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A cultura de Conceicao do Araguaia presente nos cordeis de Manelao Cleomar de Carvalho e Fortes Sobrinho

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Prévia do material em texto

1 
 
 
Universidade do Estado do Pará 
Núcleo de Conceição do Araguaia 
Centro de Ciências Sociais e Educação 
Graduação Plena em Letras – Língua Portuguesa 
 
 
 
Denise Silva Rocha 
Lucicleides Soares da Silva 
Walessa Nazaré Oliveira 
 
 
 
 
A cultura de Conceição do Araguaia presente 
nos cordéis de Manelão, Cleomar de Carvalho 
e Fortes Sobrinho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Conceição do Araguaia 
 2011 
2 
 
 
 
 
Denise Silva Rocha 
Lucicleides Soares da Silva 
Walessa Nazaré Oliveira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A cultura de Conceição do Araguaia presente nos 
cordéis de Manelão, Cleomar de Carvalho e Fortes 
Sobrinho. 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso 
apresentado como requisito parcial para a 
obtenção do grau de Licenciatura Plena em 
Língua Portuguesa, Universidade do Estado 
do Pará. Orientador: Profº. Ms. Raphael 
Bessa Ferreira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Conceição do Araguaia 
2011 
3 
 
 
 
Denise Silva Rocha 
Lucicleides Soares da Silva 
Walessa Nazaré Oliveira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A cultura de Conceição do Araguaia presente nos 
cordéis de Manelão, Cleomar de Carvalho e Fortes 
Sobrinho. 
 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso 
apresentado como requisito parcial para a 
obtenção do grau de Licenciatura Plena em 
Língua Portuguesa, Universidade do Estado 
do Pará. 
 
 
 
 
 
Data de Aprovação: 12/12 /2011. 
Banca Examinadora 
 
 
___________________ Orientador 
Profº. Ms. Raphael Bessa Ferreira 
Universidade do Estado do Pará 
 
 
____________________Membro 
Profº. Esp. Oziel Pereira da Silva 
Universidade do Estado do Pará 
 
 
 
4 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
Agradeço primeiramente a Deus que me deu a vida, por isso estou aqui 
hoje concluindo minha graduação. Agradeço a Ele também pela sabedoria e 
força de vontade que me fizeram continuar e nesses quatro anos de 
caminhada, nos quais pude crescer não apenas intectualmente, mas também 
como pessoa, pois na convivência diária com meus colegas aprimorei ainda 
mais minha capacidade de conviver, ouvir, e respeitar, sem machucar ou 
denegrir todos os meus colegas de classe. 
Agradeço a minha família, em especial a minha mãe que sempre me deu 
força nos momentos em que eu estava desmotivada, magoada ou triste por 
algum problema que surgiu no decorrer do curso, pelas palavras de apoio e por 
fazer de tudo para conseguir custear os congressos, encontros ou palestras de 
que participei, realizados fora da cidade. 
Agradeço ao meu pai, que também trabalhou bastante para que eu 
pudesse concluir esse curso estando sempre disposto e me ajudando todas as 
vezes em que precisei de dinheiro para comprar materiais necessários e de 
fundamental importância para o meu curso, assim como também a sua 
compreensão dos momentos em que eu ficava ausente dedicando meu tempo 
apenas para os trabalhos que eram exigidos pela faculdade. 
Agradeço às minhas colegas de TCC Lúcia e Walessa que sempre 
estiveram comigo nos momentos bons ou ruins, compartilhando alegrias e 
tristezas e acima de tudo, se esforçando ao máximo para que nós pudéssemos 
finalizar com glória e eficácia nosso trabalho de conclusão de curso. 
Por fim, agradeço a esta universidade e a todos os professores, alguns 
mais que outros, que contribuíram cada um com sua forma individual de ser, 
para a minha formação, tirando minhas dúvidas e esclarecendo da forma mais 
fácil possível, questões ligadas ao curso e a outros assuntos que surgiram 
durante esses quatro anos de caminhada. 
Por tudo que passei, finalizo estes agradecimentos com um trecho da 
música de Roberto Calos que sintetiza bem todos os momentos que vivenciei 
nesta instituição “Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”. 
 
Denise Silva Rocha 
5 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
Agradeço a Deus, que me presenteou com o dom da vida e com a 
inteligência indispensável para alçar um voo tão alto, e que deste 
arrebatamento levo apenas a certeza de encontrar degraus, aos quais galgarei 
passo a passo, compassados e reforçados por tudo aquilo que vivi e tudo que 
aprendi. 
À Minha Família, meu esposo e filhos, que nos períodos de minha 
ausência consagrados ao estudo superior, sempre estiveram ao meu lado e me 
fizeram entender que para se chegar a um futuro de sucesso é necessário uma 
admirável e intensa dedicação no presente, e que sem isso jamais poderíamos 
chegar a lugar algum. 
À minha querida irmã Cris, ao meu eterno amigo Rafael a Ir. 
Elizabeth por tanto que se dedicarem a mim, não somente por terem se 
preocupado comigo, mas por terem me dado incentivo, por enxugar minhas 
muitas lágrimas e por estarem sempre disponíveis a me ouvir, aconselhar e 
auxiliar neste momento de tão complexa conclusão. 
Aos meus caros colegas de turma, que no decorrer de todo este 
tempo demonstraram a mim uma grande amizade e companheirismo e em 
especial as minhas inesquecíveis amigas e companheiras de TCC Denise Silva 
Rocha e Walessa Nazaré Oliveira que tanto me auxiliaram no transcorrer de 
todos esses anos de estudos. 
A esta Universidade, seu corpo docente e administrativo, que 
ofereceram a mim a oportunidade de vislumbrar o horizonte do curso superior, 
levada por uma incomensurável e verdadeira confiança no que diz respeito ao 
mérito aqui presente. 
Agradeço em especial ao meu professor e orientador Raphael Bessa 
que foi muito atencioso e compreensivo e me ensinou que fazer um bom 
trabalho consiste em dar a verdadeira atenção aos pequenos detalhes que 
fazem a grande diferença, ao senhor, portanto O Meu Muito Obrigado!!!!!! 
 
Lucicleides Soares da Silva 
6 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
A Deus, por ter permitido alcançar um dos meus objetivos da minha 
vida, passar no vestibular, e que ainda me possibilitou a graça de ser 
abençoada de passar juntamente com minhas duas irmãs. 
Aos meus pais Raimundo Waldecy do Nascimento Oliveira e Maria 
Matos Nazaré Oliveira, que por sua vez, me apoiaram, incentivaram, instruíram 
e não mediram esforços para esta meta fosse alcançada. 
Ao grupo de amigas, intitulado GDF (Galera do Fundão), pelos bons 
momentos de descontração e companheirismo. E que sem sombra de dúvida, 
deixarão muitas saudades e estarão guardadas na memória. 
Às minhas companheiras de TCC, Denise Rocha e Lucicleides 
Soares, pela compreensão, companheirismo e amizade acima de tudo, elas 
tornaram-se praticamente membros da minha família. Sem o apoio delas a 
minha formação não seria a mesma. 
Às amigas da minha cidade Santo Antônio do Tauá, que sempre me 
apoiaram e me fizeram sorrir quando estive triste; 
Às senhoras Maria Torres, Maria Santos, Joaquina e (in memorian) 
Joana, que nos ajudaram e que de alguma forma cuidaram de nós durante o 
período em que residimos nesta cidade. 
Ao professor e orientador do presente trabalho de conclusão de 
curso, Raphael Bessa Ferreira, pela paciência, profissionalismo e boa vontade. 
A todos que, direta ou indiretamente participaram da minha 
formação acadêmica: amigos, familiares, vizinhos, colegas de sala e 
professores. 
À Universidade do Estado do Pará, campus de Conceição do 
Araguaia, por ter me possibilitado a graduação em Letras com habilitação em 
língua Portuguesa e suas Literaturas. 
 
Walessa Nazaré Oliveira 
 
 
 
 
7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Um povo sem conhecimento, 
saliência de seu passado 
histórico, origem e cultura. É 
como uma árvore sem raízes”(Bob Marley) 
 
8 
 
 
RESUMO 
 
Nosso objetivo em trabalhar a cultura de Conceição do Araguaia presente na 
literatura de cordel de Manoel Martins de Almeida (Manelão), Cleomar da Silva 
Carvalho e Francisco de Assis Fortes Sobrinho consistiu em obter informação 
sobre a mesma, analisar suas especificidades e identificar termos e costumes 
típicos da cidade. Com isso esperamos atribuir a essa literatura e aos seus 
autores o devido reconhecimento e valorização que os mesmos têm por direito, 
pois ao que nos diz respeito, a literatura de Cordel, não só em Conceição do 
Araguaia, mas em todo país, é esquecida pela maioria e apreciada por uma 
minoria. Nossa finalidade com esse trabalho incide também em saber quem 
são os cordelistas presentes nesta cidade, de que forma eles trabalham no que 
se refere à métrica, à rima e à composição de seus cordéis, ou seja, as 
características próprias de cada um e de que forma os mesmos abordam às 
especificidades da cultura existente na cidade de Conceição do Araguaia. 
 
