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AN02FREV001/REV 4.0 101 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE FARMÁCIA HOSPITALAR Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 102 CURSO DE FARMÁCIA HOSPITALAR MÓDULO III Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 103 MÓDULO III 17 NUTRIÇÃO PARENTERAL: NUTRIENTES E VIAS A Nutrição Parenteral (NP) consiste na administração total ou parcial, por via intravenosa, dos nutrientes necessários à sobrevivência do paciente, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar. A NP é indicada nos casos em que a alimentação oral não é possível ou é indesejada, quando a absorção de nutrientes é incompleta e, principalmente, quando as condições citadas estão associadas ao estado de desnutrição. Entre as indicações clássicas desta terapia nutricional estão: Pré-operatório – portadores de desnutrição com doenças obstrutivas no trato gastrintestinal alto; Complicações cirúrgicas pós-operatórias – fístulas intestinais, íleo prolongado e infecção peritoneal, síndrome do intestino curto; Pós-traumática – lesões múltiplas, queimaduras graves, infecção; Desordens gastrintestinais – vômitos crônicos e doença intestinal infecciosa; Moléstia inflamatória intestinal – colite ulcerativa e doença de Crohn; Insuficiências orgânicas – insuficiência hepática e renal; Condições pediátricas – prematuros, má-formação congênita do trato gastrointestinal e diarreia crônica intensa. AN02FREV001/REV 4.0 104 17.1 VIAS DE ADMINISTRAÇÃO O teor calórico da formulação, a osmolaridade e as condições do acesso venoso do paciente são importantes na escolha do acesso preferencial para a administração da formulação. Dessa forma, a NP pode ser administrada por vias central ou periférica. A NP central é administrada por meio de uma veia de grande diâmetro, geralmente veia cava superior, átrio direito, veia cava inferior, subclávia, jugular interna ou a criação cirúrgica de uma fístula arteriovenosa que chega diretamente ao coração. A alta osmolaridade da formulação infundida (três a oito vezes a osmolaridade do plasma, que é aproximadamente igual a 277,5mOs/I) requer que a administração seja feita em veias de grosso calibre, com grande fluxo sanguíneo, para evitar dor, tromboflebite e hemólise. A inserção de cateter por via percutânea, embora limite a flexibilidade do cotovelo, pode ser usada em pacientes onde a punção da veia subclávia não foi bem-sucedida. A colocação percutânea de um cateter na veia femoral inferior pode ser usada quando outras veias superiores não estão disponíveis, como na ocorrência de trombose de ambas as subclávias ou da veia cava superior. Este tipo de acesso tem sido usado com sucesso variável. A NP periférica é administrada por meio de uma veia menor, geralmente na mão ou antebraço. Pelo acesso venoso periférico podem ser administradas no paciente apenas soluções hipotônicas e hiposmolares (inferior a 600mOsm/l), a fim de evitar o aparecimento de flebite e outras complicações mecânicas e metabólicas. As soluções podem ser infundidas por gravidade por meio de equipos de infusão contendo filtros clarificantes, com capacidade variada de retenção de partículas (15-20µm), bem como podem ser administradas com o auxílio de bombas de infusão, sob a forma contínua ou intermitente. Ambos os métodos são satisfatórios, desde que assegurem a profilaxia das alterações sensíveis nos níveis de glicemia, bem como um controle rigoroso do ritmo AN02FREV001/REV 4.0 105 de gotejamento, de tal forma que o paciente receba o maior percentual possível das calorias e nutrientes prescritos. A NP deve ser infundida em velocidade constante, sendo que grandes alterações na velocidade podem resultar em hiper ou hipoglicemia importantes. Devido às elevadas concentrações de glicose, a infusão deve ser iniciada gradualmente, para evitar a hiperglicemia e permitir uma melhor adaptação metabólica do paciente. Não é muito preocupante a toxicidade cardíaca resultante da infusão na veia cava superior de soluções contendo altas concentrações de glicose e eletrólitos, porque essas soluções são rapidamente diluídas pelo alto fluxo sanguíneo. Entretanto, é importante observar o volume e a velocidade de infusão em pacientes com restrições volêmicas, cardiopatas, hepatopatas e nefropatas. Os pacientes que recebem a NP devem ser submetidos a um rígido controle clínico e laboratorial, antes e durante a administração da NP, para identificar as anormalidades metabólicas que requeiram tratamento. 17.2 COMPLICAÇÕES MECÂNICAS, SÉPTICAS E METABÓLICAS 17.2.1 Complicações pela inserção do cateter A maior parte das complicações está relacionada à lesão das estruturas vizinhas às veias puncionadas. Ocorrendo, também, complicações na punção percutânea da veia subclávia e na veia jugular interna. Além dessas, podem também ocorrer lesões do endotélio vascular, embolias e repercussões cardíacas. A punção da veia danifica a parede venosa, o que estimula a trombose local. A presença de um corpo estranho intravenoso potencializa a trombose. As complicações de trombose da veia central incluem tromboflebite séptica, perda de acesso venoso, síndrome da veia cava superior, extravasamento da infusão, dificuldade de retorno venoso da extremidade superior e embolia pulmonar. AN02FREV001/REV 4.0 106 17.2.2 Complicações sépticas Os pacientes que necessitam de NP são frequentemente predispostos a complicações por infecção como resultado da desnutrição, do uso frequente de antibióticos de largo espectro e pelas infecções concomitantes de ferimentos, do trato urinário ou dos pulmões. E particularmente comum a presença de Candida na urina e cavidade oral desses pacientes. O cateter venoso pode tornar-se infectado pelas causas mais diversas. A contaminação do cateter atinge índices de até 30% e constitui potencial foco de infecção. As bactérias associadas com este tipo de infecção são cocos gram- positivos (Staphilococus aureus, Staphilococus epidermidis, Enterococos) e gram- negativos (Pseudomonas, Serratia marcescens, Kiebsiela pneumoniae). Admite-se até 15 colônias bacterianas por placa em culturas semiquantitativas, como sendo compatível com colonização. Os sinais clínicos da infecção são: febre, calafrios, hipotensão arterial, taquicardia, confusão mental e glicosúria. A taxa de infecção do cateter central pode ser reduzida quando um protocolo é rigorosamente seguido. O cateter infectado pode determinar outros focos de infecção, tais como endocardite bacteriana, tromboflebite séptica, embolia séptica, broncopneumonia, artrite infecciosa. AN02FREV001/REV 4.0 107 17.2.3 Complicações metabólicas Além das complicações mecânicas e sépticas da NP, podem ocorrer numerosas complicações metabólicas. É importante monitorizar ospacientes e detectar quaisquer sintomas clínicos causados pelas anormalidades metabólicas. 17.2.3.1 Glicosúria O adulto normal pode tolerar a infusão de até 400g a 500g de glicose durante 24 horas sem dificuldade. Com o incremento gradual da infusão de glicose em vários dias, podem ser metabolizadas até 1000g/dia. Contudo, os pacientes com estresse grave, desnutrição, sepse, diabetes e pacientes muito jovens ou muito idosos são, frequentemente, intolerantes à glicose e podem desenvolver hiperglicemia acentuada e glicosúria, até mesmo com quantidades mínimas de infusão de glicose. 17.2.3.2 Síndrome hipoglicêmica As concentrações séricas de insulina têm sido medidas antes, durante e após a NP. Em um pâncreas normal ocorre rapidamente uma elevação no nível sérico de insulina com a infusão de carboidratos, alcançando um nível estável de quatro a seis vezes o valor da secreção basal dentro de seis horas. A secreção inicial de insulina é proporcional à quantidade de glicose infundida. Com o tempo, tanto as concentrações sanguíneas de glicose como as de insulina decrescem, talvez como resultado da menor resistência a insulina nos tecidos periféricos. AN02FREV001/REV 4.0 108 A interrupção da infusão de carboidratos, mesmo depois de prolongada administração, está associada com uma queda de insulina aos níveis séricos normais dentro de 30 minutos. Quando a NP é interrompida abruptamente, ocorre geralmente uma rápida diminuição na concentração sérica de insulina e a normalização da concentração sanguínea de glicose. Os sintomas da hipoglicemia na sua forma hiper-reativa se exteriorizam pela sintomatologia de ansiedade, tremores, sudorese, tonteira, cefaleia, palpitação, palidez e taquicardia. 