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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
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Projeto Pós-graduação 
Disciplina Transtornos de Comportamento e Desenvolvimento 
Tema Transtornos do Espectro Autista 
Professor Thiciane Pieczarka 
 
Introdução 
No vídeo da professora, você vai conhecer os principais tópicos que 
estudaremos neste tema: eles englobam os transtornos do espectro autista a 
partir de uma discussão a respeito do autismo. Traremos ao estudo um histórico 
que envolve as questões relevantes de diagnóstico do autismo, as implicações 
acerca do desenvolvimento humano e a sua relação com os aspectos 
educacionais. 
(vídeo disponível no material on-line) 
Problematização 
Você é um professor que recém iniciou a sua carreira profissional. Está 
cheio de ideias e disposto a aprender e a receber novos desafios. Ao buscar um 
emprego, você se depara com a realidade de ser professor de educação infantil, 
com uma turma bastante agitada e heterogênea. Seus alunos têm 4 anos de 
idade e estão a todo o vapor. 
Você se planeja e programa atividades muito interessantes, que envolvem 
todas as áreas de desenvolvimento. Em meio aos desafios de uma turma 
agitada, você se depara com um aluno que não se envolve nas atividades que 
você propõe, que fica no seu canto, não buscando a interação com os colegas 
nem com você. Você começa a perceber que ele é atraído por objetos, que gosta 
de ficar brincando de uma forma “esquisita” com eles, pois não os manuseia de 
forma tradicional. Além disso, você percebe que ele não costuma falar e também 
não gosta de muito barulho. Fica muito agitado quando as outras crianças gritam 
e, às vezes, grita sem razão; algumas vezes, até bate em si mesmo. 
 
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Na primeira oportunidade, você resolve chamar os pais para uma 
conversa. Você sabe que alguma coisa não está certa e, ao perguntar aos pais 
a respeito do filho, eles afirmam que o filho tem dificuldades de se comunicar, 
mas que já chegou a falar quando pequeno, porém, hoje, ele prefere brincar com 
bolas e se isolar a estar junto deles. Eles já buscaram muitas respostas, mas 
nenhum médico fechou diagnóstico algum. Parece ser algum problema 
neurológico ou, então, autismo, mas eles ainda não podem afirmar com certeza. 
Dessa forma, você se sente intrigado a pesquisar mais a respeito do autismo. 
O que você poderia fazer para chamar a atenção desse aluno? Como 
organizar a turma para que ele interaja com as outras crianças? Que 
mudanças você faria em sua prática? Isso tudo mexe com suas 
inseguranças e dificuldades enquanto professor? 
Não precisa responder agora. Vá para o conteúdo teórico deste tema e, 
ao final, retomaremos essa questão. 
(vídeo disponível no material on-line) 
Transtorno do Espectro Autista 
Breve histórico 
Leo Kanner, médico austríaco erradicado nos Estados Unidos, descreveu 
o autismo, enquanto quadro patológico, pela primeira vez. Em seu artigo 
“Distúrbios autísticos de contato afetivo”, de 1943, Kanner descreveu 11 
pacientes que apresentavam um grau variado de necessidade de isolamento, 
parecendo apresentar uma inabilidade precoce ao contato afetivo. 
Em 1906, Plouller introduziu o adjetivo ‘autista’ na literatura psiquiátrica 
ao estudar pacientes que tinham diagnóstico de demência precoce 
(esquizofrenia). Mas foi Bleuler, em 1911, o primeiro a difundir o termo 
‘autismo’, definindo-o como perda de contato com a realidade, causada 
pela impossibilidade ou grande dificuldade na comunicação 
interpessoal. Referiu-se, originalmente, ao autismo como transtorno 
básico da esquizofrenia, que consistia na limitação das relações 
pessoais e com o mundo externo, parecendo excluir tudo que parecia 
ser o ‘eu’ da pessoa. (SALLE et al, 2005, p. 11). 
 
