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O Espectro da Ideologia

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O Espectro da Ideologia: Uma Leitura Atualizada do Sintoma Capitalista 
na Contemporaneidade1 
 
Renata Cabral Cuch2 
Pontifícia Universidade Católica De São Paulo – PUC-SP 
 
 
RESUMO 
 
O presente artigo propõe uma articulação entre as ideias centrais que compõem o livro Um 
Mapa da Ideologia, organizado pelo psicanalista Slavoj Žižek sobre as vicissitudes que 
montam o conceito de ideologia, para a formulação da proposta da existência de um 
paradigma que estrutura uma cadeia de significações ideológicas, na tentativa de explicar 
que não há maneira de fugir do pressuposto ideológico senão quando da criação ou 
assujeição de uma outra roupagem, um novo paradigma amparado por crenças e aparelhos 
ideológicos que mantêm uma ligação entre o Real da psicanálise lacaniana frente à Coisa 
do pressuposto Marxista. 
 
PALAVRAS-CHAVE: ideologia; comunicação; psicanálise; semiótica; sintoma. 
 
 
Introdução 
 
Na contemporaneidade, nos deparamos com diversos sintomas sociais que chamam 
a atenção para estudos que refletem a condição do sujeito no aprisionamento ideológico 
frente às ofertas da mídia. Não obstante, torna-se fundamental recorrer ao pressuposto 
ideológico como tentativa de explicar o sofrimento psíquico exposto nos novos modelos 
socioculturais que excluem e escravizam os indivíduos. Sendo assim, a partir do 
pressuposto da psicanálise lacaniana, Žižek propõe que a ideologia permeia tudo que 
fazemos: 
(...) “Ideologia” pode designar qualquer coisa, desde uma atitude 
contemplativa que desconhece sua dependência em relação à 
realidade social, até um conjunto de crenças voltado para a ação; 
desde o meio essencial em que os indivíduos vivenciam suas 
relações com uma estrutura social até as ideias falsas que legitimam 
um poder político dominante. Ela parece surgir exatamente quando 
tentamos evitá-la e deixa de aparecer onde claramente se esperaria 
que existisse. “Quando um processo é denunciado como ideológico 
por excelência”. (ŽIŽEK, 1996, p.9). 
 
 
1Trabalho apresentado no GP Teorias do Jornalismo do XV Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento 
componente do XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 
 
2 Mestranda do Curso de Comunicação e Semiótica-PUC SP, email: renataccuch@superig.com.br 
 
 
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Por isso, o autor parte da desconstrução do conceito de ideologia propriamente dita 
para propor a existência de um paradigma que monta uma cadeia de significações 
ideológicas, na tentativa de explicar que não há maneira de se fugir do pressuposto 
ideológico senão da criação ou assujeição de uma outra roupagem, um novo paradigma - 
mas que, ainda assim, tratar-se-ia meramente de formulações ideológicas para sustentar a 
fantasia humana de uma existência plena, seja do ponto de vista político, social ou religioso. 
 É fundamental observar que, do ponto de vista da psicanálise, a ideologia 
assemelha-se ao mecanismo inconsciente, pois o sujeito adota crenças/ideais de caráter 
desconhecido à consciência, que ainda assim atuam sobre seu comportamento. 
 
(...) o paradoxo é que a saída daquilo que vivenciamos como 
ideologia é a própria forma de nossa civilização a ela. (...) ela expõe 
um momento em que ideologia toma a si mesma em sentido literal e 
deixa de funcionar como uma legitimação “objetivamente cínica” 
(ŽIŽEK, 1996, p.12). 
 
Até aqui, as concepções de Žižek ressaltam substancial envolvimento do eu com a 
esfera social. É preciso considerar que a ideologia não é algo que simplesmente age de 
forma mágica sobre os sujeitos, dando-lhes identificações e papéis sociais na forma de 
reprodução, que responde por sua vez a um universo sobre um pressuposto específico de 
compromissos impulsivos. De acordo com o autor, toda estrutura se dá mediada por 
identificações fantasísticas a partir da psique humana - identificações que põem o 
inconsciente em cena. 
A função da ideologia não é nos oferecer um ponto de fuga da nossa 
realidade mas oferecer-se a própria realidade social como fuga de 
algum núcleo traumático, real (ŽIŽEK, 1996, p. 147). 
 
Neste trabalho, serão utilizados os conceitos do autor esloveno Slavoj Žižek para 
fazer um passeio pelo pensamento filosófico da construção política marxista e de teóricos 
como Kant, Althusser e Hegel, entre outros, passando por pressupostos teóricos no campo 
da linguagem pelo viés da psicanálise Freud–lacaniana. O intento é formular reflexões 
sobre o mecanismo que sustenta as concepções ideológicas, bem como a forma que o 
sujeito as experiencia, com ênfase nas relações de alienação e assujeição dos indivíduos às 
classes dominantes. 
 
