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Relaçoes dialógicas entre Orwel e Engenheiros do hawaí

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UNC-Universidade do contestado/Curso Direito/Disciplina Sociologia.
10
Relações Dialógicas: Da Revolução Russa e de Orwel, aos Engenheiros do Hawaii.
Valdemar Ricardo Pereira, Especialista Educação Ambiental.
Resumo
Dentre os principais fatos e revoluções ocorridos desde os primórdios da história humana, quem sabe todos não tiveram tanta repercussão e sentido de concretude, quanto os originados a partir dos pensamentos do Filósofo e Economista alemão karl Max, no final do século XIX. Deram origem a uma nova forma da sociedade entender sua historicidade e principalmente, como a evolução dessa história se dá de maneira Histórico Dialética, tendo como vetor de projeção, sempre a luta entre classes dominantes e dominadas. Esse pensamento se converteu em Doutrina, uma possibilidade real de se acabar com as desigualdades entre os homens. Muitos intelectuais engajaram-se nessa luta, dentre eles destacam-se Vladimir Ilitch Lenin, que no inicio do século XX, implanta a primeira República Socialista da história. Cabe ainda salientar, que essa implantação não bastou para o êxito dos ideais socialistas, como é bem colocado “ideal”, é muito distante do real. Com a morte de Lenin, o que deveria ser o inicio da Revolução Comunista no mundo, transforma a Rússia, numa terrível ditadura Stalinista, a URSS. Muitos intelectuais, que viam no comunismo uma saída, para que o homem evoluísse ao “Cidadão consciente de si” e fosse alcançada a sociedade “ideal”, proposta no “Manifesto do Partido comunista”, de Marx e Eggels. Decepcionaram-se com os acontecimentos na URSS, dentre eles podemos citar George Orwel, que em seu “Animal Farm” faz denuncia direta da ditadura Stalinista, travestida de um socialismo arraigado em bases doutrinárias Marxistas. Obra essa tão famosa, que até os dias de hoje merece atenção em obras literárias, musicais e cinematográficas, dialogando com esses textos, como é o caso da música Ninguém=Ninguém dos Engenheiros do Hawaii, diálogo esse tratado nesse texto.
Palavras Chaves: Socialismo; Comunismo; Ditadura; Artes; Dialogismo.
Abstract
Among the main events and revolutions that have occurred since the beginning of human history, all of them maybe did not have as much impact and sense of concreteness, as those originating from the thoughts of the German philosopher and economist Karl Max, in the late nineteenth century. Gave rise to a new form of society to understand their history and especially how the evolution of this story takes place in a manner Historical Dialectic, with the vector projection, where the struggle between dominant and dominated classes. This thought became a doctrine, a real possibility of ending inequalities among men. Many intellectuals have engaged in this fight, among them stand Vladimir Ilyich Lenin, who in the early twentieth century, deploys the first socialist republic in history. It must be emphasized that this deployment was not enough for the success of the socialist ideal, as is well-placed "ideal", is far from real. With the death of Lenin what should be the beginning of the Communist revolution in the world, transforming Russia into a terrible Stalinist dictatorship, the URRSS. Many intellectuals who saw in communism a way, that man evolved to "Citizen conscious of himself" was reached and the "ideal" society, proposed the "Manifesto of the Communist Party," Marx and Eggels. Were disappointed with the events in the USSR, among them we can mention George Orwell, who in his "Animal Farm" makes direct denunciation of Stalinist dictatorship, disguised as an ingrained socialism in Marxist doctrinal bases. This work so famous, that even today deserves attention in literary, musical and cinematographic works, a dialogue with these texts, with is case as music Nobody= Nobody of Engineers of Hawaii, treated in this text.
Keywords: Socialism; Communism; Dictatorship; Arts; Dialogism.
