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Prof. Vinícius Albuquerque UNIDADE II Formação Sócio-histórica do Brasil Livro-texto: apresentação de um percurso sócio-histórico da formação do Brasil. Perspectiva histórico-crítica. Ir além das informações, buscando as interpretações. Debates de autores que influenciaram os discursos sobre a Formação do Brasil. As diferentes obras e correntes de pensamento apresentadas devem contribuir para uma melhor compreensão de características sócio-históricas tais como desigualdades econômicas, sociais e étnicas. Estudo da formação social, política e econômica do Brasil. Apresentação: Formação Sócio-histórica do Brasil Na Unidade I já vimos Gilberto Freyre, com Casa Grande & Senzala; e Darcy Ribeiro, O Povo Brasileiro. Na Unidade II veremos: Raymundo Faoro e a Ideologia do estamento; Celso Furtado e seu pensamento. Depois, na Unidade III: Octavio Ianni e Marilena Chauí Brasil: Mito Fundador e Sociedade Autoritária. Destaque para as obras que trataram da construção da cultura e da identidade nacional. Apresentação: Formação Sócio-histórica do Brasil Faoro inicia sua carreira na área do direito, como procurador e estuda a realidade brasileira a partir de suas origens e formação. Fontes: documentos jurídicos e de arquivos de tabelionatos e cartórios. Isso coloca o problema da natureza das fontes e como isso compromete o olhar. O livro aborda a história da formação do Brasil começando pelas origens de Portugal passando pela colonização do Brasil e chegando até o Estado Novo de Vargas (1937-45). No livro-texto a abordagem vai até a Independência do Brasil em 1822. Raimundo Faoro e os Donos do Poder Max Weber é a inspiração teórica de Faoro para a organização de suas categorias de análise. Para o autor as categorias de Weber são as mais adequadas para se pensar a formação sócio-histórica brasileira do que a tradicional metodologia marxista. Weber não aceita interpretações totalizantes e busca compreender os eventos em sua singularidade. Interpretação da ação social pensada como conduta humana dotada de sentido. Raimundo Faoro e Max Weber Valorização das raízes portuguesas da formação política do Brasil. Apresentação de uma história marcada por guerras/confrontos de interesses. Sobre Portugal, “começa sua história, com as lutas contra o domínio romano, foi o teatro das investidas dos exércitos de Aníbal, viveu a ocupação das tribos dos visigodos, de origem germânica, e foi finalmente dominada pelos mouros” (FAORO, 2001, p. 13). “é tão guerreiro, que nasceu com a espada na mão, armas lhe deram o primeiro berço, com as armas cresceu, delas vive, e vestido delas, como bom cavaleiro, há de ir para a cova no dia do juízo” (FAORO, 2001, p. 13). Raimundo Faoro e formação de Portugal Para Faoro havia supremacia do rei, como senhor do reino, era único proprietário da terra, instrumento de poder em uma época em que as rendas eram predominantemente derivadas do solo. A Coroa conseguiu formar, desde as primeiras batalhas da Reconquista, um imenso patrimônio rural, cuja propriedade se confundia com o domínio da casa real. As conquistas respeitaram a propriedade individual. Os antigos cristãos arabizados, chamados moçárabes, também os descendentes dos colonos da África e da Ásia (...) tiveram seus bens reconhecidos. Raimundo Faoro e formação de Portugal: Supremacia do Rei Do patrimônio do rei, maior do que o do clero e da nobreza, saía o dinheiro para sustentar os soldados. Rei: grandes doações rurais em recompensa aos serviços prestados. Para Faoro (2001), duas características unidas determinaram a história do reino de Portugal. Rei senhor da guerra. Rei senhor de terras imensas. Por ser o centro supremo das decisões, a figura de rei todo poderoso impediu que Portugal tivesse o poder real disperso em domínios, como no feudalismo, todos obedecem. Raimundo Faoro e formação de Portugal: Supremacia do Rei Qualquer reclamação contra a palavra suprema era considerada traição, rebeldia contra a vontade de quem tomava as deliberações superiores. O rei não admitia nem aliados nem sócios, pois acima dele só a Santa Sé, o