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Este artigo propõe uma revisão bibliográfica à luz dos textos O Espectro da 
Ideologia; e Como Marx inventou o sintoma? Em contraponto ao conceito psicanalítico de 
o estádio do espelho como formador da função do Eu, por Jacques Lacan, que faz parte do 
livro Um Mapa da Ideologia, organizado por Slavoj Žižek, para enfatizar a importância das 
contingências que perpassam o conceito de ideologia. 
Como objetivo geral, este artigo propõe fazer uma análise dos textos em contraponto 
com os fenômenos sociais. No que se refere aos objetivos específicos, pretende-se 
evidenciar as expressões sintomáticas sociais a partir das construções ideológicas e também 
analisar o conceito de ideologia a partir do pressuposto apresentado por Žižek; e, por fim, 
apresentar considerações do tocante ao embate dos fenômenos midiáticos frente à 
perspectiva psicanalítica. 
Como metodologia de pesquisa, será utilizada revisão bibliográfica de autores 
contemporâneos para viabilizar um melhor entendimento acerca da problemática que enlaça 
as questões da ideologia com o conceito de sintoma. Para melhor instanciar o pressuposto 
teórico, foram revisitados os escritos freudianos oitocentistas que montam a teoria do 
sintoma e, ainda, será feita uma alusão ao conceito de ideologia pela filósofa Marilena 
Chauí com o intuito de promover uma melhor compreensão do conceito em questão. 
 
1. Um Mapa da Ideologia: Uma Análise Textual 
 
Segundo Slavoj Žižek, o conceito de ideologia divide-se em três esferas diferentes 
de expressão, principalmente no que se refere ao julgamento do ato ideológico que trata da 
forma de não recair sobre a crítica da ideologia propriamente dita. De acordo com as 
concepções žižekianas, deve-se destacar a ideologia em três modos conceituais; o primeiro 
refere-se à ideologia como um conjunto de crenças voltadas para ação: 
 
(...) o que se deve ter em mente, aqui, é que o fetichismo é um 
termo religioso para designar a idolatria “falsa” (anterior), em 
contraste à crença verdadeira (atual), (...) em Marx, o universo da 
mercadoria proporciona o suplemento necessário à espiritualidade 
“oficial”: é bem possível que a ideologia oficial de nossa sociedade 
seja o espiritualismo cristão, mas sua base real não é outra senão a 
idolatriado Bezerro de Ouro, o dinheiro (ŽIŽEK, 1996, p. 25). 
 
 
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No segundo, destaca-se sua existência material, considerando o lugar dos aparelhos 
ideológicos de estado conforme encontramos em Althusser, que refere-se à forma de 
disseminar a ideologia por meio de instrumentos institucionais: 
(...) a ideologia não brota da “vida em si”, mas só passa a existir na 
medida em que a sociedade é regulada pelo Estado. (Mais 
precisamente, o paradoxo e o interesse teórico de Althusser residem 
na conjugação que fez das duas linhas: em seu próprio caráter de 
relação imediatamente vivenciada com o universo, a ideologia é 
sempre já regulada pela exterioridade do estado e de seus aparelhos 
ideológicos) (ŽIŽEK, 1996, p. 24-25). 
 
Quanto ao terceiro, o autor nomeou como autodispersão, que consiste na 
relativização do alcance da ideologia. 
 (...) A ideologia deixa de ser concebida como um mecanismo 
homogêneo que garante a reprodução social, como o "cimento" da 
sociedade, e se transforma numa “família" wittgensteiniana de 
processos vagamente interligados e heterogêneos, cujo alcance é 
estritamente localizado. Dentro dessa linha, as críticas da chamada 
Tese da Ideologia Dominante (TID) empenham-se em demonstrar 
que, ou uma ideologia exerce uma influência crucial, mas restrita a 
uma camada social estreita, ou seu papel na reprodução social é 
marginal. Nos primórdios do capitalismo, por exemplo, o papel da 
ética protestante do trabalho árduo como um fim em si limitou-se à 
camada dos capitalistas emergentes, ao passo que os operários e 
camponeses, bem como as classes superiores, continuaram a 
obedecer a outras atitudes éticas mais tradicionais; logo, não se 
pode atribuir à ética protestante o papel de "cimento" de todo o 
edifício social (ŽIŽEK, 1996, p. 19-20). 
 
