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SENTENÇA Gustavo Henrique Bello Correa Caso Ana Hickmann (1)

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Pós-Graduação “lato sensu” | A Teoria do Crime e sua Aplicação Prática 
Profs. Guilherme Marinho, Rodrigo Szuecs e Jamilla Sarkis 
Material complementar da aula 7 
 
COMARCA DE BELO HORIZONTE-MG 
JUÍZO SUMARIANTE DO II TRIBUNAL DO JÚRI 
 
Processo nº 0024.16.091.114-5 
II Tribunal do Júri – Sumariante 
Réu: GUSTAVO HENRIQUE BELLO CORREA 
 
ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA 
 
O Ministério Público do Estado de Minas Gerais, no uso de suas atribuições legais, 
ofereceu denúncia contra GUSTAVO HENRIQUE BELLO CORREA,brasileiro, casado, empresário, 
nascido em 14/02/1977, filho de Maria Helena Bello Correa e Gustavo Henrique de Almeida Correa, 
residente na rua Cajaíba, nº 655, bairro Pompeia, São Paulo/SP, apontando-o como incurso nas 
sanções do art. 121, caput, do Código Penal. 
 
Narra a exordial, que no dia 21 de maio de 2016, por volta das 14:00 horas, no interior 
do quarto nº 912, do Hotel Ceasar Business, situado na Av. Luiz Paulo Franco, nº 421, bairro 
Belvedere, nesta Capital, o denunciado, com vontade de matar, efetuou disparos de arma de fogo 
contra a vítima Rodrigo Augusto de Pádua, produzindo-lhe as lesões corporais descritas no 
relatório de necropsia de f. 111/127, que por sua natureza e sede, foram a causa eficiente da sua 
morte. 
 
De acordo com o Ministério Público, a vítima era fã da apresentadora ANA HICKMANN, 
por quem nutria uma espécie de “amor platônico”. Certa feita, incomodada com as insistentes 
mensagens enviadas por Rodrigo, por intermédio de mídias sociais, ANA decidiu bloqueá-lo, fato que 
o deixou revoltado, sentindo-se menosprezado, e decidiu “tirar satisfações” com a artista. 
 
Sabedor de que a apresentadora viria a Belo Horizonte para participar de um evento de 
divulgação, Rodrigo deslocou-se para a Capital mineira e hospedou-se no Hotel Ceasar Business, 
onde toda a equipe da artista ficaria, inclusive GUSTAVO e sua esposa, GIOVANA ALVES DE 
OLIVEIRA. 
 
Assevera a inicial, que no dia dos fatos, a vítima Rodrigo, munida de um revólver 
calibre 38, abordou, ameaçou e obrigou o réu GUSTAVO a conduzí-lo até o quarto onde estavam 
ANA HICKMANN e GIOVANA. Já no interior do aposento, a vítima ordenou a GUSTAVO, ANA e 
 
Pós-Graduação “lato sensu” | A Teoria do Crime e sua Aplicação Prática 
Profs. Guilherme Marinho, Rodrigo Szuecs e Jamilla Sarkis 
Material complementar da aula 7 
 
GIOVANA que se sentassem na cama, de costas para ele, passando a proferir insultos contra a 
apresentadora, com quem afirmava ter mantido um caso amoroso. 
 
Em dado momento, ainda segundo o Ministério Público, ANA HICKMANN teve uma 
vertigem, vindo a tombar sobre os braços de GIOVANA. Tal fato, insuflou ainda mais os ânimos de 
Rodrigo, que efetuou um disparo em direção à apresentadora, que por erro na execução, veio a 
atingir GIOVANA, causando-lhe as lesões descritas no exame de corpo de delito de f. 204/206. De 
imediato, GUSTAVO entrou em luta corporal com a vítima, tentando desarmá-la, momento em que 
ANA HICKMANN e GIOVANA conseguiram fugir do quarto. 
 
Consta da denúncia, que ocorreu intenso embate físico entre a vítima e o réu que durou, 
aproximadamente, 08 (oito) minutos. No decorrer da luta, GUSTAVO mordeu o braço esquerdo de 
Rodrigo, e em seguida, desferiu-lhe uma rasteira, jogando-o no chão, ocasião em que este último 
lesionou o supercílio direito. 
 
Relata o parquet, que nessa ocasião, GUSTAVO apoderou-se da arma e desferiu 01 
(um) disparo na nuca de Rodrigo e, mesmo após a vítima estar desfalecida no chão, impossibilitada 
de oferecer qualquer resistência, GUSTAVO prosseguiu na empreitada, desferindo outros 02 (dois) 
disparos em sua nuca, vindo a causar-lhe os ferimentos descritos no relatório de necropsia de f. 
111/124, que foram a causa eficiente de sua morte. 
 
