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Fundamentos Metodológicos do Ensino de Matemática O ensino de Matemática nos dias atuais Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Edda Curi Revisão Textual: Profa. Esp. Vera Lidia de Sá Cicaroni 5 • Finalidades da Educação Matemática no Ensino Fundamental • Orientações Metodológicas As discussões realizadas neste Curso estão baseadas nos estudos do psicólogo e pedagogo americano Lee Shulman (1992), que considera que cada área do conhecimento tem uma especificidade própria, que justifica a necessidade de se estudar o conhecimento do professor tendo em vista a disciplina que ele ensina. Ele identifica três vertentes no conhecimento do professor, quando se refere ao conhecimento da disciplina para ensiná-la: • o conhecimento do conteúdo da disciplina; • o conhecimento didático do conteúdo da disciplina; • o conhecimento do currículo. Sendo assim, nas atividades propostas nas diferentes Unidades do Curso, você encontrará estudos relacionados a conhecimentos matemáticos, didáticos e curriculares. · Discutiremos o currículo de Matemática dos anos iniciais, fazendo um paralelo com o que você estudou na sua escolaridade básica. O ensino de Matemática nos dias atuais • Resolução de Problemas • Recurso à História da Matemática • O Recurso às Tecnologias da Informação • O Recurso às Tecnologias da Comunicação • O Recurso aos Jogos • O uso de Tarefas Investigativas • O recurso à Etnomatemática • Objetivos propostos para o Ensino Fundamental • Organização dos Blocos de Conteúdos 6 Unidade: O ensino de Matemática nos dias atuais Contextualização Nos tempos atuais, a Matemática a ser ensinada precisa ser pensada como um corpo de conhecimentos que, juntamente com outras áreas, deve contribuir para compreensão e ação no mundo contemporâneo e para o desenvolvimento do indivíduo numa perspectiva de formação para a cidadania. Em função disso, alguns problemas no ensino dessa área do conhecimento devem ser enfrentados, tanto em relação à organização curricular quanto em relação às questões de natureza metodológica e didática, e também devem ser incorporadas discussões de ações didáticas com base em pesquisas atuais de Educadores Matemáticos. Mas nem sempre foi assim. Muitas vezes, o ensino vivenciado pelos professores enquanto alunos, na sua escolaridade básica, deixou marcas negativas com relação à Matemática. Essas experiências são, frequentemente, apontadas por professores que atuam nos anos iniciais do ensino fundamental ou por alunos dos cursos de Pedagogia. Em seus estudos, Curi (2004, 2005) aponta que a escolha profissional do curso de magistério dos anos iniciais, muitas vezes, é decorrente de traumas vivenciados como alunos em Matemática. Os depoimentos a seguir ilustram esses comentários. Não gostava de Matemática. Fui reprovada no primeiro colegial em Matemática por faltas, pois não assistia aulas, ficava na quadra jogando vôlei. As aulas eram chatas e cansativas, não me interessavam. Minha mãe me propôs pagar uma escola particular se eu cursasse o magistério e foi assim que “acabei sendo professora” (Curi, 2004). Não sabia e não gostava de Matemática. Nunca tive bons professores. Tinha medo de alguns professores e tinha certeza de que a Matemática não era para mim. Tinha muito medo da Matemática e gostava de crianças. Decidi: vou ser professora, pois não preciso de Matemática para ensinar as crianças (Curi, 2004). Esse tipo de vivência deve ser problematizado, pois, ao contrário, esses pontos de vista, certamente, influenciarão negativamente na atuação desses professores. Nesta Unidade faremos algumas problematizações sobre esse assunto. Com propósito de avançar nas práticas de ensino de Matemática, as atividades propostas nesta Unidade visam aos seguintes objetivos: • refletir sobre o ensino de Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental; • ampliar conhecimentos sobre perspectivas metodológicas e didáticas para o ensino de Matemática; • fomentar discussões sobre as indicações curriculares propostas em documentos atuais. 