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Sebenta Microbiologia alimentar com exames

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Sebenta Microbiologia Alimentar 
2017/2018 
(Prof. Fernando Tavares e Prof. João Cabral) 
 
 
 
 
 
 
 
 
Giovanna Calvão 
Microbiologia alimentar – FCUP | 2017/2018 
 
 
 1 
Índice programático 
Cap. 1: Introdução à microbiologia alimentar; 
Cap. 2: Ubiquidade e diversidade dos microrganismos. Microrganismos produtores 
de alimentos, de alteração e patogénicos. Plasticidade genómica e rápida 
multiplicação dos microrganismos. 
Cap. 3: Macronutrientes, micronutrientes e fatores de crescimento. Categorias 
nutricionais de microrganismos. Fatores que condicionam o crescimento de 
microrganismos. 
Cap. 4: Curva de crescimento. Contagens diretas de células. 
Cap. 5: Cultura em sistema contínuo ou aberto. Metabolitos primários e secundários. 
Cap. 6: Fatores intrínsecos e extrínsecos. Potencial redox. 
Cap. 7: Bactérias patogénicas em alimentos. A presença de Listeria monocytogenes, 
Staphylococcus aureus, Clostridium perfringens e C. botulinum, Bacillus cereus, 
Brucella, Campylobacter e Yersinia enterocolitica. Reservatório da bactéria no 
ambiente, toxinas, contaminação e crescimento nos alimentos, dados clínicos e 
saúde pública. 
Cap. 8: pH e qualidade de alguns alimentos. Conceitos ecológicos em microbiologia 
de alimentos. 
Cap. 9: As bactérias do ácido láctico. As bifidobactérias. A importância da 
composição da flora intestinal para a saúde do homem. Probióticos. Prebióticos. 
Simbióticos. Metabióticos. Microbiologia do iogurte. Microbiologia do quefir. 
Microbiologia do queijo. Microbiologia do pão, do vinho e da cerveja. 
Microrganismos indicadores (indicator) e substitutos (surrogate). Microbiologia 
dos produtos embalados. 
Cap. 10: Aditivos alimentares. Conservantes. Elementos antimicrobianos de origem 
animal. Elementos antimicrobianos de origem vegetal e microbiana. Técnicas de 
preservação de alimentos. 
Cap. 11: Avaliação da qualidade microbiológica dos produtos vegetais. 
Microrganismos indicadores, sinalizadores e sentinelas. FOODNET CANADA - O 
sistema nacional Canadiano integrado de vigilância microbiológica alimentar. 
 
 
 
 
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Objetivos do estudo da microbiologia alimentar 
1. Análise da diversidade microbiana nos alimentos; 
2. Compreensão do motivo da presença de microrganismos nos alimentos 
tendo em conta a composição nutricional dos alimentos; 
3. Caracterização do tipo de relação entre alimentos e microrganismos, seja 
toxicidade, transformação ou deterioração; 
4. Avaliação dos impactos económicos, de saúde pública e na produção 
industrial de alimentos. 
 
Introdução 
 Problemas relacionados com a segurança alimentar são um problema de 
saúde pública importante. Muitos patogénicos de origem animal ou vegetal 
preocupam seriamente a comunidade agrícola devido ao elevado nível de contágio 
que representam, resultando numa taxa de mortalidade elevada. Exposição a estes 
agentes patogénicos resultam em aproximadamente 76 milhões de doenças, 325000 
hospitalizações e 5000 mortes só nos EUA. Em adição ao problema de saúde pública 
há também a perda de lucro associada a estes surtos, alguns destes microrganismos 
são a E. Coli, Salmonella typhimurium, Stapylococcus aureus, Listeria monocytogenes 
e Enterococcus faecalis. 
 As doenças de origem alimentar (foodborne illness) dividem-se em três 
tipos: 
Intoxicações alimentares – provocadas pela ingestão de substâncias 
tóxicas, as toxinas, que são sintetizadas no alimento pela ação da proliferação e 
metabolismo microbianos; Ex – Staphylococcus aureus, Clostridium Botulinum e 
biotoxinas. 
Infeções alimentares – provocada pela presença de microrganismos 
patogénicos, o qual coloniza o hospedeiro, sem produção de toxinas; Ex – Salmonella 
spp., Listeria monocytogenes, E. Coli, Shigella spp., Yersinia enterolitica, virus... 
Toxinfeções alimentares – provocada pela presença de microrganismos 
patogénicos com produção de toxinas; Ex – bacillus cereus, clostridium perfringens, 
vibrio cholerae... 
Food producers
• Microrganismos 
com certas 
propriadades, p.e. 
relacionados com a 
fermentação do pão, 
entre outros;
Food spoilers
• Microrganismos que 
deterioram 
alimentos;
Food poisoners
• Microrganismos 
que, após serem 
ingeridos através de 
alimentos, provocam 
mal-estar;
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História 
3180 AC – 1ª Dinastia do Egipto, Imperador Shemsu, afetada por uma grande 
epidemia (peste); 
1000 AC – Secagem, fumeiro, salga e especiarias utilizadas na China para 
conservação de alimentos. 
79 – Epidemia, provavelmente de antrax, em Itália. Surge após a erupção do Vesúvio 
e provoca mortalidade em gado. Simultaneamente uma peste de origem 
desconhecida causa grande mortalidade na população humana (Bacillus anthracis). 
857 – Referências a uma intoxicação alimentar que causa vómitos, sensação de 
calor ou frio intenso, dores musculares e alucinações: ergotismo ou Fogo de S. 
António. Intoxicação provocada pelo esporão-do-centeio (Claviceps 
purpurea), que produz alcalóides que contaminam o pão. 
900 – Primeira referência ao botulismo (Clostridium botulinum). Imperador 
Leo VI do império Bizantino proíbe o consumo de sangue em alimentos. 
1070 – Um pedaço de queijo fresco esquecido por um pastor numa cave na região 
de Roquefort fica contaminado por um bolor esverdeado que mais tarde foi 
classificado como Penicillium roqueforti. Surgia assim o Queijo Roquefort. 
1800 – É usada a lixívia para a sanitização da água de consumo. 
1826 – Pandemia de cólera (Vibrio choleare) surge no sudeste da Ásia e alarga-
se à Europa, Inglaterra em 1831 e Paris em 1832. Estende-se ao Canadá no verão 
de 1832 transmitida por emigrantes Irlandeses e no mesmo ano aos USA. 
1846– Grande fome na Irlanda provocada pelo míldio da batata (Phytophthora 
infestans, oomiceto). Um milhão de mortes e um milhão de emigrados. 
1846 – John Snow apresenta os seus trabalhos sobre a transmissão da cólera 
pela água. Localiza efluentes da contaminação. 
1856 – William Budd sugere a transmissão da febre tifoide através de águas 
contaminadas com as fezes de pessoas infetadas. Sugere a sanitização química da 
água. 
1861 – Pasteur apresenta as experiências com os frascos de pescoço-de-cisne. 
O esclarecimento final da controvérsia surge com as experiências de Ferdinand 
Cohn (1875 e 1876) que revela a resistência de esporos bacterianos ao calor. 
1890 – Descoberta por Knut Helge Faber a exotoxina do tétano. 
1892 – Richard Friedrich Johannes Pfeiffer introduz o termo endotoxina 
relativo a bactérias cujos filtrados de cultura não provocam doença. Entre as 
doenças provocadas por endotoxinas contam-se a febre tifoide, cólera e pneumonia. 
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Crescimento bacteriano 
As bactérias geralmente reproduzem-se assexuadamente por fissão binária, 
nesse processo ocorre a replicação do cromossoma e uma célula divide-se em duas, 
de seguida ocorre a divisão do cromossoma replicado e o desenvolvimento de uma 
parede celular transversal. Pode também ocorrer gemulação, esporulação ou 
fissão múltipla. 
 
 
 
 
 
 
 
 O crescimento por fissão binária pode ser representado como o logaritmo de 
células viáveis em função do tempo de incubação resultando numa curva que 
apresenta 4 fases distintas: 
 
 
 
 
 
 
Fase lag – também chamada de fase de espera, não há um aumento do nº de 
células, no entanto, o metabolismo das células é elevado pois encontram-se a 
sintetizar novos componentes. Esta fase é necessária pois podem ser células velhas 
que não possuam enzimas/ATP
necessários para o crescimento, podem estar 
danificadas e a precisar de tempo para recuperar, etc. Varia com a condição de 
microrganismos e com a natureza do meio; 
Fase exponencial (log) – há o crescimento rápido dos microrganismos, 
dividem-se e duplicam o seu nc em intervalos regulares, é uma reta cuja inclinação 
depende da velocidade da divisão das bactérias. A população é mais uniforme em 
termos de propriedades químicas e físicas durante estas fase e, assim, culturas nesta 
fase são normalmente usadas em estudos bioquímicos e fisiológicos; 
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Fase estacionária – o nº de mortas iguala-se ao nº de células produzidas, 
resultando num equilíbrio na população, podendo ocorrer por várias razões, por 
exemplo, quando começa a haver carência de nutrientes, quando o O2 esgota, 
quando começa a haver acumulação de produtos tóxicos. As células podem adquirir 
resistência ao facto de haver falta de nutrientes produzindo proteínas starvation 
que a tornam mais resistente ao dano causado – logo, tornam-se mais difíceis de 
matar e mais virulentas; 
Fase de declínio/morte – as bactérias passam a morrer mais rapidamente 
do que a população de novas células, sendo normalmente logarítmica, ou seja, uma 
proporção constante de células morre todas as horas. 
 