 
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Poucos meses depois, o psiquiatra austríaco Hans Asperger (Áustria, 
1944) descreveu os casos de diversas crianças vistas e atendidas na Clínica 
Pediátrica Universitária de Viena. Asperger não conhecia o trabalho de Kanner 
e “descobriu” o autismo de modo independente. Ele publicou suas observações 
em 1944 no artigo “A Psicopatia autista na infância”. 
É muito curioso o uso do termo “autismo” em uma época semelhante, 
porém em trabalhos muito distintos e distantes, pois ambos não se 
comunicavam. Além disso, o trabalho de Asperger somente se tornou público 
mundialmente após a década de 1980, com a tradução para o inglês realizada 
pela professora inglesa Uta Frith – trabalho que havia sido publicado 
originalmente em alemão. 
Os casos, muito semelhantes entre si, traziam perspectivas diferenciadas 
de seus médicos: para Asperger, o prognóstico era muito bom ao pensar em 
intervenções no desenvolvimento; já Kanner via um prognóstico sombrio para 
seus pacientes. 
Com influência maior do trabalho de Kanner, até a década de 1960, o 
autismo foi considerado um transtorno emocional, causado pela incapacidade de 
mães e/ou pais de oferecer o afeto necessário durante a criação dos filhos. Uma 
publicação de grande notoriedade na época foi escrita por Bruno Bettleheim, 
que, após vários artigos a respeito, publicou o livro “A fortaleza vazia” (The empty 
fortress, 1967), trabalho que popularizou a ideia de então – a de que o autismo 
era causado por uma indiferença da mãe em relação à sua criança, criando o 
termo das “mães geladeiras”. 
Até a década de 1970, persistiu certa confusão do ponto de vista do 
diagnóstico, pois o termo autismo já fora usado para se referir à esquizofrenia, 
podendo postular uma correlação indevida entre os dois diagnósticos. Por não 
ter sido levada em consideração a idade da manifestação do quadro, outros 
diagnósticos poderiam ser confundidos com autismo. 
A partir disso, para uma revisão de conceitos de autismo, investigações 
forem realizadas (HERMELIN & FRITH, 1971; HERMELIN & O'CONNOR, 1970), 
 
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as quais delineiam características fundamentais para o diagnóstico, 
evidenciando três particularidades principais: 
 Autismo (isolamento extremo); 
 Atrasos no desenvolvimento da fala e da linguagem; 
 Fenômeno ritualístico e compulsivo (RUTTER, 1970). 
 
Nessa fase de estudos na área, também surgiu um critério diagnóstico 
fundamental: o aparecimento dessas características em pelo menos até a idade 
de 30 meses (RUTTER, BARTAK, 1971). 
A decisão de incluir o autismo infantil como um diagnóstico foi 
oficialmente reconhecido no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos 
Mentais da Sociedade Americana de Psiquiatria, na sua 3ª edição (DSM-III), em 
1980. Esse documento visava enfatizar essa singularidade do autismo. 
 
 
 
Durante as duas décadas seguintes – 1980 e 1990 –, pesquisas 
empíricas, rigorosas e controladas levaram à hipótese da existência de uma 
alteração cognitiva, a qual explicaria as características de comunicação, 
linguagem, interação social e pensamento presentes no autismo. Pensando nas 
dificuldades de tratamento, surgiram, então, escolas específicas para pessoas 
com autismo. 
Em 1988, Lorna Wing publicou um trabalho considerado de grande 
influência na definição para o autismo, pois introduziu uma descrição de 
espectro de sintomas dependente do comprometimento cognitivo, definindo um 
continuum de sintomas, entre eles: interação e comunicação social e padrões 
repetitivos de resposta a estímulos sensoriais, os quais seriam considerados a 
partir da gravidade, determinando o comprometimento intelectual. 
A definição do DSM-III não foi satisfatória em diversos aspectos, segundo 
Volkmar e Cohen (1988), e revisões substanciais foram feitas no DSM-III-REstabeleceu-se, portanto, um novo termo para a classe na qual o autismo 
foi atribuído: Transtornos Invasivos do Desenvolvimento. 
 
