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UNIVERSIDADE BRASIL DANIEL LOPES PILAN PROVAS NO PROCESSO PENAL: TEORIA DOS FRUTOS DA ÁRVORE ENVENENADA BIRIGUI 2018 UNIVERSIDADE BRASIL DANIEL LOPES PILAN PROVAS NO PROCESSO PENAL: TEORIA DOS FRUTOS DA ÁRVORE ENVENENADA Birigui 2018 Trabalho de Pesquisa na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso 9º semestre do curso Bacharel em Direito da Universidade Brasil – unidade: Faculdade Birigui Orientador: Esp. Everson Alves de Almeida Pilan, Daniel P637d Provas no Processo Penal: Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada / Daniel Lopes Pilan -- Birigui, 2018. 73 f.: il.; 30 cm. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Direito) –Universidade Brasil - Unidade: Faculdade Birigui, 2018. Orientador: Prof.º Esp. Everson Alves de Almeida. 1. Processo Penal. 2. Provas. 3. Provas Ilícitas. 4. Arvore Envenenada 341.43 Dedico aos meus pais que sempre me apoiaram em todas minhas escolhas, me instruíram, me educaram, me ascenderam ao que sou; sempre me confortaram nas minhas derrotas e comemoraram nas minhas vitórias. Aos meus heróis, todo amor e respeito, eternos para mim, Josiane Ribeiro Lopes e Wilson Pilan Jr. Agradeço primeiramente ao Mestre Everson de Almeida, o qual possibilitou este trabalho com sua grande paciência, vasto conhecimento e grandiosa orientação, também, como sendo um dos motivos de não ter desistido do curso no primeiro termo, seus ensinamentos sempre serão lembrados, de Direito e de vida. Dizem que o aprendiz deve sempre superar o seu mestre, mas alguns, em alguns casos, são simplesmente insuperáveis. Agradeço à Mestra Melissa Puertas Sampaio, pela dedicação e pelos conhecimentos prestados e, principalmente, pela paciência. Agradeço também ao futuro magistrado e meu grande amigo Rafael Brandão, o qual sempre esteve disposto a colaborar com seus conhecimentos e suas ideias mais que inovadoras ao bom direito. Por fim, agradeço aos meus colegas de sala Odair Ramirez Reis, que sempre esteve de bom humor e disposto a ajudar; À Debora da Silva Matos que com sua fé sustentou a todos ao seu redor e não apenas a si mesma; À Andreia de Oliveira que sempre ajudou nos momentos difíceis. Ainda, aos supramencionados, por terem me suportado nesses cinco anos: Muito Obrigado. “Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.” Friedrich Nietzsche TERMO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins e que se fizerem necessários que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade Brasil – Campus Birigui/SP, a Banca Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca da monografia. Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico. Birigui, ___ de ________ de 2018. _____________________ DANIEL LOPES PILAN DANIEL LOPES PILAN PROVAS NO PROCESSO PENAL: TEORIA DOS FRUTOS DA ÀRVORE ENVENENADA Monografia aprovada em ___ de _______ de 2018, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em direito na Universidade Brasil – unidade: Faculdade Birigui, pela banca examinadora formada por: Presidente e Orientador: Prof. Esp. Everson Alves de Almeida Instituição: Universidade Brasil – unidade: Faculdade Birigui Campus – Birigui Assinatura:__________________________________ Professor(a): Profa. Ma. Juliana Maria Simão Samogin Instituição: Universidade Brasil – unidade: Faculdade Birigui Campus – Birigui Assinatura:__________________________________ Professor(a): Profa. Ma. Ineida Tragueta Lorenzetti Instituição: Universidade Brasil – unidade: Faculdade Birigui Campus – Birigui Assinatura:__________________________________ NOTA: 10,00 (X) APROVADO ( ) REPROVADO LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS HC - Habeas Corpus CPP - Código de Processo Penal CP - Código Penal CF - Constituição Federal p. - Página Ex: - Exemplo STF - Supremo Tribunal Federal LISTA DE SÍMBOLOS § - Parágrafo §§ - Parágrafos RESUMO A presente monografia, tida como trabalho de conclusão de curso, trata sobre as provas no processo penal e a teoria dos frutos da árvore envenenada, tendo sido realizada com base em estudos de bibliografias doutrinárias de direito, para o melhor entendimento do tema. Observa os métodos de prova do processo penal e, mais especificamente, as provas ilícitas e suas exceções, com ênfase nas teorias norte-americanas, as quais tem influenciado muito o Direito brasileiro. Com o estudo, foi observado que as provas ilícitas são resultado de um abuso do estado em detrimento de direitos privados. Em consequência, a insegurança jurídicas que as provas ilícitas podem trazer, bem como sua repercussão em vários âmbitos do direito, principalmente nos direitos individuais das pessoas, o estudo se faz necessário para uma melhor reflexão e elucidação do problema. A teoria dos frutos da árvore envenenada, é uma das teorias norte-americanas, esta trata das provas derivadas das ilícitas, tornando-as também ilícitas e estranhas ao processo, como se nunca tivessem existido. Palavras Chave: Processo Penal; Provas; Provas Ilícitas; Arvore Envenenada ABSTRACT This monograph, taken as a course conclusion, deals with the evidence in the criminal process and the theory of the fruits of the poisoned tree, having been carried out based on studies of doctrinal bibliographies of law, for a better understanding of the subject. It observes the methods of proof of thecriminal process and, more specifically, the illicit evidence and its exceptions, with emphasis on the North American theories, which has greatly influenced Brazilian law. With the study, it was observed that illicit evidence is the result of an abuse of the state over private rights. Consequently, the legal uncertainty that illicit evidence can bring, as well as its repercussion in various areas of law, especially in the individual rights of individuals, the study is necessary for a better reflection and clarification of the problem. The theory of the fruits of the poisoned tree, is one of the North American theories, this deals with the evidence derived from the illicit ones, making them also illegal and strange to the process, as if they had never existed. . Keywords: Criminal Procedure; Evidences; Unlawful Proofs; Poisoned Tree SUMÁRIO INTRODUÇÂO ............................................................................................... 16 1 BREVE HISTÓRICO DAS PROVAS E DO PROCESSO PENAL NO BRASIL ..................................................................................................................... 17 1.1 Brasil Colônia ...................................................................................... 17 1.2 Brasil Império (Constituição de 1824)................................................ 19 1.2.1 Código Criminal de 1830 .............................................................. 20 1.2.2 Código de Processo Criminal de 1832 ........................................ 22 1.3 República e Constituição de 1891 ...................................................... 23 1.3.1 Código Penal de 1890....................................................................... 23 1.4 Constituição de 1934 ........................................................................... 23 1.5 Constituição de 1937 ........................................................................... 24 1.5.1 O Código Penal e o Código de Processo Penal de 1941 ........... 24 2 PROVAS NO PROCESSO PENAL ............................................................. 26 2.1 Provas................................................................................................... 26 2.2 Sentido da Prova ................................................................................. 27 2.3. Objeto da Prova .................................................................................. 27 2.3.1. Dos que não são Objeto de Prova .............................................. 27 2.3.2 Espécies ......................................................................................... 28 2.4 Sistema de Avaliação das Provas ...................................................... 29 2.5 Meios de Prova .................................................................................... 30 2.6 Ônus da Prova ..................................................................................... 31 2.7 Procedimento Probatório .................................................................... 32 2.7.1 Prova Emprestada ......................................................................... 33 2.8 Princípios Gerais da Prova ................................................................. 33 2.9 Busca e Apreensão ............................................................................. 35 2.9.1 Busca Domiciliar e Pessoal .......................................................... 36 2.9.2 Formalidades ................................................................................. 