 Matemática do crescimento microbiano 
 Durante a fase exponencial cada microrganismo se divide em intervalos 
constantes, assim, a população duplicará em numero durante um período específico 
designado tempo de geração (doubling time). 
Suponhamos que um tubo de cultura é 
incubado com uma célula que se divide a cada 20 
minutos: a população será de 2 células após 20 
minutos, 4 células após 40 minutos e por aí 
adiante. 
Assim o aumento de população é sempre 
→ 2n (n é o nº de gerações) 
 Podemos descrever estas observações 
como equações para o tempo de geração (g), 
sendo: N0=nº inicial da população; Nt=população 
no momento t; n=nº de gerações no momento t. 
 
A taxa de crescimento durante a fase exponencial em cultura fechada pode 
ser expressa em termos da constante da taxa de crescimento médio (k), que 
consiste no número de gerações por unidade de tempo, normalmente expressa 
como gerações por hora: 
 
 
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O tempo que é necessário para uma população duplicar em tamanho, isto é, 
o tempo médio de geração (g), pode ser calculado por: 
O tempo médio de geração (g) é o 
inverso da constante da taxa média 
de crescimento (k) 
Os tempos de gerações variam bastante com as espécies de microrganismos 
e com as condições ambientais, podendo variar entre menos de 10 minutos até 
vários dias – no entanto, é preciso ter em conta que os tempos de geração na 
natureza são normalmente maiores que em cultura. 
 
Cultura em sistema fechado – microrganismos passam pelas fases 
mencionadas acima – lag, exponencial, estacionária e morte/declínio. 
Cultura em sistema contínuo ou aberto – consiste num sistema que 
mantém as culturas sempre em fase exponencial através do fornecimento constante 
de nutrientes (meio de cultura fresco, p.e) e pela remoção contínua de resíduos; 
↳ Quimiostato: neste tipo de sistema o fluxo de 
entrada e saída de nutrientes mantém-se a um 
determinado valor de tal maneira que a velocidade de 
crescimento de cultura é ajustada à velocidade do fluxo 
– o meio de cultura possui um nutriente essencial em 
quantidades limitantes. Permite, assim, estudar o 
crescimento microbiano e tem aplicações em várias 
indústrias; 
 
↳ Turbidostato: inclui um dispositivo que lê a turvação do meio e ajusta a 
entrada e saída de nutrientes de acordo com essa leitura, mantendo assim o nível 
populacional da cultura e a densidade celular. 
 
 Quantificação do crescimento microbiano 
Existem dois modos de quantificar o crescimento microbiano para 
determinar as taxas de geração e tempos de geração – pelo aumento do nº de células 
ou pelo aumento da massa total da população. Assim, para se determinar o nº de 
UFC (células viáveis): 
1. Método de diluição em placa 
Quando a concentração é grande, preparam-se várias diluições seriadas 
numa sequência de 1:10 para se semear cada uma dessas diluições num 
meio nutritivo, usando alíquotas, onde as bactérias se poderão reproduzir 
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e formar colónias. No final, escolhe-se a placa que tiver entre 15-150 
colónias e conta-se o nº de colónias, multiplicando-se pelo fator de 
diluição. 
2. Método de sementeira por espalhamento (spread plate) 
A amostra diluída deve ser pipetada sobre a superfície do meio sólido e 
espalhado com uma vareta de vidro (semeador de vidro) dobrada em L 
de forma homogénea, vão-se, então, formar colónias isoladas à superfície. 
Para haver sucesso no isolamento de colónias é necessário que o nº de 
bactérias viáveis presentes não seja muito elevado. Obs: as placas vão a 
incubar em posição invertida, pelo que é necessário que o meio esteja 
sólido. 
 
3. Método por incorporação 
Pipeta-se primeiro a amostra diluída para a placa estéril e só depois é 
adicionado o meio de cultura apropriado, no estado liquefeito, 
misturando-se depois com cuidado. Neste método as colónias crescem 
tanto à superfície como no interior do meio usado, ou seja, é um ponto 
positivo para os microaerófilos (crescem em meios com quantidades 
baixas de O2 – anaerobiose). 
 
 
 
 
 
 
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Nutrição microbiana 
Macronutrientes necessários (grandes quantidades) – carbono, oxigénio, 
hidrogénio, nitrogénio, enxofre, fosfato, etc; encontram-se em moléculas orgânicas 
como proteínas, lípidos, carboidratos e ácidos nucleicos. 
Micronutrientes necessários (pequenas quantidades) –manganês, zinco, 
cobalto, níquel, cobre, etc; estes são ubíquos e provavelmente não limitam o 
crescimento. 
 
 Produção de metabolitos 
Os metabolitos são produtos intermediários das reações metabólicas 
catalisadas pelas várias enzimas existentes nas moléculas. Existem 2 tipos: 
1. Metabolitos primários – são produzidos no decurso de reações 
anabólicas (requerem ATP), como a síntese de moléculas complexas a 
partir de moléculas mais simples, e catabólicas (produzem ATP), como 
reações de degradação/decomposição, que contribuem para o 
crescimento das células – fase exponencial, maioritariamente; 
Ex: etanol na fermentação alcoólica (produzido em grande escala pela 
indústria); 
2. Metabolitos secundários – são produzidos por vias anabólicas 
especializadas quando não há crescimento (fase estacionária), não 
estando diretamente envolvidos no processo de crescimento, 
desenvolvimento ou reprodução de microrganismos; 
Ex: vários antibióticos; 
 
 Categorias nutricionais de microrganismos 
Quanto à fonte de C – microrganismos autotróficos (CO2) ou heterotróficos 
(compostos orgânicos); 
Quanto à fonte de energia – luz, orgânica ou inorgânica. 
 
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Categorias nutricionais 
Fonte de 
carbono 
Fonte de 
energia 
Exemplos 
Fotoautotrófico CO2 Luz 
algas, bactérias 
fotossintéticas 
Fotoheterotrófico 
Composto 
orgânico 
Luz bactérias fotossintéticas 
Quimiolitoautotrófico CO2 Inorgânica 
eurobactérias nitrificantes e 
oxidantes de enxofre 
Quimiolitoheterotrófico 
Composto 
orgânico 
Inorgânica 
algumas arqueobactérias 
metanogénicas 
Quimiorganoautotrófico CO2 Orgânica 
eurobactérias 
metilotróficas autotróficas 
Quimiorganoheterotrófico 
Composto 
orgânico 
Orgânica 
fungos, protozoários
e a 
maioria das eurobactérias 
 
Os microrganismos quimiorganoheterotróficos (quimioheterotróficos) 
representam a maioria dos patogénicos, ou seja, estes obtêm a energia através de 
compostos orgânicos, usam substâncias orgânicas para obtenção de energia e 
obtenção de carbono. 
Apesar de uma espécie em particular normalmente pertencer a apenas um 
dos tipos nutricionais, alguns mostram uma grande flexibilidade metabólica e 
alteram os seus padrões metabólicos em resposta a padrões ambientais. 
 Fatores de crescimento 
Os microrganismos normalmente crescem e reproduzem-se quando 
minerais e outras fontes de energia, carbono, etc são fornecidas pois possuem 
enzimas e vias necessárias para sintetizar todos os componentes celulares 
necessários para o seu crescimento. Porém, existem alguns que não apresentam 
certas enzimas essenciais e não são capazes de produzir constituintes 
indispensáveis, logo, terão de os obter a partir do ambiente em que se encontram. 
Assim, os fatores de crescimento são esses compostos que a célula precisa 
para crescer mas que não consegue sintetizar: aminoácidos são necessários para a 
síntese de proteínas, purinas e pirimidinas são necessárias para a síntese de ácidos 
nucleicos e vitaminas que sustêm o crescimento microbiano. 
 
 
 
 
 
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 Metabolismo microbiano 
O metabolismo pode ser dividido em duas partes principais: 
1. Catabolismo - moléculas maiores e complexas são quebradas em 
moléculas mais pequenas e simples com a libertação de ATP. Alguma 
desta energia é armazenada e tornada disponível na forma de calor, o 
resto é libertado como calor; 
2. Anabolismo – gasta a ATP armazenada no catabolismo na síntese de 
moléculas complexas a partir de outras mais simples. Usa energia de 
modo a aumentar a ordem do sistema; 
 
 
 
 
 
 
 
Os microrganismos usam, normalmente, uma das três fontes de energia: os 
fotolitotróficos capturam a energia solar, os quimiorganotróficos oxidam 
moléculas orgânicas para libertar energia e os quimiolitotróficos usam nutrientes 
inorgânicos como fontes de energia. 
Porém, podem ser flexíveis quanto a este aspeto e também quanto a nível de 
aceitadores de eletrões que são usados pelos quimiotróficos, distinguindo-se em: 
1. Fermentação – o substrato é oxidado e degradado sem a participação de 
um aceitador de eletrões externo ou derivado; normalmente a via 
catabólica produz um intermediário como o piruvato que desempenha 
esse papel; a fermentação ocorre, normalmente, sob condições aeróbias, 
porém, pode ocorrer por vezes quando o O2 está presente; 
Em microbiologia – processo fornecedor de energia no qual as 
moléculas orgânicas funcionam tanto como aceitadores de eletrões e 
dadores; 
2. Respiração – usa aceitadores de eletrões ou derivados e subdivide-se em 
2 tipos: 
a. Respiração aeróbica – o aceitador de eletrões final é o O2; 
b. Respiração anaeróbica – o aceitador é usualmente inorgânico 
(p.e, NO3-, SO42-, CO2, Fe3+, SeO42-, e outros), mas aceitadores 
orgânicos como fumarato podem ser usados. 
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Em microbiologia – processo fornecedor de energia no qual o aceitador 
é uma molécula inorgânica, tanto oxigénio ou outro aceitador inorgânico. 
A maior parte da respiração envolve a atividade de uma cadeia 
transportadora de eletrões e a quantidade de energia disponível é diferente na 
fermentação e na respiração: 
↳ O aceitador de eletrões na fermentação encontra-se no mesmo estado de 
oxidação do nutriente original, não existindo oxidação vinda do nutriente. Assim, 
apenas uma quantidade limitada de energia se torna disponível; 
↳ O aceitador de eletrões na respiração apresenta um potencial de redução 
muito mais positivo do que o substrato e, assim, muito mais energia será libertada 
durante a respiração. 
 
