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INSTITUO FLORENCE DE ENSINO SUPERIOR CURSO: BAC. EM DIREITO 1º PERÍODO NOT. DISCIPLINA: DIREITO CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO PROFESSOR (A): ALYNE CALDAS ALUNO: LEANDRO MACHADO CÓD.: 14157070 DATA: 07.06.2014 A RELATIVIZAÇÃO DA TEORIA DA SEPARAÇÃO DOS PODERES Leandro Silva Machado* *Acadêmico do curso Bacharelado em Direito, Instituto de Ensino Superior Florence. 2 INTRODUÇÃO: Uma das principais características de um Estado Federalista é a tripartição dos poderes mencionada anteriormente e de forma sutil por Aristóteles, Marsílio de Pádua, John Locke e posteriormente, definida e concretizada por Montesquieu que a elaborou nos moldes da que “praticamos” nos dias atuais. Tal separação de poderes é baseada em independência harmônica entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário de um país. Mas, em vista dessa separação, é possível identificar as características previamente dadas por Montesquieu na atualidade? É possível por em prática nos dias atuais a teoria da separação de poderes de Montesquieu nos moldes da sua definição. Não se pode abdicar do contexto histórico que essa teoria surgiu em detrimento do momento vivido na atualidade para que se possa responder a esse questionamento. Então, neste trabalho será discutida a relativização da teoria da separação de poderes de Montesquieu nos dias atuais quando comparada com aquela que pariu em meio a um contexto de uma monarquia cansada e reprimida pelo povo. COMO SURGIU A TEORIA DA SEPARAÇÃO DOS PODERES? A teoria da separação dos poderes surgiu no século XVIII primeiramente trabalhada constitucionalmente nos países ocidentais. O contexto histórico é fundamentado principalmente na realidade que a França vivia com parte da Europa sendo palco de conflitos de cunho político e social que foram decisivos na mudança da forma de se governar. Nesse contexto, há de se ressaltar a importância da ascensão econômica da burguesia que outrora se opunha ao poder político excessivo da monarquia absolutista que culminaria na Revolução Francesa. É válido afirmar que, no princípio da separação dos poderes, surgia a soberania que caracterizaria de forma compulsiva a teoria mais tarde fundamentada na obra Do Espírito das Leis de Montesquieu. No princípio a soberania se confunde com a monarquia e até mesmo com o Estado que juntos formavam uma massa de poderes totalmente diferente daqueles previstos por Montesquieu, sólido, impessoal e harmônico. É com o Estado de Direito que a soberania alcança patamares nunca alcançados e se torna matriz dogmática para o esplendor da autoridade do monarca. Tudo isso não vai resolver o problema da democracia, mas dará alicerce para a formação do estado moderno e para a instituição de suas constituições. Mas, de acordo com Paulo Bonavides, “O poder soberano do monarca se extraviara dos fins requeridos pelas necessidades sociais, políticas e econômicas correntes, com os quais perdera toda a identificação legitimada”. Isto é, o povo 3 esperava soluções de problemas recorrentes de cunho político, social, reforma agrária, participação no comercio, redução de impostos, mas essa expectativa não fora alcançada com a mudança na forma de governo. O povo continuava tendo seus problemas arraigados enquanto a nova soberania com identidade monárquica continuava respondendo por interesses próprios acometidos de abusos de autoridade, corrupção e não representatividade da “vontade geral”. Nesse contexto a divisão dos poderes tentará solucionar, senão total, mas parcialmente essas recorrentes antinomias. (BONAVIDES, Paulo) COMO SE DÁ A SEPARAÇÃO DOS PODERES DO ESTADO A PARTIR DA TEORIA ELABORADA POR MONTESQUIEU? Montesquieu, de acordo com a leitura da obra Ciência Política de Paulo Bonavides, foi considerado um gênio no âmbito da ciência política principalmente após a concretização de sua obra: Do Espírito das Leis. Nela, ficou a herança de maior prestigio liberal que introduz, inclusive, a constituição brasileira de 1988. Mas nem tudo foi perfeito na obra de Montesquieu. Bonavides retrata uma possível falha na fundamentação da constituição da Inglaterra. Erro em dado momento contestado em virtude de um legado de garantia constitucional de direitos de liberdade e inclusive de separação de poderes. Distingue Montesquieu segundo sua obra Do Espírito das Leis, a existência de três