17.2.3.3 Hipofosfatemia O desenvolvimento de hipofosfatemia acentuada, durante a administração de soluções de NP pobres em fosfato, pode ocorrer precocemente nos pacientes, mesmo nas primeiras 24 horas, e isso está bem documentado. O mecanismo pelo qual a concentração de fosfato sérico diminui é apenas parcialmente conhecido. As perdas renais de fosfato medidas são mínimas, a ligação do fosfato com aminoácidos parece ser insignificante, e a concentração sérica de fósforo retorna tipicamente ao normal após o término da NP. Os sintomas de carência de fósforo são caracterizados por fraqueza muscular, parestesia circum-oral e periféricas, disartria e alterações respiratórias, podendo chegar ao coma, convulsões e morte. O tratamento da hipofosfatemia deve ser, inicialmente, preventivo. A manutenção de fósforo nas formulações-padrão de NP total ou parcial é rotineira pela adição de sais de fosfato na forma de fosfato do sódio ou de potássio. AN02FREV001/REV 4.0 109 17.2.3.4 Hipomagnesemia As perdas de magnésio não precisam ser elevadas para levar a hipomagnesemia. Os sintomas clínicos podem ocorrer com uma perda total pequena, como 35mEq a 100mEq. O magnésio tem função no metabolismo intermediário, tem ação fundamental no trabalho do coração, diminuindo a irritação cardíaca e aumentando o fluxo coronariano. A sua carência manifesta-se por alterações do sistema nervoso central e do sistema neuromuscular assemelhando- se bastante com as manifestações produzidas pela carência de cálcio. Todos os sintomas clínicos são reversíveis com a reposição do magnésio e podem ser evitados pela administração de manutenção. As necessidades para manutenção do magnésio são mais elevadas durante a NP do que durante a nutrição oral normal. 17.2.3.5 Concentrações séricas de lipídios A NP como um sistema misto de fontes energéticas, pode levar ao aumento sérico das concentrações de colesterol e triglicerídeos em pacientes com alterações no metabolismo de lipídios. A infusão de lipídios deve ser interrompida ou reduzida para só evitar as complicações da hiperlipidemia. 17.2.3.6 Deficiência de ácidos graxos essenciais Pacientes em uso prolongado de NP total, tendo como fonte calórica exclusiva a glicose, podem apresentar depois de algum tempo alterações clínicas e laboratoriais características da deficiência de ácidos graxos essenciais. A sua AN02FREV001/REV 4.0 110 carência é traduzida por urna série de alterações, manifestadas principalmente pelo aparecimento de lesões cutâneas características. 17.2.3.7 Alterações Hepáticas As alterações hepáticas costumam ser transitórias e não deixam sequelas. Manifestam-se pelo aumento da transaminase glutâmico-pirúvica (TGP), que costuma estar elevada geralmente cinco vezes o seu valor normal, enquanto que a transaminase glutâmico-oxalocética (TGO) fica em nível mais reduzido. O mecanismo de aparecimento das alterações hepáticas na NP está longe de ser elucidado. O mais certo é que uma soma de fatores seja responsável pelo seu aparecimento. 17.2.3.8 Vitaminas A ocorrência de alterações relacionadas ao excesso ou carência de vitaminas não chega a constituir problema nos pacientes que estão fazendo uso de NP. A observância estrita as indicações quanto ao seu uso, dose requerida e frequência de administração impedem praticamente o aparecimento de quadros clássicos de hipervitaminoses. Pode ocorrer carência provocada pelo armazenamento prolongado de soluções previamente preparadas, por exemplo, ocasionando perda da atividade do retinol, que pode acarretar um quadro de cegueira noturna. O aporte insuficiente do ergocalciferol pode levar ao aparecimento de hipocalcemia. AN02FREV001/REV 4.0 111 17.2.3.9 Alterações ósseas Pacientes recebendo NP total prolongada poderão apresentar alterações do metabolismo ósseo. As manifestações clínicas são caracterizadas por intensa dor periarticular e das extremidades, associadas a alterações ósseas como osteomalácia, hipercalciúria, hipercalcemia intermitente, diminuição do cálcio ósseo e níveis reduzidos de paratormônio circulante. Outra complicação do NP com alterações ósseas é o raquitismo. 17.3 COMPOSIÇÃO DA NUTRIÇÃO PARENTERAL O suporte nutricional ótimo, tanto para a manutenção como para a repleção da composição corporal normal, em um indivíduo normal ou portador de algum tipo de patologia, depende de uma provisão adequada. Deve incluir carboidratos, gorduras, aminoácidos, eletrólitos, minerais, oligoelementos e vitaminas. A formulação de NP é um procedimento que deve ser adaptado às necessidades individuais de cada paciente beneficiário. Assim, a formulação de NP deve sofrer alteração em sua composição na medida da variação das condições mórbidas do paciente. A prescrição inicial baseia-se na determinação das necessidades calórico- proteicas do paciente, e metas do suporte nutricional. Deve-se fazer um requerimento diário de todos os macro e micronutrientes para obter uma indicação adequada. AN02FREV001/REV 4.0 112 17.3.1 Macronutrientes 17.3.1.1 Fontes nitrogenadas Em torno de 95% do nitrogênio corporal total estão localizados nas proteínas do organismo. Por sua vez, a proteína seguindo-se a água corporal total, é o principal constituinte da maioria das células, exceto dos adipócitos. O balanço de nitrogênio depende tanto da administração de N2 como da de energia. Se alguma delas for insuficiente, ocorrerá uma perda real de N2 ou balanço nitrogenado negativo. O aporte diário de nitrogênio e o consequente balanço nitrogenado, que demonstraassimilação ou perda de proteína corporal total, estão intimamente relacionados com a quantidade N2, de energia, e de micronutrientes administrados em conjunto, e deve ser norteado pelo tipo de patologia de cada paciente, em face das alterações respectivas na eliminação urinária de N2. Os aminoácidos para NP estão disponíveis comercialmente, por meio de um grande número de fabricantes, como aminoácidos cristalinos sintéticos. Uma vantagem significativa das soluções de aminoácidos sobre os antigos hidrolisados de proteínas é que existe uma flexibilidade para a alteração das quantidades de vários aminoácidos. Produtos específicos têm sido desenvolvidos para recém-nascidos e lactentes, pacientes hepatopatas, nefropatas e para estados de hipermetabolismo, como sepse. Cada grama de aminoácidos fornece 3,6kcal. AN02FREV001/REV 4.0 113 17.3.1.2 Fontes de carboidratos A glicose é utilizada como fonte calórica exclusiva, por ser a hexose mais termodinamicamente estável. As necessidades calóricas variam para cada paciente e podem ser facilmente atingidas pela alteração no volume da formulação a ser infundida. A glicose encontra-se disponível por meio de grande número de produtos farmacêuticos em concentrações que variam de 5% a 70%, em recipientes de 10ml a 2.000ml. Cada grama de glicose mono-hidratada fornece 3,4kcal. 17.3.1.3 Fontes de lipídios As emulsões de lipídios constituem fontes seguras e eficazes de calorias não proteicas devido à alta densidade calórica, isotonicidade, baixa toxicidade e existência de ácidos graxos essenciais ao ser humano. Essas emulsões intravenosas são preparadas principalmente a partir de triglicerídeos de cadeia longa obtidos da semente de soja ou, ainda, em combinação com os triglicerídeos de cadeia média, provenientes do óleo de coco. Estão disponíveis comercialmente em concentrações de 10% e 20% em frascos de 50, 100, 250 e 500ml. A oferta calórica da emulsão lipídica 10% é de 1kcal/ml enquanto que a da emulsão lipídica 20% é de 2kcal/ml. AN02FREV001/REV 4.0 114 17.3.2 Micronutrientes 17.3.2.1 Vitaminas As vitaminas são compostos orgânicos necessários em pequena quantidade para o crescimento normal, para manutenção do estado físico e para a reprodução. Elas diferem dos outros nutrientes orgânicos, uma vez que não entram para a estrutura tecidual e não sofrem metabolização para o fornecimento de energia. Também possuem papel metabólico importante, atuando como cofatores de enzimas no metabolismo intermediário e também na profilaxia de deficiências clínicas e subclínicas. As necessidades diárias para pacientes em terapia nutricional parenteral são especulativas quanto às demandas específicas, necessárias para cada estado patológico. No entanto, são definidas pela American Medical Association/Nutrition Adersory (AMA/NAG), recomendações diárias para pacientes adultos e pediátricos com saúde estável. Há no mercado farmacêutico polivitamínicos com composição apropriada à manutenção diária de vitaminas para adultos e crianças em terapia nutricional parenteral. 17.3.2.2 Eletrólitos O sódio, o cloro, o potássio, o cálcio, o magnésio e o fosfato são os minerais necessários em quantidades acima de 200mg/dia. Esses micronutrientes são essenciais para a manutenção do balanço hídrico, da função cardíaca, da mineralização do esqueleto, da função dos sistemas nervosos, muscular e enzimático. A repleção nutricional envolve a formação de unidades teciduais, contendo protoplasma e líquido extracelular, em proporção e composição fixas. Se tanto um AN02FREV001/REV 4.0 115 elemento protoplásmico (potássio, fósforo), quanto um elemento extracelular não estiverem presentes, a unidade de protoplasma e o líquido correspondente não poderão ser sintetizados. 17.3.2.3 Oligoelementos Os oligoelementos são os metais inorgânicos que apresentam necessidades diárias menores do que 100mg e cujas reservas no organismo são menores do que 4g. Qualquer elemento é considerado “essencial” se esse for eliminado da dieta e surgir um estado de deficiência clínica, e se esse estado for revertido com a reintrodução daquele elemento na dieta. São considerados oligoelementos essenciais para o organismo humano: ferro, iodo, zinco, cobre, cromo, manganês, selênio, molibdênio e cobalto. 