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1. TEORIA GERAL DOS RECURSOS NCPC

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1. INOVAÇÕES DOS RECURSOS – TEORIA GERAL DOS RECURSOS (NOVO CPC)
Disposições Gerais: não há grandes alterações, no que concerne à teoria geral dos recursos. Os requisitos de admissibilidade, tanto intrínsecos quanto extrínsecos, continuam os mesmos. Também persiste a possibilidade de interposição de apelação, recurso especial e extraordinário, tanto sob a forma autônoma quanto sob a forma adesiva.
Quanto aos requisitos extrínsecos, há pequenas alterações apenas quanto ao prazo e ao preparo. Os recursos todos devem ser interpostos em 15 dias, salvo os embargos de declaração, que continuam com prazo de 05 dias. Quanto ao preparo, a novidade é que, ainda que no ato de interposição do recurso não seja comprovado o seu recolhimento, o juiz mandará intimar o recorrente, na pessoa do advogado para realizá-lo em dobro, sob pena de deserção.
Também não há alteração no que concerne aos efeitos do recurso. Em regra, eles não têm efeito suspensivo, à exceção da apelação.
TEORIA GERAL DOS RECURSOS
Os recursos, pressupõem inconformismo, insatisfação com as decisões judiciais e que buscam outro pronunciamento do Poder Judiciário, a respeito das questões a ele submetidas.
Normalmente, isso é feito por um órgão diferente daquele que proferiu a decisão (embora haja exceções, como os embargos de declaração ou os embargos infringentes da Lei de Execução Fiscal).
Conceito
Recursos são os remédios processuais de que se podem valer as partes, o Ministério Público e eventuais terceiros prejudicados para submeter uma decisão judicial à nova apreciação, em regra por um órgão diferente daquele que a proferiu, e que têm por finalidade modificar, invalidar, esclarecer ou complementar a decisão.
Não se deve, confundir o recurso com outros meios autônomos de impugnação da decisão judicial, como a ação rescisória e o mandado de segurança. 
FINALIDADE DOS RECURSOS 
Podem ser classificados como: 
a) de reforma, quando se busca uma modificação na solução dada à lide, visando a obter um pronunciamento mais favorável ao recorrente; 
b) de invalidação, quando se pretende apenas anular ou cassar a decisão, para que outra seja proferida em seu lugar; ocorre geralmente em casos de vícios processuais;
c) de esclarecimento ou integração, são os embargos declaratórios onde o objeto do recurso é apenas afastar a falta de clareza ou imprecisão do julgado, ou suprir alguma omissão do julgador.
QUANTO AO JUIZ QUE OS DECIDE, OS RECURSOS PODEM SER: 
a) devolutivos ou reiterativos, quando a questão é devolvida pelo juiz da causa a outro juiz ou tribunal (juiz do recurso). Exemplos: apelação e recurso extraordinário;
b) não-devolutivos ou iterativos, quando a impugnação é julgada pelo mesmo juiz que proferiu a decisão recorrida. Exemplos: embargos declaratórios e embargos infringentes;
c) mistos, quando tanto permitem o reexame pelo órgão prolator como a devolução. 
 
NO QUE SE REFERE À MARCHA DO PROCESSO A CAMINHO DA EXECUÇÃO (cumprimento), os recursos podem ser: 
a) suspensivos: os que impedem o início da execução; 
b) não-suspensivos: os que permitem a execução provisória. 
O agravo de instrumento e o recurso extraordinário são sempre não-suspensivos. 
Mas a apelação, que normalmente é de efeito suspensivo, em alguns casos admite apenas a devolução do conhecimento da causa ao juízo recursal, não impedindo a execução provisória, como adiante se verá. 
ATOS PROCESSUAIS SUJEITOS A RECURSO
Só cabe recurso contra ato do juiz, nunca do Ministério Público ou de serventuário ou funcionário da Justiça. E é preciso que tenha algum conteúdo decisório.
Não cabe, portanto, dos despachos, atos judiciais de mero andamento do processo.