Podemos definir três etapas do metabolismo aeróbico: 
Etapa 1 – moléculas de nutrientes complexas (proteínas, polissacarídeos e 
lípidos) são hidrolisadas ou quebradas nas suas partes constituintes e as reações 
químicas que ocorrem durante esta etapa não libertam muita energia; 
Etapa 2 – a.a, monossacarídeos, ácidos gordos, glicerol e outros produtos da 
primeira etapa são degradados a moléculas mais simples nesta etapa. Normalmente, 
metabolitos como acetil coenzima A, piruvato e intermediários do Ciclo de Krebs são 
formados. Os processos desta etapa são capazes de operar tanto aerobicamente 
como anaerobicamente e muitas vezes produzem ATP, NADH e/ou FADH2; 
Etapa 3 – nutrientes carbonados são introduzidos no ciclo de Krebs e são 
oxidados completamente a CO2 com a produção de ATP, NADH e FADH2 pela cadeia 
transportadora de eletrões. O oxigénio, ou por vezes outra molécula inorgânica, é o 
aceitador de eletrões final. 
Assim, as moléculas de nutrientes vão sendo afuniladas para alguns 
intermediários metabólicos (metabolitos) até serem introduzidas no ciclo de krebs. 
Uma via comum degrada várias moléculas semelhantes sendo que a existência de 
algumas vias catabólicas comuns aumenta bastante a eficácia metabólica, 
diminuindo a necessidade de uma flexibilidade metabólica. 
 
 
 
 
 
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Fatores que afetam o crescimento de microrganismos em 
alimentos 
 
 
1. Temperatura 
Para todos os microrganismos existem 3 temperaturas importantes: 
temperatura mínima (abaixo da qual não há crescimento), temperatura ótima (onde 
o crescimento é máximo) e temperatura máxima (acima da qual não há crescimento 
pois as enzimas foram danificadas pelo calor). 
De acordo com a temperatura de crescimento é possível distinguir, pelo 
menos 3 grupos fisiológicos de bactérias: 
a. Psicrófilos: crescem entre a 0 ᵒC e 20 ᵒC (ex: bacillus psyrophilus, 
chlamydomonas nivalis); 
b. Psicrotrófico: são capazes de crescer entre 0-7 ᵒC e apresentam um 
crescimento ótimo entre 20-30 ᵒC e um máximo a 35 ᵒC (ex: Listeria 
monocytogenes, pseudomonas fluorescens); 
c. Mesófilo: desenvolvem-se entre 20-45 ᵒC (ex: E.coli); 
d. Termófilo: capazes de crescer a 40-70 ᵒC (ex: Bacillus 
stearothermophilus); 
e. Hipertermófilo: apresentam um crescimento ótimo entre 80-113 ᵒC 
(ex: sulfolobus); 
 
 
 
 
 
 
 
Fatores extrínsecos 
(características do ambiente): 
Temperatura, humidade relativa, 
presença e concentração de gases 
(CO2 e O2). 
Fatores intrínsecos 
(características do substrato): 
Nutrientes disponíveis, pH, 
capacidade tamponante, potencial 
oxidação-redução, atividade de 
água (aw), barreiras 
antimicrobianas e estruturas 
biológicas. 
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O fator mais importante da influência da temperatura no crescimento é a 
sensibilidade de reações catalisadas por enzimas: a temperaturas baixas, um 
aumento da temperatura aumenta a taxa de crescimento pois a velocidade de uma 
reação enzimática duplica a cada aumento de 10 ᵒC, logo, o metabolismo é mais 
ativo a maiores temperaturas até a uma certa temperatura em que se começam a 
danificar estruturas como as enzimas. 
Em alimentos são poucos os 
psicrófilos que causam problemas, 
porém, a Listeria monocytogenes e o 
Clostridium botulinum conseguem 
desenvolver-se a temperaturas 
baixas de -0,4 ᵒC e 3,3 ᵒC, 
respetivamente, até 5 ᵒC, ou seja, 
conseguem desenvolver-se mesmo 
dentro do congelador ou frigorífico. 
A temperatura de 
crescimento é conhecida por 
regular a expressão de genes 
virulentos em certos patogénicos, 
por exemplo, a expressão de 
proteínas governada pelo 
plasmídeo virulento
da Yersinia 
enterocolitica é alta a 37 ᵒC, baixa a 
22 ᵒC e não detetável a 4 ᵒC. Neste 
caso, o importante não é o 
crescimento microbiano mas sim a 
produção de toxinas que são a causa 
das doenças. 
Tem também impacto na Listeria monocytogenes (organismos 
termosensível), quando inoculado partir de salsichas enlatadas a 48 ᵒC, o seu valor 
de D aumenta até 64 ᵒC. 
Subtemperaturas letais levam a bactéria a adquirir resistência à 
temperatura imposta, passando esta característica a gerações futuras. 
↳ Problema: a temperaturas elevadas os alimentos vêm-se livres da maioria dos 
microrganismos, porém, as suas características organolépticas são alteradas. 
 
 
 
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2. Oxigénio 
O efeito do crescimento na quantidade disponível de O2 faz-se sentir no 
crescimento microbiano em microrganismos aeróbios e facultativos. Quanto à 
respiração, as bactérias podem ser: 
Categorias 
nutricionais 
Ambiente aeróbio 
Ambiente 
anaeróbio 
Efeito do O2 
Aeróbios 
obrigatórios 
Crescem Não crescem 
Necessário 
(respiração aeróbia) 
Microaerofílicos 
Crescem (se 
houver pouco O2) 
Não crescem 
Necessário em baixas 
quantidades 
Anaeróbios 
obrigatórios 
Não crescem 
Crescem e 
produzem toxinas 
- 
Anaeróbios 
facultativos 
Crescem Crescem 
Não necessário + 
usado 
Aerotolerantes Crescem Crescem 
Não necessário + não 
usado 
 
Resumindo: os aeróbios obrigatórios necessitam de O2 para crescer, 
anaeróbios obrigatórios só crescem na ausência de O2, microaerofílicos precisam 
de O2 mas em pressão inferior à atmosférica e aeróbios facultativos (ex: 
salmonella) só quando não há O2 é que realizam a fermentação, quando têm acesso 
a O2 realizam a respiração aeróbia porque há mais rendimento energético e os 
aerotolerantes crescem na presença ou ausência de O2. 
 
(a) Aeróbios obrigatórios; 
(b) Anaeróbios obrigatórios; 
(c) Anaeróbios facultativos; 
(d) Microaerófilos; 
(e) Anaeróbios aerotolerantes. 
 
 
O metabolismo aeróbio é muito mais eficiente, 
favorecendo o rápido crescimento da cultura em questão – via 
aeróbia tem como produtos finais de metabolismo o CO2 e H2O; já o 
metabolismo anaeróbio (fermentativo) tem como produtos finais 
compostos orgânicos que variam de acordo com o microrganismo 
e que, na maioria das vezes, impedem o crescimento microbiano. 
Uma agitação dos tubos 
leva a: melhor aeração do 
meio, homogenização dos 
nutrientes do meio e uma 
dispersão de metabolitos. 
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3. pH 
O ph é a medida de atividade do ião hidrogénio numa solução e é definido 
como o logaritmo negativo da concentração desse ião (pH=−log[H+]). Os habitats nos 
quais os microrganismos crescem são vários, sendo que cada espécie apresenta uma 
gama de pH de crescimento definido e um pH ótimo para o crescimento, podendo 
ser distinguidas 2 classes: 
a. Acidófilos: o seu crescimento ótimo varia entre 0 e 5,5; é o caso da 
maioria dos fungos e de bactérias encontradas em fluídos gástricos, 
vinagre, sumo de frutos, alimentos fermentados, etc; 
b. Neutrófilos: o seu crescimento ótimo varia entre 5,5 e 8,0; é o caso da 
maior parte das bactérias e protozoários; 
c. Alcalófilos: o seu crescimento ótimo varia entre 8,5 e 11,5 (alcalófilos 
extremos crescem a um pH igual ou superior a 10,0); é o caso de 
bactérias encontradas em lagos e solos alcalinos; 
 
 
 
 
 
 
Usualmente as bactérias mantêm o pH interno perto do pH neutro para 
prevenir mudanças conformacionais nas suas estruturas como enzimas, ácidos 
nucleicos, fosfolípidos e proteínas. Variações drásticas no pH citoplasmático podem 
danificar a membrana plasmática e inibir a atividade de enzimas e proteínas de 
transporte membranar, se houverem alterações no pH externo há alterações a nível 
da ionização de moléculas e nutrientes, reduzindo, assim, a disponibilidade destas 
moléculas para o organismo. 
Os microrganismos possuem vários mecanismos que lhes permitem 
sobreviverem a alterações de pH e manterem a sua neutralidade tais como a 
presença de tampões internos, o facto da membrana plasmática ser relativamente 
impermeável a protões, etc. Por exemplo, se o pH externo descer a 5-6 a Salmonella 
Notas: em alimentos enlatadas 
sem acesso a O2, microrganismos 
como o Clostridium Botulinum 
desenvolvem-se ativamente. 
 
