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Direito Penal II – Teoria da Pena (4º Semestre) Universidade Católica de Brasília Renato Júnio Felix dos Santos P á g i n a 1 | 4 SENTENÇA Vistos etc. Antônio da Silva foi denunciado nos autos pela prática, em tese, do delito capitulado no art. 147 do CP c/c art. 5º, III, da Lei 11.340/06, visto que, conforme denúncia, o réu ameaçou de morte a vítima (fls. 2/3). A denúncia foi recebida em 10.9.2013 (fl. 29). O réu, devidamente citado, apresentou resposta à acusação (fl. 37). Ante a ausência de qualquer hipótese prevista no art. 397 do CPP, determinou-se o prosseguimento do feito. Durante a instrução criminal, foram colhidos depoimentos (fls. 80 e seguintes). Em alegações finais, o Ministério Público pediu a condenação do réu, nos termos da denúncia (fls. 84/89). A Defesa, por sua vez, requereu a absolvição do acusado na forma do art. 386, III e VII, do CPP (fls. 92/99). É o relatório. DECIDO: Verificando estarem presentes todos os pressupostos processuais e condições imprescindíveis para o exercício do direito de ação bem como ausente qualquer nulidade, passo imediatamente à análise do mérito. E, ao fazê-lo, anuncio que a materialidade do delito em tela restou devidamente comprovada pela Ocorrência Policial (fls. 7/12), Termo de depoimento policial (fls. 12) e pela prova oral colhida em juízo, cujos principais trechos passo a transcrever: "ALICE MOREIRA: (...) que, quando ali chegou, a vítima recebeu uma ligação no seu telefone celular; que, embora pudesse ouvir a voz do interlocutor, não conseguiu identificar o conteúdo da conversa; que, quando desligou o telefone, a vítima afirmou-lhe que houvera sido ameaçada pelo interlocutor, o qual foi identificado como ex-namorado dela; que a vítima não lhe disse o nome da pessoa com quem conversou ao telefone (...)" "ROBERTA MEIRE: (...) que conviveu com o réu, por cerca de dois anos, em regime de união estável; que, por ocasião da ocorrência descrita na denúncia, já havia se separado do réu; que o réu não aceitou o fim do relacionamento e passou a importuná-la, na tentativa de reatar a relação; que, no dia em questão, o réu efetuou uma ligação para o telefone celular dela, a depoente, na qual ele lhe fez ameaças de morte; que, todavia, não se lembra precisamente do que o réu falou, na oportunidade; que sua amiga Alice estava do lado, no momento da Direito Penal II – Teoria da Pena (4º Semestre) Universidade Católica de Brasília Renato Júnio Felix dos Santos P á g i n a 2 | 4 ligação, e ouviu a conversa; que a tonalidade de som do celular estava alta, o que permitiu a Alice ouvir o que o réu falava (...)" O réu, por sua vez, confirmou ter ameaçado a vítima, embora não tenha admitido que a ameaça teria sido de morte. No mais, descreveu a situação tal como narrado na denúncia: ligação telefônica ameaçadora em razão do término do relacionamento e por gostar muito da vítima. Igualmente, e pelas mesmas razões, a autoria do delito pode ser-lhe seguramente atribuída. Ante o exposto, e por tudo mais que dos autos consta, adotando também "per relationem" como razões de decidir (HC 86.532 - STF) a respeitável manifestação ministerial de fls. 84/89, JULGO PROCEDENTE o pedido formulado na denúncia para CONDENAR o réu Antônio da Silva na forma do art. 147 do CP c/c art. 5º, III, da Lei 11.340/06. Passo, pois, a dosar a pena a ser-lhe aplicada, em estrita observância ao disposto no art. 68 desse diploma legal. FIXAÇÃO DA PENA-BASE Atento às diretrizes dos artigos 59 e 68 do CPB, passo à individualização da pena: Em análise da culpabilidade, verifica-se que a conduta praticada pelo réu situa-se