Os recursos são cabíveis contra:
■ as sentenças, atos do juiz que implicam alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269, do CPC, e têm o condão de pôr fim ao processo, ou à fase condenatória em primeiro grau. Contra elas caberá a apelação e, eventualmente, embargos de declaração;
■ as decisões interlocutórias, atos judiciais de conteúdo decisório, que se prestam a resolver questões incidentes, sem pôr fim ao processo ou à fase condenatória; contra elas, o recurso será o de agravo, sem prejuízo também de embargos de declaração;
■ os acórdãos, decisões dos Tribunais (art. 163); contra elas, além dos embargos de declaração, poderão caber embargos infringentes, se o julgamento não for unânime e reformar a sentença de mérito; e recursos extraordinário e especial, em caso de ofensa à Constituição ou à lei federal. Também será admissível o recurso ordinário, nos casos previstos na Constituição Federal.
No CPC de 2015, as decisões interlocutórias não suscetíveis de agravo de instrumento, que só cabe nas hipóteses do art. 1.015, são irrecorríveis, mas não precluem, podendo ser suscitadas como preliminar de apelação ou nas contrarrazões.
Características dos recursos:
a) Interposição na mesma relação processual
Os recursos não têm natureza jurídica de ação, nem criam um novo processo. Eles são interpostos na mesma relação processual e têm o condão de prolonga-la. Essa característica pode servir para distingui-los de outros remédios, que têm natureza de ação e implicam na formação de um novo processo, como a ação rescisória, o mandado de segurança e o habeas corpus.
b) A aptidão para retardar ou impedir a preclusão ou a coisa julgada
Enquanto há recurso pendente, a decisão impugnada não se terá tornado definitiva. Quando se tratar de decisão interlocutória, não haverá preclusão; quando se tratar de sentença, inexistirá a coisa julgada. As decisões judiciais não se tornam definitivas, enquanto houver a possibilidade de interposição de recurso, ou enquanto os recursos pendentes não tiverem sido examinados.
No CPC de 2015, não há mais agravo retido e o agravo de instrumento só cabe nas hipóteses previstas no art. 1.015. Quando o agravo de instrumento for cabível, se não for interposto no prazo, a decisão precluirá; se ele não for cabível, a decisão será irrecorrível, mas não se tornará preclusa, podendo ser suscitada em preliminar de apelação ou nas contrarrazões.
c) Correção de erros de forma ou de conteúdo
Ao fundamentar o seu recurso, o interessado poderá postular a anulação ou a substituição da decisão por outra. Deverá expor quais as razões de sua pretensão, que podem ser de fundo ou de forma (errores in procedendo), ter por objeto vícios de conteúdo ou processuais (errores in judicando).
Erros de fundo ou de forma ((errores in procedendo) - são vícios processuais, decorrentes do descompasso entre a decisão judicial e as regras de processo civil, a respeito do processo ou do procedimento.
Vícios de conteúdo ou processuais (errores in judicando) - são vícios de conteúdo, de fundo, em que se alega a injustiça da decisão, o descompasso com as normas de direito material.
Em regra, o reconhecimento do error in procedendo enseja a anulação ou declaração de nulidade da decisão, com a restituição dos autos ao juízo de origem para que outra seja proferida; e o error in judicando leva à reforma da decisão, quando o órgão ad quem profere outra, que substitui a originária.
Os embargos de declaração fogem à regra geral, porque sua finalidade é apenas aclarar ou integrar a decisão, e não propriamente reformá-la ou anulá-la.
d) Impossibilidade, em regra, de inovação
Em regra, não se pode invocar, em recurso, matérias que não tenham sido arguidas e discutidas anteriormente. Ou seja, não se pode inovar no recurso. 
Mas a regra comporta exceções. O art. 462 do CPC autoriza a que o juiz leve em consideração, de ofício ou a requerimento da parte, fatos supervenientes, que repercutam sobre o julgamento. Esse dispositivo não tem aplicação restrita ao primeiro grau, mas pode ser aplicado pelo órgão ad quem, que deve levar em consideração os fatos novos relevantes, que se verifiquem até a data do julgamento do recurso.
Outra exceção é a do art. 517, que permite ao apelante suscitar questões de fato que não tenha invocado no juízo inferior, quando provar que deixou de fazê-lo por motivo de forçamaior.
Há ainda a possibilidade de alegar questões de ordem pública, que podem ser conhecidas a qualquer tempo. Ainda que não se tenha discutido em primeiro grau a falta de condições da ação, ou de pressupostos processuais, ou prescrição e decadência, elas poderão ser suscitadas em recurso.
e) O sistema de interposição
Salvo uma única exceção, os recursos são interpostos perante o órgão a quo e não perante o órgão ad quem. A exceção é o agravo de instrumento, interposto diretamente perante o Tribunal.