 Nesse sentido, a ideologia poderá influenciar de forma determinante alguns grupos 
pequenos de pessoas ou mesmo grandes contingentes, mas poderá ter pouca importância e 
influência em outros modelos de grupos. Os três conceitos destacados pelo autor têm a 
função de organizar e nomear os diversos tipos de organizações sociais que são sustentadas 
a partir dos princípios ideológicos. 
O livro propõe diálogos contemporâneos que perpassam as concepções do sujeito e 
apresenta uma crítica sobre o que aponta realmente para o lugar da ideologia e como esta 
pode afetar as relações sociais do indivíduo. Žižek ressalta o termo filosófico “razão 
 
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instrumental” 3 para criticar a impotência da crítica à ideologia. De acordo com o autor, a 
perspectiva designa uma atitude que não é simplesmente funcional no tocante à dominação 
social, mas serve, antes, como a própria base da relação de dominação (Žižek, 1996, p.14). 
Essa afirmativa propõe que a ideologia não é necessariamente falsa em sua essência, 
ela pode responder a conteúdos verdadeiros. O que de fato se sobressai é a forma como tal 
conteúdo relaciona-se com a dinâmica subjetiva do processo de enunciação. Pode-se 
observar na proposta do texto que toda ideologia detém por si o poder da dominação de 
caráter social, poder versus exploração. Essa perspectiva atesta que essa dominação ou esse 
poder permanecem velados. “O ponto de partida da crítica da ideologia tem que ser o pleno 
reconhecimento do fato de que é muito fácil mentir sob o disfarce da verdade” (Žižek, 
1996, p. 14). 
 Como exemplo, o autor refere-se aos conflitos vivenciados por alguns países 
quando determinada potência mundial os invade, alegando que o interesse está em defesa 
dos direitos humanos. Esse comportamento, todavia, confunde-se com o conceito de 
cinismo ideológico apresentado por Marx, pois o que se encontra incutido nessa atuação é 
da ordem do poder econômico - como será destacado a seguir na seção acerca das 
concepções de sintoma. 
1.1 No Tocante ao Texto “Como Marx inventou o Sintoma?”O autor traz à luz o 
conceito Lacaniano sobre a formação do sintoma para explicar sua relação com as 
construções ideológicas acerca da relação que a sociedade mantém com a forma-
mercadoria. Nessa perspectiva, o texto tem a intenção de explicar o caráter funcional da 
construção sintomática que responde às demandas sociais. Ou seja, refere-se à leitura feita 
por Marx do movimento e dos fenômenos que emergem frente ao caos da evolução e 
experiências do homem em sua relação com o dinheiro, pois esta parece transcender o 
caráter de sua forma original de objeto. 
 Sendo assim, a perspectiva Marxista remete-nos às formulações psicanalíticas 
sobre as expressões sintomáticas que são da ordem do inconsciente, tal qual funciona nas 
expressões dos sonhos conforme descreve o pressuposto da psicanálise, “Lacan fornece 
uma resposta precisa a essa questão: o que vivenciamos como realidade não é a “própria 
coisa” é, sempre já simbolizada constituída e estruturada por mecanismos simbólicos 
(Žižek, 1996, p.26)”. 
 
3 O termo filosófico Razão Instrumental foi criado por Max Horkheimer para designar a razão nascida dos ideais iluministas 
para explicar o mecanismo psíquico de tomada de decisão para controlar e dominar a Natureza e os seres humanos com a 
proposta de transformar a própria realidade e o homem. 
 
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Nesse sentido, a lógica utilizada por Žižek para remontar as proposições marxistas 
são voltadas para a dinâmica da cadeia de significações que Freud formulou a respeito da 
construção dos conteúdos dos sonhos. O que se pode entender a partir dessa analogia é que, 
para a psicanálise, o sonho não deve ser visto meramente como uma sequência de 
informações descontextualizadas, desorganizadas ou sem nenhum sentido; ou seja, o sonho 
responde a um apelo inconsciente por uma interpretação, mas que, acima de tudo, responde 
a um sintoma que aponta para algo que não vai bem no real. 
Diante disso, o texto reflete sobre os conceitos de fetichismo, cinismo, fantasia, 
mercadoria, crença e lei na tentativa de se aproximar das roupagens que o sintoma se 
utiliza para ganhar nome, formular modelos de identidades sociais e tomar as rédeas da 
psique humana na atualidade - o que parece evidenciar que vivemos em plena sociedade do 
espetáculo e que estamos passivos e assujeitados frente aos diversos tipos de sintomas 
sociais. Não por acaso, o autor recorre ao conceito marxista de mais valia para amparar a 
lógica do mais gozar que está expressa nas exigências do consumo excessivo experienciado 
na atualidade. 
O marxismo, portanto, não conseguiu levar em conta ou chegar a 
um acordo com o objeto-a-mais, com o resto do Real que escapa à 
simbolização – fato que é ainda mais surpreendente ao lembrarmos 
que Lacan pautou sua noção de mais-gozar na ideia marxista da 
mais-valia. A prova de que a mais-valia marxista efetivamente 
anuncia a lógica do objeto pequeno a lacaniano, como encarnação 
do mais-gozar, já e fornecida pela fórmula decisiva que Marx 
utilizou, no terceiro volume de O capital, para designaro limite 
lógico-histórico do capitalismo: “O limite do capital é o próprio 
capital, isto é, o modo de produção capitalista” (ŽIŽEK, 1996, 
p.328). 
 
