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Fundamentos Metodológicos do Ensino de Arte e Música As linguagens artísticas: Artes Visuais Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Solange Santos Utuari Revisão Textual: Profa. Esp. Vera Lídia de Sá Cicaroni 5 • A história das linguagens • O desenho, pintura, escultura, gravura, cinema e outras linguagens contemporâneas • Os elementos de linguagem e alfabetização visual Nesta unidade, escolhemos textos pertinentes para o seu estudo com o objetivo de ampliar seus saberes nessas linguagens e, dessa maneira, dar maiores subsídios para uma prática educativa consciente e autônoma no ensino de arte. Quanto às atividades propostas na unidade, é importante que você realize todas com afinco e determinação. Teste seus conhecimentos respondendo às questões sugeridas, observe o que você já sabe e o que precisa ainda saber e amplie seus conhecimentos lendo o material básico e o complementar. Tenha um bom estudo e lembre-se de que, em caso de dúvidas, estaremos à sua disposição através do ambiente virtual. · Vamos estudar as linguagens do desenho, pintura, escultura, gravura, cinema e linguagens contemporâneas. A proposta é fazer uma reflexão sobre como essas linguagens foram tratadas na escola e quais são os caminhos frente à arte contemporânea e ao seu ensino. Para ampliar nossos conhecimentos metodológicos, vamos apresentar fundamentos e proposições pedagógicas. As linguagens artísticas: Artes Visuais • Fundamentos do ensino das artes visuais • Proposições pedagógicas • Propostas para criar situações de aprendizagens e percursos poéticos, estéticos, educativos com a leitura de obras de artes 6 Unidade: As linguagens artísticas: Artes Visuais Contextualização Para o momento de contextualização, sugerimos a leitura de três textos: • Texto 1: O primeiro texto está presente na seguinte obra: MARTINS, M. C.; PICOSQUE, G. Teoria e prática do ensino de arte: a língua do mundo. São Paulo: FTD, 2010. pp. 45-64 • Texto 2: Artes visuais. Outro texto que fundamenta nossos estudos nesta unidade está presente no material dos PCNs em Arte: BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: arte / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília : MEC/SEF, 1997(ensino fundamental I). pp. 61-64. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/arte.pdf • Texto 3: Artes visuais A terceira indicação para fundamentar nossos estudos nesta unidade é a leitura do RCNEI. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil / Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998. 3 v. pp. 85-112 Disponível em:<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me000053.pdf Disponível também em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume3.pdf Essas leituras são básicas e fundamentam os temas estudados nesta unidade VI. Para ampliar seus saberes culturais e didáticos sobre a proposta de ensino em artes visuais na escola de educação básica, indicamos as leituras complementares de textos que estão presentes no site do Instituto Arte na Escola: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro06.pdf A arte é linguagem e conhecimento. Vivemos imersos em um mundo de imagens. Assim, conhecer as artes visuais e como elas podem ser trabalhadas na escola pode ampliar a visão do pedagogo, que poderá atuar tanto na formação de outros educadores como na gestão de ações didáticas em sala de aula. Leia os materiais indicados e boas reflexões. 7 A história das linguagens Como animais linguajantes, existimos na linguagem, mas como seres humanos existimos (trazemos nós mesmos à mão em nossas distinções) no fluir de nossas conversações, e todas as atividades acontecem como diferentes espécies de conversações. Humberto Maturana, 2001. Os seres humanos sempre se comunicaram e se expressaram por linguagens. As linguagens artísticas nascem da necessidade humana de representar, comunicar e agir no mundo, de estabelecer diferentes maneiras de dialogar sobre as coisas. As linguagens, na arte, podem nos dizer muitas coisas. Foram criadas pelo ser humano no decorrer do tempo e marcam a nossa existência no mundo da cultura. Entre experiências e expressões, criamos e continuamos a criar signos artísticos, linguagens em forma de desenhos, pinturas, esculturas, gravuras, instalações... Somos