma vez que o homem nunca conseguiu colocar em prática uma solução realmente efetiva. A quantidade produzida cresce com o aumento populacional e o espaço físico para deposita-la é finito. Porém, foi apenas no decorrer dos últimos 30 anos que se iniciaram no Brasil os programas de reciclagem e coletas seletivas que visam à diminuição da quantidade de “lixo” nos municípios. Exemplos típicos de disposição final: a) “Lixão” ou vazadouro (depósitos clandestinos): consiste no despejo em terrenos a céu aberto, sem medidas de proteção ao meio ambiente ou à saúde da população vizinha. Depósitos clandestinos, apesar de ilegais e muito prejudiciais à natureza, são extremamente comuns (Mattos, 2013). Provocam a degradação indiscriminada da natureza devido à proliferação de vetores transmissores de doenças, poluição do ar, água e solo, instabilidade das encostas próximas aos locais de deposição, catadores em péssimas condições de trabalho e etc.; 22 b) Aterros Sanitários: Originalmente concebido como um processo para disposição final de resíduos sólidos no solo que se fundamenta em critérios de engenharia (sanitária, civil e ambiental) e normas operacionais que permite a confinação segura em termos de poluição ambiental e proteção à saúde pública. É identificado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) como local para disposição final ambientalmente adequada de rejeitos. c) Aterros Controlados: No passado eram permitidos projetos de aterros controlados. A norma ABNT NBR 8849 de 1985 fixava condições mínimas exigíveis para projetos de aterros controlados, que são um tipo de disposição que se situam entre o lixão e o aterro sanitário. Atualmente esta norma foi cancelada, pois não se licencia a implantação deste tipo de aterro, sendo muitas vezes concedida a licença de operação em casos que se tratam de uma transformação de lixões promovendo melhoria das condições ambientais. d) Unidade de Incineração: Método pouquíssimo utilizado no Brasil. Consiste no processo de queima do lixo, através de incinerador – instalação especializada onde se processa a combustão controladado lixo, entre 800 e 1200°C, com a finalidade de transforma-lo em matéria estável e inofensiva à saúde pública, reduzindo seu peso e volume (Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, IBGE, 2000). Após a queima o material obtido pode ser destinado a aterros sanitários ou ser reutilizado. e) Unidade de valorização e tratamento de resíduos: Buscam a transformação dos resíduos através de tratamentos físicos, químicos e biológicos para promover o reaproveitamento como matéria-prima para novos produtos (reciclagem). A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) prevê em seu artigo 54, até 2014, a disposição final adequada de todos os rejeitos produzidos no Brasil. Seria o fim dos lixões a céu aberto existentes no Brasil. Contudo, segundo a ABRELPE, em 2015, 41,3% dos resíduos coletados pelos municípios brasileiros ainda não possuíam disposição final adequada, conforme Figura 4. 23 Figura 4 - Disposição Final dos RSU coletados no Brasil (t/ano). *Fonte: ABRELPE, 2015. 4.3 Estimativa de Resíduos Gerados no Brasil 4.3.1 Resíduos Sólidos Urbanos Segundo a ABRELPE, em 2015 – quando a população do país era de 204,4 milhões de habitantes (IBGE, 2017) – a geração de RSU atingiu um total de 79,9 milhões de toneladas no Brasil. Configurando um crescimento de geração total de RSU a um índice de 1,7% em comparação ao ano anterior, enquanto o crescimento populacional foi de apenas 0,83%. Em 2017, a população atingiu 207,6 milhões de habitantes (IBGE, 2017), configurando um crescimento a um índice de 1,02% em dois anos. Conforme apresentado na Tabela 2, considerando que a taxa de crescimento da produção de resíduos cresce de maneira linear com o aumento populacional, pode-se estimar uma produção de RSU de 81,57 milhões de toneladas em 2017. Geração de RSU no Brasil Período 2014 - 2015 2015 - 2017 Crescimento da população 0,83% 1,02% Crescimento da produção de RSU 1,70% 2,09% Produção de RSU 79,90 milhões 81,57 milhões Tabela 2 - Extrapolação de valores para estimativa de produção de RSU em 2017 (*Fonte: elaboração do autor. Dados: ABRELPE, 2015 e IBGE, 2017) 24 Cabe ressaltar que a quantidade de