Notas: Pseudomonas aeruginosa é 
aeróbio obrigatório, a E.coli é 
anaeróbio facultativo e o 
Clostridium Botulinum é um 
anaeróbio obrigatório. 
 
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typhimurium e E. coli 
sintetizam uma gama de 
novas proteínas como parte 
da sua resposta de tolerância 
à acidez. 
 A acidez é o principal 
fator que garante a 
conservação dos alimentos 
fermentados, podendo este 
fator ser combinado com 
outros que também 
promovem a sua 
conservação tal como o calor, 
adição de conservantes, etc. 
 Como os alimentos de origem animal têm um pH mais alto que os de origem 
vegetal, aproximando-se da neutralidade (ex: carne logo após o abate, leite, peixe, 
ovos...), estão mais suscetíveis ao crescimento de microrganismos pois esse é o pH 
ótimo de crescimento para os mesmos. Existem exceções como os iogurtes e queijos 
que possuem um pH ligeiramente mais baixo tal como os vegetais e frutas devido 
aos processos fermentativos que sofreram. 
 
 
 
 
 
 
 
 Resumindo: para alimentos com um pH > 4,5 há uma predominância de 
crescimento microbiano (patogénicos, esporângicas ou não, aeróbios ou anaeróbios, 
mesófilos ou termófilos), para alimentos com um pH entre 4,5 e 4,0 há uma 
predominância de leveduras oxidativas ou fermentativas e de bolores (em 
aerobiose) e de algumas bactérias formadoras de esporos ou não, já para alimentos 
com pH < 4,0 ficam restritos a quase que exclusivamente leveduras e bolores. 
 
 
 
ALIMENTOS pH 
Neutros 
Carne logo após o abate, leite, peixe... 
7,0-6,5 
Pouco ácidos 
Carne fresca, toucinho fumado, vegetais enlatados 
6,5-5,3 
Acidez média 
Vegetais fermentados, queijos 
5,3-4,5 
Ácidos 
Frutos, sumos de fruta, tomate, iogurte... 
4,3-3,7 
Muito ácidos 
Picles, citrinos 
<3,7 
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4. Atividade da água (aw) 
A disponibilidade de água não depende apenas da quantidade absoluta de 
água, sendo também um fator de concentração de solutos como sais, açúcares e 
outras substâncias solúveis em água. 
A atividade da água (aw) é, então, uma medida da quantidade de água 
disponível que existe num alimento e que pode ser comparada ao valor da humidade 
relativa, p.e, no estado sólido esta percentagem é muito baixa. Quanto maior for a 
atividade da água de um alimento, maiores serão as possibilidades para o 
crescimento de microrganismos. Assim, alimentos com elevada atividade da água 
(p.e, leite e carne) serão facilmente sujeitos a degradação por ação dos agentes 
microbianos enquanto que alimentos com menor atividade da água (p.e, cereais) 
têm um período de conservação maior. 
A atividade da água de uma solução é 1/100 da humidade relativa da solução, 
ou seja, é expressa em percentagem. É inversamente proporcional à pressão 
osmótica, pelo que se essa for elevada, então aw é também elevada. 
aw =
Psolução
Págua
 
De um modo geral, o balanço da água é positivo, na medida em que o 
citoplasma é, tipicamente, mais concentrado, o que permite que a água entre na 
célula por osmose. No entanto, se a célula se encontrar num meio hipertónico, cuja 
concentração
exceda a do citoplasma, a água vai sair da célula e essa irá ter que fazer 
um esforço extra para contrariar essa tendência, já que uma célula desidratada não 
apresenta crescimento. 
Os microrganismos conseguem viver com valores de aw de 0,7 até 1, porém, 
são poucos os que conseguem multiplicar-se com valores abaixo de 0,98 
(aproximado do valor da água do mar). Isto explica o porquê de alimentos secos 
ou com a adição de grandes quantidades de sal ou açúcar conseguem ter uma 
vida útil muito maior. 
 
 
O conceito de baixar a aw para se prevenir o crescimento de microrganismos é a 
base da preservação de alimentos por secagem (ao sol ou por evaporação) ou 
através da adição de elevadas % de sal ou açúcar. 
 
 
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Podemos ter duas classes de microrganismos no que toca à sobrevivência 
quando há valores baixos de aw: 
a. Halófilos: microrganismos que requerem a presença de NaCl para 
conseguirem crescer 
a. Halófilos fracos: organismos que necessitam da presença 
moderada de sal, como é o caso das espécies marinhas cujo 
crescimento ótimo requer 1-6% de NaCl; 
b. Halófilos moderados: organismos que conseguem suportar 
ligeiras reduções de aw mas cujo crescimento ótimo se verifica 
na ausência do soluto em questão (6-15% NaCl); 
c. Halófilos extremos: organismos que habitam ambientes 
muito salgados, requerendo 15-30% de NaCl, dependendo da 
espécie; 
b. Osmotolerantes: são capazes de manter uma concentração de 
solutos elevada de modo a reter água, crescendo em várias gamas de 
aw ou concentração osmótica. P.e, alguns fungos são osmotolerantes 
estando envolvidos na deterioração de alimentos secos e salgados; 
a. Osmófilos: organismos capazes de viver em meios com altas 
concentrações de açúcar; 
b. Xerófilos: organismos capazes de viver em ambientes muito 
secos. 
Apesar de microrganismos halófilos serem osmófilos, este último termo é 
mais usado para organismos que conseguem viver em ambientes com elevada % de 
açúcar. 
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Notas: Alimentos sem água são completamente seguros à temperatura 
ambiente, especialmente se estes forem liofilizados (quer dizer que não possuem 
água); no pão, a côdea tem um valor de aw menor que o do miolo, ou seja, serve de 
barreira antimicrobiana. 
5. Barreiras antimicrobianas e estruturas biológicas 
Aditivos alimentares podem ser classificados de acordo com 6 funções 
primárias: preservação, melhoramento no valor nutricional, adição ou substituição 
de cor (sulfitos, nitritos), adição ou substituição de sabor (nitritos e alguns ácidos 
orgânicos), melhoramento na textura e auxiliares tecnológicos. Atualmente os 
consumidores estão a inclinar-se mais para alimentos que tenham características de 
alimentos frescos, ou seja, o uso de tratamentos extremos e/ou aditivos já não os 
satisfazem. 
a. Barreiras antimicrobianas – proteínas com ação enzimática (lisozima, 
atua sobre os peptidoglicanos, destruindo assim a parede celular (Gram -
)), as lactoperoxidases têm uma atividade tóxica sobre os microrganismos 
e as ferritinas são quelantes de ferro, atuando sobre os seus iões; 
b. Estruturas biológicas – epicarpo de um fruto, pele de um animal, côdea 
de um pão; 
As barreiras 
antimicrobianas são 
compostos químicos que 
são adicionados ou 
presentes nos alimentos 
que retardam o 
crescimento microbiano 
ou que causam a sua 
morte. Podem ser naturais 
(ocorrem livremente na 
natureza, como mostra a 
tabela abaixo), produzidas 
pelos microrganismos ou 
adicionadas ao alimentos. 
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Por exemplo, algumas especiarias possuem atividade inibidora muito 
elevada, como é o caso da canela e do cravo (eugenol), moderada na pimenta 
também e o alho (alicina – atividade mais eficiente que alguns antibióticos, 
antigamente as pessoas usavam-no mastigando pois alivia dores de dentes). Os 
microrganismos podem também têm atividade antimicrobiana, chamados de 
bactericidas, p.e, o ácido lático produzido pelas bactérias láticas pode ser usado em 
leite não UHT. 
Em moléculas antimicrobianas de origem animal temos as de origem 
proteíca como lactoferrinas, lisozimas, lactoperoxidases e lactoglobulinas 
presentes em leite de vaca, ovotransferrina, ovoglobulina, imunoglobulina Y 
presentes em ovos – todos estes compostos são polipéptidos e possuem um 
mecanismo comum de ação. Quanto a peroxidases temos a lactoperoxidase (LP) e 
hemoproteína presentes no leite, saliva e lágrimas, sendo a enzima mais abundante 
no leite de vaca – tem uma ação inibidora de bactérias, fungos, parasitas e vírus. As 
glicoproteínas (sequestradoras de Fe) como as lactoferrinas, lactotransferrina ou 
lactosideroforina, são moléculas que contribuem para o controlo de ferro em fluídos 
biológicos, tendo também atividade microbiana. 
Já os elementos antimicrobianos de origem vegetal englobam compostos 
fenólicos (antioxidantes – atacam especialmente bactérias Gram +), terpénicos, 
álcoois aliafáticos, aldeídos, cetonas, ácidos e bioflavonóides. 
A alicina é um composto presente em alhos e cebolas, é um óleo sem cor, 
extremamente pungente (picante/doloroso) que dá o sabor e odor característico 
aos mesmos. Tem uma atividade antimicrobiana de bactérias gram – e gram +, bem 
como de fungos, p.e a S. Aureus. A inibição é causada pela alicina, sendo apenas 
obtida após a injúria das células do mesmo, nomeadamente no vacúolo, ou seja só 
quando o alho é cortado é que há inibição. 
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Tipo de ação das moléculas antimicrobianas 
 
a. Bacteriostática (fungistático, 
algistático): têm como função 
impedir a proliferação dos 
microrganismos, apenas impede a 
multiplicação das bactérias, não as 
matando. Usualmente são inibidores 
de síntese proteica e atuam por 
ligação reversível nos ribossomas – 
exemplos: álcool etílico; 
b. Bactericida: são substâncias que 
matam de forma direta os 
microrganismos, inibindo enzimas 
que desempenham um papel 
fundamental na sobrevivência dos 
mesmos; 
c. Bacteriolítica: são substâncias que, 
para além de matar as bactérias e 
impedindo a sua proliferação, 
destroem a parede celular através 
da lise celular, o que faz com que 
estes percam todo o material 
interno – exemplos: penicilina, 
antibiótico natural produzido pelo 
fungo Penicillium chrysogenum. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Microbiologia preditiva 
Os fatores mais importantes a ter em conta no que toca à preservação e 
otimização de alimentos são o pH, a temperatura e aw. Porém, é muito difícil 
relacionar os três fatores pois os valores discretos de pH, temperatura e aw variam 
uns com os outros, logo, a relação entre os três não é imediata – a solução passa pela 
microbiologia preditiva que partindo de certos valores conseguimos obter uma 
função quadrática, permitindo-nos correlacionar os fatores. 
 