Papa, mas não o clero. Portugal exibia uma estrutura diferente da Europa medieval, pois o absolutismo centralizador ainda era uma modernidade. Cargos eram determinados pelo príncipe e dependiam da sua riqueza e de seus poderes. Quando ordenava o serviço militar da nobreza territorial, o rei a contratava como um funcionário. Raimundo Faoro e formação de Portugal: Supremacia do Rei Pacto entre o rei e o povo: os forais – a carta de foral – asseguravam o predomínio do soberano já apontando o caminho do absolutismo. A terra não teria outro senhor senão o rei. Nesse ponto vale observar o mecanismo analítico de Faoro pois ao acreditar na existência do absolutismo em Portugal, procura os mecanismos de seu funcionamento. Havia uma enorme confusão do que era propriedade do rei, pois terras e tesouros se confundiam como patrimônio público e particular. Raimundo Faoro e formação de Portugal: Supremacia do Rei A terra, o comércio e a indústria dependiam das concessões régias, das delegações graciosas e dos arrendamentos onerosos, que, a qualquer momento, poderiam ser substituídos por empresas monárquicas. sementes do mercantilismo lançadas em chão fértil. Com os privilégios concedidos para exportar e para importar, o rei arrecadava sua parte, numa apropriação de renda que só analogicamente se compara aos modernos tributos. Diversos impostos eram cobrados. A Coroa criava rendas com seus bens e cobrava impostos do patrimônio particular. Raimundo Faoro e formação de Portugal: Supremacia do Rei O rei era um poderoso sócio e patrão, submetendo todo proprietário a cuidar da produção. A nobreza tentava defender os velhos privilégios, se mantendo como aliada do soberano, mas logo ela vai preferir se juntar à burguesia. O Estado patrimonial não respeitou os privilégios dos nobres. Para Faoro a estrutura da formação econômica de Portugal apresenta contornos que podem ser comparados com as demais fases da história do Brasil. Estado Patrimonial O barão português se define como funcionário e não como senhor. Havia um traço do feudalismo, mas não o feudalismo como instituição. Faoro (2001) contesta a ideia que acredita instituída por pensadores de esquerda, como Caio Prado Jr., que veria nas capitanias hereditárias um feudalismo tardio. Segundo Faoro (2001), não pode ter existido no Brasil algo que tampouco existia na história portuguesa, pois os portugueses nem saberiam como legislar com ideias medievais. Estado Patrimonial Para construir suas categorias analíticas Raimundo Faoro: a) Lançou mão do pensamento de Max Weber. b) Tornou-se ferrenho defensor da democracia racial. c) Ignorou documentos históricos produzindo uma história filosófica. d) Tornou-se o introdutor do pensamento marxista no Brasil. e) Rompeu com a tradicional visão patrimonialista de história do Brasil. Interatividade O Estado moderno teria uma linha própria de crescimento, sem vínculo necessário com o sistema feudal da Europa central? A economia da Idade Média, identificada como feudalismo, reside na propriedade dos meios de produção. Para Faoro (2001), a historiografia marxista segue um curso linear e não a peculiaridade de certas relações sociais tidas como específicas da Idade Média na formação sócio-histórica do Brasil. Afirma que essa doutrina marxista, construída sobre uma tradição histórica, e ensinada sem exame crítico de profundidade, infiltrou-se na teoriaacadêmica, ganhando o prestígio dos lugares-comuns. Faoro e a formação sócio-histórica do Brasil: evitar lugares comuns Faoro insiste que, como Portugal era patrimonial e não feudal, os efeitos estavam presentes na sociedade brasileira, principalmente naquilo que diz respeito às relações entre o homem e o poder, são de outra ordem. Também a forma econômica que organiza a economia do Brasil. Quando o patrimonialismo é dominante, há uma ordem burocrática que determina que o soberano é sobreposto ao cidadão na qualidade de chefe para funcionário: “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Faoro e o Patrimonialismo Para Faoro: [...] o chamado feudalismo português e brasileiro não é, na verdade, outra coisa do que a