RSU produzida no país é um dado de difícil estimativa, pois dentre as variáveis a serem consideradas temos o crescimento econômico do país e não somente o crescimento da população em si. Quanto mais próspero é o cenário econômico atual, maior será o consumo de produtos industrializados, aumentando consequentemente a produção de resíduos urbanos. Como nos anos de 2016 e 2017 o Brasil vem vivenciando um cenário de crise econômica e desinvestimentos, é razoável usar o entendimento de que houve um crescimento linear entre o aumento populacional e o aumento da produção de resíduos, como foi utilizado para estimar a produção de RSU na Tabela 2. Em cenários de grande prosperidade econômica a taxa de produção de resíduos cresce mais do a taxa de crescimento da população pois representa um período de maior poder de consumo. Assim, o Rio de janeiro, devido a um maior desenvolvimento econômico e urbano, configura entre os maiores produtores de RSU per capta do país dentre os demais Estados Brasileiros. Segundo a ABRELBE, em 2015, o Estado do Rio de Janeiro foi o terceiro maior produtor de RSU per capta. Foram gerados mais de 22 mil toneladas de resíduos por dia, conforme apresentado na Tabela 3. Tabela 3 – Geração e Coleta de RSU no Estado do Rio de Janeiro. (*Fonte: ABRELPE, 2015) A prática da disposição final inadequada de RSU ainda ocorre em todas as regiões e estados brasileiros, e 3.326 municípios ainda fazem uso desses locais impróprios (ABRELPE, 2015). 4.3.2 Resíduos de Construção Civil A comparação de estimativa de produção de RCC entre o Brasil e outros países pode fornecer uma ideia do grau de desenvolvimento atingido. Como foi discutido no item anterior, a geração de resíduos é proporcional ao desenvolvimento econômico e quantidade populacional. Por este motivo pode-se compreender porque o Brasil não se apresenta entre os maiores produtores deste tipo de resíduo, conforme apresentado na Tabela 4, mesmo não realizando uma gestão ideal para os RCC. 2014 2015 2014 2015 2014 2015 2014 2015 16.461.173 16.550.024 21.834 22.213 1,307 1,323 21.518 21.895 (Kg/hab/dia) (t/dia) RSU Coletado RSU Gerado Populaçãp Total 25 Sendo o objetivo do país o crescimento e desenvolvimento, há de se pensar que a geração de resíduos naturalmente crescerá. Por isso, é fundamental que a questão ambiental e a gestão dos resíduos produzidos sejam considerados como fator inerente ao crescimento do país. Tabela 4 – Estimativa de geração de RCC em alguns países. (*Fonte: IPEA, 2012) Há de se salientar que a variação de datas dos dados obtidos e apresentados na Tabela 4 é uma ressalva para avaliação dos valores apresentados. A geração de RCC de outros países certamente seria maior em 2011, ano em que a estimativa de geração do Brasil foi coletada. Segundo a ABRELPE, os municípios coletaram cerca de 45 milhões de toneladas de RCD em 2015, o que configura um aumento de 1,2% em relação a 2014. Esta situação, também observada em anos anteriores, exige atenção especial, visto que a quantidade total desses resíduos é ainda maior, já que não estão considerados nestes dados os resíduos gerados e coletados pela iniciativa privada. Seguindo o mesmo raciocínio adotado no item anterior pode-se estimar, conforme apresentado na Tabela 5, uma geração de RCD de 45,66 milhões de toneladas no ano de 2017, mais da metade dos RSU. 26 Geração de RCD no Brasil Período 2014 - 2015 2015 - 2017 Crescimento da população 0,83% 1,02% Crescimento da produção de RCD 1,20% 1,47% Produção de RCD 45,00 milhões 45,66 milhões Tabela 5 - Extrapolação de valores para estimativa de produção de RCD em 2017 (*Fonte: elaboração própria. Dados: ABRELPE e IBGE) 4.4 Estimativa da Geração de RCC no Rio de janeiro Conforme comentado no item 4.3, estimar a quantidade de RCC gerado é um grande desafio, principalmente pela falta de um compilamento específico desses dados, bem como de um órgão responsável por sistematizar e unir todas as informações oriundas dos agentes envolvidos em sua gestão. Somado a isso, a disposição ilegal é um fator que agrava bastante essa quantificação, visto que desiguala, mais ainda, a quantidade gerada da coletada e da disposta corretamente. (Ferreira, Moreira, 2013) De acordo com as informações extraídas do Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos, divulgado anualmente pelo Sistema Nacional de informações sobre Saneamento – SNIS, o Rio de Janeiro coletou 1.103.107 toneladas de RCD em 2015, sendo o município do Rio de Janeiro responsável por 285.713 toneladas deste total (equivalente a 25,28%). Através da Tabela 6 pode-se verificar que o estado do Rio de Janeiro, considerada a sua dimensão, é um grande gerador de RCD. Quantidade coletada de RCD - 2015 Estado População (2015) Pref. ou contratado por ela Caçambeiros e autônomos contrat. pelo gerador Próprio gerador Total RCD coletado per capta t t t t kg Rio de Janeiro - RJ 16.550.024 908.478 219.829 1.800 1.130.107 68 São Paulo - SP 44.396.484 1.693.807 2.102.379 120.004 3.916.190 88 Minas Gerais - MG 20.869.101 1.499.579 628.142 101.858 2.229.579 107 Espírito Santo - ES 3.929.911 282.598 13.050 59.123 354.771 90 Paraná - PR 11.163.018 294.385 45.265 39.358 379.008 34 Rio Grande do Sul - RS 11.247.972 176.944 6.013 18.684 201.641 18 Pernambuco - PE 9.345.603 300.857 31.134 1.354 333.345 36 27 Goiás - GO 6.610.681 557.772184.351 30.125 772.248 117 Tabela 6 - Quantidade de RCD coletada. (Elaboração Própria. Dados SNIS, 2015 e IBGE, 2017) Tabela 7 – Quantidade de RCD coletada no Rio de Janeiro. (Elaboração Própria. Dados SNIS, 2015) t t t Angra dos Reis Sim Não Não Não Não 122.522 100 Arraial do Cabo Sim Não Sim Sim Sim 10.000 Campos dos Goytacazes Sim Não Sim Sim Sim 214.650 Cantagalo Sim Não Sim Não 2.000 Casimiro de Abreu Sim Não Não Não Não 24.000 Conceição de Macabu Sim Sim Não Não Sim 500 Iguaba Grande Sim Não Sim Não Não 2.000 Laje do Muriaé Sim Não Não Não Não 660 Mangaratiba Sim Sim Não Não 90.000 Mendes Sim Não Sim Sim Não 3.600 1.000 1.000 Mesquita Sim 32.977 Miracema Sim Não Sim Sim Sim 8.500 1.750 650 Natividade Sim Não Não Não Não 2.640 Nilópolis Sim Sim Não Não Sim 32.135 Pinheiral Sim Sim Não Não Sim 7.920 0 Quatis Sim Não Não Não Não 3.102 0 Rio Claro Sim Não Não Não 50 50 Rio das Flores Sim Não Não Não Não 20 0 Rio das Ostras Sim Não Sim Não Não 17.917 Rio de Janeiro Sim Não Sim Sim Sim 68.634 217.079 0 Santa Maria Madalena Sim Não Não Não Não 4 0 São Gonçalo Sim Não Não Sim Não 40 São João de Meriti Sim 216.000 São Pedro da Aldeia Sim Não Sim Não Não 12.244 Sumidouro Sim Não Não Não Não 450 Volta Redonda Sim Sim Não Não Não 35.913 0 908.478 219.829 1.800TOTAL: TOTAL ESTADUAL: 1.130.107 Existência Cobrança Com caminhõe s tipo basculant es ou carroceria Com carroças ou outro tipo de veículo de pequena capacidade INFORMAÇÕES SOBRE COLETA DE RESÍDUOS SÓLIDOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL - RJ - 2015 Municípios Serviço executado pela prefeitura Existência de empresa especializ ada Existência de serviço de coleta de RCD feita por autônomos Quantidade coletada Pref. ou contratado por ela Caçambeiros e autônomos contrat. pelo gerador Próprio gerador 28 No ano de 2014 foi coletado no Estado do Rio de Janeiro 961.056 toneladas de RCD, conforme apresentado na Tabela 8, o que representa um crescimento de 17,59% o ocorrido em 2015. Usando o mesmo raciocínio do item 4.3 para estimar a quantidade de resíduos que será gerada no município do Rio de Janeiro em 2017, temos uma estimativa de 1,31 milhões de toneladas, conforme Tabela 9. Quantidade coletada de RCD - 2014 Estado População (2014) Pref. ou contratado por ela Caçambeiros e autônomos contrat. pelo gerador Próprio gerador Total RCD coletado per capta t t t t kg Rio de Janeiro - RJ 16.461.173 582.210 349.472 29.374 961.056 58 Tabela 8 – Quantidade de RCD coletada 2014 – Rio de Janeiro. (Elaboração Própria. Dados: SNIS, 2015 e IBGE, 2017) Geração de RCD no Rio de Janeiro Período 2015 2017 Crescimento da população 0,54% 0,50% Crescimento da produção de RCD 17,59% 16,29% Produção de RCD 1,13 milhões 1,31 milhões Tabela 9 - Extrapolação de valores para estimativa de produção de RCD em 2017 (*Fonte: elaboração própria. Dados: SNIS, 2015 e IBGE, 2017) Brasil Rio de Janeiro Período 2015 2017 2015 2017 População 204.450.649 207.878.104 16.550.024 16.718.956 Produção de RCD 45,00 milhões 45,66 milhões 1,13 milhões 1,31 milhões Produção de RCD per capta 0,603 kg/dia 0,602 kg/dia 0,187 kg/dia 0,215 kg/dia Tabela 10 – Comparação entre