 
 
 
 
A microbiologia preditiva descreve, de forma quantitativa, os efeitos dos 
fatores intrínsecos e dos fatores extrínsecos no crescimento ou inativação dos 
microrganismos nos alimentos. Para isso são construídos modelos matemáticos 
derivados de estudos quantitativos sob dadas condições experimentais, obtendo no 
final uma curva que descreve o crescimento, viabilidade ou a morte dos 
microrganismos. 
Assim conseguimos compreender como as diferentes propriedades de um 
alimento, a sua origem o seu acondicionamento, podem influenciar a microflora,
é 
um primeiro passo para fazer deduções assertivas sobre o tempo de prateleira, a 
deterioração e segurança microbiológica dos alimentos. 
 
 
Nomenclatura em modelos preditivos: 
 Fator: o fator é uma variável independente, como a temperatura ou o pH 
que tomam mais do que um valor; 
 Tratamento: conjunto de vários fatores (p.e: pH a 6,5 e temperatura a 25 
ᵒC); 
 Resposta: variável dependente, é aquilo que estamos a medir e a modelar 
(p.e: taxa de crescimento); 
 Parâmetro: algoritmo que é aplicado ao tratamento e permite obter uma 
resposta concreta, relacionando o tratamento com a resposta. 
 
 
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Tipos de modelos 
A maneira mais simples de categorizar os modelos é considerando os 
diferentes tipos em termos do uso ou para avaliar os perigos recorrentes que 
poderão acontecer (modelos de crescimento ou a redução dos mesmos (modelos de 
inativação ou sobrevivência). 
Há dois grandes grupos de modelos: os descritivos/empíricos 
(observacionais, empíricos) e os mecanicistas (teóricos, dedutivos), sendo que os 
primeiros são orientados por “data”, incluindo funções polinomiais e “redes neurais 
artificiais” e o último é composto por modelos analíticos e numéricos. Estes modelos 
não permitem fazer extrapolações para além do limite permitido pelos dados 
experimentais. 
Os modelos mecanicistas têm como objetivo relacionar os dados recolhidos 
com com princípios científicos fundamentais; muitos modelos têm parâmetros que 
são relacionados com fenómenos observados e, assim sendo, caem nesta classe – 
modelos analíticos. 
Previsibilidade versus aleatoriedade 
A maioria dos modelos falados são modelos deterministas, isto é, com o 
conhecimento das condições iniciais e depois de funções matemáticas podemos 
descrever o comportamento do sistema ao longo do tempo e é suficiente para 
prevermos o estado do mesmo em qualquer ponto do tempo. Porém, as bactérias 
não são assim tão cooperativas e as condições iniciais são menos claras. 
Os modelos que reconhecem e tomam ou variabilidade em sistemas 
experimentais são chamados de modelos estocásticos/probabilísticos, têm sido 
usados para prever a probabilidade de germinação de bactérias esporulantes 
patogénicas. 
 
Amostragem 
Amostragem de uma coleção de boa qualidade de curvas de crescimento é 
usada para construir os modelos, não existe um nº mínimo de curvas necessárias 
para a construção de um modelo mas normalmente são necessárias 70-100 curvas. 
Fatores 
Nunca conseguimos considerar todos os fatores na composição do alimento, 
por isso temos de escolher aqueles que são mais importantes no controlo do 
crescimento microbiano. Os mais importantes, como já foi referido, são o pH, a 
temperatura e aw. 
 
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Planeamento e design 
Podemos ter design fatorial completo que é quando todas as diferentes 
combinações de fatores são investigadas, ou seja, é um tanto exaustivo no que toca 
ao nº de experiências. Por exemplo, se considerarmos um estudo experimental que 
usa uma resposta mensurável binariamente e que use 3 classes de variáveis (p.e: 
sidra de 3 tipos de plantas, um tratamento de congelamento-descongelamento e 
agentes preservantes como o sorbato de potássio) e 4 variáveis contínuas (p.e: pH 
da sidra, temperatura de armazenamento e concentração de preservação) resulta 
em 1596 tratamentos para os 3 tipos de sidra e como um tipo de sidra foi testado 
em duplicado e os outros em triplicado, o nº total de experiências é de 12768, o que 
é muito. 
Ou podemos ter um design fatorial fracionado que tem com objetivo 
reduzir o nº de experiências necessárias, porém, são mais difíceis de construir e por 
isso há vários tipos que se podem aplicar, sendo que o mais usado é o Box-Behnken 
design. 
 
 
 
 
 
 
Objetos de estudos 
Há várias abordagens aquando da escolha da estirpe para ser usado em 
modelos de microbiologia preditiva, podemos usar uma só estirpe ou uma mistura 
de diferentes estirpes (um cocktail). Para conseguirmos escolher é importante 
clarificar qual o objetivo do uso do modelo: o modelo vai ser usado para prever o 
possível crescimento de uma espécie de patogénicos em específico ou vai ser usado 
como modelo da flora de deterioração de um produto alimentar específico? 
Uma estratégia usado é escolher a estirpe que cresce mais rápido nas 
condições ambientais investigadas, pois é esse que vai estragar o produto primeiro, 
já que cresce mais rápido – ou seja, vai simular o pior cenário possível (dá-nos uma 
garantia de segurança). As estirpes usadas para desenvolvimento de um modelo 
podem, também, ser isoladas a partir a comida que está em investigação, sendo que 
é de grande importância que se use mais do que uma estirpe da espécie para aferir 
a sua influência. 
Quanto à patogenicidade, as estirpes escolhidas devem ser patogénicas 
quando há condições para isso, como é algo que não é fácil podem-se usar estirpes 
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não patogénicas e conseguimos obter os dados através de uma sobre estimativa. O 
ideal é, também, serem usados cocktails (mistura de estirpes) – variabilidade 
intra específica, pois (1) é muito mais representativa da situação encontrada nos 
alimentos – heterogeneidade, onde uma flora de estirpes é muito mais provável do 
que só 1 estirpe e (2) não é necessariamente a mesma estirpe que demonstra um 
crescimento rápido em todos os fatores considerados – p.e, uma estirpe com mais 
tolerância a concentrações elevadas de NaCl pode ser a mais rápida nestas 
condições e com um pH alto mas não necessariamente quando a concentração de 
NaCl e de pH são baixas. 
 
Fases importantes da microbiologia preditiva 
1. Planeamento: definição clara do problema em mãos. 
a. Definir a principal prioridade: deterioração do alimento ou 
segurança? Qual o microrganismo de maior preocupação? 
b. Determinar a resposta ou variável dependente, p.e: taxa de 
crescimento, produção de toxinas, tempo de deterioração? 
c. Determinar a causa ou variáveis independentes, p.e temperatura, 
pH ou aw? 
2. Recolha de dados: a variável dependente é determinada por diferentes 
valores das variáveis independentes que devem cobrir toda a amplitude 
da escala em que estamos interessados. 
3. Adequabilidade do modelo: diferentes modelos que relacionam a 
resposta (variável dependente) às variáveis independentes são testados 
para se determinar o mais ajustado aos dados experimentais. 
4. Validação do modelo: o modelo é avaliado através de dados 
experimentais não utilizados na sua construção 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Modelos primários 
 Um modelo primário de crescimento microbiano descreve a cinética do 
mesmo tendo em conta tão poucos parâmetros quanto possível, sendo mesmo assim 
possível definir com precisão os diferentes estágios de crescimento como na figura 
abaixo– normalmente usa-se para descrever o crescimento na densidade da 
população um log base 10. Estes modelos têm como base equações, logo são 
modelos mecanicistas. 
 
Os chamados modelos de viabilidade visam garantir a máxima segurança 
alimentar, logo, é importante o seu entendimento, p.e, antigamente eram usados 
destes modelos para assegurar a destruição dos esporos de C. Botulinum em comidas 
enlatadas de pH ácido. 
 
Estes modelos falados acima são lineares mas existem também modelos de 
viabilidade não-lineares – aquelas que apresentam uma fase lag antes da 
inativação e aquelas que exibem uma “cauda”, isto porque teoricamente
aceitou-se 
que todas as bactérias possuíam comportamento logarítmico já que eram 
populações homogéneas no que toca a tolerância térmica. Porém isso foi 
questionado e levantou questões no que toca à validade das extrapolações feitas em 
curvas de inativação lineares. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Modelos de inativação de esporos 
bacterianos apresentam um problema, p.e 
bactérias como Bacillus e Clostridium spp. 
podem existir em fase dormente (esporos), a 
qual é termicamente resistente, sendo que a 
germinação desses esporos pode ser 
conseguida por tratamento com calor subletal. 
Conclui-se, então, que há diferenças aquando do 
uso deste tratamento se estivermos na presença 
de esporos dormentes ou esporos ativos. 
 