 
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(APA, 1987), na tentativa de incluir uma série de critérios, com uma orientação 
de desenvolvimento mais ampla, permitindo que todo o espectro da disfunção – 
tanto a respeito da idade cronológica quanto do nível de desenvolvimento – fosse 
abrangido. 
Foram estabelecidos 16 critérios detalhados ao longo de três áreas: 
 Socialização; 
 Comunicação; 
 Jogo simbólico e de repertório restrito de atividades e interesses. 
 
Embora nenhuma reivindicação explícita tivesse sido feita para uma 
ordem evolutiva dos critérios utilizados, todas as áreas apresentavam uma 
sequência de desenvolvimento. Por exemplo: as crianças com acentuada falta 
de consciência dos outros, muito provavelmente, também apresentariam 
deficiências em fazer amizades com outras crianças de sua idade. 
A 4ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 
DSM IV, (APA, 1994/1999) descreve o transtorno autista inserido nos 
Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) e define critérios bastante 
específicos para o seu diagnóstico. Entre os transtornos inseridos nessa 
classificação estão: 
 Autismo Infantil; 
 Síndrome de Rett; 
 Transtorno Desintegrativo da Infância; 
 Síndrome de Asperger; 
 Transtorno Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação 
(incluindo Autismo Atípico). 
 
Nessa classificação, o autismo é definido por atrasos ou funcionamento 
anormal: dois itens em interação social, um item na linguagem, para fins de 
 
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comunicação social, e um item em jogos imaginativos ou simbólicos, com 
aparecimento de pelo menos um desses itens antes dos 3 anos de idade. 
Ainda valendo-se da abordagem descritiva, o CID-10 (2000), 
Classificação Internacional de Doenças, enquadra o autismo nos Transtornos 
Invasivos do Desenvolvimento – TID. Os TID são definidos como um grupo de 
transtornos caracterizados por alterações qualitativas das interações sociais 
recíprocas e modalidades de comunicação e por um repertório de interesses e 
de atividades restrito, estereotipado e repetitivo. 
Tais anomalias qualitativas constituem uma característica global do 
funcionamento do sujeito, em todas as ocasiões (OMS, 1993). Estão incluídos 
no grupo dos TID, além do autismo, a Síndrome de Asperger e o Transtorno 
Invasivo do Desenvolvimento Sem Outra Especificação. 
Rutter (2011) demonstrou que, nos últimos quarenta anos, houve a 
ampliação do diagnóstico de autismo. Essa mudança no diagnóstico ocorreu não 
pela determinação de características sintomatológicas de um único distúrbio, 
mas pela introdução da ideia de um espectro, conhecido como Autism Spectrum 
Disorder (ASD) – traduzido em português para Transtorno do Espectro 
Autístico (TEA). 
Dessa forma, em 2013, a Associação Americana de Psiquiatria fez a 
revisão dos critérios diagnósticos e trouxe a definição de Transtorno do Espectro 
Autista. Essa decisão baseou-se, principalmente, no conhecimento 
acumulado. 
A 5ª edição do DSM trouxe uma nova estrutura de sintomas e a tríade de 
sintomas que modela déficits de comunicação separadamente de prejuízos 
sociais do DSM-IV, o qual foi substituído por um modelo de dois domínios, 
composto por: um domínio relativo a déficit de comunicação social e um relativo 
a comportamentos/interesses restritos e repetitivos. 
No Brasil, os critérios do diagnóstico do autismo são organizados 
oficialmente pelo CID-10 – 10ª edição da Classificação Internacional de 
Doenças. No entanto, é importante saber que o diagnóstico do autismo e de 
 