17.4 OSMOLARIDADE DAS SOLUÇÕES A osmolaridade é a medida da concentração das partículas osmoticamente ativas na formulação. Especificamente, osmolaridade refere-se ao número de miliosmoles por litro de formulação. Osmolaridade refere-se ao número de miliosmoles por quilo de água. Ambas são medidas da pressão osmótica exercidas pela formulação. Clinicamente, os dois termos podem ser considerados equivalentes. Os nutrientes que mais influenciam na osmolaridade têm uma formulação, são principalmente os açúcares mais simples (monossacarídeos, dissacarídeos), sais inorgânicos que se dissociam em íons quando em solução dos bivalentes dos monovalentes. Em menor grau, o cloreto de sódio (NaCI), os peptídeos menores e os aminoácidos cristalinos. Os lipídios não influenciam na osmolaridade, tendo em vista serem praticamente insolúveis em água. AN02FREV001/REV 4.0 116 17.5 NOVOS SUBSTRATOS EM NUTRIÇÃO PARENTERAL Novos substratos em NP vêm sendo pesquisados a fim de minimizar os problemas de incompatibilidades entre os nutrientes, bem como trazer benefícios terapêuticos. Formulações a base de fósforo orgânico têm sido utilizadas visando eliminar a clássica incompatibilidade entre cálcio e fósforo, sendo compatível com cálcio sob a forma de gluconato, sem quaisquer limites de concentração e perfeitamente estável em formulações de NP. Com isso, a oferta de íons cálcio e fósforo não ficam restritos a concentrações predeterminadas por estudos de estabilidade, geralmente inferiores às necessidades específicas, notadamente na neonatologia e pediatria. Na conduta clínica, a oferta dos íons cálcio e fósforo fica normalmente restrita a 1,0mMol/kg/dia, enquanto que a taxa de oferta uterina é de aproximadamente de 2,5mMoI/kg dia. Além disso, a utilização do fósforo orgânico evitaria que fossem infundidos no paciente os cristais de fosfato de cálcio resultantes da reação química indesejada entre o gluconato de cálcio e o fosfato de potássio, que poderiam acumular-se nos alvéolos pulmonares levando à embolia pulmonar e ao óbito. Outros substratos, como a arginina, glutamina e ácidos graxos w3, vêm sendo utilizados como suplementos no suporte nutricional de portadores de patologias diversas, entre elas o câncer, com o objetivo não apenas de fornecer substrato nitrogenado e calórico, mas também como imunomoduladores a fim de ampliar os mecanismos de defesa imunológicos e, consequentemente, melhorar o prognóstico do paciente. AN02FREV001/REV 4.0 117 17.6 REQUISITOS ESTRUTURAIS, AMBIENTAIS E FÍSICOS DO SETOR DE NUTRIÇÃO 17.6.1 Estrutura física A farmácia destinada a preparação de NP deve ser localizada, projetada e construída de forma a se adequar às operações desenvolvidas e assegurar a qual idade das preparações, possuindo, no mínimo os seguintes ambientes: Área de manipulação; Sala de limpeza e higienização dos produtos farmacêuticos e correlatos; Sala de manipulação; Vestiários; Áreas de armazenamento; Área de dispensação. Os ambientesdevem ser protegidos contra a entrada de aves, animais, insetos, roedores e poeira. Devem possuir superfícies internas (pisos, paredes e teto) lisas, sem rachaduras, serem facilmente laváveis, resistentes aos desinfetantes e que não desprendam partículas. As áreas e instalações devem ser adequadas e suficientes ao desenvolvimento das operações, dispondo de todos os equipamentos e materiais de forma organizada e racional, objetivando evitar os riscos de contaminação, misturas de componentes e garantir a sequência das operações. Na área de manipulação, limpeza e higienização são vedadas a existência de ralos. Nas demais áreas, os ralos devem ser fechados. A iluminação e ventilação devem ser suficientes para que a temperatura e a umidade relativa não deteriorem os produtos farmacêuticos e correlatos, bem como a precisão e o funcionamento dos equipamentos. AN02FREV001/REV 4.0 118 As salas de descanso e o refeitório devem ser separados dos demais ambientes e distantes da área de manipulação. As áreas de manipulação de NP devem ter dimensões que facilitem ao máximo a limpeza, a manutenção e as operações. Nestas áreas, todas as superfícies devem ser revestidas de material resistente aos agentes sanitizantes, lisas e impermeáveis para evitar acúmulo de partículas e microrganismos, possuindo cantos arredondados. Deve ser independente e exclusiva, dotada de filtros de ar para retenção de partículas e microrganismos, garantindo os graus de limpeza do ar recomendados. Além disso, deve ser prevista a instalação de Capela de Fluxo Laminar do tipo horizontal, classe 100. A entrada na área de manipulação deve ser feita exclusivamente por meio de antecâmara (vestiário de barreira). Os vestiários devem ser ventilados, com ar filtrado com pressão inferior à da área de manipulação e superior à da área externa. As portas das câmaras devem possuir um sistema de travas e de alerta visual e/ou auditivo para evitar a sua abertura simultânea. Os lavatórios devem possuir torneiras ou comandos do tipo que dispensem o contato das mãos para o acionamento da água. Junto ao lavatório deve existir provisão de sabão líquido e antisséptico e recurso para secagem das mãos. A área de armazenamento deve ter capacidade suficiente para assegurar a estocagem ordenada das diversas categorias de produtos farmacêuticos, correlatos e materiais de embalagem. Deve ser providenciada área separada para a estocagem de produtos farmacêuticos, correlatos, materiais de embalagem e NP reprovados, recolhidos ou devolvidos. Os equipamentos devem ser localizados, projetados, instalados, adaptados e mantidos de forma a estarem adequados às operações a serem realizadas. A estrutura dos equipamentos deve visar à minimização dos erros e permitir que os mesmos sejam efetivamente limpos e assim mantidos para que sejam evitados a contaminação cruzada e o acúmulo de poeiras e sujeira, e qualquer efeito adverso sobre a qualidade da NP. Além disso, os equipamentos devem ser validados e periodicamente verificados e calibrados, conforme procedimentos e especificações escritas e devidamente registradas. AN02FREV001/REV 4.0 119 17.6.2 Barreira de isolamento Foi proposto o desenvolvimento de uma área para preparação de produtos estéreis que mantivesse a esterilidade com um nível assegurado em conformidade com a Technical Assistance Bulletin on Quality Assurance for Pharmacy Prepared Sterile Products (ASHP). Foi verificado que o emprego de sistemas de barreira de isolamento era o método preferencial para o preparo de produtos estéreis. Este sistema deve ser baseado na concentração específica e no tamanho das partículas de ar. O sistema de barreira de isolamento é formado por quatro componentes: a estrutura física, o ambiente interno, a tecnologia de interação e o sistema de monitoramento. Para criar um ambiente asséptico, o farmacêutico deve entender de cada um dos componentes e decidir quais materiais devem ser usados na construção, quantos filtros usar e onde devem se localizar, como melhor reduzir a contaminação na área e melhores formas de monitorizar a limpeza da sala de ar. A avaliação de cada componente deve ser feita com base na durabilidade, funcionalidade e custo. A tecnologia da barreira de isolamento foi desenvolvida para remover pessoas do ambiente de preparo de produtos intravenosos e eliminar a forma primária de contaminação. A barreira de isolamento é constituída pela sua estrutura física, pelo seu ambiente interno, a tecnologia de interação e sistemas de monitoramento. 17.6.2.1 Estrutura física da barreira de isolamento O sistema de barreira de isolamento possui um revestimento duro e outro macio. O revestimento duro pode ser de plástico, vidro ou aço inoxidável, enquanto o revestimento macio é feito por filme de plástico mole. Quando escolher o material AN02FREV001/REV 4.0 120 para o revestimento, deve-se considerar a durabilidade e integrabilidade do sistema com superfícies laváveis e que possibilitem a visualização das operações internas. 17.6.2.2 Ambiente interno da barreira de isolamento O mais importante neste elemento, é a quantidade de sistemas de fluxo de ar necessária para o ambiente interno quando comparada com a tecnologia do fluxo laminar. Sistemas de barreira de isolamento dão a impressão de maior segurança pela natureza da sua construção. Ainda que não existam requerimentos para filtração do ar exaurido, uma boa prática é usar um filtro de partículas de alta eficiência (HEPA) para filtrar algum ar que saia da barreira de isolamento. Barreiras de isolamento são sistemas fechados que precisam de um nível de proteção entre os ambientes externo e interno. A filtração HEPA é capaz de capturar partículas maiores do que 0,3p.m, mas vapores e pequenas gotículas passam através deste nível de filtração. 