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Roteiro de estudos TSP NP2

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UNIVERSIDADE​ ​PAULISTA 
 
DIOGO​ ​RIBEIRO​ ​ALVES 
SARA​ ​ANDRADE​ ​GUILIZINI 
TAIS​ ​VIANNA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIAS​ ​E​ ​SISTEMAS​ ​PSICOLOGIA: 
O​ ​Humanismo ​ ​Americano,​ ​o​ ​Existencialismo​ ​Europeu​ ​e​ ​a​ ​Psicologia​ ​Sócio-Histórica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAMPINAS 
2017 
O​ ​HUMANISMO​ ​AMERICANO 
1. O termo “humanismo passou por diversas mudanças de significado ao longo da história 
da sociedade”. Explique o sentido do termo em questão em cada um dos períodos 
históricos​ ​relacionados​ ​abaixo: 
a) Grécia antiga: O movimento humanista iniciou-se na Grécia com os sofistas que viram a 
necessidade de educar os indivíduos para a democracia que iria nascer. Um dos 
primórdios a iniciar esse pensamento na Grécia antiga foi Protágoras que diz que o humano 
é a medida de todas as coisas, porque para ele não existe verdade e não existe falsidade, o 
que​ ​determina​ ​isso​ ​é​ ​a​ ​percepção​ ​do​ ​indivíduo. 
b) Idade Média: Nesse contexto o termo humanismo se se manifesta a partir de uma 
natureza cristã, onde o homem é visto como um ser divino e sua semelhança com Deus é 
comparada. Todo o valor do homem teria como base em sua semelhança com o divino, 
desconsiderado​ ​outras​ ​explicações. 
c) Renascimento: No renascimento o homem saiu de um teocentrismo onde Deus era o 
centro de todas as coisas e passou para um antropocentrismo onde, o homem passa a ser 
o centro das atenções, fundamentando que o conhecimento não surge do divino, mas 
considerando o indivíduo como um ser livre para tomar suas próprias decisões, um ser 
cheio​ ​de​ ​possibilidades. 
d) Iluminismo: Foi um período onde a razão e a ciência estavam ganhando mais valor na 
sociedade. A capacidade do uso da razão passava a ser mais valorizada, considerando que 
o homem teria poder de conhecer tudo, inclusive sua própria consciência. Para Sartre o 
homem​ ​que​ ​se​ ​a​ ​nega​ ​usar​ ​a​ ​razão,​ ​perde​ ​sua​ ​humanidade. 
e) Modernidade: O homem passou a ser visto de um ponto de vista individualista, no sentido 
em que passou a ser valorizado “suas habilidades”. Para Kant o homem seria um ser 
autônomo, apesar de algumas limitações no seu conhecimento, pois para ele não 
conhecemos a realidade em si, mas sim fazemos uma representação da mesma. O 
indivíduo não seria determinado pela história e nem pela natureza, mas um ser capaz de 
construir​ ​suas​ ​próprias​ ​leis​ ​e​ ​refletir​ ​sobre​ ​seus​ ​atos​ ​na​ ​sociedade. 
 
2. Explique a relação existente entre a Declaração Universal dos Direitos do Homem, 
promulgada pela Organização das Nações Unidas em 1948, no desenvolvimento do 
Movimento​ ​Humanista. 
O humanismo surgiu como um movimento que visa à valorização do homem, sendo um ser 
autônomo, consciente de si e de seus atos. A ONU representou a aceitação do humanismo 
jurídico, onde o homem visto como um ser consciente deve ser responsabilizado por seus 
atos. Sendo que podemos relacionar que, o indivíduo não seria condicionado a uma 
natureza biológica ou histórica, mas sim de uma reflexão de seus atos perante a sociedade 
que​ ​vive. 
3. Abraham Maslow é reconhecido como um dos principais autores do movimento 
humanista norte-americano. Explique qual foi o papel deste autor no desenvolvimento e na 
articulação​ ​deste​ ​movimento. 
Maslow teve uma grande importância no movimento humanista, pois criticou o determinismo 
que havia com a psicanálise e o behaviorismo, entrando então no movimento humanista 
que foi uma nova forma de pensar sobre a saúde mental do indivíduo. Para Maslow todo 
indivíduo tem a capacidade de se auto desenvolver e desenvolver habilidades, tornando 
possível​ ​ser​ ​um​ ​ser​ ​pleno​ ​e​ ​autorrealizado​ ​que​ ​desenvolve​ ​todo​ ​seu​ ​potencial. 
4.​ ​Explique​ ​a​ ​hierarquia​ ​das​ ​necessidades​ ​institóides​ ​proposta​ ​por​ ​Maslow: 
Para Maslow todo o indivíduo tem uma hierarquia com cinco necessidades a serem 
organizadas por ordem de importância, para que o indivíduo atinja o seu ápice de 
autorrealizar-se, são elas a necessidade fisiológica, segurança, pertencimento, estima e 
autorrealização. A base dessa pirâmide estaria às necessidades fisiológicas do indivíduo, 
como busca por água e alimento, quando essas necessidades são primeiramente atendidas 
o indivíduo pode satisfazer as demais. A necessidade de segurança, segundo Maslow é o 
homem se sentir seguro no ambiente, livre de qualquer ameaça tanto a sua sobrevivência 
quanto​ ​as​ ​pessoas​ ​que​ ​o​ ​indivíduo​ ​tem​ ​relação. 
Necessidade de pertencimento, onde o ser quer se sentir parte de um grupo, enfatizando 
suas relações pessoais com outras pessoas, porque o homem tem a necessidade de 
interagir e se relacionar com o outro. A estima, onde fatores internos estão envolvidos como 
a autoestima e realização dos próprios desejos, e fatores externos como querer o 
reconhecimento do outro e respeito sobre suas ações. A base da pirâmide é a 
autorrealização do indivíduo, onde está o desenvolvimento individual que cada ser pode 
atingir seu potencial. Segundo Maslow, o indivíduo para chegar ao topo da pirâmide teria 
que passar cada nível dessas necessidades, só assim conseguiria atingir o topo. Entretanto, 
caso o homem chegue ao topo da pirâmide, e suas necessidades básicas como a fisiológica 
e segurança não estejam atendidas o indivíduo volta novamente a base da pirâmide até que 
essas​ ​necessidades​ ​sejam​ ​satisfeitas. 
 
5. Porque segundo Maslow, uma pessoa que ainda não conseguiu satisfazer os níveis mais 
básicos​ ​de​ ​suas​ ​necessidades​ ​possivelmente​ ​não​ ​alcançará​ ​a​ ​autorrealização? 
 
Porque primeiro é necessário satisfazer as necessidades mais inferiores na hierarquia inata 
e cada uma delas deve ser satisfeita antes que a próxima nos motive. Maslow acreditava 
que os pré-requisitos para a autorrealização eram o amor suficiente na infância e a 
satisfação das necessidades fisiológicas e de segurança nos primeiros 2 anos de vida, se a 
criança for segura e confiante nesse período assim o será na vida adulta; sem o amor a 
estabilidade o respeito por parte dos pais, será difícil o indivíduo na vida adulta atingir a 
autorrealização. 
 
6.​ ​Quais​ ​são​ ​as​ ​críticas​ ​feitas​ ​por​ ​Rogers​ ​ao​ ​poder​ ​do​ ​terapeuta​ ​? 
 
Ao colocar a responsabilidade pela melhora na pessoa ou no paciente e não no terapeuta, 
Rogers assumia que as pessoas seriam capazes, conscientes e racionalmente, de mudar 
os próprios pensamentos e comportamentos do indesejável para o desejável; ele não 
acreditava no indivíduo permanentemente reprimido por forças inconscientes ou 
experiências de infância, a personalidade é moldada pelo presente e pela maneira que o 
indivíduo​ ​percebe​ ​as​ ​circunstâncias. 
 