Narra, por fim, o órgão ministerial, que através de anexo fotográfico de f. 118, verificou-
se que a lesão descrita como “entrada 1”, possui área avermelhada peri-lesional sugestiva de sinal de 
WERKGAERTNER, ou seja, “desenho da boca do cano sobre a pele em tiros encostados”. 
 
Foram juntados aos autos: APFD (f. 02/11); despacho não ratificador da prisão (f. 
12/14); boletim de ocorrência (f. 15/25); exame de pesquisa toxicológica (f. 109); exame de 
necropsia (f. 111/127); laudo de reconhecimento e identificação do cadáver (f. 128/129); CAC‟S e 
FAC‟S da vítima (f. 130/131); comunicação de serviço com degravação de celular (f. 134/137); 
relatório circunstanciado de investigações (f. 140/171); laudo de pen-drive (f. 172/186); exame de 
lesão corporal do acusado (f. 182/185); exame de lesão corporal de GIOVANA ALVES DE OLIVEIRA (f. 
203/205); laudo de eficiência e prestabilidade de armas e ou munição (f. 210/213); análise de DNA 
para comparação de amostras referentes ao local do crime (f. 214/218); laudo residuográfico (f. 
219/220); análise químico-metalográfico e identificação veicular (f. 221/226); levantamento pericial de 
objeto – arma de fogo (f. 227/234); laudo de levantamento do local (f. 237/300); relatório final da 
Autoridade Policial sem indiciamento do acusado (f. 301/358) e CAC e FAC do réu (f. 362/363; f. 
367/368); exame indireto de documentação médica de GIOVANA (f. 392/623) e resposta a quesitos 
postos pelas partes (f. 777/786). 
 
A denúncia foi recebida em 08 de julho de 2016 (f. 364/365). 
 
 
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Profs. Guilherme Marinho, Rodrigo Szuecs e Jamilla Sarkis 
Material complementar da aula 7 
 
Deferimento de pedido de reprodução simulada formulado pela Defesa (f. 634). 
 
GUSTAVO foi validamente citado (f. 723/724) e apresentou resposta à acusação (f. 
683/721). 
 
Manifestação do Ministério Público às f. 728/731. 
 
Ratificação do recebimento da denúncia (f. 732/733) e designada audiência de instrução 
e julgamento (f. 762). 
 
AIJ realizada em 20 de outubro de 2017, com a oitiva de 03 (três) informantes e 01 
(uma) testemunha (f. 769/772, CD-R). 
 
Redesignada AIJ para o dia 18 de dezembro de 2017, com a oitiva de 01 (um) 
informante, 01 (uma) testemunha e interrogatório do réu (f. 789/792, CD-R). 
 
Devolvida precatória da Comarca de São João Nepomuceno, com oitiva da testemunha 
WAGNER LADEIRA CLAUDINO (f. 795/802). 
 
Encerrada a instrução processual, o parquet, em alegações finais, pugnou pela pronúncia 
do réu (f. 803/815). 
 
Da mesma forma, o Assistente de Acusação sustentou a pronúncia do acusado (f. 816). 
 
Já a Defesa requereu sua absolvição sumária em virtude da excludente da legítima 
defesa (f. 817/861). 
 
É o relatório. DECIDO. 
 
 
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A materialidade do crime encontra-se consubstanciada no relatório de necropsia (f. 
111/127), onde consta que a causa mortis de Rodrigo Augusto de Pádua foi “traumatismo 
raquimedular (cervical) por ação pérfuro-contusa”. 
 
Os indícios de autoria também estão presentes, o quanto bastam nessa fase 
sumariante. 
 
Contudo, encerrada a instrução processual, entendo que o réu GUSTAVO agiu sob o 
amparo da excludente de ilicitude da legítima defesa. Fundamento: 
 
É fato incontroverso que GUSTAVO disparou 03 (três) tiros em Rodrigo Augusto de 
Pádua, que provocaram a sua morte. 
 
Da mesma forma, são fatos incontroversos, narrados inclusive pelo Ministério Público na 
denúncia, que GUSTAVO, ANA HICKMANN e GIOVANA estavam a trabalho nesta Capital; Que 
Rodrigo, fã da apresentadora ANA HICKMANN com quem acreditava ter um caso amoroso, se 
instalou no mesmo hotel em que ela se encontrava; Que Rodrigo adentrou o quarto da 
apresentadora com umaarma de fogo em punho; Que Rodrigo fez GUSTAVO, ANA HICKMANN e 
GIOVANA reféns por mais de 20 (vinte) minutos, enquanto apontava a arma e proferia ameaças 
contra os três; Que Rodrigo efetuou um disparo de arma de fogo na direção de ANA HICKMANN, que 
acabou atingindo GIOVANA, causando as lesões descritas no ECD de f. 203/205; Que GUSTAVO 
reagiu e entrou em luta corporal com Rodrigo e após cerca de 08 (oito) minutos de contenda, 
desferiu 03 (três) disparos, propelidos da própria arma de fogo que a própria vítima portava. 
 