seres linguajantes, como diz Maturama (2001). Criar linguagens tem sido nossa história. Algumas linguagens são sonoras, outras são gestuais e outras tantas são visuais. Para cada linguagem há um modo de fazê-las e de, também, compreendê-las. Algumas foram valorizadas em determinadas épocas e outras tiveram que conquistar seu lugar ao longo do tempo. Na história das linguagens artísticas, temos muitos contextos culturais. Em cada tempo e lugar, os seres humanos criam técnicas, manipulam materiais para criar imagens. No início, os seres humanos pintavam, desenhavam e esculpiam sobre as rochas. Nascia, assim, a chamada arte rupestre, expressão que significa arte sobre a pedra (rocha). Esses povos também dançavam e criavam sons na música ritualística desse tempo chamado de Pré-História. Consideramos arte pré-histórica todas as manifestações que se desenvolveram antes do surgimento das primeiras civilizações e, portanto, antes da escrita. São várias as produções de imagens criadas por diferentes povos, em locais distintos, mas com algumas características comuns. A arte produzida nessa época tinha utilidade material, cotidiana ou mágico-religiosa: constitui-se de objetos, pequenas esculturas ou figuras que envolvem situações específicas. As cenas de caça são imagens que, no início, podiam significar uma maneira de fazer magia. As imagens não descreviam uma situação vivida pelo grupo, mas possuíam um caráter mágico, preparando o grupo para essa tarefa que lhes garantiria a sobrevivência. Há historiadores que defendem a ideia de que essas pessoas acreditavam que podiam capturar a alma do animal por meio da representação em desenhos e pinturas e assim conseguir sucesso na caça. As manifestações artísticas mais antigas foram encontradas na Europa, em especial na Espanha, no sul da França e no sul da Itália - nas cavernas de Altamira, Lascaux e Castilho - e datam de, aproximadamente, 25.000 a.C. (período paleolítico). Foi a origem das imagens. Rene Magritte - A Clarividência (auto-retrato), 1936 - wikipaintings.org Pintura de Bisão na Caverna de Altamira - en.wikipedia.org 8 Unidade: As linguagens artísticas: Artes Visuais Para classificar as artes da antiguidade, temos as nove musas, seres mitológicos que inspiravam o ser humano em nove talentos. As pessoas acreditavam que as musas eram responsáveis pelos dons artísticos. Na escultura clássica, os gregos personificaram ideais de beleza. Na pintura, os Romanos criaram retratos realistas e decoração de suas habitações. Da China, são conhecidas as famosas porcelanas com motivos decorativos. Pelo mundo afora, os seres humanos foram criando imagens. Na Idade Média, principalmente no ocidente, as imagens foram criadas com o objetivo de doutrinar segundo a cultura católica e constituíram a arte sacra. No Renascimento, artistas e matemáticos desenvolveram imagens com profundidade, utilizando técnicas de perspectiva. No decorrer dos séculos, até meados do século XIX, vimos nascerem imagens para diferentes contextos. São imagens barrocas, renascentistas, neoclássicas, românticas, realistas, expressionistas, dadaístas, pop, conceituais e de tantos outros estilos e tendências estéticas que foram nascendo da mania dos seres humanos de criar imagens. Hoje vivemos imersos na Cultura Visual. O que virá ainda não sabemos, mas é certoque devemos procurar compreender este universo visual. Para iniciar seus estudos da história da arte, seguem algumas explicações sobre estilos e tendências estéticas e artísticas: • Arte sacra é uma expressão usada para designar a arte feita dentro do contexto religioso. Presente em muitas culturas, são produções que apresentam o sentido de sagrado. Na religião católica, ganharam dimensão no ornamento de Igrejas e tiveram, também, a função de ensinar doutrinas religiosas. • Renascimento: foi um movimento artístico e cultural que teve início na Itália, vindo a se espalhar pela Europa entre os séculos os XIV e XVI. Pintores, escultores, arquitetos, escritores, músicos e outros segmentos da intelectualidade europeia daquele tempo decidiram colocar o homem e seus saberes em evidência, contrapondo-se à tradição religiosa que tinha imperado na arte e na cultura durante a Idade Média. • Neoclassicismo: foi um movimento cultural do século