Palavras - chave: Cordel; Cultura; Hibridismo, Conceição do Araguaia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
ABSTRACT 
 
Our goal in working culture of Conceição do Araguaia in the literature for string 
Manoel Martins de Almeida (Manelão) Cleomar da Silva Carvalho and 
Francisco de Assis Fortes Sobrinho was to obtain information about it, analyze 
and identify their specific terms and customs typical of the city, we hope to give 
to this literature and its authors due recognition and appreciation that they have 
the right, for what concerns us Cordel literature not only in Conceição do 
Araguaia, but in any country is forgotten and appreciated by the majority by a 
minority. Our purpose with this work also focuses on knowing who the 
cordelistas present in this city, how they work in relation to meter, rhyme and 
composition of their strings, is the characteristics of each one and how the 
same address the specifics of the existing culture in the town of Conceição do 
Araguaia 
 
 
Key – words: Conceição do Araguaia, Cordel, Culture, Hybridity. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO........................................................................................11 
 
1. ORIGEM DA LITERATURA DE CORDEL..............................................13 
 
2. CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA DE CORDEL..........................16 
2.1. Ilustrações ou Xilogravuras...........................................................19 
 
3. O CORDEL NO BRASIL.........................................................................20 
 
4. CULTURA................................................................................................23 
4.1. Conceição do Araguaia: aspectos culturais e históricos...............24 
 
5. VIDA E OBRA DOS CORDELISTAS DE CONCEIÇÃO DO 
ARAGUAIA..............................................................................................27 
5.1. Vida e obra de Cleomar de Carvalho............................................27 
5.2. Vida e obra de Manelão................................................................29 
5.3. Vida e obra de Fortes Sobrinho....................................................30 
 
6. ANÁLISES...............................................................................................33 
6.1. Análise do cordel de Cleomar de Carvalho (Quebra de Milho)....33 
6.2. Análise do cordel de Manelão (Terra das Bandeiras Verdes)......38 
6.3. Análise do cordel Fortes Sobrinho (O Caboclo da Amazônia).....43 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................49 
 
REFERÊNCIAS.......................................................................................51 
 
ANEXOS.................................................................................................53 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 
A literatura de cordel está longe de desaparecer como modalidade 
preferida de manifestação cultural popular no Brasil. No entanto, é preciso 
salientar que ela sofreu uma mudança considerável nos últimos anos. 
Antigamente, a poesia popular era praticamente o único veículo de 
informação e formação de vastas camadas populacionais do interior do Brasil, 
notadamente no nordeste. Era portadora de tradição e veículo único de lazer e 
informação. 
Hoje, ela é, entre outras coisas, instrumento de reivindicação de 
cunho social e político. Não somente para os nordestinos e descendentes, mas 
para todos os habitantes do Brasil. Nesse sentido: 
 
 
Temos a literatura de cordel, hoje símbolo, no mundo todo, da cultura 
popular do povo brasileiro. A sextilha nordestina (estrofes de seis 
versos de sete sílabas) tornou-se a maior expressão poética de toda 
a nossa história. (LUYTEN, 2005, p.17) 
 
 
 
Em várias cidades do Brasil há a tradição da literatura de cordel, 
Conceição do Araguaia é uma delas, pois assim como nas demais regiões do 
país, aqui também é possível encontrar esse tipo de literatura. 
Em Conceição do Araguaia, a literatura de cordel não é conhecida 
por todos, pois não há divulgação ou busca de conhecimento relacionado a 
esse assunto, além disso, a própria população, em sua maioria, desconhece 
esse gênero literário e seus autores. 
Nosso propósito ao realizar este trabalho é demonstrar a importância 
de se conhecer e valorizar a cultura de Conceição do Araguaia, expressa por 
meio da literatura de cordel produzida pelos cordelistas Manelão, Cleomar de 
Carvalho e Fortes Sobrinho. 
Sendo assim, esperamos que este estudo possa contribuir para 
pesquisas futuras na tentativa de disseminar o saber sobre a literatura de 
12 
 
 
cordel, bem como os trabalhos sobre esta modalidade na expressão cultural da 
cidade, esperamos, também que o mesmo ajude na divulgação da cultura de 
Conceição do Araguaia, expressa por meio dessa literatura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
1 ORIGEM DA LITERATURA DE CORDEL 
 
 
 
A literatura de cordel originou-se em Portugal, no entanto, há relatos 
de seu surgimento entre os povos greco-romanos, fenícios, cartagineses, 
saxões, etc. Em outros países, a literatura de cordel se difundiu com outros 
nomes: "pliegos sueltos" (Espanha), "folhas soltas" ou "volantes" (Portugal, 
Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai, Peru) e “corridos” (México, Venezuela, 
Nicarágua, Cuba). No período Medieval os trovadores divulgavam nas praças 
suas histórias, que abordavam temas como: os romances de cavalaria, 
narrativas de amor, heroísmo, viagens e conquistas marítimas, entre outros 
temas. 
A literatura de cordel chegou ao Brasil por intermédio dos 
colonizadores, na área que se estende da Bahia ao Maranhão, o que fez com 
que ela adquirisse características de tal região. 
É da Península Ibérica que vem o nome literatura de cordel, pois os 
livretos eram expostos em lugares públicos, pendurados em barbantes. No 
Brasil, o costume sempre foi expor os folhetos no chão, sobre folhas de jornal 
ou dentro de uma mala aberta. Isso permitia ao vendedor poder evadir-se 
rapidamente quando aparecia algum guarda ou fiscal. Mesmo assim, os 
estudiosos persistiam no nome literatura de cordel, e, hoje, dificilmente alguém 
a chama por outro nome. Além disso, o cordel possui um preço acessível a 
todas as classes, ele expandia a literatura tanto popular, quanto erudita, de 
acordo com Júnior na seguinte afirmação: 
 
 
Numa população analfabeta, como deveria sera portuguesa dos 
séculos medievais, a comunicação oral era o instrumento de difusão 
literária, fosse à literatura erudita, fosse a popular. Daí o fato dos 
poetas viverem em palácios ou em reuniões dizendo seus versos. 
(JÚNIOR 1986, p. 36) 
 
Seus versos abordam desde temáticas e problemáticas atuais até 
fatos históricos. Assim, podemos considerá–la como atemporal, no sentido de 
não se limitar a uma época específica e, principalmente, podemos concebê–la 
14 
 
 
como um relato histórico por meio da linguagem (escrita e oral). Nesse sentido, 
percebemos que a literatura de cordel retrata a relação entre os atores sociais, 
sua historicidade, sua identidade, sua língua, seu espaço e seu tempo. 
Dentro dessa perspectiva, percebemos que seus versos não se 
resumem ao registro da produção da cultura material (objetos), mas também 
abordam a produção imaterial (idéias), costumes, crenças, hábitos, ideologias. 
Todas essas marcas estão refletidas nos textos do cordel. Essa literatura 
retrata as vivências, a imaginação, a fé, a devoção do povo nordestino. 
Histórias que, muitas vezes, contadas de geração para geração, o que 
evidencia sua relação direta com o registro da memória e do imaginário do 
povo nordestino. 
A grande vantagem da literatura de cordel sobre as outras 
expressões da literatura popular é que o próprio homem do povo imprime suas 
produções, e do jeito que ele as entende. Luyten faz o seguinte comentário 
sobre as características da literatura de cordel: 
 
 
Hoje em dia, quase todos os folhetos têm oito páginas. Antigamente, 
era muito comum se verem folhetos de 16, 32 e até de 48 e 64 
páginas. Os nomes eram dados de acordo com o número de páginas. 
Os de oito eram chamados de folheto (nome, hoje, genérico); os de 
16 páginas eram os romances e geralmente tratavam de assuntos 
amorosos, na maioria das vezes trágico. Os de 32 páginas em diante 
chamavam-se histórias e eram feitos pelos melhores poetas. 
(LUYTEN 2005, p. 45) 
 
 
Os assuntos tratados nos romances eram também considerados os 
mais interessantes, pelo grande espaço a eles dedicado. Em alguns casos, 
chegava-se a abrir vários volumes, mas, com o passar do tempo, devido ao 
encarecimento do papel e da impressão, as histórias e romances foram 
deixando a preferência popular. 
Acreditava-se que a literatura de cordel estava com seus dias 
contados com a instauração da televisão e do rádio, já que antigamente o 
cordel era a principal fonte de informação, e com a TV e os meios de 
entretenimento o cordel deixou exclusivamente de informar e passou a tratar de 
outros temas, como causos, lutas, aventuras, dentre outros. 
15 
 
 
 No Brasil essa produção popular persiste até hoje com aceitação de 
seu público original, apesar de novos entretenimentos, e tendo conquistado 
outro tipo de leitores, os estudiosos, colecionadores eruditos e turistas. 
A literatura de cordel apresenta vários aspectos interessantes e 
merecedores de destaque: as gravuras, chamadas xilogravuras, representam 
um importante espólio do imaginário popular, ou seja, o cordel compreende um 
conjunto de bens deixados por vários autores no decorrer de sua existência. 
Pelo fato de funcionar como divulgadora da arte do cotidiano, das tradições 
populares e dos autores locais, a literatura de cordel é de inestimável 
importância na manutenção das identidades locais e das tradições literárias 
regionais, contribuindo para a perpetuação do folclore brasileiro. Pelo fato de 
poderem ser lidas em sessões públicas e de atingirem um número elevado de 
exemplares distribuídos, ajudam na disseminação de hábitos de leitura e luta 
contra o analfabetismo. 
A tipologia, ou seja, os conjuntos de caracteres tipográficos de 
assuntos que cobrem críticas social e política de texto de opinião elevam a 
literatura de cordel ao estandarte de obras de teor didático e educativo. Sendo 
o cordel a representação da junção de várias culturas, seus manuscritos 
reproduzem a herança de manifestações de nossos antepassados 
resguardando suas memórias e as transformando com o passar o tempo e 
sendo aperfeiçoado até chegar à forma que se apresenta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
 