Introdução
As iniciativas para transformação social inundaram o mundo na segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX, tendo em sua gênese sempre a luta contra uma classe dominante perversa, a defesa das classes oprimidas (em sua maioria dos proletariados), e ideais de liberdade e igualdade. Muitos foram os teóricos e estudiosos engajados nessa contenda, dos quais podemos citar Karl Marx e Friedrich Engels, em suas teorizações sobre capitalismo, uma alternativa comunista para igualdade social no final do século XIX e seus contemporâneos da primeira metade do século XX como Louis de Altusser, e Michel Foulcalt.
Essas teorias e sistematizações diversas criaram uma vontade de consumação, de prática, em estudiosos e intelectuais da época, que influenciaram-se nas obras de Karl Marx por exemplo, que será objeto mais frequente da nossa posterior analise. Nesse contexto conturbado, do inicio do século XX, onde as desigualdades socioeconômicas eram gritantes, por todo o mundo, esses ideias Marxista ganharam força prática em muitos Países, dentre esses a Rússia.
No inicio do século XX, a Rússia ainda era um país essencialmente agrícola, com um regime e governo Monárquico, seu líder o Czar, Comandava o país num sistema muito similar ao Feudal medieval. Pensadores Russos como Vladimir Ilitch Lenin e Leon Trotsky iniciaram um levante contra esse sistema opressor, sendo perseguidos e exilados pela monarquia Russa. Conseguindo promover a Revolução Proletária mesmo fora do país e voltando logo após como heróis.
Com esse retorno triunfante, tendo o povo ao lado e ansioso por mudanças, iniciaram uma rápida transformação administrativa, que após a perseguição e morte da família real, pelo partido Bolchevique, iniciou uma reforma politico- administrativa com bases solidas nos ideais Marxistas. Tomando por base as ideias centrais dessa doutrina, Lenin como líder da revolução, implantou a primeira Republica Socialista do mundo a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Sistema esse, que segundo a doutrina Marxista, nada mais seria que um ensaio para a implantação total do Comunismo, onde todos seriam iguais, tendo como base o cidadão consciente de si, onde por se autogovernar e autopoliciar seria inexistente a presença de forças governantes e repressoras.
Com o inicio dessa fase, o Socialismo, o Estado Soviético centraliza todo meio de produção, poder administrativo, repressor e de educação nas mãos de um pequeno grupo, que governaria o país. Entendendo que até que conseguisse o povo desenvolver-se ao estado de cidadão consciente de si, o Estado deveria distribuir os recursos de maneira igual a todos.
Com a morte repentina de Lenin em 21 de janeiro de 1924, em Gorki Leninskiye, Rússia, Josef Stalin, membro do partido, toma o poder e desenvolve na URSS uma perseguição a todos seus camaradas de revolução, visando acabar com qualquer oposição ao seu regime e constitui não um socialismo, mas sim um regime que ficou conhecido como Ditadura Stalinista, que durou até a sua morte em 5 de março de 1953.
Esses fatos, que deturparam os ideais a que se propunha a Revolução Russa de 1917, levaram a criticas de intelectuais e pensadores da época, dentre eles destacamos a Figura do Inglês Eric Arthur Blair, mais conhecido pelo pseudônimo George Orwel, que pública dentre outros livros, criticas a sistemas ditatoriais, “A revolução dos bichos” (Animal Farm), publicado no Reino Unido em 17 de agosto de 1945 e apontado pela revista americana Time, entre os cem melhores da língua inglesa. Uma alegoria perfeita a situação vivida na URSS, quem sabe por utilizar animais personificados de personalidades humanas poderia ser considerada por literatos como uma fábula fantástica. Esse romance cria a frase das máximas mais conhecidas pelos intelectuais da época: “...Todos os animais são iguais, mas uns animais são mais iguais que os outros...” (Orwel, pág, 135)
Esse pensamento embasou muitas lutas contra esses sistemas, que pregavam a igualdade entre as classes, mas eram por assim dizer: Lobos em pele de cordeiros, pois arrebanhavam as multidões e as enganavam com promessas de igualdade, paraposteriormente envolve-las e prendê-las a Ditaduras cruéis, muitas vezes piores que o antigo sistema que combateram e derrubaram. 