7 Mapa Conceitual Você vai iniciar a unidade fazendo um Mapa Conceitual relacionando a forma como estudou Matemática, as consequências que esse tipo de estudo deixou para você e o que você acha sobre como deve ser seu ensino hoje. Você já ouviu falar em Mapa Conceitual? Em algumas unidades deste curso, faremos Mapa Conceitual e, por esse motivo, vamos falar um pouco sobre essa ferramenta. Mapa Conceitual é uma representação gráfica (com duas ou mais dimensões) composta por um conjunto de conceitos que se relacionam e na qual essas relações estejam evidentes. Os conceitos aparecem dentro de “caixas” e as relações entre os conceitos são especificadas por meio de frases de ligação que se inserem ligando, com um arco (ou uma flecha), os dois conceitos envolvidos. O Mapa Conceitual é individual, portanto não há mapas certos ou errados. A seguir, apresentamos um Mapa Conceitual para melhor entendimento. Nele é possível visualizar relações entre o que se aprende em Matemática e como se aprende e o que será ensinado em Matemática e como será ensinado. Esse mapa reflete, um pouco, o que será discutido nesta Unidade. O que aprendi de Matemática? Como aprendi Matemática? O que vou ensinar de Matemática? Como vou ensinar Matemática? Não sei se consigo ensinar o que não aprendi. Como vencer mitos e medos para melhorar a aprendizagem de meus alunos ? Acho que só consigo ensinar da forma como aprendi. Mitos e Medos Você vai, agora, fazer um mapa conceitual destacando como era ensinada a Matemática no seu tempo de estudante e como é ensinada hoje. Também vai destacar como acha que se aprendia Matemática no seu tempo de estudante e como acha que se aprende hoje. Após a realização desse mapa, guarde as informações para discussão no fórum. 8 Unidade: O ensino de Matemática nos dias atuais Introdução No último século, a Educação Matemática vem se consolidando como uma área científica, e cresceu muito a quantidade de pesquisas que fazem referência às estratégias de ensino de Matemática, ao pensamento do professor e que também buscam compreender as aprendizagens e dificuldades dos alunos em relação a um determinado tema, ao papel da motivação e dos interesses dos alunos sobre as aprendizagens, entre outros aspectos. Em função do desenvolvimento dessas pesquisas e também de estudos da psicologia, da sociologia e do desenvolvimento da sociedade, vários países do mundo, na década de 1990, fizeram reformulações curriculares. Entre eles, o Brasil, cujo Ministério da Educação e Cultura (MEC), por volta de 1996, elaborou Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para os diversos segmentos de ensino. Após um período de estudos e reflexões sobre esse documento, já nos anos 2000, as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação apresentam também suas orientações curriculares. Conforme o Relatório de Análise de Propostas Curriculares de Ensino Fundamental e Ensino Médio, publicado em 2010 pelo MEC1 (BRASIL, 2010), há muitas semelhanças entre as propostas curriculares apresentadas por essas Secretarias com as orientações nacionais, destacando-se os fundamentos da Psicologia da Aprendizagem, na perspectiva do construtivismo, conforme trecho apresentado a seguir: Quanto à fundamentação das propostas, é central a concordância com as indicações legais e com as perspectivas teóricas presentes nas orientações oficiais centrais, principalmente a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9.394/96), as Diretrizes e Parâmetros Curriculares Nacionais (DCN e PCN), os fundamentos da psicologia da aprendizagem, na perspectiva do construtivismo. Diferentes concepções, tendências e tradições pedagógicas, presentes no campo pedagógico, misturam-se, fundem-se com as orientações citadas, produzindo explicações e abordagens que fazem sentido e confirmam o hibridismo de contribuições distintas na constituição do discurso curricular no país, apontado por muitos estudiosos do currículo (BRASIL, 2010, p. 441). Dessa forma, optamos por refletir, nesta Unidade, sobre as propostas didático-metodológicas dos Parâmetros Curriculares Nacionais, deixando para o cursista a apropriação de documentos curriculares da instância em que vai atuar. 