2 CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA DE CORDEL 
 
 
Nossa literatura de cordel é caracterizada, principalmente, pela 
poesia popular. Sintetizando, essas características estão ligadas a aspectos 
culturais, seu retrospectivo social, sua simplicidade material conjugada com 
sua naturalidade e reprodução do âmbito oral, aliado a participação da massa 
na construção literária, do povo brasileiro no contexto social. 
Evidenciando o caráter cultural de cordel, nos atentamos em um 
primeiro momento à ponte culturalística de Brasil e Portugal, sendo o primeiro 
uma recriação do segundo, pois notamos uma acentuação regionalista do 
cordel ao mesmo tempo em que ele transcende o universo literário, já que 
podemos perceber a presença nordestina em grande escala no cordelismo, 
todavia esse é um resquício do povo brasileiro, que se caracteriza por sua 
força, fé e coragem, ao passo de estarem expostas as mazelas que formulam 
uma sociedade desigual. 
Engajamo-nos na origem portuguesa de fazer literatura, ou melhor, 
na exposição que podemos oferecer a ela, no sentido de que ambas as 
literaturas são confeccionadas em papel barato e vendidas em feiras, sendo 
ainda exposta em varais, por isso a nomenclatura de literatura de cordel. O 
cordel brasileiro possui semelhança expositiva com o português, tendo em vista 
que Márcia Abreu (1999), nos lembra que não há uma simetria própria que 
caracterize a literatura de cordel brasileira, que já é chamada de literatura de 
folhetim. 
Contudo, é nesta vertente literária que encontramos as tradições de 
cantigas orais, por isso há uma ligação com o trovadorismo, que produzia sua 
poesia oralmente, tendo uma simplicidade reprodutiva que vai estar presente 
contemporaneamente nos repentistas nordestinos e no registro material do 
papel barato de sua publicação, assim como vai se transformar em meio 
informativo da massa brasileira. 
Isso nos remete a um retrospecto histórico, onde o homem sertanejo 
não contava com meios globais do capitalismo, tais como luz elétrica, televisão, 
rádio, internet, e etc., além de fazer denúncia social e crítica, todavia permeia 
17 
 
 
uma sobrevivência dos costumes cultural do Brasil, de modo que o povo saiu 
da posição de coadjuvante para tornar-se personagem principal da criação de 
nossa cultura, talvez por isso a desvalorização desta literatura seja freqüente, 
ou seja, a elite não quer repartir ou reconhecer no cenário literário a 
participação da camada social que alicerça a pirâmide do Brasil. 
Enfatizemos que a referida literatura apresenta os supracitados 
aspectos, entretanto, não atrai a relevância que deveria ser-lhe conferida, 
porém, isso não nos espanta, já que a desvalorização da cultura do Brasil é 
tradicional, pois temos em evidência a retratação do contexto social da nação, 
onde se lê legitimado pelo tradicionalismo literário da classe dominante, 
fragmentando assim o cunho de representação nacional que abrange o todo da 
estrutura social, alienando o conhecimento interno da arte que reproduz a 
realidade, cultura e sociedade. 
Somente no fim do século passado, com o surgimento de algumas 
tipografias, a literatura finalmente se fixou no nordeste e passou a ser parte da 
cultura regional. Hoje, sem dúvida alguma, a literatura de cordel é característica 
do nordeste brasileiro e está ganhando cada vez mais espaço no cenário 
cultural mundial. 
Abaixo temos o cordel, Literatura de Cordel por Francisco Ferreira 
Filho Diniz queretrata a origem e as características de tal literatura: 
 
Literatura de Cordel 
É poesia popular, 
É história contada em versos 
Em estrofes a rimar, 
Escrita em papel comum 
Feita pra ler ou cantar. 
 
A capa é em xilogravura, 
Trabalho de artesão, 
Que esculpe em madeira 
Um desenho com ponção 
Preparando a matriz 
Pra fazer reprodução. 
 
Mas pode ser um desenho, 
Uma foto, uma pintura, 
Cujo título, bem à mostra, 
Resume a escrita 
É uma bela tradição 
18 
 
 
Que exprime nossa cultura. 
 
7 sílabas poéticas, 
Cada verso deve ter 
Pra ficar certo, bonito 
E a métrica obedecer, 
Pra evitar o pé quebrado 
E a tradição manter 
 
Os folhetos de cordel 
Nas feiras eram vendidos 
Pendurados num cordão 
Falando do acontecido, 
De amor, luta e mistério, 
De fé e do desassistido. 
 
A minha literatura 
De cordel é reflexão 
Sobre a questão social 
E orienta o cidadão 
A valorizar a cultura 
E também a educação. 
 
Mas trata de outros temas: 
Da luta do bem contra o mal 
Da crença do nosso povo 
Do hilário, coisa e tal 
E você acha nas bancas 
Por apenas um real. 
 
O cordel é uma expressão 
Da autêntica poesia 
Do povo da minha terra, 
Que luta pra que um dia 
Acabem a fome e miséria, 
Haja paz e harmonia. 
 
 Faixa 1 do Cd Literatura de Cordel, de Francisco Ferreira Filho Diniz. 
 
Portanto, podemos dizer que a caracterização do cordel é a fiel 
representação do multiculturalismo brasileiro e da desigualdade social que 
ocorre nas regiões menos favorecidas, como a própria região nordeste, e o 
nascimento participativo da classe popular, de modo geral a literatura assume o 
papel de inclusão e agregação cultural, sendo o cordelismo literário este 
instrumento de mudança. 
 
19 
 
 
2.1 Ilustrações ou Xilogravuras 
 
 
A ilustração não nasceu com o cordel. Antes, eram usadas as 
chamadas "capas cegas", sem qualquer ilustração. A xilogravura é um 
fenômeno relativamente recente, apesar de ter sido usada em 1907, na 
ilustração de uma capa de um folheto de Francisco das Chagas Batista 
enfocando Antônio Silvino. Fato isolado. Os desenhos e os clichês de cartões 
postais e com fotos de artistas de Hollywood eram os preferidos dos editores, a 
começar pelo lendário Athayde. Segundo Joseph M. Luyten: 
 
 
A partir dos últimos 40 anos, ficaram conhecidas as improvisações feitas 
para preencher a falta de outros tipos de ilustração. Tudo começou com o 
agora famoso Mestre Noza, em Juazeiro do Norte. Ele sempre foi santeiro 
conhecido (entalhador de estátuas), e resolveu cortar uma tabuinha para 
servir de capa a um folheto. A coisa deu certo, e a aceitação foi imediata. 
Alguns anos depois, já havia diversos gravadores, e muitos estudiosos 
achavam que xilogravura era a forma mais original de ilustrar um folheto de 
cordel. (LUYTEN 2005, p. 56) 
 
 
A xilogravura nunca teve ampla aceitação no meio popular, mas a 
Academia a adotou como a ilustração por excelência dos folhetos de cordel. É 
verdade que a xilogravura é a ilustração mais característica do cordel, mas não 
a única. A essência de um bom cordel está no texto, não na capa, no vestuário. 
O cordel (texto e ilustração) evoluiu, e nenhum poeta ou editor 
antenado abre mão das tecnologias para oferecer ao público edições bem 
cuidadas, não esquecendo é claro de sua tradição, mas sem desprezar a 
modernidade. O cordel, por conta disso, chega vivo e com fôlego ao século 
XXI. 
 
 
 
 
20 
 
 
3 O CORDEL NO BRASIL 
 
 
 
O cordel chegou ao Brasil na época de seu descobrimento com os 
navegadores portugueses, em que era vendido como "folhas soltas". Salvador, 
na época, era primeira capital brasileira, sendo a porta de entrada do cordel e 
Recife um dos principais centros, pois abrigava a Capitania poderosa. 
A partir daí a poesia popular ganha o interior do Nordeste, chega à 
Paraíba, mais precisamente a Serra do Teixeira e Pombal, que se transformam 
em cenários para o surgimento da cantoria de viola. O nordestino, com sua 
criatividade ímpar, fez uma releitura da poesia lida e cantada pela nobreza e 
inventou o repente. Surge o violeiro, que animava as festas populares e 
realizava desafios, pelejas nas noitadas, domingos e feriados. 
Segundo Luís da Câmara Cascudo (1939), no livro Vaqueiros e 
cantadores os folhetos foram introduzidos no Brasil pelo cantador Silvino 
Pirauá de Lima e depois pela dupla Leandro Gomes de Barros e Francisco das 
Chagas Batista. No início da publicação da literatura de cordel no país, muitos 
autores de folhetos eram também cantadores que improvisavam versos, 
viajando pelas fazendas, vilarejos e cidades pequenas do sertão. Com a 
criação de imprensas particulares em casas e barracas de poetas, mudou o 
sistema de divulgação, pois o autor do folheto a partir daí podia ficar num 
mesmo lugar a maior parte do tempo, porque suas obras eram vendidas por 
folheteiros ou revendedores empregados por ele. 
Leandro Gomes de Barros, nascido em Pombal, ao perceber o 
interesse do povo pela poesia cantada, teve a iniciativa no final do século XIX 
de editar e comercializar, as histórias nas feiras. As características desses 
folhetos prevalecem até os dias de hoje, por isso ele é considerado o patriarca 
dessa expressão popular e a Paraíba é tida como o berço da literatura de 
cordel. Com a aceitação desse novo tipo de literatura, o folheto virou meio de 
comunicação do interior do Nordeste, uma vez que, na época, não havia rádio 
nem jornal, com exceção das capitais. Por isso, o que acontecia nas 
redondezas era noticiado em cordel. 
21 
 