7.​ ​O​ ​que​ ​Rogers​ ​compreende​ ​como​ ​auto-atualização? 
 
Rogers sugere que em cada um de nós há um impulso inerente em direção a sermos 
competentes e capazes, quanto o que estamos aptos a ser biologicamente, assim como 
uma planta tenta tornar-sesaudável, como uma semente contém dentro de si impulso para 
se tornar uma árvore, também uma pessoa é impelida a se tornar uma pessoa total, 
completa e auto-atualizada. Rogers concordou com os outros autores e afirmou a liberdade 
essencial do indivíduo em face de qualquer forma de determinação seja social, biológica ou 
histórica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8.​ ​Para​ ​Rogers​ ​quais​ ​são​ ​as​ ​premissas​ ​para​ ​o​ ​trabalho​ ​do​ ​psicólogo​ ​? 
 
Rogers propõe uma forma de psicoterapia que, atualmente pela sua amplitude, é chamada 
de abordagem centrada na pessoa, na pessoa na qual dá relevo a autonomia de pessoa e 
não ao papel do psicoterapeuta. Além da psicoterapia, ela abrange também o ensino, o 
“ensino centrado no aluno”; o trabalho com organizações, usando o “grupo de encontro”; e o 
trabalho com comunidades, usando o que ficou convencionado chamar de “grupão” – 
grupos de encontro com mais de cem ou duzentas pessoas, como já foram realizados aqui 
no​ ​Brasil. 
 
FENOMENOLOGIA​ ​EXISTENCIAL 
 
9. Husserl Faz uma severa crítica às ciências europeias do século XIX. Explique como o 
contexto histórico da Alemanha do século XVIII influenciou o desenvolvimentos das ciências 
criticadas​ ​por​ ​Husserl. 
 
O pensamento de EDMUND HUSSERL (1859-1938) deu origem a uma das mais férteis 
correntes​ ​da​ ​filosofia​ ​moderna,​ ​a​ ​fenomenologia.​ ​Essa​ ​corrente​ ​influenciou​ ​decisivamente 
o​ ​movimento​ ​filosófico​ ​e​ ​cultural​ ​que​ ​se​ ​propagou​ ​na​ ​Europa​ ​após​ ​o​ ​fim​ ​da​ ​Segunda 
Guerra​ ​Mundial,​ ​conhecido​ ​como​ ​existencialismo. 
Fenomenologia e existencialismo, em suas convergências, tensões e entrecruzamentos, 
constituem​ ​juntos​ ​uma​ ​das​ ​importantes​ ​matrizes​ ​filosóficas​ ​das​ ​psicologias​ ​do​ ​século​ ​XX. 
 
A questão essencial que move o pensamento de Husserl é a de como fundamentar de 
modo absolutamente seguro o conhecimento. Para ele, os esforços filosóficos de Descartes 
e Kant não haviam sido suficientes para assegurar essa fundamentação necessária. 
Husserl propõe para a filosofia uma atitude radicalmente crítica, em que, para que algo seja 
admitido, exige-se que se mostre com toda a sua evidência. Segundo ele, a “atitude 
natural”, que inclui tanto a atitude científica quanto a do senso comum, considera as coisas 
como existentes em si mesmas, independentemente de sua relação com uma consciência. 
Ora, trata-se de uma atitude ingênua, já que supõe gratuitamente uma natureza em si, da 
qual não é possível ter experiência alguma. Contrariamente, a “atitude fenomenológica”, ou 
filosófica no sentido próprio, deve ater-se apenas àquilo que se dá à experiência, tal como 
se​ ​dá:​ ​o​ ​que​ ​chamamos​ ​de​ ​fenômeno. 
 
10. Explique as críticas que Husserl faz às perspectivas naturalista/positivista, psicologista e 
historicista​ ​de​ ​ciência. 
 
“Neste sentido, a tarefa crítica da Teoria do Conhecimento de promover uma investigação 
acerca do que torna possível a relação de correspondência entre as vivências cognoscitivas 
e as coisas a serem conhecidas encontra-se desapercebida na atitude natural. Dá-se às 
costas para o chamado “enigma do conhecimento transcendente”, para o que, 
classicamente, passou-se a chamar pelo nome de “problema da correspondência”. Afinal, o 
que torna possível tal conhecimento do mundo? Em que ele se funda? Quais são os seus 
limites? “Como pode o conhecimento estar certo da sua consonância com as coisas que 
existem em si, de as ‘atingir’?” (Husserl, 1907/1997, p. 103). Dá-se, portanto, na atitude 
natural, a possibilidade do conhecimento do mundo (entendido como “realidade factual”) 
como algo certo e inquestionável. Nos termos de Husserl: “Óbvia é, para o pensamento 
natural, a possibilidade do conhecimento...não há nenhum ensejo para lançar a questão da 
possibilidade do conhecimento em geral” (Husserl, 1907/1997, p. 41). Para Husserl, tanto a 
consciência do senso comum quanto a consciência das ciências ditas “positivas” 
encontram-se, ainda que de modos distintos, mergulhadas na atitude natural, cujo exercício 
expressa a relação entre uma consciência espontânea (empírica ou psicológica) e o mundo 
natural, revelado empiricamente para essa consciência em sua facticidade. Absorvida por 
esse realismo ingênuo, tal consciência natural – tanto do senso comum quanto das ciências 
positivas – não se aperceberá do enigma do conhecimento transcendente em torno do qual 
gira a tarefa crítica da investigação promovida pela Teoria do Conhecimento: afinal, “como 
pode o conhecimento ir além de si mesmo, como pode ele atingir um ser que não se 
encontra no âmbito da consciência?” (Husserl, 1907/1997, p. 105).” 
(http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-68672011000200003) 
 
11.​ ​Como​ ​Husserl​ ​compreende​ ​a​ ​consciência​ ​intencional? 
 
A atitude fenomenológica consiste em uma atitude reflexiva e analítica, a partir da qual se 
busca fundamentalmente elucidar, determinar e distinguir o sentido íntimo das coisas, a 
coisa em sua “doação originária”, tal como se mostra à consciência. Trata-se de descrevê-la 
enquanto objeto de pensamento. Analisar o seu sentido atualizado no ato de pensar, 
explicitando intuitivamente as significações que se encontram ali virtualmente implicadas em 
cogitos inatuais, bem como os seus diferentes modos de aparecimento na própria 
consciência intencional. Explorar a riqueza deste universo de significações que a coisa – 
enquanto um cogitatum – nos revela no ato intencional é o que é próprio da atitude 
fenomenológica​ ​enquanto​ ​um​ ​“discernimento​ ​reflexivo”​ ​levado​ ​a​ ​cabo​ ​com​ ​rigor. 
 
A especificidade de tal atitude faz da fenomenologia a “ciência clarificadora” por excelência. 
Já o método fenomenológico será, por sua vez, um método de evidenciação plena dos 
fenômenos. Também será, para Husserl, o método especificamente filosófico, cuja 
estratégia maior consiste, para o alcance de um grau máximo de evidência, no exercício da 
suspensão de juízo em relação à posição de existência das coisas. Tal exercício viabiliza, 
assim, a chamada “redução fenomenológica” e, com ela, a recuperação das coisas em sua 
pura significação, tal como se revelam (ou se mostram), enquanto objetos de pensamento, 
na​ ​consciência​ ​intencional. 
 