valorização autônoma, truncada, de reminiscências históricas, colhidas, por falsa analogia, de nações de outra índole, sujeitas a outros acontecimentos, teatro de outras lutas e diferentes tradições (FAORO, 2001, p. 34). Faoro (2001) conclui que, desde a Idade Média, Portugal era um Estado patrimonial e não feudal. Faoro (2001) evoca também a lembrança de Maquiavel, que reconhecia dois tipos de principado, o feudal e o patrimonial. Faoro e o Estado Patrimonial Em uma monarquia patrimonial, o rei está acima de todos os súditos. Só a vontade do rei poderia lhes conceder grandezas. O rei enquanto dirigente centralizador conduzia as operações comerciais como se fosse uma empresa. É a estrutura patrimonial que permitirá a estabilização da economia. Ela [a estrutura patrimonial] permitiu a expansão do capitalismo comercial e fez do Estado uma gigantesca empresa comercial, que impediu o desenvolvimento em Portugal e no Brasil do capitalismo industrial até o século XX. Faoro e o Estado Patrimonial Para Faoro (2001), o que melhor explica a formação sócio-histórica do Brasil é o estamento. O estamento é camada social e não econômica. “Os estamentos são órgãos do Estado, as classes são categorias sociais (econômicas)” (FAORO, 2001, p. 60). O estamento político que Faoro conceitua é constituído de uma comunidade que faz seus membros pensarem e agirem conscientes de pertencer a um mesmo grupo, a um círculo elevado, qualificado para o exercício do poder. A situação estamental proposta seria a do indivíduo que aspira aos privilégios do grupo, e se fixa no prestígio da camada e na honra social que ela infunde sobre toda a sociedade. Faoro: o Patrimonialismo e o Estamento O absolutismo e o funcionalismo estavam nascendo no Estado patrimonial de estamento, sem com elas se identificar. O estamento era uma comunidade de dependentes do tesouro da Coroa e se converteu na burocracia. Era uma burocracia de caráter aristocrático, com uma ética e um estilo de vida próprios, impregnados do espírito pré-capitalista. No Estado absoluto, o estamento vivia atuante e seus privilégios estavam condicionados pela vontade do soberano. O estamento, que era o estado maior da autoridade pública, apressou e consolidou a separação entre a coisa pública e os bens do príncipe. Faoro: o Patrimonialismo e o Estamento Os direitos e privilégios do estamento obrigaram o rei a se amparar nele. A ação real acontece por meio de pactos, acordos e negociações. Dentro do estamento havia disputas; a teia jurídica que envolve o estamento não tem o caráter moderno da impessoalidade e da generalidade. O Estado patrimonial, articulado pelo estamento, foi o elemento que permitiu o alargamento do mundo comercial europeu, pois seu crescimento não cabia na capacidade dos financistas particulares. Foi o Estado patrimonial que orientou o comércio marítimo e a formação territorial. Faoro: o Patrimonialismo e o Estamento O direito português também serviu quase exclusivamente à organização política. Para Faoro (2001), o direito articulou-se no Estado de estamento, como elo de união, cimento de solidariedade de interesses, expressando sua doutrina prática e sua ideologia. O soberano deixou de lado sua função de árbitro dos dissídios e fonte das decisões para o papel de chefe do governo e chefe do Estado. O padrão de comportamento do estamento é outra característica percebida por Faoro (2001) e que veio também se instalar no Brasil. Faoro: o Patrimonialismo e o Estamento As regras do comércio e da vida do reino. O rei acumulava os títulos de regente e senhor. O rei comerciante confundia a exploração econômica com a guerra e a administração pública. Para Faoro (2001), tudo acabou em grossa corrupção, com o excesso do luxo que uma geração desperdiçou, deixando o povo na miséria e o fidalgo avesso ao trabalho. Portugal seria uma imensa burocracia presidida pelo rei onde havia disputas por cargos e funções. Faoro: o Patrimonialismo, o Estamento, o Comércio e a Burocracia Para Faoro (2011) havia “a arte de furtar”. Sua posição pessoal de crítica e de censura dessa prática caracterizava o enriquecimento no cargo