38 2.10 Provas Periciais ................................................................................. 38 2.10.1 Perito ............................................................................................ 39 2.10.2 Exame de Corpo de Delito .......................................................... 40 2.11 Interrogatório ..................................................................................... 40 2.11.1 Características ............................................................................. 41 2.11.2 Direitos do Réu no Interrogatório .............................................. 42 2.11.3 Conteúdo...................................................................................... 43 2.11.4 Confissão ..................................................................................... 43 2.11.5. Características da Confissão .................................................... 45 2.11.6 Voluntária ou espontânea .......................................................... 45 2.11.7 Validade da Confissão ................................................................ 45 2.12 Delação ............................................................................................... 46 2.12.1 Delação Premiada ....................................................................... 46 2.13 Prova Testemunhal ........................................................................... 47 2.13.1 Características da Prova Testemunhal ..................................... 47 2.13.2 Dispensas e Proibições de Testemunhas ................................. 48 2.13.3 Compromisso e Deveres da testemunha .................................. 49 2.13.4 Contradita .................................................................................... 50 2.13.5 Numero de Testemunhas por procedimento ............................ 50 2.13.6 Procedimento .............................................................................. 50 2.14 Reconhecimento de Pessoas e Coisas ........................................... 51 2.14.1 Reconhecimento de Pessoas ..................................................... 51 2.14.2 Reconhecimento de pessoas por foto ...................................... 52 2.14.3 Reconhecimento de Objetos ...................................................... 52 2.15 Acareação .......................................................................................... 52 2.16 Prova Documental ............................................................................. 53 2.16.1 Função da Prova Documental .................................................... 54 2.16.2 Prova Emprestada ....................................................................... 54 2.17 Prova Indiciária .................................................................................. 54 2.17.1 Prova de Fora da Terra ............................................................... 55 2.17.2 Prova Antecipada ........................................................................ 55 2.17.3 Contra indícios ............................................................................ 55 3 PROVA ILEGAL .......................................................................................... 56 3.1 Conceito ............................................................................................... 56 3.2 Conceito pós 2008 (Lei n. 11.690/08) ................................................. 58 3.3 O juiz Contaminado ............................................................................. 59 3.4 Hipóteses de Admissibilidade da Prova Proibida ........................... 60 3.4.1 Exceção do Erro Inócuo ............................................................... 60 3.4.2 Legitimidade para requerer a exclusão da prova ilícita ............. 60 3.4.3 Princípio da Proporcionalidade ................................................... 60 3.4.4 Prova Ilícita Pro Reo ..................................................................... 61 3.5 Teoria da Visão Ampla ........................................................................61 4 TEORIA DOS FRUTOS DA ÁRVORE ENVENENADA ............................. 64 4.1 Conceito ............................................................................................... 64 4.2 Teoria da Fonte Independente ............................................................ 65 4.3 Teoria da Descoberta Inevitável ......................................................... 67 4.4 Teoria da Mancha Purgada ................................................................. 69 CONSIDERAÇÔES FINAIS ........................................................................... 71 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 73 16 INTRODUÇÂO Esta monografia tem como objeto de estudo as provas no processo penal e a teoria dos frutos da árvore envenenada, ressaltando as provas ilícitas e a própria mencionada teoria, assim como as exceções advindas dela. Destarte, informar sobre à atividade probatório nos tribunais, a reprodução imprescindível em juízo, coleta de provas legais e ilegais pelos agentes dos Estado e a sua utilização ou não no decorrer do processo. Para esta monografia foram realizadas pesquisas em bibliografias de diversos autores, doutrinadores, para o embasamento teórico e melhor entendimento do tema, além de que a discussão doutrinaria é uma das essências do bom direito. A monografia foi dividida em quatro capítulos para melhor didática. No primeiro capítulo, há um breve entendimento dos períodos do processo penal os quais eram refletidos pelas constituições e o momento em que foram outorgadas, sendo apenas um ponto de partida para lidar com opulento assunto. O capitulo dois dá início ao assunto de fato, trazendo princípios e entendimentos doutrinários, além de todas as provas do rol positivo do Código de Processo Penal, bem como as provas que não estão determinadas, em razão do próprio código não tratar as provas com taxatividade. No penúltimo capítulo há o assuntos das provas ilícitas, de rol também não taxativo, e algumas teorias aceitas no Brasil. Por fim, no quarto capítulo, a teoria dos frutos da árvore envenenada e suas exceções teóricas, algumas aceitas no Brasil. A justificativa desta monografia é os excessos cometidos na coleta de provas pelos agentes do Estado, os abusos e erros judiciários, além da insegurança jurídica por falta de discussão de alguns temas, como é o caso das provas ilícitas e a própria teoria dos frutos da árvore envenenada. É imprescindível que a pirâmide jurídica sempre seja observada, além dela, os entendimentos dos tribunais superiores e a analogia em bonam partem1, quando não for o suficiente ou justo, então lutar pela justiça. 1 É o uso da analogia em benefício do réu 17 1 BREVE HISTÓRICO DAS PROVAS E DO PROCESSO PENAL NO BRASIL 1.1 Brasil Colônia Para Flavia Lages de Castro os primeiros documentos relacionados com o território que hoje é o Brasil, são a Bula Inter Coetera (1493)2 e o Tratado de Tordesilhas3. Nos primeiros 30 anos desde o descobrimento não houve legislação brasileira, sendo utilizada apenas pequenos resquícios da legislação dos conquistadores lusitanos (NASCIMENTO, 2007) Não havendo chance de haver outro regime de direito nestas terras pós- colônial: Ao aqui chegar, os portugueses encontraram uma população dispersa em várias tribos, chamando esse povo indistintamente de índios. Como é sabido, o estágio evolutivo dos que aqui residiam era comparado ao do período neolítico (desconheciam a escrita, a roda etc.). Adicione-se a isso o fato de não existirem instituições políticas e jurídicas com um mínimo de representatividade. Não houve nem discussão: os portugueses impuseram sem o menor constrangimento o seu sistema jurídico à nova colônia, não restando absolutamente nada dos antigos costumes jurídicos dos indígenas. (MACIEL, 2010, p.130) Bem como, ainda, havia o total desinteresse de Portugal pelas terras do novo mundo, em razão de que o comércio com a índias rendiam muito mais lucros do que a colônia, em primeiro momento. No regime colonial, a colônia é mero instrumento de enriquecimento para os reinos, destarte, Portugal esperava encontrar outro o quanto antes para que assim, houvesse lucro. Não havia um interesse de implementar um regime jurídico ou regulamentar as terras etc. (CASTRO, 2007) Posteriormente, com o êxito das colônias espanholas de encontrarem minérios, Portugal iniciou a distribuição de terras para dar início as buscar por 2 Foi definida como um tratado em maio de 1493, do Papa Alexandre VI, o qual determina que o “novo mundo” era dividido entre Portugal e Espanha. 