Portanto, a questão a ser analisada é: 1) se houve dolo de matar por parte do acusado 
GUSTAVO, que justificaria a pronúncia, encaminhando-se o processo ao plenário de julgamento; 2) 
se o reú agiu sob a excludente da legitima defesa; 3) ou ainda que tenha agido amparado pela 
legítima defesa, se houve ou não excesso. 
 
GUSTAVO, em interrogatório, disse que: “...lutou pela sua vida e que só está presente 
nesse momento porque Rodrigo está morto...”. 
 
Sem pretender transcrição literal do que foi dito, pois, trata-se de depoimento colhido 
em vídeo, o réu, sobre os fatos, resumidamente, relatou: 
 
Que Rodrigo disse que iria fazer uma 'roleta russa' e puxou o gatilho, quando ANA 
desfaleceu e caiu, tremendo muito. Que Rodrigo então falou: 'acabou para você sua vadia' e atirou. 
Que nesse instante “pulou em cima” de Rodrigo e ocorreu outro tiro. Que posteriormente soube que 
 
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esse outro tiro atingiu o ar condicionado. Que pulou com as duas mãos na arma e gritou para ANA e 
GIOVANA saírem do quarto. Que empurrou Rodrigo na parede e lhe pediu para parar. Que Rodrigo 
não soltava o gatilho e por isso deu uma mordida muito forte em seu braço. Que continuaram a se 
debater e conseguiu dar uma rasteira em Rodrigo e com a queda houve um corte bem profundo em 
sua cabeça. Que caiu meio atrás de Rodrigo que gritava 'ai minha cabeça, eu vou te matar', no que 
respondia pedindo que ele soltasse a arma. Que Rodrigo tentava lhe acertar e “contornou” a arma 
para atingí-lo. Que também segurava a arma e nesse momento deu os 03 (três) tiros. Que acreditava 
ter desferido 02 (dois) tiros apenas. Que Rodrigo desfaleceu. Que então pegou a arma, ainda sem 
acreditar no que estava acontecendo, e desceu descalço. Que ao chegar ensanguentado no hall do 
hotel, um segurança apareceu e jogou a arma em um saco plástico. Que em nenhum momento a luta 
corporal cessou, apenas depois dos tiros que efetuou. Que Rodrigo não soltou a arma após a 
mordida, nem após a queda que lhe feriu a cabeça. Que o dedo de Rodrigo estava a todo tempo no 
gatilho. Que se debateu com Rodrigo até os momentos dos disparos. Que Rodrigo era uma pessoa 
forte. Que em nenhum momento Rodrigo abaixou a arma (f. 789/792 – CD-R). 
 
A única testemunha dos fatos, e que apenas ouviu o que ocorria no interior do quarto, 
foi JÚLIO CÉSAR FIGUEIREDO DA SILVA, cabeleireiro da apresentadora, que estava no corredor do 
hotel, do lado de fora do dormitório. 
 
As demais oitivas (ANA HICKMAN e GIOVANA) somente esclareceram o que ocorreu até 
o momento em que foram efetuados os dois disparos por Rodrigo (e que são fatos incontroversos, 
sem necessidade de apreciação) e não o que aconteceu depois, entre autor e vítima, com resultado 
morte. 
 
As duas informantes, ANA e GIOVANA sustentaram todo o relato de tensão e medo 
vivenciados antes do desenrolar dos acontecimentos. 
 
Tais assertivas foram comprovadas pela degravação do áudio feito através do celular da 
testemunha JÚLIO, anexada às f. 134/137. 
 
A testemunha JÚLIO, em AIJ, esclareceu o seguinte (também sem pretender a 
transcrição literal do que foi falado, uma vez que o depoimento foi gravado em vídeo): 
 
Que chegou ao hotel e subiu para o quarto de ANA. Quando o elevador abriu, se 
deparou com GUSTAVO e um outro rapaz. Que escutou o rapaz que estava com GUSTAVO dizer: 
“Vamos lá”, conforme expressou. Que GUSTAVO estava à frente, seguido por Rodrigo. Que ficou 
atrás dos dois. Que ao chegarem em frente à porta do quarto, ANA a abriu. Que apenas Rodrigo e 
GUSTAVO entraram. Que Rodrigo empurrou a porta com o pé, fechando-a, e, por isso, não 
conseguiu entrar. Que ficou ouvindo o que eles estavam conversando, porque permaneceu esperando 
em frente ao quarto. Que num primeiro momento, achou que a vítima estava fazendo alguma 
cobrança referente a algum trabalho. Que ouviu ANA dizendo “Se você não quer matar ninguém, por 
que você está armado?”. Que a vítima começou a falar palavras de baixo calão. Que então resolveu 
gravar a conversa. 
 