poderes: o legislativo, o judiciário e o executivo. Cada qual, segundo ele, com suas funções estritamente definidas e pertinentes a cada um de seus entes. Com o legislativo está a competência de elaborar as leis, sejam elas definitivas e/ou temporárias. Com o poder executivo estão comprometidos o príncipe ou magistrado e que tem por função estabelecer a paz ou a guerra, recepcionar embaixadores, estabelecer a segurança e prevenir de possíveis invasões de países inimigos. E o último sendo o judiciário que estabelece a faculdade de um magistrado punir os crimes cometidos por pessoas que estejam regidas pela constituição e código de leis formulado pelo legislativo. A separação dos poderes surge com características de rigos e rigidez que, segundo Kant, ficou definido o legislativo como sendo “irrepreensível”, o executivo “irresistível” e o judiciário “inapelável” (BONAVIDES; MONTESQUIEU) 4 QUAL A RELAÇÃO ENTRE A TEORIA DA SEPARAÇÃO DE PODERES DE MONTESQUIEU E O ESTADO LIBERAL DE DIREITO? A relação existente entre o Estado Liberal e a separação de poderes de Montesquieu é justamente que essa forma de governo dominou os tempos ávidos onde se instaurou tal teoria. Em face de um formalismo constitucional, ainda se tinha raízes profundas com o liberalismo burguês, um Estado intervencionista. Realidade essa que se tornaria cenário de toda uma transformação de ideais a contribuir com a tripartição estabelecia em teoria por Montesquieu. (BONAVIDES, Paulo) É POSSÍVEL, DE FATO, SE FALAR EM RELATIVIZAÇÃO DA TEORIA DA SEPARAÇÃO DE PODERES ELABORADA POR MONTESQUIEU NA ATUALIDADE? JUSTIFIQUE SUA RESPOSTA. Sim. Não há, de acordo com Bonavides, lugar para um rígido princípio de separação de poderes. Isso se deve ao fato de que o povo alcançou poder e o Estado foi delimitado por responsabilidades de cunho nunca vistas antes no Estado Liberal. Na atualidade é possível ver o povo indo às ruas movido a pensamentos manifestos de uma decadência de um sistema representativo, logo, isso é crucial para se entender que o governo não está mais livre para representar suas vontades absolutas tampouco agir de forma deliberada sem uma espécie de aval popular. Os princípios de Montesquieu perdem prestígio em função da realidade social em que vivemos na atualidade onde não existe possibilidade para se retroagir às práticas absolutistas de governo. CONCLUSÃO Em resposta aos questionamentos realizados no trabalho, podemos afirmar que a separação dos poderes prevista por Montesquieu ainda é praticada nos países presidencialistas, porém, não há mais uma identidade de separação rígida onde não é mais possível pensar em um individualismo de poderes. Isso se dá por conta do contexto social e político em que a teoria surgiu em comparação aos dias atuais. O ideal da base constitucional foi estabelecido e, apesar de teórica, a separação dos poderes se dá de forma harmônica não havendo sólidas restrições de intervenção do poder executivo no legislativo e vice-versa,como é o caso do Brasil. Nesse caso, exemplos clássicos de leis emanadas do poder executivo estão todos os anos sendo publicadas e pondo em cheque até mesmo o objetivo principal de Montesquieu: os abusos. 5 Nestas condições, ainda é possível se pensar na representatividade comprometida que os parlamentares exercem. Também considerada como consequência, a tripartição dos poderes nos dias atuais já não mais representam para um país como o Brasil a blindagem dos poderes para a inexecução de vontades particulares, mas a oportunidade de ascensão financeira com que muitos parlamentares buscam ao se candidatarem “representantes do povo”. Destarte, a Teoria de Montesquieu se limita a uma separação administrativa de funções que assumem uma flexibilidade quanto às suas funções. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - AZAMBUJA, Darcy. Teoria Geral do Estado. 4 ed. rev. ampl. e atual.. São Paulo: Globo, 2008. - BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. 11 ed.. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2009. - BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. São Paulo: Malheiros Editores. -DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado. São Paulo: Saraiva -MONTESQUIEU, Charles de Secondat, Baron de. Do Espírito das Leis. Tradução Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martin Claret, 2010.
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