1 - Documento da Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Concepções e Orientações Curriculares para Educação Básica. Foram analisadas propostas das secretarias municipais das capitais, compondo uma amostra de 13 propostas de Ensino Fundamental. A análise incidiu sobre um total de 60 propostas, sendo 34 de Ensino Fundamental (incluindo as 13 citadas e 21 de secretarias estaduais) e 26 propostas de Ensino Médio. Não apresentaram propostas de Ensino Fundamental os estados: Roraima, Maranhão, Paraíba, Rio Grande do Norte, Sergipe e Piauí. De Ensino Médio, apenas o estado de Rondônia não apresentou proposta. Para o Ensino Fundamental, as propostas elaboradas pelas secretarias municipais das capitais e incluídas no estudo foram: Fortaleza, Campo Grande, Boa Vista, Macapá, Maceió, João Pessoa, Recife, Goiânia, Cuiabá, Vitória, São Paulo, Curitiba e Florianópolis 9 Ideias Chave Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática para os anos iniciais do Ensino Fundamental estão direcionados a uma escola de oito anos. Foram divididos em 4 ciclos, cada ciclo composto por dois anos. Assim, na leitura do documento, é preciso fazer adaptações à realidade atual em que a escola está organizada em nove anos para o Ensino Fundamental. Em algumas Secretarias, os nove anos estão organizados em 3 ciclos; em outras, em dois ciclos; e, em outras, não há essa organização em ciclos. No documento apresentado pelo MEC, vamos nos ater ao que se refere ao primeiro e segundo ciclo e considerar o primeiro ciclo referente aos três primeiros anos de escolaridade do Ensino Fundamental e o segundo ciclo referente ao quarto e quinto ano de escolaridade. Finalidades da Educação Matemática no Ensino Fundamental Os Parâmetros Curriculares Nacionais destacam, entre os componentes que definem as finalidades da educação matemática no ensino fundamental, seu caráter prático e utilitário e o desenvolvimento do raciocínio lógico, dedutivo e indutivo. O caráter prático da Matemática é decorrente das necessidades cotidianas que envolvem essa área do conhecimento e da necessidade para o estudo de ciências que utilizam conhecimentos matemáticos como ferramenta. Com relação ao desenvolvimento do raciocínio lógico, indutivo e dedutivo, o documento destaca o caráter investigativo e especulativo da atividade matemática, que permite a elaboração de conjecturas, de argumentações, de generalizações e a constituição de valores estéticos, além do caráter lúdico e recreativo da Matemática. Assim, com base nessas finalidades, no Ensino Fundamental, o ensino de Matemática deve contribuir para a compreensão do mundo em que vivemos e a atuação do jovem no mundo contemporâneo, na perspectiva do exercício de sua cidadania. Para Pensar A forma como você aprendeu Matemática contribuiu para sua compreensão e atuação no mundo de forma crítica e criativa perspectivando o exercício de sua cidadania? 10 Unidade: O ensino de Matemática nos dias atuais Orientações Metodológicas Os Parâmetros Curriculares Nacionais destacam algumas orientações metodológicas e didáticas sobre o ensino de Matemática. Entre elas apresentam a resolução de problemas, o recurso à história da matemática, o uso de recursos tecnológicos, como calculadoras, softwares, vídeos, Internet e o uso de Jogos. Documentos mais atuais incluem, como recursos metodológicos, as Investigações nas aulas de Matemática, a etnomatemática e a leitura e escrita nas aulas de Matemática. Agora, vamos refletir sobre cada um desses recursos. Resolução de Problemas Para Pensar Para você, o que é um problema? Escreva um pequeno texto com sua resposta e depois compatibilize com a leitura do texto. Os Parâmetros Curriculares Nacionais baseiam-se em diferentes autores que destacam as diferenças entre um problema e um exercício em Matemática. Em relação aos problemas, esses autores consideram situações em que os alunos precisam desenvolver algum tipo de estratégia para resolvê-las e querem resolvê-las. Em relação aos exercícios, os autores consideram que os alunos dispõem de e utilizam mecanismos que os levam imediatamente à solução. Tradicionalmente, nas aulas de Matemática, o problema é usado como aplicação de conteúdos já estudados, ou seja, o professor ensina a técnica operatória da adição e depois passa uma lista de problemas para serem resolvidos por essa operação. Com esse foco, o problema não mobiliza estratégias de resolução e funciona mais como um exercício de aplicação do que já foi estudado. Quando se age dessa forma e ao final do ensino das quatro operações básicas, o professor propõe uma lista de problemas para serem resolvidos e as crianças precisam identificar qual operação vai resolver o problema. Surgem, então, questões do tipo: esse problema é de mais ou de menos? qual operação devo usar? etc. Uma definição clássica de “problema” identifica-o com “uma situação que um indivíduo (ou um grupo) quer ou precisa resolver e para a qual não dispõe de um caminho rápido e direto que o leve à solução” (Lester, 1983). 