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Profs. Guilherme Marinho, Rodrigo Szuecs e Jamilla Sarkis 
Material complementar da aula 7 
 
 
JÚLIO continuou relatando que percebeu a gravidade da situação, quando ouviu 
Rodrigo mandando as pessoas que estavam no quarto ficarem de costas. Que ouviu Rodrigo 
dizendo que não era bandido e que não iria matar ninguém, mas oscilava e se alterava muito. Que a 
vítima mandou ANA ficar calada, proferia palavrões, e ela começou a chorar. Que depois disso, 
percebeu um tom ameaçador por parte de Rodrigo. Que desceu até a recepção e alertou os 
funcionários acerca do que estava acontecendo. Que voltou para a porta do quarto e continuou 
ouvindo. Que nesse momento, Rodrigojá estava bem mais alterado e falando mais alto. Que após 
uns 05 (cinco) minutos de seu retorno ao local, ouviu 02 (dois) disparos. Que resolveu sair do 
corredor, até por medo, junto com um funcionário do hotel que havia chegado, quando ouviu ANA 
pedindo socorro. Que voltou e falou para ANA ir para as escadas. Que viu GIOVANA caída na porta do 
quarto e resolveu puxá-la para prestar socorro. Que ficou esperando o elevador e, nesse momento, 
ouviu mais disparos, que ocorreram de forma seguida “pá, pá”, conforme expressou. 
 
Às perguntas desta Julgadora, JÚLIO esclareceu que antes da porta do quarto se abrir, 
ouviu 02 (dois) disparos. Que quando estava prestando socorro à GIOVANA e esperando o elevador, 
ouviu mais disparos. Que entre os primeiros 02 (dois) disparos (antes da porta se abrir e antes de 
prestar socorro à GIOVANA) e os outros 02 (dois) últimos disparos (depois que ANA já havia saído do 
quarto e o depoente estava socorrendo GIOVANA) passaram-se, aproximadamente, 04 (quatro) ou 05 
(cinco) minutos. Que durante esse tempo continuou ouvindo barulho de luta corporal, como 
se um estivesse agredindo o outro. Que, com certeza, havia uma luta intensa entre os 
dois. Que eles ficaram lutando o tempo todo, sem pausas, sem qualquer momento de 
calmaria. Que em nenhum momento pareceu que um estava dominando o outro, pois 
parecia que havia uma luta ininterrupta. Que ocorreu um atracamento e de repente ouviu 
os disparos. Que “não teve esse negócio de parar não. Não teve. Estavam brigando e 
barulho, barulho e pá pá”, conforme expressou. 
 
Portanto, a única testemunha dos fatos, sustentou todo o relato do réu, tanto em 
inquérito, como em Juízo. 
 
Ou seja, no momento dos disparos efetuados pelo acusado GUSTAVO, a luta corporal 
pela posse da arma de fogo ainda era intensa, demonstrando que quem conseguisse pegá-la iria 
utilizá-la. 
 
Ficou demonstrado durante a instrução do feito, que os disparos efetuados pelo réu 
foram sequenciais e não efetuados da forma como narrado na denúncia, qual seja: “Mesmo com a 
vítima já desfalecida no solo, impossibilitada de oferecer qualquer resistência, GUSTAVO prossegui 
na empreitada, desferindo outros dois disparos na nuca da vítima...” (f. 2D). 
 
Nesse contexto, afastada a pronúncia pretendida pelo Ministério Público e fundamentadaa legítima defesa como condutora da atitude do acusado. 
 
 
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Material complementar da aula 7 
 
Além disso, o laudo do perito oficial, corrobora as assertivas do acusado GUSTAVO 
quando esclarece, respondendo aos quesitos subsequentes (f. 777/786): 
 
“CONSIDERAÇÃO 3: 
No item „DINÂMICA DOS FATOS E CONCLUSÃO” do laudo de local, no 
décimo parágrafo foi dito: 
“A dinâmica até agora corrobora a hipótese de que dois disparos 
seguintes foram efetuados quando Rodrigo não mais segurava a 
arma, já caído no piso.” 
- É possível que tenha havido equívoco no entendimento do 
sentido do verbo SEGURAR, empregado no corpo do laudo. 
Seria perfeitamente possível que a vítima estivesse 
segurando de forma passiva a arma durante os 3 disparos, se 
a(s) mão(s) do autor estivesse(m) envolvendo a(s) mão(s) da 
vítima.” (f. 777v – grifei.) 
 