17.6.2.3 Tecnológica de interação da barreira de isolamento Permite que os operadores interajam com o processo ou equipamentos contidos no sistema da barreira, utilizando luvas. As luvas devem ser selecionadas de acordo com o material, espessura e habilidades manuais. Half-suits, outra tecnologia de interação, são desenvolvidos para aumentar a capacidade e áreas expandidas dentro da barreira de isolamento. As desvantagens são as dificuldades de limpeza e acesso de entrada e saída. AN02FREV001/REV 4.0 121 17.6.2.4 Sistema de monitoramento da barreira de isolamento São usados para determinar se a unidade está operando dentro dos padrões designados. Uma especificação típica das tecnologias de interação é que a barreira de isolamento deve ter uma pressão positiva capaz de manter uma ordem de pressão de ar equivalente a 0,025 a uma polegada da pressão da água. 17.7 BOAS PRÁTICAS DE MANIPULAÇÃO DA NUTRIÇÃO PARENTERAL As Boas Práticas de Preparação da NP (BPPNP) estabelecem as orientações gerais para aplicação nas operações de preparação (avaliação farmacêutica, manipulação, controle de qualidade, conservação e transporte) das NPs bem como os critérios para aquisição de produtos farmacêuticos, correlatos e materiais de embalagem. É indispensável à efetiva inspeção durante todo o processo de preparação das NPs de modo a garantir ao paciente a qualidade do produto a ser administrado. 17.7.1 Estrutura organizacional Toda farmácia deve ter um organograma que demonstre possuir estrutura organizacional e de pessoal suficientes para garantir que a NP por ela preparada esteja de acordo com os requisitosdeste regulamento. O pessoal deve ser qualificado e em quantidade suficiente para o desempenho de todas as tarefas preestabelecidas, para que todas as operações sejam executadas corretamente. AN02FREV001/REV 4.0 122 17.7.2 Recursos humanos e responsabilidade As atribuições e responsabilidades individuais devem estar formalmente descritas e perfeitamente compreendidas pelos envolvidos, que devem possuir preparo técnico suficiente para desempenhá-las. Cada prescrição médica deve ser aviada pelo farmacêutico, onde é avaliada a compatibilidade dos componentes e suas concentrações antes da sua manipulação. O farmacêutico e o responsável pela preparação da NP devem possuir conhecimentos científicos e experiência prática na atividade, para assegurar: A aquisição de produtos farmacêuticos, correlatos e materiais de embalagem com qualidade; A manipulação da NP de acordo com a prescrição médica utilizando procedimentos adequados; A implementação dos procedimentos relativos às operações de preparação, de validação do processo e calibração dos equipamentos; A educação continuada do pessoal técnico, farmacêutico, manutenção e limpeza de tal forma que todos os funcionários conheçam a BPPNP. 17.7.3 Saúde, higiene e conduta A admissão dos funcionários deve ser precedida de exames médicos, sendo obrigatória a realização de avaliações médicas periódicas dos funcionários diretamente envolvidos na manipulação da N1, atendendo à NR 7 /MT – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO). Não é permitido conversar, fumar, comer, beber, mascar ou manter plantas, alimentos, bebidas, fumo e medicamentos pessoais nas áreas de manipulação. Os procedimentos de higiene pessoal e a utilização de roupas protetoras devem ser AN02FREV001/REV 4.0 123 exigidos a todas as pessoas para entrarem na área de manipulação, sejam elas funcionários, visitantes, administradores ou inspetores. 17.7.4 Vestuário A colocação dos uniformes e calçados, bem como a higiene preparatória para entrada nas áreas limpas deve ser realizada em áreas de vestuário e seguir o procedimento recomendado e documentado para evitar contaminação. Os uniformes e calçados utilizados nas áreas limpas devem cobrir completamente o corpo, serem esterilizados e substituídos a cada sessão de trabalho. 17.7.5 Material Deve haver especificação técnica detalhada e documentada de todos os materiais necessários à preparação da NE, de modo a garantir que a aquisição atenda corretamente aos padrões de qualidade estabelecidos. Os recipientes devem manter a esterilidade, estabilidade e apirogenicidade da NP durante a sua conservação, transporte e administração. Todos os materiais devem ser armazenados sob condições apropriadas, de modo a preservar a identidade e integridade dos mesmos, separação dos lotes e a rotação do estoque. 17.7.6 Seleção do recipiente O sistema preparado deve estar protegido de trocas com o meio externo. São utilizados frascos de vidro, bolsas de poli-(etileno-acetato de vinila) – o EVA – e bolsas de cloreto de polivinila (PVC). Os recipientes para o envase devem ser AN02FREV001/REV 4.0 124 transparentes, sem pigmentos ou corantes, quimicamente inertes, estéreis e apirogênicos. As bolsas têm sido muito úteis no preparo e administração das soluções, devido tanto à flexibilidade na capacidade de acondicionamento, como ao fato de serem inquebráveis. Bolsa de poli-(etileno-acetato de vinila), ou EVA O EVA é um policarboneto quimicamente inerte e esterilizável até 108°C. Está sendo muito utilizado no preparo das soluções por não interagir com os constituintes da formulação, sendo o material plástico mais apropriado como recipiente de NP e recomendado para o uso. Bolsa de cloreto de polivinila (PVC) O PVC é uma substância dura, frágil e inflexível; plastificadores como o dietil- hexilftalato (DEHP) são adicionados para dar flexibilidade. O DEHP é um lipídio solúvel, possivelmente carcinogênico, hepatotóxico e teratogênico para produtos que tenham PVC contendo misturas lipofílicas. Foi feito um estudo para inibir a quantidade de DEHP liberado das bolsas de PVC contendo NP total. Neste estudo, verificou-se que a toxicidade da exposição a DEHP em humanos não foi bem esclarecida. Entretanto, é recomendado que seja evitada a permanência de soluções de NP em bolsas de PVC por longo período que antecede o momento da administração. AN02FREV001/REV 4.0 125 17.7.7 Técnicas de preparo da nutrição parenteral O preparo das formulações difere de acordo com a conveniência da instituição e deve atender às Boas Práticas de Manipulação de Nutrição Parenteral. 17.7.7.1 Preparo com misturadores automáticos Em hospitais que possuem um grande consumo de NP, são utilizados aparelhos especialmente desenvolvidos com bombas de transferência, destinados ao preparo automatizado das soluções. Este método tem a vantagem de trazer rapidez no preparo e ser flexível, atendendo as prescrições individualizadas de cada paciente. Após o preparo da formulação base, alguns misturadores possibilitam de forma programada a adição dos eletrólitos, oligoelementos e vitaminas. Outros misturadores propiciam que os aditivos sejam colocados individualmente, ou ainda, se estiverem sendo preparadas várias bolsas da mesma fórmula, pode ser preparada uma bolsa que sirva de reservatório de aditivos estáveis quimicamente, que pode ser adaptada a uma das entradas do misturador automático. 17.7.7.2 Preparo utilizando soluções parcialmente prontas Para auxiliar no preparo de soluções de NPs nos hospitais que possuem recursos limitados e consumo pequeno, estão disponíveis comercialmente soluções parcialmente prontas de diferentes tipos, com frascos, bolsas ou compartimentos contendo aminoácidos cristalinos e glicose hipertônica, com ou sem eletrólitos. As soluções são misturadas imediatamente antes da administração, fornecendo AN02FREV001/REV 4.0 126 parcialmente os substratos necessários à alimentação do paciente, os quais podem ser acrescidos à formulação ou administrados em misturas intravenosas. 17.7.7.3 Preparo de lotes Alguns hospitais usam o sistema de preparo de lotes no qual são colocadas soluções de aminoácidos e glicose em um grande tanque de aço inoxidável, esterilizados pela passagem em um filtro esterilizante de 0,22µm. São realizadas culturas da formulação no início, durante e no final do procedimento de preparo. A validade das soluções é determinada em 30 dias para cada lote e a formulação deve ser armazenada no escuro, sob refrigeração a 3°C. 17.7.7.4 Rotulagem e embalagem Toda NP deve apresentar rótulo com as seguintes informações: nome do paciente; número do leito e registro hospitalar; composição qualitativa de todos os componentes; osmolaridade; volume total; velocidade da infusão; via de acesso; data e hora da manipulação; prazo de validade; número sequencial de controle e condições de temperatura para conservação e transporte; nome e registro do farmacêutico no conselho de classe. 17.7.7.5 Conservação e transporte Toda NP deve ser conservada sob refrigeração, em geladeira exclusiva para medicamentos, com temperatura de 2°C a 8°C. O transporte das soluções deve ser feito em recipientes térmicos exclusivos de modo a garantir que a temperatura se mantenha em torno de 2°Ca 20°C durante AN02FREV001/REV 4.0 127 o tempo de transporte, que não deve ultrapassar 12 horas, além de protegida de intempérie e da incidência direta da luz solar. 