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Universidade Federal do Ceará Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental Curso: Engenharia Civil Mecânica dos Solos I Aula: Índices Físicos Relações de peso - volume Bibliografia: Souza Pinto (2006) e Braja Das (2011) Professora: Profª. Mariana Vela Silveira 2018.2 2 Sumário 1. Introdução ............................................................................................................... 3 2. A água no solo ......................................................................................................... 3 3. Índices físicos .......................................................................................................... 5 3.1. Relações de volume ........................................................................................ 6 3.2. Relações de peso ............................................................................................ 8 EXERCÍCIOS ................................................................................................................. 14 3 1. Introdução O solo é um meio particulado, ou seja, ocorre sob a forma de partículas (grãos de solo) de diversa constituição mineral e com uma enorme gama de dimensões (fase sólida) e os espaços localizados entre essas partículas são chamados vazios. No seu estado natural, frequentemente, os solos contem água e ou ar em seus vazios. Quando preenchidos integralmente por água (fase líquida) - o solo se encontra saturado. Quando contem apenas ar (fase gasosa) se trata da um solo seco. Quando existe água e ar nos vazios o solo recebe a designação de solo não saturado. Assim, em um solo, só parte do volume total é ocupada pelas partículas sólidas, que se acomodam formando uma estrutura. O volume restante costuma ser chamado de vazios, embora esteja ocupado por água ou ar. Deve-se reconhecer, portanto, que o solo é constituído de três fases: partículas sólidas, água e ar. Em princípio, as quantidades de água e ar podem variar. A chuva faz com que a quantidade de água no solo aumente. A evaporação pode fazer diminuir a quantidade de água, substituindo-a por ar, e a compressão do solo pode provocar a saída de água e ar, reduzindo o volume de vazios. O solo, no que se refere às partículas que o constituem, permanece o mesmo, mas seu estado se altera. O comportamento de um solo depende da quantidade relativa de cada uma das três fases (sólido, água e ar). Ou seja, as diversas propriedades do solo dependem do estado em que se encontra. Quando diminui o volume de vazios, por exemplo, a resistência aumenta. Diversas relações são empregadas para expressar as proporções entre as fases. Os índices físicos dos solos demonstram as relações peso/volume entre as diferentes fases do solo (sólido, líquido e ar). Estes índices desempenham um papel importante no estudo das propriedades do solo, uma vez que dependem dos seus constituintes e das proporções relativas entre eles. 2. A água no solo É extremamente difícil separar os diferentes estados em que a água se apresenta nos solos, é, no entanto, de grande interesse estabelecer uma distinção entre os mesmos. A água contida no solo pode ser classificada em (Figura 1): Água adesiva ou adsorvida (camada dupla): água atraída para a superfície da partícula de solo sólida por forças de adsorção. Considera-se que a mesma é vaporizada à cerca de 110°C (a água adsorvida está presa à superfície da partícula à temperatura ambiente formando uma película de água que envolve e adere fortemente a partícula sólida); 4 Água absorvida ou de constituição: água de constituição dos minerais, ou seja, é a água que faz parte da estrutura molecular da partícula sólida. Só é vaporizada a altas temperaturas; Água capilar: posicionada acima do lençol de água devido à capilaridade. Nos solos de grãos finos sobe pelos interstícios capilares deixados pela partículas sólidas, além da superfície livre da água; Água livre: é a que se encontra em uma determinada zona do terreno posicionada abaixo do nível freático, enchendo todos os seus vazios, estando livre para se movimentar