11 Os estudos sobre resolução de problemas mostram que uma mesma situação pode ser um problema para alguns alunos e não para outros, pois já é resolvido imediatamente, com um mínimo de recursos cognitivos. Dessa forma, um problema pode ser reduzido a um mero exercício, que pode não interessar aos alunos resolvê-lo. D´Amore (2007) evidencia algumas diferenças entre problemas e exercícios e apresenta um quadro síntese: Problema Exercício No ensino Instrumento de aquisição de conhecimento. Objeto de ensino. Instrumento para consolidar conhecimentos e habilidades. Instrumento para verificar conhecimentos e habilidades Privilegia Processos Produtos O professor Escolhe os problemas. Acompanha os processos. Escolhe os exercícios. Corrige e avalia os produtos. O aluno tem um papel Produtivo Executivo Fonte: D´Amore, 2007, Capítulo 9, p. 300. No Brasil, Onuchic e Allevato pesquisam sobre a “Metodologia de Ensino-Aprendizagem- Avaliação de Matemática através da Resolução de Problemas”. Em seus trabalhos, Onuchic (1999, 2004) e Onuchic e Allevato (2005) discutem a implementação da Resolução de Problemas como metodologia de ensino de Matemática. Os Parâmetros Curriculares Nacionais destacam que o problema é um ponto de partida para a atividade matemática. Para as autoras citadas, a seleção de problemas para serem propostos aos alunos deve ser criteriosa, pois o problema escolhido deve permitir conexões com outras ciências e os diferentes ramos da matemática, gerando novos conceitos e novos conteúdos. (ALLEVATO; ONUCHIC, 2003). Dessa forma, o planejamento é essencial. A seleção dos problemas precisa ser planejada a cada aula, considerando o grau de complexidade em relação à compreensão dos alunos e aos objetivos de ensino propostos. Além disso, é necessário não só planejar questões para a condução dos alunos à resolução dos problemas, como também socializar os procedimentos utilizados, analisar as estratégias apresentadas e discutir alguns consensos para melhor formalização dos novos conceitos e novos conteúdos construídos a partir do problema dado (ALLEVATO; ONUCHIC, 2006). Quando um professor propõe situações mais desafiadoras num determinado problema, sua resolução apresenta uma demanda cognitiva e motivadora maior do que se a situação não for desafiadora.Assim, os problemas selecionados pelo professor devem ser variados, tanto com relação ao contexto como com relação aos temas matemáticos e aos tipos de enunciados e de resolução, ou seja, é preciso ficar atento a enunciados com mais dados do que necessários, enunciados com menos dados que o necessário, problemas com uma única solução, sem solução ou com mais de uma solução. 12 Unidade: O ensino de Matemática nos dias atuais Allevato e Onuchic (2006) enfatizam que os alunos, ao resolverem um problema, usam seus conhecimentos já construídos e, em função disso, buscam caminhos de resolução e decidem quais os mais adequados para resolver determinado problema. Dessa forma, a resolução de problemas em pequenos grupos permite uma discussão coletiva do que deve ser feito para chegar à solução, dos procedimentos usados, relacionando ideias, conhecimentos e sugestões. Cabe ao professor acompanhar continuamente os alunos na resolução de problemas, identificando os procedimentos adotados, visando avaliar seu progresso, integrando a avaliação no processo de ensino e aprendizagem por meio da resolução de problemas. Os Parâmetros Curriculares Nacionais destacam que o uso de problemas como aplicação de conteúdos já estudados não dá a devida importância ao seu papel no ensino de Matemática. Recurso à História da Matemática Quando se refere à História da Matemática, muitas vezes, considera-se que a contextualização histórica da época em que surgiu um determinado conceito matemático é suficiente para a compreensão desse conceito. No entanto, isso apenas não basta. Os Parâmetros Curriculares Nacionais destacam, como foco, a compreensão dos processos históricos da construção do conhecimento matemático e não da época histórica em que essa construção se desenvolveu. O documento salienta que a História mostra que a Matemática foi construída como resposta a perguntas provenientes de diferentes origens e contextos, motivadas por problemas de ordem prática (divisão de