Como no mundo, os discursos não são criados, mas como diria Mikhail Mikhailovich Bakhtin (17 de novembro de 1895, Oriol - 06 de março de 1975 , Moscou), em seu trabalho sócio interacionista, são por assim dizer: Apropriação de ouros discursos. O que remete, a um contexto de dialogo entre textos e discursos diversos, essa ideia central do livro de Orwel, poderá ser encontrada em diversos outros textos posteriores a ele. Estabelecendo esse dialogismo com o texto, autor inglês, apresenta-se a letra da música da banda brasileira Engenheiros do Hawaii, Ninguém= Ninguém, que será trabalhada e relacionada com os fatos concernentes aos da historicidade da revolução Russa de 1917 e com o texto já citado: A revolução dos Bichos.
Revolução Russa 1917
A revolução Russa de 1917 deu origem à formação da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), onde o partido Bolchevique, que se opunha a oligarquia representada pelo partido Melchevique e o Czar Nicolau II, converteu-se em Partido comunista. Podemos ainda identificar três fases distintas dentro da Revolução Russa, Revolução Branca, Revolução Vermelha e Guerra Civil.
Naquela que foi chamada de Revolução Branca (fevereiro-1917) foram disseminadas ideias capitalistas e o governo foi controlado pelos “brancos”, nome dado aos não bolcheviques. O Czar foi deposto e um governo provisório foi formado, por políticos liberais. Nesse governo podemos destacar as seguintes medidas: Redução da jornada de trabalho para oito horas diárias, anistia aos exilados, garantia do direito de expressão. O governo provisório, porém, não resolveu as crises enfrentadas pelo país e não retirou os soldados da Primeira Guerra Mundial. Beneficiado pela anistia, Lenin, líder revolucionário antes exilado, regressou à Rússia e passou a liderar a oposição (bolcheviques) ao governo provisório.
 A segunda fase se deu pela chamada Revolução Vermelha (outubro-1917), onde ao contrário da fase anterior se disseminaram ideias socialistas. Com o apoio das forças armadas, os bolcheviques tomaram o poder. Nesse governo podemos destacar as seguintes medidas adotadas: Pedido de paz imediata: retirada da Rússia da 1ª Guerra. Confisco de propriedade privada: divisão das terras por igual; Estatização da economia: nacionalização de empresas (bancos, fábricas).
Todo esse contexto eclodiu em conflitos violentos dando origem a uma guerra civil, o governo bolchevique manteve-se no poder. Em 1918 o partido antes denominado como Bolchevique passa a se chamar Partido Comunista e se consolidam no poder. Após a instauração definitiva do socialismo na Rússia, os países capitalistas se afastaram do país para que o crescimento do socialismo fosse impedido. 
Adoção da NEP (Nova Politica Econômica), foi a saída encontrada após a guerra civil, com a economia Russa arrasada, o governo de Lenin decidiu, então, adotar medidas de caráter liberal (capitalista) como, por exemplo, a liberdade de comércio interno e de salários, criação de empresas privadas e empréstimos estrangeiros. Ainda assim, o governo socialista predominava, gerenciando o sistema bancário e as indústrias de base. O que também marca esse período novo da história russa foi que o governo não admitia qualquer tipo de oposição e tornou-se o único partido existente em todo o país. Iniciando em 1922 a criação da URSS (União das Republicas Socialistas Soviéticas) popularmente conhecida como União Soviética.
Após o falecimento de Lenin, Stalin, por meios um tanto duvidosos, assumiu o poder. Stalin abandonou a NEP, renacionalizando a economia. Por meio de estatização da economia, Stalin promoveu os seguintes pontos à Rússia: Desenvolveu a indústria de base, explorando as reservas minerais do país; Mecanizou a agricultura; Desenvolveu a educação pública, com o ensino obrigatório e gratuito, erradicando o analfabetismo. É claro que nem tudo foi bom, pois nenhum o governo é perfeito. O lado perverso desse governo foi à sangrenta ditadura que perseguiu cruelmente as oposições políticas.