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outros quadros do espectro são obtidos por meio de observação clínica e por 
entrevistas realizadas com os pais e/ou responsáveis. 
Não existem marcadores biológicos que definam o quadro do autismo. 
Alguns exames laboratoriais podem permitir a compreensão de fatores 
associados a ele, mas, ainda assim, o diagnóstico é clínico. Assista ao vídeo a 
seguir e entenda melhor como esse transtorno é diagnosticado no Brasil. 
(vídeo disponível no material on-line) 
Dificuldades do transtorno 
As principais características das dificuldades encontradas nos autistas 
podem ser relacionadas em três grandes áreas do desenvolvimento. 
Interação social 
 Conjunto de inabilidade de comportamentos sociais: 
 Raramente iniciam interação social/conversação; 
 Mantêm pouca atenção em outras pessoas; 
 Comportamentos não verbais de iniciação e manutenção de contato; 
 Dificuldades em reconhecer e expressar emoções (valores culturais); 
 Raramente buscam referências sociais (atitude do outro/autorregulação); 
 Falta de empatia (ausência/limitação de respostas). 
Comunicação 
 Apresentam grande variedade de comportamentos incomuns; 
 Utilização de gestos sem “intenção comunicativa”; 
 Ausência de fala ou fala tardia, com algumas especificidades; 
 Inabilidade na prosódia; 
 Fala repetitiva; 
 Uso idiossincrático de palavras; 
 Dificuldade nos aspectos pragmáticos da comunicação e na estruturação 
da narrativa; 
 
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 Limitação na compreensão da função da linguagem e na interpretação de 
narrativas. 
 
Interesses e atividades 
 Tendem a engajar-se em atividades repetitivas e estereotipadas com os 
objetos; 
 Raro comportamento de jogo simbólico (faz de conta); 
 Interesse por números, datas, horários, figuras, fotos, mapas, leitura de 
palavras, de forma sistemática e persistente; 
 Maior interesse em atividades relacionadas à memória; 
 Resistência a mudanças de rotina de vida diária e a incorporação de 
novos hábitos; 
 Estruturação de rituais sem funcionalidade real. 
 
Em geral, observa-se a criança autista como passiva, alheia ao meio e 
pouco sensível às pessoas e aos objetos que a cercam. Essa criança costuma 
apresentar ausência ou alteração de comunicação intencional, ausência de jogo 
simbólico, alteração na imitação e uso de gestos e vocalizações comunicativas. 
Outros problemas que podem ocorrer dizem respeito a: alimentação, falta 
de sono, excitabilidade inexplicável e difícil de controlar, medo anormal de 
pessoas e lugares estranhos, condutas de pânico sem causa aparente, 
tendência progressiva a evitar e ignorar pessoas, entre outros. 
A resistência a mudanças ambientais ou modificações de sua rotina 
habitual também podem ser constantes. Ficou curioso? No vídeo a seguir, a 
professora vai indicar quais são as principais características do espectro. Não 
perca! 
(vídeo disponível no material on-line) 
 
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TEA e a Educação 
Que meio temos que proporcionar à criança autista para diminuir seu 
medo, aumentar a previsibilidade de seu ambiente, aproximá-la de 
outras pessoas, permitir-lhe satisfazer-se através da relação, 
desenvolver seus modelos simbólicos? Como podemos normalizar, na 
medida do possível, sua experiência e sua conduta? (RIVIERE, 1995, 
p. 282). 
 
Considera-se a Educação como uma das terapias mais relevantes para o 
autista, pois, na medida em que se intervém, os resultados passam a ser visíveis 
em pouco tempo: a agitação da criança costuma diminuir, ela começa a 
responder melhor aos estímulos ambientais e há uma diminuição dos 
comportamentos inadequados (birras, estereótipos, autoagressões). 
Um aspecto importante acerca do papel da Educação para o aluno autista 
é buscar desenvolver, na medida emque for possível, a sua autonomia. 
Algumas crianças até desenvolvem formas funcionais e simbólicas da 
linguagem, enquanto outras estabelecem padrões de comunicação simples, 
mediante gestos ou palavras soltas (RIVIERE, 1995). 
Assim, configura-se o que poderíamos chamar o ‘círculo vicioso do 
autismo’: para as crianças autistas, é difícil desenvolver símbolos e 
modelos comunicativos, porque o mundo dos demais é, para elas, em 
grande parte, opaco e imprevisível. Elas não têm a facilidade das 
outras crianças para ‘sentirem com’ os demais e vislumbram com 
dificuldade a noção de que os outros são seres ‘repletos de 
experiência’, com os quais podem compartilhar desejos, expectativas, 
interesses, crenças etc. Por outro lado, ao não desenvolver 
adequadamente os símbolos e a linguagem, veem-se privadas de 
instrumentos essenciais para ‘penetrarem’ no mundo interior dos 
outros. Nessas condições, seu próprio mundo está sempre à beira da 
carência de significado. Para elas, a complexa rede de relações, 
propósitos e significados culturais, que define a realidade das outras 
pessoas, pode ser uma selva quase impenetrável. A função do 
professor é ajudá-las a aproximarem-se desse mundo de significados 
e proporcionar os instrumentos funcionais que estão dentro das 
possibilidades da criança. (RIVIERE, 1995, p. 285). 
 