XVIII e parte do século XIX que defendia a retomada da arte antiga, especialmente a greco-romana, considerada modelo de equilíbrio, clareza e proporção. Recebeu fortes influências do estilo renascentista, principalmente nas questões técnicas de composições de pinturas. Esse estilo manifestou-se em várias linguagens. • Romantismo: estilo artístico que se desenvolveu no século XIX em várias linguagens da arte. Uma visão idealista e romântica sobre a vida, que valorizava mais as emoções, a subjetividade e as intuições dos seres humanos que a razão. • Realismo: movimento surgido na França em meados do século XIX como reação às formulações da arte neoclássica, que apresentava narrativas idealizadas. Os realistas buscavam representar, na arte, a vida em seu aspecto social e histórico com foco na realidade, principalmente a social. Michelangelo - Criação de Adão - wikipaitings.org 9 • Expressionismo: movimento que nasceu no início do século XX. Em meio a conflitos e guerras, os artistas refletiam a respeito das condições humanas da existência. • Dadaísmo: uma forma de fazer arte que manifestava a intenção de romper fronteiras entre linguagens, delimitações de materiais ou regras na arte. Posicionou-se de modo crítico em relação à cultura do ocidente do início do século XX em meio às contradições sociais encontradas entre os avanços tecnológicos e a barbárie da guerra. • Art Pop: no início da década de 1960, os artistas questionavam o crescimento de meios de comunicação de massa, como a televisão, que abriu um novo canal de divulgação de produtos para o consumo. A publicidade começava a conduzir o gosto e o desejo das pessoas por adquirirem objetos e novos padrões de vida. Nesse cenário, a Art Pop surgiu como um movimento artístico que se apropriava da cultura de massa com tom crítico. Nasceu na Inglaterra, espalhou-se para outros países, e a sociedade e a cultura dos EUA serviram de inspiração para diversos artistas que, em suas obras, questionavam o estilo de vida americano. • Arte conceitual: manifestação artista que prima por uma arte mental, que está muito ligada ao discurso do artista e à interpretação de quem a aprecia. É uma arte intelectual e não narrativa ou formal como o mundo estava acostumado a ver antes do início do século XX. Esses são apenas alguns exemplos. Há muito a estudar na história da arte. Como sugestão para conhecer mais sobre história da arte, leia as seguintes obras: ARGAN, Giulio C. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. GOMBRICH, Ernest H. A história da Arte. Tradução Álvaro Cabral. 16ª edição. Rio de Janeiro: LTC, 1999. O desenho, pintura, escultura, gravura, cinema e outras linguagens contemporâneas Usamos a linguagem do desenho como uma das primeiras formas de criar imagens. Quando somos crianças, essa é uma forma muito expressiva. Fazemos garatujas, desenhos simbólicos, com intenção realista; criamos bichos, figuras, objetos e paisagens, mundo imaginários com formas, linhas, cores... Hoje vivemos circulados de imagens impressas e eletrônicas em todas as formas de mídias. São tantas as imagens que, às vezes, podemos ficar em dúvida sobre para qual devemos olhar. Algumas nos chamam mais a atenção e outras nos passam despercebidas. Até pouco tempo atrás, as imagens eram produzidas uma a uma, mas, agora, na era da tecnologia, elas podem ser criadas em larga escala. Thinkstock.com 10 Unidade: As linguagens artísticas: Artes Visuais A Pintura também vem se transformando e podemos ter pintores que criam suas obras manualmente, como pinturas gigantes feitas no computador e impressas. O que diferencia o desenho da pintura é o tipo de traço, de materiais, de processos e procedimentos criativos. O desenho trabalha o gesto gráfico e a pintura a massa de tinta, ou seja, o gesto pictórico. Os materiais podem ser gráficos – o lápis, a caneta, o carvão – e de pintura – os pincéis, os rolos e todo tipo de tinta. Essas classificações são importantes para entendermos a arte tradicional, e elas vigoraram durante muitos séculos na história da arte. Mas, desde o século XX, temos imagens de todos os tipos. Na arte contemporânea, essas linguagens podem estar juntas em uma mesma obra; são os processos e técnicas mistas. Além disso, os artistas experimentam vários materiais e técnicas, por