como atividade ilícita, sem respeito nem à ética medieval, nem à ética burguesa. Onde havia comércio, havia governo. A administração seguia a economia, organizando-a para proveito do rei. Faoro: o Patrimonialismo, o Estamento, o Comércio e a Burocracia Podemos identificar a principal contribuição analítica desenvolvida por Faoro como sendo: a) A recusa da prevalência da burocracia no Brasil. b) A recusa do passado de exploração colonial. c) A luta de classes. d) A teorização do Patrimonialismo e do Estamento. e) A recusa da ideia de Estamento, apesar da valorização do Patrimonialismo. Interatividade Colonização do Brasil / América Portuguesa. A Coroa era dona de todos os monopólios comerciais: da pimenta, do pau-brasil e dos escravos. O capitalismo era politicamente orientado para servir o estamento. Não havia nenhuma vontade de permitir a livre iniciativa, pois o rei constituía seu capital graças ao imposto sobre as atividades comerciais e industriais privadas e para Faoro (2001) esse mercantilismo prático português foi herdado pelo Estado brasileiro. Acentuação do papel diretor, interventor e participante do Estado na atividade econômica. Faoro e a Colonização do Brasil Para Faoro organização política do patrimonialismo estava fechada em si mesma, formando um estamento burocrático. Essa burocracia não tinha o sentido moderno exposto por Weber de aparelhamento racional do Estado, mas visava apenas a apropriação dos cargos. Essa agonia não matava, mas paralisava. “Nem o açúcar do Brasil, nem o escravo africano, nem o ouro de Minas Gerais, nada salvou este mundo condenado à mansa agonia de muitos séculos” Faoro (2001, p. 103). Faoro e a Colonização do Brasil: Patrimonialismo A camada superior desdenhava o trabalho e a produção ou qualquer outra virtude burguesa. Havia (talvez haja até hoje) um preconceito universal contra o trabalho manual, que sempre foi caracterizado como uma atividade servil. De acordo com Faoro (2001), a história de Portugal e do Brasil é um cemitério de elites. As brigas pelo poder não dizem respeito ao povo; são disputas entre funcionários do Estado. O estamento, o quadro administrativo e o estado-maior de domínio configuravam o governo de uma minoria. Faoro e a Colonização do Brasil: Patrimonialismo e Estamento Faoro escreveu que o nosso modelo, o Estado português prolongado no Brasil, não conheceu nunca um período verdadeiro de soberania popular. O poder minoritário adquiriu um caráter pétreo, independente da forma de governo da nação e, dessa maneira, ficava isolado do povo. Os funcionários mantiveram sempre o mesmo conteúdo ideológico. Para Faoro (2001), oestamento é seu conceito fundamental, mas podemos chamá-lo de elite, de classe dirigente, classe política ou intelligentsia. É quase uma casta, sem nunca se tornar de fato uma classe social, como a grande burguesia industrial. Faoro e a Colonização do Brasil: Patrimonialismo e Estamento Segundo Faoro (2001), no primeiro ato da abordagem americana, o Brasil figura como uma conquista. O monopólio real não era exercido diretamente, mas mediante concessão. O sentido da colonização estava claro: era o povoamento como obra auxiliar da conquista. A organização jurídica modelou o estabelecimento social e a empresa econômica. A colonização e a conquista do território avançam pela vontade da burocracia, expressa na atividade legislativa e regulamentar. Faoro e a Colonização do Brasil: Patrimonialismo e Estamento A sociedade brasileira não se tornou portuguesa em seu processo de tomada de consciência, mas também não se apropriou do papel do governo. O Estado não era percebido como o protetor dos interesses da população, nem defensor das atividades dos particulares. Estado: monstro sem alma, titular da violência e impiedoso cobrador de impostos. Ninguém colaborava com o Estado, só aqueles que buscavam benefícios escusos e de cargos públicos. Faoro (2001) chama o povo de “ficção”, pois considerava que ele nunca pode participar de fato dos destinos do País. Faoro e a Colonização do Brasil: Patrimonialismo e Estamento O rei queria súditos e não senhores, soldados e não