17.7.7.6 Validação O procedimento de manipulação asséptica deve ser validado para garantir a obtenção da formulação estéril e com qualidade. A validação deve seguir procedimento escrito que inclua a avaliação da técnica adotada, por meio de um procedimento simulado. Devem abranger a metodologia empregada, o manipulador, as condições da área e dos equipamentos. A validação do procedimento de manipulação deve ser realizada antes do efetivo início das atividades de uma farmácia. Sempre que houver qualquer alteração nas condições validadas, o procedimento deve ser revalidado. É recomendado que a competência técnica do manipulador seja revalidada, pelo menos uma vez ao ano ou toda vez que houver alteração significativa do processo. As validações e revalidações devem ser documentadas e os documentos arquivados durante cinco anos. 17.7.7.7 Prazo de validade Toda formulação de NP deve apresentar no rótulo um prazo de validade com indicação das condições para a sua conservação. A determinação do prazo de validade pode ser baseada em informações de avaliações da estabilidade fisioquímica dos fármacos e considerações sobre a sua esterilidade ou por meio de realização de testes de estabilidade. AN02FREV001/REV 4.0 128 17.8 ESTABILIDADE E COMPATIBILIDADE DA NUTRIÇÃO PARENTERAL A complexidade da formulação de NP é susceptível a incompatibilidades físico-químicas. Incompatibilidade é o fenômeno físico-químico responsável pela formação de um novo produto inadequado (por aumento de toxicidade ou por precipitação) no momento de preparo ou quando estão sendo infundidas as soluções de NP. O maior risco de incompatibilidade na NP é quando macroprecipitados excedem o tamanho de 5µm a 7µm na mistura e passam para a circulação central. Duas formas de precipitados podem aparecer na mistura: sólido ou líquido. Fatores relacionados à formulação de NP – tais como osmolaridade, concentração e ordem dos aditivos, pH, temperatura, luz, tipo de envase e tempo de estocagem – determinam a estabilidade das mesmas. As incompatibilidades podem ser: físicas, químicas e físico-químicas (Tabela 7). TABELA 7 - INCOMPATIBILIDADES EM NUTRIÇÃO ENTERAL Incompatibilidades da Nutrição Enteral Físicas Precipitação, Alteração da cor, Formação de gás, Formação de espuma, Turbidez Químicas Oxidação, Fotólise, Epimerização, Catálise Físico-químicas Complexação, Floculação, Adsorção, Quebra da emulsão FONTE: Adaptado de Gomes, M. J. V. M. Ciências Farmacêuticas: Uma Abordagem em Farmácia Hospitalar, 2006. AN02FREV001/REV 4.0 129 17.8.1 Incompatibilidade entre íons cálcio e fosfato A incompatibilidade entre os íons cálcio e fosfato implica basicamente dois riscos: Infusão de cristais de fosfato de cálcio – pode ocasionar óbito de pacientes devido à infusão de dietas parenterais com precipitados, por formação de embolia microvascular pulmonar difusa; Oferta insuficiente de cálcio e fósforo – estes eletrólitos são necessários para um crescimento neonatal normal e, uma boa mineralização óssea. As consequências da insuficiência destes íons são principalmente distúrbios de formação óssea, que podem exacerbar displasias broncopulmonares, bem como causar problemas respiratórios no prematuro sem outras causas identificáveis. A fraqueza muscular decorrente da depleção de fósforo pode ainda causar complicações adicionais. 17.8.2 Magnésio O magnésio é compatível em concentrações de até 12mEq/l. O sulfato é a forma preferida para oferecer o íon sulfato necessário. Quando é usado o sulfato de magnésio, o cálcio não deve ser dado como cloreto, uma vez que o sulfato de cálcio precipita-se rapidamente. O gluconato e o gluco-heptonato de cálcio reagem mais lentamente, requerendo vários dias até que o sulfato de cálcio precipite. AN02FREV001/REV 4.0 130 17.8.3 Sódio, potássio, acetato e cloreto Estes eletrólitos são compatíveis em todas as concentrações e com todos os componentes da NP. Devem ser adicionados intercalados com íons bivalentes ou trivalentes, para evitar a formação de precipitados no equipo de transferência durante o preparo. 17.8.4 Bicarbonato Usar sais de acetato e lactato como precursores de bicarbonato. As incompatibilidades mais comuns são a formação de sais insolúveis com cálcio e magnésio e a formação de precipitados com vitaminas C e do complexo B. 17.8.5 Interações entre nutrientes e medicamentos Pacientes em uso de NP poderão necessitar de vários tipos de fármacos para o tratamento da doença primária e/ou associada aos sintomas, complicações da doença e da terapêutica. Sob o ponto de vista farmacológico, é possível a mistura de fármacos na formulação de NP. Este procedimento apresenta vantagens e desvantagens que devem ser avaliadas. A decisão quanto à administração contínua de medicamentos via NP deve contemplar o modo de ação, nível plasmático e eficácia terapêutica do fármaco. Não se recomenda a adição a NP de fármacos que necessitem de titulação cuidadosa da dosagem baseada na resposta clínica. AN02FREV001/REV 4.0 131 Além da via oral ou a administração do fármaco por uma via intravenosa periférica, existem cinco maneiras de aplicar medicamentos em conjunção com a NP: Coadministração usando ou uma Conexão Y direta na junção do cateter ou por uma via Y sobre a via de infusão como uma aplicação secundária; Mistura direta com a formulação de NP; Administração retrógrada quando são requeridos pequenos volumes de medicamento, corno na pediatria e nos neonatos; Correr a NP cíclica durante 12 a 20 horas diariamente para permitir aplicação do fármaco pelo mesmo lúmen durante o intervalo; Administração por um lúmen separado de cateter multilúmen. Algumas interações: Albumina A albumina é estável em concentrações de até 35,5g/L em formulação de NP. Quando a albumina é adicionada, a formulação não pode mais ser filtrada antes da administração. Foi relatada a possibilidade de crescimento de fungos e bactérias nas formulações de NP que contêm albumina. Insulina Deve ser usada apenas a insulina recombinante humana. A insulina é totalmente compatível com ambos os tipos de soluções de NP e todas as concentrações. Ainda permanecem algumas controvérsias a respeito da disponibilidade da insulina devido a sua possível aderência aos frascos de vidro ou a bolsas de plástico, equipos e filtros. Aminofilina A aminofilina é tida como compatível com as formulações de NP por um período de até 48 horas. Deve-se atentar ao fato de que a formulação de NP não deve conter grandes quantidades de cálcio e fósforo juntamente com concentrações de aminoácidos baixas ou de baixos valores do pH, uma vez que pode resultar em precipitação de fosfato de cálcio. AN02FREV001/REV 4.0 132 Antibióticos Como regra geral, nenhum antibiótico intravenoso deveria ser misturado com qualquer formulação nutriente, mas de preferência ser administrado por meio de cateter intravenoso separado. Além das preocupações sobre estabilidade, a rota não é ideal para muitos antibióticos, para os quais são desejadas as infusões intermitentes como um meio de produzir um picoe manter níveis plasmáticos de modo a aumentar a eficácia bactericida ou diminuir a toxicidade. Fármacos cardiovasculares Embora provavelmente sejam estáveis, a mistura de vários vasopressores não é recomendada, especialmente se são necessárias mudanças de emergência na velocidade de infusão. Quimioterápicos A ciclofosfamida 500mg/L, a citarabina 100mg/L e o metrotexato sódico 50mg/L são visivelmente compatíveis com as formulações de NR 0 5-fluorouracil 4g/L é compatível também com a NP. Corticosteroides A hidrocortisona é compatível e estável em todas as concentrações. O succinato de metilprednisolona sódica a 250mg/L é visivelmente compatível por 24 horas nas soluções padrão de NP. Furosemida A furosemida em quantidades de 40mg/L é visivelmente compatível com a NP. Heparina A heparina é compatível com os dois tipos de formulação nutriente em concentrações de até 20.000U/L, e foi por um tempo adicionada comodamente às soluções para prevenir a formação de capas de fibrina ou a trombose da veia subclávia. Hoje, esta prática não é mais utilizada. A heparina pode ser inativada pela vitamina C, isso deve ser considerado quando outros medicamentos precisam ser AN02FREV001/REV 4.0 133 administrados simultaneamente com as soluções contendo heparina, uma vez que por si própria ela pode produzir incompatibilidade. Antagonistas dos receptores H2 A administração de um antagonista de receptor H2 com as soluções de NP é largamente utilizada. E de baixo custo, uma vez que ficam eliminadas as bolsas intravenosas, equipos e vias venosas periféricas, reduzindo assim o tempo gasto pela farmácia e pela enfermagem. Acido clorídrico O ácido clorídrico esterilizado pode ser adicionado em concentrações de até 200mEq/L. Deve-se tomar cuidado, porém, em manter o pH entre 3 e 6,8. Quando é adicionado o ácido clorídrico, as emulsões de lipídios não devem estar presentes, uma vez que um meio ácido favorece fortemente a quebra da emulsão. Finalmente, as vitaminas devem ser dadas por uma veia periférica, pois o meio ácido as inativa. Ferro A suplementação de ferro geralmente é mais bem administrada por via oral. Quando a absorção é inadequada, contudo, a administração intravenosa de ferro pode ser totalmente efetiva. Quando são necessárias infusões de manutenção sem acesso venoso periférico podem ser adicionadas 100mg de ferro dextran na formulação nutriente sem grandes riscos de reações anafiláticas. Metoclopramida