isso fica difícil definir, de uma só maneira, desenho e pintura. O desenho pode ser definido pela linha, traço, forma; já pintura usa massa de cores para criar formas. A escultura é considerada a arte dos volumes. As artes da pintura e da escultura já foram consideradas artes menores por serem associadas a trabalhos braçais, mas começaram a ganhar status no Renascimento, com o reconhecimento da sociedade. Foi a época dos grandes “mestres” da arte, que trouxe, de um lado, a valorização dessas áreas expressivas e, de outro, a “aura” sobre a obra de arte. A arte passou a ser vista como produção de alguém considerado “gênio”, e surgiu a ideia de “obra-prima”. No Renascimento, aprendizes, geralmente ainda muito jovens, entravam no atelier de um mestre famoso para aprender os ofícios da arte. Esse mestre tinha as ferramentas e o material necessário para ensinar e para fazer arte. Os estudantes, no início, não criavam; apenas ajudavam seus mestres nas encomendas feitas ao atelier ou casa de ofícios, como era chamado esse tipo de escola. Quando um aprendiz conseguia ter competência para criar a sua própria obra, realizava o sonho da “obra-prima” (primeira obra). Depois, esse termo começou a ser usado para designar a obra mais importante do artista, mesmo que feita em sua maturidade. Muitos nomes surgiram, a partir dessa época, com status de artistas celebres, que tinham seus serviços requisitados para produção de obras. Assim, pintores e escultores ganharam fama e valorizaram essas linguagens. A gravura também é uma linguagem importante nas artes visuais e sua origem remete-nos aos tempos pré-históricos, mas, com o tempo, principalmente com o avanço das mídias impressas, essa arte tornou-se popular. A gravura é a arte de gravar traços ou formas sobre uma matriz que permite passar materiais e imprimir várias cópias. Na virada do século XIX para o XX, pesquisas na produção de imagens por meio de outros processos que usavam a luz e produtos químicos criaram a linguagem da fotografia. Depois, essa forma de fazer imagens estáticas deu origem à chamada sétima arte: o cinema, linguagem artística em movimento que mudaria, para sempre, o modo como vemos as imagens. O cinema trouxe a possibilidade de ver imagens em movimentos. Hoje temos as imagens sequenciais das histórias em quadrinhos, o videogame e as imagens eletrônicas criadas por computadores, imagens em 3D e 4D, um mundo visual que nos fascina. Na arte contemporânea, as imagens misturam-se, são hibridas, e a preocupação é compreender as muitas linguagens artísticasque existem e, talvez, criar outras, como as instalações. 11 As instalações são linguagens contemporâneas que misturam tecnologias e linguagens tradicionais. Na “instalação”, os artistas modificam o lugar, criando um espaço novo, em que sensações podem ser captadas pelo público ao percorrer esse espaço tridimensional. É um lugar para sentir a arte com o corpo todo, um espaço aberto a sensações corpóreas e mentais. Os elementos de linguagem e alfabetização visual A artista Fayga Ostrower (1920-2001) diz que, nas artes visuais, com alguns elementos de linguagem, como superfície, linha, cor e luz, e conhecendo esses elementos, podemos criar várias imagens em diferentes linguagens. Assim com “tão poucos elementos, e nem sempre reunidos, formulam-se todas as obras de arte, na imensa variedade de técnicas e estilos” (Fayga Ostrower, 1991, p. 65.). A educação contemporânea tem se preocupado com a alfabetização visual, para preparar a criança para o mundo visual de maneira mais crítica e consciente. Ensinar arte é ensinar os elementos de linguagem, como estes podem ser articulados e como, na linguagem escrita – em que as letras combinadas formam vocábulos, estudados e regidos pela gramática – as linguagens artísticas, que possuem seus elementos de linguagem (seus códigos) combinados, constroem formas e conteúdos. Cada linguagem artística possui sua própria “gramática”. Nas artes visuais temos: ponto, linha, plano, cores, luz e formas. • Ponto: é um elemento na composição que pode expressar foco de visão ou início de uma linha. • Linha: é a trajetória dos pontos. Se escolhemos um lugar para começar a linha, escolhemos um ponto de partida; aí traçamos até chegar a algum outro ponto. Podemos, também, em um desenho, traçar