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PSI0344 – DINÂMICA E TERAPIA FAMILIAR 5. Modelo sistêmico: princípios básicos Vânia Tatagiba 1 Ênfase no distúrbio mental: Tradicional – origem no próprio indivíduo. Sistêmico - expressão de padrões inadequados de interação familiar. Fundamenta-se: A Cibernética - Wiener (1943-47) Teoria Geral dos Sistemas – Bertallanfy (1950-68) 2 Cibernética é o estudo dos autocontroles (controle automático) encontrados em sistemas estáveis, sejam eles mecânicos, elétricos ou biológicos. - Wiener - Trabalhou uma arma apontada para um alvo móvel. - É igualmente aplicável aos sistemas físicos e sociais. Norbert Wiener (1894 -1964) - fundador da teoria cibernética. - Autocontrole do sistema por meio da comunicação - Especial atenção à retroalimentação(Feedback) aos seus conceitos derivados. - Está estreitamente vinculada à Teoria Geral de Sistemas - Tanto nas suas origens como na sua evolução (meados do século XX). 3 Origem - matemática, física e engenharia da década de 1940. foco - modelos da estrutura e funcionamento de unidades mecânicas e biológicas organizadas. - Combinação de conceitos do pensamento sistêmico e da biologia (sistema endócrino) em uma teoria universal dos sistemas vivos - sistemas sociais. - Sugeria o estudo dos sistemas globalmente, de forma a envolver todas as suas interdependências - para constituir uma unidade - a qualidades que não se encontram em seus componentes isolados. Ludwig Von Bertalanffy (biólogo 1950-68) - Teoria Geral dos Sistemas (T.G.S) - Negava o pensamento cartesiano 4 Um dos fundadores da escola de Palo Alto - ponto de partida a cibernética e a teoria dos sistemas para buscar um modelo da comunicação. Articulador entre os modelos cibernéticos e sociais na compreensão do funcionamento da família. Família como um sistema - ignoravam os sistemas mais amplos: comunidade, cultura e política em que as famílias estão inseridas. O sistema cibernético - metáfora útil para descrever como as famílias mantêm sua estabilidade. Gregory Bateson (1904-1980) - biólogo , antropólogo, pensador sistêmico e epistemólogo da comunicação – Membro do grupo de Palo Alto 5 Palo Alto - Consideraram a T.G.S - famílias como unidades organizadas - O todo é sempre maior que a soma de suas partes. Muda o foco - do indivíduos padrões de relacionamentos. Foco nos input (entrada) e output (saída) – processamento (comunicação, comportamento). Ambos podem ter consequências desejáveis ou indesejáveis. Positivo - quando uma família continua funcionando como uma unidade coesa quando ameaçada por um conflito ou estresse. Negativo - resistir à mudança – a família não consegue se reajustar para acomodar o crescimento ou a mudança. Diferença entre enfoque 6 Família como Sistemas abertos: opostos aos sistemas fechados (por exemplo, as máquinas) - intercâmbio contínuo com seu ambiente. • Ênfase na interação dentro e entre sistemas versus reducionismo. O modelo sistêmico 1º Conceito de Globalidade: toda e qualquer parte do sistema se relaciona com os demais - a mudança em um elemento determina mudanças em todos e no todo. Função do sintoma – Homeostase Ex: os pais desviam seus conflitos para um dos filhos os pais – ou ao contrário. Terapeuta - tendência de simpatizar com as crianças e ver os pais como opressores. 7 2º Retroalimentação (feedback) - parte da energia de saída de um sistema volta à entrada, alterando-a. Padrões de comunicação - ligados em cadeias como circuitos de feedback. A estabilidade familiar é obtida pelo feedback que regula o comportamento da família e de seus membros. Sempre que o sistema familiar é perturbado - ele tenta manter sua estabilidade ou homeostase. O comportamento sintomático tem a função de preservar o equilíbrio familiar. O modelo sistêmico 8 Gregory Bateson - estudo da comunicação Entendimento da comunicação patológica e de sua manutenção no interior da família - análoga a um sistema homeostático; Família - sequências padronizadas de comportamentos - garantem a organização familiar e permitem a previsibilidade do comportamento de seus membros. O modelo sistêmico 9 As regras – mantém o padrão e