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GASTROENTEROLOGIA CIRÚRGICA – AULA 01 – MEGAESÔFAGO O megaesôfago se remete a uma dilatação do órgão. Além de megaesôfago, pode ser chamado de ACALÁSIA. 1. RELEMBRANDO A ANATOMIA O esôfago é um órgão muscular, que serve para a condução do alimento da cavidade oral para o estômago. Seu início se da a partir do esfíncter esofagiano superior (músculo cricofaríngeo), e se estende pela região cervical (6 – 7cm), região torácica (16 – 20cm) e região abdominal (2cm), terminando no esfíncter esofagiano inferior (transição esofagogástrica). Sua porção cervical é irrigada pela artéria tireoidiana inferior; Sua porção torácica é irrigada por ramos diretos da artéria aorta; Sua porção abdominal é irrigada por ramos da artéria frênica. Em sua parede existem as camadas: mucosa (mais interna), submucosa (inervação – plexo mioentérico), muscular (circular e longitudinal) e adventícia. OBS: O esôfago não possui camada serosa. Plexos mioentéricos: Onde ocorre a doença do megaesôfago. Plexo de Meissner e Plexo de Auerbach 2. ETIOLOGIA Idiopática: Envolve fatores auto-imunes (quadro inflamatório que destrói os plexos mioentéricos). Doença de Chagas: Acalásia secundária 2.1. DOENÇA DE CHAGAS Na América Latina a Doença de Chagas é a maior causa de megaesôfago. O trypanossoma cruzi é o protozoário causador da Doença de Chagas. A transmissão ocorre por um inseto hematófago que ao picar o indivíduo e defecar na “ferida”, faz com que o protozoário chegue a corrente sanguínea causando uma infecção aguda (febre, calafrios, hepatoesplenomegalia e edema bipalpebral – sinal de romaña). Na fase mais crônica da doença os protozoários já estão instalados em áreas mais específicas como coração (miocardiopatia chagásica) e esôfago (megaesôfago). O teste sorológico para determinar se há infecção pelo trypanossoma cruzi é o Teste de Machado Guerreiro. 3. FISIOPATOLOGIA Ocorre destruição dos neurônios dos plexos mioentéricos (Meissner e Auerbach), localizados da camada submucosa do esôfago devido aos protozoários. Esses plexos possuem neurônios inibitórios da contração muscular, e são produtores de óxido nítrico (relacionado ao relaxamento da fibra muscular). A destruição desses neurônios inibitórios está relacionada a um quadro inflamatório crônico (infiltrado inflamatório mononuclear). Os neurônios colinérgicos, ou seja, excitatórios da contração muscular, são preservados. A destruição dos plexos mioentéricos provoca falha no relaxamento do esfíncter esofagiano inferior PRINCIPAL! Quando o paciente deglutir, o alimento terá dificuldade de ultrapassar essa barreira do esfíncter, e assim acaba se acumulando no esôfago. Com o passar do tempo, o acúmulo de alimentos e líquidos na luz do esôfago faz com que haja dilatação permanente do órgão. Essa destruição dos plexos também causa aperistalse, uma diminuição das ondas peristálticas, e até mesmo atonia (o esôfago perde totalmente a capacidade de contrair a sua musculatura), e isso também leva a estase de alimentos na luz do órgão. Como há dificuldade de transpor o esfíncter, a musculatura tenta fazer mais força para “empurrar” o alimento, o que leva a uma hipertrofia e hiperplasia das fibras musculares Com a evolução da doença, quando já houver atonia, vai haver adelgaçamento e diminuição das fibras musculares, causando perda de tonicidade muscular do esôfago. Portanto: No início temos hipertrofia e espessamento da parede, e posteriormente adelgaçamento e perda da tonicidade muscular. 4. SINTOMAS Disfagia progressiva Começa com sólidos, depois pastosos e depois líquidos, e a disfagia geralmente ocorre na região do esôfago torácico, na altura do apêndice xifoide. Desnutrição e perda de peso Importante porque o paciente desnutrido provavelmente terá um grau de imunossupressão, e dificuldade de cicatrização. Pirose (azia estomacal) O alimento parado no esôfago pode fermentar e ficar com PH ácido, o que leva a esofagite e pode ser confundido com refluxo. Por isso, deve ser feito o diagnóstico diferencial de doença do refluxo gastroesofágico. Odinofagia Regurgitação Tosse Dor torácica (retroesternal) O alimento parado dentro do esôfago começa a incomodar. Deve fazer diagnóstico diferencial de síndrome coronariana. Pneumonia de repetição, infecção de vias aéreas, sinusite O alimento parado dentro do esôfago pode fazer com que o paciente comece a ter microaspirações para dentro da árvore respiratória, causando infecções. Sialorreia Excesso de saliva devido à dificuldade de deglutição do alimento. Hipertrofia da glândula parótida Ocorre em quadros avançados. O paciente fica com fácies felina. 5. EXAMES COMPLEMENTARES Raio X de tórax É um exame inicial, serve para ver dilatação e presença de nível hidroaéreo no mediastino. Endoscopia digestiva alta Verificar outras causas. Esofagografia baritada Radiológico Contrastado do Esôfago – EED (estudo contrastado de esôfago-estômago-duodeno) Estudo manométrico do esôfago – EEI Com tônus basal (acima de 26 mmHg) e extensão aumentados. USG 5.1. ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA Exame obrigatório principalmente para pacientes com queixa de disfagia. Não é o melhor exame para diagnóstico, porém deve ser feito para descartar possibilidade de neoplasias, esofagite.. O paciente pode ter megaesôfago e mesmo assim ter uma endoscopia normal O paciente pode não ter uma obstrução mecânica, mas sim uma disfunção motora do órgão. 