Segundo o que é relatado historicamente, Stalin, após a morte de Lenin, perseguiu os membros do próprio partido, assassinando muitos deles dentro da URSS. Acabou em definitivo com a oposição a sua ditadura com o assassinato de Leon Trotsky em 21 de agosto de 1940, um dos principais pensadores da Revolução Russa, no seu exilio no México. O governo de Stalin acaba somente com sua morte em 13 de janeiro de 1953.
Revolução dos Bichos (Animal Farm)
George Orwell nasceu em Motihari, em 25 de Junho de 1903 e faleceu em Londres, em 21 de janeiro de 1950. Foi um importante escritor e jornalista Inglês, anarquista, que denunciou em seu “Animal Farm” (Revolução dos Bichos), de 1944, a diferença do Socialismo Democrático em que acreditava e o Socialismo Real implantado na Rússia a partir de 1917.
Esse livro retrata aspectos pitorescos da revolução socialista Russa, pois faz em seu texto uma critica direta a implantação de um regime, que se fez em princípios de igualdade e liberdade e se tornou uma ditadura terrível, sendo mais opressora do que o regime a que se revoltou. Onde revolucionários se confundem com os próprios opressores anteriormente combatidos.
A narrativa acontece em uma granja inglesa, do Solar, tendo como proprietário o senhor Jones (lideres capitalistas), onde pelas más condições oferecidas aos animais, três porcos, liderados pelo velho Major (ideais marxistas, ou o Próprio Lenin), criam ideais para uma revolução. Com a morte do Velho major, três dias após a primeira reunião, fortalecem seus ideais de revolução, conseguindo apoio dos outros animais da granja tomam por fim o poder e são criados os sete mandamentos do animalismo:
1º Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.
2º Qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo.
3º Nenhum animal usará roupas.
4º Nenhum animal dormirá em cama.
5º Nenhum animal beberá álcool.
6º Nenhum animal matará outro animal.
7º Todos os animais são iguais. (Orwell, pag27) 
Com a morte do velho Major, aqui nessa sátira comparada aos ideais Marxistas e a Lenin, Bola de neve comanda os animais, criando um sistema cooperativo, onde todos plantam, colhem, são educados, todas as decisões são tomadas coletivamente. Chegando perto dos ideais então sonhados pelo velho major. Nesse contexto, Bola de Neve pode ser comparado por vezes ao próprio Trotski.
No entanto, o porco chamado Napoleão (Comparação feita a Stalin) sempre entra em conflito com Bola de Neve, tentando sempre destituí-lo, para alcançar seu intento faz uma aliança secreta com os cachorros (Polícia secreta KGB) e utiliza o porco Garganta (Departamento de imprensa e propaganda Stalinista) para difundir sua imagem e seus ideais, sendo que os animais eram analfabetos, com isso consegue exilar Bola de Neve e tomar o poder, criando uma oligarquia dos porcos e modificando os sete mandamentos iniciais, os transformando em apenas seis:
1º Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.
2º Qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo.
3º Nenhum animal usará roupas.
4º Nenhum animal dormirá em cama com lençol.
5º Nenhum animal beberá álcool em excesso.
6º Nenhum animal matará outro animal sem justo motivo. ( Orwel, pág.48)
Assim, Napoleão e os porcos passam a viver na casa, antes pertencente ao senhor Jones, justificando que precisavam de um lugar tranquilo para trabalhar e que dormiam nas camas, pois essas se comparavam a montes de feno, dizendo ainda, que a proibição não era contra camas e sim contra os lençóis que eram uma invenção humana. Em mesmo tempo que Napoleão culpa Bola de Neve pela destruição do moinho de vento, em construção, e decreta pena de morte ao mesmo. Punindo e executando animais que segundo ele eram espiões e colaboradores de Bola de Neve.