As doses de 5 a 20mg/L são quimicamente estáveis nas formulações de NP. Entorpecentes A morfina, a meperidina, a hidromorfina e o levorfanol têm sido infundidos conjuntamente com a NP em pacientes terminais com limitado acesso venoso, tanto em casa como no hospital. AN02FREV001/REV 4.0 134 17.8.6 Interações entre nutrientes Existem interações nutricionais que podem ocorrer de forma pré-absortivas ou pós-absortivas. Pré-absortivas Podem ser intraluminais por meio de combinações químicas, seja pela formação de ligações iônicas ou covalentes, ou pela formação de quelatos; também pode se dar por meio de competições ou antagonismo, competições por ligações a sítios de absorção ou alostéricos de proteínas ou a ligantes intraluminais. Essas interações podem ocorrer no nível das microvilosidades do enterócito por competição ou antagonismo ou por interações metabólicas, pois, muitas vezes, um nutriente é necessário para a utilização de outro. Pós-absortivas Estas interações podem ocorrer quando do transporte e distribuição para os tecidos onde temos competições por ligações a sítios de absorção ou alostéricos de enzimas com proteínas armazenadoras/transportadoras; interações metabólicas também existem porque um nutriente é necessário para a utilização de outro com excesso de um prejudica o metabolismo do outro. No nível do metabolismo do nutriente, temos tanto interações metabólicas quanto trocas, onde dois nutrientes de função semelhante podem se substituir mutuamente em caso de deficiência. Embora sejam praticamente impossíveis os estudos precisos sobre a solubilidade das soluções de NE devido ao número infinito de combinações, devem ser observadas algumas limitações. AN02FREV001/REV 4.0 135 17.9 GARANTIA E CONTROLE DE QUALIDADE DA NUTRIÇÃO PARENTERAL 17.9.1 Garantia da Qualidade A garantia da qualidade tem como objetivo assegurar que os produtos e serviços estejam dentro dos padrões de qualidade exigidos. Para atingir os objetivos da Garantia da Qualidade na preparação da NE, a farmácia deve possuir um Sistema de Garantia da Qualidade que incorpore as BPPNPs e um efetivo controle de qualidade totalmente documentado e monitorizado por meio de auditorias da Qualidade. Um sistema de garantia de qualidade apropriado para a preparação de NP deve assegurar que: As operações de preparação da NP sejam claramente especificadas por escrito e que as exigências de BPPNP sejam cumpridas; Os controles de qualidade necessários para avaliar os produtos farmacêuticos, os correlatos, o processo de preparação (avaliação farmacêutica, manipulação, conservação e transporte) e a NP sejam realizados de acordo com procedimentos escritos e devidamente registrados; Os pontos críticos do processo sejam devida e periodicamente validados, com registros disponíveis, os equipamentos e instrumentos sejam calibrados, com documentação comprobatória; A NP seja corretamente preparada, segundo procedimentos apropriados; A NP só seja fornecida após o farmacêutico responsável ter atestado formalmente que o produto foi manipulado dentro dos padrões especificados pelas BPPNP; A NP seja manipulada, conservada e transportada de forma que a qualidade da mesma seja mantida até o seu uso; Sejam realizadas auditorias da qualidade para avaliar regularmente o Sistema de Garantia da Qualidade e oferecer subsídios para a implementação de ações corretivas, de modo a assegurar um processo de melhoria contínua. AN02FREV001/REV 4.0 136 17.9.2 Controle de Qualidade O Controle de Qualidade deve avaliar todos os aspectos relativos aos produtos farmacêuticos, correlatos, materiais de embalagem, formulação, procedimentos de limpeza, higiene e desinfecção, conservação e transporte da NP, de modo a garantir que suas especificações e critérios preestabelecidos estejam atendidos. Os produtos farmacêuticos e correlatos devem ser inspecionados no recebimento para verificar a integridade física da embalagem e as informações dos rótulos. O certificado da análise de cada produto farmacêutico e correlato emitido pelo fabricante deve ser avaliado para verificar o atendimento as especificações estabelecidas. Antes da desinfecção para a entrada na área de manipulação, os produtos farmacêuticos e correlatos devem ser inspecionados visivelmente para verificar a sua validade, a integridade física, a ausência de partículas e as informações dos rótulos de cada unidade do lote. Os procedimentos de limpeza, higiene e sanitização devem ser desenvolvidos e monitorizados para verificar o cumprimento dos requisitos estabelecidos. A manipulação deve ser avaliada quanto à existência, adequação e cumprimento de procedimentos padronizados e escritos. A NP pronta para uso deve ser submetida aos seguintes controles: Inspeção visual em 100% das amostras, para assegurar a integridade física da embalagem, ausência de partículas, precipitações e separação defases; Verificação da exatidão das informações do rótulo; Teste de esterilidade em amostra representativa das manipulações realizadas em uma sessão de trabalho, para confirmar a sua condição estéril. As amostras para avaliação microbiológica laboratorial devem ser retiradas, estatisticamente, no início e no fim do processo de manipulação e conservadas sob AN02FREV001/REV 4.0 137 refrigeração (2°C a 8°C) até a realização da análise. As amostras para contraprova (referência) de cada NP preparada, devem ser conservadas sob a refrigeração citada, durante sete dias após o seu prazo de validade. As condições de conservação e transporte das soluções da NP e meio de cultura, devem ser verificadas semanalmente para assegurar a manutenção das características da NP. 18 POLÍTICA NACIONAL DE MEDICAMENTOS E RENAME A Política Nacional de Medicamentos (PNM) foi aprovada em 30 de outubro de 1998, pela Portaria do Ministério da Saúde 3.916, com o propósito de garantir a necessária segurança, eficácia e qualidade do medicamento, além da promoção do uso racional e do acesso da população aos medicamentos considerados essenciais. O estabelecimento da relação dos medicamentos essenciais, a reorientação da assistência farmacêutica, o estímulo à produção de medicamentos genéricos e a regulamentação sanitária, são as principais diretrizes da política. O sistema de saúde no Brasil é bastante complexo por englobar tanto os estabelecimentos públicos com suas unidades de atenção básica, bem como uma rede privada de prestação de serviços sofisticada com centros hospitalares de alta complexidade. A importância dos serviços de saúde é indiscutível e esses constituem, ao lado de uma série de outros serviços, fator de extrema relevância para a qualidade de vida da população, representando preocupação de todos os gestores do setor devido à natureza das práticas de assistência neles desenvolvidas, ou ainda pela totalidade dos recursos que são por eles absorvidos. Grande parcela da população se acha, hoje, parcial ou totalmente excluída de algum tipo de atenção do sistema de saúde, além de ter que conviver com as constantes mudanças no perfil epidemiológico com doenças típicas de países em desenvolvimento misturadas a doenças características de países desenvolvidos, além de doenças emergentes ou reemergentes, tais como a cólera, a dengue, a malaria, as doenças sexualmente transmissíveis e HIV/AIDS. AN02FREV001/REV 4.0 138 Portanto, a adequação do sistema de saúde deve ser constante e acompanhar as novas demandas como, por exemplo, o envelhecimento da população. O modelo de atenção prestada deve, portanto, conferir prioridade ao caráter preventivo das ações de promoção, proteção e recuperação da saúde. Há de se considerar, ainda, que modificações qualitativas e quantitativas no consumo de medicamentos são influenciadas pelos indicadores demográficos, os quais demonstram clara tendência de aumento na expectativa de vida ao nascer. Acarretando um maior consumo e gerando um maior custo social, tem-se novamente o processo de envelhecimento populacional interferindo, sobretudo, na demanda de medicamentos destinados ao tratamento das doenças crônico- degenerativas, além de novos procedimentos terapêuticos com utilização de medicamentos de alto custo. Igualmente, adquire especial relevância o aumento da demanda daqueles de uso contínuo, como é o caso dos utilizados no tratamento das doenças cardiovasculares, reumáticas e de diabetes, não sendo incomum pacientes sofrerem de todas essas doenças simultaneamente. A desarticulação da assistência farmacêutica brasileira conduz a um cenário de comprometimento da qualidade de vida do cidadão. A falta de prioridade na prescrição de produtos padronizados, constantes da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), pela denominação comum brasileira (DCB) de medicamentos genéricos, é um dos problemas importantes detectados. O maior problema continua sendo a irregularidade no abastecimento de medicamentos em ambulatórios, diminuindo assim a eficácia das ações governamentais no setor saúde. O uso desnecessário e irracional de medicamentos e o estímulo à automedicação, bastante presente no país por meio de propaganda agressiva e enganosa, são