entre os poros do solo pelo efeito da gravidade; Água higroscópica: água que ainda se encontra em um solo seco ao ar livre. Figura 1 - Água no solo * Camada dupla Na água os dois átomos de hidrogênio não se encontram em posições diametralmente opostas em relação ao átomo de oxigênio. Este fato resulta em um desequilíbrio de cargas. A superfície da argila possui uma carga elétrica negativa, cuja intensidade depende da natureza mineralógica. Quando as partículas de argilas estão em contato com a água, as moléculas de água são polarizadas e as partículas sólidas atraem íons de H+, formando uma película de água adsorvida. As moléculas de água, devido a distribuição assimétrica de seus átomos, comportam-se como dipolos elétricos e são atraídos pelas partículas de argila, que possuem carga elétrica negativa. Com a elevação do teor de água no solo forma-se no entorno das partículas a camada dupla, que é a camada na quais as moléculas de água são atraídas pelos íons (ambos são atraídos à superfície das partículas). 5 Devido as forças eletrolíticas as primeiras camadas de água estão firmemente aderidas em torno das partículas de solo. Nesta condição a água tem um comportamento distinto da água livre, sendo referido como “água sólida”, pois não existe entre as moléculas a mobilidade dos fluidos. Em presença de água a camada dupla expande. Quanto a fase gasosa, que preenche os vazios das demais fases, é constituída por ar e vapor d’ água. Figura 2 - Camada dupla 3. Índices físicos Na figura 3(a), estão representadas, simplificadamente, as três fases que normalmente ocorrem nos solos, ainda que, em alguns casos, todos os vazios possam estar ocupados pela água. Na Figura 3(b), as três fases estão separadas proporcionalmente aos volumes que ocupam, facilitando a definição e a determinação das relações entre elas. Os volumes de cada fase são apresentados à esquerda e as massas à direita. Para identificar o estado do solo, empregam-se índices que correlacionam os pesos e os volumes das três fases. Estes índices são os seguintes (vide esquema da Figura 3): 6 Figura 3 - As fases do solo: (a) no estado natural e (b) fases separadas. Figura 4 - Índices físicos 3.1. Relações de volume a) Volume total SV VVV V=volume total Vs= volume de sólidos Vv = volume de vazios O volume de vazios é igual à soma do volume ocupado pelo ar e pela água. Vv=Vw+Va Vw= volume de água Va = volume de ar 7 b) Índice de vazios (e) É a relação entre o volume de vazios e o volume das partículas sólidas. É expresso pela letra e. Não pode ser determinado diretamente, mas é calculado a partir dos outros índices. Costuma se situar entre 0.5 e 1.5, mas argilas orgânicas podem ocorrer com índices de vazios superiores a 3 (volume de vazios, no caso com água, superior a 3 vezes o volume de partículas sólidas). Terzaghi (considerado o pai da mecânica dos solos) introduziu este índice ao estudar o “fenômeno do adensamento do solo”, pois a variação de volume, só depende de uma variável Vv, uma vez que Vs não varia. s V V V e Sua determinação é feita em função de γs e γd. 𝑒 = 𝑉𝑣 𝑉𝑠 = 𝑉 − 𝑉𝑠 𝑉𝑠 = 𝑉 𝑉𝑠 − 1 = 𝑉 𝑃𝑠 𝑉𝑠 𝑃𝑠 − 1 = 𝛾𝑠 𝛾𝑑 − 1 c) Porosidade (n) É a relação entre o volume de vazios da amostra e o volume total. É expresso pela letra n. Valores geralmente entre 0.3 e 0.7. V V n V Sua determinação é feita em função do índice de vazios, através da relação: e e n 1 d) Grau de saturação (S) É a relação entre o volume de água e o volume de vazios. . Expresso pela letra S. Não é determinado diretamente, mas calculado. É geralmente expresso em porcentagem. Varia de zero (solo seco) a 100% (solo saturado). 