Então quais seriam os procedimentos pedagógicos fundamentais ao se 
pensar na prática educacional com autistas? 
Baseando-se nas pesquisas e nas metodologias empregadas, pode-se 
afirmar que, atualmente, não existe uma técnica única, que seja responsável pelo 
 
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sucesso na educação de autistas. Na verdade, cada indivíduo deve ser avaliado 
em suas especificidades e possibilidades. 
No entanto, pode-se afirmar que algumas práticas são universais, tais 
como, segundo Riviere (1995, p. 286-287): 
 Ambiente estruturado: simples, facilitador e previsível; 
 Aulas estruturadas: ter clara a organização da aula, perceber e analisar 
as condições ambientais que favorecem a aprendizagem, adequar a aula 
à dificuldade, tendo um perfil evolutivo e previsível; 
 Planejamento: programados a partir das sequências de conteúdo, com 
procedimentos educacionais que permitem alcançar os objetivos. 
 
Assim, tendo um plano de aula organizado e claro em sua mente, o 
professor terá maior facilidade de adaptar e modificar as estratégias e a 
complexidade do conteúdo na medida em que perceber seu aluno autista. 
A clareza fundamental se encontra em “o quê” e “como” ensinar: 
O quê? 
Objetivos claros, com enfoque evolutivo: sequência (grau de 
complexidade) e ambientalista (função de acordo com os ambientes em que a 
pessoa vive). 
Como? 
Encaminhamentos metodológicos, com ênfase na melhoria das 
condutas (comportamentos esperados) e na interação (atividade educativa 
enquanto relação, experiências significativas com atividades que promovam a 
assimilação a partir do interesse do aluno). 
Para promover uma verdadeira aprendizagem, o professor deve ser 
muito cuidadoso com: 
1) a organização e as condições estimuladoras do ambiente; 
2) as instruções e os sinais que a criança apresenta; 
3) os auxílios que lhe são proporcionados; 
4) as motivações e os reforços utilizados para fomentarem sua 
aprendizagem. (RIVIÈRE, 1995, p. 288). 
 
 
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É claro que há, ainda, outras estratégias pedagógicas que podem ser 
aplicadas pelos professores em sala de aula com alunos autistas. Assistindo ao 
vídeo da professora, você vai conhecer quais são. Confira! 
(vídeo disponível no material on-line) 
Políticas Públicas de Inclusão 
A Lei n. 12.764, de dezembro de 2012, institui a Política Nacional de 
Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, atendendo 
aos princípios da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da 
Educação Inclusiva (MEC/2008) e ao propósito da Convenção sobre os Direitos 
das Pessoas com Deficiência (CDPD – ONU/2006). 
Em busca de orientar os sistemas de ensino acerca da implementação da 
lei, o MEC lançou a Nota Técnica n. 24 em 21 de março de 2013. O objetivo 
principal remete à garantia do direito à educação básica e, especificamente, à 
educação profissional, assegurando o acesso à escolarização, bem como a 
oferta de serviços da educação especial, dentre os quais: o atendimento 
educacional especializado complementar e o profissional de apoio. 
Um dos grandes avanços que a lei assegurou foi o serviço do profissional 
de apoio, que deve ser disponibilizado sempre que identificada a necessidade 
individual do estudante, visando a acessibilidade às comunicações e a atenção 
aos cuidados pessoais de alimentação, higiene e locomoção. 
O serviço de profissional de apoio é muito importante nesse contexto. No 
vídeo a seguir, você vai entender como é prestado esse serviço e como ele 
atende o aluno assistido por essas políticas públicas. 
(vídeo disponível no material on-line) 
 