3 Efetiva a Divisão entre o território de Portugal e Espanha 18 minérios, com isso, o território no novo mundo foi colonizado pelos portugueses, com método de divisão em grandes latifúndios, as Capitanias Hereditárias. (CASTRO, 2007) Os donatários recebiam as Cartas de Doação 4 e os Forais5, tendo o direito e o dever de exercer a justiça. Não era algo arbitral, tendo em vista que os próprios forais delimitavam os poderes e deveres. (CASTRO, 2007) Em consonância Jose Fabio Rodrigues Maciel: A Colônia, base de nosso país, formou-se como uma sociedade agrária baseada no latifúndio, existindo, sobretudo, em função da Coroa. Sua economia era complementar, baseada em monopólios e estancos, obrigatórios, que eram bastante benéficos para a burguesia mercantil lusitana. Os colonos vinham para cá "fazer a América", com a esperança de um dia voltar para Portugal e usufruir das riquezas aqui conquistadas. Não havia o espírito da construção de um país livre e soberano. O que dominava era o desejo de sugar tudo que a nova terra podia dar, sem preocupações com o que ela poderia vir a se tornar. (MACIEL, 2010, p. 131) Era um sistema tipicamente feudal, em que as questões políticas, administrativas e jurídicas ficavam a cargo dos donatários. Como não havia burocratização quanto aos procedimentos adotados, na prática confundia-se em uma só pessoa as funções de legislar, acusar e julgar. (MACIEL, 2010, p. 132) As capitanias acabaram por fracassar em razão do desinteresse dos donatários (CASTRO, 2007). Por isso, a Coroa portuguesa interviu em sua colônia instituindo o Governo Geral, o qual assume as responsabilidades da colônia sendo a justiça instituída: a) Primeira instância: formada por juízes singulares que eram distribuídos nas categorias de ouvidores, juízes ordinários e juízes especiais. Por sua vez, estes se desdobravam em juízes de vintena, juízes de fora, juízes de órfãos, juízes de sesmarias etc. b) Segunda instância: composta de juízes colegiados que atuavam nos chamados Tribunais da Relação; apreciavam os recursos e embargos. No Brasil o primeiro Tribunal da Relação foi criado na Bahia, em 1587, mas entrou efetivamente em funcionamento apenas em 1609. Era composto por dez desembargadores, contando com o chanceler. Cada um deles tinha uma função definida. Tempos depois, em função das grandes distâncias, novos tribunais foram criados: Rio de Janeiro, em 1751; Maranhão, em 1812; e Pernambuco, em 1821.Vale salientar que a competência dos 4 Documento que indicava a posse da capitania 5 Documento que indicava os direitos do possuidor (Recebimento de taxas, distribuição de terras, etc) 19 Tribunais da Relação compreendiabasicamente três situações processuais: era uma instância recursale, em grau de recurso, recebia dois tipos de recursos: as apelações e os agravos; tinha competência para ações originárias, em certos casos, nas áreas cível, criminal e do patrimônio estatal; competência avocatória em determinadas situações de juízo criminal. Como se vê, não era um Tribunal exclusivamente recursal. c) Tribunal de Justiça Superior: era a terceira e última instância, com sede em Lisboa. Era a chamada Casa da Suplicação, espécie de tribunal de apelação. Com a vinda da família real para o Brasil em 1808, foi transferido para a cidade do Rio de Janeiro. (MACIEL, 2010, p. 134) 1.2 Brasil Império (Constituição de 1824) Com as políticas imperialistas da França, em razão da ascensão de Napoleão Bonaparte, a Família Real Portuguesa foi obrigada a se retirar para a colônia com a ajuda dos Coroa Inglesa. (CASTRO, 2007) Atrelado ao governo inglês, que auxiliou a vinda da família real para cá em 1808, D. João VI teve de ceder a algumas modernizações exigidas pelo capitalismo nascente dos ingleses, como a abertura dos portos (1808). Importante anotar que as tarifas para os produtos ingleses eram extremamente benéficas. Além disso, com a vinda de praticamente toda a corte lisboeta para o Rio de Janeiro, outras medidas administrativas foram tomadas, como a criação do Banco do Brasil em 1810 e a elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal e Algarves em 1815. (MACIEL, 2010, p. 143) Quando a Família Real retornou para Portugal, em razão da saída dos franceses, D. João teve de retornar, deixando seu filho, D. Pedro I, para governar o Brasil que logo assumiria o trono do império . Como consequência da Revolução do Porto, muitos políticos brasileiros participaram como deputados das Cortes convocadas em 1820, adquirindo excelente experiência legislativa. Quando convocada a Assembleia Constituinte no início do Império, essa experiência foi aproveitada, já que muitos retornaram e assumiram postos para a elaboração da nossa primeira Constituição genuinamente nacional. E aí que começam a surgir os primeiros problemas, já que foram tremendamente influenciados pelo pensamento liberal, e o liberalismo tinha como ícones as bem- sucedidas Revoluções Americana e Francesa, cujos princípios não eram facilmente adaptáveis à recente condição de ex-colônia do nosso país. (MACIEL, 2010, p. 148) 20 Convocada a constituinte em 1823, não é de espantar que D. Pedro I a tenha dissolvido logo depois, já que sua composição era de maioria liberal radical, que defendia interesses bons para o novo país, mas totalmente contrários aos dos que detinham o poder real. A solução encontrada, após a dissolução da Assembleia Constituinte, foi concentrar a elaboração da Constituição nas mãos de poucos e, em vez de termos uma Constituição promulgada, tivemos como marco da nossa primeira Lei Maior ter sido ela outorgada. Foi elaborada a Carta Constitucional e outorgada em 11 de dezembro de 1823 Encaminhada para análise dos Estados, entrou em vigor em 25 de março de 1824, data em que foi jurada pelo Imperador. (MACIEL, 2010, p. 148) A nova constituição havia sido outorgada pelo poder monárquico institucionalizando a monarquia parlamentar. Valorizando o individualismo econômico do Estado; Escravocrata, apesar de nada constar em escrito, reflexo de uma vergonha escravista em pleno iluminismo; Centralizando o poder político: [...] instituição de um quarto poder, denominado Poder Moderador, que dava amplos poderes ao detentor do cargo máximo. Essa previsão constava nos arts. 98 a 101 da Constituição. Citamos o art. 99 como exemplo: ‘A Pessoa do Imperador é inviolável e Sagrada: Ele não está sujeito a responsabilidade alguma’ [...] (MACIEL, 2010, p. 149) Também instituído o voto censitário, onde menores de 25 anos e mulheres não votavam, sendo algo exclusivo da classe mais rica. As eleições dos deputados federais e provincianos eram indiretas, sendo os cargos reservados para pessoas que obtinha renda mínima de 400-000 mil-réis. O estado era católico, não laico nem laicista. 1.2.1 Código Criminal de 1830 Este código revogou as Ordenações Filipenas, as quais possuíam penas de carácter cruel e desumano, bem como, davam brechas para o favorecimento de uns em detrimento de outros. O novo código trazia a distinção dos crimes em públicos, privados, e contra os bons costumes, bem como, penas como de morte, galés6, prisão com trabalho, prisão simples, banimento, degredo, privação de direitos políticos, perda de emprego público e multas (MACIEL, 2010). 6 Trabalho em obras públicas 21 O novo código foi uma evolução, com inspiração iluminista e clara influencia dos pensadores da época como Beccaria, trouxe vários princípios que ainda estão em uso no ordenamento jurídico contemporâneo (CASTRO, 2007): Vários princípios gerais de política penal já estavam delineados pelo art. 179 da Constituição do Império, como consta a seguir: "Art. 179. A inviolabilidade dos direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual e a propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela maneira seguinte. 1º) Nenhum cidadão pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude da lei. (...) 5º) Ninguém pode ser perseguido por motivo de religião, uma vez que respeite a do Estado, e não ofenda a moral pública. (...) 8º) Ninguém poderá ser preso sem culpa formada, exceto nos casos declarados na lei; e nestes, dentro de vinte e quatro horas, contadas da entrada na prisão, sendo em cidades, vilas, ou outras povoações próximas aos lugares da residência do juiz e nos lugares remotos dentro de um prazo razoável, que a lei marcará, atenta a extensão do território, o juiz, por uma nota por ele assinada, fará constar ao réu o motivo da prisão, o nome do seu acusador, e os das testemunhas, havendo-as. 9º) Ainda com culpa formada, ninguém será conduzido à prisão, ou nela conservado estando já preso, se prestar fiança idônea, nos casos que a Lei a admite, e em geral, nos crimes que não tiverem maior pena do que a de seis meses de prisão ou desterro para fora da comarca, poderá o réu livrar-se solto. 10) À exceção de flagrante delito, a prisão não pode ser executada senão por ordem escrita da autoridade legítima. Se esta for arbitrária, o juiz que a deu e quem a tiver requerido serão punidos, com as penas que a lei determinar. O que fica disposto acerca da prisão antes de culpa formada não compreende as ordenanças militares, estabelecidas como necessárias à disciplina. 11) Ninguém será sentenciado senão pela autoridade competente, por virtude de lei anterior, e na forma por ela prescrita. (...) 