muitas linhas em vários formatos, como as sinuosas, as retas, em zigue- zague, linhas grossas, finas, verticais, horizontais, diagonais, contínuas ou interrompidas. São muitas as possibilidades da linha. • Planos e espaços: O espaço de plano bidimensional possui duas dimensões (altura e largura); como exemplo podemos pensar em uma pintura. O espaço tridimensional possui, além de altura e da largura, a profundidade, a exemplo da escultura e arquitetura. Nossas percepções visuais são tridimensionais. Enxergamos em três planos: o que está mais próximo, o que se encontra a meia distância e o que está mais distante. O cinema, com a tecnologia 3D, busca essa intenção da tridimensionalidade. Você já teve a experiência em assistir ao cinema 3D? Os objetos, paisagens e personagens parecem estar próximos de nós, ou seja, em nosso espaço. 12 Unidade: As linguagens artísticas: Artes Visuais • Cores: Vivemos em um mundo repleto de cores tanto naturais como virtuais. Temos cores quentes, frias, primárias, secundárias, terciárias, em harmonia ou em contraste. Cores neutras ou cores puras, matizadas ou uma ao lado da outra. Há muitas formas de usar a cor. • Luz: A luminosidade de uma imagem pode ser percebida de muitas maneiras. Às vezes, vemos imagens com tons mais claros, ou imagens em contrastes entre claros e escuros. Os artistas barrocos foram mestres em usar os contrastes entre luzes e sombras para criar efeitos de dramaticidade nas pinturas. • Formas: Em relação às formas, podemos explorar as geométricas, que são aquelas com configurações matemáticas, como o círculo, triângulo, quadrado, retângulo..., ou as orgânicas, que não têm formas-padrão para serem criadas. No ensino de arte, na alfabetização visual, podemos apresentar aos alunos esses elementos básicos e mostrar como eles, articulados, podem criar movimentos, texturas, sensações. Fundamentos do ensino das artes visuais A alfabetização visa compreender os elementos de linguagem e, por meio destes, apresentar às crianças os caminhos que elas podem trilhar ao articular pontos, linhas, planos, cores, formas e luminosidade. Mostrar que podem construir mundos coloridos, usando cores, e que as cores não precisam ser realistas, e, sim, estar a serviço da sua imaginação. Podemos criar linhas de todas as maneiras, espessuras e direções. Também é possível mostrar que arte pode ser bidimensional ou tridimensional. As formas podem ser orgânicas ou geométricas. Muitas vezes, vemos educadores determinando como certas ou erradas as cores das coisas que estão na natureza ao orientar a produção das crianças. Vivemos em um mundo em que as revistas, desenhos animados, videogames e computadores inventam coisas e imagens. Também, na natureza, há uma variedade de espécimes que são de inúmeras cores; assim, as árvores, por exemplo, não precisam ser sempre de copa verde, porque temos os ipês amarelos, as quaresmeiras roxas... Na arte, tanto vale representar a realidade como criar novos mundos e seres. Vimos, em outras unidades, que as imagens precisam ser lidas e compreendidas pelas crianças. Os educadores, diante da leitura de imagens que as crianças realizam, podem criar metodologias para potencializar essas leituras. Ler uma imagem é ler um texto, um texto visual. O conceito de leitura de imagem é vasto e depende do repertório cultural de cada um. A obra de arte é sempre aberta, para que possamos preenchê-la de significados. Ler imagens desenvolve as habilidades. Nas metodologias dos educadores, é possível realizar uma leitura comparada entre várias obras de arte de diversos períodos, para que o aluno perceba as diferenças e as similaridades. Com essa prática docente, podemos desenvolver várias habilidades e competências. Entre estas estão a capacidade de descrever, interpretar, analisar e julgar. 