Há alguns recursos interpostos e julgados perante o mesmo órgão; não se pode falar, nesses casos, em órgão a quo e ad quem, como nos embargos de declaração e embargos infringentes da Lei de Execução Fiscal.
A razão para que os recursos sejam interpostos perante o órgão a quo é que lhes cumpre fazer um prévio juízo de admissibilidade, decidindo se eles têm ou não condições de ser enviados ao órgão ad quem.
O órgão de origem faz uma prévia análise da admissibilidade dos recursos interpostos, para decidir os que podem ou não seguir adiante. Mas ela nunca pode ser definitiva, pois, do contrário, se estaria dando ao órgão de origem a possibilidade de suprimir, em caráter definitivo, a reapreciação pelo órgão ad quem.
Por isso, contra a decisão do órgão a quo que indefere o recurso, cabe um outro, ao órgão ad quem. Por exemplo, se o juiz de primeiro grau indefere o processamento da apelação, caberá agravo de instrumento perante o Tribunal; se o Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal indefere o recurso especial ou extraordinário, cabe agravo nos autos para o STJ ou STF.
Mas se for positivo o juízo de admissibilidade, não caberá recurso, porque no órgão ad quem haverá um novo juízo de admissibilidade, quando do julgamento. Portanto, não haveria interesse em recorrer, porque o recurso terá de passar automaticamente por um novo juízo, perante o órgão ad quem.
Antes de examinar a pretensão recursal, esse órgão fará o novo juízo de admissibilidade, verificando se o recurso está ou não em condições de ser conhecido. Em caso negativo, não conhecerá do recurso; em caso afirmativo, conhecerá, podendo dar­lhe ou negar-lhe provimento, conforme acolha ou não a pretensão recursal.
No CPC de 2015, embora a apelação, o recurso especial e o extraordinário continuem sendo interpostos perante o órgão a quo, a ele não caberá mais realizar o prévio juízo de admissibilidade, que será feito sempre pelo órgão ad quem.
f) A decisão do órgão ad quem em regra substitui a do a quo
Quando o órgão ad quem examina o recurso, são várias as alternativas, assim resumidas:
■ pode não conhecer do recurso. Nesse caso, a decisão do órgão a quo prevalece, e não é substituída por uma nova;
■ pode conhecer do recurso, apenas para anular ou declarar a nulidade da decisão anterior, determinando o retorno dos autos para que seja proferida outra;
■ pode conhecer do recurso, negando­lhe provimento, caso em que a decisão anterior está mantida; ou dando­-lhe provimento, para reformá-la. No caso de mantença ou reforma, a decisão proferida pelo órgão ad quem substitui a do órgão a quo, ainda que aquela tenha se limitado a manter, na íntegra, a anterior. O que deverá ser cumprido e executado é o acórdão, e não mais a decisão ou sentença.
g) O não conhecimento do recurso e o trânsito em julgado
O Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento de que o recurso, ainda que não venha a ser conhecido, impede o trânsito em julgado, salvo em caso de má-fé. Ele só ocorrerá daí para diante, e não mais retroagirá, salvo má-fé. Nesse sentido: “Segundo entendimento que veio a prevalecer no Tribunal, o termo inicial para o prazo decadencial da ação rescisória é o primeiro dia após o trânsito em julgado da última decisão proferida no processo, salvo se provar-se que o recurso foi interposto por má-fé do recorrente” (RSTJ 102/330).
Esse entendimento acabou pacificando-se com a edição da Súmula 401 do STJ, que assim estabelece: “O prazo decadencial da ação rescisória só se inicia quando não for cabível qualquer recurso do último pronunciamento judicial”.
ATOS PROCESSUAIS SUJEITOS A RECURSO
Só cabe recurso contra ato do juiz, nunca do Ministério Público ou de serventuário ou funcionário da Justiça. E é preciso que tenha algum conteúdo decisório.
Não cabe, portanto, dos despachos, atos judiciais de mero andamento do processo, sem nenhum conteúdo decisório.