“É possível que a vítima, estivesse segurando a arma com a mão 
direita e com o dedo indicador direito apoiado no gatilho do revólver 
quando foram desferidos os 3 (três) disparos em sua nuca? Justifique. 
- É possível que tenha havido equívoco no entendimento do 
sentido do verbo SEGURAR, empregado no corpo do laudo – 
conforme ponderado na “CONSIDERAÇÃO 3”. SERIA 
PERFEITAMENTE POSSÍVEL QUE A VÍTIMA ESTIVESSE 
SEGURANDO DE FORMA PASSIVA A ARMA DURANTE OS 3 
DISPAROS, SE A MÃO (OU AMBAS AS MÃOS) DO AUTOR 
ESTIVESSE(M) ENVOLVENDO A MÃO” - (f. 784 – grifei.) 
 
Ainda, ao contrário do que afirma o parquet, o perito oficial entendeu que não houve o 
fenômeno do WERKGAERTNER, como se vê na resposta aos quesitos subsequentes (f. 777/786): 
 
“3 – O sinal de WERKGAERTNER identificado no cadáver de Rodrigo 
sugere que ao menos um dos tiros foi dado com a arma encostada 
em sua nuca. Acerca dos outros dois orifícios de entrada, as suas 
características também sugerem que os tiros foram dados à curta 
distância ou com a arma encostada ao seu corpo? 
- Ao exame perinecroscópico realizado no local NÃO foi 
percebido o sinal de WERKGAERTNER (facilitado na necropsia 
pela tricotomia), entretanto, os três ferimentos observados 
apresentavam bordas irregulares e sem elementos 
secundários em seu contorno. Tais achados são compatíveis 
 
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Material complementar da aula 7 
 
com disparo encontado em partes moles, como na nuca, 
mecanismo similar ao de Hoffman. 
A presença de resíduos do disparo no tecido interno perilesional 
poderiam confirmar essa hipótese, análise que é dá competência da 
medicina legal, responsável pelo exame interno no cadáver...‟” (f. 782 
– grifei.) 
 
Em derradeiro, o perito oficial, também respondendo aos quesitos subsequentes (f. 
777/786), esclareceu que há indícios de que os tiros foram sequenciais e imediatos: 
 
“4 – Há algum elemento colhido pela perícia que leve a crer 
que os três disparos não foram sequenciais? Justifique. 
- A GRANDE PROXIMIDADE DOS FERIMENTOS DE ENTRADA 
OBSERVADOS NA NUCA DA VÍTIMA SÃO UM INDÍCIO DE QUE 
FORAM SEQUENCIAIS. Outro indício disso é o de que, tendo 
havido entrave corporal entre autor e vítima, os tiros na nuca 
só poderiam ter ocorrido após este entrave, haja vista o 
grande comprometimento orgânico provocado na vítima por 
um disparo efetuado na nuca. Entretanto, tendo em vista que 
o primeiro disparo ocorreu com a vítima nas condições 
descritas no laudo pericial e anteriormente discutidas neste 
documento, algum lapso temporal poderia ter ocorrido entre 
o primeiro disparo e os demais, mesmo que efetuados na 
mesma região. Portanto, não há elementos suficientes para 
tal determinação, haja vista as duas possibilidades serem 
plausíveis neste caso...”(f. 784 – grifei.) 
 
E, registre-se, novamente, que pelo depoimento da testemunha JÚLIO, ficou claro que 
não houve qualquer interrupção na luta e que os tiros foram dados de forma sequencial. 
 
Emoldurado todo o cenário em que estavam GUSTAVO e Rodrigo, o fato de terem sido 
efetuados 03 (três) disparos e não apenas 01 (um), não descaracteriza ou desqualifica a legítima 
defesa, nem mesmo dá ensejo ao excesso. Passo a fundamentar: 
 
Entendo que está afastada a questão do excesso do uso dos meios, pois, na situação 
fática, descrita e comprovada nesses autos, não era exigível comportamento diferente do acusado 
GUSTAVO, isto é, o réu utilizou do meio que dispunha para se defender (a arma trazida pela própria 
vítima). 
 
 
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Ainda deve ser ressalvado que, se o acusado GUSTAVO efetuou 01 (um) ou 03 (três) 
tiros, tal questão é resolvida com o conhecimento pacífico e indiscutível de que a legítima defesa não 
se mede objetivamente, pois, a pessoa que luta por sua vida, desfere tantos tiros quanto sua emoção 
no momento, ou mesmo seu instinto de preservação, demonstram ser necessários. Nenhum de nós, 
em momento de contenda física incessante, como comprovado, consegue ter discernimento se se está 
efetuando os disparos estritamente necessários para resguardar sua vida, ou não. 
 
Portanto, o número de disparos efetuados (três), não serve, nesse caso, para sustentar 
o alegado excesso na legítima defesa. 
 