18) Organizar-se-á, quanto antes, um código civil e criminal, fundado nas sólidas bases da justiça e equidade. 19) Desde já ficam abolidos os açoutes, a tortura, a marca de ferro quente, e todas as mais penas cruéis. 20) Nenhuma pena passará da pessoa do delinqüente. Portanto, não haverá, em caso algum, confiscação de bens; nem 22 a infâmia do réu se transmitirá aos parentes em qualquer grau que seja. 21) As cadeias serão seguras, limpas e bem arejadas, havendo diversas casas para separação dos réus, conforme suas circunstâncias e natureza de seus crimes. (MACIEL, 2010, p. 151) Apesar de sua origem iluminista o código nãoavançou muito em questão de justiça, principalmente, em razão da constituição esquecer os escravos e os índios os segregando, assim, lhes dando uma justiça diversa da do esperado. O art. 60 conservou para os escravos a pena de açoites, expressamente extinta pela Constituição; celebrar cultos de outra religião que não a católica continuou sendo considerado crime policial. (MACIEL, 2010, p. 152) Ainda, em razão da execução processual depender do Conselho de Jurados, tribunal do júri da época, o código não pode evoluir a além, sendo que de qualquer forma, era regido pelo próprio costume da época (MACIEL, 2010). 1.2.2 Código de Processo Criminal de 1832 O novo código dava fim à inquisição Filipina, trazendo novos mecanismos para o direito, como o juizado de instrução, de caráter contraditório, o Habeas Corpus e o Conselho de Jurados. O código também era utilizando na área civil, dando autonomia para os municípios. (MACIEL, 2010) Para o código, havia os juízes de direito e os juízes de paz, os quais eram eleitos pela camada mais rica, gerando injustiças na aplicação das leis, havendo uma proteção entre os eleitos e eleitores: O sistema judiciário passa a contar com juízes de direito, juízes municipais, juízes de paz, promotores de justiça e jurados, sendo que em grau de recurso havia as Juntas de Paz ou as Relações (Rio de Janeiro, Salvador, São Luís e Recife). Para o Supremo Tribunal havia apenas o recurso de revista. (MACIEL, 2010, p. 153) Os crimes eram divididos em Públicos e Privados, estes somente movimentados pelo particular: Aqueles davam causa à ação penal promovida pelo promotor público ou por qualquer cidadão, quando cabível a ação penal popular. Já os crimes particulares davam ao ofendido a possibilidade 23 de promover a ação penal. Como no Código Criminal, o que era levado em consideração era a vítima, portanto até mesmo o homicídio era considerado particular, pois ofendia a segurança individual. Devido à ação penal popular, que hoje não mais existe, mesmo quem não fosse vítima poderia promover a ação penal, no caso de ser um crime público. (MACIEL, 2010, p. 153) O processo era de dois tipos, o sumário onde a competência pertencia ao juiz de paz, e o ordinário, onde a competência era do Conselho de Jurados na presidido por um juiz de direito, sendo a fase de aceitação ou renuncia da queixa, bem como julgamento, julgado por ambos. (MACIEL, 2010, p. 153) 1.3 República e Constituição de 1891 Com a queda do Império em razão da revolta dos militares, logo após a guerra do Paraguai, foi instituído um governo provisório para a administração do Brasil. Foi nomeada uma Assembleia constituinte a qual veio a dar origem a Constituição de 1891. (CASTRO, 2007) A nova constituição tinha influencia norte-americana, tornando o Brasil uma república federativa, descentralizando os poderes que antes eram do imperador, em legislativo, executivo e judiciário. Esta constituição trouxe várias mudanças sendo uma delas um novo código Penal. 1.3.1 Código Penal de 1890 O novo código penal já estabelecia os princípios da territorialidade e legalidade conforme seus artigos 1º e 4º respectivamente. Outra inovação foi a distinção de crime e contravenção, no entanto, não como conhecemos hoje, sendo a distinção apenas por definição. (CASTRO, 2007) As penas eram definidas pelo artigo 43, sendo prisão celular, banimento, reclusão, prisão com trabalho obrigatório, e de interdição, na qual o indivíduo ficaria impossibilitado de exercer algumas ações. 1.4 Constituição de 1934 24 O governo Vargas provisório, o qual protelou uma nova constituição desde a época de 1930, foi perdendo força graças a revolução constitucionalista de 1932. Foi montada a assembleia constituinte para uma nova constituição em 1933, com o ressurgimento das antigas oligarquias, sendo eleitos 40 deputados para a realização da constituição. (CASTRO, 2007) A nova constituição foi Publicada em 16 de julho de 1934, onde nela foi preservado o federalismo, presidencialismo e o regime representativo. O maior fato desta constituição é que a assembleia constituinte, mesmo após a publicação da constituição, dava à Getúlio Vargas o direito de permanecer na presidência até 1937 onde ocorreu uma nova constituição. (CASTRO, 2007) 1.5 Constituição de 1937 A instauração do Estado Novo, uma ditadura que possui uma constituição, a qual outorgava todo o poder nas mão de Vargas. Esta constituição, também chamada de Polaca, devido a inspiração com a Carta Polonesa de 1935, mas a principal influencia foi da Itália Facista, a A carta del Lavoro7 e da Cartilha de 1891. (CASTRO, 2007) Para essa constituição, todo poder emana do povo, porém representado pelo presidente, Getúlio Vargas, tido como autoridade suprema do Estado Novo, estando o poder legislativo também nas mão do presidente. (CASTRO, 2007) O presidente também tinha poder de escolher os governantes, e estes por sua vez, tinham o poder de escolher os governantes dos municípios. E nesse contexto que foi criado o Código de processo Penal. 1.5.1 O Código Penal e o Código de Processo Penal de 1941 O código penal, elaborado seu projeto por Alcantara Machado, com 390 artigos, passou por uma revisão em comissão, sendo sancionado por Vargas apenas em 7 de dezembro de 1940, entrando em vigor em 1942. O código acabou por refletir os pensamentos neoclássicos e positivistas. (CASTRO, 2007) O código de processo penal também é um decreto lei imposto por Getúlio Vargas e está vigente até o presente momento, ambos códigos possuem semelhança fascista, em razão da inspiração aos códigos italianos da época. O próprio Vargas possuía admiração aos regimes autoritários. (CASTRO, 2007) O que o Estado Novo possibilitou foi uma guinada mais forte e mais aberta para a centralização política, administrativa, econômica 7 É um documento que ditava as relações de trabalho na Itália fascista de Benito Mussolini 25 demonstrando com mais obviedade uma aproximação ideológica com o fascismo no que diz respeito ao culto ao líder e a tendência ao totalitarismo. (CASTRO, 2007, p. 493) Para Flavia Lages Castro, a legalidade e a extralegalidade andavam juntas, em razão de um estado ditatorial o qual tinha leis advindas de estados fascistas e de cunho criminológico das escolas positivistas. (CASTRO, 2007) Portanto, havia uma repressão aos indivíduos e não aos crimes em si, uma aplicação abusiva o qual a própria constituição permitia. 26 2 PROVAS NO PROCESSO PENAL 2.1 Provas O senso comum entende como prova aquilo que pode ser afirmado e confirmado, seja por um método ou por outro. No entanto, para a conveniência dos estudiosos do direito, há uma vasta gama de doutrinadores que discutem o assunto muito mais a fundo. Para Avena: “Prova é o conjunto de elementos produzidos pelas partes ou determinados pelo juiz visando à formação do convencimento quanto a atos, fatos e circunstâncias”. (AVENA, 2017, p. 315) Porém, Guilherme de Souza Nucci, vai além ao explicar o conceito de prova; diz que, a prova origina-se do latim probatio, probare, que significa ensaiar, verificar, examinar, reconhecer por experiência, aprovar, persuadir alguém a alguma coisa ou demonstrar. Sendo a forma de convencer o juiz da realidade fatídica. Em suma, “A prova vincula-se à verdade e à certeza, que se ligam à realidade, todas voltadas, entretanto, à convicção de sereshumanos.” (NUCCI, 2015, p. 17). Nucci (2015), ainda, informa que a verdade é subjetiva, em relação às certezas pessoais, não sendo o objetivo das partes no processo alcançar a verdade objetiva, mas sim uma verdade subjetiva que se assemelhe ao real e convença o magistrado disso. Fernando Capez, em consonância com os doutrinadores citados, afirma em relação à prova que: [...] é o conjunto de atos praticados pelas partes, pelo juiz (CPP, arts. 156, I e II, com a redação determinada pela Lei n. 11.690/2008, 209 e 234) e por terceiros (p. ex., peritos), destinados a levar ao magistrado a convicção acerca da existência ou inexistência de um fato, da falsidade ou veracidade de uma afirmação. Trata-se, portanto, de todo e qualquer meio de percepção empregado pelo homem com a finalidade de comprovar a verdade de uma alegação. (CAPEZ, 2017, p. 361) Destarte a prova é a evidenciação de um fato ao órgão julgador para a formação de sua convicção, bem como, também, é a parte essencial de um 27 processo, com partes de experiência, demonstração, verificação, convencimento, que forma a verdade processual que meramente se assemelha à real. 2.2 Sentido da Prova Renato Brasileiro de Lima divide a prova em três acepções, devido aos seus vários sentidos, sendo a: Prova como atividade probatória, a qual seria a formação da prova, sua verificação e demonstração, no processo para a convicção do juiz; Prova como resultado, a qual seria a convicção do juízo já formada, comprovada pela atividade probatória que se torna uma verdade processual com um grau de certeza, dando segurança ao julgador para à sentença; Prova como meio: sendo esta simplesmente o instrumento que confirma a situação fatídica (LIMA, 2017). Essa separação também é seguida por Nucci (2015). 