terras, cálculo de créditos), por problemas vinculados a outras ciências (Física, Astronomia) e, ainda, por problemas relacionados à própria Matemática. O documento completa no sentido de se utilizar a História da Matemática como recurso metodológico, pois ela possibilita recuperar processos utilizados pelo homem para resolver um determinado problema que, até então, não tinha solução, mostrando o aspecto de construção da Matemática não como uma área pronta e acabada, mas que vai sendo construída historicamente devido às necessidades sociais, culturais e científicas da sociedade. Esclarece, ainda, que, em muitas situações, o recurso à História da Matemática dá sentido a noções matemáticas que estão em construção pelo aluno, especialmente a algumas justificativas de uso ou não de determinado conceito e contribui para a construção de um olhar mais crítico sobre os objetos de conhecimento e para a motivação de aprendizagem. Com esse foco, a História da Matemática pode ser considerada mais um recurso metodológico para as aulas de Matemática e possibilita maior motivação para a aprendizagem das crianças. O texto possibilitou reflexões sobre: - Resolução de Problemas X Exercícios; - Definições de Problem a; - Metodologia de Resolução de Problemas. 13 O Recurso às Tecnologias da Informação Para Pensar Com relação aos recursos didáticos utilizados nas aulas de Matemática ainda hoje, vários autores consideram que eles contribuem pouco para a aprendizagem. Quando falamos em recursos didáticos, o que você entende por isso? Você considera os recursos tecnológicos como recursos didáticos? Os Parâmetros Curriculares Nacionais destacam novos recursos didáticos no ensino de Matemática, como os computadores e as calculadoras. Segundo o documento, o conhecimento por simulação, típico da cultura informática, faz com que o computador e a calculadora sejam também vistos como recursos didáticos cada dia mais indispensáveis para sala de aula. Para Pensar Você já teve oportunidade de ver crianças pequenas usando computador? E calculadora? O documento aponta o computador como um instrumento que apresenta várias possibilidades ao processo de ensino e aprendizagem de Matemática, tanto pela sua presença e uso social como pelas possibilidades de sua aplicação nesse processo. Ressalta, ainda, que o caráter lógico-matemático pode ser um grande aliado do desenvolvimento cognitivo dos alunos, principalmente na medida em que o computador permite um trabalho que obedece a ritmos de aprendizagem diferentes. Hoje o computador é bastante usado socialmente, mas, em sala de aula, ainda necessita de experiências educacionais acompanhadas e avaliadas, e também de estudos, nessa área, referentes à formação inicial e continuada do professor do ensino fundamental, para que ele possa explorar amplamente as possibilidades de uso de computador com seus alunos. Segundo os PCN, o computador pode ser usado como elemento de apoio para o ensino, com exploração de banco de dados, de elementos visuais, de softwares e ainda como fonte de aprendizagem e ferramenta para o desenvolvimento de habilidades. O documento destaca que o trabalho com o computador pode ensinar o aluno a aprender com seus erros e a aprender junto com seus colegas, trocando suas produções e comparando-as. É importante salientar o uso de softwares e objetos virtuais de aprendizagem criados para apoiar a construção de conhecimentos matemáticos. Esse tipo de objeto incentiva os alunos a aprenderem num contexto de resolução de problemas, permite simulações, formulação de hipóteses, etc. 14 Unidade: O ensino de Matemática nos dias atuais A escolha desses objetos deve ser feita em função dos objetivos que pretende atingir e também da concepção de aprendizagem do objeto, se ele é dirigido mais a um trabalho para testar conhecimentos ou se procura levar o aluno a interagir com o programa, possibilitando a construção de conhecimento. Os Parâmetros Curriculares Nacionais destacam, ainda, a importância do uso das calculadoras para o ensino de Matemática. O documento comenta que o uso da calculadora nem sempre é tão imediato e que os alunos precisam aprender a explorá-la nas aulas, não para substituir o cálculo mental ou escrito, mas em situações em que possa validar resultados, analisar regularidades, explorar ou investigar situações, etc. O Recurso às Tecnologias da Comunicação Para Pensar O que