a repetição do sistema familiar O sistema se estabiliza e se equilibra em torno de certas transações - regras Regras - na maioria das vezes não são verbalizadas - vinculadas aos valores culturais - são em grande parte desconhecidas pela família. O modelo sistêmico 10 Feedback negativo - as famílias empregam para impor as regras (culpa, punição, sintomas) - função de conservar o equilíbrio. Ex: sistema de aquecimento – F Negativo = quando esfria (corrigir erros). F Positivo – direção de correção – circuito de feedback - podem ser P ou N – efeito sobre o desvio. A resistência a mudanças mantém os padrões de interação = homeostasia; Feedback positivo - leva o sistema familiar a transformações de seus padrões de transação - sentido evolutivo. Padrões disfuncionais - resultado da dificuldade de reorganização; Homeostasia e Transformação - processos básicos de manutenção da família. O modelo sistêmico 11 Subsistemas -> pais – esposos – filhos (interação por dentro) Cada subsistema tem limites e características específicas que estão vinculadas aos valores da sociedade e cultura; Cada membro da família funciona como um subsistema; Outros Sistemas Humanos -> meio ambiente – subsistemas (interação entre sistemas) O modelo sistêmico: família e organização social As interações ocorrem nos limites ou fronteiras de cada subsistema Limites ou fronteiras: Delimitam as características de cada subsistema. Garantem a diferenciação que se desenvolvem nas interações ou trocas com os demais subsistemas. Características específicas quanto à natureza e função – Permeabilidade Ausência – patológico – fechada ao contato externo; Total – patológico – estado de indiferenciação; Semipermeáveis – saudável – permitem as trocas e a diferenciação. (Calil, 1987) O modelo sistêmico: família e organização social Diferentes percepções, crenças e necessidades em contexto relacional - bases de conflito na família. Família funcional - aliança entre os pais, flexibilidade diante do conflito. Família disfuncional - rigidez diante do conflito, intolerância, relação triangular. Triangulação - desviar o conflito entre duas pessoas ao envolver uma terceira, estabilizando o relacionamento entre o par original. Ex: “Sua mãe está sempre atrasada!" "Seu pai nunca deixa ninguém mais dirigir”. A triangulação tende a estabilizar os relacionamentos - mas também manter o conflito. (Nichols, 2007) O modelo sistêmico: família e conflito 14 Ansiedade - maior influência na triângulos O envolvimento de uma terceira pessoa diminui a ansiedade na dupla ao espalhá-la por três relacionamentos. O envolvimento triangular de uma ou mais crianças no conflito marital, geralmente resulta numa disfunção na criança. As fronteiras generacionais são rompidas; A família torna-se reativo emocionalmente uns com os outros; Excessiva dependência x Autonomia limitada; Acriança não é vítima passiva nesta situação. (Calil, 1987) CRIANÇA TRIANGULADA 15 Formas específicas de triangulação Green (1981) Criança superprotegida - fragilização da criança (física ou psicológica). Os pais se unem para ajudar a criança; Bode expiatório - um tipo de comportamento desviante por parte da criança – (caráter impulsivo ) – se torna alvo da agressividade dos pais e entre os pais; Competição entre os pais - leva a criança a tomar partido no conflito marital; Coalizão cross-generacional rígida - pacto entre dois membros, aliançada criança com um dos pais - O pai periférico pode se distanciar da vida familiar ou competir com a criança pela atenção do outro - inversão de papéis (criança como figura de pai ou mãe). (Calil, 1987) CRIANÇA TRIANGULADA 16 Palo Alto 1952 - Gregory Bateson iniciou seus estudos sobre a natureza da comunicação. Equipe: Jay Haley (ciência e comunicação); John Weakland (engenheiro químico); William Fry (psiquiatra). 