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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Projeto Pós-graduação Disciplina Transtornos de Comportamento e Desenvolvimento Tema Transtornos do Espectro Autista Professor Thiciane Pieczarka Introdução No vídeo da professora, você vai conhecer os principais tópicos que estudaremos neste tema: eles englobam os transtornos do espectro autista a partir de uma discussão a respeito do autismo. Traremos ao estudo um histórico que envolve as questões relevantes de diagnóstico do autismo, as implicações acerca do desenvolvimento humano e a sua relação com os aspectos educacionais. (vídeo disponível no material on-line) Problematização Você é um professor que recém iniciou a sua carreira profissional. Está cheio de ideias e disposto a aprender e a receber novos desafios. Ao buscar um emprego, você se depara com a realidade de ser professor de educação infantil, com uma turma bastante agitada e heterogênea. Seus alunos têm 4 anos de idade e estão a todo o vapor. Você se planeja e programa atividades muito interessantes, que envolvem todas as áreas de desenvolvimento. Em meio aos desafios de uma turma agitada, você se depara com um aluno que não se envolve nas atividades que você propõe, que fica no seu canto, não buscando a interação com os colegas nem com você. Você começa a perceber que ele é atraído por objetos, que gosta de ficar brincando de uma forma “esquisita” com eles, pois não os manuseia de forma tradicional. Além disso, você percebe que ele não costuma falar e também não gosta de muito barulho. Fica muito agitado quando as outras crianças gritam e, às vezes, grita sem razão; algumas vezes, até bate em si mesmo. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Na primeira oportunidade, você resolve chamar os pais para uma conversa. Você sabe que alguma coisa não está certa e, ao perguntar aos pais a respeito do filho, eles afirmam que o filho tem dificuldades de se comunicar, mas que já chegou a falar quando pequeno, porém, hoje, ele prefere brincar com bolas e se isolar a estar junto deles. Eles já buscaram muitas respostas, mas nenhum médico fechou diagnóstico algum. Parece ser algum problema neurológico ou, então, autismo, mas eles ainda não podem afirmar com certeza. Dessa forma, você se sente intrigado a pesquisar mais a respeito do autismo. O que você poderia fazer para chamar a atenção desse aluno? Como organizar a turma para que ele interaja com as outras crianças? Que mudanças você faria em sua prática? Isso tudo mexe com suas inseguranças e dificuldades enquanto professor? Não precisa responder agora. Vá para o conteúdo teórico deste tema e, ao final, retomaremos essa questão. (vídeo disponível no material on-line) Transtorno do Espectro Autista Breve histórico Leo Kanner, médico austríaco erradicado nos Estados Unidos, descreveu o autismo, enquanto quadro patológico, pela primeira vez. Em seu artigo “Distúrbios autísticos de contato afetivo”, de 1943, Kanner descreveu 11 pacientes que apresentavam um grau variado de necessidade de isolamento, parecendo apresentar uma inabilidade precoce ao contato afetivo. Em 1906, Plouller introduziu o adjetivo ‘autista’ na literatura psiquiátrica ao estudar pacientes que tinham diagnóstico de demência precoce (esquizofrenia). Mas foi Bleuler, em 1911, o primeiro a difundir o termo ‘autismo’, definindo-o como perda de contato com a realidade, causada pela impossibilidade ou grande dificuldade na comunicação interpessoal. Referiu-se, originalmente, ao autismo como transtorno básico da esquizofrenia, que consistia na limitação das relações pessoais e com o mundo externo, parecendo excluir tudo que parecia ser o ‘eu’ da pessoa. (SALLE et al, 2005, p. 11). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 Poucos meses depois, o psiquiatra austríaco Hans Asperger (Áustria, 1944) descreveu os casos de diversas crianças vistas e atendidas na Clínica Pediátrica Universitária de Viena. Asperger não conhecia o trabalho de Kanner e “descobriu” o autismo de modo independente. Ele publicou suas observações em 1944 no artigo “A Psicopatia autista na infância”. É muito curioso o uso do termo “autismo” em uma época semelhante, porém em trabalhos muito distintos e distantes, pois ambos não se comunicavam. Além disso, o trabalho de Asperger somente se tornou público mundialmente após a década de 1980, com a tradução para o inglês realizada pela professora inglesa Uta