13 Como o educador é um mediador, a proposta na leitura de imagens é criar perguntas: • perguntas para descrever (primeiras impressões); • perguntas para interpretar (o que a imagem provoca); • perguntas para analisar (elementos de linguagem, como cores, linhas, formas...); • perguntas para julgar (o que as crianças acham das imagens). Ao ler imagens com as crianças, a preocupação é não ser um explicador, mas, sim, um provocador de pensamentos e reflexões. Na leitura de obras de arte, o professor deve propor uma conversa a respeito do que se vê, do que se ouve ou sente. Essa proposição respeita a voz da criança e aproveita as suas vivências, nutrindo a leitura com mais saberes. Também precisamos criar situações de aprendizagem para os momentos do fazer artístico. Uma proposta a ser pensada é a criação de atelier na escola. Não é preciso um espaço especial, mas ter claro o que é a linguagem visual e decidir a respeito das questões que podem construir uma linguagem visual, seja em forma de desenho, pintura, escultura, gravura... Para criar um atelier precisamos pensar em: • Materialidades: meios, suportes e ferramentas; • Procedimentos: pintar, cortar, colar, construir, juntar, etc.; • Elementos de linguagem: ponto, linha, forma, plano, cor e luz, e suas articulações (bidimensional, tridimensional, texturas, tonalidades, proporção, luz e sombras...); • Temas abstratos ou figurativos; • Conceitos: elementos de linguagens, fases do grafismo, materialidade... • Nutrição estética (que imagens podemos apresentar?); • Situação de aprendizagem; • Ambiente para a criação. Proposições pedagógicas A alfabetização na arte pode acontecer mesmo com crianças bem pequenas e até com pessoas na vida adulta. Sempre haverá uma nova linguagem artística para conhecermos e tentarmos interpretá-la, além de atribuir-lhe significados simbólicos e culturais. O universo da arte é um mundo de símbolos, vocabulários, ideologias, e, dessa forma, é uma linguagem complexa. Sendo assim, seu entendimento não poderia ser diferente; também requer um pensamento complexo e subjetivo. 14 Unidade: As linguagens artísticas: Artes Visuais Podemos propor encontros significativos entre obras de arte e as crianças,apresentando-as de forma lúdica, em que o brincar seja a forma de conhecer e aprender arte. Ou realizar leituras mais sistematizadas, explorando a forma e o conteúdo das imagens, dependendo da idade e da fase em que as crianças se encontram. Estudamos, em outras unidades, os quatros movimentos pelos quais crianças e jovens passam. Porém essa passagem de uma fase para outra não acontece da mesma maneira para todos. O ambiente de aprendizagem, seja na escola ou na comunidade (fora da escola, família, espaços culturais e outros), é importante no desenvolvimento. Ver e apreciar imagens é um fator relevante nesse desenvolvimento assim como experienciar processos de criação. Propostas para criar situações de aprendizagens e percursos poéticos, estéticos, educativos com a leitura de obras de artes Com crianças pequenas, a melhor forma de apresentar imagens é fazer mediações por meio de brincadeiras. Dependendo da idade, as crianças já reconhecem cores, formas e tipos de linhas, mas as aquisições dessas noções, nas aulas de arte, vão acontecendo de forma mais aberta e menos sistematizada. Quando a criança manipula a imagem em um jogo de encaixe ou no quebra-cabeça, ela está observando, analisando. Ela pode, também, expressar opinião sobre essa imagem - “É feia ou bonita, gosto, não gosto” - mesmo que essa expressão seja por meio de gestos, sorrisos ou choro e mesmo que a criança pequena ainda não conheça elementos de linguagem como cores e formas. Uma brincadeira que a criança gosta de fazer desde bem pequena é a imitação. Ela observa, reproduz gestos, faz caretas no momento em que algo é mostrado a ela. Aos dois anos de idade, ela já memorizou algumas brincadeiras e já formulou um repertório de gestos para expressar suas emoções. A escola pode valorizar essas formas de brincadeiras das crianças e propor alguns exercícios: • Podemos escolher várias imagens com rostos e pedir que as crianças imitem as expressões. Se estiverem na fase da oralidade, também estimulá-las a falar o que acham que o personagem da imagem está sentindo. • Com as crianças maiores, as perguntas podem explorar, além dos aspectos de interpretação (contextual), os elementos de linguagem (analítica), como cores, formas, linhas, texturas, entre outras possibilidades. • Quando temos várias imagens, podemos trabalhar com a proposta comparativa, explorando semelhanças e diferenças, solicitando que as crianças prestem atenção ao que estão vendo, que expressem seu julgamento, que façam (no caso das crianças maiores) análises sobre como a obra foi feita. 