É o que diz a jurisprudência de nossos Tribunais, que se amolda ao feito: 
 
“APELAÇÃO CRIME. TENTATIVA DE HOMICÍDIO. LEGÍTIMA 
DEFESA RECONHECIDA. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA MANTIDA. 
Há comprovação plena da tese apresentada pela defesa, de 
que o acusado não teria a intenção de matar a vítima, agindo 
em legítima defesa. O contexto probatório demonstra que foi 
a vítima que, inicialmente, interpelou o réu no interior do 
ônibus. Fartamente demonstrado, também, que Bryan 
provocou o confronto fora do coletivo. Não se verifica, ainda, 
excesso nos meios utilizados (golpes de canivete pelo réu) 
dadas as peculiaridades do caso e dos envolvidos, sendo a 
vítima lutador de Jiu-Jitsu praticamente profissional. 
RECURSO DESPROVIDO. (...) 
Ao cabo, em relação ao excesso do uso dos meios necessários, 
colaciono trecho da decisão do Dr. Maurício Ramires, que se mostra 
irretocável na análise da dinâmica dos fatos: “A vítima afirma que era 
lutadora de Jiu-Jitsu, pelo menos por 4 anos, chegou a ter patrocínio 
para exercer esse esporte, e viajava para lutar e competir em 
campeonatos, ganhava bolsas para lutar. Ou seja, que ele ia seguir 
carreira de lutador, de modo que ele era, se não era já profissional de 
artes marciais, estava próximo de ser profissional de artes marciais. O 
réu aqui se hoje viu, um homem pequeno. Então, está muito claro 
que o réu ao utilizar o canivete ou qualquer tipo de arma 
branca que detivesse, utilizou o meio que tinha no momento 
para se defender de uma agressão que de outro maneira era 
bastante ameaçadora para sua integridade física, pelo menos. 
De modo que se ele se excedeu, se deu uma, duas, três 
facadas a mais do que deveria, isto fica naquilo que se sabe 
há muito tempo, de que a legítima defesa não se mede 
milimetricamente, não se pode depois de passados os fatos, 
se dizer que o réu deveria ter dado uma ou duas, ou qualquer 
tantas facadas a menos. Ele deu tantas quanto a sua emoção 
no momento ou o seu instinto de preservação da sua vida 
demonstraram no momento ser indicado. De modo que aqui, 
um eventual excesso, não é um excesso culpável. Não é um 
excesso que poderia ser atribuído ao acusado, se vendo numa 
situação de desconforto físico, que se não fosse pela reação, 
seria, como eu disse, bastante desigual em relação a ele, 
 
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lutando de mãos limpas contra um lutador profissional ou 
semi-profissional de Jiu-Jitsu. Então, que, porque estava além 
disto irritado, e que o confronto, e que portanto de modo a 
que não deixasse escolha para o acusado”(...) (fl. 176 e v). 
(TJRS; Apelação Criminal Nº 70074279407; 1ª Câmara Criminal - 
Relator Desembargador JAYME WEINGARTNER NETO – 2017) 
 
“PENAL. PROCESSO PENAL. HOMICÍDIO SIMPLES. ART. 121, 
CAPUT, DO CP. LEGÍTIMA DEFESA DE POLICIAL FEDERAL NO 
EXERCÍCIO DA FUNÇÃO. EXCESSO DOLOSO OU CULPOSO. 
INOCORRÊNCIA. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. ART. 411 DO CPP. 
RECURSO EX OFFOCIO IMPROVIDO. 1. O réu agiu dentro dos 
limites das causas de exclusão de ilicitude previstas no art. 
23, II e III, do CP, uma vez que utilizou o único meio de que 
dispunha (arma de fogo) para conter seu agressor – terceiro 
portador de arma branca (espeto de churrasco com duas 
pontas) e em conta as circunstâncias nas quais se 
materializou o ataque – dentro de estabelecimento policial, 
durante a madrugada e na ausência de iluminação elétrica – 
não há falar-se em excesso doloso ou culposo na legítima 
defesa, sendo hipótese de absolvição sumária, nos termos do 
art. 411 do CPP. 2. Recurso ex-officioimprovido.(...)” (TRF1 – 
2ª Turma – Rec Criminal Nº 00147277219954010000 - Relator Juíza 
IVANI SILVA LUZ – 2002) 
 
Sobreleva notar, que no momento antes dos fatos, GUSTAVO se encontrava, 
juntamente com sua mulher e sua cunhada, sob a mira de um revólver, há quase 20 (vinte) minutos, 
sob forte tensão, sendo atacados por uma pessoa que se mostrava desequilibrada e com o risco 
iminente de ser baleado. 
 
Ainda assim, GUSTAVO somente reagiu, conforme demonstrado pelas testemunhas 
ouvidas, após Rodrigo ter atirado em ANA e o tiro ter atingido sua esposa GIOVANA, agindo em 
legítima defesa própria e de terceiros. 
 