Frith – trabalho que havia sido publicado originalmente em alemão. Os casos, muito semelhantes entre si, traziam perspectivas diferenciadas de seus médicos: para Asperger, o prognóstico era muito bom ao pensar em intervenções no desenvolvimento; já Kanner via um prognóstico sombrio para seus pacientes. Com influência maior do trabalho de Kanner, até a década de 1960, o autismo foi considerado um transtorno emocional, causado pela incapacidade de mães e/ou pais de oferecer o afeto necessário durante a criação dos filhos. Uma publicação de grande notoriedade na época foi escrita por Bruno Bettleheim, que, após vários artigos a respeito, publicou o livro “A fortaleza vazia” (The empty fortress, 1967), trabalho que popularizou a ideia de então – a de que o autismo era causado por uma indiferença da mãe em relação à sua criança, criando o termo das “mães geladeiras”. Até a década de 1970, persistiu certa confusão do ponto de vista do diagnóstico, pois o termo autismo já fora usado para se referir à esquizofrenia, podendo postular uma correlação indevida entre os dois diagnósticos. Por não ter sido levada em consideração a idade da manifestação do quadro, outros diagnósticos poderiam ser confundidos com autismo. A partir disso, para uma revisão de conceitos de autismo, investigações forem realizadas (HERMELIN & FRITH, 1971; HERMELIN & O'CONNOR, 1970), CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 as quais delineiam características fundamentais para o diagnóstico, evidenciando três particularidades principais: Autismo (isolamento extremo); Atrasos no desenvolvimento da fala e da linguagem; Fenômeno ritualístico e compulsivo (RUTTER, 1970). Nessa fase de estudos na área, também surgiu um critério diagnóstico fundamental: o aparecimento dessas características em pelo menos até a idade de 30 meses (RUTTER, BARTAK, 1971). A decisão de incluir o autismo infantil como um diagnóstico foi oficialmente reconhecido no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Sociedade Americana de Psiquiatria, na sua 3ª edição (DSM-III), em 1980. Esse documento visava enfatizar essa singularidade do autismo. Durante as duas décadas seguintes – 1980 e 1990 –, pesquisas empíricas, rigorosas e controladas levaram à hipótese da existência de uma alteração cognitiva, a qual explicaria as características de comunicação, linguagem, interação social e pensamento presentes no autismo. Pensando nas dificuldades de tratamento, surgiram, então, escolas específicas para pessoas com autismo. Em 1988, Lorna Wing publicou um trabalho considerado de grande influência na definição para o autismo, pois introduziu uma descrição de espectro de sintomas dependente do comprometimento cognitivo, definindo um continuum de sintomas, entre eles: interação e comunicação social e padrões repetitivos de resposta a estímulos sensoriais, os quais seriam considerados a partir da gravidade, determinando o comprometimento intelectual. A definição do DSM-III não foi satisfatória em diversos aspectos, segundo Volkmar e Cohen (1988), e revisões substanciais foram feitas no DSM-III-REstabeleceu-se, portanto, um novo termo para a classe na qual o autismo foi atribuído: Transtornos Invasivos do Desenvolvimento. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 (APA, 1987), na tentativa de incluir uma série de critérios, com uma orientação de desenvolvimento mais ampla, permitindo que todo o espectro da disfunção – tanto a respeito da idade cronológica quanto do nível de desenvolvimento – fosse abrangido. Foram estabelecidos 16 critérios detalhados ao longo de três áreas: Socialização; Comunicação; Jogo simbólico e de repertório restrito de atividades e interesses. Embora nenhuma reivindicação explícita tivesse sido feita para uma ordem evolutiva dos critérios utilizados, todas as áreas apresentavam uma sequência de desenvolvimento. Por exemplo: as crianças com acentuada falta de consciência dos outros, muito provavelmente, também apresentariam deficiências em fazer amizades com outras crianças de sua idade. A 4ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, DSM IV, (APA, 1994/1999) descreve o transtorno autista inserido nos Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) e define critérios bastante específicos para o seu diagnóstico. Entre os transtornos inseridos nessa classificação estão: Autismo Infantil; Síndrome de Rett; Transtorno Desintegrativo da Infância; Síndrome de