 
12. Explique a afirmação: “todo objeto é sempre objeto-para-uma-consciência e nunca um 
objeto​ ​em-si,​ ​e​ ​toda​ ​consciência​ ​é​ ​sempre​ ​consciência​ ​de​ ​alguma​ ​coisa”​ ​(SÁ,​ ​2006:320) 
 
A fenomenologia refere-se a esse fato dizendo que a consciência é sempre intencional. 
Assim, “deixando de lado” (suspensão fenomenológica) o objeto (pedra, por exemplo) em-si 
e a representada, a atitude fenomenológica retorna para as “coisas mesmas”, isto é, a 
pedra (objeto)-no-campo-percebido-por-um-sujeito ou, ainda, o “FENÔMENO” pedra. 
“Quando paramos para pensar num ato de percepção, como, por exemplo, ver uma árvore 
no campo, em geral, dividimos tal percepção em duas partes. Pensamos que há um objeto 
árvore, que existe “lá fora” no campo, e, em relação com ele, uma imagem representada daárvore​ ​“aqui 
dentro” na consciência do sujeito. Temos, assim, duas árvores, uma em-si, “lá fora”, e outra 
representada “aqui dentro”, mas, por que ter na consciência uma imagem de um objeto 
significa conhecer o objeto? O que uma imagem de árvore tem a ver com uma árvore 
em-si? Para a fenomenologia, esse modo tradicional de compreender a percepção é 
equivocado, não se pode saber nada sobre árvores em-si, ou muito menos sobre supostas 
árvores​ ​representadas,​ ​porque​ ​todo​ ​objeto​ ​é​ ​sempre​ ​objeto-para-uma-consciência​ ​e 
nunca​ ​objeto​ ​em-si,​ ​e​ ​toda​ ​consciência​ ​é​ ​sempre​ ​consciência-de-um-objeto 
e​ ​nunca​ ​consciência​ ​“vazia”. 
 
13.​ ​Explique​ ​a​ ​“analítica​ ​da​ ​existência”​ ​proposta​ ​por​ ​Martin​ ​Heidegger: 
 
A analítica existencial é uma aplicação relativa ou pertencente ao ser (aos seus estudos ou 
às características) onde cada fenômeno que vem à luz no diálogo dever discutido a partir do 
contexto concreto em que surge e nunca reduzido genericamente a uma estrutura 
existencial. 
 
14.​ ​Explique​ ​o​ ​que​ ​Heidegger​ ​propõe​ ​ao​ ​compreender​ ​o​ ​ser​ ​humano​ ​como​ ​Dasein. 
 
Martin Heidegger propõe com Dasein o modo de ser desta entidade que mesmo somos. 
Sua diferença radical com relação as entidades que não tem modo de ser do homem e que 
não possui uma essência anterior à existência, antes, o que ele é, seu ser, está sempre em 
jogo​ ​no​ ​seu​ ​existir. 
 
15.​ ​Explique​ ​as​ ​seguintes​ ​categorias​ ​existenciais​ ​propostas​ ​por​ ​Heidegger: 
 
a) mundanidade: O Dasein é "mundano", cooriginário ao "mundo" diferenciando-se das 
entidades simplesmente dadas, "intramundanas", mas destituídos de mundo. Por exemplo, 
pedra e árvores estão no mundo, mas não têm mundo, isto é, não são aberturas de sentido, 
não se podendo dizer delas que "existem" mundo é estrutura de sentido, contexto de 
significação,​ ​linguagem​ ​sempre​ ​historicamente​ ​em​ ​movimento. 
 
b) Cotidiano impessoal: Como fenomenólogo, Heidegger estava interessado no seu modo 
de ser cotidiano mais comum. É na "indiferença mediana", "impessoal", que se encontra, de 
início e na maior parte das vezes , o existir. Há uma tendência para o "encobrimento" , isto é 
o Dasein foge de si esquecendo-se do seu "ser próprio", relacionando-se com ele como algo 
que já possui uma configuração preestabelecida. A ausência de surpresas e a evidência 
caracterizam a preocupação e a ocupação. O modo de falar e escrever descomprometido, a 
forma despersonalizada e insaciável de lidar com o novo para preservar o conhecido , 
evitando​ ​as​ ​transformações​ ​expressam​ ​o​ ​modo​ ​de​ ​ser​ ​cotidiano​ ​do​ ​Dasein. 
 
c e d) Compreensão e disposição: O "ser-em" não diz respeito a uma relação espacial de 
dois entes extensos, nem tão pouco à relação entre sujeito e observo. O "em" significa que 
o Dasein e o mundo são coexistentes. Um jamais antecede o outro, são cooriginários. O 
Dasein é a abertura de sentido, e as dimensões essenciais dessa abertura são 
denominadas "compreensão" e "disposição. Tal abertura compreensiva é algo afetivamente 
neutro, que se restringe ao âmbito intelectual, toda compreensão já é sempre dotada de 
uma "colocação" afetiva, de um "humor" ou "disposição". Disposição e compreensão 
constituem​ ​o​ ​modo​ ​de​ ​ser​ ​da​ ​abertura. 
 
e) ser-para-a-morte: Enquanto existe, o Dasein é ser-para-a-morte. Desde que nascemos já 
está implícita em nossa existência, a qualquer momento, esta possibilidade. Porém, há uma 
diferença ôntica de fazer a experiência ontológica do "ser-para-a-morte". São duas 
experiências diferentes. Não temos acesso a perda ontológica sofrida por quem morre. 
Sofremos no modo da preocupação reverencial pelo o outro, o que é possível somente por 
sermos essencialmente "com-o-outro" ou quando experienciarmos o nosso próprio 
"ser-para-a-morte".​ ​São​ ​duas​ ​experiências​ ​diferentes. 
 
f) poder-ser: Há sempre, durante o existir do Dasein no mundo, um chamamento para o 
poder-ser-mais-próprio, é o que a compreensão comum chama de “voz da consciência” e 
que Heidegger denomina de “clamor”. Ter consciência de suas escolhas significa, então, 
recuperar seu projeto. Essa “convocação” escapa de qualquer determinação, rompe com a 
linguagem do cotidiano já que o seu discurso é silencioso e abre o poder-ser como 
singularidade de cada Dasein, não oferecendo, portanto nenhuma interpretação universal.É 
somente no fenômeno da “decisão antecipadora” que o Dasein consegue responder ao 
apelo da consciência, já que, se projeta para as possibilidades mais próprias, escolhendo a 
si​ ​mesmo,​ ​tendo​ ​a​ ​angústia​ ​como​ ​disposição​ ​compreensiva​ ​que​ ​convida​ ​a​ ​tal​ ​movimento. 
 
A decisão indica um ser-si-mesmo em sentido próprio, uma escolha que não é movida por 
uma vontade subjetiva arbitrária, nem está relacionada ao certo ou errado, mas à escuta do 
clamor da consciência. Para tanto, é preciso silenciar os ruídos do falatório que dispersam o 
Dasein no domínio do mundo impessoal. É somente na compreensão do ser-para-a-morte 
que a totalidade do Dasein se torna totalidade transparente, posto que, experienciando a 
finitude, o Dasein pode dissipar todo encobrimento de si mesmo e lançar-se nas suas 
possibilidades​ ​mais​ ​singulares,​ ​modificando​ ​o​ ​seu​ ​cenário​ ​existencial. 
 
16. Explique o papel dos seguintes autores no desenvolvimento e uma psicoterapia de base 
fenomenológica: 
 
a)​ ​Ludwig​ ​Binswanger: 
 
O psiquiatra suíço Ludwig Binswanger foi um dos primeiros que, já na década de 1920, 
propôs​ ​a​ ​aplicação​ ​da​ ​fenomenologia​ ​ao​ ​campo​ ​psiquiátrico. 
 