A Lei n. 12.764/2012 serviu para enfatizar a organização articulada dos 
serviços de apoio previstos pelos sistemas de ensino, tendo em consideração 
que os estudantes com Transtorno do Espectro Autista devem ter oportunidade 
de desenvolvimento pessoal e social que priorizem suas potencialidades, bem 
 
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como não restrinjam sua participação em determinados ambientes e atividades 
com base na deficiência. 
No processo de inclusão escolar dos estudantes com esse transtorno, é 
fundamental a articulação entre o ensino comum, os demais serviços e as 
atividades da escola e, também, o Atendimento Educacional Especializado 
(AEE). 
A modalidade da educação especial disponibiliza o Atendimento 
Educacional Especializado (AEE), os demais serviços e recursos pedagógicos e 
de acessibilidade, contemplando a oferta de profissional de apoio necessário à 
inclusão escolar do estudante com Transtorno do Espectro Autista nas classes 
comuns do ensino regular, tanto em escolas públicas quanto privadas. 
Os serviços da educação especial constituem oferta obrigatória pelos 
sistemas de ensino em todos os níveis, etapas e modalidades, devendo constar 
no Plano Pedagógico Plurianual (PPP) das escolas e nos custos gerais da 
manutenção e do desenvolvimento do ensino (BRASIL, 2013). 
Para complementar seus estudos, acesse o vídeo da MTV, que fala sobre 
o autismo. 
https://www.youtube.com/watch?v=mNab1gzIy1o 
Acesse, também, outro material de apoio, disponível no site da 
Associação Brasileira de Autismo. 
http://www.autismo.org.br/site/voce-e-a-abra/downloads.html 
Outra sugestão é ler o material “Diretrizes de atenção à reabilitação da 
pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)” e a “Cartilha: dificuldades 
acentuadas de aprendizagem – autismo”. São materiais que vão ajudá-lo a 
absorver o conteúdo visto neste tema. 
Revendo a problematização 
Chegou o momento de retomarmos a questão colocada no início deste 
tema. Você, como professor de educação infantil, pensou em como poderia 
ajudar o seu aluno especial, o qual tem dificuldades de se comunicar? O que 
 
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você poderia fazer para chamar a atenção dele? Como organizar a turma para 
que ele interaja com as outras crianças? 
a. Você percebeu alguns interesses do seu aluno: parece que ele se sente 
à vontade mesmo somente com bolas e objetos coloridos. Então você 
resolve providenciar esse tipo de material, a fim de que ele fique ocupado 
e entretido com isso; assim, você pode dar atenção para o restante da 
turma e desenvolver seu trabalho. 
b.Você escolheu conversar com sua coordenadora pedagógica sobre as 
maneiras de lidar com esse aluno com possível diagnóstico de autismo. 
No entanto, a equipe da escola parece um pouco resistente em repensar 
o atendimento ao aluno, afinal ele não tem diagnóstico diferenciado e, 
dessa forma, não deveria ter nenhum privilégio. Mesmo assim, você tem 
buscado realizar algumas atividades diferenciadas com ele, e parece que 
ele está começando a interagir com você de alguma forma, apesar de o 
comportamento dele em sala de aula ainda estar um tanto complicado. 
c. Toda essa situação o deixou desafiado a mudar e repensar em si mesmo 
enquanto professor. Perceber que não sabe tudo o auxiliou a ter novas 
formas de atender seus alunos. Por isso, você redesenhou seus planos 
de aula e encontrou formas de integrar esse aluno na turma, tanto que um 
coleguinha da turma começou a buscar contato com o aluno autista. A 
cada dia, você percebe que sabe menos do que sabia antes, mas, em 
contrapartida, você percebe que isso não é um problema, afinal o aluno 
parece se integrar melhor dia após dia, e a família já está demonstrando 
grande satisfação com a mudança do seu filho também em casa. Uma 
das suas alegrias foi perceber o interesse que o aluno tem demonstrado 
pela linguagem, o que permitiu um grande avanço na comunicação. 
(Feedback disponível no material on-line) 
 