você acha da função social do computador, na medida em que possibilita a participação em redes sociais e incentiva a comunicação escrita? Mas há outras possibilidades de uso de computadores nas aulas de Matemática, como a exploração de e-mails, os fóruns de discussão, os chats, etc. O uso da Internet e de plataformas permite o diálogo e a construção de comunidades de aprendizes. Documentos curriculares atuais destacam a importância da comunicação nas aulas de Matemática e apresentam, como exemplos, o uso de textos de jornais e de revistas. O uso desse tipo de texto permite desenvolver habilidades de leitura, de escrita, de seleção de informações e de resolução de problemas. Em geral, os textos incorporam dados numéricos que precisam ser explorados, além de interpretação de gráficos, tabelas e esquemas. Como nos outros recursos, a escolha do texto é responsabilidade do professor, que deve relacionar sua escolha aos objetivos do ensino de Matemática. Uma breve análise de livros didáticos mostra que, ainda hoje, na maior parte dos textos matemáticos escolares, a leitura solicitada é associada apenas a instruções e comandos simples, como “Calcule, Resolva, Efetue”, e ao uso de símbolos específicos. A resolução de problemas é bem menos explorada ainda. No entanto, outros tipos de texto devem ser explorados nas aulas de Matemática, como textos informativos, explicativos, resumos,regras de jogo, receitas, desafios, etc. É importante o desenvolvimento da escrita nas aulas de Matemática, na medida em que o professor solicita que o aluno produza um texto para explicar seu raciocínio, descreva e interprete dados apresentados em tabelas e gráficos, formule situações-problema, elabore pequenas sínteses ou descreva suas hipóteses. 15 Para Pensar É possivel explorar o computador nas aulas de Matemática para incentivar a participação dos alunos e a comunicação escrita? De que forma? Cabe destacar a importância da comunicação oral nas aulas de Matemática, para que professores e alunos possam fazer uso adequado da linguagem oral. Mas também é muito importante o uso da simbologia matemática e estabelecimento de relações entre a linguagem cotidiana e as diferentes representações Matemáticas. O Recurso aos Jogos Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, além de ser um objeto sociocultural, o jogo é uma atividade natural no desenvolvimento dos processos psicológicos básicos. O jogo possibilita “fazer sem obrigação externa e imposta”, embora demande regras, exigências e controle. O documento ressalta a importância do jogo no processo de autoconhecimento, a partir da articulação entre o conhecido e o imaginado, até onde se pode chegar, o conhecimento dos outros e o que se pode esperar e em que circunstâncias. Para crianças pequenas, os jogos são fonte de significado. Segundo o documento, os jogos possibilitam compreensão, geram satisfação, formam hábitos que se estruturam num sistema. As crianças pequenas repetem um mesmo jogo várias vezes, mesmo que ele deixe de ser desafiante. Essa repetição possibilita à criança perceber regularidades e deve estar presente na atividade escolar. O documento destaca a relação entre os jogos simbólicos e a linguagem. Os PCN afirmam que é por meio dos jogos que as crianças vivenciam situações que se repetem, aprendem a lidar com símbolos e a pensar por analogia (jogos simbólicos). Dessa forma, os significados das coisas passam a ser imaginados por elas. Ao criarem essas analogias, tornam-se produtoras de linguagens, criadoras de convenções, capacitando-se para se submeterem a regras e para dar explicações. O documento aponta também que o jogo permite a compreensão e a utilização de convenções. Essa compreensão favorece a integração da criança no mundo social e proporciona as primeiras aproximações com futuras teorizações. Os Parâmetros Curriculares Nacionais sugerem jogos em diferentes estágios, com propostas mais complexas. Após a realização de jogos simbólicos, as crianças podem utilizar jogos com regras e passam a compreender que as regras podem ser combinações arbitrárias que os jogadores definem. Nesse tipo de jogo, as crianças percebem que só podem jogar em função da 16 Unidade: O ensino de Matemática nos dias atuais jogada do outro (ou da jogada anterior, se o jogo for solitário). Segundo o documento, os jogos em grupo permitem o desenvolvimento cognitivo, emocional, moral