De igual modo, está comprovado que após sua reação, na tentativa de tirar a arma das 
mãos de Rodrigo, autor e vítima permaneceram em luta corporal incessante, que durou cerca de 08 
(oito) minutos, sem que a vítima cedesse ou largasse a arma. 
 
Ao revés, não há nenhum fato demonstrando que GUSTAVO esteve no controle da 
situação e deflagrou os dois últimos tiros quando a vítima já não oferecia perigo ou resistência. 
 
Portanto, diante do conjunto probatório, entendo que a ação do acusado gravita na 
órbita da legitima defesa, uma vez que, diante da situação supramencionada, o réu se deparou com 
 
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uma situação que colocava em risco a sua própria vida e a vida de terceiros que estavam presentes 
no local. 
 
Além disso, há que se concluir que não foi comprovada a existência de excesso culpável 
na legítima defesa, posto que a legítima defesa não pode ser medida de forma milimétrica e nem 
tampouco, em casos como o dos autos, há que se mensurar quantos disparos bastariam para o 
acusado se sentir seguro, dada a emoção do momento e seu instinto de preservação da vida. 
 
Isso posto, e considerando tudo o mais que dos autos consta, com fundamento no art. 
23, inciso II, do Código Penal, c/c o art. 415, inciso IV do Código de Processo Penal, ABSOLVO 
SUMARIAMENTE o denunciado GUSTAVO HENRIQUE BELLO CORREA, já qualificado, da 
imputação contra ele dirigida, por ter agido em legítima defesa. 
 
Havendo documentos pessoais apreendidos, os titulares deverão ser intimados, no prazo 
de 90 (noventa) dias. Ultrapassado tal período, sem manifestação da parte, os documentos deverão 
ser juntados e remetidos para o arquivo, conforme provimento 24/2012, art. 12, A. 
 
Se existirem objetos apreendidos, certifique-se, a Sra. Escrivã, se esses encontram-se 
depositados junto à Administração deste Fórum. Em caso positivo, após o trânsito em julgado da 
presente decisão, dê-se destinação aos mesmos na conformidade do Provimento Conjunto nº 
24/2012. Caso tenha arma de fogo ligada ao delito, encaminhe-se a arma ao Exército Brasileiro, como 
de praxe. 
 
Publicar. Registrar. Intimar. 
 
Belo Horizonte, 03 de abril de 2018. 
Âmalin Aziz Sant'Ana 
Juíza Sumariante 
II Tribunal do Júri 
 
 
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Bom senso deve nortear o representante do 
Ministério Público 
 
26 de julho de 2016 
Por José Carlos Gonçalves Xavier de Aquino 
Sou de um tempo em que o Ministério Público buscava atuar nos autos e o seu 
representante não se dava ao luxo de escolher determinadas demandas para funcionar, 
porquanto a instituição ainda buscava seu lugar ao sol na Constituição da República. 
Muitos anos se passaram e o parquet ganhou relevo no cenário nacional, até chegar aos 
dias de hoje, onde se pode cognominá-lo em um “Ministério Público Lava-Jato”, na 
medida em que o avanço tecnológico proporcionou melhores meios para levar a efeito sua 
investigação. 
Já naquela ocasião existiam os promotores tribunos (a Justiça Federal estava 
engatinhando) que se vangloriavam de terem conseguido tantos anos de penas aos réus, 
lembrando os velhos justiceiros que consignavam na coronha de seus revólveres quantas 
mortes haviam alcançando. Ora, esse não é o perfil de um Ministério Público que a 
sociedade reclama, pois o que interessa é um representante do parquet justo e honesto, 
visto que são essas características que engradecem a instituição. 
Hugo Nigro Mazzilli, um dos grandes representantes do Ministério Público bandeirante, 
em trabalho inserto na Revista Justitia do Ministério Público de São Paulo, ano 2007, 197, 
287-292, traça o perfil do representante do parquet, dando ênfase no dever de agir, isto é, 
na obrigatoriedade de propor ação pública ou de intervir no processo, salvo quando a lei 
assim lhe facultar. 
Todavia, ao meu ver, a par desses requisitos anteriormente expostos, um pormenor que 
reputo de grande valia é o requisito do bom senso, porquanto sem esse atributo o promotor 
de justiça ou procurador da república não vai exercer a contento o seu mister, pois tal 
característica é de ser utilizada já nas suas primeiras manifestações, isto é, desde a fase 
administrativa do procedimento. Noutras palavras, o bom senso deve nortear o 
representante ministerial desde a fase investigatória perante a autoridade policial até o 
final da instrução criminal em juízo. 
 