De forma extremamente interessante o autor faz uma leitura do conceito de mais 
valia, utilizado para exemplificar a exploração da força de trabalho humana em beneficio 
daquele que lhe provê trabalho – relação que gera lucro financeiro para o explorador – com 
o conceito de mais gozar da teoria lacaniana, que aponta para busca de caráter inconsciente 
pelo gozo pleno. Esse mecanismo instaura um outro modelo de gozo, ainda que o indivíduo 
precise recorrer ao grotesco, ao esdrúxulo que nomeia, mas que possa promover a sensação 
de completude. 
 
2. O Sintoma e os Fenômenos Sociais 
 
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Desde as explicações freudianas acerca das concepções de sujeito, a psicanálise 
afirma que não existe sujeito sem o laço social. Essa perspectiva liga o pressuposto 
psicanalítico com as ciências sociais, pois o convívio em sociedade exige do humano 
renúncia, flexibilidade e afeto. Todo esse investimento se dá na busca de uma paz plena - 
todavia, esse modelo de convívio só existe nas idealizações humanas. 
Em seu artigo O Mal-estar na civilização (1930/2010), Freud ressalta que a 
principal fonte de sofrimento dos indivíduos são as relações humanas. A partir dessa 
perspectiva, e apoiados na teoria lacaniana revisitada nos textos acima citados, percebe-se 
que o homem vive em uma eterna busca pela produção de sentido, uma explicação para a 
angústia de existir e pela falta que sobrepuja e provoca sensação de impotência desse 
sujeito no mundo. 
Na psicanálise lacaniana a busca pela verdade relaciona-se com a saga do indivíduo 
na procura pelo objeto perdido para sempre e para sempre procurado (Objeto a). Tal qual se 
dá nas formulações do ponto de vista das organizações sociais, o homem precisa de uma 
verdade para estruturar seu padrão social, seu perfil e, só através de uma ideologia o sujeito 
sente-se amparado, identificado e tem um norte para onde e como seguir. 
Toda essa discussão abre nosso entendimento para a articulação entre a proposta dos 
três textos destacados anteriormente. A proposta é fazer uma análise da problemática que 
tem suscitado os grandes sintomas sociais e que, ao mesmo tempo, nos remete à lógica do 
surgimento desses fenômenos, ainda que, possa responder a algo da ordem do inconsciente 
proposto pela psicanálise: 
O sintoma seria o significante de significações recalcadas da consciência do sujeito. 
Baseado na cisão entre o que se diz e o que se quer dizer, o teórico visava a este segundo 
em sua escuta, o nível da enunciação, supondo que existe na fala um sentido aprisionado 
que pode ser mobilizado. Pode-se dizer que o sintoma é palavra dirigida ao Outro, indo na 
direção do reconhecimento do desejo, ao mesmo tempo em que este desejo permanece 
excluído, recalcado (LACAN, 1998, p.79).O percurso trilhado por Žižek em sua escrita 
aponta exatamente para essa dinâmica do inconsciente na produção do sintoma e expressa 
que as contingências do convívio social operam nessa mesma ordem, gerando então as 
expressões sintomáticas. Quando postulado por Lacan que a invenção do sintoma seria 
Marxista, de certo há um implicado de verdade. Todavia, Marx não se dedicou a entender a 
que tais sintomas respondem, sua preocupação era evidenciar que as exigências sociais 
 
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colocavam o sujeito em conflito. Somente as investigações Freud-lacanianas dedicaram-se a 
compreender os fenômenos sintomáticos da psique humana. 
A "verdade" dessa ideologia, tal como no sintoma neurótico, não 
está nem na revelação nem no ocultamento, tão somente, mas na 
unidade contraditória que eles compõem. Não se trata apenas de 
despir um disfarce externo para expor a verdade, assim como o auto 
engodo de um indivíduo não é apenas um "disfarce" que ele 
assume. Trata-se, antes, de que o revelado se dá em termos do 
ocultado, e vice-versa (ŽIŽEK, 1996, p. 209). 
 