Também o cavalo Sansão (representando os trabalhadores soviéticos), que sempre chagava a conclusão“Napoleão tem sempre razão” e trabalhava mais para ajudar o líder, no final da trama é vendido ao abate. Ainda o corvo Moisés inicialmente expulso, volta para a granja quando Napoleão percebe que seria benéfico, para o controle dos animais, instituir uma religião, baseada no mito dos morros de açúcar (terra prometida após a morte), que contava Moises. Dos mandamentos instituídos inicialmente restará somente a conhecida frase: “Todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais que os outros”. (Orwell, pag135.)
Esses animais representam a população Russa da época, formada de uma classe operaria, carente socialmente, que se entrega a um líder ambicioso e inescrupuloso. Em linhas gerais, se tornaram reféns de sua própria revolução. Destaca a transformação de revolucionários em tiranos, se igualando aqueles que combatiam, como percebido no trecho final da obra:
Doze vozes gritavam cheias de ódio e eram todas iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera a fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; Mas já se tornara impossível distinguir quem era homem quem era porco. ( Orwell, pag. 143)
Ninguém=Ninguém. Engenheiros do Hawaii. Composição: Humberto Gessinger, 1989.
Há tantos quadros na parede
Há tantas formas de se ver o mesmo quadro 
Trabalha uma alternativa, sendo que existem tantos quadros na parede, ou seja, tantos atores no fato social, diversidade de pessoas. Existe também a possibilidade do perspectivismo, como fica claro, diversas maneiras de se ver o mesmo quadro, ou fato. Trabalha então as possibilidades de analise que muitos dentro do seu ambiente não exploram e veem pelos olhos dos outros, enxergam verdades absolutas, seja por falta de educação, cultura ou coragem.
Há tanta gente pelas ruas
Há tantas ruas e nenhuma é igual a outra
Fica explicita uma simbologia para a diversidade de caminhos, de opções, que todos podemos escolher, basta vislumbrarmos as opções que estão ali à frente dos olhos. Trabalha incansavelmente nessa música as questões de livre escolha, livre pensamento e liberdade em seu contexto geral.
Ninguém = ninguém
Me encanta que tanta gente sinta
(se é que sente) a mesma indiferença
Todo decorrer da música se posicionará a respeito das coisas que todos fazem, das decisões de massa, tendo a visão de que se é único, individualista, por não importar-se com o outro, sem perceber que todos tem a mesma posição em relação a todos, indiferença, que perturba, incomoda. Que é tão marcante, que Gessinger ainda reforça, semanticamente e foneticamente com a aliteração: SINta (SE é que SENte). Afinal, já que é indiferença, provavelmente as pessoas nem sintam mesmo.
Há tantos quadros na parede
Há tantas formas de se ver o mesmo quadro
Há palavras que nunca são ditas
Há muitas vozes repetindo a mesma frase:
Necessidade de pensar, dizer coisas diferentes, imaginar uma nova situação para os quadros já massificados. Abandonar os discursos já prontos, impostos, que regurgitamos, de maneira automática e repetitiva, sem saber o porquê fazemos. Executando tal um trabalhador a moda da revolução industrial, coisas automáticas, sem ter visão do todo que nos envolve.
Ninguém = ninguém
Me espanta que tanta gente minta
(descaradamente) a mesma mentira
Mesma jogada do quadro anterior. Aqui a ênfase se dá através de MINta descaradaMENte a MEsma MENtira. Não há pudor em mentir. O cenário narrado é triste: as pessoas são indiferentes e mentirosas: se escondem na diferença, pois "ninguém = ninguém"...
São todos iguais
E tão desiguais
uns mais iguais que os outros
Além da citação (fantástica, no contexto) de Orwell, as palavras formam como um jogo de espelhos: São iguais, porém desiguais - porque no fim das contas uns são MAIS iguais que os outros. Se uns são mais, outros são MENOS iguais - ou mais diferentes. Privilégio? Superioridade? O que é ser "diferente" num mundo onde a indiferença e a mentira reinam? Eles são exceção ou causa deste mundo podre? 
Há pouca água e muita sede
Uma represa, um apartheid 
Trabalha diversos contextos, onde fica clara a separação entre classes, e a falta de recursos para todos, privilegiando poucos, como é mostrado em outros trechos da letra.