2.3. Objeto da Prova Quanto ao seu objeto, Fernado Capez é o que melhor elucida: Objeto da prova é toda circunstância, fato ou alegação referente ao litígio sobre os quais pesa incerteza, e que precisam ser demonstrados perante o juiz para o deslinde da causa. São, portanto, fatos capazes de influir na decisão do processo, na responsabilidade penal e na fixação da pena ou medida de segurança, necessitando, por essa razão, de adequada comprovação em juízo. (CAPEZ, 2012, p. 360) Avena (2017) simplifica o objeto da prova como “são todos os fatos, principais ou secundários, que reclamem uma apreciação judicial e exijam uma comprovação”. 2.3.1. Dos que não são Objeto de Prova Não constituem objeto de prova: a) Fatos axiomáticos8 ou intuitivos: são evidentes; por serem evidentes, não é preciso provar: 8 Inquestionável e incontestável; em que há axioma, princípio evidente por si mesmo. 28 Por exemplo, no caso de morte violenta, quando as lesões externas forem de tal monta que tornarem evidente a causa da morte, será dispensado o exame de corpo de delito interno (CPP, art. 162, parágrafo único). Exemplo: um ciclista é atropelado por uma jamanta e seu corpo é dividido em pedaços. Dispensa-se o exame cadavérico interno, pois a causa da morte é evidente. (CAPEZ, 2017, p. 362) b) Fatos Notórios: é o conhecimento popular, o qual todos tem conhecimento. Para Capez (2017) “É o caso da verdade sabida: por exemplo, não precisamos provar que no dia 7 de setembro comemora-se a Independência, ou que a água molha e o fogo queima.” c) Presunção Legal: “o legislador, por força da experiência, criou regra contra a qual não admite demonstração em contrário (ex.: o menor de 18 anos é penalmente inimputável)” (NUCCI, 2015. p. 20). d) Fatos Inúteis: são os que não colaboram na solução do caso e por isso devem ser evitados, para que haja objetividade no processo. 2.3.2 Espécies Nucci (2015) faz a primeira divisão de provas em típicas e atípicas, sendo a primeira as previstas em lei que possuem procedimento próprio, dando como exemplo a prova testemunhal e a pericial. A segunda, trata-se das provas não prevista em lei, ou o seu procedimento, sendo o exemplo da reconstituição de crime. As provas diretas e indiretas, Avena, quanto ao fato que deve ser demonstrado, elucida que as provas diretas “são aquelas que por si sós demonstram o próprio fato objeto da investigação. Exemplo: o testemunho prestado por determinada pessoa que presenciou um homicídio” (AVENA, 2017, p. 316). Enquanto as provas indiretas: não demonstram diretamente o fato ou podem ser deduzidas. Exemplo: O álibi, se o indivíduo estava em local diferente que ocorreu o crime, na mesma hora, é facilmente deduzido que ele não é o autor do crime. Provas Negativas e Positivas: “positivas as que têm por objeto demonstrar a verdade de um enunciado fático. São negativas (ou contraprovas) as que tendem a demonstrar que um enunciado fático é falso, vale dizer, que o fato não aconteceu” (NUCCI, 2015, p. 20) Também, as provas plenas e não plenas, sendo as plenas a de certeza quanto ao fato, por exemplo, provas testemunhais e documentais. Provas não 29 plenas, podem gerar uma certeza em primeiro momento, porém não podem ser utilizadas como base no processo. Exemplo, o indício ou a Fundada suspeita (AVENA, 2017, p. 316). Avena ainda dispõe mais duas espécies: Provas Reais e Provas Pessoais; sendo a primeira as referentes as que não resultam diretamente de pessoas, dando como exemplo: o cadáver, a arma empregada. A segunda, sendo as que dependem da pessoa, exemplos: o interrogatório, o testemunho, o laudo pericial (AVENA, 2017, p. 316) 2.4 Sistema de Avaliação das Provas Os processualistas dividem em três sistemas, sendo: a) Livre convicção, Sistema da certeza moral do juiz ou da íntima convicção: é um sistema que surgiu em determinado momento histórico, dando maior liberdade na decisão do juiz, não estando ele vinculado a nada, somente a sua própria convicção não precisando fundamenta-la; Avena, ainda, faz a seguinte distinção: “enquanto no livre convencimento o juiz decide (intimamente) e depois tem que motivar sua decisão, na íntima convicção o juiz decide (intimamente) sem a necessidade de exteriorizar as razões de sua convicção.”(AVENA, 2017, p. 318) Capez (2012) e Nucci (2015), salientam que esse sistema ainda é utilizado no Tribunal do Júri, ou Júri Popular, em razão de que não há necessidade dos jurados fundamentarem suas decisões em seus votos individuais. b) Sistema da Prova Legal, da Certeza Moral do Legislador, da Verdade Legal, da Verdade Formal ou Tarifado: neste o juiz está atrelado diretamente ao ordenamento jurídico, não tendo liberdade em formar sua convicção com base no seu empirismo, somente com base nos pesos e medidas do ordenamento jurídico. Para Guilherme de Souza Nucci: [...] é o método mais limitado, ligado à valoração taxada ou tarifada da prova, significando o pre estabelecimento de um determinado valor para cada prova produzida no processo, fazendo com que o juiz fique adstrito ao critério fixado pelo legislador, bem como restringido na sua atividade de julgar. (NUCCI, 2015, p. 23) Há resquícios desse sistema, como ocorre quando a lei exige determinada forma para a produção de alguma prova, v.g., art. 158, CPP, demandando o exame de corpo de delito para a formação da 30 materialidade da infração penal, que deixar vestígios vedando a sua produção através da confissão. (NUCCI, 2015, p. 23) Fernando Capez também cita o mesmo exemplo: Somente vigora como exceção, em hipóteses como, por exemplo, as dos arts. 158 (quando a infração deixar vestígios, nem a confissão do acusado supre a falta do exame de corpo de delito, estando o juizlimitado à prova pericial) e 155, parágrafo único (estado de pessoas somente se prova mediante certidão, não se admitindo a prova testemunhal), do CPP. (CAPEZ, 2012, p. 400) c) Sistema da Livre (não intima) convicção, da Verdade Real, do livre convencimento ou da persuasão racional: é a fusão dos dois sistemas acima citados, no qual o juiz não está ligado a valores probatórios impostos pelo ordenamento jurídico. Porém, precisa, necessariamente fundamentar sua decisão, obedecendo certos prefixos legais, ainda que flexíveis, especificando os elementos de prova que o levaram a criar sua convicção, bem como, somente analisar o que estiver nos autos (CAPEZ, 2012). Nucci (2015), ensina que a decisão motivada deve convencer as partes e a sociedade em abstrato. É o sistema adotado pelo nosso Código de Processo Penal, cujo art. 155, caput (antigo art. 157), com a redação determinada pela Lei n. 11.719/2008, dispõe: “O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas”. Atende às exigências da busca da verdade real, rejeitando o formalismo exacerbado, e impede o absolutismo pleno do julgador, gerador do arbítrio, na medida em que exige motivação. (CAPEZ, 2012, p. 401) 2.5 Meios de Prova Compreende tudo que possa demonstrar a realidade estudada, de forma direta ou indireta, para a formação dos fatos. Podendo ser utilizado qualquer meio de prova, desde que não sejam ilegais, proibidas ou meramente protelatórias. Ensina Fernando Capez: [...] a doutrina e a jurisprudência são unânimes em assentir que os meios de prova elencados no Código de Processo Penal são meramente exemplificativos, sendo perfeitamente possível a produção de outras provas, distintas daquelas ali enumeradas.( CAPEZ, 2012, p. 394) 31 Ensina Nucci que, a ainda há os meios de prova diretas e indiretas, sendo aquelas as que se ligam diretamente com o fato, enquanto a essas, as que se ligam com elementos que levam ao fato. Ex: suspeita sob indivíduo. Ainda, com relação a livre convencimento motivado, devido a esse, o juiz pode valorar a prova indireta como mais relevante em detrimento da direta, desde que motive sua convicção (NUCCI, 2015). 