Os principais aspectos da abordagem científica, contra os quais a análise existencial se 
opunha, eram o determinismo causal aplicado à existência humana e a tendência de supor 
forças e complexos psíquicos ocultos sob os modos de ser diretamente perceptíveis. Na 
base dessa concepção metodológica,Binswanger percebeu que se encontrava a divisão 
cartesiana do mundo em “res-extensa”e “res-cogitans”. Essa cisão, ao mesmo tempo em 
que separa o homem do mundo, encerrando-o numa esfera subjetiva de representações, 
iguala-o​ ​aos​ ​entes​ ​naturais​ ​no​ ​modo​ ​de​ ​ser​ ​subsistente,​ ​isto​ ​é,​ ​substâncias​ ​simplesmente 
dadas. Em alternativa a esse tipo de compreensão, considerada por ele artificial, 
Binswanger adotou a noção de Dasein, na qual o “ser-no-mundo” já é uma condição 
existencial originária, ou seja, ontológica, e não algo acrescentado posteriormente. Além 
disso, o Dasein, em seu modo de ser, já é sempre abertura temporal e compreensiva, o que 
implica ter sempre uma orientação, um projeto, que prescinde de explicações causais de 
nível​ ​ôntico. 
 
 
b)​ ​Medard​ ​Boss: 
 
Influenciado por Binswanger e motivado por interesses mais clínicos do que 
epistemológicos, o psiquiatra e psicoterapeuta suíço Medard Boss vislumbrou no 
pensamento de Heidegger novas possibilidades para o exercício da compreensão 
terapêutica. Estabelecendo seu primeiro contato com o filósofo por carta, em 1947, iniciou 
um longo e regular intercâmbio que perduroupor quase 30 anos, até próximo da morte 
deste. De 1959 até 1969, Heidegger transmitiu pessoalmente suas idéias a um grupo de 
médicos e psicoterapeutas em seminários organizados, algumas vezes ao ano, por Boss. 
Tais​ ​encontros​ ​foram​ ​compilados​ ​e​ ​editados​ ​por​ ​Boss​ ​sob​ ​o​ ​título​ ​Seminários​ ​de​ ​Zollikon,​ ​e 
constituem material de grande interesse para a reflexão sobre a psicoterapia. Em 1971, foi 
fundada​ ​em​ ​Zurique,​ ​na​ ​Suíça,​ ​a​ ​Associação​ ​Internacional​ ​de​ ​Daseinsanalyse. 
 
A psicoterapia existencial, como espaço de acolhimento e compreensão do distúrbio, não é 
um processo voluntariamente conduzido pelo terapeuta no plano das representações 
teóricas mais adequadas à estrutura psicológica do cliente. A questão que institui a terapia, 
e nela se instala, é a mesma já imposta pela vida. Portanto, não se pode atribuir à relação 
terapêutica nenhum privilégio no sentido de maior objetividade, neutralidade ou 
afastamento.​ ​Podemos​ ​apenas​ ​dizer​ ​que​ ​o​ ​espaço​ ​terapêutico​ ​se​ ​mantém​ ​no​ ​esforço​ ​de 
sustentar a questão, enquanto questão concernente ao “poder-ser” próprio do Dasein, até o 
limite​ ​em​ ​que​ ​seu​ ​apelo​ ​suscite​ ​novas​ ​possibilidades​ ​de​ ​correspondência. 
 
PSICOLOGIA​ ​SÓCIO-HISTÓRICA 
 
17.Explique​ ​o​ ​contexto​ ​histórico​ ​no​ ​qual​ ​floresceu​ ​a​ ​psicologia​ ​Sócio-Histórica. 
A psicologia Sócio-Histórica surge num momento significativo para a nação russa. Logo 
após ter-se consolidado a revolução, emerge uma nova sociedade, que, 
consequentemente, exige a constituição de um novo homem. Vygotsky propõe uma teoria 
marxista do funcionamento intelectual humano que inclui tanto a identificação dos 
mecanismos cerebrais subjacentes à formação e desenvolvimento das funções 
psicológicas,​ ​como​ ​a​ ​especificação​ ​do​ ​contexto​ ​social​ ​em​ ​que​ ​ocorreu​ ​tal​ ​desenvolvimento. 
O homem é um ser histórico-social ou, mais abrangentemente, um ser histórico-cultural; o 
homem é moldado pela cultura que ele próprio cria. O indivíduo é determinado nas 
interações sociais, ou seja, é por meio da relação com o outro e por ela própria que o 
indivíduo é determinado; é na linguagem e por ela própria que o indivíduo é determinado e é 
determinante​ ​de​ ​outros​ ​indivíduos 
 
18.​ ​Qual​ ​a​ ​crítica​ ​que​ ​Vygotsky​ ​faz​ ​às​ ​demais​ ​abordagens​ ​em​ ​psicologia. 
Nem a psicologia objetiva, representada pelo Behaviorismo de Skinner, com suas tentativas 
de reduzir a atividade consciente a esquemas simplistas baseados nos reflexos; nem a 
psicologia subjetiva, que estuda as funções humanas complexas de modo puramente 
descritivo e fenomenológico, como a Gestalt de Koffka; nem a Psicologia Construtivista de 
Piaget, entendendo o ser humano como abstrato e construindo-se a partir da maturação, 
representam​ ​um​ ​modelo​ ​satisfatório​ ​da​ ​psicologia​ ​humana. 
 
A redução de eventos psicológicos complexos a mecanismos elementares estudados em 
laboratório através de técnicas experimentais exatas, bem como o estudo dos fenômenos 
psicológicos, baseado na premissa de que a explicação é impossível, conduziram a um 
impasse na psicologia, pois não podemos encarar as ciências humanas como as naturais. 
O entendimento de que o desenvolvimento humano independe da aprendizagem 
desconsidera as determinações históricas, não se constituindo, ainda, a compreensão da 
totalidade​ ​do​ ​ser​ ​humano. 
 
A crítica também se estende à psicologia construtivista de Piaget que, embora considere a 
interação entre o biológico e o social, prioriza a maturação, entendendo que a 
aprendizagem deve aguardar pelo desenvolvimento real, compreendendo o sujeito como 
abstrato​ ​e​ ​universal,​ ​inserido​ ​em​ ​uma​ ​sociedade​ ​estruturada​ ​harmonicamente. 
 
A abordagem concreta e multidimensional de Vygotsky e Wallon se diferencia das demais 
psicologias, que concebem o ser humano de modo abstrato e idealista, explicando o 
comportamento humano a partir de uma dimensão: o inconsciente para Freud, a inteligência 
para​ ​Piaget​ ​e​ ​o​ ​comportamento​ ​para​ ​Skinner. 
 
Para a superação dessa crise, Vygotsky propõe a construção de uma nova psicologia, 
fundamentada no materialismo histórico e dialético, que não reduz o ser humano, 
entendendo-o​ ​como​ ​uma​ ​unidade​ ​da​ ​totalidade. 
A psicologia escolhida para nortear a prática pedagógica nas escolas públicas de Santa 
Catarina é fundamentada no materialismo histórico e dialético, tendo em Vygotsky e Wallon 
seus principais expoentes. Materialismo, porque somos o que as condições materiais (…) 
nos determinam a ser e a pensar. Histórico porque a sociedade e a política não surgem de 
decretos divinos nem nasce da ordem natural, mas dependem da ação concreta dos seres 
humanos no tempo. O materialismo dialético se refere à realidade, sendo uma disciplina da 
razão,​ ​habilitando​ ​à​ ​leitura​ ​dos​ ​conflitos​ ​e​ ​contradições​ ​da​ ​sociedade. 
 