 Assim, o sintoma pode se mostrar como uma autêntica metáfora, substituindo o 
antigo significante por um novo significante. Dessa maneira, tem a função de proteger o 
sujeito do insuportável que o recalque suplanta, o novo significante (o sintoma) possui uma 
ligação de similaridade com outros significantes. E é exatamente dentro desta perspectiva 
que Žižek articula o texto O Espectro da Ideologia, na tentativa de explicar o caráter 
essencial dos mecanismos ideológicos. Não por acaso, o autor faz alusão ao princípio de 
deslocamento substitutivo do conceito de ideologia, pois toda vez que descontruímos um 
pressuposto ideológico fazemos nascer outro - e, sem essa dinâmica, não há instituição de 
sujeito nas relações. 
Para a psicanálise Freud - lacaniana, o sujeito enxerga e vive no mundo a partir de 
identificações com o Outro. Obviamente, isso nada mais é que identificar-se com uma 
proposta ideológica. Esse Outro que a psicanálise postula pode responder a qualquer 
referencial ideológico que suscite um ideal de Eu para o sujeito. Como vimos, no texto o 
Estádio do Espelho como formador da função do EU, esse lugar pode ser ocupado por uma 
fantasia, uma falta, ou substituído por instituições tais como casamento, trabalho, religião, 
classe social e padrão ideal de família. 
A função da ideologia, assim como a formação do eu, é garantir uma identidade para 
o indivíduo em suas relações. Parece intrigante a noção do conceito de espectro utilizada 
por Žižek em seu texto sobre ideologia, pois, segundo a psicanálise lacaniana, o sujeito é 
assolado pelos fantasmas desde seus primeiros meses de vida, mas somente após 
experienciar todos os medos e angústias das fases de seu desenvolvimento é que, enfim, 
poderá emergir enquanto sujeito. 
Como não sermos atropelados pelo sintoma? O que seria da humanidade sem essa 
via de expressão que aponta para o que não vai bem ao desconhecido que há em nós? 
 
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Diversas teorias têm se proposto a investigar o homem e como ele se comporta no mundo. 
Assim como Marx, a medicina também propôs-se a dar seu parecer a respeito do conceito 
de sintoma. Todavia, para a psicanálise freudiana o homem não é senhor em sua própria 
casa. Sendo assim, fica clara a proposta genial do autor ao articular os textos para explicar a 
relação entre ideologia e sintoma a partir da psique humana. Pois o sintoma trata de uma 
denúncia, uma reclamação, ou seja, um apelo para alguém que possa ouvi-lo e dar-lhe uma 
interpretação. 
2.1. Marx e os Fenômenos Sociais 
Quando tratamos da construção de uma ideologia, torna-se evidente que não há 
separação entre a ideologia e a realidade, muito embora o caráter ideológico esteja agindo 
mascaradamente em nossas relações como realidade, percebe-se que há uma tensão 
dialética que legitima uma crítica ao universo da ideologia. 
A partir disso, é preciso levar em consideração que o pensamento de Žižek sustenta-
se sob o viés marxista que trata aideologia como um mecanismo que distorce a realidade de 
fora para dentro, interferindo na forma como experienciamos nossas vidas. Sendo assim, a 
ideologia só produz sentido quando as ideias distorcidas perdem seu caráter original e 
passam a ser atualizadas e expressas por via orgânica ou de modo intelectualizado. Toda 
essa construção serve de legitimação para dar forma às relações de dominação e exploração 
existentes. 
Como, por exemplo, pode-se fazer um contraponto com as explicações de Marilena 
Chauí, em seu livro Ideologia, que para responder a um padrão ideal de família o sujeito 
precisará ceder do desejo: 
 
(...) se pudesse mostrar que a família burguesa é um contrato 
econômico entre duas outras famílias para conservar e transmitir o 
capital sob a forma de capital e patrimônio familiar e herança 
(mantendo a classe), teria de mostrar que é por isso que nessa 
família o adultério feminino é uma falta grave, pois faz surgirem 
herdeiros ilegítimos que dispersariam o capital familiar, e que, por 
esse motivo, o adultério feminino é convertido, para a sociedade 
inteira numa falta moral e num crime penal (Chauí, 2012, p.134). 
 