Foi introduzido, então, o termo ‘D’ (tempo de redução decimal) que define o 
tempo necessário para que, a uma dada temperatura, haja uma redução de uma 
unidade logarítmica da carga microbiana (é linear, ou seja, vai de 1000 para 100 
para 10 e para 1) e o termo ‘Z’ está relacionado com os modelos secundários e 
descreve o declive da curva de inativação térmica com o valor do declive igual à 
mudança de temperatura necessária para efetuar uma alteração de 1 unidade 
logarítmica no tempo. 
Por exemplo: se d=14 minutos e 
z=10 ᵒC a 65 ᵒC, quer dizer que se 
tivermos 1000 CFU num certo momento a 
essa temperatura, em 14 minutos 
teremos 100 CFU pois houve uma 
redução decimal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Modelos secundários 
As mudanças microbianas recorrentes em alimentos estão relacionadas com 
fatores ambientais – tanto extrínsecos como intrínsecos. Sendo assim, modelos 
secundários são aqueles que descrevem a influência de x fatores ambientais sob o 
crescimento microbiano, como físicas, químicas ou características bióticas. 
Ou seja, o primeiro passo passa pelo desenvolvimento de um modelo de 
crescimento/morte num ambiente constante (modelo primário) e só depois 
determinar como os parâmetros desse são afetados por fatores ambientais 
(modelo secundário). 
 
Falibilidade dos modelos preditivos 
Na maioria dos casos dos modelos teóricos, os alimentos são considerados 
homogéneos, o que realmente não se traduz na vida real pois possuem uma 
estrutura complexa (matrizes alimentares). Sendo assim, categorizaram-se 4 
categorias para os alimentos: 
1. Líquidos: fase aquosa, onde os microrganismos crescem platonicamente, 
isto é, crescem livremente; 
Exemplos – sopas e sumos (com material suspenso); 
Uso em laboratório para imitar – meio de cultura de caldo; 
2. Gelificados: regiões dos alimentos em que os microrganismos estão 
imobilizados e crescem forçadamente em colónias; 
Exemplos: patés, gelatinas, alguns queijos; 
Uso em laboratório para imitar – células imobilizadas em agar ou 
gelatina; 
3. Superfícies: tanto de vegetais ou tecidos de carne, que resulta também em 
formação de colónias; 
Exemplos – tecidos vegetais e animais; 
Uso em laboratório para imitar – agar ou gelatina; 
 
 
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4. Emulsões: o crescimento dos microrganismos é maioritariamente 
forçado pela disponibilidade da água; 
Exemplos – aqui podemos distinguir de “oil-in-water” que são alimentos 
como creme de leite, leite, molhos de saladas, maionese; “water-in-oil” 
que engloba manteigas e margarinas e emulsões gelificadas do qual faz 
parte queijo de leite integral; 
Uso em laboratório para imitar – alkane, emulsões de cultura médias e 
outras em que a fase aquosa é um gele com agarose; 
Os microrganismos ocupam a parte aquosa dos alimentos e características 
estruturais desta fase, sendo que os efeitos destas características estruturais no 
crescimento microbiano incluem restrições na distribuição mecânica da água, a 
redistribuição dos ácidos orgânicos pois pode haver redução da mobilidade 
microbiana. Ou seja, conforme as características microestruturais de cada alimento, 
também os microrganismos mudam de comportamento consoante isso. Isto tudo 
contribui para o erro global que está relacionado com os modelos preditivos: 
 Heterogeneidade dos alimentos como matriz; 
 Modelar os alimentos; 
 Competição microbiana; 
 Adaptação e aquisição de tolerância; 
 
 
Fase aquosa 
Como já foi referido, a fase 
aquosa é composta por água e por 
lípidos mas os microrganismos só 
crescem na água e não nos lípidos, 
tendo um crescimento planctónico 
com uma mobilidade que lhes 
permite andar livremente; 
normalmente há a um equilíbrio do 
ambiente até que começa a haver 
acumulação de biomassa e de 
metabolitos que mudam o pH ou a 
composição química. 
 
 
 
 
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Superfícies 
É a forma mais simples de 
estrutura alimentar é a superfície, sendo 
que nos modelos preditivos são usados 
meios líquidos como comparação, como 
sabemos que o crescimento microbiano 
é muito mais rápido em elementos 
líquidos, concluímos que se usa uma 
sobre estimativa para se calcular 
exatamente o valor do sólido. 
Tipicamente o crescimento em 
superfícies é colonial, o que resulta em 
valores de crescimento menores. Isto 
sugere que o ritmo de crescimento em 
superfícies pode não estar bem previsto 
pelos modelos que derivam de sistemas que usam culturas de caldo. 
Fase gelificada 
Em regiões gelificadas, os microrganismos estão imobilizados, tanto seja 
uma só célula ou, quando estas se multiplicam, são forçadas a crescer em colónias. 
As bactérias imobilizadas também diferem das culturas planctónicas na sua 
suscetibilidade e compostos antimicrobianos, no seu metabolismo energético e nos 
produtos finais do metabolismo. Os usos de modelos preditivos baseados em dados 
com experiências com culturas levam a uma sobre estimativa neste caso. 
Emulsões – crescimento planctónico ou colonial 
 “Oil-in-water” significa lípidos em água, aqui a estrutura é afetada pela 
concentração e a forma da fase dos lípidos. Em sistemas de modelos experimentais, 
a relação existente entre a concentração dos lípidos e a forma de crescimento dos 
microrganismos indica que quando essa concentração é baixa (30% v/v), o 
crescimento é planctónico/livre, só mudando quando a concentração era elevada 
até 83% (v/v), onde ficaram imobilizadas entre as gotículas de lípidos compatadas, 
resultando num crescimento em colónias discretas. 
 “Water-in-oil” significa água em lípidos, consiste numa fase aquosa dispersa 
como gotículas discretas e irregulares de água numa fase lipídica/oleosa. As 
gotículas podem ser contaminadas com microrganismos no ponto de fabricação da 
emulsão. Assim, os modelos confirmaram que o crescimento bacteriano é restrito 
quando a estrutura alimentar permanece intacta (isto é, quando as gotas não 
formam um agregado). 
 
 
Partes a negro: zonas lipídicas 
Partes esbranquiçadas: zonas aquosas 
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Modelação de alimentos 
 De maneira se prever o crescimento de microrganismos em alimentos de 
uma maneira fiável é necessário o uso de condições químicas iniciais corretas; a 
heterogeneidade estrutural dos alimentos resulta numa heterogeneidade química 
que é complicada pela dinâmica dentro dos alimentos que modificam esse ambiente 
químico – como os microrganismos ocupam a fase aquosa dos alimentos, é 
importante que esta seja precisa. 
 Muitos alimentos contam com a concentração de ácidos orgânicos (ácido 
lático, acético, benzoico, etc) para a sua preservação,
bem como com a adição de sal 
ou açúcar. Logo, não é surpresa que muitos dos modelos usem como parâmetros 
combinações de pH, aw e temperatura. 
 Quanto à competição microbiana ainda não foi incorporada em modelos 
existentes pois pode não ser um problema em alguns alimentos, já que interações 
entre estas só seriam possíveis quando os UFC atingissem um perigo potencial ou 
mesmo deterioração. Em alimentos sólidos é determinada pela proximidade das 
colónias na matriz alimentar, sendo que os gradientes gerados pelos seus 
metabolitos podem influenciar os seus vizinhos. 
Um conceito relacionado é a “capacidade máxima de transporte” (fase 
estacionária) de cada produto alimentar, no qual a inibição de patogénicos por 
outros microrganismos ocorre quando a flora competitiva atinge números nos quais 
o ambiente não pode suportar nenhum crescimento adicional, isto está relacionado 
com o esgotamento de nutrientes. 
Adaptação e aquisição de tolerância 
 É importante não esquecer situações de stress no que toca ao crescimento de 
microrganismos pois estes conseguem adaptar-se como resposta e adquirir 
resistência, p.e, adaptação a métodos de conservação leva a uma taxa de 
crescimento/sobrevivência maior do que aquela prevista pelos modelos, o que pode 
levar à deterioração de alimentos e aumento do perigo associado. 
 Podem adquirir, p.e, tolerância ácida, já visto em Listeria monocytogenes, 
associado a “acid shock proteins” quando expostas a uma diminuição do pH 
extracelular. Não só isso mas esta tolerância está também associada a um aumento 
da resistência térmica, osmótica e a stress a baixas temperaturas. 
 Os efeitos da estrutura do alimento são também significativos pois como 
resultado da imobilização dos microrganismos aparecem colónia, o que irá 
alterar as condições dos substratos, nomeadamente, irá haver uma acumulação de 
metabolitos finais ácidos e, portanto, uma acidificação em torno das colónias. É 
concebível que, então, as células de agentes patogénicos em colónias nas matrizes 
alimentares possam sofrer de uma tolerância ácida induzida estimulada pelo pH 
localizado que desceu devido aos processos metabólicos da própria colónia. 
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No centro da colónia há acumulação da produtos tóxicos e ácidos que 
diminuem o pH do meio, o que vai induzir um mecanismo de proteção que vai fazer 
com que as células fisiologicamente “mais velhas” adquiram resistência aos diversos 
fatores, ao contrário das células da periferia mais jovens. 
Validação dos modelos 
Um dos aspetos mais importantes em microbiologia preditiva é 
assegurar que as predições demonstradas pelo modelo são aplicáveis a 
situações reais, ou seja, passar por um processo de validação, o qual deve incluir 
comparações com medidas observadas que devem ser diferentes dos dados usados 
para construir o modelo original, porém normalmente há problemas financeiros e 
então a validação costuma ser feita com comparações com outros modelos já feitos. 
Um modelo validado deve ser consistentemente “à prova de falhas”, ou seja, 
as previsões devem falhar do lado da segurança, isto porque os modelos são feitos 
por sobrecestimativa (a taxa de crescimento prevista e o tempo de latência devem 
ser mais rápidos e mais curtos, respetivamente, do que os valores experimentais). 
Apesar disto, é raro encontrar um modelo desenvolvido em cultura que prevê 
precisamente o comportamento dos alimentos, sendo que o uso de estirpes que 
crescem mais rápido para garantir uma margem de segurança maior. A alternativa 
é desenvolver modelos diretamente de produtos alimentares – o problema é que são 
precisas instalações apropriadas para incorporação de patogénicos no processo. 
Aplicações informáticas em microbiologia preditiva 
 Há já algumas plataformas que servem para modelar respostas de 
microrganismos a diversos fatores ambientais: 
 ComBase – base de dados de livre acesso de respostas microbianas 
quantificadas em diversos ambientes alimentares; baseados apenas em 
resultados observados em experiências laboratoriais sob condições 
estritamente controladas. 
 Pathogen Modelling Program (PMP) – pacote de modelos que pode ser 
usado para prever o crescimento/inativação de bactérias transmitidas por 
alimentos, principalmente patogénicas, sob várias condições ambientais. 
pH 7 (fora da colónia) 
pH 4 (centro da colónia) 
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Preservação de alimentos 
A preservação de alimentos engloba todas as medidas tomadas para manter 
os alimentos com as propriedades desejadas ou a própria natureza inerente ao 
alimento tanto quanto possível; técnicas milenares de preservação foram a 
secagem, fumeiro, refrigeração e aquecimento. O trabalho de Pasteur no séc. 
dezanove foi um marco importante pois deu-nos um melhor entendimento sobre o 
funcionamento das técnicas já usadas como aquecimento, congelamento, etc. 
Nos dias que correm, os consumidores estão mais interessados em alimentos 
com pouco processamento e menos uso de químicos como aditivos; processos como 
o fumeiro têm sido alvo de estudos que suspeitam que seja cancerígeno (há 400 
químicos voláteis que não se conseguem controlar e que têm um efeito acumulativo 
no nosso sistema), outros como a irradiação já foram demonstrados como seguros 
e positivos no que toca à eliminação de alguns microrganismos, porém, a maioria 
dos consumidores suspeita destas técnicas. 
 