Ou ainda o fato de haver POUCA água e MUITA sede (o contraste que reforça as imagens) é realçado pelo jogo de imagens: tanto a represa quanto o apartheid servem para SEPARAR - água ou pessoas. (a vida seca, os olhos úmidos) E já que se fala da represa, nada como citar o romance de Graciliano Ramos (Vidas Secas) como fonte de tristeza, que umedece os olhos - o que umedece os olhos numa vida seca, a não ser as lágrimas de tristeza? Tristeza esta EXATAMENTE por viver essa vida seca – de sentido, de alimento e de esperança. Este mundo indiferente e mentiroso produz este tipo de coisa.
Entre duas pessoas
Entre quatro paredes
Tudo fica claro
Ninguém fica indiferente
"Entre duas pessoas" e "entre quatro paredes" indicam situações que nos envolvem diretamente. E este é o único caso onde "ninguém fica indiferente". O que se pode inferir: as pessoas só se sensibilizam quando o problema é com elas. Ou seja: sentem "indiferença", "mentem descaradamente" - mas não ficam indiferentes "entre duas pessoas" ou "entre quatro paredes". Aí "tudo fica claro". 
Fazendo uma indicação de como se resolve, o problema da indiferença social, com proximidade com capacidade de tratar o outro da mesma forma que se trata os mais próximos, que convivem entre quatro paredes.
Ninguém = ninguém
Me assusta que justamente agora
Todo mundo (tanta gente)
tenha ido embora
"justamente agora", quando o autor chega a ponto de cantar o egoísmo das pessoas em alto e bom som, de esfregar na cara das pessoas essa crise de valores... "todo mundo (tanta gente)" foi embora!
O que me encanta é que tanta gente
Sinta (se é que sente) ou
Minta (desesperadamente)
Da mesma forma
É realmente encantador que um grande número de pessoas caia nesta armadilha de hipocrisia e egoísmo, e se negue a encarar os fatos - "da mesma forma", condicionados que são a viver sem questionar. E quando confrontados, "vão embora". Como o menino que leva a bola embora, por não ter sido escolhido para o time principal. O engraçado é que a letra começa com uma abordagem e viaja para outra bem diferente, se é proposital, ou não, não sei dizer - não a escrevi. Claro, uma análise é, antes de tudo, uma opinião - ou ainda: uma interpretação. O próprio autor pode negar cada palavra do que disse aqui, ainda que isso provavelmente não altere nada do que escrevi. 
Dialogo entre literatura, música e história.
A música analisada anteriormente trabalha muitas questões relacionadas a temáticas sócio históricas, passadas, ou até mesmo atuais. Hoje ainda vivemos num mundo dividido por classes sociais distintas, com falta de recursos para a maioria, com falsos messias, que trasvestidos de salvadores do povo se transformam em tiranos terríveis, agindo de maneiras piores do que aquelas que diziam combater. Por essa afirmação conclui-se, que mudam os tempos, os atores, mas os papéis são os mesmos, sendo possível a contextualização de obras antigas em tempos modernos, de diálogos entre fatos e obras de tempos diferentes.
Far-se-á aqui uma conexão menos abrangente optando por relacionar a música Ninguém=ninguém, ao texto de George Orwell, “Animal Farm” e os fatos históricos que compuseram o emaranhado da Revolução Russa de 1917.
Questão entre os personagens do texto de Orwell e os personagens e instituições, que figuraram a Revolução Russa. Onde se indica na figura do Velho porco Major, os ideais Marxistas e o próprio Lenin. Já Bola de Neve simboliza Trotesky, Napoleão ao Próprio Stalin, os cães a KGB (Polícia secreta Soviética), O porco Garganta (Departamento de propaganda Stalinista), as Ovelhas, os partidários que repetiam sem menor analise, mecanicamente o que era repassado pelos porcos. Os cavalos, principalmente Sansão, trabalhadorescrédulos que mantinham o sistema, sempre repetindo a mesma frase:
 “Napoleão tem sempre razão.”, 
Que pode ser equiparada ao trecho de Guessinger:
Há palavras que nunca são ditas
Há muitas vozes repetindo a mesma frase:
Como pode ser analisado nesse contexto, Sansão é tido como inimigo quando questiona a provável traição de Bola de Neve. Assim percebe-se a relação, onde ele era bom enquanto repetia as mesmas coisas automáticas. Quando faz um simples questionamento, sai do discurso cômodo e imposto é tido como inimigo e só não é executado com os outros animais da Granja, por que é forte demais para os cães (como a classe trabalhadora, ou o povo, que não conhece a própria força), fato esse que Napoleão resolve vendendo o cavalo para o abate.