Por consequência, a moral popular é, em parte, resíduo de uma história pregressa 
anterior a inúmeras inovações evolutivas e criativas. Essa perspectiva diferencia as normas 
 
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da moral da sociedade burguesa e, por isso, os intelectuais orgânicos têm a função de 
mascarar os laços entre a ideologia e a teoria - fundindo as experiências das classes 
burguesas frente à classe proletária. Sendo assim, não se trata apenas de ratificar o princípio 
da consciência popular, mas elaborar um novo modelo empírico, um novo paradigma 
cultural filosófico que sustente a consciência popular com a mesma força dos dogmas 
tradicionais. 
O processo pelo o qual a sociedade cria seus paradigmas e dogmas parece estar 
justificado sem embasamento crítico à luz de outras perspectivas sociais e teóricas que se 
propõem a um questionamento das reais intenções que estão por trás de uma ideologia 
determinista. Toda essa discussão remete-nos ao pressuposto Marxista acerca das 
concepções: 
 
O conceito de ideologia para Marx sempre pretendeu respeitar, 
repetir e exercitar o paradoxo da mera semi-autonomia do conceito 
ideológico (como, por exemplo, as ideologias de mercado) com 
respeito à coisa em si - ou, neste caso, os problemas do mercado e 
do planejamento no capitalismo tardio, assim como nos países 
socialistas de hoje. Mas o conceito marxista clássico (inclusive a 
própria palavra ideologia, que em si e uma espécie de ideologia da 
coisa, em contraste com sua realidade) desmoronou, muitas vezes, 
precisamente nesse aspecto, tornando-se puramente autônomo e, em 
seguida, vagando como um simples "epifenômeno" para o mundo 
das superestruturas, enquanto a realidade continuava mais abaixo 
(...) (ŽIŽEK, 1996, p. 280). 
 
 Como encontramos em Marx, a ideologia é um conglomerado de ideias que tem por 
finalidade influenciar sujeitos com concepções pré-estabelecidas, visando direcionar ou 
alienar os indivíduos que fazem parte de determinados modelos de sociedade. Para melhor 
situar a proposta de ideologia de acordo com a teoria marxista, pode-se partir do 
pressuposto de que os indivíduos se assujeitam ou podem se assujeitar em determinados 
contextos. 
Todavia, a desconstrução de uma ideologia torna-se, consecutivamente, uma 
ideologia. Assim sendo, os sujeitos que tomam a ideologia como verdade, pode estabelecer 
uma relação de dominação como, por exemplo, a do senhor e do escravo. Aqui parece haver 
um contrato de ordem inconsciente que não apenas promove, mas sustenta essas relações: 
 
O que é um senhor? Um não-escravo. 
 
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O que é um escravo? Um não-senhor. 
Para haver um senhor é necessário haver um escravo; para haver um 
escravo é necessário haver um senhor. 
Ambos só existem como relação. Mas onde está a contradição? Que 
é, verdadeiramente, um senhor? Aquele que sobrevive graças ao 
trabalho do escravo, portanto um senhor é aquele cujo ser depende 
da ação de um outro que é sua negação. Que é verdadeiramente, um 
escravo? Aquele que julga o senhor como único ser humano 
existente e vê a si mesmo como não-humano porque é não-senhor 
(CHAUI, 2012 p. 45). 
 
Até agora, abordamos o conceito de sintoma e sua relação com os fenômenos sociais 
frente às propostas ideológicas com o intuito de abarcar todos os conceitos propostos nos 
textos de Slavoj Žižek em contrapartida ao pressuposto lacaniano. Para melhor situar o 
debate, será apresentado no capitulo a seguir o conceito de ideologia segundo a teoria 
marxista à luz das concepções žižekianas. 
 
3. Ideologia de Marx à Žižek 
 
 O termo ideologia aparece, pela primeira vez, na França após a revolução francesa 
em 1789 por Destutt de Tracy, que pretendia elaborar uma ciência da gênese das ideias. Seu 
intuito era descrever os fenômenos naturais como um mecanismo que apresenta uma 
relação do corpo humano como organismo vivo e ativo no meio ambiente. Para tanto, Tracy 
institui uma teoria sobre as faculdades sensíveis como sendo responsáveis por todas nossas 
ideias: querer (vontade), julgar (razão), sentir (percepção) e recordar (memória) (Chauí, 
2012). 
Relacionando o conceito de ideologia a partir do pensamento de Chauí, podemos 
contribuir com o conceito proposto por Marx que dá ênfase ao materialismo dialético que 
responde ao modelo de sociedade burguesa, representando os interesses coletivos dessa 
classe. Esse conceito visa manter a ordem social a partir das classes dominantes, como 
forma de controlar e manipular as relações políticas e, principalmente, no contexto de 
trabalho. 
Todavia, esse discurso mantém-se entre lacunas do dito em relação ao não dito, que 
dissemina instrumentos de sustentação do status e de instituição da própria sociedade. 
Althusser sugere a utilização de um discurso lacunar no que se refere às ideologias que 
 