Os recursos são cabíveis contra:
- as sentenças, atos do juiz que implicam alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269, do CPC, e têm o condão de pôr fim ao processo, ou à fase condenatória em primeiro grau. Contra elas caberão a apelação e, eventualmente, embargos de declaração;
- as decisões interlocutórias, atos judiciais de conteúdo decisório, que se prestam a resolver questões incidentes, sem pôr fim ao processo ou à fase condenatória; contra elas, o recurso será o de agravo, sem prejuízo também de embargos de declaração;
- os acórdãos, decisões dos Tribunais (art. 163); contra elas, além dos embargos de declaração, poderão caber embargos infringentes, se o julgamento não for unânime e reformar a sentença de mérito; e recursos extraordinário e especial, em caso de ofensa à Constituição ou à lei federal. Também será admissível o recurso ordinário, nos casos previstos na Constituição Federal.
JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE E JUÍZO DE MÉRITO DOS RECURSOS
Da mesma forma como, antes de examinar o mérito, o juiz deve verificar se estão preenchidos os pressupostos processuais e condições da ação, antes de examinar a pretensão recursal, deve-se analisar os requisitos de admissibilidade do recurso.
O exame é feito em duas frentes (salvo o agravo de instrumento, interposto diretamente no órgão ad quem, e os embargos de declaração): pelo órgão a quo e pelo órgão ad quem. Os requisitos de admissibilidade constituem matéria de ordem pública e, por isso, devem ser examinados de ofício. Constituem os pressupostos indispensáveis para que o recurso possa ser conhecido. O não preenchimento leva a que a pretensão recursal nem sequer seja examinada.
REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS
Há vários critérios de classificação dos requisitos de admissibilidade dos recursos.
Parece-nos que o mais completo é aquele sugerido por Barbosa Moreira, que os divide em duas grandes categorias: os intrínsecos e extrínsecos.
De acordo com essa classificação, os requisitos intrínsecos são o cabimento, a legitimidade para recorrer e o interesse recursal; e os extrínsecos são a tempestividade, o preparo, a regularidade formal e a inexistência de fato extintivo ou impeditivo do direito de recorrer. A estes poder-se-ia acrescentar ainda a inexistência de súmula impeditiva de recurso. O recurso não será admitido se a decisão estiver em conformidade com súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal.
Esses requisitos são os gerais. Alguns recursos vão exigir, além deles, outros específicos, que serão examinados com os recursos em espécie.
Requisitos de admissibilidade intrínsecos:
Assemelham­se, em grande parte, às condições da ação. O recurso não tem natureza de ação, mas os requisitos intrínsecos são as condições para que ele possa ser examinado pelo mérito.
a) Cabimento:
Os recursos são apenas aqueles criados por lei. O rol legal é taxativo. 
Art. 994. São cabíveis os seguintes recursos:
I - apelação;
II - agravo de instrumento;
III - agravo interno;
IV - embargos de declaração;
V - recurso ordinário;
VI - recurso especial;
VII - recurso extraordinário;
VIII - agravo em recurso especial ou extraordinário;
IX - embargos de divergência. 
b) Legitimidade recursal:
Para interpor recurso é preciso ter legitimidade. São legitimados:
- As partes e intervenientes: As partes — o autor e o réu — são os legitimados por excelência. Além deles, podem interpor recurso aqueles que tenham sido admitidos por força de intervenção de terceiros. Alguns deles tornam-se partes, como o denunciado, o chamado ao processo, o opoente e o nomeado; e mesmo o assistente litisconsorcial,tratado como litisconsorte ulterior. Outros não adquirem essa condição, mas têm a faculdade de recorrer, como o assistente simples. No entanto, a participação deste é subordinada à parte, e lhe será vedada a utilização de recurso, se o assistido manifestar o desejo de que a decisão seja mantida.
- O Ministério Público: O Ministério Público pode atuar no processo como parte ou fiscal da lei. O primeiro caso recai no item anterior; mas o Promotor pode recorrer ainda quando atue como fiscal da lei. Nem é preciso que ele já esteja intervindo no processo, pois ele pode recorrer exatamente porque lhe foi negada a intervenção. Em qualquer condição em que recorra, o Ministério Público terá prazo em dobro.
- O terceiro prejudicado: O art. 996 do NnCPC, que cuida da legitimidade para recorrer, menciona, entre os legitimados, o terceiro prejudicado.
Quem é ele? Aquele que tenha interesse jurídico de que a sentença seja favorável a uma das partes, porque tem com ela uma relação jurídica que, conquanto distinta daquela discutida em juízo, poderá sofrer­-lhe os efeitos reflexos. Em suma, aquele mesmo que pode ingressar no processo como assistente simples: os requisitos para ingressar nessa condição são os mesmos que para recorrer como terceiro prejudicado.