e social da criança e incentivam ainda o desenvolvimento do raciocínio lógico. Na realização de jogos em grupos, as crianças aprendem a esperar sua vez de jogar, a prestar atenção na jogada do colega, a ouvir e respeitar o colega, etc. Outro aspecto importante destacado pelo documento é o caráter de desafio existente nos jogos, que gera interesse e prazer. Hoje, há possibilidade de desenvolver, na escola, jogos com computadores e softwares que, se forem desafiadores, interessam muito às crianças. Cabe destacar, aqui, também a importância da escolha dos jogos pelo professor, que deve analisar e avaliar a potencialidade educativa dos diferentes jogos em relação aos objetivos que pretende desenvolver. O uso de Tarefas Investigativas Outra abordagem metodológica próxima à resolução de problemas, destacada em currículos atuais, é relativa às tarefas exploratórias e/ou investigativas. Neste texto não vamos diferenciar tarefas exploratórias das atividades investigativas. Segundo Matesco e Fiorentini (2006), as tarefas exploratório e/ou investigativas são aquelas que mobilizam e desencadeiam atividades abertas, exploratórias e não-diretivas e que apresentam múltiplas possibilidades de resolução. Alguns autores destacam que as tarefas investigativas constituem-se de situações abertas, cujo objetivo é a exploração e não a resposta certa, ou seja, o que interessa é o processo de resolução. Ponte (2003) afirma que, numa investigação, o objetivo é a exploração, de modo que ela se torne um processo e não um produto. Ele destaca que, a princípio, o professor escolherá a situação, formulará questões com alguns encaminhamentos, mas são os alunos que investigarão a tarefa e discutirão as questões, sua validade e o processo de solução da mesma. Nas investigações, a tarefa é mais aberta do que na metodologia de resolução de problemas. A realização de uma investigação matemática envolve quatro momentos principais: reconhecimento da situação; formulação de conjecturas; realização de testes; e argumentação, demonstração e avaliação do trabalho realizado. Nas aulas de Matemática, o uso de tarefas exploratório/investigativas, certamente, exigirá do professor uma postura mais aberta, pois exige experimentação, exploração, reflexão e comunicação. Esse tipo de atividade constitui-se uma ferramenta educacional importante para ampliar as aprendizagens e desenvolver o raciocínio dos estudantes. 17 O recurso à Etnomatemática A Etnomatemática propõe tarefas matemáticas com foco em diferentes contextos culturais. Cabe aos professores, em cada comunidade escolar, identificar as características do contexto cultural e social e investigar como a Matemática está presente nesse contexto. Esse foco permite ao professor relacionar as vivências dos alunos na comunidade e suas ações em sala de aula, proporcionando melhoria nas aprendizagens que o aluno irá construir na escola. Além de discutir alguns “caminhos” para fazer Matemática em sala de aula, os Parâmetros Curriculares Nacionais apresentam os objetivos como capacidades a serem desenvolvidas, critérios de seleção e organização de conteúdos e orientações didáticas. Neste texto, focalizaremos, ainda, os objetivos e os temas matemáticos tratados no documento. Objetivos propostos para o Ensino Fundamental Destacamos, neste item, os objetivos do ensino de Matemática no ensino fundamental, conforme apresentados nos PCN, nas páginas 30 e 31. O ensino de Matemática deve levar o aluno a: • identificar os conhecimentos matemáticos como meios para compreender e transformar o mundo à sua volta e perceber o caráter de jogo intelectual, característico da Matemática, como aspecto que estimula o interesse, a curiosidade, o espírito de investigação e o desenvolvimento da capacidade para resolver problemas; • fazer observações sistemáticas de aspectos quantitativos e qualitativos do ponto de vista do conhecimento e estabelecer o maior número possível de relações entre eles, utilizando, para isso, o conhecimento matemático (aritmético, geométrico, métrico, algébrico, estatístico, combinatório, probabilístico); selecionar, organizar e produzir informações relevantes, para interpretá-las e avaliá-las criticamente; • resolver situações-problema, sabendo validar estratégias e resultados, desenvolvendo formas de raciocínio e processos, como dedução, indução, intuição, analogia, estimativa, e utilizando