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Introdução Cons Finais A Arte de Governar Crianças

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A arte de governar crianças
Capítulo III – Rostos de Crianças no Brasil (Esther Maria de Magalhães Arantes)
1. Introdução
Em novembro, apresentamos nosso seminário baseado no capítulo III – Rostos de Crianças no Brasil, artigo de Esther Arantes que encontra-se na compilação de Irene Rizzini, no livro “A Arte de Governar Crianças”
É fundamental ressaltar que o texto fala da história das políticas sociais, legislação e da assistência à infância no Brasil desde o século XVI. Percebemos o enfoque dado à forma como a criança era vista e tratada até o século XIX. Era considerada quase como uma miniatura de adulto explorada e sem direito a uma infância. Não havia preocupação nem com as crianças indígenas ou aquelas que chegaram com os primeiros navios negreiros em terras brasileiras.
As experiências acumuladas demonstravam que a não havia juízo de valor quando se tratavam de crianças. A catequização dos curumins pelos jesuítas, os meninos enviados à guerra para lutar como homens e os pequenos operários do início do século. Isso sem falar de toda a criminalidade que envolvia as crianças no que achavam que iria garantir a contribuição para a sociedade.
Pretendemos demonstrar a importância das raízes históricas públicas em que as tendências políticas em que a infância e juventude passando pelo movimento da assistência de caridade e filantropia até o momento em que foram criados os direitos da criança. Com isso nos levou a considerar a reestruturação das novas políticas sobre o cotidiano da população infanto-juvenil do país.
Toda a questão relacionada às crianças percorreram um caminho complexo que envolvia um discurso piedoso de caridade onde era considerada uma infância desvalida e infeliz. A antiga caridade se misturava com as faltas e desvios da marginalidade sociocultural. Sendo assim, a prática nos mostrava que as crianças eram consideradas de natureza incorrigível e por isso necessitavam de disciplina para a definição do sistema de formação de cidadãos.
Portanto, houve necessidade de compreender o contexto da vivência e trajetória das crianças e todo o conceito de assistência que era utilizado para então, trazer novas políticas públicas que só tomaram um rumo a partir da república, a partir da segunda metade do século XX. 
Após as políticas filantropas e asilos, entrarem em cena os reformatórios e casas de correção e em meio a todas essas estratégias de controle à infância e adolescência pobres, a família passou a aparecer como aquela que não está apta a cuidar e o Estado passa a retirar as crianças das famílias a fim de ‘dar um destino melhor’
A partir da década de 80, finalmente a criança passou a ser vista como uma pessoa com todos os direitos e devendo ser respaldada por leis assim como os adultos. Com a constituição de 88 e em 1990 a criação do ECA as leis se tornam mais específicas revisando os princípios relacionados às políticas de assistência, suprindo todas as situações precárias e permitindo um acolhimento digno às crianças e aos adolescentes.
Ainda assim, temos um longo caminho a percorrer, pois ainda hoje vemos diariamente episódios de violência e abuso de todos os tipos com crianças, tanto no ambiente familiar como no escolar. Sejam as crianças abandonadas nas ruas ou ainda abandonadas na sua própria casa, sofrendo condições de extrema precariedade. 
2. Considerações Finais
Entendemos com o seminário que temos ainda muito que aprender para não só fazer cumprir as leis como conseguir que as nossas crianças e adolescentes tenham um crescimento digno.
Em tudo que relatamos e estudamos, percebemos que a infância no Brasil foi objeto de políticas públicas e incentivos do governo, no entanto, concluímos que nem sempre crianças e adolescentes receberam o cuidado e o acolhimento que mereciam. 
No Brasil Colônia ainda não existia criança como cidadã plena de direitos e nem mesmo eram consideradas em pé de igualdade. As crianças eram reduzidas a ‘filhos de escravos’, ‘órfãos’, ‘desvalidos’, ‘filhos de família’, ‘meninos da terra’. Além dessas também categorizavam como mendigos, vadios e viciados. Eram aproveitados como mão de obra escrava no campo ou para construção de estradas e prisões além de milícias para combate a quilombolas e índios.
Foi necessária elaboração de leis, artigos e estatutos para que fossem promovido o reconhecimento da infância em nosso país. A despeito dos avanços motivados pelo ECA combatendo a redução de mortalidade e o trabalho infantil, ainda assim, o governo não investiu em mudanças reais para a vida das crianças.
Só a partir da Lei do Ventre Livre, as crianças finalmente passaram a ganhar as ruas com brincadeiras ou trabalhos. Alguns, sem condições de sobreviver como cidadãos, eram vistos esmolando ou furtando. Portanto, para controlar esta situação, o código penal reduziu a maioridade penal para 9 anos. 
Considerando o grande número de menores presos, alguns modelos de salvaguardar os menores foram instituídos como os modelos caritativos para asilar as crianças, tirá-las da pobreza, mas com a clara intenção de salvar almas e catequisar as crianças. Já a filantropia era favorável a uma assistência estatal tendendo a gerir de forma técnica definindo as crianças pobres como deficientes, anormais ou delinquentes surgindo daí a maior parte das casas de correção. Apenas na declaração universal dos direitos das crianças e abolição do código de menores e criação do Estatuto da Criança e Adolescente que as crianças foram personificadas como cidadãos.
Desta maneira, o ECA não deveria manter-se apenas no papel, deveria ser colocado em prática independente da classe social ou econômica em que as crianças vivem pois a violência física ou psicológica abrange qualquer uma delas.
O Estatuto da Criança e Adolescente deveria resgatar a cidadania e dignidade das crianças, mas na verdade não conseguimos ver que o mesmo atinge a todas devido a todo descaso e maus tratos. 
Temos a certeza que todos os ciclos da vida são importantes, mas a infância é o início de tudo, devendo portanto, as crianças passarem por ela em segurança para que não só sejam transformadas como também transformar o Brasil, pois a criança de hoje é o adulto de amanhã.
 