a produção de RCD per capta no Brasil e no Rio de Janeiro. (Fonte ABRELPE, 2015 e IBGE, 2017) A Tabela 10 apresenta a produção de RCD per capta gerada e coletada no Brasil e no Estado do Rio de Janeiro. Estes valores se comparados com os apresentados na Tabela 3 demostram que o RCD representa uma parcela de 15% do total de resíduos 29 sólidos urbanos. Este valor ainda não contabiliza a produção dos grandes geradores, que é apresentada no capítulo 6. A maioria dos municípios contabiliza as informações sobre a coleta de RCC executada pelo serviço público, que, normalmente, recolhe este tipo de material que foi lançado em locais públicos ou quando é feita a solicitação de retirada. Assim, os dados fornecidos pela maioria das bibliografias não fornece em suas projeções os RCC provenientes de serviços privados, já que estes dados não são divulgados pelas empresas geradoras. 4.5 Cultura do Setor da Construção Civil Há grande dificuldade em se obter bibliografia e dados referentes ao que é praticado pelo setor da construção civil em relação aos resíduos gerados. As grandes empresas geradoras não costumam divulgar estas informações. Estas somente são divulgadas quando o gerador está em cumprimento com todas as exigências legais pertinentes à geração e destinação final. Porém, na prática sabe-se que muitas vezes os resíduos são depositados em vazadouros clandestinos ou mesmo em vias públicas. “No Brasil, a disposição irregular deste material (RCC) tem causado enchentes, perda de infraestrutura de drenagem, por entupimento de galerias e assoreamento de canais, além de proliferação de vetores, poluição e aumento desnecessário dos custos da administração pública. Em algumas cidades este material é depositado em aterros sanitários, procedimento este que é considerado um desperdício de dinheiro.” (ABRECON, 2015) Uma reportagem de 27/03/2017 publicada no site do jornal o Globo, constatou a existência de 29 vazadouros clandestinos presentes no Rio de Janeiro. Estes locais surgem próximos a “lixões” desativados, onde prosperam novos locais onde são despejados resíduos de forma irregular. A Figura 5 apresenta um levantamento feito pela ABRELPE comprovando que 32% dos resíduos gerados na cidade do Rio de Janeiro não tem uma destinação final adequada. 30 Figura 5 – Destinação Adequada de resíduos. (Fonte: Reportagem do Jornal O Globo, levantamento da ABRELPE, 27/03/2017) 4.6 Tratamento de RCC Entende-se por Tratamento ou Beneficiamento o conjunto de atividades de natureza física, química ou biológica, realizada manual ou mecanicamente com o objetivo de alterar qualitativa ou quantitativamente as características dos resíduos, com vistas à sua redução, reaproveitamento, valorização ou ainda para facilitar sua movimentação ou sua disposição final adequada ao lixo, com ou sem tratamento, sem causar danos ao meio ambiente. Ainda, entende-se por Valorização ou Recuperação, quaisquer operações que permitam o reaproveitamento dos resíduos mediante processos de reciclagem ou reutilização de materiais inertes, compostagem da matéria orgânica do lixo, aproveitamento energético do biogás ou de resíduos em geral. (Lei ° 3.273/2001). A partir da Resolução Conama n° 307/2002, ficou definido que grandes geradores públicos e privados são obrigados a desenvolver e implantar um plano de gestão de RCD, visando a sua reutilização, reciclagem ou destinação ambientalmente adequada. Com isso a reciclagem ganhou uma força extra. Iniciaram-se as implantações de planos de gerenciamento de RCD em canteiros de obras, e normas técnicas foram elaboradas e publicadas pela ABNT: a) NBR 15113: 2004 – Resíduos sólidos da construção civil e resíduos inertes – Aterros – Diretrizes para projeto, implantação e operação. b) NBR 15114: 2004 – Resíduos sólidos da construção civil – Áreas de reciclagem – Diretrizes para projeto, implantação e operação. 31 c) NBR 15115: 2004 – Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil – Execução de camadas de pavimentação – Procedimentos. d) NBR 15116: 2004 – Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil – Utilização em pavimentação e preparo de concreto sem função estrutural - Requisitos No cenário internacional,
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