15 Não há uma regra estabelecida para o tipo de pergunta que podemos fazer às crianças. Mas o bom professor mediador faz boas perguntas a partir das respostas que as crianças vão dando no decorrer da leitura. É preciso prestar atenção aos diálogos e às falas das crianças. O grau de complexidade da pergunta a ser feita, mais contextual ou mais analítica, vai depender do movimento em que elas estão. O importante é oferecer oportunidades de leituras para crianças de todas as idades, de preferência de maneira lúdica. Não há uma indicação em relação às imagens que são adequadas para cada idade, mas o importante, para o professor mediador, é saber perceber a potência da imagem. Ou seja, cada obra de arte, seja visual, gestual ou sonora, apresenta uma força, uma potência em sua forma ou temática (forma e conteúdo). Assim, a escolha deve ser feita em função, sempre, dos conceitos que estão sendo trabalhados. Vemos, em muitos trabalhos didáticos, a preocupação com a temática, como, por exemplo, o trabalho com imagens que são associadas às festas comemorativas ou a outras questões trazidas pelo cotidiano da escola. É sempre melhor escolher imagens pelo conceito de cores, formas, texturas, tamanhos, expressões, entre outros, para não correr o risco de elaborar proposta em que a arte esteja apresentada apenas como ilustração (enfeite) e não como conhecimento e expressão. Também não há necessidade de propor uma produção artística (desenhos, pinturas, modelagens) sempre que uma imagem for mostrada. Podemos apenas mostrar imagens e brincar com elas ou conversar sobre. Esses momentos são fundamentais para nutrir o repertório da criança. Por meio da leitura de imagens, podemos oferecer conhecimentos a respeito da vida, leituras de mundo e como os artistas expressam seus universos em forma de cores, linhas, texturas. Há várias possibilidades de nutrir o olhar das crianças. Às vezes, não precisamos mostrar a imagem em primeiro lugar; podemos, antes, explorar imagens da natureza, por exemplo, para depois mostrar como Vincent Van Gogh pintou a noite, ou explorar a observação de flores e depois apresentar os jardins de Monet. Claude Monet - Water Lillies, 1919 - wikipaintings.orgVincent Van Gogh - A noite estrelada, 1889 - wikipaintings.org Lembre-se de que a maneira como os artistas apresentam suas visões de mundo é uma forma de poética, e as crianças podem nos apontar outras poéticas em seus trabalhos, principalmente nas fases em que o simbolismo é latente (segundo movimento). Nessa fase, a criança expressa, em suas produções (desenhos e pinturas), aquilo que sabe sobre o que vê e não exatamente o que vê. Só mais tarde, quando as crianças estão no terceiro movimento, elas têm a intenção realista. Essa visão simbólica sobre as coisas também se aplica à leitura de imagens. Sua compreensão sobre as obras também se dará por ideias simbólicas. A observação alimenta a memória, e a memória fortalece a imaginação criadora. 16 Unidade: As linguagens artísticas: Artes Visuais Como sugestão de leitura, explore as questões simbólicas nas imagens com jogos: • O que será que há na imagem? • O que é o que é? • E outros jogos possíveis a partir do que a imagem oferece em sua potência. Como sugestão, escolha algumas imagens, recorte uma forma, brinque com as crianças sobre a figura que está faltando. Depois apresente a figura às crianças e faça uma leitura com a obra completa. • Crie situações de mistério envolvendo outras imagens e fazendo perguntas como: O que será que aconteceu depois desta cena? Quem será que está nesta figura? Como será sua vida? Essa, entre outras possibilidades de estimular a imaginação das crianças por meio de invenção de histórias. Podemos perceber que as crianças, na fase simbólica, criam histórias enquanto desenham. A essa fase podemos chamar de fabulação. As sugestões acima trabalham a imaginação criadora. Seguem algumas ideias: É comum, nas escolas, o conceito de brinquedoteca, mas podemos usar essa ideia para criar materiais que possam ser usados na educação estética e alfabetização visual das crianças em diferentes níveis e idades. • Uma ideia é escolher algumas imagens, que podem ser impressas, pesquisadas na internet e impressas, ou também cartazes já prontos, conseguidos no comércio editorial ou em museus. Os museus