A produção de idéias, de representações, da consciência está (…) diretamente entrelaçada 
com a atividade material e com o intercâmbio material dos homens, como a linguagem da 
vida real. (…) Os homens são os produtores de suas representações, de suas idéias, etc., 
mas os homens reais e ativos, tal como se acham condicionados por um determinado 
desenvolvimento de suas forças produtivas e pelo intercâmbio que a ele corresponde até 
chegar às suas formações mais amplas. A consciência jamais pode ser outra coisa do que o 
ser consciente, e o ser dos homens é o seu processo de vida real. (…) Não é a consciência 
que​ ​determina​ ​a​ ​vida,​ ​mas​ ​a​ ​vida​ ​que​ ​determina​ ​a​ ​consciência. 
 
A teoria vigotskiana é instrumental, histórica e cultural. É instrumental, por se referir à 
natureza mediada das funções psicológicas superiores. Diferentemente dos animais, que 
mantém relação direta com a natureza, o processo de hominização surge com o trabalho, 
que inaugura a mediação com o uso de signos e instrumentos, permitindo a modificação do 
psiquismo humano e da realidade externa, respectivamente. Em um movimento dialético, os 
seres​ ​humanos​ ​criam​ ​novos​ ​cenários,​ ​que​ ​determinam​ ​novos​ ​atores,​ ​novos​ ​papéis. 
 
Enquanto o uso dos instrumentos possibilita a transformação da realidade, que passa a 
exigir um novo tipo de interação, é a utilização dos signos, especialmente a linguagem, que 
organiza e desenvolve as funções tipicamente humanas, as chamadas funções superiores 
da​ ​consciência. 
 
É a plasticidade do cérebro humano que permite que tal transformação ocorra, sendo 
fundamental a interação social, pois as funções, que são sociais em um primeiro momento, 
devem ser exercidas na relação para serem apropriadas pelo ser humano, tornando-se 
assim​ ​individuais. 
É histórica e cultural por propor a compreensão do ser humano inserido em uma cultura 
determinada, com suas ferramentas, inventadas e aperfeiçoadas no curso da história social 
da​ ​humanidade,​ ​com​ ​as​ ​contradições​ ​impostas​ ​pela​ ​dialética. 
 
A psicologia histórico-cultural é uma ciência que desenvolve-se em estreita ligação com 
outras ciências e quetem como objeto de estudo a atividade do homem no plano 
psicológico e se propõe à tarefa de estabelecer as leis básicas da atividade psicológica, 
estudar as vias de sua evolução, descobrir os mecanismos que lhe servem de base e 
descrever​ ​as​ ​mudanças​ ​que​ ​ocorrem​ ​nessa​ ​atividade​ ​nos​ ​estados​ ​patológicos. 
 
A psicologia deve analisar como o ser humano, ao longo da evolução filo e ontogenética (na 
evolução enquanto espécie e enquanto ser humano) interpreta e representa a realidade. A 
interpretação e a representação da realidade são realizadas pelo cérebro humano. O 
cérebro é considerado a base material que o ser humano traz consigo ao nascer e que está 
em desenvolvimento ao longo da história da espécie e durante toda a vida do ser humano, 
sendo​ ​entendido​ ​como um​ ​sistema​ ​aberto​ ​e​ ​de​ ​grande​ ​plasticidade. 
 
O ser humano é estudado na sua unidade e na sua totalidade, é considerado como um ser 
multideterminado, ou seja , integra, numa mesma perspectiva, o homem enquanto corpo e 
mente, enquanto ser biológico e ser social, enquanto membro da espécie humana e 
participante​ ​de​ ​um​ ​processo​ ​histórico. 
 
O ser humano deve ser compreendido na sua dimensão onto e filogenética, com 
constituição biológica específica, que é ressignificada por suas relações sociais, construídas 
pelo​ ​trabalho​ ​e​ ​pelo ​ ​uso​ ​dos​ ​instrumentos. 
 
A aranha realiza operações que lembram as de um tecelão, e as caixas que as abelhas 
constroem no céu podem tornar sem graça o trabalho de muitos arquitetos. Mas mesmo o 
pior arquiteto se diferencia da abelha mais hábil desde o princípio, em que, antes de 
construir com suas tábuas uma caixa, ele já a construiu na sua mente. No final do processo 
de trabalho ele obtém algo que já existia na sua mente antes que ele começasse a 
construir. O arquiteto não só modifica as formas naturais, dentro das limitações impostas 
por essa mesma natureza, mas também realiza um propósito próprio, que define os meios e 
o​ ​caráter​ ​da​ ​atividade​ ​à​ ​qual​ ​ele​ ​deve​ ​subordinar​ ​à​ ​sua​ ​vontade. 
É a subjetividade humana que faz a diferença entre o ser humano e o animal, caracterizada 
pela consciência e identidade, pelos sentimentos e emoções, engendrada a partir da 
aquisição da linguagem, que amplia os determinantes do seu comportamento para além da 
experiência individual e do componente biológico, permitindo a apropriação ativa do 
conhecimento​ ​acumulado​ ​pela​ ​humanidade. 
19. Explique o que leva Vygotsky a afirmar que a Psicologia construiu visões de homem e 
do​ ​fenômeno​ ​Psicológico​ ​que​ ​precisam​ ​ser​ ​superadas,​ ​são​ ​elas: 
a) O Liberalismo: O liberalismo, ideologia fundamental do capitalismo, nasceu com a 
revolução burguesa para revolucionar a ordem feudal e se instituiu para garantir a 
manutenção​ ​da​ ​ordem​ ​que​ ​se​ ​instalava. 
A burguesia constituiu as idéias liberais para se opor à ordem feudal: uma ordem baseada 
na existência de uma hierarquia no universo; um mundo pensado como estável, ordenado e 
organizado​ ​pela​ ​vontade​ ​divina. 
 
Um mundo pronto no qual a verdade se revelava aos indivíduos. A hierarquia no universo 
se refletia na hierarquia entre os homens. Um mundo paralisado, no qual cada um já nascia 
no lugar no qual deveria ficar. Um universo que tinha a Terra como seu centro. Um mundo 
de fé e dogmas religiosos que ofereciam aos homens as idéias prontas e os valores certos 
para serem adotados. Um mundo que desconhece individualidades, impedindo que os 
sujeitos​ ​se​ ​constituírem​ ​como​ ​tal.​ ​Um​ ​mundo​ ​que​ ​não​ ​precisou​ ​de​ ​uma​ ​Psicologia. 
 
Assim, como oposição a estas idéias do feudalismo, a perspectiva liberal tem como um de 
seus elementos centrais a valorização do indivíduo: o individualismo. Cada indivíduo é um 
ser moral que possui direitos derivados de sua natureza humana. Somos indivíduos e 
somos iguais, fraterno e livres, com direito à propriedade, à segurança, à liberdade e à 
igualdade. 
 
A visão liberal quebrava a estabilidade do mundo, sua hierarquia e suas certezas. O 
indivíduo estava agora no centro e poderia e deveria se movimentar. E por que surgiam 
estas idéias liberais? Porque o capitalismo precisava destas idéias; precisava pensar o 
mundo como em movimento, para explorar a natureza em busca de matérias-primas e 
precisava dessacralizar a natureza. O capitalismo precisava do indivíduo, como ser 
produtivo e consumidor. A Terra já podia então tomar seu humilde lugar no universo. A 
verdade já podia ser plural. O mundo estava posto em seu movimento. O homem também 
estava em seu movimento. E neste mundo, agora incerto, o homem se viu frente à 
possibilidade​ ​de​ ​ser,​ ​de​ ​pensar​ ​e​ ​de​ ​fazer. 
 