- Interesse recursal: O último dos requisitos intrínsecos é o interesse recursal, que se assemelha ao interesse de agir, como condição de ação.
Para que haja interesse é preciso que, por meio do recurso, se possa conseguir uma situação mais favorável do que a obtida com a decisão ou a sentença. Ela não existirá, se a parte ou interessado tiver já obtido o melhor resultado possível, de sorte que nada haja a melhorar.
Requisitos extrínsecos
São aqueles que não dizem respeito à decisão recorrida, e à relação de pertinência entre ela e o recurso interposto, mas são exteriores, relacionam-se a fatores externos, que não guardam relação com a decisão. São eles:
- Tempestividade;
- O preparo;
- Regularidade formal - Os recursos são, em regra, apresentados por escrito. No entanto, a lei autoriza interposição oral, em casos excepcionais. Conquanto a interposição seja oral, há necessidade de que seja reduzido a termo, para que o órgão julgador possa conhecer-lhe o teor.
Todo recurso deve vir acompanhado das respectivas razões, já no ato de interposição.
Distinguem-se, nesse passo, os recursos cíveis dos criminais, em que há um prazo de interposição e outro de apresentação das razões.
Não será admitido o recurso que venha desacompanhado de razões, que devem ser apresentadas, em sua totalidade, no ato de interposição. Não se admite que as razões sofram acréscimos, sejam modificas ou aditadas, posteriormente.
Fica ressalvada, porém, a eventual modificação, alteração ou complementação da sentença por força de embargos de declaração. Se uma das partes apela e outra opõe embargos de declaração que provocam alteração ou complementação da sentença, aquele que apelou poderá acrescentar novos pedidos ou fundamentos ao seu recurso, relacionados àquilo que foi acrescido ou modificado.
Ao apresentar o recurso, a parte deve formular a sua pretensão recursal, aduzindo se pretende a reforma ou anulação da decisão, ou de parte dela, indicando os fundamentos para tanto.
A desistência do recurso
É causa impeditiva, tratada no art. 998 do NCPC: “O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso”.
O que distingue a desistência da renúncia é que ela é sempre posterior à interposição: só se desiste de recurso já apresentado, e só se renuncia ao direito de recorrer, antes da interposição.
O recorrente tem sempre o direito de desistir do recurso, independentemente de qualquer anuência, ainda que o adversário tenha oferecido já as contrarrazões, diferentemente da desistência da ação que, após o oferecimento de resposta, exige o consentimento do réu.
A desistência pode ser manifestada até o início do julgamento do recurso, e ser expressa ou tácita. Será expressa quando o recorrente manifestar o seu desejo de que ele não tenha seguimento; e será tácita quando, após a interposição, o recorrente praticar ato incompatível com o desejo de recorrer.
Não pode haver retratação da desistência, porque, desde que manifestada — e ainda que não tenha havido homologação judicial — haverá preclusão ou coisa julgada.
MODO DE INTERPOSIÇÃO DOS RECURSOS — O RECURSO PRINCIPAL E O ADESIVO
O recurso adesivo não é uma espécie, mas uma forma de interposição de alguns recursos. Podem ser opostos sob a forma adesiva a apelação, o recurso especial e o extraordinário art. 997, §2º, II NCPC.
Caberá ao recorrente, quando possível, optar entre interpô-los sob a forma principal ou adesiva.
São dois os requisitos do recurso adesivo:
■ que tenha havido sucumbência recíproca, isto é, que nenhum dos litigantes tenha obtido no processo o melhor resultado possível;
■ que tenha havido recurso do adversário.
Mas quando o recurso deve ser interposto como principal, ou adesivo?
Imagine­se, por exemplo, que A ajuíza em face de B uma ação de cobrança de 100, e que o juiz julga parcialmente procedente o pedido, condenando o réu a pagar ao autor 80. Houve sucumbência recíproca.
Pode ocorrer que essa sentença não satisfaça nenhum dos litigantes, e que ambos queiram que seja reformada pelo órgão ad quem. Intimadas, as partes apresentarão o seu recurso sob a forma principal. Serão recursos autônomos, cujos requisitos de admissibilidade serão examinados pelo juiz, individualmente.