costumam ter imagens impressas, muitas vezes, para doar aos professores em projeto de formação continuada. Você pode se informar no museu de sua cidade. • Para trabalhar os conceitos de espaço, formas, cores com crianças menores, podemos escolher uma imagem e recortar algumas partes (formas) para que as crianças brinquem de encaixar a forma no quadro novamente. Nesta brincadeira, a criança aprende a relacionar a cor e a forma dentro de um espaço. Para que a imagem fique mais resistente, será preciso plastificar o papel (imagem) ou imprimir a imagem em papel mais espesso. • Recortar as imagens em algumas partes também pode ser uma forma de criar vários quebra– cabeças. Mas, na escolha dos cortes, é importante estabelecer uma relação com as formas da obra de arte; por exemplo, se a imagem apresentar uma figura humana, você poderá cortá- la separando a cabeça, o tronco e os membros, ou, se a imagem trouxer uma forma abstratacom figuras geométricas, o quebra-cabeça poderá ser dividido segundo essas formas. No entanto, também há possibilidade de fazer cortes livres. O importante é saber quais conceitos você quer que as crianças aprendam enquanto brincam com as imagens. • Outra proposta é escolher uma imagem e convidar as crianças a inventar sons e movimentos para imaginar situações a partir da imagem. Exemplo: para uma imagem de chuva, que sons podemos criar? E como podemos fazer movimentos do vento que está balançando a árvore? O importante é que o professor possa ver, na imagem, qual sua potência para criar sons e movimentos. 17 • Outra brincadeira é apresentar imagens que mostrem alimentos ou pessoas comendo ou cheirando algo. Assim o professor poderá trabalhar a memória corpórea em relação a odores e sabores. • Levar até as crianças objetos que estão na cena da imagem, como chapéus, roupas e outros, pode ser outra forma de brincar, fazendo de conta que todos fazem parte da cena. • Com as crianças acima de 5 anos, podemos criar cenas improvisadas, inventando histórias a partir da imagem. Nesta fase, as crianças já estão prontas para desenvolver jogos de regras; assim, os jogos dramáticos podem ser explorados. • Caça ao tesouro também é uma boa brincadeira. A professora expõe de cinco a dez imagens na sala de aula. Escolhe uma imagem, reproduz essa, corta em pedaços e coloca cada pedaço escondido pela escola. O professor pode dar pistas para a turma encontrar as partes da imagem. Depois que todos os pedaços forem encontrados, as crianças montam e associam a uma das imagens expostas na sala de aula. Em seguida, com a imagem montada, a professora poderá iniciar um processo de leitura mais sistematizada, principalmente se as crianças forem de idade acima de cinco anos. • Essas atividades podem ser exploradas com crianças de qualquer idade, mas a leitura terá níveis diferentes de procedimentos. Dessa forma, as propostas sugeridas são apenas exemplos que podem ser direcionados para educação infantil ou ensino fundamental I e II. • Em uma escola, cada educador pode criar um jogo ou proposta de aula e guardar em uma caixa que circule pela escola. Assim, todos terão várias propostas de leituras de imagem. Ou, ainda, esses jogos podem fazer parte da brinquedoteca, se a escola tiver um espaço desse tipo. Ler, fazer e contextualizar o mundo das imagens amplia a visão cultural dos alunos em qualquer idade, e, por que não dizer, dos educadores também. 18 Unidade: As linguagens artísticas: Artes Visuais Material Complementar Há vários materiais e sites que você pode visitar e ampliar seus saberes sobre o ensino de artes visuais na escola. Indicamos aqui os materiais educativos: • ArteBr disponível em http://artenaescola.org.br/artebr/ • Viajando com Eckhout Disponível em: http://artenaescola.org.br/eckhout/ Estes são exemplos de materiais que podem ampliar sua visão sobre o a leitura de imagens e como podemos criar aulas com foco em artes visuais. 19 Referências ALVES, Rubem. Ostra feliz não faz pérola. São Paulo: Planeta do Brasil, 2008. BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte: anos 1980 e novos tempos – São Paulo: Perspectiva, 2009. BRASIL. Referencial curricular nacional para a educação infantil / Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. 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