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Nunca compartilhei da ideia de que o Ministério Público deva postular o máximo que 
puder para, se for o caso, conseguir o mínimo nos processos em que atua. Ele deve buscar, 
isto sim, o que lhe é de direito, pois agindo desta maneira atenderá, de uma só vez, à sua 
consciência jurídica, como também tranquilizará o magistrado que, ao receber o 
requisitório inicial, saberá que quem a ofereceu não fez um exame perfunctório dos 
elementos de convicção amealhados para o bojo do caderno processual; antes, pelo 
contrário, proporcionará a sensação de que ocorreu um exame criterioso dos indícios e 
provas que o fez solicitar, em medida justa, o que lhe era de direito. 
Faço esse introito porque tenho sido questionado nos meios sociais que convivo, ante a 
tomada de posição do Ministério Público mineiro no caso da apresentadora Ana 
Hickmann, amplamente divulgado por toda a imprensa escrita, falada e televisionada.Fui 
indagado se a tomada de posição do Ministério Público do Estado de Minas Gerais foi 
correta em não atender à sugestão de arquivamento do delegado de polícia e, via de 
consequência, ter oferecido requisitório inicial contra o cunhado da mencionada 
apresentadora. Rememorando os fatos, Ana Hickmann e sua equipe acabavam de se 
instalar em um hotel em Belo Horizonte na tarde de 21 de maio, quando inesperadamente 
e de inopino o quarto foi invadido por um fanático fã que, de arma em punho, disparava a 
esmo, chegando a atingir com dois tiros uma pessoa da trupe, quando então, em atitude 
extrema, Gustavo Correa, pondo em risco a sua própria vida, atracou-se com o lunático, 
desarmando-o e vindo a mata-lo durante a confusão. Esse, em abreviada síntese, é o 
quadro que se desenrolou no palco dos acontecimentos. 
Sei que muito se discute na doutrina jurídica sobre o excesso da legítima defesa, mas esse 
questionamento social me remeteu ao início da década de 70 e à minha querida Faculdade 
de Direito, em que meu saudoso professor de direito penal Edgard de Magalhães Noronha, 
ao ensinar sobre a matéria, posicionava-se no sentido de que para fixação ou não do 
excesso da legítima defesa, isto é, aquela diferença existente entre duas qualidades, 
deveria prevalecer o bom senso além dos requisitos legais. 
Confesso que na primeira hora tal discurso me colocou um ponto de interrogação na 
cabeça, pois aquela explicação era muito para um aluno neófito que acabara de iniciar o 
curso de direito. Impetuoso, questionei-o para que explicasse melhor, quando então me 
disse com todas as letras: “meu jovem, como tudo na vida, deve ser utilizado o bom senso, 
sobretudo no direito”. 
 
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Depois de mais de 40 anos de efetivo exercício de Ministério Público e Magistratura no 
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, confesso que o bom senso foi o melhor 
companheiro que tive no direito. Mas mesmo o bom senso deve se amparar em algum 
critério, a fim de que não fique a mercê do subjetivismo. Destarte, o critério adotado é o 
chamado de “homem médio”. 
Voltando a nossa óptica para o caso da Ana Hickmann, conquanto existam vários 
requisitos para se apurar a possibilidade de excesso da legítima defesa, forçoso convir que 
Gustavo, expondo a sua própria vida em defesa da apresentadora e dos demais presentes 
no locus delicti, por conta do inesperado quadro que se pintava à sua frente, fez saltar fora 
seu extremo temor, em virtude do perigo grave que reinava no ambiente — uma pessoa 
totalmente desconhecida que entrou no quarto atirando —, evitando com seu agir a 
ocorrência de uma tragédia ainda maior. 
Ora, é evidente que se instalou no instante dos fatos uma clara perturbação de ânimos, o 
que exclui, em tese, a responsabilidade do agente, conforme previsto no parágrafo único 
do artigo 45 do Código Penal Militar. Embora o nosso diploma repressivo comum não 
faça alusão a esse tipo de excludente, destaca-se que é muito mais apropriado aplicá-la a 
uma pessoa comum do que a um agente da justiça castrense, eis que o cidadão comum não 
convive com a violência e com a morte em razão da lufa-lufa cotidiana, daí por que, não 
sendo habituado a tais circunstâncias, merece a aplicação, como fonte do direito, do já 
descrito parágrafo único do artigo 45 do Código Penal Militar, conforme posicionamento 
atual da doutrina e jurisprudência em ocorrências que tais. 
Teria o promotor de justiça ao oferendar denúncia contra Gustavo Correa agido com bom 
senso para evitar a desnecessária instauração de processos criminais, cujas circunstâncias 
apontem nitidamente para o reconhecimento do instituto da legítima defesa? 
Esta é a questão. 
https://www.conjur.com.br/2016-jul-26/xavier-aquino-bom-senso-nortear-representante-mp

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