 
A população adquiriu o hábito de comprar um cordel toda semana. 
Ao fazer a feira de legumes, carne, frutas, etc. comprava também um título de 
cordel, que era lido em reunião familiar. Com isso, muitos aprenderam a ler, 
pois o folheto era um estímulo importante para que analfabetos perdessem 
essa patente. Pelo fato de semanalmente o povo comprar um folheto, 
verificamos que ainda hoje, existem parentes de colecionadores com baús 
cheios de folhetos antigos. 
Foi no Nordeste do Brasil (da Bahia ao Pará) que a literatura de 
cordel se arraigou mais profundamente e continua como forma viva de 
comunicação, tornando-se uma das características diferenciadoras dos 
costumes dessa imensa região em relação às demais regiões brasileiras. Pela 
interpretação do grande pesquisador que foi Câmara Cascudo, sabemos que, 
no Nordeste, por condições sociais e culturais peculiares, foi possível o 
surgimento da literatura de cordel, da maneira como se tornou hoje em dia 
característica da própria fisionomia cultural da região. 
Fatores de formação social contribuíram para isso: a organização da 
sociedade patriarcal, o surgimento das manifestações messiânicas, o 
aparecimento de bandos de cangaceiros ou bandidos, as secas periódicas 
provocando desequilíbrios econômicos e sociais, as lutas de família deram 
oportunidade, dentre outros fatores, para que se verificasse o surgimento de 
grupos de cantadores, como instrumentos do pensamento coletivo e das 
manifestações de memória popular. 
Se eram raras as obras impressas, vindas de Portugal ou dos 
centros mais adiantados do próprio Brasil, havia à mão os folhetos contando as 
velhas novelas populares, às vezes, histórias de santo também. Não foi difícil 
a literatura de cordel introduzir-se neste ambiente. Tornou-se o meio de 
comunicação, o elemento difusor dos fatos ocorridos, servindo como jornal ao 
pôr a família ao corrente do que se passava: façanhas de cangaceiro, casos de 
rapto de moças, crimes, estragos da seca, efeitos das cheias e tantas coisas 
mais. 
 Segundo alguns pesquisadores, o Brasil é omaior produtor 
de literatura de cordel no mundo ocidental, em cem anos publicou cerca de 
20.000 folhetos, embora em pequenas tiragens (entre 100 e 200 exemplares 
cada), afirma Luyten (2005). 
22 
 
 
Devido ao atraso da chegada da imprensa por aqui e seu acesso 
pelo público, as produções literárias populares tiveram seu apogeu apenas no 
século XX. Nesse período a prosa aparece muito mais na forma oral que passa 
de geração para geração, e como é uma manifestação muito mais cultural do 
que intelectual, destaca-se em regiões onde a cultura é mais valorizada e 
delineada. Aqui no Brasil essas regiões são a região Nordeste e a região Sul. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
 
4 CULTURA 
 
 
 
O Brasil é um país híbrido, pois várias outras culturas são 
associadas a nossa, entre elas a africana, a portuguesa, a japonesa, a 
americana, e etc., os costumes desses países influenciaram significativamente 
nos nossos hábitos. Um bom exemplo disso é a nossa língua, onde muitas 
palavras do português falado no Brasil provêm de outros países, ou seja, o 
Brasil uniu culturas de diversos países e criou uma nova, com características 
próprias. 
A palavra cultura provém do latim medieval significando cultivo da 
terra. Do verbo latino original colo que é igual a cultivar, que associado ao 
termo cultum, resulta na palavra cultura, como já foi dito anteriormente, era 
relativo ao cultivo da terra. 
Segundo o dicionário Mini-Aurélio (2001 p.197), a palavra cultura 
significa “O complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das 
instituições, das manifestações artísticas, intelectuais, etc., transmitidos 
coletivamente, e típicos de uma sociedade” 
Sua transformação começa a partir da sabedoria acumulada no trato 
do ambiente natural e a experiência secular de pastores e agricultores que 
acabaram conferindo ao termo cultura o sentido de conhecimento intelectual, 
aplicado à ação transformadora do mundo. 
Antropologicamente sabemos que a cultura é o conjunto de 
experiências humanas adquiridas pelo contato social e acumuladas pelos 
povos através do tempo. Outro conceito nos diz que a cultura é uma expressão 
simbólica das linguagens, de imensa diversidade, que caracteriza o processo a 
os modos como os povos definem as suas identidades, num contexto como o 
nosso, complexo, rico, espelhado pela riqueza do saber popular, afirmamos 
então que a cultura é um elemento fundamental de resgate dos valores. 
O Art. 216 da Constituição Brasileira apresenta uma versão bastante 
objetiva do que seja cultura, nela constituem patrimônio cultural brasileiro os 
bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em 
conjunto, portadores de referência à ação, à memória dos diferentes grupos 
24 
 
 
formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluam, sendo ainda, as 
formas de expressão, os modos de criar, fazer e viver, as obras, objetos, 
documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações 
artístico-culturais e etc. 
Desse modo, entende-se que cultura é de fato essencial ao ser 
humano, pois é por meio dela que o mesmo adquire e transmite conhecimentos 
e experiências, além de ser através da cultura que um indivíduo poderá ser 
identificado e identificar características que são peculiares de determinados 
locais, países ou cidades, ou seja, é por meio da cultura, dos costumes e das 
características particulares que um povo se mantém vivo. Por esse e outros 
motivos torna-se essencial manter, valorizar e transmitir a cultura de geração à 
geração, para que não haja o fim ou morte da cultura de um povo. 
Leoné Astride Barzotto, em seu artigo: O entre-lugar na literatura 
regionalista: articulando nuanças culturais (2010), afirma que a literatura local 
também é regional visto que uma comunidade cultural só se configura como tal 
por meio de características que são, pela proximidade de experiências, 
comungadas. 
 
4.1 Conceição do Araguaia: aspectos culturais e históricos. 
 
 
Desde seu descobrimento, o Brasil tornou-se morada para diversos 
povos: portugueses, italianos, japoneses, escravos trazidos da África, etc., que 
trouxeram consigo hábitos e costumes de seus países. 
Com isso, nosso país foi se mesclando de tal forma que hoje em dia 
parece não haver mais a possibilidade de se encontrar indivíduos 
absolutamente “puros” no sentido cultural, já que nossa cultura é a mistura 
desses diferentes povos. Porém, muitos indivíduos híbridos não têm a 
consciência dessa mistura, imaginando-se intactos ou negando sua própria 
composição. 
Conceição do Araguaia é uma cidade culturalmente híbrida, pois há 
a mistura de culturas de outras cidades e até de outros estados, sendo a 
referida cidade fortemente influenciada pelas culturas do estado do Tocantins, 
Goiás, Maranhão e Minas Gerais. Não existem cidades culturalmente “puras”, 
25 
 
 
pois essa visão é completamente utópica e ilusória, uma vez que somos todos 
sujeitos de comunidades híbridas e multiculturais. 
A cidade tem características marcantes de outras culturas em 
diversas situações, na fala, na alimentação, na dança, na música, e etc., tudo 
isto comprova o que foi dito anteriormente, ou seja, Conceição do Araguaia, 
através de seus habitantes, tornou-se uma cidade híbrida, já que muitos deles 
não são naturais da cidade e, ao se mudarem para cá, trouxeram consigo 
características das cidades ou estados que habitavam anteriormente. 
Este fato pode ser evidenciado e comprovado por meio dos 
cordelistas que produziram os cordéis analisados no presente trabalho, são 
eles: Manoel Martins de Almeida (Manelão), autor do cordel Terra das 
bandeiras Verdes, que não nasceu em Conceição do Araguaia, sua cidade 
natal é Tocantinópolis, interior do Tocantins. Já Cleomar de Carvalho, autor do 
cordel Quebra do Milho, nasceu em Porto Franco, município do estado do 
Maranhão, e Fortes Sobrinho autor do cordel ABC para o estado de Carajás, é 
oriundo da cidade de Xambioá, no estado do Tocantins. 
Somente conhecendo a própria cultura é que o indivíduo 
compreenderá a importância de mantê-la viva na memória, protegendo-a e 
valorizando-a iremos preservar o que somos, nossas características, nossa 
identidade. 
Desse modo, Conceição do Araguaia não apresenta uma “cultura 
própria”, que seja específica da cidade. O próprio nome da cidade “Conceição” 
é português, trata-se de uma homenagem à padroeira da localidade original, 
Nossa Senhora da Conceição. 
Em 1897, Frei Gil de Vila Nova fundou, no território de Baião, um 
arraial com o nome de Conceição do Araguaia, que passou à freguesia, em 14 
de abril de 1900. 
1O desenvolvimento da freguesia levou o Legislativo do Estado do 
Pará a criar o Município de Conceição do Araguaia, que teve sua sede no 
antigo povoado do mesmo nome, através da Lei nº 1.091, de 03 de novembro 
de 1908, concedendo ao lugar o título de vila. Sua instalação só aconteceu em 
 
1 Disponível no site: http://www.conceicaodoaraguaia.pa.gov.br/ 
26 
 
 
10 de janeiro de 1910. Com a Lei nº 1905, de 18 de outubro de 1920, a Vila de 
Conceição de Araguaia foi elevada à categoria de cidade. 
Em 4 de novembro de 1930, com o Decreto nº 6, o Município de 
Conceição do Araguaia foi extinto, ficando seu território sob a administração 
direta do Estado. Tal situação é confirmada, através do Decreto nº 72, de 27 de 
mês seguinte. 
Com a Lei nº 8, de 31 de outubro de 1935, que apresentou a relação 
das comunas paraenses, figura, novamente, o município de Conceiçãodo 
Araguaia, embora as fontes consultadas não façam referência a qualquer ato 
legal que tenha restituído a Conceição do Araguaia à antiga condição de 
município. A lei citada não faz referência aos distritos que o integravam, à 
época. 
No Decreto-Lei nº 3.131, de 31 de outubro de 1938, que estabeleceu 
a divisão territorial do Estado para o período de 1939 a 1943, o Município de 
Conceição do Araguaia se apresentava constituído de 2 distritos: Conceição do 
Araguaia e Santa Maria das Barreiras. Tal situação foi confirmada pelo 
Decreto-Lei nº 4.505, de 30 de dezembro de 1943. 
Pela Lei nº 2.460, de 29 de dezembro de 1961, Conceição do 
Araguaia teve sua área desmembrada, para ser criado o Município de Santana 
do Araguaia e, posteriormente, perdeu novas porções de terras que deram 
origem a três outros municípios: Xinguara, Redenção e Rio Maria (Lei nº 5.028, 
de 3 de maio de 1982). 
O município de Conceição do Araguaia localiza-se na região sudeste 
do estado do Pará, conhecida como “Zona do Planalto”, com altitude superior a 
542m, à margem esquerda do rio Araguaia. Está localizado especificamente a 
uma latitude 08º15’28" Sul e a uma longitude 49º15’53" Oeste. 
Sua população estimada em 2010, segundo o Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística (IBGE), foi de 45.557 habitantes. Limita-se ao norte com 
o município de Floresta do Araguaia, ao sul com o município de Santa Maria 
das Barreiras, a oeste com o município de Redenção, estando a leste com o 
estado do Tocantins (PROJETO PRIMAZ, 1996). 
Sua Área é de 5.829,44 km² representando 0.4672% do Estado, 
0.1513% da Região e 0.0686% de todo o território brasileiro. Seu IDH é de 
0.718 segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano/PNUD (2000). 
27 
 