 
Métodos de preservação começam 
com uma análise completa da cadeia 
onde se encontra o alimento, desde a sua 
plantação, colheita, embalamento e 
distribuição; é importante saber quais as 
características ou propriedades que sã 
necessárias manter para que o produto 
seja viável, sendo que não são lineares 
para todos, uma propriedade pode ser 
positiva para um produto e negativa para 
outro. Por exemplo, o consumidor espera 
que o sumo de maça seja claro, enquanto 
que o de laranja seja turvo. 
 
 
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Depois de algum tempo em armazenamento, as características 
organolépticas dos alimentos vão mudando, consoante o seu tempo de vida útil 
(“consumir de preferência antes de” está relacionado com a qualidade alimentar 
(pode ser consumido depois da data mas poderá não estar nas suas melhores 
condições) vs. “consumir até” está relacionado com a segurança alimentar). Os 
fatores de risco são também diferentes consoante o tipo de consumidor que o 
produto visa atrair, p.e, crianças, mulheres grávidas e idosos são mais vulneráveis e 
podem sofrer consequências graves e fatais. 
Em todos os casos, o fator mais importante é a segurança e só depois a qualidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Causas de deterioração 
 Os alimentos sofrem deterioração mecânica, física, química e microbiológica, 
podendo começar logo desde o ponto inicial como com o manuseio inadequado 
durante a colheita, o processamento e a distribuição, o que leva a uma possível 
redução do tempo de vida útil. Antes da colheita, p.e, frutas e vegetais têm 
mecanismos antimicrobianos que evitam esse tipo de contaminação, porém, após a 
separação da planta podem facilmente sucumbir a uma proliferação microbiana; 
frutas depois de cortadas tendem a ficar castanhas à temperatura ambiente devido 
à reação da enzima fenolase com o oxigénio. 
Técnicas de preservação alimentar 
 Baseados no modo de ação, as técnicas de preservação podem ser 
categorizadas em: 
1. Inibição ou redução do crescimento de contaminantes e de agentes 
químicos – métodos que se encontram relacionados com fatores 
ambientais, p.e controlo da temperatura,
e fatores intrínsecos como 
controlo através do ajuste da aw ou do valor de pH; como a zona de 
perigo para o crescimento microbiano é entre 5 °C e 60 °C, o método 
mais popular é o resfriamento e congelação. 
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2. Inativação direta das bactérias, leveduras, fungos e enzimas – pode ser 
feito através do calor, porém existem problemas com esta técnica, já que 
as características organolépticas dos alimentos mudam e pode haver 
depleção nutricional; pode também ser usado eletrecidade, altas 
pressões, radiação e campos magnéticos. 
3. Redução da contaminação antes e depois do processamento – medidas 
como introdução de embalagens previnem a recontaminação, tendo 3 
funções: controlam as condições ambientais, logo, melhoram o tempo de 
vida útil do produto, parecem mais atraentes aos consumidores por 
estarem mais seguros e não há possibilidade de ser contaminado durante 
o “caminho” até casa; 
Os métodos de preservação variam conforme a origem dos produtos, se 
forem de origem vegetal inclui tratamentos de controlo de atmosfera, como a 
humidade, concentração de certos gases e temperatura logo após a colheita, depois 
tratamentos físicos como pré-resfriamento, limpeza e enceramento, entre outros; já 
nos de origem animal como a carne, a qualidade é condicionada pelas condições de 
abate e stress antes da morte. 
 
A temperatura máxima para o 
crescimento microbiano é mais 60 ᵒC, a zona 
de perigo extende-se desde os 5 ᵒC até aos 
60 ᵒC, na qual as condições são favoráveis 
para o desenvolvimento microbiano, entre os 
5 ᵒ C e os 0 ᵒ C crescem a um ritmo muito lento, 
abaixo disso não conseguem crescer e ficam 
dormentes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Esterilização 
Consiste na completa destruição e eliminação de todos os 
microrganismos tanto na forma vegetativa como na forma esporulada (p.e: Bacillus 
e Clostridium Botulinum) e permite a distribuição dos produtos que passam por isto 
a temperaturas ambientes, ou seja, há uma extensão do tempo útil de vida do 
produto. Envolve procedimentos como o uso de calor, radiação ou químicos ou 
remoção física das células – 4 fases: 
1. Produto é aquecido a temperaturas de 110 ᵒC-125 ᵒC para 
assegurar a esterilização; 
2. Alguns minutos para o produto se equilibrar já que a superfície vai 
estar mais quente que a parte central (reduz o gradiente de 
temperatura); 
3. O produto tem de ser mantido a essa temperatura por um certo 
período de tempo pra assegurar uma esterilazação pré-
determinada F0; 
4. O produto tem de ser arrefecido principalmente para interromper 
o tratamento térmico e evitar o cozimento excessivo. 
Ou seja, acontecem mudanças nas características organolépticas do alimento 
como perda de aminoácidos importantes e alterações a nível de vitaminas que ficam 
inativas devido ao calor, o que são pontos negativos, porém há uma inibição da 
atividade enzimática. É praticamente haver uma esterilização completa pois irá 
sempre levar a uma deterioração da qualidade e dos nutrientes do produto. 
Os principais tipos de bactérias preocupantes na conservação de alimentos 
são os organismos de importância para a saúde pública e bactérias causadoras de 
deterioração. P.e em comidas com pH maior que 4.6 o Clostridium Botulinum é de 
grande importância, não sendo possível eliminar a ameaça a 100%. 
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Quanto às vitaminas, as C e B (hidrossolúveis) são severamente afetadas 
pelo calor excessivo pois, como já foi referido, o calor faz com que haja inativação 
enzimática e de agentes aglutinantes – a vitamina C é a mais suscetível a ser perdida, 
tanto pelo calor como pelo simples armazenamento de produtos, confeção da 
comida, lavagem, etc; a tiamina (B1) é a mais sensível ao calor, especialmente em 
condições alcalinas. 
 
Pasteurização 
Consiste num processo térmico mais suave que melhora a qualidade de 
“manutenção” do produto, funcionando pela inativação enzimática e destruição 
da maioria dos organismos patogénicos, não fazendo grandes alterações a nível 
das propriedades do alimento em si, ou seja, é usada para aumentar o tempo útil de 
vida do produto, porém não vai para além de alguns dias ou semanas a mais. A 
severidade do tratamento depende do pH do produto, acima de 4.5 é para destruir 
bactérias patogénicas e abaixo disso é para destruir microrganismos deteriorantes 
ou inativação de enzimas. 
Em sumos, normalmente com um pH baixo (pH > 4.5), existem enzimas como 
catalases, peroxidases, polifenol oxidase, etc, bem como organismos deteriorantes e 
se não forem desativadas estas enzimas irão causar mudanças indesejáveis, 
especialmente a peroxidase que possui uma resistência maior que os 
microrganismos deteriorantes. 
 
No leite há uma perda de 5% do 
“protein serum” e pequenas mudanças 
quanto ao conteúdo vitamínico. 
 
 
A maioria dos produtos pasteurizados têm um pH natural baixo ou porque já 
é naturalmente assim ou porque o produto foi fermentado de modo a produzir uma 
ambiente ácido, assim, como a maioria dos nutrientes termolábeis (têm pouca 
resistência ao calor) são relativamente estáveis em condições ácidas, perdas nestes 
alimentos são poucas. Apesar das perdas térmicas em produtos aquando da 
pasteurização serem poucas, as perdas oxidativas podem ser altas (negativo 
para frutas e assim). 
 