conceitos e procedimentos matemáticos, bem como instrumentos tecnológicos disponíveis; • comunicar-se matematicamente, ou seja, descrever, representar e apresentar resultados com precisão e argumentar sobre suas conjecturas, fazendo uso da linguagem oral e estabelecendo relações entre ela e diferentes representações matemáticas; • estabelecer conexões entre temas matemáticos de diferentes campos e entre essestemas e conhecimentos de outras áreas curriculares; 18 Unidade: O ensino de Matemática nos dias atuais • sentir-se seguro da própria capacidade de construir conhecimentos matemáticos, desenvolvendo a autoestima e a perseverança na busca de soluções; • interagir com seus pares de forma cooperativa, trabalhando coletivamente na busca de soluções para problemas propostos, identificando aspectos consensuais, ou não, na discussão de um assunto, respeitando o modo de pensar dos colegas e aprendendo com eles. Trocando Ideias Destaque entre os objetivos apresentados, o que mais lhe chamou a atenção e justifique sua escolha. Organização dos Blocos de Conteúdos O documento destaca que os currículos de Matemática para o ensino fundamental devem contemplar quatro blocos de conteúdos: o estudo dos números e das operações (no campo da Aritmética e da Álgebra); o estudo do espaço e das formas (no campo da Geometria); o estudo das grandezas e das medidas (que permite interligações entre os campos da Aritmética, da Álgebra e da Geometria); e o tratamento da informação, envolvendo as primeiras noções de estatística, de probabilidade e de combinatória. O documento coloca que o grande desafio é o de identificar, em cada um desses campos, quais conhecimentos, competências, hábitos e valores são socialmente relevantes para as crianças e contribuem para o desenvolvimento intelectual do aluno. Ideias Chave Nesta Unidade você explorou: • discussões sobre o ensino de Matemática; • recursos metodológicos para o ensino dessa área; • objetivos para o ensino de Matemática; • discussões sobre seleção de conteúdos. 19 Material Complementar Explore Para seu aprofundamento, leia o texto dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Mate- mática do 1º e 2º ciclos nas páginas 31 até 36. 20 Unidade: O ensino de Matemática nos dias atuais Referências ALLEVATO, N. S. G.; ONUCHIC, L. R. A resolução de problemas e o uso do computador na construção do conceito de Taxa Média de Variação. Revista de Educação Matemática. São Paulo, n.8, p.37-42. 2003. ALLEVATO, N. S. G.; ONUCHIC, L. R. Ensino-Aprendizagem-Avaliação de Matemática através da Resolução de Problemas - Uma Nova Possibilidade para o Trabalho em Sala de Aula. In: REUNIÃO DE DIDÁTICA DA MATEMÁTICA DO CONE SUL, 7., 2006, Águas De Lindóia. Anais da VII Reunião de Didática da Matemática do Cone Sul: Hotel Monte Real, 2006. p.1-18. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Relatório de análise de propostas curriculares de ensino fundamental e ensino médio. Brasília: MEC / SEB, 2010. ___________. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Parâmetros Curriculares Nacionais, Matemática,1º e 2º ciclos. Brasília: MEC / SEB, 1997. D´AMORE, B. Elementos da Didática da Matemática. Tradução Maria Cristina Bonomi. São Paulo: Livraria da Física, 2007. MATESCO, Eliane Cristovão, Fiorentini, D. Aulas Investigativas: Só mais um modismo? In: FIORENTINI, Dario; LORENZATO, Sergio. Histórias e investigações de/em aulas de Matemática. Campinas: Alínea, 2006. ONUCHIC, L. R. Ensino-aprendizagem de Matemática através da resolução de problemas. In: BICUDO, M. A. V.(Org.). Pesquisa em Educação Matemática. São Paulo: Editora UNESP, 1999. cap.12, p.199-220. _______. A Resolução de Problemas e o trabalho de ensino–aprendizagem na construção dos números e das operações definidas sobre eles In: ENEM, 8., 2004, Recife. Anais do VIII Encontro Nacional de Educação Matemática. Recife: UFP, 2004. ONUCHIC, L. R.; ALLEVATO, N. S. G. Novas reflexões sobre o ensino-aprendizagem de matemática através da resolução de problemas. In: BICUDO, M. A. V.; BORBA, M. C. (Org.). Educação Matemática - pesquisa em movimento. São Paulo: Cortez, 2005. p. 213-231. Ponte, J. P. Investigação sobre investigações Matemáticas em Portugal. In: Revista Investigar em Educação. Edição SPCE. Lisboa: Gráfica 2003 21 Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000
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