 
5 VIDA E OBRA DOS CORDELISTAS DE CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA 
 
 
5.1 Vida e obra Cleomar da Silva Carvalho. 
 
 
Cleomar da Silva Carvalho tem 62 anos de idade e nasceu em Porto 
Franco, no estado do Maranhão no ano de 1949, onde viveu por 28 anos. Em 
1983, mudou-se para o município de Conceição do Araguaia no qual reside há 
34 anos. Cleomar é o primeiro filho de um total de 11. 
Seu pai, Domingos Pereira de Carvalho, também nasceu em Porto 
Franco, Maranhão. Era lavrador e criava gado, tem como escolaridade o 
primeiro ano do ensino primário incompleto, assim como sua mãe, Maria 
Lourdes da Silva Carvalho, também nascida no mesmo local, era dona de 
casa. 
Cleomar estudou grande parte da sua vida em escolas públicas, em 
Porto Franco, onde concluiu o ensino médio. Em Conceição do Araguaia fez 
um curso técnico em contabilidade, formou-se pedagogo pela Universidade do 
Estado do Pará (UEPA) habilitado em magistério e administração escolar, com 
pós-graduação em psicopedagogia e orientação educacional e está em fase de 
conclusão do curso de Direito. 
É pai de quatro filhos, Valter Domingos Resende de Carvalho, 
Símon Bolívar Resende de Carvalho, Daniel Henrique Resende de Carvalho e 
Vianyr Olivier Resende de Carvalho. Valter é jornalista e interprete, Símon 
formou-se médico em Cuba, Daniel é formado em Ciências Contábeis e Vianyr 
é técnico em segurança do trabalho e está se preparando para prestar 
vestibular na área de engenharia elétrica. 
Cleomar de Carvalho tinha apenas 7 anos quando escreveu sua 
primeira poesia dentre outras, podemos citar: Pérola Negra e Chamas Vivas. 
Publicou dois cordéis, intitulados Quebra do milho e Secando o bagaço. 
No cordel Quebra do Milho, Cleomar conta a estória de uma festa de 
São João que ocorreu na fazenda do Carvílio, onde houve uma grande 
confusão e pancadaria por causa de Mané Camaleão, um andarilho que se 
28 
 
 
engraçou com Viturina, namorada de Pedro Catalina, um homem conhecido 
pelas brigas constantes nas festas da região. 
Já o cordel Secando o Bagaço, por sua vez, trata da estória de um 
fazendeiro chamado João Pompeu que mantia sua filha Concita trancada em 
casa. A mesma acaba se apaixonando por Ribamar, capataz da fazenda de 
seu pai. Decidem fugir para viver esse amor proibido, mas antes dos dois 
finalmente terem seu final feliz passam por algumas confusões e brigas com o 
pai da moça. 
O traço marcante dos cordéis de Cleomar é a forma cômica com que 
o mesmo conta suas estórias, pois há bravura, amor, suspense, morte dos 
heróis e mocinhas onde existem também situações de brigas, os conflitos, os 
romances e a aventura, são descritos de forma engraçada que diverte e 
envolve o leitor. Seu estilo poético é ainda marcado pela rima fechada 
combinada ao ritmo. 
Cleomar, já participou de vários eventos que incluem festivais de 
música, onde expôs suas composições musicais vencendo por duas vezes, 
participou de vários congressos, de diversos fóruns relacionados ao curso de 
Direito e criou o “Arte Canterra”. Em relação às premiações, Cleomar foi o 
primeiro compositor de Conceição do Araguaia, a inscrever-se no concurso 
(Arte Canterra) realizado na capital do estado. Participou ainda de vários 
lançamentos de livros como convidado especial. 
No momento, Cleomar esta em processo de criação de um livro 
intitulado Cléo e Lia, que retrata momentos ocorridos durante o período da 
ditadura militar, fatos presenciados e vividos por ele mesmo. 
No que se refere à cultura, Cleomar da Silva Carvalho afirma que 
cultura é tudo que um povo precisa para conhecer a liberdade afirmando, 
ainda, que cultura é tudo aquilo que leva o homem a se descobrir como um 
grande formador de opinião sem vaidade, com ética e com respeito por tudo 
aquilo que o outro pensa. Para ele, Conceição do Araguaia é a “mãe da cultura 
da região”, no entanto não têm o devido reconhecimento. 
5.2 Vida e obra de Manelão 
 
 
29 
 
 
Manoel Martins de Almeida, mais conhecido como “Manelão”, 
nasceu dia 24 de fevereiro de 1952 no interior do estado do Tocantins, num 
vilarejo que se localizava entre a cidade de Anjico e Nazaré, onde viveu por 
três anos. É o terceiro filho de um total de seis irmãos, todos já falecidos. 
Seu pai José Gomes de Almeida, natural de Grajaú no estado do 
Maranhão, era lavrador e concluiu apenas o ensino fundamental. Sua mãe 
Natividade Martins dos Reis, também nasceu em Grajaú, onde era professora e 
dava aula na zona rural. 
Manelão veio para Conceição do Araguaia em 1955, aos três anos 
de idade com seus pais estudou no colégio Santa Rosa das irmãs 
dominicanas, onde cursou até a quinta série do ginásio. Casou-se e teve três 
filhos, duas meninas e um menino. 
Atualmente Manelão compõe músicas, escreve cordéis e pinta 
esporadicamente. Sua primeira composição musical denomina-se “rios dos 
meus sonhos”. Entre os cordéis produzidos pelo autor, temos o primeiro 
intitulado Eu sou filho de roceiro, que teve sua 1ª edição publicada em 2005, e 
que segundo o autor, é um relato de sua própria experiência de vida. 
Neste cordel, Manelão relata alguns momentos que vão desde sua 
infância até a sua vida adulta. Nele Manelão narra os diversos eventos que 
participou e que ao final, a pedido dos organizadores, produzia um cordel que 
descrevesse o que havia acontecido. Dentre estes encontros são destacados o 
10º Intereclesial (encontro entre lideranças das comunidades paroquiais e 
diocesanas), 1º Congresso Nacional CPT (Comissão Pastoral da Terra), Curso 
Bioenergético de Tratamento Natural e o encontro de Formação de Lideranças 
Camponesas. 
Outro cordel produzido por Manelão foi Santas Missões Populares - 
SMP, publicado em 2005. Nele Manelão procurou descrever o mutirão 
promovido pela igreja católica juntamente com os leigos e missionários que 
tinham como principal objetivo evangelizar o povo de algumas cidades do Pará 
e do estado do Tocantins. 
No cordelTerra das Bandeiras verdes, temos a história de 
Conceição do Araguaia e da igreja católica. Nele é relatado o que os 
fundadores da cidade fizeram para conseguir fundá-la, como se deu a 
construção da igreja matiz, fazendo ainda um breve comentário sobre a 
30 
 
 
guerrilha do Araguaia até chegar ao ano de 2005. Sua 1ª edição foi publicada 
em 1997 e a 2ª em 2005. 
Entre os prêmios e homenagens que Manelão recebeu temos “Os 
Mais Mais do ano de 2005 e 2006”, premiação dada ao melhor músico da 
cidade, e uma homenagem de honra ao mérito pelos relevantes serviços 
prestados à cidade de Conceição do Araguaia na área da cultura, realizado 
pela rádio Cidade FM. Ele participou ainda de vários festivais, congressos, 
exposições de arte popular, tanto em Conceição como em outras localidades, 
além de participar de eventos como convidado especial. 
Os principais temas abordados por Manelão em seus cordéis são 
relacionados à igreja, à natureza, terra, ecologia, meio-ambiente e assuntos 
que também falam da vida do povo. 
 