8 v w V V S Para S=100%, solo saturado (Vw=Vv) Para S=0%, solo seco (Vw=0) 3.2. Relações de peso a) Peso total Supondo que o peso do ar seja desprezível, podemos obter o peso total da amostra como: 𝑃 = 𝑃𝑠 + 𝑃𝑤 P = peso total Ps = Peso de sólidos Pw = Peso da água b) Teor de umidade gravimétrico (h ou w) Relação entre o peso da água e o peso do solo seco. É expresso pela letra h ou w. Para sua determinação, pesa-se o solo no seu estado natural, seca-se em estufa a 105°C até constância e peso e pesa-se novamente. Tendo-se o peso das duas fases, a umidade é calculada. É a operação mais frequente em um laboratório de solos. Os teores de umidade dependem do tipo de solo e situam-se geralmente entre 10 e 40%, podendo ocorrer valores muito baixos (solos secos) ou muito altos (150% ou mais). h= s w P P .100 Pw=peso da água Ps=peso dos sólidos c) Peso específico dos grãos sólidos (s) É uma característica dos sólidos. É a relação entre o peso e o volume das partículas sólidas. É determinado em laboratório com o ensaio para a determinação da densidade real dos grãos sólidos (Gs), com uso de picnômetros. Este índice varia pouco 9 nos solos, situando-se em torno de 27 kN/m³ (30 kN/m³ para argilas lateríticas que apresentam óxidos de ferro). s s s V P Ps=peso dos sólidos Vs=volume dos sólidos d) Densidade real dos grãos sólidos ou peso específico relativo dos grãos sólidos (Gs) É a relação entre o peso específico dos grãos sólidos e da água. w s sG s=peso específico dos sólidos w=peso específico da água e) Peso específico da água (w) É a relação entre o peso e o volume da água. Embora varie um pouco com a temperatura, adota-se sempre como igual a 10kN/m³, a não ser em certos procedimentos de laboratório. w w w V P Pw=peso da água Vw=volume da água f) Peso específico ou Peso específico natural (nat ou ) (h≠0) É a relação entre o peso total do elemento de solo (sólido + água) dividido pelo volume total. Também chamado, em alguns casos, de peso úmido. 10 É determinado em laboratório, para isso, molda-se um cilindro do solo cujas dimensões conhecidas permitem calcular o volume. O peso total dividido pelo volume é o peso específico natural. O peso específico também pode ser determinado a partir de corpos irregulares, obtendo-se o volume por meio do peso imerso n’água. Para tal, o corpo deve ser previamente envolto por parafina. O peso específico natural não varia muito entre os diferentes solos. Situa-se em torno de 19 e 20 kN/m³. Pode ser um pouco maior (21 kN/m³) ou menor (17 kN/m³). Caso especiais, como as argilas orgânicas moles, podem apresentar pesos específicos de 14 kN/m³. V P n P=peso total do solo V=volume total g) Peso específico aparente seco (d) (h=0) É a relação entre o peso dos sólidos e volume total. Corresponde ao peso específico que o solo teria se viesse a ficar seco, se isto pudesse ocorrer sem que houvesse variação de volume. Não é determinado diretamente em laboratório, mas calculado a partir do peso específico natural e da umidade. Valores comuns são de 13 a 19 kN/m³ (argilas orgânicas moles possuem 5 a 7 kN/m³). V Ps d Ps=peso dos sólidos V=volume total Dividindo por P (peso total) ambos os termos da fração e notando que P = Ps + Pw , tem-se: 𝛾𝑑 = 𝑃𝑠 𝑃𝑠 + 𝑃𝑤 𝑉 𝑃 = 𝛾 1 + 𝑤 11 h) Peso específico saturado (sat) Peso específico do solo se viesse a ficar saturado (todos os vazios estão preenchidos por água) e se isto ocorresse sem variação de volume. É de pouca aplicação prática, servindo para a programação de ensaios ou a análise de depósitos de areia que possam vir a se saturar. Expresso pelo γsat, é da ordem de 20 kN/m³. V Psat sat Psat=peso do solo saturado V=volume total i) Peso específico submerso (sub) É o peso específico efetivo do solo quando submerso (abaixo do nível da água - saturado e submerso). Quando um solo é submerso, as partículas sofrem o empuxo da água: Serve para cálculos de tensões efetivas. É a diferença entre o peso específico saturado e o peso específico da água, portanto com valores da ordem de 10 kN/m³. wsatsub sat =peso específico do solo saturado sub =peso específico da água A distinção entre solos saturado e submerso pode ser observada no exemplo abaixo, notando-se que um solo submerso é saturado, sem que a recíproca seja verdadeira. 