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ocultam a verdadeira intenção a ser expressa - o que na teoria lacaniana opera como uma 
autêntica metáfora, que retomaremos adiante. 
De acordo com Chauí, citando Auguste Comte, o espírito humano evolui e passa por 
três fases sucessivas. Na primeira fase, o teórico descreve o conceito de fetichismo 
(teológico), como algo divino; em seguida, ele apresenta a fase metafísica, na qual a 
realidade é explicada por meios de princípios gerais e abstratos que norteiam o homem; e, 
por fim, ressalta a fase positivista ou científica, na qual a realidade é observada e analisada 
pelos fatos de onde emanam as leis gerais e necessárias por via dos fenômenos naturais e 
humanos, dando vida a uma ciência da sociedade denominada “física social” ou 
“sociologia”, que fundamenta a ciência positivista ou científica que tem por objetivo 
analisar a ação individual (moral) em detrimento a ação coletiva (política). Para o filósofo, 
essa etapa corresponde ao progresso maior dacondição intelectual humana (Chauí, 2012, p. 
31-32). 
Para Žižek, o conceito de ideologia baseia-se em três pontos fundamentais que 
divergem entre si, essencialmente no que refere-se à crítica da representação de um ato 
ideológico, de modo a não recair novamente no ato ideológico. Segundo as concepções do 
autor, o primeiro modo do conceito de ideologia trata-se de um conjunto de crenças 
voltadas para ação. O segundo aponta para a existência material, que considera a existência 
de “aparelhos ideológicos de estado”, instrumentos institucionais que disseminam a 
ideologia. Por fim, Žižek ressalta o conceito de auto-dispersão, que relativiza a extensão de 
uma ideologia determinante. 
Em uma passagem do livro Um Mapa da Ideologia que diz “as pessoas não sabem o 
que estão realmente fazendo”, parece chamar a atenção do sujeito em suas reais ações. 
Sendo assim, o conceito de ilusão ideológica serviria para os sujeitos apoiarem-se em um 
valor pré-estabelecido e universal onde o dinheiro parece ter status de valor que vai para 
além de sua forma de objeto. Podemos dizer que essa valoração transforma o lugar do 
dinheiro em uma mercadoria fetiche. Essa lógica ignora a real representação do dinheiro. 
Eis aqui a diferença do marxismo: na perspectiva marxista predominante, o 
olhar ideológico é um olhar parcial, que deixa escapar a totalidade das 
relações sociais, ao passo que, na perspectiva lacaniana, a ideologia designa, 
antes, a totalidade empenhada em apagar os vestígios de sua própria 
impossibilidade. Essa diferença corresponde à que distingue as noções de 
fetichismo em Freud e em Marx: no marxismo, o fetiche oculta a rede 
positiva de relações sociais, ao passo que, em Freud, o fetiche oculta a falta 
("castração") em torno da qual se articula a rede simbólica (Žižek, 1996, p. 
327). 
 
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Frente a essa perspectiva, Žižek ressalta que há uma falha na concepção de ideologia 
segundo Karl Marx. Pois, se de um lado a primeira definição abrange a dimensão do 
suposto saber, de outro lado despreza a dimensão do fazer. Assim, acontece uma distorção, 
uma ilusão que opera na dinâmica e na realidade social. Esse mal entendido atua naquilo 
que os indivíduos fazem e não no que pensam ou sabem estar fazendo. 
Não por acaso, o autor desmistifica a ideia de que os indivíduos assimilam que a 
proposta por trás do “objeto dinheiro” carrega uma substancialização da riqueza. Sendo 
assim, a ilusão fetichista do dinheiro serve para balizar a forma como os indivíduos se 
relacionam. 
 
A maneira mais fácil de detectar a efetividade desse postulado e 
pensar no modo como nos portamos em relação à materialidade do 
dinheiro: sabemos perfeitamente que o dinheiro, como todos os 
outros objetos materiais, sofre os efeitos do uso, que seu corpo 
material se modifica ao longo do tempo; mas, mesmo assim, na 
efetividade social do mercado, tratamos as moedas como se elas 
consistissem "numa substância imutável, uma substância sobre a 
qual o tempo não exerce nenhum poder, e que se situa num 
contraste antitético com qualquer material encontrado na natureza". 
Como é tentador relembrar aqui a fórmula do desmentido fetichista: 
"Sei muito bem, mas, ainda assim...” (ŽIŽEK, 1996, p.303). 
 