 
5.3 Vida e obra de Fortes Sobrinho 
 
 
Francisco de Assis Fortes Sobrinho é natural do Baixo-Araguaia, 
Xambioá Estado do Tocantins. É filho dos poetas Hardí de Passavan Fortes 
(Nordestino) e dona Maria (Mariazinha) Lima Moraes (Tocantinense). Era o 
quinto filho de um total de sete, e têm três filhos. 
Fortes Sobrinho é um dos fundadores, e segundo coordenador da 
SOPOCOBA (Sociedade dos Poetas Cordelistas da Bacia Amazônica), além 
de ser o terceiro Embaixador-Pesquisador da OBPLC (Ordem Brasileira dos 
Poetas de Literatura de Cordel) na Amazônia. 
Seu pai, Hardí de Passavan Fortes era dentista e poeta, e estudou 
até a quinta admissão (referente ao 6º ano do ensino fundamental). Sua mãe 
Maria Lima Moraes é dona de casa e também escreve poesias, sendo apenas 
alfabetizada. 
Participou de vários encontros, festivais e congressos de Literatura 
de cordel e cantoria popular a nível regional e nacional. Publicou 30 folhetos de 
cordel, entre os quais destacamos: ABC para o estado de Carajás, Ecologia: a 
bola da vez!, O caboclo da Amazônia, etc. 
31 
 
 
É membro de várias Associações de poetas populares e diversas 
Academias de Letras, tendo conseguido vários títulos, honrarias e 
condecorações como: “Comendador da Cultura Popular”, “O intelectual do ano 
de 1983” (em Conceição do Araguaia-PA), e “Glória à arte”, sendo ainda 
membro da “Academia Petropolitana de Letras”, etc. 
O primeiro cordel produzido por Fortes Sobrinho foi Mané Bobão e 
suas proezas. Este cordel relata a história fictícia de um menino que queria ser 
muitas coisas. Primeiro queria ser jogador de futebol, depois cantor, dançarino 
e etc. Mas ao final não conseguiu conquistar nada do que desejava. Tudo é 
narrado de forma cômica e irreverente. 
Dos 23 livros escritos por ele apenas 8 foram publicados, e segundo 
o mesmo já compôs mais de mil poesias. Além da literatura de cordel e das 
poesias Fortes também escreve peças de teatro, romances, contos, liras e 
sonetos. É cantor e compositor e inclusive já lançou um CD intitulado “Canta 
Xambioá”, neste CD todas as faixas foram compostas e cantadas por ele. 
A letra, música e arranjo do hino de Xambioá são de autoria do 
Xambioaense Francisco de Assis Fortes Sobrinho, com parceria de Jânio Lima 
Fortes e João Alberto Lima Fortes. 
Fortes Sobrinho é solteiro e residiu em Conceição do Araguaia por 
vinte anos, só que a cinco anos voltou para Xambioá, sua cidade natal, onde 
mora até hoje. Atualmente Fortes Sobrinho é poeta cordelista e trabalha em 
Xambioá. 
Os cordéis produzidos por Fortes Sobrinho são ligados a temas 
relacionados à ecologia, Amazônia, região Norte e Nordeste, Cultura e 
costumes do povo do Baixo – Araguaia. Muitos de seus cordéis falam de sua 
cidade natal (Xambioá). Também produziu cordéis biográficos de seus 
familiares e de si mesmo. 
Na residência de seus pais, localizada em Conceição do Araguaia, 
Fortes Sobrinho mantém um grande acervo de livros, CDs, DVDs, discos de 
vinil, fitas cassete, fotos, recortes de jornais referentes à sua história, além de 
entrevistas suas publicadas em revistas, medalhas, prêmios, quadros, e 
cordéis produzidos por ele, por seus familiares e cordéis de outros autores. 
Segundo Fortes, se trata do maior acervo cultural existente em Conceição do 
Araguaia. 
32 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 ANÁLISES 
 
 
6.1 Análise do cordel de Cleomar de Carvalho (Quebra do Milho) 
33 
 
 
 
 
Para a literatura de cordel não há um método único e exclusivo de 
produzir ou escrever um cordel, pois o cordelista tem liberdade para expor suas 
histórias da forma que achar mais conveniente. O poeta cordelista, em sua 
obra, pode optar por compor seu cordel com estrofes que variam entre quatro 
ou mais versos. 
 
 
Existem muitas maneiras de ordenar os versos de cordel. O 
importante é lembrara que cada uma delas possuem uma forma 
especial de ser cantada. Esse aspecto, aliás, é primordial para que 
uma estrutura poética possa ser chamada de popular. (LUYTEN, 
2005 p.53-54) 
 
 
 
Essas estrofes são chamadas de quadra (estrofe com quatro 
versos), sextilha (estrofe com seis versos), septilha (estrofe com sete versos), 
oitava (estrofe com oito versos), décima (estrofe de dez versos), martelo 
(estrofe de dez versos composta de decassílabos), e etc. Não importa a ordem 
em que elas apareçam o importante é manter a rima e a musicalidade do 
cordel. 
 
 
Modalidades também conhecidas são o “quadrão”, o mourão” e 
muitas outras. O pesquisador Sebastião Nunes Batista achou mais de 
cem. Um bom poeta cantador conhece pelo menos umas vinte e 
tantas. Sempre é bom lembrar, porém, que na parte impressa, na 
literatura de cordel propriamente dita, mais de 80% vem em forma de 
sextilha. (LUYTEN, 2005 p.55) 
 
 
No cordel que iremos analisar Quebra de Milho, de Cleomar 
Carvalho, observamos que o autor se utilizou não apenas de estrofes que 
contenham uma única métrica, pois há momentos em que o mesmo usa a 
sextilha e em outras ocasiões há presença de septilha, quadra, décima e etc. 
34 
 
 
O cordel é composto por 29 estrofes divididas em 3 quadras, 2 
sextilhas, 1 septilha, 7 oitavas, 5 estrofes de nove versos, 7 décimas, 3 estrofes 
de onze versos e 1 estrofe de doze versos. 
Exemplo de sextilha encontrada no cordel Quebra de Milho, de 
Cleomar Carvalho: 
Camelão meio tonto 
e muito desajeitado 
chamou o dono da casa 
um pouco mais afastado 
e lhe pediu mil desculpas, 
demonstrando estar cansado 
 
Exemplo de quadra: 
 
A paz reinou novamente 
sob o clarão do luar, 
a fogueira foi acesa 
para a batata assar 
Exemplo de décima: 
 
Lá na serra da chapada 
na fazenda do Carvílio 
foi aquele baculejo 
bate-boca e quebra-pau 
o que era uma festança 
daquelas bem radical 
mas já pela madrugada 
a coisa foi contornada 
e aconteceu afinal! 
 
 
 
Neste cordel também pode ser observado a questão das expressões 
populares locais utilizadas por Cleomar. Muitas delas são específicas dessa 
região, a região sul do Pará, expressões como: chambarí, muriçoca, talagada, 
boroca dentre outras, são encontradas nas seguintes versos: 
 
 
Uma marreteira velha 
Que vendia caxixí 
35 
 
 
E uma mulher cebosa 
que servia chambarí, 
correram feito malucas 
entraram numa empuca 
de espinho e bambuí 
e passaram a noite toda 
brigando com muriçoca 
debaixo de um bacuri! 
 
 
Na estrofe acima, a palavra caxixí remete a um instrumento 
parecido com um chocalho.Trata-se de um trançado de palhas na forma de um 
sino que possui pedaços de acrílico, arroz ou sementes de tinquim secas no 
interior para fazê-lo soar, ele é muito utilizado como complemento do berimbau. 
Chambarí, por sua vez, é a palavra usada para definir um prato 
típico da região do baixo Araguaia. A palavra empuca, outra expressão 
utilizada por Cleomar, significa para os conceicionenses um emaranhado de 
ramos e folhagens arbustivas trançados, que servem de esconderijo para os 
animais. 
Já a palavra muriçoca é uma expressão utilizada pelos moradores 
para denominar um inseto comum da região sul do Pará. Sendo que o mesmo 
inseto é conhecido na região nordeste do estado como carapanã e nas demais 
regiões do país é conhecida como pernilongo. 
E, Por fim, temos a palavra Bacuri, que se refere a uma espécie de 
palmeira que produz frutos ovais comestíveis de mais de 5 centímetros 
Camelão que não era 
Pau que se enganche trouxa, 
arrancou o trinta oito 
da boroca sobre a coxa 
 
A palavra boroca, outra expressão utilizada pelo autor nos versos 
acima, também é usada na região sul paraense para designar bolsa ou 
mochila. 
 
 
Quando Catalina viu 
mais que encolarizado 
36 
 
 
tomou uma talagada 
ficou de olho vidrado 
 
Talagada é uma expressão que significa uma dose ou um gole de 
bebida alcoólica. 
Outra característica relevante para a análise é o ritmo e a 
musicalidade, encontradas no cordel Quebra de milho de Cleomar de Carvalho, 
pois, segundo Luyten (2005), a possibilidade musical é primordial para que 
uma estrutura poética possa ser chamada de popular. 
 
Camaleão meio tonto 
e muito desajeitado 
chamou o dono da casa 
um pouco mais afastado 
e lhe pediu mil desculpas 
demonstrando estar cansado 
 
No exemplo acima, encontram-se rimas no segundo, no quarto e no 
sexto verso: desajeit(ado), afast(ado) e cans(ado). Já os versos 1,3 e 5 não 
precisam rimar com nenhum outro facilitando a vida poética do autor, que se 
preocuparia apenas em encontrar três rimas por estrofe. 
Outra particularidade interessante e que merece destaque é o fato 
de Cleomar de Carvalho atribuir aos personagens do seu cordel nomes de 
animais. Grande parte desses personagens têm seu nome acrescido a um 
nome de animal. 
A narrativa conta a história de uma briga, mais ao lermos esse 
cordel não nos deparamos com agressividade ou violência e sim com muitas 
cenas cômicas, o que evidencia o caráter descontraído com que Cleomar se 
utiliza para compor este cordel. Segundo Fischer (2002), a arte em todas as 
formas de desenvolvimento, na dignidade e na comicidade, na persuasão e na 
exageração, na significação e no absurdo, na fantasia e na realidade, a arte 
tem sempre a ver com a magia. 
 Ao atentarmos para o simbolismo presente nos nomes dos 
personagens do cordel Quebra do Milho, percebemos que Cleomar de 
37 
 
 
Carvalho utiliza nomes referentes a animais, insetos, termos pejorativos e etc., 
ligados a um nome próprio, tais como: Mané-camaleão, Bazé cara-de-gato e 
Raimundo Caolho, entre outros. 
Segundo o Dicionário de Símbolos, o camaleão, de acordo com a 
lenda fula de Kavdara, muda de cor à vontade: isso significa ser sociável, cheio 
de tato, capaz de estabelecer uma relação agradável seja com quem for; é ser 
capaz de adaptar-se a todas as circunstâncias. (CHEVALIER, 2009, p. 170). 
 