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Síntese 
Você percebeu como o tema aqui proposto é vasto e ainda carece de 
muitas outras discussões. O Brasil tem avançado em políticas públicas de 
inclusão, mas ainda necessita de muita atenção na saúde básica, que seria a 
base para o atendimento do autista, principalmente com o auxílio de terapias que 
o ajudem com sua integração na sociedade. 
Quanto à inclusão educacional, percebemos que, quanto mais se 
conhecer o indivíduo autista, único nas respostas que dá ao meio, mais profícua 
será a integração deste em sala de aula e na interação com professores e 
colegas. 
Assista ao vídeo final e reflita sobre os estudos deste tema. Enquanto 
professor, o desafio está sempre em identificar os meios de alcançar o aluno 
autista, o qual, muitas vezes, necessita de um olhar mais específico para 
estabelecer um vínculo com o meio que o cerca. 
(vídeo disponível no material on-line) 
 
 
 
 
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Referências 
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Estatístico de Transtornos Mentais. 4. ed. Revista (DSM-IV-TR). Porto Alegre: 
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Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Brasília: 
2012. 
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Especial. Nota Técnica n. 24, de 21 de março de 2013. Orientação aos Sistemas 
de Ensino para a implementação da Lei n. 12.764/2012. 
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RIVIÈRE, A. O desenvolvimento e a educação da criança autista. In: COLL; 
PALACIOS, J.; MARCHESI, A. Desenvolvimento psicológico e educação: 
 
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médicas, 1995. v. 3. p. 274-297. 
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p. 435-50, 1970. 
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Atividades 
Antes de seguir para as atividades, leia a seguinte reportagem sobre 
Educação: 
Escola australiana mantinha criança autista em área cercada: menino de 10 
anos ficava separado dos outros alunos, em quadrado de 2 x 2 metros 
Uma escola pública de ensino primário de Camberra, capital da Austrália, 
está sendo investigada por manter uma criança autista de 10 anos presa em uma 
estrutura parecida com uma jaula. A área cercada, de 2 m², mantinha o menino 
isolado dos outros alunos dentro da sala de aula, segundo a rede australiana 
ABC. 
A Ministra da Educação local, Joy Burch, exigiu a abertura de inquérito e 
o afastamento do diretor da escola durante as investigações. Não foram 
divulgadas imagens da sala de aula. 
Especialistas apontam a necessidade urgente de discussão sobre normas 
para a educação de autistas em escolas regulares. “Muitas vezes, crianças 
autistas acabam frequentando instituições de ensino que oferecem uma 
assistência muito limitada”, disse à ABC Nicole Rogerson, diretora do Austism 
Awareness Australia, organização australiana que promove programas de 
conscientização sobre a doença. 
De acordo com especialistas em Educação, áreas calmas podem 
beneficiar crianças com autismo quando elas estão agitadas, mas separá-las 
fisicamente em um espaço restrito não é uma prática comum. Se necessário, a 
área pode ser representada por uma cadeira diferente na sala de aula ou pelo 
uso de fones de ouvido. “Os professores devem entender o que é e quais são os 
desafios do autismo”, disse Trevor Clark, diretor de Educação da Autism 
Spectrum Australia, organização de suporte a portadores de autismo e outras 
doenças. 
Na Escócia, em 2010, os pais de um adolescente autista de 18 anos 
descobriram que a escola mantinha o rapaz preso em uma área similar a um 
canil, com grades de ferro e porta de madeira. A instituição havia informado aos 
 
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pais que a infraestrutura da escola contava com uma área de lazer equipada e 
com segurança para o jovem brincar. (Fonte: Revista VEJA. Disponível em: 
http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/escola-australiana-mantinha-crianca-
autista-em-area-cercada/) 
 
 Segundo o texto, os professores devem entender o que é o autismo. De 
acordo com o que estudamos neste tema, como você define o autismo? 
a. Autismo é quando um indivíduo apresenta um grau variado de 
necessidade de isolamento, parecendo apresentar uma inabilidade ao 
contato afetivo. 
b.Autismo é um transtorno emocional, causado pela incapacidade de mães 
e/ou pais de oferecer o afeto necessário durante a criação dos filhos. 
c. O autismo é caracterizado por um isolamento extremo, atrasos no 
desenvolvimento da fala e da linguagem, rituais e compulsividade. 
d. Autismo é um transtorno caracterizado por alterações qualitativas das 
interações sociais recíprocas e modalidades de comunicação e por um 
repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. 
 