Mas pode ocorrer, por exemplo, que A, conquanto não tenha obtido o resultado mais favorável, aceite o resultado, e esteja disposto a não recorrer, para que, havendo logo o trânsito em julgado, ela passe a produzir efeitos. Sendo assim, deixará transcorrer o seu prazo in albis. Mas A descobre que o seu adversário recorreu, o que impede o trânsito em julgado: os autos terão de ser remetidos ao tribunal. O autor, se soubesse que o réu interporia recurso, e que os autos subiriam, também teria recorrido, para tentar obter um resultado ainda mais favorável.
Nessa circunstância, a lei processual lhe dá uma segunda oportunidade de recorrer, desta feita sob a forma adesiva. É como se o autor “pegasse carona” no recurso do adversário, apresentando também o seu. Essa breve explicação esclarece por que é indispensável que tenha havido sucumbência recíproca e recurso do adversário, pois do contrário não haveria como “pegar a carona”.
Aquele que recorreu adesivamente, preferiria que a sentença transitasse logo em julgado; mas como houve recurso do adversário, ele aproveita para também recorrer.
Processamento do recurso adesivo
Publicada a sentença ou acórdão, fluirá o prazo para a apresentação de recurso principal, que pode ser interposto por ambas as partes. Havendo sucumbência recíproca, se só uma delas recorrer, a outra será intimada a oferecer contrarrazões. Nesse prazo, poderá apresentar o recurso adesivo. Este deve ser apresentado no prazo das contrarrazões, mas em peças distintas. Afinal, os fundamentos serão completamente diferentes: nas contrarrazões, o apelado postulará a manutenção do que lhe foi concedido; e no recurso adesivo, a reforma da sentença, naquilo que lhe foi negado.
Conquanto controvertida a questão, tem prevalecido o entendimento de que a Fazenda Pública e o Ministério Público terão prazo em dobro para a interposição do recurso adesivo, caso em que ele será interposto depois das contrarrazões, para as quais têm prazo simples.
Recebido o recurso adesivo, o juiz intimará a parte contrária para oferecer­lhe contrarrazões. Haverá, portanto, contrarrazões ao recurso principal, e ao adesivo.
Os requisitos de admissibilidade são os mesmos do recurso principal, tanto os extrínsecos como os intrínsecos.
Como ele é subordinado ao principal, se este não for admitido, julgado deserto ou houver desistência, aquele ficará prejudicado.
Fenômenos processuais que não são recursos, que não têm natureza recursal e que, portanto, não estão incluídos no rol legal: Reexamenecessário, Reconsideração e Correição Parcial.
Reexame necessário: O reexame necessário não é recurso, pois lhe faltam quase todas as características a ele inerentes: o recurso é voluntário, depende da vontade daqueles que podem recorrer; o reexame é necessário, independe da vontade dos litigantes.
O CPC de 2015 substitui a expressão “reexame necessário” por “remessa necessária”.
Há algumas sentenças que, enquanto não reexaminadas pela instância superior, não produzem efeitos, não transitam em julgado. O legislador determina, como condição de eficácia, que elas sejam reapreciadas. 
Haverá reexame necessário quando a sentença for “proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município e as respectivas autarquias e fundações de direito público”. Em síntese, contra as pessoas jurídicas de direito público. O reexame só se justifica se a sentença for contrária a tais entes, se eles tiverem sofrido alguma sucumbência, não obtendo o resultado mais favorável.
Pedido de reconsideração: não tem previsão legal, mas é formulado com frequência.
Não se lhe pode atribuir natureza de recurso, já que não está previsto em lei como tal, nem obriga ao reexame da questão suscitada.
A questão mais interessante que suscita é a de saber se o juiz pode reconsiderar a sua decisão, e até quanto pode fazê-lo.
Se a parte agravou, o juiz pode, enquanto não julgado o recurso, reconsiderá-la, pois os agravos são dotados de juízo de retratação.
Se a parte não agravou, pode haver a reconsideração? É preciso distinguir se a decisão envolve matéria de ordem pública, ou não. No primeiro caso, não estará sujeito à preclusão, nem para as partes, nem para o juiz (preclusão pro judicato), que poderá reconsiderá-la a qualquer tempo, enquanto não tenha havido o julgamento.