2.6 Ônus da Prova O ônus da prova é a incumbência das partes em se provar o alegado, em detrimento de seu próprio direito caso não alegue, não havendo ilícito em não participar na produção das provas. “Ônus da prova é, pois, o encargo que têm os litigantes de provar, pelos meios admissíveis, a verdade dos fatos” (CAPEZ, 2012, p.396). Sendo necessário a prova quando se alega fato acusatório, cabendo à acusação provar os fatos, podendo a defesa ficar inerte, ou provar o contrário, bem como alegar excludente de ilicitude ou, ainda, fator benéfico ao caso, não invertendo o ônus, mas sim criando um novo ônus para à prova. Desta forma, destaca Capez: [...] cabe provar a quem tem interesse em afirmar. A quem apresenta uma pretensão cumpre provar os fatos constitutivos; a quem fornece a exceção cumpre provar os fatos extintivos ou as condições impeditivas ou modificativas. (CAPEZ, 2012, p. 396). De se notar, porém, que a regra de o “ônus da prova incumbir a quem alega” não é absoluta, uma vez que, conforme o art. 156, II, com a redação determinada pela Lei n. 11.690/2008, é facultado ao juiz de ofício: “deter minar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvidas sobre ponto relevante” (inciso II). Note-se, contudo, que, em razão de nosso Código de Processo Penal adotar o sistema acusatório, e não inquisitivo, tal faculdade de produção de provas pelo magistrado é supletiva, devendo, pois, ser comedida, nesse sentido, sua atuação. Somente em casos excepcionais, quando a dúvida persistir no espírito do magistrado, é que este poderá dirimi-la, determinando as diligências nesse sentido. (CAPEZ, 2012, p. 396-397) Simplifica Avena (2017), que cabe à acusação a prova da existência do fato imputado e a sua autoria, já para a defesa, incumbirá a prova de causas excludentes 32 de ilicitude, de culpabilidade e tipicidade, circunstancias atenuantes, minorantes e privilegiadoras. Claro, somente se alegado. Lembra Nucci que, o ônus da acusação é sempre inflexível e exigível, enquanto o da defesa é flexível e não necessariamente exigível; O ônus do órgão acusatório, quando falho, jamais poderá gerar convencimento favorável à condenação, pois seria este fundamentado em livre convicção íntima, o que é inadmissível (ex cetuado o sistema do Tribunal do Júri). O ônus da defesa, quando falho, pode gerar convencimento favorável ao réu, desde que calcado no princípio da presunção de inocência. Logo, o magistrado, nessa hipótese, estaria absolvendo o acusado não por livre convicção íntima, mas se valendo de princípio constitucional expresso. (NUCCI, 2015, p. 33-34) 2.7 Procedimento Probatório A doutrina divide em quatro fases o procedimento probatório, inclusive AVENA ( 2017): a) Proposição: é a fase na qual as partes propõem ao órgão julgador as provas a serem trazidas para a apreciação. Essa, dividida em duas partes, sendo a referente a acusação, denúncia e queixa, e a segunda da defesa, com resposta à acusação ou defesa prévia. b) Admissão: momento de aceitação pelo órgão julgador das provas postuladas pelas partes. Nos momentos ordinários o julgador somente pode declinar provas que sejam impertinentes ao processo, enquanto, nos momentos extraordinários, pode recusar provas por serem desnecessária ao seu convencimento, desde que fundamentadamente. Lembra Capez (2012), que o incidente de insanidade mental pode ser alegado a qualquer momento, inclusive de ofício pelo juiz. c) Produção: São os atos processuais que trazem para dentro do processo as provas aceitas pelo juízo. 33 d) Valoração: é o momento em que o órgão julgador passa a dar valor a cada prova produzida, utilizando de seu conhecimento e convicção para tanto, então, motiva seu entendimento para dar sua sentença (AVENA, 2017) 2.7.1 Prova Emprestada No entendimento de Fernando Capez: a prova produzida em determinado processo, posteriormente requisitada para outro processo, com as mesmas partes, apenas mérito divergente ou similar. No entanto, é imprescindível que a prova tenha sido produzida perante as mesmas partes do novo processo, proibindo provas que assim não sejam, exemplo: provas de inquérito policial. Parte majoritária da doutrina entender que a prova emprestada não pode figurar contra quem não tenha participado do processo anterior. A prova emprestada sempre será documental, não importando a sua origem, mesmo que seja testemunhal ou pericial (CAPEZ, 2012). 2.8 Princípios Gerais da Prova Princípio do Contraditório: cada prova produzida por uma das partes pode ser criada uma contraprova pela parte contrária, assim como qualquer auto novo no processo as partes são intimadas para se manifestar sobre ele. Ensina Avena: O contraditório consubstancia-se na expressão audiatur et altera parte(ouça-se também a partecontrária), o que importa em conferir ao processo uma estrutura dialética. Assim, se uma das partes arrolou testemunhas, tem a outra o direito de contraditá-las, de inquiri-las e também de arrolar as suas. (AVENA, 2017, p. 317) Princípio da Comunhão: significa que provas trazidas aos ao processo, passam a pertencer ao processo. Isso significa que a parte não podedesistir da prova sem anuência da parte contrária. Porém Avena faz ressalva quanto às testemunhas: Em nome dessa sistemática, por exemplo, é que não se pode, em tese, admitir a desistência da oitiva de testemunha arrolada por um 34 dos polos sem a anuência do outro, pouco importando se quem a arrolou foi a acusação ou a defesa. Dizemos “em tese” porque, na disciplina conferida ao procedimento comum ordinário pela Lei 11.719/2008, dispôs o art. 401, § 2.º, que as partes poderão desistir da inquirição de qualquer das testemunhas arroladas, sem exigir, para tanto, a aquiescência da parte ex adversa. Apesar desta normatização, cremos que, em função do princípio da comunhão da prova, a concordância da outra parte com a desistência de prova oral levada a efeito pela parte contrária deve sim ser uma condição para que possa o magistrado homologá-la. Considere-se, por exemplo, que a defesa não tenha arrolado determinada testemunha pelo fato de esta já se encontrar no rol das testemunhas de acusação. Nesse caso, a desistência incondicional da testemunha pelo promotor implicaria prejuízo ao acusado. (AVENA, 2017, p. 317) Princípio da Oralidade: é o princípio que dá maior prioridade às provas realizadas oralmente, de preferência na presença do juiz que participa de sua produção. Para Avena (2017), este princípio traz mais dois subprincípios, o da concentração e o da imediação: a) Concentração: é o princípio que determina a produção de provas em única audiência. b) Imediação: é o princípio que assegura o contato do juiz com as provas, para que elas se fixe em sua mente para que possa valora-las com maior exatidão e segurança (AVENA, 2017, p. 317) Princípio da Publicidade: este princípio comum no processo em si, é a transparência dos atos processuais para maior segurança pública; Há algumas exceções ao princípio: Art. 93, IX, da CF: “todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação”. (BRASIL, 1988, p. 37) Art. 792, § 1.º, do CPP: “Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou o tribunal, câmara, ou 35 turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte ou do Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o número de pessoas que possam estar presentes”. (BRASIL, 1941, p.674) Art. 201, § 6.º, do CPP: “O juiz tomará as providências necessárias à preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua exposição aos meios de comunicação”. (BRASIL, 1941, p. 629.) Art. 234-B do CP: “Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título (crimes contra a dignidade sexual) correrão em segredo de justiça”. (BRASIL, Decreto Lei nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940, p. 555) Princípio da autorresponsabilidade das partes: “as partes assumem as consequências de sua inatividade, erro ou atos intencionais.” (CAPEZ, 2012, p. 401) Princípio da não auto incriminação: de acordo com AVENA é o princípio que não obriga o réu a se auto acusar, ou produzir provas contra si mesmo, ou fornecer qualquer tipo de indícios, material, padrão de voz ou qualquer outro meio de prova que possa acusa-lo. (AVENA, 2017, p. 318) Princípio do livre convencimento motivado: Princípio apresentado por Capez o julgador tem liberdade na apreciação das provas, de acordo com os fatos e circunstâncias constantes nos autos. (CAPEZ, 2012, p. 402) 2.9 Busca e Apreensão “A prova não é eterna: se for pessoal (CPP, art. 240, § 2º), a pessoa pode falecer ou tornar-se desconhecido seu paradeiro; se for real, o tempo poderá alterá- la ou destruí-la” (CAPEZ, 2012, p. 402). Para Fernando Capez, a busca e apreensão é a forma de se evitar o desaparecimento e o perecimento da prova, sendo realizada durante a investigação ou já na fase processual, porém antes da prisão do indivíduo. 