caudilhos. As minas aceleraram a disciplina no Brasil, já que o soberano mantinha as rédeas firmes e curtas. O patrimônio real, preservado pelo estamento burocrático, esqueceu os antigos serviços e adotou novos aliados para espalhar seus tentáculos pela imensa colônia. A máquina administrativa se tornou um órgão de controle com feições de polícia. Esse círculo de privilégios e honras confere mando, superioridade e fidalguia. A conciliação entre a unidade do governo e a tendência regionalista e desintegradora foi resolvida pela camada dos fiéis agentes do rei e dos funcionários. Faoro e a Colonização do Brasil: Patrimonialismo e Estamento A conciliação entre a unidade do governo e a tendência regionalista e desintegradora foi resolvida pela camada dos fiéis agentes do rei e dos funcionários. Esse círculo de privilégios e honras confere mando, superioridade e fidalguia. Faoro (2001) percebe que, com esse sistema, a burguesia não subjugou, nem aniquilou a nobreza, mas incorporou a nobreza à burguesia, aderindo-a à sua consciência social. O caminho que atraiu todas as classes, fundindo-as ao estamento que dominou. O setor privado usurpava as funções públicas. Faoro e a Colonização do Brasil: Patrimonialismo e Estamento A descrição da Independência do Brasil. 1817 – República em PE, reações contra a opressão do governo no RJ. O contribuinte sentia que o imposto não era uma aplicação em benefício geral, mas um pagamento forçado feito à pessoa do soberano, que dele dispunha sem prestar contas. O sistema colonial, baseado no trânsito de mercadorias e nas extorsões da renda dele derivada, apresentava as suas deficiências percebidas claramente por uma quase integrada rede de produtores rurais brasileiros. Violenta repressão. Faoro e a Independência do Brasil e a crise desde 1817 Crise de 1820 e as Cortes de Lisboa: As capitanias se tornaram províncias, comandadas por juntas de governo. A fraqueza da burocracia civil e a anemia do comércio luso permitiram aos senhores de terra tomarem o poder. Em São Paulo e Minas Gerais, por exemplo, foram criados governos provinciais. Alianças com Pedro. Faoro e a Independência do Brasil e a crise desde 1820 Para Faoro (2001), o regime colonial não se extinguiu, apenas se modernizou. Houve uma continuidade entre a distância do Estado, monumental, aparatoso, pesado, e a nação, informe, indefinida, inquieta. A ordem metropolitana foi reorganizada no estamento de aristocratas improvisados, servidores nomeados e conselheiros escolhidos, e se superporia ao País, calado e distante. O imperador tendia ao despotismo, e os representantes da nação, à anarquia. Faoro e o Brasil Independente: modernização do regime colonial O capitalismo politicamente orientado, também conhecido como capitalismo político, ou pré-capitalismo, moldou a realidade estatal. Para sobreviver, ele incorporou o capitalismo moderno, do tipo industrial, baseado na liberdade do indivíduo. Foi conquistada a liberdade de negociar, de contratar e de gerir a propriedade sob a garantia das instituições. Contudo, a comunidade política conduz, comanda e supervisiona os negócios como se fossem negócios privados na origem e transformados cinicamente em negócios públicos. Faoro e sua visão sobre o Brasil: olhar sobre o capitalismo O patrimonialismo, cuja legitimidade se assenta no tradicionalismo do “assim é porque sempre foi”. Faoro (2001) insiste que a realidade histórica brasileira demonstrou a persistência secular da estrutura patrimonial, resistindo a todo desenvolvimento capitalista, além de adotar do capitalismo a técnica, as máquinas e as empresas, sem aceitar a vontade de mudança. O Estado não fornece as condições para que possamos pesquisar e fabricar máquinas e equipamentos eletrônicos. O que importa é arrecadar para o Estado, e não educar o povo de fato. Faoro e sua visão sobre o Brasil: o Patrimonialismo O domínio tradicional se configurou no patrimonialismo. O patrimonialismo está presente quando aparece o estado-maior do chefe em comando, que mantém poder sobre o território, subordinando muitas unidades políticas. Sem contar com esse quadro