Se não é de ordem pública, está sujeita a preclusão, e o juiz só poderá reconsiderá-la se dentro do prazo de dez dias, para a interposição do agravo. Nesse prazo, como há ainda a possibilidade de agravo, a decisão não se terá tornado preclusa, o que permitirá ao juiz reconsiderá-la, quando achar que é o caso. 
O pedido de reconsideração não tem efeito suspensivo ou interruptivo do prazo de outros recursos. Se o juiz não volta atrás, a parte terá perdido a possibilidade de agravar, se não o tiver feito no prazo. Melhor será que para não perder o prazo, postule ao juiz a retratação, mas requeira que receba o seu pedido como agravo retido, em caso negativo.
Caso o juiz acolha o pedido de reconsideração formulado por uma das partes, poderá a outra, no prazo legal, interpor o seu agravo.
Correição parcial: Não está prevista como recurso em nosso ordenamento jurídico. É medida administrativa, de natureza disciplinar, para a hipótese de o juiz, por meio de uma decisão, promover a inversão tumultuária do processo.
Hoje, a correição parcial não tem mais utilidade, nem poderá ser admitida, porque há um recurso adequado contra as decisões interlocutórias capazes de trazer prejuízo às partes: o agravo.
Se interposta a correição parcial, o juiz ou o Tribunal poderá recebe-la, desde que preenchidos os requisitos legais, como agravo retido ou de instrumento.
Princípios fundamentais do direito recursal
- Duplo grau de jurisdição- tratado entre os princípios fundamentais do processo civil, que diz respeito diretamente ao direito de recorrer.
- Princípio da taxatividade - O rol legal de recursos é taxativo. Só existem os previstos em lei, não sendo dado às partes formular meios de impugnação das decisões judiciais além daqueles indicados pelo legislador. O art. 994 do NCPC enumera os recursos cabíveis. A eles podem ser acrescentados outros que venham a ser criados por leis especiais.
- Princípio da fungibilidade dos recursos - no CPC de 1939, cujo art. 810 estabelecia: “Salvo a hipótese de má-fé ou erro grosseiro, a parte não será prejudicada pela interposição de um recurso por outro, devendo os autos ser enviados à Câmara, ou Turma, a que competir o julgamento”. Nem sempre caberá a aplicação da fungibilidade. Há um requisito indispensável, a existência de dúvida objetiva a respeito da natureza da decisão, aquela que resulta da existência de controvérsia efetiva, na doutrina ou na jurisprudência, a respeito do ato. Não basta a dúvida subjetiva, pessoal, sendo necessário que ela se objetive pela controvérsia do ato a ser recorrido. 
- Princípio da proibição da reformatio in pejus - os julgadores vão se limitar a apreciar aquilo em que o recorrente sucumbiu, podendo, na pior das hipóteses, não acolher o recurso, e manter a sentença tal como lançada. Por força dele, a situação do recorrente pode até ser piorada.
EFEITOS DOS RECURSOS:
São as consequências que o processo sofre com a sua interposição. Não decorrem da vontade das partes ou do juiz, mas de determinação legal. É a lei que estabelece quais são os efeitos de que um recurso é dotado.
Constituem matéria de ordem pública, não sujeita a preclusão. O juiz que tenha, por equívoco, atribuído a determinado recurso efeitos de que ele seja desprovido, deverá voltar atrás, afastando-os. Contra a decisão que atribui efeitos ao recurso cabe agravo de instrumento.
Nos itens seguintes serão examinados os principais: devolutivo, suspensivo, translativo, expansivo e regressivo.
EFEITO DEVOLUTIVO
Consiste na aptidão que todo recurso tem de devolver ao conhecimento do órgão ad quem o conhecimento da matéria impugnada. Todos os recursos são dotados de efeito devolutivo, uma vez que é de sua essência que o Judiciário possa reapreciar aquilo que foi impugnado, seja para modificar ou desconstituir a decisão, seja para complementá-la ou torná-la mais clara.
O órgão ad quem deverá observar os limites do recurso, conhecendo apenas aquilo que foi impugnado. Se o recurso é parcial, o tribunal não pode, por força do efeito devolutivo, ir além daquilo que é objeto da pretensão recursal.
Ele é consequência da inércia do Judiciário: não lhe cabe reapreciar aquilo que, não tendo sido impugnado, presume-se que tenha sido aceito pelo interessado.
Também no que concerne aos recursos, o Judiciário só age mediante provocação, limitando-se a examinar o que foi objeto do recurso (ficam ressalvadas as matérias de ordem pública, que serão objeto de exame no item concernente ao efeito translativo).