Camaleão não sabia 
deste namoro danado, 
e convidou Viturina 
para dançar um xaxado 
 
No Dicionário de Símbolos, há outra característica do camaleão: 
“arte de livrar-se de qualquer impasse; [...] faculdades de mentir e de acobertar-
se longamente numa emboscada para melhor surpreender”; (CHEVALIER, 
2009, p. 170). 
 
Camaleão que não era 
pau que se enganche trouxa, 
arrancou o trinta e oito 
da boroca sobre a coxa 
e mandou balas no mundo 
numa fração de segundos 
Temos ainda, no fragmento abaixo, alguns personagens no qual 
seus nomes são acrescidos a apelidos: 
Tinha um tal de Mandubé 
Irmão do Bico-de-Pato, 
Que estava acompanhado 
Por Bazé Cara-de-Gato, 
Que dançava com Adalgiza 
Irmã de João Viriato, 
Deu uma de valentão 
38 
 
 
Mais se esburrachou no chão 
Apanhando do Renato! 
De acordo com o Dicionário de Símbolos, para os índios da pradaria 
o pato é o guia infalível, tão à vontade na água quanto no céu. (CHEVALIER, 
2009, p. 170). Já o simbolismo do gato é muito heterogêneo, pois oscila entre 
as tendências benéficas e as maléficas, o que se pode explicar pela atitude a 
um só tempo terna e dissimulada do animal. (CHEVALIER, 2009, p. 461). 
 
6.2 Análise do cordel de Manelão (Terra das Bandeiras Verdes) 
 
 
Este cordel é composto por 141 estrofes todas com 7 versos, 
obedecendo a métrica da septilha, pois desde início até o fim do cordel não 
muda. Além disso, é observado no cordel de Manelão uma característica em 
comum com os cordéis mais tradicionais produzidos no nordeste, o acróstico. 
Segundo Márcia Abreu (1999, p.98): 
 
 
Os poetas preocupavam-se com questões de direitos autorais e de 
propriedade dos textos, pois viviam da venda de suas composições. 
Por isso, imprimiam seus nomes na capa e na primeira página dos 
folhetos, estampavam seus retratos, utilizavam acrósticos nas 
estrofes finais. 
 
 
M - as peço agora desculpas 
A - você que está lendo 
N - ão consegui escrever tudo 
E - u estou reconhecendo 
L - he agradeço a atenção 
A - onde Deus põe a mão 
O - Reino vai se fazendo 
 
M - as minha tarefa cumpri 
A - té onde fui capaz 
39 
 
 
N - ada omiti por querer 
E - m breve eu escrevo mais 
L - hes desejo de verdade 
A - mor e felicidade 
O - pai nos encha da PAZ! 
 O ciclo religioso, uma das fases da literatura de cordel, também 
pode ser observado no cordel Terra das Bandeiras Verdes, pois o mesmo trata 
da fundação da Igreja Católica e da cidade de Conceição do Araguaia. 
Nossa história começou 
mais de cem anos atrás 
às margens do Araguaia 
Não esqueçamos jamais 
Frei Gil celebrando a missa 
Numa paisagem belíssima 
Sob o reflexo da paz 
 Manelão se utiliza de diversos termos indígenas em seu cordel, 
isso porque a cidade antes era habitada por algumas tribos indígenas, tais 
como os Caiapós e os Carajás. 
Primeiros destinatários 
dessa evangelização 
seriam os índios Caiapós 
que habitava o sertão 
Primeiros “Filhos da Terra” 
Que até faziam guerra 
para defender o chão 
 
e também os Carajás 
livres ao sol da manhã 
Primeiros “Filhos das Águas” 
Nos passos da Aruanã 
Deslizando na ubá 
ou no remanso a pescar 
40 
 
 
à luz de um novo amanhã 
 
 A origem do nome ubá é duvidosa: pode vir do tupi, e que 
significa: canoa feita de um só tronco ou ser o nome de uma planta, gramínea, 
muito abundante na região. 
Aruanã é um peixe de escamas que pode atingir um metro de 
comprimento e cujo corpo guarda leve semelhan-ça com o pirarucu. Pertence a 
família dos Osteoglosídeos e vive, principalmente, em lagos. Pelo seu hábito 
de nadar sempre na superfície, pode ser apanhado facilmente com flechas. O 
nome científico do aruanã é Osteoglossum Ferrerae. 
A 2Guerrilha do Araguaia, período em que ocorria no Brasil a 
ditadura militar, também está sendo mencionada no cordel Terra das Bandeiras 
Verdes, pois Manelão relata algumas experiências vividas nesse período por 
moradores de Conceição do Araguaia. Há relatos das lutas e sofrimentos pelos 
quais muitos foram submetidos, sendo os mesmos padres, civis, pessoas 
envolvidas em partidos políticos e etc., todos eram presos, torturados ou até 
assassinados de forma violenta, inclusive atéhoje muitas pessoas 
assassinadas no período da guerrilha do araguaia não tiveram seus corpos 
encontrados. 
 
Uma lenda antiga dizia: 
-o Araguaia vai ferver! 
Com a guerrilha do Araguaia 
isso passa a acontecer 
e para se agravar 
a ditadura militar 
fez muito povo sofrer. 
 
A ditadura militar 
pôs medo na região 
 
2A Guerrilha do Araguaia foi um agrupamento de militantes contrários à ditadura militar que 
acreditavam que a revolução socialista só teria sucesso se acontecesse no interior rural do 
Brasil. 
 
41 
 
 
reprimindo os guerrilheiros 
sem ter dó no coração 
e até gente inocente 
reprimida bruscamente 
sem entender a razão. 
 
A guerrilha do Araguaia 
A nossa história marcou 
Pelo sangue guerrilheiro 
Que nessa terra tombou 
E até sangue inocente 
De soldado e outras gentes 
Mais a semente ficou. 
O hibridismo tema já citado em capítulos anteriores, também é 
mencionado neste cordel, vejamos no fragmento abaixo o processo no qual 
muitas pessoas, de várias regiões do país, vieram para Conceição do Araguaia 
em busca de uma nova vida. Esse movimento migratório se deu pelo fato 
dessas pessoas, principalmente as que vieram do nordeste, estarem fugindo 
da seca e das péssimas condições de moradia e subsistência. 
 
Mais vão surgindo mudanças 
aqui no sul do Pará 
Chegam goianos, mineiros 
e outros migrantes de lá 
Vem pela Belém-Brasília 
Muitos seguem essa trilha 
buscando as terras de cá 
 A origem do nome da cidade – Conceição do Araguaia – também é 
citada no cordel 3Terra das Bandeiras Verdes, nele Manelão descreve o porquê 
do nome da cidade. 
 
3 Eram os romeiros das “bandeiras verdes”. Muitos lavradores se deslocaram (do Piauí e do Maranhão) 
para as regiões de fronteira a partir da década de 1950, inspirados no que o Padre Cícero ou os 
42 
 
 
O nome desse lugar 
Tem um significado 
Berocan, o Grande Rio 
Araguaia assim chamado 
Sob chuvas de bênçãos 
À Virgem da Conceição 
O lugar foi consagrado. 
 
 Sendo o cordel Terra das bandeiras verdes um instrumento de 
divulgação da trajetória da Igreja católica no Araguaia, este traz nomes de 
importantes líderes religiosos que por aqui passaram, são eles: Frei Gil de Vila 
Nova, Domingos Carrerot, Dom Sebastião Tomás, Frei Tomás Balduíno, Dom 
Estevão, Dom José Patrick, Dom Pedro José Conti, entre outros. 
 Observamos que Manelão ao iniciar seu cordel pede inspiração a 
Deus e ao final do mesmo pede desculpas ao leitor e novamente cita Deus, 
agradecendo-o pela história contada, característica esta que também esta 
presente nos cordéis mais tradicionais. 
 
Que o Senhor da história 
Me dê mais inspiração 
Para narrar passo a passo 
Com sentimento e paixão 
A caminhada de um povo 
Construindo um tempo novo 
Nessa grande região. 
 
 
M-as peço agora desculpas 
A-você que está lendo 
N-ão consegui escrever tudo 
E-u estou reconhecendo 
 
“antigos” já diziam: “para o fim das eras, feliz daquele que procurasse as Bandeiras Verdes e as 
montanhas”, que, coincidência ou não ficavam para o oeste e sempre apontaram o “lado do pôr-do-
sol”, ou seja, a direção da Amazônia, do sul do Pará. (MANELÃO, 2011, p.51) 
43 
 
 
L-he agradeço a atenção 
A-onde Deus põe a mão 
O-Reino vai se fazendo 
 No fragmento abaixo Manelão cita outro costume típico da região, 
o boi – bumbá, ou bumba – meu – boi, que antigamente era muito comum no 
período das festas juninas em Conceição do Araguaia, hoje em dia, já não é 
tão freqüente ver essa manifestação popular na cidade. 
 
Chegando no mês de junho 
Tinha muita diversão 
Nos terreiros se acendia 
As fogueiras de S. João 
Tinha também boi-bumbá 
Pelas ruas a brincar 
Na maior animação 
 
6.3 Análise do cordel de Fortes Sobrinho (O Caboclo da Amazônia) 
 
 
O cordel que iremos analisar a seguir é composto por 64 estrofes 
todas com 7 versos cada, e o autor obedece a métrica da septilha,também já 
observado no cordel que analisamos anteriormente de Manelão (Terra das 
Bandeiras Verdes), pois do início ao fim do cordel o autor não modifica sua 
forma de composição. 
 