administrativo, o pequeno chefe local assume um caráter patriarcal, que podemos reconhecer no mando do fazendeiro, na ideologia do senhor de engenho e nos coronéis. Presença do Patrimonialismo em diversas épocas e não apenas na colônia. Enquanto o povo espera, o estamento burocrático desenvolve a sua política, superior e autônoma, remediando as crises com as revoluções de cima para baixo. Faoro e sua visão sobre o Brasil: o Patrimonialismo Em sua análise, quando fala do povo, Faoro considera: a) O povo como uma ‘ficção’ pois é constantemente desconsiderado em seus interesses e necessidades. b) Que o povo é a principal categoria analítica que pode explicar a história do Brasil. c) Que o povo tornou-se um estamento voltado sobre si mesmo. d) Que o povo provoca as constantes mudanças na política nacional. e) Que é apenas na época da crise do Antigo Regime que se fala em povo. Interatividade Celso Furtado foi um importante cientista social brasileiro. governos JK e João Goulart; SUDAM e SUDENE; ação do Estado para industrialização. Organização da produção, empregos e inclusão de pessoas. mercado de bens de consumo. Furtado pensou sobre quais eram os obstáculos ao desenvolvimento das economias dos países pobres e formulou várias interpretações históricas sobre as formações econômicas latino-americana e brasileira. Entendendo o pensamento de Celso Furtado Estudo do legado colonial: Continuidade das famílias que controlavam o território latino-americano. As antigas metrópoles teriam sido substituídas principalmente pelos Estados Unidos, pela Franca, pela Inglaterra e pela Alemanha. Furtado não foi um economista convencional. Acreditava que os problemas econômicos não podiam ser separados das suas condicionantes socioculturais e políticas. O Estado Nacional seria a grande unidade de referência da sua teoria do desenvolvimento econômico. Furtado e o legadocolonial Para Furtado existe uma estrutura de poder fundada na coação e/ou no consentimento. No presente, a ordem internacional expressaria essas relações consentidas ou impostas entre poderes nacionais. Pós-Segunda Guerra Desenvolvimentismo latino-americano. Furtado e o Desenvolvimentismo Desenvolvimentismo: Crença de que era possível estabelecer bases técnicas e econômicas que permitissem a incorporação do progresso. Questão primordial era a da acumulação capitalista e sugeria mecanismos que pudessem melhorar a distribuição dessa renda acumulada. Os países devem se industrializar sem depender do capital ou das tecnologias estrangeiras. Celso Furtado não era um intelectual marxista; assim como FHC, ele utilizava o pensamento social weberiano e um pensamento econômico keynesiano. Furtado e o Desenvolvimentismo Furtado (2005) construiu uma metodologia de análise histórica própria em que a Teoria da Demanda Efetiva de Keynes e a Teoria das Decisões de Weber e Mannheim se estruturavam a partir da ideia da relação entre centro e periferia exposta por Prebisch. Para ele, a espinha dorsal dos sistemas econômicos nacionais decorria de uma racionalidade econômica que deveria orientar o processo de industrialização. Segundo ele, havia relações de causa e efeito entre a expansão de forças produtivas e a modernização dos padrões de consumo. Furtado e o Desenvolvimentismo: Keynes e Weber Aquilo que parece uma ideia de fundo exclusivamente marxista, na verdade, não é: o próprio Henry Ford tinha como uma das suas ideias básicas a crença de que seus operários deveriam ganhar bem o bastante para comprar os automóveis que fabricavam. Por outro lado, os automóveis fabricados tinham de ser bons e baratos suficientemente para que os operários pudessem comprá-los. O próprio mercado começava pela possibilidade de os operários adquirirem o produto que estavam fabricando. Documentário “O longo amanhecer”. Cinebiografia de Celso Furtado. Dir. José Mariani. 