fatores importantes na demanda por medicamentos. A promoção do seu uso racional mediante a reorientação destas práticas é objeto de um processo educativo, tanto para a equipe de saúde quanto para a população. O mercado farmacêutico brasileiro é um dos cinco maiores do mundo, com vendas que atingem 9,6 bilhões de dólares/ano. O setor é constituído por cerca de 480 empresas, entre produtores de medicamentos, indústrias farmoquímicas e importadores. Este perfil deve ser consideravelmente modificado pelo programa de medicamentos genéricos. Há no país cerca de 50 mil farmácias, incluindo as AN02FREV001/REV 4.0 139 hospitalares e as homeopáticas, comercializando e dispensando cerca de 5,2 mil produtos com aproximadamente 9,2 mil apresentações. Outro dado relevante a ser citado é o perfil do consumidor brasileiro que pode ser classificado em três grupos, como observado na Tabela 9. TABELA 8 - PERFIL DO CONSUMIDOR BRASILEIRO DE MEDICAMENTOS Renda Porcentagem da população Consumo de Medicamentos Acima de 10 salários mínimos 15% 48% Entre 4 e 10 salários mínimos 34% 36% Entre zero e 4 salários mínimos 51% 16% FONTE: Adaptado de Gomes, M. J. V. M. Ciências Farmacêuticas: Uma Abordagem em Farmácia Hospitalar, 2006. A análise do perfil do consumidor indica a necessidade de que a PNM confira especial atenção aos aspectos relativos ao uso racional, bem como a segurança, a eficácia e a qualidade dos produtos colocados a disposição da população. 18.1 DIRETRIZES E PRIORIDADES DA PNM 18.1.1 Adoção de uma relação nacional de medicamentos essenciais A adoção de uma relação de medicamentos essenciais faz parte das diretrizes da PNM com o intuito de assegurar o acesso da população a medicamentos seguros, eficazes e de qualidade. Medicamentos essenciais são aqueles produtos considerados básicos e indispensáveis ao atendimento da maioria dos problemas de saúde. Estes produtos devem estar continuamente disponíveis aos segmentos da sociedade que deles necessitem, nas formas farmacêuticas AN02FREV001/REV 4.0 140 apropriadas, e compõem uma relação nacional de referência que servirá de base para o direcionamento da produção farmacêutica e para o desenvolvimento científico e tecnológico do país. O processo de descentralização da gestão no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) delegou aos estados e municípios a responsabilidade pelo suprimento de suas redes de serviços. Portanto, a existência de uma relação nacional de medicamentos facilitará a organização das listas estaduais e municipais, sendo o meio fundamental para orientar a padronização da prescrição médica e do abastecimento de medicamentos, em especial no âmbito do SUS. Este, portanto, poderá ser um mecanismo para a redução dos custos dos produtos. A consolidação do processo de revisão permanente da RENAME representa medida indispensável, já que a seleção deverá ser baseada nas prioridades nacionais de saúde, bem como na segurança, na eficácia terapêutica comprovada, na qualidade e na disponibilidade dos produtos. A RENAME deve ser organizada de acordo com as patologias e agravos da saúde mais relevantes e prevalentes, respeitadas as diferenças regionais do país. As apresentações dos produtos deverão assegurar as formas farmacêuticas e as dosagens adequadaspara a utilização por crianças e idosos. Durante o processo de atualização da RENAME, deverá ser dada ênfase ao conjunto e medicamentos voltados para a assistência ambulatorial, ajustado, em nível local, às doenças mais comuns à população, definidas segundo prévio critério epidemiológico. Por esse motivo, estudos epidemiológicos devem ser realizados periodicamente assim como a atualização da RENAME. AN02FREV001/REV 4.0 141 18.1.2 Regulamentação sanitária de medicamentos O processo de registro de medicamentos e a autorização para funcionamento de empresas e/ou estabelecimentos produtores de medicamentos devem ser objeto de rígido controle por parte do órgão responsável pela vigilância sanitária. Os produtos inadequados ao uso, na conformidade das informações decorrentes da farmacovigilância, devem ter restrições na comercialização ou ser eliminados, conforme o caso. Deve ser dispensada atenção especial à promoção do uso de medicamentos genéricos, identificando os mecanismos necessários e adequando os instrumentos legais específicos tais como: A obrigatoriedade da adoção da Denominação Comum Brasileira (DCB) ou Internacional (DCI) nos editais, propostas, contratos, notas fiscais etc.; A obrigatoriedade da adoção da DCB ou DCI nas compras e licitações públicas dos medicamentos; A exigência da prescrição médica ou odontológica fazendo uso do nome genérico do medicamento, conforme previsto na legislação vigente; A apresentação da denominação genérica nas embalagens, rótulos, cartuchos, bulas, prospectos e demais materiais de divulgação. 18.1.3 Reorientação da assistência farmacêutica O modelo de assistência farmacêutica atual que se restringe a simples aquisição e distribuição de medicamentos tende a ser modificado. As ações incluídas nesse campo da assistência terão por objetivo implementar, no âmbito das três esferas do SUS, todas as atividades relacionadas à promoção do acesso da população aos medicamentos essenciais. A reorientação do modelo de assistência farmacêutica, coordenada e disciplinada em âmbito nacional pelos três gestores do AN02FREV001/REV 4.0 142 sistema, deverá estar fundamentada na descentralização da gestão, na promoção do uso racional dos medicamentos, no desenvolvimento de iniciativas que possibilitem a redução nos preços dos produtos, viabilizando, inclusive, o acesso da população aos produtos no âmbito do setor privado. A assistência farmacêutica no SUS deve englobar as atividades de seleção, programação, aquisição, armazenamento e distribuição, controle da qualidade e utilização (prescrição e dispensação) favorecendo a permanente disponibilidade dos produtos segundo as necessidades da população, identificadas com base em critérios epidemiológicos. No tocante aos agravos e doenças cuja transcendência, magnitude e vulnerabilidade tenham repercussão na saúde pública, buscar-se-á a contínua atualização e padronização de protocolos de intervenção terapêutica e dos respectivos esquemas de tratamento. 18.1.4 Promoção do uso racional de medicamentos A promoção do uso racional de medicamentos passa por um importante processo de educação dos usuários ou consumidores acerca dos riscos da automedicação, da interrupção e da troca da medicação prescrita, bem como da necessidade da receita médica, para a dispensação, quando for o caso. O profissional prescritor e o profissional responsável pela dispensação devem, também, ser objetos desse processo educativo – o que deve ocorrer em suas formações universitárias, quando é o momento de seu contato inicial com os medicamentos. A elaboração de um Formulário Terapêutico Nacional (FTN) poderia servir como instrumento de orientação da prescrição e dispensação dos medicamentos, racionalizando o seu uso. No formulário devem estar contempladas todas as informações relativas aos medicamentos, inclusive os dados de absorção e ação no organismo. Estudos de farmacovigilância, além de tratar dos efeitos adversos, devem ser utilizados, também, para assegurar o uso racional dos medicamentos, reorientando procedimentos relativos ao registro, forma de comercialização, prescrição e AN02FREV001/REV 4.0 143 dispensação de produtos. Assim como estudos de farmacoepidemiologia devem ser incentivados como forma de contribuição para o uso racional de medicamentos. A adoção do programa de medicamentos genéricos, por meio da produção, prescrição e comercialização, poderá ser fator decisivo na promoção do uso racional de medicamentos e deverá trazer segurança ao prescritor, ao usuário e ao responsável pela dispensação, cuja presença deve ser considerada imprescindível nos estabelecimentos comercial ou hospitalar. A propaganda de produtos farmacêuticos, tanto a direcionada à classe médica quanto a voltada para o público leigo, deve ser enquadrada em todos os preceitos legais vigentes e nas diretrizes éticas emanadas do Conselho Nacional de Saúde. 18.1.5 Desenvolvimento científico e tecnológico Pesquisas na área de tecnologia e formulações farmacêuticas, principalmente aquelas consideradas estratégicas para a capacitação e o desenvolvimento tecnológico nacional, devem ser objeto de maiores incentivos do Estado, e o governo deve buscar a integração entre as universidades, as instituições de pesquisa e as empresas do setor produtivo. O potencial terapêutico da flora e da fauna nacionais não pode ser negligenciado, bem como o apoio à pesquisa que vise o seu aproveitamento enfatizando-se a certificação de suas propriedades medicamentosas. O apoio ao desenvolvimento da tecnologia de produção de medicamentos, em especial os constantes da RENAME, bem como o estímulo à produção nacional virá, certamente, assegurar o fornecimento regular ao mercado interno, consolidando assim o parque industrial farmacêutico instalado no país. A Farmacopeia Brasileira constitui mecanismo de fundamental importância para as ações legais de vigilância sanitária e das relações de comércio exterior, tanto de importação quanto de exportação, e, neste sentido, deve ser objeto de revisão permanente com a inclusão de métodos gerais analíticos para produtos elaborados e de monografias validadas que possam atender a laboratórios produtores de medicamentos, de grande, médio e pequeno portes. Deve apresentar métodos alternativos de avaliação da qualidade dos produtos farmacêuticos que atendam a AN02FREV001/REV 4.0 144 demanda nacional dentro de uma lógica instalada do parque industrial nacional em desenvolvimento com o parque mais avançado da indústria transnacional. 