A escolha tornava-se uma exigência e um elemento da condição humana. Escolher entre 
várias possibilidades e escolher diferentemente de outros permite o desenvolvimento de 
uma​ ​noção​ ​de​ ​indivíduo​ ​e​ ​conseqüentemente​ ​uma​ ​noção​ ​de​ ​eu​ ​entre​ ​os​ ​homens. 
 
Fertilizando estes novos elementos vamos assistir ao desenvolvimento da noção de vida 
privada. Estudos interessantes, existentes hoje, mostram como a vida coletiva vai dando 
lugar a um espaço privado de vida. As casas vão modificando sua arquitetura para reservar 
locais privados para os indivíduos; os nomes vão se individualizando; marcas vão sendo 
colocadas em roupas, guardanapos, lençóis permitindo identificação. A vida do trabalho vai 
saindo da casa para a fábrica, modificando o caráter da vida pública. A casa vai se tornando 
lugar reservado à família, que dentro de casa, vai também dividindo espaços e permitindo 
lugares mais individuais e privados. Os banheiros saem dos corredores para se tornarem 
lugares​ ​fechados​ ​e​ ​posteriormente​ ​individualizados. 
 
A noção de eu e a individualização vão nascendo e se desenvolvendo com a história do 
capitalismo. A idéia de um mundo “interno” aos sujeitos, da existência de componentes 
individuais, singulares, pessoais, privados vai tomando força, permitindo o desenvolvimento 
de um sentimento de eu. A possibilidade de uma ciência que estude este sentimento e este 
fenômeno também é resultado deste processo histórico. A Psicologia vai se tornando 
necessária. 
 
As idéias liberais, construídas no decorrer do desenvolvimento do capitalismo vão permitir a 
construção de uma determinada Psicologia. Essas idéias se caracterizam 
fundamentalmente por pensar o homem a partir da noção de natureza humana. Uma 
natureza que nos iguala e exige liberdade, como condição para o desenvolvimento das 
potencialidades das quais somos dotados como seres humanos. Importante notar que o 
liberalismo propiciou com estas idéias de igualdade natural entre os homens, o 
questionamento das hierarquias sociais e desigualdades características do período histórico 
da​ ​feudalismo. 
 
Ao homem deveriam ser dadas as melhores condições de vida para que seu potencial 
natural pudesse desabrochar. Frente às enormes desigualdades sociais do mundo 
moderno, o liberalismoproduziu sua própria defesa, construindo a noção de diferenças 
individuais decorrentes do aproveitamento diferenciado que cada um faz das condições que 
a​ ​sociedade​ ​“igualitariamente”​ ​lhe​ ​oferece. 
 
Assim, as condições históricas deste período permitiram o surgimento da Psicologia e do 
próprio fenômeno psicológico, como hoje está constituído. As idéias “naturalizadoras” do 
liberalismo serão responsáveis pela concepção de fenômeno psicológico que se tornará 
dominante​ ​na​ ​Psicologia. 
 
Na publicação de tese de doutorado, Bock relata que encontrou em questionário aplicados a 
44 psicólogos, muitas definições para o fenômeno psicológico: “acontecimento 
organísmicos, manifestações do aparelho psíquico, individualidade, algo que ocorre na 
relação e é o que somos, conflitos pulsionais, confusão mental, manifestação do homem, 
pensar e sentir o mundo, o homem e relação com o meio, consciência, saber-se indivíduo, o 
que se mostra, subjetividade, funções egóicas, existência intersubjetiva, experiências, 
vivências, loucura, distúrbio, o próprio homem, evento estruturantes do homem, 
comportamento, engrenagem de emoção, motivação, habilidades e potencialidades, 
experiências emocionais, psique, pensamento, sensação, emoção e expressão, 
entendimento de si e do mundo, manifestação da vida mental, tudo que é percebido pelos 
sentidos,​ ​é​ ​consciente​ ​e​ ​é​ ​inconsciente”. 
 
Cabe ainda trazer alguns dados a mais deste trabalho de Bock. Os psicólogos utilizam-se 
de chavões para designar o fenômeno psicológico: o fenômeno é bio-psico-social; o 
fenômeno envolve ou implica a interação entre pessoas; o fenômeno se refere ao um 
indivíduo​ ​que​ ​é​ ​agente​ ​e​ ​sujeito. 
 
Ainda elementos recorrentes nas respostas aos questionários que indicam elementos de 
uma conceituação consensual entre os psicólogos: é um fenômeno interior ao homem; tem 
vários componentes; é uma estrutura, uma organização interna ao homem; possui aspectos 
conscientes e inconscientes; há algo de biológico e de social neste fenômeno; a interação é 
importante na sua constituição (interação com o meio, com os outros); recebe influência de 
fora e influência do meio; é um fenômeno possível de ser conhecido(consciente), mas tem 
aspecto a que não se tem acesso (inconsciente); o psicólogo possui instrumento e 
conhecimentos para contribuir no conhecimento desse fenômeno e na sua reestruturação; é 
um fenômeno que se desestrutura. A noção de desequilíbrio, de desorganização, de 
desestruturação é bastante presente; alguns identificam o fenômeno com a sua 
desestruturação, isto é, o fenômeno é a doença, o desequilíbrio ou o conflito; há uma 
noção, presente em alguns questionários que é a identificação do fenômeno com a 
possibilidade​ ​de​ ​o​ ​indivíduo​ ​relacionar-se​ ​consigo​ ​mesmo. 
 
a) A noção naturalizada de fenômeno Psicológico: A Psicologia Sócio Histórica 
fundamenta -se no marxismo e adota o materialismo dialético como filosofia, teoria e 
método. Cncebe o homem como ativo, social e histórico; e a sociedade, como 
produção histórica dos homens que, através do trabalho, produzem a sua vida 
material. Ela entende que as ideias são uma representação da realidade material e 
essa​ ​​ ​última​ ​​ ​é​ ​​ ​fundada​ ​​ ​em​ ​​ ​contradições​ ​​ ​que​ ​​ ​s​ ​e​ ​​ ​expressam​ ​​ ​nas​ ​primeiras. 
A Psicologia Sócio-Histórica concebe a história como o movimento contraditório 
constante do fazer humano, na qual, a partir d a base material, deve ser 
compreendida​ ​​ ​toda​ ​a​ ​produção​ ​de​ ​ideias,​ ​incluindo​ ​a​ ​ciência​ ​e​ ​a​ ​psicologia. 
 
A partir dessas concepções, a Psicologia Sócio Histórica apresenta um abandono da 
visão abstrata do fenômeno psicológico e, mais, representa uma crítica às 
psicologias​ ​que​ ​tratam​ ​o​ ​fenômeno​ ​dessa​ ​forma. 
 
Mas que coisa é esta, o fenômeno psicológico? Ora é processo, ora é estrutura, ora 
manifestação, ora relação, ora é conteúdo, ora é distúrbio, ora experiência. É interno, mas 
com relação com o externo. É biológico, é psíquico e é social; é agente e é resultado; é 
fenômeno​ ​humano,​ ​relacionado​ ​ao​ ​que​ ​denominamos​ ​“eu”. 
 
O fenômeno psicológico seja lá qual for sua conceituação aparece descolado da realidade 
na qual o indivíduo se insere e mais ainda, descolado do próprio indivíduo que o abriga. 
Esta é a noção: algo que se abriga em nosso corpo, do qual não temos muito controle; visto 
como algo que em determinados momentos de crise nos domina sem que tenhamos 
qualquer possibilidade de controlá-lo; algo que inclui “segredos” que nem eu mesmo sei; 
algo​ ​enclausurado​ ​em​ ​nós​ ​que​ ​é​ ​ou​ ​contém​ ​um​ ​“verdadeiro​ ​eu”. 
 