5. Bibliografia
ARANTES, Esther Maria de Magalhães. Rostos de crianças no Brasil. In: RIZZINI, Irene; PILOTTI, Francisco. (orgs.). A arte de governar crianças: A história das políticas sociais, da legislação e da assistência à infância no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2009. p. 153- 202.
_______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 2014. 
_______. Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 8.069, 1990.
Material para ler e usar no trabalho:
http://www.jornaloliberal.net/noticia/apadrinhamento-afetivo-e-opcao-para-criancas-de-abrigos-em-mariana/
http://www.seic.ufop.br/anais/exibir_trabalho/2065
http://www.jornalpontofinalonline.com.br/noticia/5023/prefeitura-capacita-cuidadoras-da-uai
https://www.facebook.com/larestrela.estrela
http://www.metabasemariana.com.br/index.php/todas-noticias/162-parceiro-da-casa-lar-estrela
Desta forma,durante três séculos e meio, a assistência voltada para a área da infância pobre no Brasil foi quase que exclusivamente de caráter religioso, o que por sua vez acaba por mostrar a omissão do Estado no que se refere a uma política pública que realmente atendesse a criança e o adolescente na sua totalidade, abarcando essas pessoas enquanto sujeitos de direitos (ARANTES, 2011).
Nos primórdios do Brasil Colônia, o atendimento a este público ficou marcado pela ausência de ações estatais. Uma das primeiras formas de atendimento para as crianças e para os adolescentes ocorreu através da intervenção dos padres jesuítas a mando da Coroa Portuguesa na tentativa de subordinar às crianças indígenas à ordem vigente, assim eram submetidas ao aprendizado da doutrina cristã da igreja católica, e depois utilizavam das próprias crianças na tentativa de “catequisar” osindíos adultos, já que estes eram considerados selvagens, e de certa forma, precisariam ser moldados, até porque, se bem disciplinados poderiam ser utilizados como força de trabalho gratuita (ARANTES, 2011; RIZZINI, 2011).
Sob vigência da ditadura militar, emerge a proposta de criação da Funandação Nacional do Bem-Estar do menor – FUNABEM através da lei 4.513 de 1964, a qual começou entrar em falência a partir da década de 1974. Nesta mesma década, emerge um novo Código de Menores, o código de 1979, promulgado através da lei 6.697 que veio para consagrar a Doutrina da Situação Irregular, visando disciplinar e controlaros menores visando enquadrá-losde acordo com a ordem vigente (ARANTES, 2011).
A partir da década de 1980 emerge um movimento da sociedade se colocando contra esse cenário autoritário, repressivo e controlador, e a partir de então, começam a lutar pelo melhor interesse da criança e do adolescente, e logo pelas legislações que assegurem os seus direitos em sua totalidade. Desta forma, do ponto de vista das lutas e resistências, a década de 1980 foi profícua visto que é neste momento que florescem os movimentos sociais lutando pelos direitos humanos(ARANTES, 2011).

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