O efeito devolutivo, para ser compreendido, precisa ser examinado em seus dois aspectos fundamentais: o da extensão e o da profundidade.
Extensão do efeito devolutivo: 
Se o recurso for parcial, a tribunal só reexaminará a parte recorrida.
O recurso devolve ao conhecimento do tribunal tão somente a reapreciação daquilo que foi impugnado: tantum devolutum quantum appellatum, princípio que vem expressamente consagrado no art. 515, caput, do CPC: “A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada”.
Profundidade do efeito devolutivo:
Prevista no art. 515, § 1º, do CPC: “Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro”. E no art. 515, § 2º: “Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento das demais”. Conquanto esse dispositivo esteja no capítulo da apelação, a regra vale para os recursos em geral.
O aspecto profundidade do efeito devolutivo não diz respeito às pretensões formuladas, mas aos fundamentos que a embasam.
Portanto, do ponto de vista da profundidade, o efeito devolutivo devolve ao conhecimento do tribunal não apenas aquilo que foi decidido pelo juiz e impugnado pelo recorrente, mas todas as questões discutidas nos autos. É como se, em relação aos fundamentos e às questões discutidas, o órgão ad quem se colocasse na posição do órgão a quo, devendo examinar todos aqueles que foram suscitados.
EFEITO SUSPENSIVO
É a qualidade que têm alguns recursos de impedir que a decisão proferida se torne eficaz até que eles sejam examinados. O comando contido na decisão não será cumprido, até a decisãono recurso.
A suspensividade já existe antes da interposição, desde que haja a expectativa de que ele venha a ser apresentado, e a lei lhe atribua o efeito suspensivo. Proferida e publicada a sentença, no prazo de quinze dias para interposição de apelação com efeito suspensivo, não poderá haver execução, mesmo que o recurso ainda não tenha sido interposto. A suspensão ocorre desde que haja a possibilidade de recurso dotado de efeito suspensivo. Ele existe não só pela interposição, mas durante o prazo em que o recurso pode ser apresentado.
Recursos dotados de efeito suspensivo
É preciso distinguir duas categorias de recursos, em relação ao efeito suspensivo: a daqueles que, em regra, são dotados desse efeito, salvo expressa previsão legal; e o daqueles que não são, mas aos quais ele poderá ser atribuído, excepcionalmente.
EFEITO TRANSLATIVO
É a aptidão que os recursos em geral têm de permitir ao órgão ad quem examinar de ofício matérias de ordem pública, conhecendo-as ainda que não integrem o objeto do recurso. É decorrência natural de elas poderem ser conhecidas pelo juízo independentemente de arguição. Questões como prescrição, decadência, falta de condições da ação ou de pressupostos processuais, poderão ser examinadas pelo órgão ad quem ainda que não suscitadas.
Difere do efeito devolutivo, que consiste na devolução ao tribunal do reexame daquilo que foi suscitado; o translativo o autoriza a examinar o que não o foi, mas é de ordem pública.
EFEITO EXPANSIVO
Chama-se efeito expansivo a aptidão de alguns recursos cuja eficácia pode ultrapassar os limites objetivos ou subjetivos previamente estabelecidos pelo recorrente. Ele possibilita o resultado do recurso estender-se a litigantes que não tenham recorrido; ou a pretensões que não tenham sido seu objeto. Daí falar-se em efeito expansivo subjetivo ou objetivo.
O efeito devolutivo autoriza o tribunal a examinar o recurso nos limites das questões suscitadas. Mas, em determinados casos, o sua acolhimento pode produzir efeitos seja em relação a quem não recorreu, seja em relação a pretensões que não haviam sido impugnadas.
EFEITO REGRESSIVO
É a aptidão de que alguns recursos são dotados de permitir ao órgão a quo reconsiderar a decisão proferida, de exercer do juízo de retratação.
O recurso de agravo, em suas variadas espécies, é dotado de efeito regressivo, pois sempre permite ao prolator da decisão reconsiderá-la.
A apelação, em regra, não tem esse efeito. Mas há atualmente duas hipóteses em que o juiz pode voltar atrás: a da sentença de indeferimento da inicial, no prazo de 48 horas (art. 296, do CPC) e a sentença de improcedência de plano, no prazo de cinco dias (art. 285-A, § 1º).

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