Asperger; Transtorno Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação (incluindo Autismo Atípico). Nessa classificação, o autismo é definido por atrasos ou funcionamento anormal: dois itens em interação social, um item na linguagem, para fins de CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 comunicação social, e um item em jogos imaginativos ou simbólicos, com aparecimento de pelo menos um desses itens antes dos 3 anos de idade. Ainda valendo-se da abordagem descritiva, o CID-10 (2000), Classificação Internacional de Doenças, enquadra o autismo nos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento – TID. Os TID são definidos como um grupo de transtornos caracterizados por alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e modalidades de comunicação e por um repertório de interesses e de atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Tais anomalias qualitativas constituem uma característica global do funcionamento do sujeito, em todas as ocasiões (OMS, 1993). Estão incluídos no grupo dos TID, além do autismo, a Síndrome de Asperger e o Transtorno Invasivo do Desenvolvimento Sem Outra Especificação. Rutter (2011) demonstrou que, nos últimos quarenta anos, houve a ampliação do diagnóstico de autismo. Essa mudança no diagnóstico ocorreu não pela determinação de características sintomatológicas de um único distúrbio, mas pela introdução da ideia de um espectro, conhecido como Autism Spectrum Disorder (ASD) – traduzido em português para Transtorno do Espectro Autístico (TEA). Dessa forma, em 2013, a Associação Americana de Psiquiatria fez a revisão dos critérios diagnósticos e trouxe a definição de Transtorno do Espectro Autista. Essa decisão baseou-se, principalmente, no conhecimento acumulado. A 5ª edição do DSM trouxe uma nova estrutura de sintomas e a tríade de sintomas que modela déficits de comunicação separadamente de prejuízos sociais do DSM-IV, o qual foi substituído por um modelo de dois domínios, composto por: um domínio relativo a déficit de comunicação social e um relativo a comportamentos/interesses restritos e repetitivos. No Brasil, os critérios do diagnóstico do autismo são organizados oficialmente pelo CID-10 – 10ª edição da Classificação Internacional de Doenças. No entanto, é importante saber que o diagnóstico do autismo e de CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 outros quadros do espectro são obtidos por meio de observação clínica e por entrevistas realizadas com os pais e/ou responsáveis. Não existem marcadores biológicos que definam o quadro do autismo. Alguns exames laboratoriais podem permitir a compreensão de fatores associados a ele, mas, ainda assim, o diagnóstico é clínico. Assista ao vídeo a seguir e entenda melhor como esse transtorno é diagnosticado no Brasil. (vídeo disponível no material on-line) Dificuldades do transtorno As principais características das dificuldades encontradas nos autistas podem ser relacionadas em três grandes áreas do desenvolvimento. Interação social Conjunto de inabilidade de comportamentos sociais: Raramente iniciam interação social/conversação; Mantêm pouca atenção em outras pessoas; Comportamentos não verbais de iniciação e manutenção de contato; Dificuldades em reconhecer e expressar emoções (valores culturais); Raramente buscam referências sociais (atitude do outro/autorregulação); Falta de empatia (ausência/limitação de respostas). Comunicação Apresentam grande variedade de comportamentos incomuns; Utilização de gestos sem “intenção comunicativa”; Ausência de fala ou fala tardia, com algumas especificidades; Inabilidade na prosódia; Fala repetitiva; Uso idiossincrático de palavras; Dificuldade nos aspectos pragmáticos da comunicação e na estruturação da narrativa; CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 Limitação na compreensão da função da linguagem e na interpretação de narrativas. Interesses e atividades Tendem a engajar-se em atividades repetitivas e estereotipadas com os objetos; Raro comportamento de jogo simbólico (faz de conta); Interesse por números, datas, horários, figuras, fotos, mapas, leitura de palavras, de forma sistemática e persistente; Maior interesse em atividades relacionadas à memória; Resistência a mudanças de rotina de vida diária e a incorporação de novos hábitos; Estruturação de rituais sem funcionalidade real. Em geral, observa-se a criança autista como passiva, alheia ao meio e pouco sensível às pessoas e aos objetos que a