18.1.6 Promoção da produção de medicamentos A oferta de medicamentos depende de aspectos relacionados à estrutura e ao perfil industrial no Brasil, composto de três segmentos produtivos: o nacional público, o nacional privado e as empresas de capital transnacional no setor. Os laboratórios farmacêuticos oficiais têm de ser mais bem utilizados, preferencialmente para o atendimento às necessidades de medicamentos essenciais destinados a atenção básica. Deve suprir, por outro lado, as demandas oriundas das esferas estadual e municipal do SUS. O papel desempenhado por este setor, além do abastecimento, em domicílio tecnológico de processos de produção de medicamentos de interesse nacional em saúde pública. Há algum tempo, o segmento nacional público vem atuando como balizador de preços no mercado com grandes benefícios para a saúde pública. Os laboratórios de pesquisa universitária também devem passar por esteprocesso, pois o país enfrenta problemas com medicamentos órfãos, necessários aos hospitais públicos e nos universitários, e não disponíveis no mercado. Devem-se buscar ações governamentais que visem utilizar essa importante capacidade ociosa, pois, além do abastecimento regular, não se pode perder de vista a universidade como celeiro formador de mão de obra extremamente qualificada. Os laboratórios oficiais, por outro lado, devem buscar a modernização de seu parque industrial e de seus sistemas de produção para alcançar os níveis de eficiência e competitividade, em especial no que concerne aos preços dos medicamentos. AN02FREV001/REV 4.0 145 18.1.7 Garantia da segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos A eficácia, a qualidade e a segurança de um medicamento são de responsabilidade de quem o fabrica, cabendo aos gestores fiscalizar o cumprimento da regulamentação sanitária por meio de inspeções e fiscalizações regulares e sistemáticas. A implementação dos guias de boas práticas de fabricação e de laboratório levará, certamente, à padronização de processos produtivos e analíticos validados, garantindo a reprodutibilidade nos resultados e a facilidade no rastreamento de problemas quando uma falha é detectada. Papel preponderante nesta atividade deve ser desenvolvido pela Gerência Geral de Laboratórios de Saúde Pública da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a quem está afeto o credenciamento dos laboratórios da rede pública e privada para a execução de análises de qualidade tanto de orientação como de fiscalização. Os laboratórios analítico-certificadores devem se unir aos laboratórios estaduais de fiscalização (LACEMs) em benefício da garantia da qualidade dos medicamentos disponibilizados à população brasileira, estabelecendo, cumprindo e fazendo cumprir as medidas que atendam à estratégia da descentralização e ao financiamento das ações sanitárias. É fundamental a necessidade de o país produzir as substâncias químicas que servirão como padrão de qualidade das matérias- primas utilizadas na fabricação dos diversos medicamentos e, principalmente, para as matérias-primas importadas. AN02FREV001/REV 4.0 146 18.1.8 Desenvolvimento e capacitação de recursos humanos O desenvolvimento e a capacitação do pessoal envolvido nos diferentes planos, programas e atividades que operacionalizarão a PNM deverão configurar mecanismos privilegiados de articulação intersetorial, de modo que o setor de saúde possa dispor de recursos humanos em quantidade e qualidade no desempenho da tarefa. A Lei 8.080/1990, em seu artigo 14, já prevê uma ação intersetorial articulada para a formação do quadro e a educação continuada como maneira única de constante atualização do quadro de recursos humanos. As universidades, por sua vez, devem estar atentas às demandas emanadas do setor de vigilância sanitária, devendo buscar meios para supri-las, quer por meio de cursos de extensão, de aperfeiçoamento ou atualização, até atingir níveis superiores de mestrado e doutorado, dando ênfase para ações cognitivas de cunho profissional e científico. 18.1.9 Responsabilidades das esferas de governo A PNM, para ser implementada, ultrapassa os limites do setor saúde e prevê ação articulada dos ministérios da Saúde, Justiça, Educação, Ciência e Tecnologia, Planejamento, entre outros, bem como a permanente cooperação técnica com organismos e agências internacionais. No documento emanado do Ministério da Saúde em abril de 1999, sobre a PNM, as estratégias da articulação intersetorial aparecem e são assim definidas: Ministério da Justiça – terá por finalidade efetivar medidas no sentido de coibir eventuais abusos econômicos na área de medicamentos, com base nas leis Antitruste, da Livre Concorrência e de Defesa do Consumidor; Ministérios da área econômica – estarão votados para o acompanhamento das variações dos índices de custo dos medicamentos AN02FREV001/REV 4.0 147 essenciais, com ênfase naqueles considerados de uso contínuo, no sentido de preservar a capacidade de aquisição dos produtos, por parte da população, de forma direta ou indireta (subsídio governamental, seguro saúde); deverá, além disso, buscar o encaminhamento das questões relativas ao financiamento das ações inseridas na operacionalização desta política e que incluam, nos termos da Lei, as respectivas participações dos governos estaduais e municipais; Ministérios da Educação e do Desporto – visarão o desenvolvimento de ações junto aos professores, pais e alunos, relativas ao uso correto dos medicamentos, bem como a reorientação dos currículos de formação dos profissionais de saúde; Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Ciência e Tecnologia e agências internacionais – com essas instituições, se buscará o estabelecimento de mecanismos e compromissos que viabilizem o fomento à cooperação técnica, científica e tecnológica. Além das articulações com os setores mencionados, o documento descreve, ainda, as funções dos gestores federal, estadual e municipal, com as respectivas limitações de ações e de responsabilidades. Lembrar-se do relacionamento que o governo deve manter com as entidades de classe do setor de saúde, se faz mister, por ser canal dos mais importantes para se atingir rapidamente e com segurança os principais parceiros para garantir a aceitação e o pleno sucesso da política. 18.2 MEDICAMENTOS GENÉRICOS O genérico de um fármaco é o nome pelo qual o mesmo deve ser conhecido e referenciado nos compêndios farmacêuticos oficiais, sendo prevista por decreto presidencial (o 74.170), desde 1974, a obrigatoriedade da utilização da denominação genérica nos editais, propostas licitatórias, contratos e notas fiscais de compras e licitações públicas de medicamentos. AN02FREV001/REV 4.0 148 Em 1977, novo decreto presidencial (79.094) definia, em seu artigo 3º, que “a denominação genérica era a Denominação Comum Brasileira (DCB) adotada pelo Ministério da Saúde para uma substância ativa ou fármaco, ou, em sua ausência, a Denominação Comum Internacional (DCI), recomendada pela Organização Mundial de Saúde”. Nesse mesmo decreto, constava a obrigação de todos os medicamentos comercializados no país serem identificados, além do nome e/ou marca, pela denominação genérica. O Decreto 793, de abril de 1993, alterou os decretos anteriormente citados e deu importante passo em direção à política de medicamentos genéricos no país, sendo que, em fevereiro de 1999, foi sancionada a Lei 9.787 alterando a Lei 6.360, de setembro de 1976, que dispõe sobre a vigilância sanitária, estabelece o medicamento genérico, dispõe sobre a utilização de nomes genéricos em produtos farmacêuticos, entre outras providências. A revogação do Decreto 793 se deu em setembro de 1999, por meio do Decreto 3.181, regulamentando a Lei 9.787, a qual rege a atual política de medicamentos genéricos. Um medicamento genérico é um produto que contém uma substância ativa ou fármaco já comercializado, na mesma concentração ou dose, destinada às mesmas indicações de outro medicamento registrado e comercializado por outro fabricante, sem, no entanto, ter identidade de marca. Os medicamentos genéricos surgem após o vencimento do período de proteção de patente concedida ao medicamento inovador, sendo comercializados pelos seus nomes comuns ou genéricos. Como os fabricantes de medicamentos genéricos não necessitam realizar investimentos em pesquisa e se utilizam do desenvolvimento
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