E aqui cabe falarmos da relação deste fenômeno psicológico com o meio social e cultural. 
Esta relação é afirmada como necessária e importante por muitos psicólogos; no entanto, é 
vista como uma relação na qual o “externo” (mundo social) impede e dificulta o pleno e livre 
desenvolvimento de nosso mundo “interno” (psicológico). O mundo social é um mundo 
estranho ao nosso eu. Um lugar, no qual temos que estar e por isto nos resta a tarefa de 
nos adaptarmos. E a história deste aparato psicológico passa a ser a história da sua 
adaptação ao mundo social, cultural e econômico. Trabalhar, relacionar-se, aprender, fazer 
são atividades desta adaptação. Amar, emocionar-se, perceber, motivar-se são vistas 
também como possibilidades humanas que se desenvolvem, ou melhor, se atualizam (pois 
já​ ​eram​ ​potencializadas)​ ​neste​ ​mundo​ ​externo. 
 
Um fenômeno abstrato, visto como característica humana. Um fenômeno que existe em 
nós, como estrutura, processo, expressão, ou qualquer de suas conceituações, porque 
somos humanos e ele pertence a nossa natureza. Fica então naturalizado o fenômeno 
psicológico. Algo que lá está como possibilidade, quando nascemos; algo que deverá ser 
fertilizado por afeto, estimulações adequadas e boas condições de vida, mas que lá está, 
pronto​ ​para​ ​desabrochar. 
 
20. O que faz com que a psicologia Sócio-Histórica afirme a necessidade da superação dos 
conceitos​ ​de​ ​“vida​ ​privada”​ ​e​ ​de​ ​“natureza​ ​humana”. 
Assim, como oposição a estas idéias do feudalismo, a perspectiva liberal tem como um de 
seus elementos centrais a valorização do indivíduo: o individualismo. Cada indivíduo é um 
ser moral que possui direitos derivados de sua natureza humana. Somos indivíduos e 
somos iguais, fraterno e livres, com direito à propriedade, à segurança, à liberdade e à 
igualdade. 
 
A visão liberal quebrava a estabilidade do mundo, sua hierarquia e suas certezas. O 
indivíduo estava agora no centro e poderia e deveria se movimentar. E por que surgiam 
estas idéias liberais? Porque o capitalismo precisava destas idéias; precisava pensar o 
mundo como em movimento, para explorar a natureza em busca de matérias-primas e 
precisava​ ​dessacralizar​ ​a​ ​natureza. 
 
O capitalismo precisava do indivíduo, como ser produtivo e consumidor. A Terra já podia 
então tomar seu humilde lugar no universo. A verdade já podia serplural. O mundo estava 
posto em seu movimento. O homem também estava em seu movimento. E neste mundo, 
agora incerto, o homem se viu frente à possibilidade de ser, de pensar e de fazer. A escolha 
tornava-se uma exigência e um elemento da condição humana. Escolher entre várias 
possibilidades e escolher diferentemente de outros permite o desenvolvimento de uma 
noção​ ​de​ ​indivíduo​ ​e​ ​conseqüentemente​ ​uma​ ​noção​ ​de​ ​eu​ ​entre​ ​os​ ​homens. 
 
Fertilizando estes novos elementos vamos assistir ao desenvolvimento da noção de vida 
privada. Estudos interessantes, existentes hoje, mostram como a vida coletiva vai dando 
lugar a um espaço privado de vida. As casas vão modificando sua arquitetura para reservar 
locais privados para os indivíduos; os nomes vão se individualizando; marcas vão sendo 
colocadas em roupas, guardanapos, lençóis permitindo identificação. A vida do trabalho vai 
saindo da casa para a fábrica, modificando o caráter da vida pública. A casa vai se tornando 
lugar reservado à família, que dentro de casa, vai também dividindo espaços e permitindo 
lugares mais individuais e privados. Os banheiros saem dos corredores para se tornarem 
lugares​ ​fechados​ ​e​ ​posteriormente​ ​individualizados. 
 
A noção de eu e a individualização vão nascendo e se desenvolvendo com a história do 
capitalismo. A idéia de um mundo “interno” aos sujeitos, da existência de componentes 
individuais, singulares, pessoais, privados vai tomando força, permitindo o desenvolvimento 
de um sentimento de eu. A possibilidade de uma ciência que estude este sentimento e este 
fenômeno também é resultado deste processo histórico. A Psicologia vai se tornando 
necessária. 
 
As idéias liberais, construídas no decorrer do desenvolvimento do capitalismo vão permitir a 
construção de uma determinada Psicologia. Essas idéias se caracterizam 
fundamentalmente por pensar o homem a partir da noção de natureza humana. Uma 
natureza que nos iguala e exige liberdade, como condição para o desenvolvimento das 
potencialidades das quais somos dotados como seres humanos. Importante notar que o 
liberalismo propiciou com estas idéias de igualdade natural entre os homens, o 
questionamento das hierarquias sociais e desigualdades características do período histórico 
da​ ​feudalismo. 
 
Ao homem deveriam ser dadas as melhores condições de vida para que seu potencial 
natural pudesse desabrochar. Frente às enormes desigualdades sociais do mundo 
moderno, o liberalismo produziu sua própria defesa, construindo a noção de diferenças 
individuais decorrentes do aproveitamento diferenciado que cada um faz das condições que 
a​ ​sociedade​ ​“igualitariamente”​ ​lhe​ ​oferece. 
 
Um fenômeno abstrato, visto como característica humana. Um fenômeno que existe em 
nós, como estrutura, processo, expressão, ou qualquer de suas conceituações, porque 
somos humanos e ele pertence a nossa natureza. Fica então naturalizado o fenômeno 
psicológico. Algo que lá está como possibilidade, quando nascemos; algo que deverá ser 
fertilizado por afeto, estimulações adequadas e boas condições de vida, mas que lá está, 
pronto​ ​para​ ​desabrochar. 
 
A Prática profissional surge então carregada de uma perspectiva corretiva e terapêutica. 
Não poderia ser outra, pois se já somos o que vamos ser, dada a natureza humana da qual 
somos dotados, a Psicologia só poderia se constituir enquanto prática profissional como um 
conhecimento e um conjunto técnico que detecta desvios do desenvolvimento humano (em 
relação ao que é concebido como natural), propondo-se como algo que reencaminha, 
realinha,​ ​adapta,​ ​cura. 
 
A Psicologia se associa a idéia de doença, mas nosso objeto de trabalho não é o corpo que 
adoece. Nosso objeto é o mundo simbólico. Nosso objeto é o registro que os sujeitos fazem 
do mundo que os cerca, do cotidiano. Esse mundo não fica doente. Esse mundo se 
estrutura, se desestrutura, sofre, mas não fica doente, no sentido de adquirir mal, moléstia 
ou enfermidade. Só uma noção naturalizante do mundo psicológico poderia ter chegado a 
essas noções. Pois, se o mundo psicológico é natural, é da espécie, é de nossa natureza 
humana, já está lá e será desenvolvido com o passar do tempo e das experiências. Aí sim, 
pode-se​ ​pensar​ ​que​ ​ele​ ​adoece. 
 