12 Cálculo dos índices de estado Dos índices vistos anteriormente, só três são determinados diretamente em laboratório: a umidade (h), o peso específico dos grãos (γs) e o peso específico natural (γnat). Um é adotado, o peso específico da água. Os outros são calculados a partir dos determinados. Algumas correlações resultam diretamente da definição dos índices: 13 Outras resultam de fáceis deduções. A sequência natural dos cálculos, a partir de valores determinados em laboratório, ou estimado, é a seguinte: Relações de estado importantes: 1 d se .. sGeS 1 n d Massas específicas Relações entre pesos e volumes são denominados pesos específicos, como acima definidos, e expressos geralmente em kN/m³. Relações entre quantidade de matéria (massa) e volume são denominadas massa específicas, e expressas geralmente em ton/m³, kg/ dm³ ou g/cm³. A relação entre valores numéricos que expressão as duas grandezas é constante. Se um solo tem uma massa específica de 1.8 t/m³, seu peso específico é o produto deste valor pela aceleração da gravidade, que varia conforme a posição no globo terrestre e que vale em torno de 9.81 m/s² (em problemas de engenharia prática, adota-se, simplificadamente, 10m/s²). O peso específico é, portanto, de 18 kN/m³. No laboratório, determina-se massas e as normas existentes indicam como se obter massas específicas. Entretanto, na prática da engenharia, é mais conveniente trabalhar com pesos específicos, razão pela qual se optou por apresentar os índices físicos nestes termos. 14 EXERCÍCIOS 1. Quais índices físicos do solo podem ser obtidos diretamente por ensaio de laboratório? 2. Um bloco indeformado de argila de volume igual a 1cm³, com peso especifico igual 18,5 kN/m³ e umidade igual a 15% apresentou o peso especifico das partículas igual a 27,0 kN/m³. Para esta amostra, determine: a) Peso específico seco; b) Índice de vazios, c) Porosidade; d) Grau de saturação; e) Peso específico saturado; f) Peso específico submerso. 3. De um corte de solo natural são removidos 17.000 m3 com índice de vazios 1.25. Quantos m 3 de aterro, com um índice de vazios de 0.85 poderão ser construídos com esse solo? 4. Em uma amostra de uma areia foi determinado uma porosidade de 41%, uma densidade de suas partículas de 2.65 e um grau de saturação de 60%, calcule: a) Teor de umidade b) Peso específico; c) Peso específico seco; d) Peso específico saturado; e) Peso específico submerso. 5. Determinar os pesos específicos correspondentes das camadas de solo do perfil do subsolo, esquematizado a seguir: 15 6. Uma jazida a ser empregada numa barragem de terra tem peso específico seco médio de 18 kN/m³. Um aterro com 200.000 m³ deverá ser construído com peso específico médio de 19,5 kN/m³. A umidade do solo do aterro foi determinado como w = 10% e o peso específico das partículas γg = 26,5 kN/m3. Determinar: a) O volume de solo a ser escavado na jazida para se obter os 200.000 m 3 para o aterro; b) O peso do solo úmido a ser escavado, em toneladas c) O peso do solo seco a ser escavado, em toneladas 7. Deseja-se construir um aterro com material argiloso com seção de 21 m2 e 10 km de comprimento, com índice de vazios de 0.7. Para tanto, será explorada uma jazida localizada a 8,6 km de distância do eixo do aterro cujos ensaios indicaram: w = 30%; n = 28.5% ( amostra indeformada); n = 44.5% (amostra amolgada); γg = 26 kN/m 3 . Com base nestas informações, determinar: a) Quantos metros cúbicos de material deverão ser escavados na jazida para construir o aterro; b) Quantas viagens de caminhão – caçamba com 6 m3 de capacidade serão necessárias para a execução do aterro. 8. Seja a seção da barragem seguinte: Os materiais a serem empregados na construção da barragem devem ser aplicados, ou compactados, sob as seguintes condições: a) Cascalho compactado: s = 21,3 kN/m³; w = 7,5 %. b) Núcleo argiloso: s = 17.37 kN/m³; w = 17,1 %. As condições dos materiais nas jazidas são: 16 a) Cascalho natural: = 17,0 kN/m³; w = 2,5 %. b) Argila para o núcleo argiloso: = 14,0 kN/m³; w = 6,0 %. Com base nestas informações calcule: a) O volume de cada material a ser executado em sua correspondente jazida, para executar 1 m de comprimento da barragem cuja a seção transversal foi mostrada anteriormente; b) A quantidade de água necessária para a execução do trecho da barragem descrito no item a); c) O índice de vazios dos materiais constituintes do corpo da barragem, a sua porosidade e o seu grau de saturação.
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