36 Nucci divide o conceito em duas fases, sendo a busca o movimento assecuratório que descobre algo interessante ao processo. A apreensão também é assecuratória, tomando algo de alguém ou de determinado lugar, para que se devolva à vítima, assegurando o seu direito ou, o depositando aos autos para se tornar objeto de prova. Ainda, como meio de assegurar indenização, ou o apreensão do objeto do crime. (NUCCI, 2015) Ensina Avena quanto a natureza jurídica: [...] busca e apreensão, tudo dependerá do caráter de que venha a se revestir. Normalmente, assume natureza de meio de prova, destinada à utilização nas investigações criminais e nos processos judiciais. Pode, contudo, revestir-se de caráter assecuratório de direitos, como ocorre na hipótese de ser efetivada em decorrência de determinação de arresto (art. 137 do CPP), cujo objetivo é garantir o êxito da reparação civil dos danos causados pela prática da infração penal. (AVENA, 2017, p. 416) Pode ser ordenada de ofício pelo juiz ou requerida pelas partes no processo, ou, ainda, pela autoridade policial no inquérito policial. Quando se tratar de busca pessoal juiz e autoridade policial, este somente na decorrência do Inquérito. Ensina Guilherme Nucci (2015) que a Busca não está ligada diretamente à apreensão, ou seja, uma independe da outra. É possível realizar apenas busca e realizar apenas apreensão. Exemplos dados pelo doutrinador: [...] o advogado necessita ingressar na casa da vítima, antes da realização do plenário do júri, para visualizar, pessoalmente, o local e confrontar com o laudo de lugar; impedido por familiares do ofendido, requer ao magistrado um mandado de busca. O movimento volta-se à pesquisa para garantir a plenitude de defesa do réu. Acompanhado do oficial de justiça, ingressa na casa para retirar suas anotações pessoais; [...] (NUCCI, 2015, p. 266) [...] em praça pública, mendigos submetem outro, idoso, a maus- tratos; expede-se, a requerimento do Ministério Público, mandado de apreensão de pessoa (não há necessidade de busca, pois o local é público) para encaminhamento a local adequado. (NUCCI, 2015, p. 266) 2.9.1 Busca Domiciliar e Pessoal O domicílio possui tutela constitucional e por isso é preciso certas situações para se adentrar ao mesmo, com “fundadas razões” (artigo 240 CPP) para tanto. 37 Para a doutrina majoritária o domicílio não tem a interpretação do Código Civil no Código de Processo Penal, tendo a maior interpretação possível: O termo domicílio deve ser interpretado com a maior amplitude possível. Equipara-se, pois, domicílio a casa ou habitação, isto é, o local onde a pessoa vive, ocupando-se de assuntos particulares ou profissionais. Serve para os cômodos de um prédio, abrangendo o quintal, bem como envolve o quarto de hotel, regularmente ocupado, o escritório do advogado ou de outro profissional, o consultório do médico, o quarto de pensão, entre outros lugares fechados destinados à morada de alguém. (NUCCI. 2015, p. 271) Para efeitos da busca e apreensão, compreendemos que o alcance dessa expressão deve ser o mais amplo possível, superando-se o conceito de domicílio previsto no Código Civil segundo o qual se considera como tal o local em que a pessoa se estabelece comânimo definitivo de moradia (art.70) ou onde exerce a sua profissão (art. 72). (AVENA, 2017, p. 417) Para se efetuar a Busca Domiciliar é preciso de mandado, todas as vezes em que a autoridade judicial não a efetuar pessoalmente. A constituição em seu art. 5, XI, fornece as hipóteses em que o interesse público sobressai sobre a garantia da inviolabilidade de domicílio: durante a noite, em casos de flagrante delito, desastres, prestar socorro; Durante o dia, nos casos já citados e com ordem judicial. Capez ensina que após a Constituição de 88, a alínea F do §1º foi revogada em razão da inviolabilidade de domicílio, neste caso, as autoridade administrativas não podem invadir domicílio sem ordem judicial. (CAPEZ, 2012) Na busca pessoal, é preciso haver suspeita fundada, uma base, de alguém que oculte consigo arma proibida, isso engloba também outros objetos ilícitos. É realizada na pessoa, em suas roupas e pertences, inclusive veículo que esteja em sua posse. (NUCCI, 2015, p. 271) Não é preciso mandado judicial, em razão da urgência em que se deve ser realizada, tratando-se de segurança publica e bem maior. A autoridade deve agir com cuidado para não extrapolar o a sua autoridade, com atos invasivos e constrangedores, sendo assim, cometendo o crime de abuso de autoridade. (NUCCI, 2015, p. 271) Nucci ainda elucida a Fundada Suspeita: A fundada suspeita é requisito essencial e indispensável para a realização da busca pessoal, consistente na revista do indivíduo. 38 Suspeita é uma desconfiança ou suposição, algo intuitivo e frágil, por natureza, razão pela qual a norma exige fundada suspeita, algo mais concreto e seguro. Assim, quando um policial desconfiar de alguém, não poderá valer-se, unicamente, de sua experiência ou pressentimento, necessitando, ainda, de algo mais palpável, como a denúncia feita por terceiro de que a pessoa porta o instrumento usado para o cometimento do delito, bem como pode ele mesmo visualizar uma saliência sob a blusa do sujeito, dando nítida impressão de se tratar de um revólver. (NUCCI, 2015, p. 271) Na falta de elementos visíveis, pode-se requerer ao juiz a expedição de mandado de busca pessoal, desde que se forneça algum elemento consistente para que a diligência se realize (ex.: a busca e constatação de uma tatuagem no corpo do suspeito). (NUCCI, 2015, p. 271) 2.9.2 Formalidades O art. 243 do CPP é claro, estabelecendo o conteúdo extrínseco e intrínseco do mandado de busca (e apreensão): a) deve indicar o mais precisamente possível a casa onde se realizará a diligência, o nome do proprietário ou morador (no caso de busca pessoal, o nome da pessoa que terá que sofrê-la ou sinais identificadores); b) o motivo e os fins da diligência; c) assinatura do escrivão e da autoridade (NUCCI, 2015, p. 272) Ensina Nucci, que o procedimento deve ser respeitado, para se evitar arbitrariedades das autoridades, realizando buscas a esmo, sem objetivos específicos, um abuso do poder do estado na persecução; Nossa sugestão é seguir exatamente o que dispõe a lei processual penal, no art. 243, seja em favela ou no bairro mais nobre da cidade, até que se discuta o seu conteúdo, alterando-se a norma para todos os brasileiros. (NUCCI, 2015, p. 274) 2.10 Provas Periciais Perícia é o exame técnico realizado por profissional da área exigida, que possui conhecimentos específicos para o deslinde do objeto a ser periciado como prova. “A perícia é o exame de alguma coisa ou de alguém, realizado por técnicos ou especialistas, em determinados assuntos, que podem fazer afirmações ou extrair conclusões pertinentes ao processo penal” (NUCCI, 2015, p. 63) Possui natureza jurídica de meio de prova que é de forma especial. Pode ser determinada pela autoridade policial na fase inquisitorial (CPP. Art. 6º,VII) ou pelo 39 juiz por meio de ofício(art. 156, II, CPP), sendo corporificada pelo laudo realizado pelo perito. (LENZA. 2013) Há vários tipos de perícia sendo cada uma realizada por profissional da área em que se profissionalizou em determinada matéria, sendo que o médico realiza os exames de necropsia, o psiquiatra os exames psiquiátricos, e etc. (CAPEZ, 2012) Fernando Capez ainda distingue os tipos de perícia como: perícia “percipiendi”: a qual possui caráter técnico porém não valorativa ou conlsuiva; Perícia “deducendi”: a qual é interpretação científica do perito sobre o fato ou objeto; Perícia “intrínseca”: a que envolve elemento inerentes ao criem; Perícia “Extrínseca”: a qual tem por objeto elementos estranhos ao crime, pouco conectados a ele, exemplo objetos danificados na cena do crime; Perícia Vinculatória: a qual o juiz fica vinculado à conclusão do perito, sem efetuar juízo contrário àquela prova; Perícia Liberatória: nesta, prevalece o livre convencimento do juiz; Perícia Oficial: aquela elaborada por perito integrante dos quadros funcionais do Estado; Perícia Psiquiátrica: trata-se daquela que determina a imputabilidade e periculosidade do agente. (CAPEZ, 2012) 2.10.1 Perito O perito é um auxiliar da justiça, que possui conhecimento técnico para a matéria a ser explorada, sendo estranho ás partes, tendo prestado compromisso ao 40 juízo. Podendo ser o perito oficial, o qual passou por concurso público de provas e títulos ou o perito não oficial, trata-se daquele que não está no rol de peritos comuns, ou concursados, a nomeação não pode ser recusada pelo perito, salvo motivo justificável, estando sujeito as sanções da lei. (CAPEZ, 2012) 2.10.2 Exame de Corpo de Delito É o conjunto de vestígios materiais que formam a materialidade da infração. Desta forma o exame de corpo de delito é o auto que comprova a existência do delito, realizado por peritos. Já, o próprio corpo de delito, é o próprio crime. O exame pode ser realizado de forma direta: onde se analisa o próprio corpo de delito – o cadáver, a lesão, o arrombamento; Ou, de forma Indireta: com base nos relatos de testemunhas que gerará uma dedução lógica. (NUCCI, 2016) De acordo com o Código de Processo Penal, em seu artigo 158, o Exame de corpo de delito é sempre exigível quando o delito deixa vestígios. Não havendo vestígios, a prova testemunhal pode substituir o exame, (CPP art. 167). (CAPEZ. 