 
 
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Congelação 
O congelamento de alimentos retarda mas não pára as reações físico-
químicas e bioquímicas que regem a deterioração dos mesmos; aquando do 
armazenamento há mudanças lentas na qualidade organoléptica do produto. A 
qualidade de um produto congelado depende muito da temperatura, do tempo que 
fica lá e do processo de descongelamento (após -18 ᵒC todos os microrganismos 
param de crescer e mudanças enzimáticas e não enzimáticas continuam a um ritmo 
muito menor). Faz também com que 10% a 60% da população microbiana viável 
morra, uma percentagem que vai aumentando durante o tempo de armazenamento. 
Durante o congelamento a matriz do alimento sofre mudanças, apesar de 
lentas, as células sofrem danos osmóticos, danos causados pelo soluto e danos 
estruturais. O que acontece é que se houver tempo suficiente a água presente nas 
células migra para fora devido à pressão osmótica causada pelo gelo, o que causa um 
encolhimento das mesmas e alguns danos a nível da membrana; essa água não volta 
às células quando são descongelados devido ao dano membranar, o que resulta em 
perdas de água. 
Em geral, as bactérias gram negativo são menos resistentes à morte por 
congelamento que as bactérias gram positivo; bactérias esporulantes como o 
Clostridium e o Bacillus não são afetadas por este processo; a Listeria monocytogenes 
também sobrevive bem a baixas temperaturas. 
 
Atividade de água (Aw) 
A atividade de água pode ser 
reduzida ou controlada por várias 
métodos como separação da água ou 
adição de solutos como sal a carnes e 
peixes ou açúcar a frutas, pode ser por 
secagem, “concentration” e 
desidratação por centrifiguração. 
No caso de soluções hipertónicas, as células encolhem, enquanto que em 
soluções hipotónicas elas expandem, assim, uma diminuição de aw no ambiente 
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aumenta o stress osmótico das células microbianas pois o objetivo da célula é 
sempre manter uma osmolalidade interna ligeiramente menor, o que causa um 
influxo de água na célula, sendo que é o rompimento desse processo por solutos que 
levam ao dano
celular e à morte. 
Reações catalisadas por enzimas conseguem prosseguir em alimentos com 
uma aw relativamente baixa, sendo que a taxa de hidrólise aumenta com o aumento 
da aw, com a reação sendo extremamente lenta em aw muito baixa e, para cada valor 
de aw, parece haver um grau máximo de hidrólise que também aumenta com o teor 
de água. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Notas: na aula foi referido a fitase que é uma enzima 
que degrada fitatos (sais de ácido fítico) que têm a 
habilidade de formar quelantes com iões divalentes 
(p.e, cálcio e magnésio), formando complexos 
solúveis resistentes à ação no trato intestinal – 
diminuem a biodisponibilidade desses minerais. 
A desfoforilação do ácido fítico é um pré-requisito 
para a melhoria nutricional já que aumenta a 
biodisponibilidade dos nutrientes, isto faze-se 
através de processos como a demolha e germinação. 
A fitase está presente naturalmente em plantas e 
microrganismos. 
 
 
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Redução de água (fumeiro) 
O fumeiro, ou seja, o uso do fumo de madeiras, é uma das técnicas de 
preservação mais antigas, apesar de não ter sido usado primeiramente para reduzir 
a humidade nos alimentos, o calor associada à geração de fumo causa um efeito de 
secagem. O principal objetivo do fumeiro são os sabores e cores desejáveis, sendo 
que alguns componentes formados durante isso têm um efeito conservante 
(bactericida e antioxidante), sendo que foi descoberto que é eficaz na prevenção 
de oxidação lipídica em carnes e peixes. 
Porém possui várias desvantagens como o facto de ser um processo lento e 
não é fácil de controlar, sendo que mais de 400 compostos voláteis foram já 
identificados como óxidos de azoto, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, 
compostos fenólicos, compostos de alcatrã, etc, sendo que têm efeitos nefastos na 
saúde humano e são acumulativos, especialmente em condições não controladas, 
logo, é importante controlar as condições de processamento e padronizá-las. 
 
pH (fermentação) 
A fermentação consiste no processo em que microrganismos mudam as 
propriedades funcionais e sensoriais de alimentos e prolongam o seu tempo de vida 
útil, juntamente com a salga, cozimento e secagem (inclui fumeiro), esta é uma das 
práticas mais antigas. Como é um método que envolve procedimentos simples e que 
pede equipamentos básicos, tem atualmente mais importância em países em 
desenvolvimento e comunidades rurais. 
É uma mistura de 3 princípios: 
1. Minimizar os níveis de 
contaminação microbiana 
na comida, especialmente 
em fontes de alto risco; 
2. Inibir o crescimento da 
microflora contaminante; 
3. Matar os microrganismos 
contaminantes. 
 
 
 
O princípio básico da fermentação assenta na manipulação dos fatores 
extrínsecos de modo a selecionar o tipo de microrganismos que fornecerão 
certos sabores, odores, textura ou aparência aos alimentos. 
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O uso das ácido lático na indústria alimentar é principalmente como 
conservante, acidulante ou condicionador de massa, a maioria das bactérias do 
ácido lático (LAB), tirando alguns streptococcus, são inofensivas para os humanos, 
ou seja, tornaram-se nos agentes ideias de conservação. Estas bactérias vão ser 
referidas mais à frente em pormenor. 
Bacteriocinas são péptideos bactericidas ou proteínas, geralmente são 
inibidoras para espécies intimamente relacionadas ao produtor – nisina, tactococina 
e pediocina são alguns exemplos de bacteriocinas produzidas pelas LAB. A nisina é 
usada contra bactérias gram-positivas, incluindo o Clostridium botulinum (diminui 
o crescimento dos esporos), especialmente em alimentos processados por calor; não 
faz nada a gram negativas, leveduras ou fungos. 
 
Filtração 
A filtração é usada na indústria alimentar maioritariamente para a 
clarificação de sumos e concentração de sumos e de produtos lácteos; os sumos 
clarificados podem ter maior qualidade e estabilidade, enquanto que bebidas 
concentradas são desejáveis para transporte e armazenamento. As operações 
unitárias usadas vão desde peneiramento até osmose reversa. 
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A escolha da membrana usada na clarificação do sumo depende do tipo de 
sumo e das propriedades desejadas do sumo clarificado, os fatores incluem a sua 
configuração, o material e corte do peso molecular. Já a escolha do material da 
membrana está relacionada com a resistência à pressão do sumo, resistância à 
temperatura, resistência ao pH e compatibilidade química; são também importantes 
a durabilidade e custo, p.e, membranas poliméricas duram pelo menos 1 ano, 
enquanto que membranas cerâmicas duram pelo menos 5 a 7 anos com uso 
contínuo. 
 
Radições ionizantes e não-ionizantes 
A radiação UV é conhecida pelas suas propriedas antibacterianas (incluindo 
luz solar), devido à sua baixa profundidade de penetração é usado principalmente 
para esterilizar ar e filmes finos de líquido, sendo que na indústria é usado em 
superfícies; quando usado em quantidades elevadas tem uma tendência em 
deteriorar o aroma e o sabor dos alimentos antes que a esterilização seja atingida. 
Este tipo de energia tem a vantagem de ser segura, amiga do ambiente e mais 
rentável economicamente. As principais aplicações são a desinfeção, a extensão 
da vida útil do produto e a melhoria da qualidade do produto. 
Há uma desconfiança grande por parte dos consumidores, a maior parte por 
não estarem informados sobre o que realmente, logo, é difícil entrar no mercado 
Notas: o desenvolvimento da membrana Polisulfona Fresenius® 
baseou-se no funcionamento do rim biológico, providenciando um 
vasto leque de desempenhos para todas as terapias de hemodiálise.” 
 
 
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com produtos em que tenham sido usados estes tipos de meios. O 
símbolo universal para produtos que tenham tido algum contacto 
com radiação é este ao lado e é obrigatório estar presente nesses 
produtos. 
A ionização interage com o 
material e ioniza as suas moléculas 
criando iões negativos e positivos 
transferindo energia nos eletrões, 
tendo efeito direto e indireto. A 
radiação usada pode ser Cobalt-60 
(elevado poder de penetração – não 
há um interruptor, tem de ser usada 
com cuidado), feixes de eletrões 
(usados em refrigeração) e raios-x 
(baixa eficiência). 
 
As vantagens deste processo 
de conservação são: 
 Minimização de perdas alimentares – pode reduzir a perda em 
produtos frescos, sendo que as perdas pós-colheita devido à 
infestação de insetos pode ser controlada e minimizada pela 
irradiação de alimentos como grãos, leguminosas, tubérculos e frutas; 
 Melhoramento da saúde pública – muitos alimentos estão 
contaminados por patogénicos e parasitas e a descontaminação 
dessas por irradiação poderá ser uma mais valia para a saúde pública; 
 Aumentar o comércio internacional – muitos produtos são 
descartados no comércio internacional por motivos como infestação 
de insetos, microrganismos ou pelo seu tempo de vida útil; 
 Alternativa para a fumegação de alimentos – vários químicos são 
usados para fumegar alimentos para desinfeção, porém estão em 
declínio devido à sua natureza tóxica e o impacto ambiental; 
 Diminuição do consumo de energia – quando comparado ao gasto 
de energia que é gasto em conservas, refrigeração ou congelados, a 
irradiação gasta muito menos, p.e, a energia gasta para refrigerar um 
frango é de 17,760 kJ/kg,

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