Žižek, de forma brilhante, esmiúça o conceito entre o verdadeiro lugar que o objeto 
ocupa, bem como, da assujeição com que o fetichismo da mercadoria interpela os sujeitos a 
partir da inversão entre o universal e o particular. Essa perspectiva remete-nos a refletir 
sobre o conceito da cadeia de significantes proposta na teoria lacaniana, pois o que parece é 
que os sujeitos buscam “um outro valor” nas significações que desdobram do objeto em si. 
Como, por exemplo, nos casos em que ao eleger um objeto para a compra sobressai um 
investimento financeiro versus o status que este confere. 
Para melhor situar, daremos como exemplo a aquisição de uma bolsa de uma 
determinada marca. Seu caráter universal de objeto perde o sentido quando relacionado à 
sua significação particular. O que sobressai aqui é o caráter simbólico que seu status 
confere de valoração em deter a marca, pois em poder desse objeto o sujeito ocupa um lugar 
social do qual lhe confere poder. Ora, se levado em consideração o caráter universal do 
objeto “bolsa”, qualquer tipo, modelo ou categoria poderia suprir sua necessidade original. 
 
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Frente a essa discussão, parece clara a ideologia como diretriz do comportamento 
social humano e da necessidade dessa proposta como norteadora da construção do 
pensamento e das formas de relações na contemporaneidade. 
 
Considerações Finais 
 
À luz das propostas oferecidas pelos textos, é de grande relevância articular o 
conceito de ideologia com o pressuposto psicanalítico que estuda os fenômenos e os 
comportamentos humanos, na tentativa de diminuir o sofrimento que tem atropelado os 
sujeitos na contemporaneidade. Slavoj Žižek conseguiu fazer alusão às formas de relações 
humanas onde o sujeito parece estar alienado e amarrado aos aparelhos ideológicos que 
causam conflitos psíquicos - e podem até despersonalizar seu lugar de sujeito. 
Com relação à classe burguesa dominante, por exemplo, mesmo que elas ocupem 
um lugar de superioridade, parecem estar aprisionados a ideologias que os alienam e os 
condenam a serviço da mercadoria e do poder de um sistema capitalista. Esse sistema os 
escraviza e os mantêm assujeitados, passivos, em favor da conquista de um status ilusório 
de poder - uma tentativa de tamponar a lacuna instaurada por uma falta que é de ordem 
inconsciente. Essa falta ocupa outro lugar que é de ordem primeira, mas causa sofrimento. 
É exatamente aí que o mercado midiático se oferece como solução para responder suas 
necessidades mais ínfimas. 
Por esta razão, foi de fundamental importância aludir ao conceito de sintoma à luz 
da psicanálise; mas, principalmente, remeter ao conceito marxista anterior ao da 
psicanálise, que nos fez entender que é a partir das relações que estabelecemos com os 
outros no contexto social que constituímos nossa identidade e as lentes com as quais vemos 
e experienciamos o mundo. 
Assim, como na célebre frase de Jacques Lacan, o inconsciente é estruturado como 
linguagem e é a partir daí que colocamos o discurso capitalista no lugar do Outro para 
responder à proposta de um ideal de Eu. Esse ideal responde a uma demanda da ordem do 
desejo inconsciente, que atormenta e causa angústia no sujeito. Em linhas gerais, os 
conceitos que foram relacionados aqui tentam explicar o modo como nos relacionamos com 
a proposta ideológica - mesmo que tentemos nos desvencilhar dessa ideologia primeira 
seremos lançados de imediato em um novo modelo de ideologia. 
 
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REFERÊNCIAS 
CHAUÍ, M. O que e ideologia. (Coleção Primeiros Passos). São Paulo: Brasiliense, 2012. 
FREUD, S. A interpretação de sonhos. (J. Salomão, Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras 
PsicológicasCompletas. (Vol. V, pp. 361 751). Rio de Janeiro: Imago, 1980[1900]. 
_________ Os caminhos da formação dos sintomas. (J. Salomão, Trad.). Edição Standard 
Brasileira das Obras Psicológicas Completas. (Vol. XVI, pp. 419-440). Rio de Janeiro: Imago, 
1980[1917]. 
_________ O mal estar na civilização, novas conferencias introdutórias `a psicanálise e outros 
textos. (1930-1936) - (P. C. Souza, Trad.). São Paulo: Companhia das Letras, 2010. 
 
LACAN, J. O estádio do espelho como formador da função do Eu. Escritos. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar Editor, 1998[1949]. 
ZIZEK, S. “O Espectro da Ideologia” in Um mapa da ideologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 
1996. 
________. “Como Marx Inventou o Sintoma?” in Um mapa da ideologia. Rio de Janeiro: 
Contraponto, 1996.

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