Pois bem aqui na Amazônia 
O nordestino chegou 
Para colheita do gaucho 
Que em borracha transformou. 
No bojo a literatura 
O verso como cultura 
Ele trouxe e aqui ficou. 
44 
 
 
 
Com isto chegou também 
A cultura nordestina 
Além do nosso cordel 
O forró, coisa granfina. 
Reisando, meu boi-bumbá 
Muitas canções de “niná” 
Para gente pequenina. 
 
 Nos fragmentos acima o autor descreve como se deu a migração 
dos nordestinos para a nossa região Amazônica, pois aqui vieram trazendo em 
sua bagagem sua música, sua dança, seu folclore e sua literatura em forma de 
cordel. Fortes Sobrinho no fragmento abaixo faz uma descrição fiel da 
característica do caboclo da Amazônia: 
 
Nosso caboclo amazônido 
Tem a cara arredondada 
A famosa “lua cheia” 
E a “venta” meio achatada. 
Madeixa Liza e escura 
Pele morena e segura 
E a fala bem apressada. 
 
Tem olhos cor da noite 
Lábios nem grossos, nem finos 
Os cílios quase apagados 
E o coração de menino. 
As orelhas quase abano 
Chama seu povo de “mano” 
É versátil, repentino. 
 
O autor relata em todo o cordel as diversas formas de culturas 
existentes na Amazônia dentre elas a dança do boi-bumbá e a festa de 
45 
 
 
Parintins que são grandes shows proporcionados ao povo da região, essas 
manifestações populares podem ser observadas na estrofe a seguir: 
 
É “az” na festa do boi 
De Parintins, cidade 
Caprichoso e Garantido 
São dois bois que na verdade. 
Dão shows para o nosso povo 
E o caboclo fica novo 
Rindo de felicidade. 
 
Nos fragmentos a seguir o autor fala sobre o artesanato presente no 
dia-a-dia dos caboclos da região. 
 
Faz-se côfo, muito abano 
Para se dormir, esteira 
Paneiro, também cesto 
E quibano de primeira. 
O tipiti e o pacará 
É arte do acre ao Amapá 
Da gente bem brasileira. 
 
Do capim dourado faz 
Pulseiras, belos anéis 
Da madeira, faz também 
Xilogravuras, cordéis. 
Esculturas, os entalhes 
Com os mínimos detalhes 
Como escritos de papéis. 
 
Do barro faz-se cerâmica 
Uma arte marajoara 
Potes, vasos, outros mais 
Numa concepção rara. 
46 
 
 
Com primitivos desenhos 
Do caboclo, muito empenho 
Nossa arte é nossa cara. 
 
Fortes Sobrinho, nas estrofes abaixo comenta sobre os variados 
pratos e frutas típicas da região Amazônica. 
 
Bom de boca e de prato 
É o caboclo do norte 
Tacacá com maniçoba 
Deixa o sujeito bem forte. 
Um pato no tucupi 
Açaí e murici 
O amazônido tem sorte. 
 
Jussara, também bacaba 
E o gostoso cupuaçu 
A castanha do Pará 
E o azeite de babaçu. 
Tudo aqui é iguaria 
É comida do dia-a-dia 
É como o mel de uruçu. 
 
No cordel O caboclo da Amazônia temos também as lendas e os 
mitos da região do Araguaia, por exemplo, a lenda do Nego D’água e a lenda 
da Iara. Contém também lendas tipicamente amazônicas, São elas: a lenda do 
Uirapuru, a lenda do Curupira, a do boto, a lenda da cobra – grande, dentre 
outras. Vejamos o fragmento abaixo: 
 
E as lendas ele acredita 
Pois de crendices é cheio 
Iara, nossa mãe d’água 
Divide-lhe meio-a-meio. 
Nego d’água, Capelobo 
E o caboclo não ébobo 
Ele sabe de onde veio. 
 
As lendas do uirapuru 
Curupira, do açaí 
Legendários amazonas 
Lenda do mapinguarí. 
47 
 
 
Tudo num itinerário 
Do caboclo, imaginário 
Igual o vôo dum colibri. 
 
Boto transformado em homem 
Nas belas noites de luar 
Nos nossos rios e igarapés 
São fatos de se admirar. 
Torna-se um belo rapazote 
Na cabocla dá um bote 
Sua lábia é de lascar. 
 
A buiuna é cobra-grande 
É da Amazônia, outra lenda 
Que arrepia nosso caboclo 
Sem causar nenhuma emenda. 
A lenda do guaraná 
No seu imaginário está 
Como uma grande oferenda. 
 
Alguns peixes comuns nos rios do Pará também estão presentes no 
cordel O caboclo da Amazônia, pois observamos que o autor descreve várias 
espécies, deixando explicito o seu conhecimento a respeito dos peixes e dos 
costumes do ribeirinho amazônico, conhecimento este adquirido com muitas 
pesquisas e estudos a esse respeito. 
 
O pirarara e a piranha 
Cozidos com precisão 
Filhote, Curimatá 
É bem servido em porção. 
Corvina, pirarucu 
Jaraqui, nosso pacu 
É só proteína, irmão. 
 
O tucunaré na telha 
É pratada verdadeira 
Surubim com a Dourada 
Deixa a gente de bobeira. 
Tambaqui, cará, mandi 
Cuiú – cuiú, voador, cari 
Bons também na frigideira. 
 A ecologia também é assunto abordado no cordel de Fortes 
Sobrinho, no fragmento abaixo observa-se que a preservação da natureza é 
uma das preocupações do autor, pois o mesmo, inclusive, já produziu um 
cordel que trata especificamente desse assunto, Ecologia a bola da vez, 
aborda sobre temas ligados à ecologia e responsabilidade ambiental. 
 
A grande preocupação 
É sim com a fauna e flora: 
Os rios, árvores e bichos 
Que já está indo embora. 
Tudo culpa da ganância 
Bem como da igorância 
Daqueles que vem de fora. 
 
 
As grandes mineradoras 
Degradam o nosso ambiente 
Arrancam nossos minérios 
Deixam nossos rios doentes, 
Mercúrio por toda parte 
A pobreza como encarte 
Nosso solo é que sente. 
 
Não queremos mais barragens, 
48 
 
 
Diz o caboclo nortista 
Queremos nossa Amazônia 
O verde a perder de vista 
No nossos lábios sorrisos 
Guerreamos se for preciso 
Ela é nossa conquista. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
49 
 
 
Neste trabalho concluímos que há de fato cultura em Conceição do 
Araguaia, mesmo que híbrida, pois desde sua fundação a mesma foi ocupada 
por povos de outros estados e até mesmo de outros países, essa migração se 
deu e se dá até os dias atuais influenciado fortemente a cultura local e 
contribuindo para a miscigenação cultural da supracitada cidade. Porém, 
mesmo com essas mudanças ocorridas ao longo de anos, é imprescindível a 
valorização desta cultura para que posteriormente a mesma possa ser 
considerada como patrimônio local. 
Essa característica híbrida foi um das particularidades que nos levou 
a optar por construir este trabalho, haja vista que o mesmo desempenhará o 
papel de disseminador dos hábitos e costumes do povo conceicionense. Além 
disso, o presente trabalho será de grande valia para divulgar esse pensamento 
tratando de pontos que são necessários à população da cidade, entre eles 
podemos citar a valorização da cultura de modo a configurá-la como própria e a 
disseminação do cordel e dos cordelistas de Conceição do Araguaia. 
Optamos tabém por trabalhar com a literatura de cordel de 
Conceição do Araguaia por a mesma ser uma ferramenta de contribuição para 
o enriquecimento intelectual e cultural da cidade, e para dar aos seus 
respectivos autores a importância devida, pois sabemos que muitos deles não 
têm o seu trabalho valorizado e reconhecido, afinal, produzir literatura de cordel 
não é tão fácil ou quanto aparenta. 
A falta de conhecimento sobre a literatura de cordel e seus autores 
em Conceição do Araguaia é um dos maiores entraves para a sua divulgação, 
uma vez que a mesma necessita de pessoas que conheçam essa literatura 
conceicionense e que repassem o que já sabem a outras pessoas, a partir do 
momento que essa valorização começar a ganhar força, o cordel será passado 
de geração para geração e não deixará de existir, tornando-se assim, um meio 
de comunicação em que os moradores poderiam utilizar para possíveis 
reivindicações, divulgações, expressões, manifestos, e como é o caso dos 
cordelistas Manelão, Cleomar de Carvalho e Fortes Sobrinho, um meio de 
difundir a cultura e os costumes da já referida cidade. 
A partir desse pressuposto, acreditamos que essa pesquisa 
contribuirá de forma a engrandecer o conhecimento a respeito da literatura de 
cordel local e também de modo geral, e por trata-se de uma pesquisa 
50 
 
 
desenvolvida de forma a incentivar os estudantes e pesquisadores da região a 
disseminarem sua cultura, a mesma servirá também de base para estudos 
futuros que abordem temáticas semelhantes. 
Portanto, ao trabalharmos com a cultura de Conceição do Araguaia 
presentes nos cordéis Manelão, Cleomar de Carvalho e Fortes Sobrinho, 
proporcionamos à cidade e aos seus cordelistas, reconhecimento e 
notoriedade que os destacam e os engrandecem culturalmente, pois sabemos 
que a literatura de cordel quando divulgada e reconhecida, pode colaborar e 
muito com o desenvolvimento cultural de um povo. Além disso a mesma pode 
tornar-se independente e ainda ser considerada forte o suficiente para produzir, 
difundir e divulgar a cultura nas demais regiões e não o contrário, como vem 
acontecendo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERENCIAS: 
 
 
51 
 
 
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