5.2. ESOFAGOGRAFIA BARITADA É mais barato que a manometria O paciente ingere contraste e observamos durante a deglutição. Podemos ter imagens de dilatação do esôfago, e uma imagem típica que é o afilamento do final do esôfago (bico de pássaro, ou ponta de lápis). Em casos mais avançados 5.3. RADIOLÓGICO CONTRASTADO DO ESÔFAGO – EED Classificação de Mascarenhas (diâmetro): Grau I: Até 4cm Megaesôfago incipiente. Grau II: De 4 a 7cm Grau III: De 7 a 10cm Grau IV: Mais de 10cm Classificação de Rezende (1982): Grau I: Diâmetro do esôfago normal, com transito lento e coluna retida de meio de contraste de nível plano. Grau II: Pequena/moderada dilatação, retenção evidente da coluna baritada e contrações terciárias (ondas assimétricas e sem coordenação, totalmente patológicas). Grau III: Grande dilatação, grande retenção de contraste, hipotonia ou atonia. Grau IV: Grande dilatação com tortuosidade OBS: Essa classificação é utilizada para direcionar o tratamento do paciente, que varia de acordo com o grau. 5.4. ESTUDO MANOMÉTRICO DO ESÔFAGO – EEI Em casos iniciais, ou de megaesôfago incipiente, esse exame é padrão ouro. É colocado um cateter pelo nariz do paciente e durante o trajeto pelo esôfago há vários manômetros medindo a pressão intraluminal do esôfago (obrigatoriamente deve haver um no esfíncter esofagiano superior e um no inferior). Durante a deglutição é verificado que a pressão do esfíncter esofagiano inferior não diminui, e assim ele não relaxa Fechamento de diagnóstico! Pode mostrar também que há diminuição da amplitude das ondas peristálticas e até mesmo aperistalse no corpo do esôfago. Em torno de 50% dos pacientes há hipertonia do esfíncter esofagiano inferior durante o repouso. 6. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Divertículos esofágicos Distúrbios funcionais Ingestão de agentes cáusticos DRGE Neoplasias Esclerodermia 8. TRATAMENTO Medicamentoso: Medicações que ajudam a relaxar o esfíncter esofagiano inferior Dinitrato de isossorbita Nifedipina Verapamil,diltiazem.. 7. COMPLICAÇÕES E AFECÇÕES ASSOCIADAS 70% - Alterações motoras no cólon 50% - Alterações cardíacas 10% - Acalasia do piloro 5% - Megaduodeno 2,8% - Carcinoma espinocelular (CEC). OBS: Esses medicamentos não possuem boa eficácia a longo prazo, porque perdem sua eficiência. Endoscópico: Toxina botulínica Bloqueia a contração muscular, relaxando o esfíncter esofagiano inferior (não é tratamento definitivo, mas alivia os sintomas por algum tempo). POEM (miotomia endoscópica peroral) Abre a mucosa e faz um túnel até chegar ao esfíncter esofagiano inferior, e na altura dele faz uma queima da musculatura (miotomia) para que ele possa relaxar. Dilatação pneumática Sonda com balão que dilata o esfíncter esofágico inferior (não é tratamento definitivo, mas alivia os sintomas por algum tempo). Bom tratamento para paciente muito idoso porque é pouco invasivo, não há necessidade de internação.. Cirurgia de Heller: Esôfago cardiomiotomia. É o tratamento clássico e mais feito para megaesôfago. Pode ser feito por laparotomia ou vídeo laparoscopia. Aqui também se corta a musculatura do esfíncter esofagiano inferior (que chega até a cárdia). Causa refluxo gastroesofágico no paciente, e por isso deve ser feita uma esofagofundoplicatura (válvula anti- refluxo). Geralmente há boa resposta em pacientes com grau I até III (este pode não responder tão bem, porque mesmo que abra o esfíncter, pode continuar a reter resíduo devido a falta de motricidade). Cirurgia de Dor: Esofagofundoplicatura anterior Cirurgia de Serra Doria: Faz-se uma anastomose entre esôfago e fundo gástrico. Essa cirurgia causa muito refluxo, e por isso muitas vezes é retirado o antro gástrico (que produz gastrina). Não é mais tão indicada. Esofagectomia subtotal transhiatal: Esofagogastroplastia cervical. Em pacientes com megaesôfago grau IV, onde o esôfago já está tão dilatado que perdeu totalmente sua anatomia, e mesmo que abra o esfíncter, ainda vai reter alimento dentro dele. Não retira todo o esôfago, é deixada uma parte da porção cervical para fazer anastomose com o tubo gástrico. OBS: Antes de tratar deve observar muito bem o perfil clínico do paciente e estadiamento da doença, e somente depois escolher o tratamento mais indicado para ele. EX: Não adianta pegar um paciente jovem com megaesôfago grau IV e ficar tentando tratar com toxina botulínica, o mais indicado é fazer a esofagectomia. EX: Não adianta pegar um paciente idoso com megaesôfago grau IV e querer fazer esofagectomia, porque ele pode morrer durante a cirurgia. Um dos tratamentos poderia ser a toxina botulínica. 9. CASO CLÍNICO Um paciente foi atendido com o diagnóstico de acalásia chagásica comprovada por sorologia e exame contrastado de esôfago, que indicou megaesôfago grau I, bastante sintomático. O paciente apresentou, ainda, megacólon. Não havia evidencia de comprometimento cardíaco. Na avaliação pré-operatória, não havia nenhuma contra-indicação ao tratamento cirúrgico. Em uma situação como a apresentada e com a concordância do paciente, indique qual seria a melhor abordagem para o caso. Cirurgia de Heller (esôfago cardiomiotomia) com válvula anterior tipo Dor
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