2004 (1h13min). Furtado: o Desenvolvimentismo e o longo amanhecer O aumento progressivo da riqueza da nação levaria a uma crescente elevação do bem-estar do conjunto da população. Equidade social não era pensada de forma marxista, visando a uma distribuição igualitária do capital. Acreditava que, na medida em que houvesse um desenvolvimento industrial, esse desenvolvimento iria permitir o desenvolvimento de uma quantidade cada vez maior de empresas, as quais iriam absorver, cada vez mais, mão de obra. Furtado: o Desenvolvimentismo e o longo amanhecer Em “Pequena Introdução ao Desenvolvimento”, Furtado sintetizou a questão nos seguintes termos: “A pressão no sentido de reduzir a importância relativa do excedente – decorrente da crescente organização das massas assalariadas – opera como acicate (acelerador) do progresso da técnica, ao mesmo tempo que orienta a tecnologia para poupar mão de obra. [...] A manipulação da criatividade técnica tende a ser o mais importante instrumento dos agentes que controlam o sistema produtivo, em sua luta pela preservação das estruturas sociais” (FURTADO, 2005, p. 6). Por estarem na periferia dos países centrais e por haver grande assimetria social interna, seria necessário identificar esses bloqueios à inovação e à difusão do progresso tecnológico que impediu o próprio capitalismo nesses países. Furtado: a questão da Periferia Furtado (2005) acreditava que seria possível que as sociedades periféricas pudessem decidir politicamente o ritmo e a intensidade com que se deseja assimilar as novas tecnologias. A teoria do subdesenvolvimento de Furtado (2005) pode ser vista como uma crítica à forma racional que as elites dominantes dos países periféricos fazem a incorporação do progresso tecnológico, causando, assim, uma eterna dependência externa dos bens de consumo e, ao mesmo tempo, uma grande assimetria social interna. Furtado busca identificar e explicar o processo histórico da constituição das bases técnicas nas economias nacionais subdesenvolvidas. Furtado: a questão da Periferia “Formação Econômica do Brasil” foi escrito no final da década de 1950, quando as lutas sociais no Brasil pediam reformas da base da sociedade brasileira. Expôs as raízes históricas do nosso subdesenvolvimento e deixou claros quais obstáculos bloqueavam a formação da economia nacional. Noção histórica do acúmulo de mazelas impostas pela condição de colônia, responsável pelo atraso na formação do mercado interno, e pela crença de que a substituição das importações iria modernizar o acesso aos bens de consumo modernos. Exemplo histórico: influências do café na economia e industrialização do Brasil. Furtado e a Formação Econômica do Brasil A crise da industrialização na década de 1980 fez Furtado ter uma nova opinião. Nova dependência da dívida externa e o Monetarismo: Alertou que a transnacionalização do capitalismo estaria diminuindo a possibilidade de independência das economias periféricas: “A enorme concentração de poder que caracteriza o mundo contemporâneo [...] coloca a América Latina em posição de flagrante inferioridade, dado o atraso que acumularam as economias da região e as exíguas dimensões dos mercados nacionais.” Furtado e a concentração de poder contemporânea Em 1992, Furtado publicou “Brasil, A Construção Interrompida”. Explicação da desnacionalização crescente da economia e a maior concentração de renda. Manifesto final do seu pensamento, expôs, de uma forma normalmente atribuída aos pensadores de esquerda, que era necessária uma ruptura com a situação de dependência externa: Em meio milênio de história, partindo de uma constelação de feitorias, de populações indígenas desgarradas, de escravos transplantados de outro continente, de aventureiros europeus e asiáticos a um povo de extraordinária polivalência cultural. Furtado e a Construção Interrompida Celso Furtado lançou mão de um sofisticado instrumental teórico para pensar fundamentalmente: a) Como o povo participa como agente central na história nacional. b) Como a economia interfere na construção da corrupção no país. c) Como a ameaça comunista desestabilizou o Brasil no decorrer de sua história. d) Como a globalização era benéfica para os países antes vistos como periféricos. e) As condições de subdesenvolvimento e de sua superação no Brasil. Interatividade ATÉ A PRÓXIMA!
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