cercam. Essa criança costuma apresentar ausência ou alteração de comunicação intencional, ausência de jogo simbólico, alteração na imitação e uso de gestos e vocalizações comunicativas. Outros problemas que podem ocorrer dizem respeito a: alimentação, falta de sono, excitabilidade inexplicável e difícil de controlar, medo anormal de pessoas e lugares estranhos, condutas de pânico sem causa aparente, tendência progressiva a evitar e ignorar pessoas, entre outros. A resistência a mudanças ambientais ou modificações de sua rotina habitual também podem ser constantes. Ficou curioso? No vídeo a seguir, a professora vai indicar quais são as principais características do espectro. Não perca! (vídeo disponível no material on-line) CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 TEA e a Educação Que meio temos que proporcionar à criança autista para diminuir seu medo, aumentar a previsibilidade de seu ambiente, aproximá-la de outras pessoas, permitir-lhe satisfazer-se através da relação, desenvolver seus modelos simbólicos? Como podemos normalizar, na medida do possível, sua experiência e sua conduta? (RIVIERE, 1995, p. 282). Considera-se a Educação como uma das terapias mais relevantes para o autista, pois, na medida em que se intervém, os resultados passam a ser visíveis em pouco tempo: a agitação da criança costuma diminuir, ela começa a responder melhor aos estímulos ambientais e há uma diminuição dos comportamentos inadequados (birras, estereótipos, autoagressões). Um aspecto importante acerca do papel da Educação para o aluno autista é buscar desenvolver, na medida emque for possível, a sua autonomia. Algumas crianças até desenvolvem formas funcionais e simbólicas da linguagem, enquanto outras estabelecem padrões de comunicação simples, mediante gestos ou palavras soltas (RIVIERE, 1995). Assim, configura-se o que poderíamos chamar o ‘círculo vicioso do autismo’: para as crianças autistas, é difícil desenvolver símbolos e modelos comunicativos, porque o mundo dos demais é, para elas, em grande parte, opaco e imprevisível. Elas não têm a facilidade das outras crianças para ‘sentirem com’ os demais e vislumbram com dificuldade a noção de que os outros são seres ‘repletos de experiência’, com os quais podem compartilhar desejos, expectativas, interesses, crenças etc. Por outro lado, ao não desenvolver adequadamente os símbolos e a linguagem, veem-se privadas de instrumentos essenciais para ‘penetrarem’ no mundo interior dos outros. Nessas condições, seu próprio mundo está sempre à beira da carência de significado. Para elas, a complexa rede de relações, propósitos e significados culturais, que define a realidade das outras pessoas, pode ser uma selva quase impenetrável. A função do professor é ajudá-las a aproximarem-se desse mundo de significados e proporcionar os instrumentos funcionais que estão dentro das possibilidades da criança. (RIVIERE, 1995, p. 285). Então quais seriam os procedimentos pedagógicos fundamentais ao se pensar na prática educacional com autistas? Baseando-se nas pesquisas e nas metodologias empregadas, pode-se afirmar que, atualmente, não existe uma técnica única, que seja responsável pelo CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 sucesso na educação de autistas. Na verdade, cada indivíduo deve ser avaliado em suas especificidades e possibilidades. No entanto, pode-se afirmar que algumas práticas são universais, tais como, segundo Riviere (1995, p. 286-287): Ambiente estruturado: simples, facilitador e previsível; Aulas estruturadas: ter clara a organização da aula, perceber e analisar as condições ambientais que favorecem a aprendizagem, adequar a aula à dificuldade, tendo um perfil evolutivo e previsível; Planejamento: programados a partir das sequências de conteúdo, com procedimentos educacionais que permitem alcançar os objetivos. Assim, tendo um plano de aula organizado e claro em sua mente, o professor terá maior facilidade de adaptar e modificar as estratégias e a complexidade do conteúdo na medida em que perceber seu aluno autista. A clareza fundamental se encontra em “o quê” e “como” ensinar: O quê? Objetivos claros, com enfoque evolutivo: sequência (grau de complexidade) e ambientalista (função de acordo com os ambientes em que a pessoa vive). Como? Encaminhamentos metodológicos, com ênfase na melhoria das condutas (comportamentos esperados) e na interação (atividade educativa enquanto relação, experiências significativas com atividades que promovam a assimilação a partir do interesse do aluno). Para promover uma verdadeira aprendizagem, o professor deve ser muito cuidadoso com: 1) a organização e as condições estimuladoras do ambiente; 2) as instruções e os sinais que a criança apresenta; 3) os auxílios que lhe são proporcionados; 4) as motivações e os reforços utilizados para fomentarem sua aprendizagem. (RIVIÈRE, 1995, p. 288). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 É claro que há, ainda, outras estratégias pedagógicas que podem ser aplicadas pelos professores em sala de aula com alunos autistas. Assistindo ao vídeo da professora, você vai conhecer quais são. Confira! (vídeo disponível no material on-line) Políticas Públicas de Inclusão A Lei n. 12.764, de dezembro de 2012, institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, atendendo aos princípios da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (MEC/2008) e ao propósito da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD – ONU/2006). Em busca de orientar os sistemas de ensino acerca da implementação da lei, o MEC lançou a Nota Técnica n. 24 em 21 de março de 2013. O objetivo principal remete à garantia do direito à educação básica e, especificamente, à educação profissional, assegurando o acesso à escolarização, bem como a oferta de serviços da educação especial, dentre os quais: o atendimento educacional especializado complementar e o profissional de apoio. Um dos grandes avanços que a lei assegurou foi o serviço do profissional de apoio, que deve ser disponibilizado sempre que identificada a necessidade individual do estudante, visando a acessibilidade às comunicações e a atenção aos cuidados pessoais de alimentação, higiene e locomoção. O serviço de profissional de apoio é muito importante nesse contexto. No vídeo a seguir, você vai entender como é prestado esse serviço e como ele atende o aluno assistido por essas políticas públicas. (vídeo disponível no material on-line) A Lei n. 12.764/2012 serviu para enfatizar a organização articulada dos serviços de apoio previstos pelos sistemas de ensino, tendo em consideração que os estudantes com Transtorno do Espectro Autista devem ter oportunidade de desenvolvimento pessoal e social que priorizem suas potencialidades, bem CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 como não restrinjam sua participação em determinados ambientes e atividades com base na deficiência. No processo de inclusão escolar dos estudantes com esse transtorno, é fundamental a articulação entre o ensino comum, os demais serviços e as atividades da escola e, também, o Atendimento Educacional Especializado (AEE). A modalidade da educação especial disponibiliza o Atendimento Educacional Especializado (AEE), os demais serviços e recursos pedagógicos e de acessibilidade, contemplando a oferta de profissional de apoio necessário à inclusão escolar do estudante com Transtorno do Espectro Autista nas classes comuns do ensino regular, tanto em escolas públicas quanto privadas. Os serviços da educação especial constituem oferta obrigatória pelos sistemas de ensino em todos os níveis, etapas e modalidades, devendo constar no Plano Pedagógico Plurianual (PPP) das escolas e nos custos gerais da manutenção e do desenvolvimento do ensino (BRASIL, 2013). Para complementar seus estudos, acesse o vídeo da MTV, que fala sobre o autismo. https://www.youtube.com/watch?v=mNab1gzIy1o Acesse, também, outro material de apoio, disponível no site da Associação Brasileira de Autismo. http://www.autismo.org.br/site/voce-e-a-abra/downloads.html Outra sugestão é ler o material “Diretrizes de atenção à reabilitação da pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)” e a “Cartilha: dificuldades acentuadas de aprendizagem – autismo”. São materiais que vão ajudá-lo a absorver o conteúdo visto neste tema. Revendo a problematização Chegou o momento de retomarmos a questão colocada no início deste tema. Você, como professor de educação infantil, pensou em como poderia ajudar o seu aluno especial, o qual tem dificuldades de se comunicar? O que CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 você poderia fazer para chamar a atenção dele? Como organizar a turma para que ele interaja com as outras crianças? a. Você percebeu alguns interesses do seu aluno: parece que ele se sente à vontade mesmo somente com bolas e objetos coloridos. Então você resolve providenciar esse tipo de material, a