 De acordo com o texto, precisamos entender os desafios para a inclusão 
do autista na escola. Segundo nossos estudos deste tema, quais seriam 
esses desafios? 
a. A passividade do aluno autista, ele é alheio ao meio e pouco sensível às 
pessoas e aos objetos que o cercam. 
b. A ausência ou a alteração da comunicação intencional e da linguagem do 
aluno autista, juntamente com uma dificuldade grande em interagir e em 
se comunicar com o professor e os colegas. 
 
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c. Alta resistência a mudanças ambientais ou a modificações de suas rotinas 
habituais são constantes, bem como medo e condutas de pânico sem 
causa aparente. 
d. Todas as alternativas anteriores. 
 
 De acordo com a notícia, as escolas não estão preparadas para o 
atendimento das especificidades das crianças com autismo. Quais seriam 
as mudanças necessárias no ambiente escolar para a inclusão de alunos 
com TEA? 
a. Um ambiente calmo, separado dos outros alunos, com aula 
individualizada para o aluno. 
b. Um ambiente estruturado, com poucas distrações e facilitador para o 
aluno. Rotina estabelecida, na qual qualquer mudança será realizada com 
cuidado a fim de evitar a desestruturação. Aulas estruturadas para toda a 
turma, com um encaminhamento adequado ao aluno com TEA. 
c. Um ambiente livre, com espaços diversificados. Muitos materiais 
diferentes e com textura e cores diferentes para estimular o aluno. Aulas 
estruturadas para toda a turma. 
d. Um ambiente estruturado, com poucas distrações, visando facilitar a 
localização e a organização do aluno. Rotina organizada, com aula 
individualizada para o aluno. 
 
 Observando quais seriam os encaminhamentos pedagógicos 
fundamentais que o professor deve fazer para inclusão do autista na 
escola, considere as seguintes preposições: 
 
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I. O professor precisa ter clareza na organização da aula, percebendo e 
analisando as condições ambientais que favorecem a aprendizagem. 
II. O planejamento deve ser organizado a partir da sequência evolutiva 
dos conteúdos e de forma contextualizada, ou seja, a partir da 
realidade do aluno. 
III. O professor deve diversificar sempre os aspectos metodológicos, 
utilizando diferentes formas didáticas para o mesmo conteúdo, com o 
uso de diferentes linguagens. 
IV. O professor deve buscar formas exitosas de interação com o 
educando e favorecer o desenvolvimento de condutas adequadas do 
aluno. 
V. O professor deve oferecer uma previsibilidade de acontecimentos, que 
permita situar a criança no espaço e no tempo, na qual a organização 
de todo o contexto torna-se uma referência para sua segurança. 
VI. O professor deve usar cuidadosamente a linguagem, evitando usar 
pistas não verbais. 
 
De acordo com o que estudamos neste tema, quais preposições estão 
corretas? 
a. Todas as preposições. 
b. I, III, IV e VI. 
c. II, IV, V e VI. 
d. I, II, IV, V e VI. 
 
 Com a implementação da Lei dos Direitos da Pessoa com Autismo, o 
principal avanço na área da Educação de alunos com TEA foi o serviço 
do profissional de apoio, que deve ser disponibilizado sempre que 
 
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identificada a necessidade individual do estudante. Qual é a função do 
profissional de apoio para o atendimento do autista? 
a. Atenção aos cuidados pessoais do aluno autista. 
b. A realização das tarefas de forma individualizada com o aluno, muitas 
vezes realizando-as por ele. 
c. Auxílio na comunicação do aluno, bem como no cuidado pessoal quanto 
à higiene, à alimentação e à locomoção. 
d. Planejamento das atividades para o aluno autista, diferentes daquelas dos 
outros alunos, com a orientação do professor regente, sendo sua a total 
responsabilidade no atendimento do aluno com TEA.

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