no grau moderado, visto que a prática se ateve à ameaça por telefone celular, sendo esta a conduta esperada e adequada ao tipo penal em questão. Sobre os antecedentes, não existe registro de outra condenação, portanto, o réu é portador de bons antecedentes. (STJ, Súmula nº 444). A conduta social, esta é presumivelmente boa, não constando maiores esclarecimentos ou elementos nos autos. Nada a valorar. Acerca de sua personalidade, nada a declarar. Os motivos do crime são por demais fúteis, tendo o réu ameaçado a vítima apenas por não aceitar o término de um relacionamento, evidenciando, portanto, o comportamento possessivo em relação à vítima. No que tange as circunstâncias, não pesam em desfavor do acusado, já que sua atitude durante e após a conduta criminosa não revelou maior periculosidade ou insensibilidade. Quando as consequências do crime, são normais ao tipo, não havendo o que valorar. Sobre o comportamento da vítima, não há que se falar em influência desta, uma vez que é do arbítrio de cada um decidir com quem deseja relacionar-se. Diante da análise supra, em sendo as condições judiciais favoráveis em sua maioria, fixo a pena-base em 02 (dois) meses e 10 (dez) dias de detenção. Direito Penal II – Teoria da Pena (4º Semestre) Universidade Católica de Brasília Renato Júnio Felix dos Santos P á g i n a 3 | 4 ATENUANTES E AGRAVANTES A ameaça se deu pelo fato do réu não ter aceitado o término da relação que manteve com a vítima, sendo este um motivo claramente fútil, passível de agravante, conforme art. 61, II, “a” do Código Penal. Contudo, tal circunstância já foi considerada quando da análise das circunstâncias judiciais na fixação da pena-base. Por sua vez, em face de ter o réu confessado, espontaneamente, perante o juízo ter ameaçado a vítima, utilizo esta circunstância para atenuar 10 (dez) dias da pena, passando assim a 02 (dois) meses de detenção. CAUSAS DE DIMINUIÇÃO OU AUMENTO Não existem causas especiais de diminuição e de aumento de pena a serem analisadas, motivo pelo qual torno definitiva a pena de 02 (dois) meses de detenção, entendendo ser esta suficiente e adequada para o caso em tela. O regime de cumprimento da pena deverá ser o aberto, aplicando-se o § 2º, alínea “c” e § 3º, ambos do art. 33, do CP, c/c o art. 59, III, do mesmo diploma legal. O réu poderá recorrer da decisão no regime de cumprimento da pena ora imposto. Sem custas, vez que assistido pela Defensoria Pública. Com o trânsito em julgado desta decisão, tomem-se as seguintes providências: a) Expeça-se guia para a execução da pena privativa de liberdade, formando-se autos de execução penal em apartado; b) Lance o nome do réu no rol dos culpados, na forma do art. 393, II do Código de Processo Penal, c/c art. 5º, LVII, da Constituição Federal de 1988; c) Deixo de determinar a comunicação ao Tribunal Regional Eleitoral, nos termos do art. 15, inciso III, da Constituição Federal, tendo em vista que a condenação, nos termos em que foi fixada, não impede que o condenado exerça seus direitos eleitorais, mesmo porque é condição para se manter no regime aberto se ater ao trabalho/emprego. Com situação irregular na Justiça Eleitoral o réu pode até não conseguir emprego, o que poderá tornar os efeitos secundários da sentença às vezes até mais gravosos que a própria pena aplicada. Publique-se. Registre-se. Intime-se. Cumpra-se, com as cautelas legais. Brasília, 23 de março de 2015 RENATO JÚNIO FELIX DOS SANTOS JUIZ DE DIREITO Direito Penal II – Teoria da Pena (4º Semestre) Universidade Católica de Brasília Renato Júnio Felix dos Santos P á g i n a 4 | 4
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