fim de que ele fique ocupado e entretido com isso; assim, você pode dar atenção para o restante da turma e desenvolver seu trabalho. b.Você escolheu conversar com sua coordenadora pedagógica sobre as maneiras de lidar com esse aluno com possível diagnóstico de autismo. No entanto, a equipe da escola parece um pouco resistente em repensar o atendimento ao aluno, afinal ele não tem diagnóstico diferenciado e, dessa forma, não deveria ter nenhum privilégio. Mesmo assim, você tem buscado realizar algumas atividades diferenciadas com ele, e parece que ele está começando a interagir com você de alguma forma, apesar de o comportamento dele em sala de aula ainda estar um tanto complicado. c. Toda essa situação o deixou desafiado a mudar e repensar em si mesmo enquanto professor. Perceber que não sabe tudo o auxiliou a ter novas formas de atender seus alunos. Por isso, você redesenhou seus planos de aula e encontrou formas de integrar esse aluno na turma, tanto que um coleguinha da turma começou a buscar contato com o aluno autista. A cada dia, você percebe que sabe menos do que sabia antes, mas, em contrapartida, você percebe que isso não é um problema, afinal o aluno parece se integrar melhor dia após dia, e a família já está demonstrando grande satisfação com a mudança do seu filho também em casa. Uma das suas alegrias foi perceber o interesse que o aluno tem demonstrado pela linguagem, o que permitiu um grande avanço na comunicação. (Feedback disponível no material on-line) CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 Síntese Você percebeu como o tema aqui proposto é vasto e ainda carece de muitas outras discussões. O Brasil tem avançado em políticas públicas de inclusão, mas ainda necessita de muita atenção na saúde básica, que seria a base para o atendimento do autista, principalmente com o auxílio de terapias que o ajudem com sua integração na sociedade. Quanto à inclusão educacional, percebemos que, quanto mais se conhecer o indivíduo autista, único nas respostas que dá ao meio, mais profícua será a integração deste em sala de aula e na interação com professores e colegas. Assista ao vídeo final e reflita sobre os estudos deste tema. Enquanto professor, o desafio está sempre em identificar os meios de alcançar o aluno autista, o qual, muitas vezes, necessita de um olhar mais específico para estabelecer um vínculo com o meio que o cerca. (vídeo disponível no material on-line) CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 Referências AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 4. ed. Revista (DSM-IV-TR). Porto Alegre: Artmed, 2002. 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A área cercada, de 2 m², mantinha o menino isolado dos outros alunos dentro da sala de aula, segundo a rede australiana ABC. A Ministra da Educação local, Joy Burch, exigiu a abertura de inquérito e o afastamento do diretor da escola durante as investigações. Não foram divulgadas imagens da sala de aula. Especialistas apontam a necessidade urgente de discussão sobre normas para a educação de autistas em escolas regulares. “Muitas vezes, crianças autistas acabam frequentando instituições de ensino que oferecem uma assistência muito limitada”, disse à ABC Nicole Rogerson, diretora do Austism Awareness Australia, organização australiana que promove programas de conscientização sobre a doença. De acordo com especialistas em Educação, áreas calmas podem beneficiar crianças com autismo quando elas estão agitadas, mas separá-las fisicamente em um espaço restrito não é uma prática comum. Se necessário, a área pode ser representada por uma cadeira diferente na sala de aula ou pelo uso de fones de ouvido. “Os professores devem entender o que é e quais são os desafios do autismo”, disse Trevor Clark, diretor de Educação da Autism Spectrum Australia, organização de suporte a portadores de autismo e outras doenças. Na Escócia, em 2010, os pais de um adolescente autista de 18 anos descobriram que a escola mantinha o rapaz preso em uma área similar a um canil, com grades de ferro e porta de madeira. A instituição havia informado aos CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 pais que a infraestrutura da escola contava com uma área de lazer equipada e com segurança para o jovem brincar. (Fonte: Revista VEJA. Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/escola-australiana-mantinha-crianca- autista-em-area-cercada/) Segundo o texto, os professores devem entender o que é o autismo. De acordo com o que estudamos neste tema, como você define o autismo? a. Autismo é quando um indivíduo apresenta um grau variado de necessidade de isolamento, parecendo apresentar uma inabilidade ao contato afetivo. b.Autismo é um transtorno emocional, causado pela incapacidade de mães e/ou pais de oferecer o afeto necessário durante a criação dos filhos. c. O autismo é caracterizado por um isolamento extremo, atrasos no desenvolvimento da fala e da linguagem, rituais e compulsividade. d. Autismo é um transtorno caracterizado por alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e modalidades de comunicação e por um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. De acordo com o texto, precisamos entender os desafios para a inclusão do autista na escola. Segundo nossos estudos deste tema, quais seriam esses desafios? a. A passividade do aluno autista, ele é alheio ao meio e pouco sensível às pessoas e aos objetos que o cercam. b. A ausência ou a alteração da comunicação intencional e da linguagem do aluno autista, juntamente com uma dificuldade grande em interagir e em se comunicar com o professor e os colegas. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 c. Alta resistência a mudanças ambientais ou a modificações de suas rotinas habituais são constantes, bem como medo e condutas de pânico sem causa aparente. d. Todas as alternativas anteriores. De acordo com a notícia, as escolas não estão preparadas para o atendimento das especificidades das crianças com autismo. Quais seriam as mudanças necessárias no ambiente escolar para a inclusão de alunos com TEA? a. Um ambiente calmo, separado dos outros alunos, com aula individualizada para o aluno. b. Um ambiente estruturado, com poucas distrações e facilitador para o aluno. Rotina estabelecida, na qual qualquer mudança será realizada com cuidado a fim de evitar a desestruturação. Aulas estruturadas para toda a turma, com um encaminhamento adequado ao aluno com TEA. c. Um ambiente livre, com espaços diversificados. Muitos materiais diferentes e com textura e cores diferentes para estimular o aluno. Aulas estruturadas para toda a turma. d. Um ambiente estruturado, com poucas distrações, visando facilitar a localização e a organização do aluno. Rotina organizada, com aula individualizada para o aluno. Observando quais seriam os encaminhamentos pedagógicos fundamentais que o professor deve fazer para inclusão do autista na escola, considere as seguintes preposições: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 I. O professor precisa ter clareza na organização da aula, percebendo e analisando as condições ambientais que favorecem a aprendizagem. II. O planejamento deve ser organizado a partir da sequência evolutiva dos conteúdos e de forma contextualizada, ou seja, a partir da realidade do aluno. III. O professor deve diversificar sempre os aspectos metodológicos, utilizando diferentes formas didáticas para o mesmo conteúdo, com o uso de diferentes linguagens. IV. O professor deve buscar formas exitosas de interação com o educando e favorecer o desenvolvimento de condutas adequadas do aluno. V. O professor deve oferecer uma previsibilidade de acontecimentos, que permita situar a criança no espaço e no tempo, na qual a organização de todo o contexto torna-se uma referência para sua segurança. VI. O professor deve usar cuidadosamente a linguagem, evitando usar pistas não verbais. De acordo com o que estudamos neste tema, quais preposições estão corretas? a. Todas as preposições. b. I, III, IV e VI. c. II, IV, V e VI. d. I, II, IV, V e VI. Com a implementação da Lei dos Direitos da Pessoa com Autismo, o principal avanço na área da Educação de alunos com TEA foi o serviço do profissional de apoio, que deve ser disponibilizado sempre que CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 21 identificada a necessidade individual do estudante. Qual é a função do profissional de apoio para o atendimento do autista? a. Atenção aos cuidados pessoais do aluno autista. b. A realização das tarefas de forma individualizada com o aluno, muitas vezes realizando-as por ele. c. Auxílio na comunicação do aluno, bem como no cuidado pessoal quanto à higiene, à alimentação e à locomoção. d. Planejamento das atividades para o aluno autista, diferentes daquelas dos outros alunos, com a orientação do professor regente, sendo sua a total responsabilidade no atendimento do aluno com TEA.