1954, Don Jackson, (psiquiatra e consultor clínico) reuniu-se ao grupo para estudar a comunicação esquizofrênica Eles definiram os axiomas (princípios) da comunicação. - O passado é abandonado como questão central pois o foco de atenção é o modo comunicacional no momento atual. - O comportamento sintomático é visto como uma resposta necessária e apropriada ao comportamento comunicativo que o provocou. (Calil, 1987) O modelo sistêmico: família e comunicação 17 1ª Axioma - as pessoas estão sempre se comunicando. Uma vez que todo comportamento é comunicativo, e uma vez que ninguém pode não se comportar, disso decorre que ninguém pode não comunicar. A importância de uma mensagem não está vinculada somente ao significado, mas à influência que ela exerce no comportamento, nas atitudes das pessoas em interação. Jackson (1968) - três modalidades básicas de comunicação descrevem os relacionamentos. Simétricos - caracterizados na igualdade e diferença. Posição saudável: Aceitação mútua, respeito, confiança, confirmação do próprio Eu e aceitação do outro. Posição patológica: Competição e rivalidade, rejeição do Eu do outro. (Calil, 1987) O modelo sistêmico: família e comunicação 18 Complementares - caracterizados nas diferenças que se encaixam. Posição patológica: Posições antagônicas rígidas, desconfirmação do Eu do outro (superior x inferior). Posição saudável: Confirmação recíproca das qualidades do outro. Recíprocas - simétrica e complementar. Tanto os comportamentos complementares como os simétricos podem ser apropriados, dependendo do contexto da situação. O problema surge quando uma relação se cristaliza, tornando-se rigidamente simétrica ou complementar. (Calil, 1987) O modelo sistêmico: família e comunicação 19 2º axioma - Toda mensagem tem dois níveis: relato e comando; a metacomunicação é o comando implícito ou a mensagem qualificadora. Relato (ou conteúdo) - transmite informações, mas simultaneamente impõem um comportamento. Comando - refere-se à espécie de mensagem e como (forma) ela deve ser entendida – metacomunicação. (Calil, 1987) O modelo sistêmico: família e comunicação 20 Duplo vínculo (coação dupla) - situação que se estabelece quando uma pessoa se vê diante de mensagens simultâneas de aceitação (amor) e rejeição. Significa que toda mensagem possui dois níveis de comunicação: o nível de relatório – envolve a informação enviada; o nível metacomunicativo - envolve a transmissão congruentes ou incongruentes da mensagem sobre a informação. Os pacientes não estavam loucos de uma maneira autônoma - uma extensão de um ambiente familiar louco. (Calil, 1987) O modelo sistêmico: família e comunicação 21 Duplo vínculo Se essa pessoa receber duas mensagens relacionadas, mas contraditórias, em diferentes níveis, e tiver dificuldade para detectar ou comentar a inconsistência, essa pessoa está em um duplo vínculo. O filho é punido se discriminar corretamente a mensagem da mãe e é também punido caso discrimine incorretamente. Quando uma pessoa se encontra numa situação de duplo-vínculo, responde defensivamente, de maneira similar ao esquizofrênico. (Calil, 1987) O modelo sistêmico: família e comunicação 22 Características do duplo vínculo: Duas ou mais pessoas em um relacionamento importante. 2. Experiência repetida 3. Imposição negativa primária, tal como: “Não faças isto ou te castigarei” ou “Se não fizeres isto, eu te castigarei”. (Nichols, 2007) O modelo sistêmico: família e comunicação 23 Características do duplo vínculo: 4. Segunda ordem em um nível mais abstrato que entra em conflito com a primeira - reforçada por punição ou ameaça. 5. Uma terceira imposição negativa que proíbe escapar ou exige uma resposta. Sem essa restrição, a "vítima" não se sentirá obrigada - reforça os outros níveis. 6. A pessoa tem dificuldade para detectar ou comentar a inconsistência – qualquer parte da sequência torna-se suficiente para desencadear pânico ou raiva. (Nichols, 2007) Obs. A partir do enfoque sistêmico, várias escolas de terapia familiar se desenvolveram (Calil, 1987 Pgs. 30-33) O modelo sistêmico: família e comunicação 24 Referências O modelo sistêmico, p. 17-33 in: CALIL,Vera L. Lamanno. Terapia familiar e de casal. 7ª ed. São Paulo: Summus, 1987. 172p NICHOLS, Michael P. e SCHWARTZ Richard C. Terapia familiar: conceitos e métodos; tradução Maria Adriana Veríssimo Veronese. 7ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. 480
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