2012) O exame é realizado por um perito, profissional da área, que usa de seus conhecimentos técnicos para determinar as provas, com isso, elaborando o laudo pericial. O laudo é o documento que traz a descrição minuciosa do objeto e os resultados da perícia. (CAPEZ. 2012) 2.11 Interrogatório É o ato jurídico pelo qual o juiz ouve a versão dos fatos do réu. É ato personalíssimo do réu e privativo do juiz. Tem natureza jurídica de prova, pela qual o réu pode se defender dando sua versão dos fatos ou simplesmente ficando em silêncio. Algumas doutrinas considera a natureza como meio de defesa do réu: Com o advento da Lei n. 11.719/2008, que alterou o procedimento comum, reforçou-se a natureza de meio de defesa do interrogatório. Isto porque a nova reforma processual penal instituiu, no procedimento ordinário e sumário, a audiência única (CPP, arts. 400 e 531), em que se concentram todos os atos instrutórios (tomada de declarações do ofendido, inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 41 222, caput, deste Código, esclarecimentos dos peritos, acareações, reconhecimento de pessoas), passando o interrogatório a ser realizado após todos esses atos da instrução probatória. (Vide também CPP, art. 411, com a redação determinada pela Lei n.11.689/2008, a qual alterou o procedimento do júri.). (CAPEZ, 2012, p. 417) Meio de defesa, essencialmente, porque é a primeira oportunidade do acusado para ser ouvido, garantindo-se a sua autodefesa, quando pode narrar a sua versão do fato, negando (ou afirmando) a autoria, além de indicar provas em seu favor. Poderá, ainda, calar-se, sem que se possa extrair daí qualquer prejuízo à sua defesa ou, então, é possível que assuma a prática do delito, alegando excludente de ilicitude ou de culpabilidade. Tal foco (meio de defesa) eleva-se, quando o procedimento prevê a inquirição do acusado ao final da instrução, quando todas as provas já foram colhidas.Por outro lado, não deixa de ser, para a lei brasileira, em segundo plano, um meio de prova. (NUCCI, 2015, p. 96) 2.11.1 Características É um ato processual personalíssimo, somente o réu pode ser interrogado. O ato é privativo do juiz, sendo que só ele pode interrogar o réu, no entanto, com o encerramento do interrogatório, o ministério público ou as partes podem trazer questões ao juiz e, este, as considerando pertinentes, as realizará ao réu, porém são questões meramente complementares. Diante disso, fica mantida a característica de ser o interrogatório um ato privativo do juiz, mesmo com a possibilidade de as partes sugerirem uma ou outra indagação ao seu final, dado ser esta uma atuação complementar e de caráter excepcional. O que não se admite é que o acusado seja tratado como testemunha, submetido a uma bateria de perguntas da acusação, capazes de comprometer sua autodefesa. O juiz deverá estar atento para não desnaturar o ato, impedindo que ganhe contornos de quase inquisitorialidade. (CAPEZ, 2012, p. 419) É imprescindível a presença do defensor durante o interrogatório, que assegure a defesa do réu, podendo ser considerado nulo o interrogatório quando em desacordo com a forma. É ato oral, sendo relativizado quando se tratar de pessoas com deficiências especiais como a surdez ou mudez. 42 Não é ato preclusivo, podendo ser realizado a qualquer momento, por se tratar de defesa do réu. Podendo, ainda, o juiz interrogar novamente o réu, a qualquer momento. Quanto a ausência de interrogatório no processo, Fenando Capez elucida: Há duas posições: os que são pela nulidade relativae os que defendem a nulidade absoluta. Prevalece a tese de que a ausência de interrogatório no curso da ação constitui nulidade absoluta, cujo prejuízo é presumido, uma vez que violado preceito de ordem constitucional, qual seja, o princípio da ampla defesa. (CAPEZ, 2012, p. 422) Mesmo com as novas reformas da lei Lei 11.900/2009, nada impede que o juiz possa realizar o interrogatório por vídeoconferência, porém, não sendo a regra. Ainda, há a possibilidade de se proceder o interrogatório no estabelecimento prisional em que ele se encontra, garantindo a segurança dos envolvidos (art. 185, § 1.º, CPP). No entanto, a regra é a realização da audiência de instrução e julgamento no fórum, com o acompanhamento das partes e do réu escoltado. 2.11.2 Direitos do Réu no Interrogatório Para Capez (2012), durante o interrogatório o réu pode ficar em silêncio, mentir, confessar ou negar as acusações. A Constituição de 88, em seu art. 5º, LXIII, consagrou o direito ao silêncio, sem que isso traga prejuízos ao réu no decorrer da ação. O réu pode mentir durante o interrogatório, tendo em vista que não presta juramento ou compromisso, não havendo sanção para a sua mentira. O interrogatório, quando se tratar de pessoa analfabeta e com deficiência, pessoa estrangeira, surdo-mudo, será realizado de modo diverso. No caso do estrangeiro, será realizado com interprete de sua língua; do surdo-mudo as perguntas serão escritas, se haver apenas uma das deficiências ele pode responder oralmente ou escrever suas respostas, de acordo com sua peculiaridade. (CAPEZ, 2012) O réu tem o direito de delatar outro autor dos fatos, como ensina Carpez: Delação ou chamamento de corréu é a atribuição da prática do crime a terceiro, feita pelo acusado, em seu interrogatório, e pressupõe que o delator também confesse a sua participação. Tem o valor de prova testemunhal na parte referente à imputação e admite reperguntas por 43 parte do delatado (Súmula n. 65 das Mesas de Processo Penal da USP). (CAPEZ, 2012, p.430) 2.11.3 Conteúdo Quando iniciado o interrogatório o juiz irá individualizar o réu, lhe questionando sobre seus familiares, local que mora, onde trabalha, para que não ocorra equívocos quantos a pessoa. As questões desse cunho, também tem o objetivo de individualizar a personalidade do réu, para que possa se analisar o seu contexto social, suas oportunidades e desvantagens, se já foi preso ou processado, se cumpriu pena e etc. Após a individualização do indivíduo, o Juiz colocará a par das acusações o réu, bem como todos os elementos que a acusação dispõe, para que possa se situar em sua defesa. Então, após esses procedimentos, inicia-se a auto defesa do réu, na qual ele pode confrontar os elementos apresentados com sua versão dos fatos, ou ficar em silêncio. (CAPEZ, 2012) Ensina Capez: De acordo com o art. 187, § 2º, do CPP, ele será indagado sobre: ‘I — ser verdadeira a acusação que lhe é feita; II — não sendo verdadeira a acusação, se tem algum motivo particular a que atribuí- la, se conhece a pessoa ou pessoas a quem deva ser imputada a prática do crime, e quais sejam, e se com elas esteve antes da prática da infração ou depois dela; III — onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e se teve notícia desta; IV — as provas já apuradas; V — se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por inquirir, e desde quando, e se tem o que alegar contra elas; VI — se conhece o instrumento com que foi praticada a infração, ou qualquer objeto que com esta se relacione e tenha sido apreendido; VII — todos os demais fatos e pormenores que conduzam à elucidação dos antecedentes e circunstâncias da infração; VIII — se tem algo mais a alegar em sua defesa’.(CAPEZ, 2012, p. 430) 2.11.4 Confissão A confissão é aceitação de autoria de fato criminoso, pelo réu, diante da autoridade judiciária. (CAPEZ, 2012) Melhor elucida Nucci: Confessar, no âmbito do processo penal, é admitir, contra si, a prática de fato criminoso, por quem seja suspeito ou acusado de um crime, tendo pleno discernimento e fazendo-o de forma voluntária, expressa e pessoal, diante da autoridade competente, em ato solene e público, reduzido a termo. (NUCCI, 2015, p.129) 44 Nucci ensina que a confissão é um ato solene, tem seu próprio rito e não deve possuir vícios. A aceitação deve ser voluntária, não havendo nenhum tipo de coação ou ardil para tanto, deve ser realizada pessoalmente pelo réu e de forma expressa e na presença do órgão julgador, em ato solene e público. Se em determinado momento do interrogatório, o réu prestou informação desfavorável à sua defesa, isso não é tratado como confissão, apenas como declaração contrária ao seu interesse, mesmo que em sede de inquérito policial. (NUCCI, 2012) A confissão deve ser reduzida a termo, sendo sua forma unicamente oral não considerada como confissão. Ou seja: “se a declaração for produzida solene, pessoal e voluntariamente, diante da autoridade competente, reduzida por escrito, tratando-se de admissão de fato criminoso, será uma autêntica confissão, caso a parte tenha discernimento para fazê-lo”. (NUCCI, 2012, p.132) Destarte, a confissão tem natureza jurídica de prova, em razão de ser não englobar outros sentidos que a própria definição de prova. (NUCCI, 2012) Fernando Capez, divide os tipos de confissão
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