21. Segundo a psicologia sócio-histórica, o que leva à uma visão naturalizada do fenômeno 
Psicológico? 
Vygotsky seguiu alguns pressupostos que guiaram suas teorias e que serviram à 
fundamentação e ao desenvolvimento, a partir de sua obra, da teoria Sócio-Histórica, 
Dentre eles, destaca-se a crítica da tentativa de compreensão de funções superiores por 
intermédio da psicologia animal, bem como da concepção de desenvolvimento natural 
humano, segundo a qual estas funções são resultado de um processo de maturação. 
Enfatiza-se a origem social da linguagem e do pensamento – e a visão das funções 
psicológicas como produto da atividade cerebral. Cabe ressaltar, ainda, a contribuição em 
nível de desenvolvimento de uma estrutura teórica marxista para a Psicologia: os 
fenômenos são compreendidos como processo em movimento e mudança; o homem é 
entendido como um ser que atua sobre a realidade por intermédio de instrumentos, 
transformando-a e a si própria; o conhecimento deve apreender, a partir do aparente, as 
determinações constitutivas do objeto; a origem e a base do movimento individual estão nas 
condições sociais de vida historicamente formadas. Assim, percebemos que se nega 
qualquer tentativa de explicação referente a uma concepção de natureza humana universal 
e imutável, a qual necessitaria apenas aflorar e se desenvolver ao longo da vida do 
indivíduo. Não há natureza humana; o humano se constitui pela relação do homem com a 
realidade, não só enquanto meio social imediato, mas enquanto processo cultural 
historicamente produzido. A condição humana é construída sócio-historicamente, nas 
relações​ ​sociais​ ​e​ ​na​ ​ação​ ​dos​ ​homens​ ​sobre​ ​a​ ​realidade. 
22. Segundo a psicologia sócio histórica, como é possível superar o positivismo e o 
idealismo​ ​na​ ​psicologia? 
Durante muito tempo a Psicologia Social esteve marcada por um caráter e uma tradição 
pragmática, com seus trabalhos centrados nos estudo das atitudes, sua mensuração e suas 
transformações, bem como de aspectos e processos ligados ao funcionamento grupal. 
Segundo Lane (1984), a partir de meados da década de 1960 a eficácia desta psicologia 
começa a ser questionada, apontando-se para uma crise do conhecimento psicossocial, 
ineficiente​ ​em​ ​intervir,​ ​explicar​ ​e​ ​prever​ ​comportamentos​ ​sociais. 
Neste sentido, Lane (1995) afirma que os avanços da Psicologia Social na América Latina 
estão diretamente relacionados à época da crise teórica e metodológica da Psicologia 
Social, a qual assumiu um caráter político, dado o contexto das ditaduras militares e da 
repressão, bem como das injustiças e opressões vividas nas décadas de 1960 e 70. 
Questionava-se, então, como a Psicologia Socialpoderia trazer subsídios para 
transformações sociais, pensamentos não só em reformulações de caráter teórico, mas 
também​ ​em​ ​transformações​ ​de​ ​cunho​ ​metodológico​ ​e​ ​de​ ​atuação. 
Portanto, neste período, a revisão e a reformulação conceitual crítica apoiaram-se em 
fundamentos marxistas e em teorias neomarxistas, que partiam de sua proposição inicial 
para a realização de uma reflexão na qual o indivíduo tinha um papel fundamental. Neste 
contexto, conceitos como alienação, ideologia e dominação vão se tornando peças 
essenciais para a compreensão da subjetividade humana e de sua relação com a realidade 
social. As palavras de Lane (1974:15-16) esclarece o pensamento desta tendência: “É 
dentro do materialismo histórico e da lógica dialética que vamos encontrar os pressupostos 
epistemológicos para a reconstrução de um conhecimento que atenda à realidade social e 
ao cotidiano de cada indivíduo e que permita uma intervenção efetiva na rede de relações 
sociais​ ​que​ ​define​ ​cada​ ​indivíduo​ ​–​ ​objeto​ ​da​ ​Psicologia​ ​Social”. 
 
23.​ ​Explique​ ​as​ ​seguintes​ ​proposições​ ​teóricas​ ​da​ ​Psicologia​ ​Sócio-histórica: 
a) Relação Homem e Sociedade: A psicologia Sócio-Histórica está fundamentada, 
basicamente, na concepção de homem como um ser histórico-social. Assim, o ser humano 
não nasce formado ou possuindo uma essência pronta e imutável; ao contrário, ele se 
constrói como homem a partir das relações que estabelece com o meio e com os outros 
homens, num movimento dialético em que faz parte de uma totalidade e vai 
transformando-se em sua essência por um processo de complexificação e 
multideterminação. Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a 
consciência (Marx & Engels 1980); é com base nesta proposição que Vygotsky (in Luria, 
1987:21) defende que a origem e compreensão da vida consciente e do comportamento 
humano só podem ser encontradas na vida social, “nas formas histórico-sociais da 
existência​ ​do​ ​homem”.​ ​O​ ​homem​ ​é,​ ​portanto,​ ​um​ ​ser​ ​ativo,​ ​histórico​ ​e​ ​social. 
b) Zona de desenvolvimento proximal: Na medida em que cada ser humano é construído 
socialmente, na relação com a realidade e com os outros homens, ele se apropria também 
da história da humanidade; isto é, o homem não é construído apenas pelo meio social 
imediato, mas por todas as mediações nele contidas, pela história da humanidade e pela 
cultura que ele carrega. Ao relacionar-se com os objetos produzidos pela humanidade, o 
homem apropria-se da atividade histórica acumulada e cristalizada naquele objeto, 
inserindo no mundo humano. Como o homem está diretamente envolvido e é sujeito ativo 
da organização da sociedade, enquanto organização da produção dos meios de existência, 
ele​ ​é​ ​o​ ​sujeito​ ​construtor​ ​da​ ​história​ ​e​ ​neste​ ​processo​ ​constrói​ ​a​ ​si​ ​próprio. 
c) Linguagem: A linguagem é um instrumento essencial neste processo. Ela é produzida 
social e historicamente e o homem de também dela apropriar-se. É importante ressaltar que 
o desenvolvimento da linguagem e dos significados permite a representação da realidade e, 
assim, a possibilidade de se trabalhar com a atividade no campo da consciência. Contudo, 
não se pode perder de vista que a origem da consciência e da linguagem está na atividade 
concreta​ ​dos​ ​homens,​ ​ainda​ ​que​ ​estas​ ​se​ ​descolem​ ​aparentemente​ ​da​ ​atividade​ ​material. 
A linguagem materializa e constitui as significações construídas no processo social e 
histórico. Assim, ao apropriar-se dela, o homem tem acesso às significações historicamente 
produzidas. Este homem irá significar suas experiências e são estas significações que 
constituirão​ ​sua​ ​consciência,​ ​mediando​ ​assim​ ​suas​ ​formas​ ​de​ ​sentir,​ ​pensar​ ​e​ ​agir. 
d) Pensamento: A significação é construída na esfera social, de maneira que sua 
internalização dependerá da mediação externa, da relação com o outro. A transformação do 
social em subjetivo se dará sempre em um universo interpessoal, que se transforma em 
intrapessoal e intra-subjetivo, como resultado de um processo longo, processo pelo qual o 
plano subjetivo é criado. Portanto, a intersubjetividade é um espaço de construção do 
sujeito e é este espaço que permite a produção de sentidos. É sobretudo nas relações 
intersubjetivas que o indivíduo constrói sua subjetividade; e se as emoções estão presente 
nas ações, consciência, pensamento, linguagem e identidade do homem, podemos concluir 
que as formas de significação também são emocionadas, ou seja, mediadas pelas emoções 
e que as falas, pensamentos e ações dos homens sempre carregam em si uma emoção. 
Segundo Vygotsky (in Lane e Camargo, 1995:118), “o pensamento propriamente dito é 
gerado pela motivação, isto é, por nossos desejos e necessidades, nossos interesses e 
emoções. Por trás de cada pensamento há uma tendência afetivo-volitiva, que traz em si a 
resposta ao último porquê de nossa análise do pensamento”. Desta forma, o pensamento 
sempre será um fenômeno que terá em sua constituição uma emoção, e, sendo assim, o 
processo​ ​cognitivo​ ​nunca​ ​existirá​ ​sem​ ​ela​ ​também.

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