Me espanta que tanta gente minta
(descaradamente) a mesma mentira
Nesse trecho, em que é mencionado mentiras, pode-se fazer comparação direta com os trechos em que Garganta mente aos animais, fazendo com que eles acreditem no que é propicio aos intuitos dos porcos. Assim, como acontecia no regime Stalinista, em que seu departamento de propaganda, exaltava a alto Imagem de Stalin e contava suas verdades. Esse departamento foi responsável por justificar a morte de muitos trabalhadores de fome, quando Stalin vendia a produção agrícola do país com intuito de industrializar URSS.
São todos iguais
E tão desiguais
uns mais iguais que os outros
Esse um dos trechos com mais encontros com a obra de Orwell, pois faz uma citação direta daquilo que resta dos sete mandamentos do Animalismo:
Todos os animais são iguais, mas uns são mais alguns animais são mais iguais que os outros. (Orwell, pag.135)
Apontamos nos dois trechos o dialogo propriamente estabelecido pelas obras, onde na letra de Guessinger fica clara a antítese “São todos iguais e tão desiguais.” O que fica implícito no trecho de Orwell, sendo que: ...todos os animais são iguais, mas uns animais mais iguais que os outros..., implica em diferença, logo em desigualdade, que esta presente no texto inteiro. Esse fator de desigualdade acompanha a história da tentativa do socialismo no mundo, onde em regimes como o da URSS e Cuba, fica evidente que o ideal socialista de igualdade se transforma no que demonstrou a sátira de Orwell, Uma oligarquia, que tem o poder e vive como nobreza, enquanto o restante da população se consome em trabalhos forçados e falta de recursos, a grosso modo, todos tem farinha e água para alimentar-se, feno para dormir, mas a classe governante tem caviar, champanhe e dorme em lençóis de seda, essa é igualdade que se alcançou com os regimes socialistas pelo mundo.
Doze vozes gritavam cheias de ódio e eram todas iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera a fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; Mas já se tornara impossível distinguir quem era homem quem era porco. (Orwell, pag. 143)
Finalizar com o ultimo trecho do livro, onde se encontram diversos pontos dessa analise. A primeira delas é a mais evidente da temática, já que tudo se inicia em ideias Marxistas, onde a luta de classes é essencial para o desenrolar da história e de como quem combate uma classe que domina, num processo dialético, se tornará uma mescla dessa classe dominante e da classe que representa. Caso dos porcos, que se confundiam com os humanos, por que adotaram posturas humanas, inclusive se diferenciando dos seus iguais. Assim como o acontecido na Revolução Russa de 1917, onde Stalin perseguiu, mentiu e assassinou seus camaradas de revolução. Transformando-se de oprimido em opressor.
REFÊRENCIAS: 
Pipes, Richard Bestbolso. História Concisa da Revolução Russa. São paulo: Saraiva, 2009.
Orwell, George. A Revolução dos Bichos. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
Bakhtin, Mikhail Mikhailovich. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec, 2009
Gessinger, Humberto. Ninguém=Ninguém. São Paulo: BMG, 1989.
Halas,	 John; Batchelor, Joy. Animals Farm (filme). Reino Unido: 1954.
Taymor, Julie. Frida (filme). EUA: MGM, 2002.
Ivan, Passer. Stalim (filme). EUA: HBO, 1992.
Valdemar Ricardo Pereira, Especialista Educação ambiental

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